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Sannyasin

Novembro / Dezembro 2010


 Sannyasin 
"Todas as religiões são verdadeiras; são apenas diferentes caminhos que levam ao mesmo Deus"

Sri Ramakrishna

Número 05 NOVEMBRO/DEZEMBRO 2010


Elaborada por: Dario Djouki Contato: sannyasin-editorial@hotmail.com

Índice
Editorial...................................................................... Cristo

Avadhut Gita.............................................................. A canção do asceta

Comentários – Sermão da Montanha........................ Swami Prabhavananda

A unidade além da dualidade.................................... Bede Griffiths

Assim falou Vivekananda........................................... Jnãna Yoga

A necessidade de princípios universais religiosos.... Paramahansa Yogananda

O significado do “OM”................................................ Swami Dayananda

O ensinamento espiritual........................................... Sri Ramakrishna

O Poder do amor....................................................... Sri Chinmoy

Pensamentos............................................................. Diversos pensadores


EDITORIAL

CRISTO
Bem disse Cristo:

Ninguém pode chegar ao Pai, senão por mim.

Esta é a verdade, pois onde poderemos ver o Pai, senão no Filho? Todo ser humano, por
mais pobre e mísero que seja, é um templo de Deus, um reflexo de Deus que enche o
universo, mas que se manifesta por intermédio de um verdadeiro instrutor.

Todos nós reconhecemos que Deus existe, embora não o vejamos nem o compreendamos;
porém se compararmos um genuíno Instrutor com o conceito que temos formado de Deus
resultará que o caráter do Instrutor supera o nosso conceito de Deus e verificamos que não
podemos formar um conceito que supere o caráter do Instrutor que se nos manifesta como
encarnação pessoal de Deus. A divina encarnação dos judeus, que nela creram, foi Cristo.
Quando Cristo nasceu, os judeus se achavam em um estado de estagnação e só se
ocupavam de minúcias e pormenores, sem dar atenção ao essencial.

Cristo velo ao mundo, para dar um novo Impulso à humanidade, na Palestina. Os fariseus e
saduceus podiam ter sido hipócritas e ter feito o que não deviam, porém foram a causa e o
Instrutor Cristo foi o efeito. Embora os rituais, a liturgia, as cerimônias, as formalidades e
pormenores acessórios da religião, às vezes, causem riso, acumulam não pouca energia e,
precisamente, esta energia estava acumulada no formalismo religioso dos judeus.

Rodeados de inimigos por todos os lados, estavam recolhidos no recinto onde foram
encerrados pela força militar dos romanos e a mentalidade dos gregos; não obstante,
conservavam a energia racial, até hoje mantida pelos seus descendentes. Não era possível
que essa energia ficasse comprimida por muito tempo; por isso encontrou sua expansão no
cristianismo, no Instrutor Jesus de Nazareth, apelidado a Cristo, como a Gautama
apelidaram o Buda.

Cada Instrutor surge em harmonia com a época, como criação do passado de sua raça e
iniciador da futura. A causa de hoje é o efeito do passado e causa do futuro. Nesta situação
se encontra o Instrutor, que encarna aquilo que de melhor e mais nobre há em sua raça,
sendo ao mesmo tempo o impulsionador do futuro da humanidade.

Por isso disse: "Não crede que vim mudar a lei, mas sim cumpri-la."

Devemos considerar que Jesus, o Cristo, era oriental, embora os pintores se empenhem em
figurá-lo com olhos azuis e cabelos louros. Também a Bíblia é oriental em seus dois
testamentos; aliás, suas descrições, comparações, imagens e metáforas denotam estilo
oriental. As cenas, os lugares, as atitudes, os personagens, a linguagem poética que nos
fala do aguilhão, do deserto, dos vales com seus lírios, do brilhante firmamento, dos
rebanhos, das mulheres que com o cântaro na cabeça vão buscar água no poço, dos
moinhos, dos arados e de tudo quanto atualmente se vê na Ásia, como prova do primitivo
trabalho do homem, tudo isso é oriental.

A voz da Ásia tem sido a voz da religião. A voz da Europa tem sido a voz da Política. Cada
um é grande em sua própria esfera. A voz da Europa é a voz da antiga Grécia. Para os
gregos sua nação era tudo. Quem não falava sua língua era bárbaro e não tinha direito à
vida. Segundo os gregos, tudo isso que faziam era justo e perfeito; o resto que se fazia no
mundo era incorreto.
Não obstante, eram intensamente humanos em suas simpatias, intensamente naturais e,
portanto, profundamente artistas. O grego vive por completo neste mundo. Não sonha. Até
sua poesia é prática. Seus deuses e deusas são intensamente humanos, com todas as
paixões, sentimentos e emoções do homem. Ama a beleza do mundo externo, das
montanhas e das neves, das flores e das aves. Como foram os mestres dos posteriores
povos europeus, a voz da Europa é um eco da Grécia.

