Professional Documents
Culture Documents
Escola de Design
Mestrado em Design Estratégico
Sociedade de Consumo
Porto Alegre
2010
O significado no mundo dos bens e a visão do design estratégico
Resumo
Introdução
Entende-se que a sociedade de consumo se utiliza dos bens como forma de auto-inserir
significações e desta forma carregar uma identidade para que o ambiente social possa
entender seus valores. Estes bens são projetados por designers e resultam em objetos
que possuem mais do que funções, são carregados de significações. Mas quais são as
características intrínsecas ao design que apóiam o processo de desenvolvimento destes
objetos?
Este artigo tem por objetivo explorar o significado no mundo dos bens como formador
de identidade. A partir deste pressuposto será abordado também o tema identidade em
relação à formação de tribos para tornar mais abrangente a relação entre os bens de
consumo e o indivíduo. Neste contexto vamos associar o papel do designer como
projetista de bens de consumo através do design estratégico, linha teórica proveniente
do politécnico de Milão. Por fim pretende-se entender como as características do design
e do designer se inserem no contexto de sociedade de consumo.
Sociedade de consumo
McCraken (2003) coloca que tem-se o entendimento por parte de diversos acadêmicos
das ciências sociais, a exemplo de Baudrillard (1968) e Douglas e Ishewood (1978), de
que a sociedade, comunidades e seus indivíduos, se utilizam dos objetos de consumos
como expressão de status. O autor acrescenta a estes estudos a noção de que o
significado no mundo dos bens transita entre algumas esferas entre a produção e o
consumo. Entende-se que o significado inicia no Mundo culturalmente constituído passa
ao bem de consumo e por fim ao consumidor individual. Na transição entre uma e outra
se faz a transferência do significado. Com esta abrangência, o autor coloca três áreas
bem delimitadas para constituir uma lógica de entendimento do significado no mundo
dos bens. Estas transições são, do mundo para o bem e do bem para o indivíduo.
Figura 1 – Movimento de Significado (McCracken, 2003, pág 100)
O local original dos significados é então o mundo culturalmente constituído através dos
pressupostos e crenças da cultura referida. A partir disso, o significado se transfere do
mundo para o bem de consumo pela publicidade e o sistema moda. Dos bens ao
indivíduo o significado se transfere através de rituais de troca, de posse, de arrumação e
de despojamento. (MCCRAKEN, 2003)
Desta forma temos uma série de locais onde a significação se insere. A partir desta
óptica podemos entender que o design, enquanto produtor de bens de consumo que
possuem significações, deve enxergar estes locais e fazer sua leitura de acordo com as
necessidades de projeto uma vez que se entende que todos os bens possuem
significações, e, segundo MCCraken, outras instancias também.
As tribos são formadas e reguladas de acordo com valores compartilhados. Estes valores
se explicitam através das significações, onde incluem-se os bens de consumo. COVA,
KOZINETS e SHANKAR (2007) colocam que a regulação interna destas tribos, a
forma com que se define quem pertence e quem não pertence a ela, é baseada em
percepções, sentimentos e emoções. Uma forma diferente de organização e
agrupamento.
Por fim ficam estabelecidas algumas das características da sociedade de consumo, uma
sociedade que se utiliza do consumo como ferramenta de intercomunicação social de
identidade onde os bens carregam significações retiradas do mundo culturalmente
constituído para agregá-las ao indivíduo consumidor. Estas significações apóiam a
formação de tribos que são agrupamentos de indivíduos com valores compartilhados
que se utilizam de bens de consumo e outras formas de consumo de cultura para
representar sua identidade e valores à sociedade.
Verganti traz o conceito de design driven inovation ou inovação orientada pelo design
que segundo o autor é uma forma de inovar através dos significados dos produtos.
