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Welrika Beatriz
Inquérito Policial
FINALIDADE:
Consorte já ressaltamos na exposição conceitual, a finalidade do inquérito
policial é a apuração das infrações penais e sua autoria (art.4º do CPP).
Apurar a infração penal significa colher informações pertinentes ao fato
criminoso. Para tanto, a Polícia Judiciária realiza uma série de atos diligenciais,
tais como: buscas e apreensões, exames de corpo de delito, exames grafoscópicos,
interrogatórios, depoimentos, declarações, acareações, reconhecimentos que,
reduzidos a escrito ou datilografados, constituem os autos do inquérito policial.
A apuração da autora, também atividade insíta a Polícia Judiciária, busca
descobrir qual seja o verdadeiro autor da conduta descrita na legislação penal como
típica e antijurídica – conduta ilícita. Sim, pois caso isso não seja possível, uma
denúncia ou queixa intentada será certamente rejeitada por manifesta inepta formal,
consoante o art. 41 do diploma processual penal.
Nesse momento, deve-se indagar sobre a indispensabilidade do inquérito
policial. Este, a medida que se destina às funções acima expostas, tendo como
destinatários o titular da ação penal e o juiz, poderá, ou melhor, deverá ser
dispensado, desde que se verifique de plano os elementos fundamentais para o
intento da ação penal.
Isso fica evidenciado inclusive no artigo 27 do CPP, o qual admite que
qualquer do povo provoque a iniciativa do Ministério Público, fornecendo-lhe, por
escrito, as informações sobre o fato e a autoria e indiciando o tempo, o lugar e os
elementos de convicção. Feito isso, certamente não haverá o porquê de um
inquérito policial.
Da mesma forma, o artigo 39, §5º, do CPP admite a dispensa do inquérito
policial pelo órgão ministerial, quando este, com a representação, tiver
conhecimentos de elementos que o habilitem para o intento da ação penal. O art.46,
§1º, por sua vez, em sua parte inicial, também permite tal dispensa para o Parquet.
Analogamente, aplicar-se-á tal possibilidade de dispensa do inquérito policial
nos casos de ação penal privada, onde maior importância terá a dispensa deste,
diante do risco da prescrição iminente ou mesmo da decadência do direito de
queixa.
Portanto, esclarece Ada P. Grinover, havendo um "fumo do bom direito", é
possível dar prosseguimento do feito processual. Melhor, basta a verossimilhança da
acusação, não se exigindo, de plano, provas capazes de gerar um juízo de certeza
da veracidade da imputação.
Igualmente enunciaram a Suprema Corte e o Superior Tribunal do nosso País,
in verbis:
STF: "Não é essencial ao oferecimento da denúncia a instauração de
inquérito policial, desde que a peça acusatória esteja sustentada por
documentos suficientes à caracterização da materialidade do crime e de indícios
suficientes à autoria." (RTJ 76/741).
STJ: "A falta de inquérito policial não é óbice para o oferecimentos da
denúncia, se atentarmos para o caráter subsidiários desta" (CF/88, art.129, I e
VIII e CCC, art.12)." (RT 716/502).
CARACTERÍSTICAS
Procedimento escrito. Todas as peças do inquérito policial serão reduzidas a
escrito ou datilografadas e, neste caso rubricadas pela autoridade (art.9, do CPP).
O fim precípuo de tal caracter é, sem dúvida, a destinação do inquérito
policial, ou seja, tendo o inquérito sua instauração com vistas a fornecer subsídios
ao titular da ação penal, bem com fundamentar medidas cautelares determinadas
pelo juízo, inconcebível seria a adoção duma investigação verbal.
Sigilo. O inquérito policial é um procedimento inquisitivo, com o princípio da
publicidade, dominante na processualística, não se afinando ao presente
procedimento.
E isso ocorre pois, se em juízo o próprio princípio da publicidade sofre
restrições, imagine-se numa fase investigatória, onde apenas as primeiras
informações são colhidas.
O artigo 20, do Código de Processo Penal, assegura o sigilo desde que seja o
mesmo necessário a elucidação do fato ou o interesse da sociedade o exigir.
Quanto a elucidação do fato, isso se verifica em situações nas quais a
divulgação das investigações possa vir dificultar a colheita de elementos suficientes
para o início da ação penal.
Já o interesse da sociedade será evidenciado quando a divulgação de um
crime puder causar transtornos ou intranqüilidade à ordem pública.
Esse sigilo não viola, ao que pode parecer, qualquer dispositivo constitucional,
como o cerceamento de defesa, haja vista que no inquérito não há qualquer
acusação. Assim, não havendo acusação, não poderá haver defesa. E se esta não
existe, não é coerente falar da supressão de algo que não existe!
Esse é o posicionamento esposado por Tourinho Filho acerca do assunto, o
qual ainda demonstra com clareza e precisão que no inquérito não há acusados,
mas apenas indiciados. Donde, a garantia exposta no artigo 5º, LV da CF/88, ao
passo que menciona tão só acusados, é inaplicável ao procedimento inqusitorial do
inquérito.