Na Ásia, porém, a religião é uma coisa prática, tal como foi a vida de Cristo, como legítimo
filho do Oriente: intensamente prática. Seu reino não é deste mundo, não se preocupa com
as coisas perecíveis deste mundo e nem tem onde reclinar ã cabeça. Não se entretém em
interpretar os textos das Escrituras, mas sim em exortar aos povos que se preparem porque
o reino dos céus se aproxima e o fim pode colhê-los de surpresa.

Cristo não fez da religião capa e máscara da vaidade, como se costuma fazer atualmente; a
prova de que os cristãos não compreenderam o caráter de seu predileto Instrutor está em
que uns o qualificam de revolucionário e comunista, outros o consideram o modelo do
patriotismo judaico e outros ainda, de hábil político.

Entretanto, não há nos Evangelhos nada que justifique estas suposições; ao contrário, Ele
aconselha a dar a César o que é de César, afirmando com isto o princípio da autoridade civil
e não fazendo distinção entre gentios e judeus.

O melhor comentário da vida de Cristo é a sua própria vida e atualmente, os cristãos


anseiam pelas riquezas, pelo poderio, a fama, a posição social, quando deveriam modificar
sua conduta a fim de não profanar com ela o nome do seu Instrutor. Cristo não viveu ligado
por laços de família. Quando lhe disseram que sua mãe e seus irmãos o esperavam fora,
não se deteve para saudá-los nem os fez chegar onde Ele estava exclamando: "Quem é
minha mãe e quem são meus irmãos - "E estendendo a mão para os seus discípulos, disse:
"Eis aqui minha mãe e meus irmãos, porque todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que
está nos céus, esse é meti irmão, minha irmã e minha mãe.”

E nas bodas de Canaã, quando sua mãe lhe disse. que havia acabado o vinho, Ele
respondeu: “Que tenho eu contigo, mulher? Minha hora ainda não chegou.". Cristo não tinha
a sensação de sexualidade, nem havia chegado ao mundo como os outros homens, à
semelhança dos animais, porque era a encarnação de Deus. Seu corpo era unicamente a
expressão de sua alma, que nele atuava para o bem da humanidade. A alma não tem sexo.

Esse ideal, não obstante, pode estar muito longe do nosso alcance, mas não o devemos
perder de vista, mantendo o propósito de realizá-lo algum dia. Em sua vida, Cristo não teve
outra ocupação nem outro pensamento além de que era puro espírito manifestado na carne,
porém não sujeito a ela; com sua maravilhosa intuição, sabia que todo ser humano, homem
ou mulher, judeu ou gentio, rico ou pobre, justo ou pecador, era a encarnação de seu próprio
espírito, embora ainda não manifestado em sua plenitude, como Pai manifestava.

Assim, em sua oração do Pai, disse:

"Mas rogo não somente por estes, senão também pelos que hão de crer em mim pela
palavra deles, a fim de que todos sejam uma coisa, como tu, em mim ó Pai e eu em ti: que
também sejam em nós uma só coisa."

Isto não pode significar mais do que anelo de que chegue o dia em que, pela fé do Cristo,
possa alcançar os crentes o reconhecimento de sua unidade essencial com Cristo e com
Deus. Desse modo, a obra capital de sua vida foi estimular em quantos o seguiam o
reconhecimento dessa unidade essencial, dizendo-lhes: "O reino de Deus está em vós."
Equivalia a dizer-lhes que abandonassem as velhas e supersticiosas idéias de que eram
vermes desprezíveis da terra e que podiam ser tiranizados como escravos, porque em seu
interior estava o triunfante reino de Deus, o espírito divino, invulnerável, eterno, imortal.

Jesus jamais fala deste mundo, nem do aspecto do mundo senão para vituperar sua
vaidade e exortar aos povos do mundo a que sigam avante em seu aperfeiçoamento, até
alcançarem a resplandecente luz de Deus, até que todos reconheçam a divindade essencial
de sua natureza e que fique vencida a morte e anulada a aflição, não vamos discutir agora,
se há algo de lendário no Novo Testamento, algo de místico relativamente à vida de Jesus
Cristo, nem nos importa que os Evangelhos datem de séculos depois de sua morte. O
importante é a moral evangélica, idêntica no fundo à moral ensinada por todos os Instrutores
que precederam a Cristo.