Tendo a premissa de que a inovação radical de função é menos freqüente e mais difícil
de ser alcançada, o autor coloca a inovação radical de significado como uma área de
oportunidade onde as empresas podem inovar mais frequentemente. (VERGANTI,
2008)
Outra característica desta forma de inovar segundo o autor é sua não centralidade no
usuário. Uma vez que a inovação radical de significado precisa ser baseada em visões
de um possível futuro de acordo com a perspectiva da empresa, se espera do usuário
pouca contribuição ao desenvolvimento de novos produtos neste sentido. O que torna o
papel do designer, ou da equipe de design, como visionário e valoriza a leitura do
contexto sócio cultural através destes profissionais.
Papel do designer
Explorando o significado no mundo dos bens, podemos enxergar esta capacidade de ver
como o entendimento das linguagens com as quais as pessoas se utilizam para se
comunicar umas com as outras, ou consigo mesmas, através do consumo de bens. O
designer expressa e oferece ao mundo bens de consumo com determinadas linguagens
com as quais as pessoas se utilizarão para adicionar significação a si mesmas. A
capacidade do designer de entender a sociedade contemporânea se faz importante para
que o resultado do processo de projeto seja uma mercadoria contemporânea, que oferece
além de sua funcionalidade, uma linguagem e significação relevante ao público
determinado.
Por capacidade de prever entende-se por uma característica visionária de, a partir dos
dados coletados através da capacidade de ver, interpretar criativamente e projetar visões
de futuro. Desta forma criam-se possibilidades e idéias em uma dimensão estratégica
para a empresa. Esta capacidade parte da leitura de um ambiente complexo sintetizado a
partir da leitura do designer ou da equipe de design. Tal capacidade de projetar o futuro
e imaginar quais os caminhos possíveis a um determinado contexto atual oferece às
organizações uma forma de imaginar como será o contexto futuro em que atuarão. Estas
previsões levam em conta a base formada a partir da observação para entender um
possível futuro. (ZURLO, 2010)
Por fim a capacidade de fazer ver, que se entende por materializar as idéias de forma
que o diálogo estratégico e a tomada de decisão dentro da organização sejam facilitados.
As formas de fazer ver variam entre imagens metafóricas ou Concepts e protótipos
físicos no caso de produtos. Já os serviços e experiências são expressos através de
storyboards ou blueprints por exemplo.
Esta última capacidade, segundo o autor é a que melhor apóia o agir estratégico das
organizações pois viabiliza a visualização dos caminhos possíveis desta. Desta forma
facilitando a tomada de decisão. (ZURLO, 2010)
Este fazer ver toma uma dimensão importante no que tange à linguagem e ao
significado dos produtos, serviços e experiências. O protótipo de um produto pode ser
facilmente entendido quando demonstrada sua funcionalidade, porém o significado de
um bem depende do entendimento da linguagem proposta, dos signos inerentes ao
visual deste. A capacidade de fazer ver do designer poderá então tornar visível e
entendível a linguagem e as significações inerentes ao resultados do processo de
projeto.
Conclusão
Desta forma um objeto que exerce uma determinada função poderá ter em si
significações diferentes de acordo com a linguagem visual que utiliza para transmiti-las.
Ou seja, uma luminária que exerce a função de iluminar, varia sua forma e com isso as
suas significações. Esta possibilidade abre espaço que os produtos sejam atualizados
com a mesma freqüência com que as linguagens na sociedade.
Estes bens que são utilizados como ferramentas de identidade são projetados a partir das
disciplinas do design. E para tanto o design demonstra características pertinentes ao
desenvolvimento de produtos carregados de significações. Estas características,
exploradas através do design estratégico, de ver, prever e fazer ver, são imprescindíveis
na produção de produtos que possuam a significação como objetivo.
DOUGLAS, Mary & ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens. Rio de Janeiro: UFRJ,
2006.
MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2002.
ZURLO, F. Design Strategico, in AA. VV., Gli spazi e le arti, Volume IV, Opera XXI
Secolo, Editore Enciclopedia Treccani, Roma, 2010.