Além disso, mitigado estaria o jus puniendi caso se admitisse a defesa plena
durante este procedimento administrativo, consoante já expusemos. E aqui
adotamos novamente uma lição do Mestre Tourinho Filho, in verbis:
"Faz sentido o Estado, titular do direito de punir e da "poursuite", convidar um
representante do indiciado para auxiliá-lo na colheita de provas, para,
posteriormente, acusá-lo? Seria um disparate inqualificável."
Talvez, a única exceção a essa regra, seria a admissão da propositura de
quesitos pelo indiciado em perícias que, pelo passar do tempo, não poderão ser
renovadas .
Infelizmente, e na contramão de tudo que foi dito, o art.7º, XIV, da lei 8.906/94
– Estatuto da Advocacia, garante ao advogado o acesso em qualquer repartição
policial, mesmo sem procuração, aos autos de flagrante e do inquérito, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo tirar cópias de peças e
tomar apontamentos.
Ora, sendo esta uma lei federal e posterior ao Código de Processo Penal, o
sigilo processual ficou reduzidíssimo, ao menos que, em favor da coerência, adote-
se uma interpretação sistemática, admitindo a validade deste inciso tão somente nas
hipóteses não abrangidas pelo sigilo.
Oficialidade. Sendo a função penal eminentemente pública, a pretensão
punitiva do Estado far-se-á por órgãos públicos, oficiais, não se admitindo o inquérito
policial dirigido por particular, ainda que verse sobre matéria de ação penal privada.
Oficiosidade. Ressalvada as hipóteses da ação penal privada e da ação
penal pública condicionada, a autoridade policial, pelo mesmo fundamento exposto
no caracter anterior, tem a obrigação de instaurar o inquérito policial, a partir do
momento que vier a ter conhecimento da prática duma infração penal.
Inquisitivo. Essa característica decorre de todas as demais. Pois, sendo o
inquérito, via de regra, de instauração obrigatória, não contraditório, sigiloso, e
garantindo certa discricionariedade ao agir da autoridade competente, é lógico
concluir-se que se trata de um procedimento nitidamente inquisitório. Sim, pois a
inquisição verifica-se ao passo que as atividade persecutórias concentram-se nas
mãos de uma única pessoa, onde estarão presentes todas as qualificações
apresentadas.
Constata-se essa característica no inquérito pátrio também em virtude do
art.109, do CPP, que assim reza:
“Art.109. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos autos do
inquérito, mas deverão elas declara-se suspeitas, quando ocorrer motivo
legal."
Mencione-se que, os únicos inquéritos que admitem o contraditório são o
inquérito judicial para a apuração de crimes falimentares, previsto no art.106 da lei
de falências, e o inquérito instaurado na Policia Federal, a requisição do Ministro da
Justiça a fim de expulsar estrangeiro (art.102, da lei 6.815/80).
Ainda, quanto a incomunicabilidade do indiciado, prevista no artigo 20 do
CPP, esta encontra-se revogada ante o exposto na Constituição Federal, que sequer
admite tal proibição durante o Estado de defesa.
Indisponibilidade. Ainda que tenha sido provada a inexistência do fato, que
não tenha sido fixada a autoria do ilícito, ou ainda que o fato não constitua crime, a
autoridade policial, diante do artigo 17 do diploma processual penal, não poderá
arquivá-lo. Nessas hipóteses caberá a referida autoridade encerrar o inquérito e
encaminhá-lo ao juízo que, após provocação do titular da ação, poderá determinar o
arquivamento do referido.
Mirabete acrescenta que é condição sine qua non para tal arquivamento o
pedido da parte acusatória, não podendo o juiz efetivá-lo de ofício.
Obrigatoriedade. Esse aspecto é salientado por Mirabete nas hipóteses de
ação penal pública, consorte o artigo 5º, inciso I, do CPP.
Permissa vênia, ante a possibilidade de supressão do inquérito policial
inclusive nas ações públicas, entendemos que para aceitação dessa característica
faz-se necessário a existência de outro condicional, além da existência de crime
sujeito a ação penal pública, qual seja, a ausência de material suficiente para o
intento de plano da ação penal.
Autoritariedade. A competência para presidência do inquérito é
constitucionalmente atribuída aos delegados de policia de carreira. Neste caso,
conforme já dispusemos, a competência, via de regra, por funcionalidade, é
fragmentada em razão da matéria e em razão do local.
No entanto, há algumas situações nas quais o inquérito é excepcionalmente
presido por outra autoridade. Senão, vejamos.
O inquérito judicial sobre crimes falimentares será presidido pelo Juiz da vara
onde tramita o processo sobre falência (art.103 e ss. da lei falimentar).
O inquérito procedido por autoridades militares para apuração de infrações
submetidas a Justiça Militar, também não será presidido por autoridade policial.