Para a salvação não há necessidade de ciência acadêmica, nem de riquezas, poderio ou


fama. Só necessitamos de pureza, porque o espírito é puro por essência e não pôde ser de
outra maneira, porque procede de Deus; por isso diz a Bíblia que o espírito é o sopro de
Deus e o Corão afirma que é a alma de Deus.

Não obstante, está, por assim dizer, encoberto pelo pó das nossas ações e as obscuridades
da nossa ignorância. Basta eliminarmos o Ego e as obscuridades, para que o espírito brilhe
em todo o seu esplendor.

"Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus." "O reino de Deus está em
vós.". "Não busqueis o reino de Deus aqui nem ali, porque está em vosso íntimo. Também
ensinou Jesus, o Cristo, a renúncia como o melhor meio para eliminarmos as obscuridades
que cobrem a luz do espírito como uma capa.

O jovem rico pergunta a Jesus:- Ó bom Mestre, que f arei para conquistar a vida eterna?

Jesus responde:- Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus e se queres
conquistar a vida eterna, guarda os mandamentos.

O jovem indaga: - Quais são?

Jesus replica: - Não matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não dirás falsos
testemunhos. Honra o teu pai e à tua mãe e ama o próximo como a ti mesmo.

Falou então, o jovem: - Tudo isso observei desde a minha adolescência. Que mais me falta?

Respondeu Jesus: - Se queres ser perfeito, anda, vende o que tens, dá aos pobres e terás
tesouros no céu; vem e segue-me.

O jovem, porém, afastou-se muito triste, sem obedecer ao Mestre, porque era possuidor de
multas riquezas. Todos nós somos mais ou menos como esse jovem. A Voz ressoa dia e
noite em nossos ouvidos, no meio dos nossos prazeres e alegrias; no meio das coisas
mundanas esquecemo-nos das espirituais até que em um momento de pausa ressoa em
nossos ouvidos a Voz que aconselha: "Vende quanto tens e segue-me."

"Todo aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la-á e todo aquele que por Mim perca a
vida, a salvará."

Porque todo aquele que renuncia a vida deste mundo por amor a Cristo, conquista a vida
imortal.

Vivekananda
Avadhut Gita
(A Canção do Asceta)

O Bhagavad Gita, "O cântico do Senhor", é o mais famoso texto hindu conhecido no
Ocidente, porém, na índia outros Gitas são igualmente famosos e respeitados. O Avadhut é
um deles.

Ele é um dos poucos livros que os Yogues preservam quando da proximidade da realização
espiritual e mesmo após...

Ele é, como o nome diz, "A Canção do Asceta", as palavras de um Mestre; Dattatreya, que
ouviu a Voz do Silêncio, transcendeu o tempo e nos traz a sabedoria da Idade do Ouro até a
nossa Idade do Ferro, Kaly Yuga.

Ele é um clássico de Vedanta, um livro imperdível para toda e qualquer pessoa que se
interesse por filosofia oriental e Yoga. Ele é um, dos "livros de cabeceira" da humanidade, é
a Sabedoria Antiga Viva.

O Avadhut Gita do Mahatma Dattatreya é um daqueles livros cuja origem histórica está
submersa no tempo. O seu autor teria vivido na Idade do Ouro (Satyuga) e desde a mais
tenra idade demonstrava pendores de asceta e reiterada tendência religiosa. Sua família era
nobre, seu pai o Rei Atri e sua Mãe Anasuya, mulher piedosa tal como o marido. A Rainha
teve três filhos: o primeiro foi Dattatreya, o segundo Durvasa e o terceiro Chandrama.

Os três Irmãos tinham características das três Gunas (qualidades da matéria, na filosofia
hindu). Chandrama era dominado pela qualidade de Raja (brilho, força, atividade), Durvasa
era influenciado pela qualidade de Tamas (trevas, inatividade, lentidão) mas Dattatreya era
a personificação de Satva (pureza, sabedoria, luz).

Dattatreya reinou após a morte de seu pai e seu governo foi o mais benigno que o seu país
teve; porém ele renunciou a tudo e se tomou monge errante (tal qual Buda) ensinando, a
todos os que estivessem preparados, o caminho da libertação.