Outras exceções são: a atividade investigatória realizada pelas Comissões
Parlamentares de Inquérito, previstas pelo art.58, §3º, da CF/88; o inquérito civil
público levado a cabo pelo Ministério Público, diante de proteção a interesses
difusos e coletivos, bem como de crimes conexos a objeto da investigação; o
inquérito na hipótese de crime cometido na sede ou nas dependências do STF
(Regulamento Interno do STF, art. 53); igualmente, a súmula 397 do STF atribuiu a
competência da Câmara dos Deputados ou do Senado federal para a instauração de
inquérito policial que verse sobre crime cometido em suas dependências; e, quanto
a lavratura do auto de prisão em flagrante, esta caberá a autoridade judiciária,
quando o crime se verificar na sua presença ou contra ela (art.307, do CPP).
Por fim, a competência para inquérito que envolva titulares de prerrogativa de
função, cabe ao próprio foro do titular (STF, STJ, TJ, Procurador Geral de Justiça
etc.).
Ressalte-se também que tratando-se de prisão em flagrante, a autoridade
competente não é a do lugar onde ocorreu o crime, e sim a do lugar onde se efetivou
a prisão (CPP, art. 308), mas os atos ulteriores serão praticados pelas Autoridade
Policial do lugar em que se consumou.
Valor Probatório. O Inquérito policial possui um valor probatório relativo, o
que decorre do fato de as informações não serem obtidas com a garantia do
contraditório e da ampla defesa, nem muito menos diante duma autoridade judicial.
STF: "No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é
pública incondicionada." (Súmula n.º608).
Atualmente, o crime de lesão corporal de natureza leve é condicionado a
representação do ofendido, ao contrário do que ocorria ao tempo da edição desta
súmula. Por isto, há entendimento crescente no sentido de que a presente súmula
encontra-se revogada.
Convém lembrar também que a representação poderá ser feita por procurador
desde que lhe conceda poderes para tanto (art.37, do CPP).
A representação deverá ser feita no prazo de 6 (seis) meses, a partir da data
que o titular desse direito tiver conhecimento do autor do crime. Tal prazo é
decadencial, fatal, não sujeitando-se a interrupção ou a suspensão.
A outra hipótese da ação penal pública condicionada ocorre nos casos da
instauração necessitar de requisição do Ministro da Justiça, o qual envia tal
documento para o Ministério Público. Este, ou intenta desde logo a ação penal, ou
requer as diligências que entender necessário.
São os seguintes os crimes submetidos a essa requisição: crime cometido por
brasileiro fora do Brasil; crime contra a honra contra chefe estrangeiro, independente
da publicidade ou não; crime contra a honra do Presidente da República; algumas
hipótese previstas na lei de Imprensa, no Código Militar, entre outras.
A última hipótese a ser considera trata-se dos crimes submetidos a ação penal
privada, onde o inquérito penal só poderá ser instaurado após requerimento do ofendido, ou
de seu representante legal, direcionada diretamente a autoridade policial competente.
O INDICIADO MENOR
Tal garantia é dada com vistas a assegurar ao menor maior conforto, não
tendo, todavia, o dito curador poder para intervir nos atos procedimentais do
inquérito.
Ainda, a falta da nomeação do curador não invalida o inquérito policial, mas
provoca o relaxamento do flagrante, por vício formal – retira-lhe a força coercitiva, e
diminui o valor probatório do ato.
Por fim, não se esqueça que a referida menoridade é aquela verificada por
ocasião do interrogatório, e não em relação a data do fato delituoso, como adverte
Tourinho Filho.
CONCLUSÃO DO INQUÉRITO
Conforme dissemos, este prazos são a regra geral, havendo contudo algumas
exceções, onde podemos apresentar:
Caso seja uma ação penal privada, o inquérito permanecerá em Juízo, onde
aguardar-se-á o impulso do titular da ação penal, o qual deve fazê-lo em obediência
ao prazo decadencial de 6 (seis) meses do artigo 38 do CPP.
ARQUIVAMENTO
CONCLUSÃO
O inquérito policial, por tudo que foi visto, insurge-se como um instrumento
procedimental a serviço do Estado, ente incumbido do jus puniendi.
Todavia, não se pode esquecer que, sempre que a norma silenciar a respeito
de algum aspecto, o caminho a ser considerado deve ser a mens legislatore
orientadora da criação do inquérito policial. Ou seja, deve-se permitir a Polícia
Judiciária, órgão via de regra encarregado da presidência do inquérito, um espaço
para que a mesma possa eficazmente desvendar o ilícitos penais cometidos, o que,
juntamente com um Judiciário ativo e imparcial, garantirão a instauração duma
ordem pública e da paz social.
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 13a. ed., São Paulo, Editora Saraiva,
2006.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, 16a. ed., São Paulo, Editora Atlas, 2004.
TOURINHO, Filho, Fernando da Costa – Manual de Processo Penal. 10a. ed. São
Paulo, Editora Saraiva, 2008
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