A palavra "Gita" quer dizer "canção" e "Avadhut" significa "asceta, renunciante, grande
alma" (mahatma). Existem muitos Gitas na tradição indiana, sendo no Ocidente o mais
conhecido o "Bhagavad Gita", mas na índia outros Gitas são também muito conhecidos e
apreciados; entre eles podemos citar o "Shiva Gita", o "Rama Gita", e o "Devi Gita".

O Avadhut é texto clássico vedantino destinado aos yogues mais avançados; a Vedanta é
um dos seis principais Darshanas, pontos de vista da filosofia Hindu. A palavra "Vedanta"
quer dizer "final dos Vedas" e o expoente maior da Vedanta foi, sem sombra de dúvidas,
Sankacharya, discípulo de Govinda, que viveu por volta de 788-820 AC.

A filosofia Vedanta está calcada na afirmação “Tat Vam Asi"... Ou seja "Tu és Aquilo".
Segundo esta filosofia, o Atma é a única realidade, o resto seria Maya (ilusão) ou Avidhya
(ignorância).

Somente a Vidya (sabedoria) pode levar o homem a Moksha (libertação), e essa sabedoria
já está presente no homem. Ela não se manifesta, apenas, porque os véus sobre a
consciência não permitem. A meditação e a concentração intensa são os principais meios
de remover os véus. O Avadhut, embora destinado àqueles que já atingiram um estado
avançado na Senda, pode ainda assim ser de ajuda mesmo àqueles que não chegaram a
um estágio tão alto de consciência.
Avadhut Gita - Capítulo 1
1. O desejo de Advaitismo1 é produzido nas mentes dos homens sábios pela graça de Deus,
(graça essa que é) um antídoto para todos os medos.

2. No eu, pelo próprio eu, se contém tudo isto (ou seja, o mundo). Como posso adorar o
Atma2 (que é) informe, incapaz de divisão, e ventura imorredoura?

3. A quem devo oferecer os meus respeitos (quando eu sou Brahman, eu próprio) sempre
imaculado? Este mundo é apenas a obra de cinco elementos3 e na realidade não é mais do
que u'a miragem.

4. Verdadeiramente tudo isto é Atma. Não existe diferença, tampouco a não-diferença, nem
existência ou não-existência: o que devo dizer? A mim tudo isto parece um espanto.

5. Esta é a soma total do Vedanta "Eu sou Atma, o eu sem forma, presente a tudo por sua
Natureza".

6. Aquilo que é o Atma sempre refulgente de tudo; pelo tempo ilimitado como espaço, puro
e sagrado por sua própria natureza; isso eu sou, sem dúvida.

7. Eu sou imorredouro, puro, infinito e uma morada de conhecimento. Não conheço prazer
ou dor, ou alguém a quem eles afetem, ou como.

8. Para mim não há ato da mente que seja bom ou mau, ato do corpo, bom ou mau, ato de
fala, bom ou mau. Eu sou o conhecimento, imortal e sempre puro além do alcance dos
sentidos.

9. A mente é livre e sem limites como o espaço, é onipresente, a mente é tudo e, no entanto.
a mente não é a verdade mais elevada. O Atma se acha além da mente.

10. Eu sou este Um onipresente, ilimitado pelo espaço: como posso ver o Atma (Eu)
manifesto ou imanifesto?

11. Por que não refletes que tu és Um sozinho, o mesmo em tudo, indestrutível e
imorredouro? Tu és sempre exaltado e indivisível. Por que, então, te lamentas dia e noite?

12. Conhece o Atma para sempre como o Um absoluto, onipresente. Eu próprio sou o
contemplador e o mais elevado contemplado. Como pode o indivisível ser dividido?

13. Tu não és nascido nem morto, tampouco tens qualquer corpo. Tudo isto é Brahman.
Assim declaram os Vedas4 para sempre.

14. Tu és Ventura eterna onipresente, dentro e fora. Por que, então, vagueias aqui e acolá
como um fantasma?

15. Associação e separação, não existe qualquer delas para ti ou para mim. Não existes tu,
não existo eu neste mundo. Tudo isto é Atma, sem dúvida.
1
Advaka - Escola Vedantina monista, fundada por Sankara.
2
Alma
3
Terra, fogo, água, ar, éter.
4
Vedas - Livros sagrados da tradição Hindu, Sama, Atharva, Rig e laiur Veda.
16. Som, odor e o mais, são efeitos dos cinco sentidos. Portanto, não és. Tampouco eles te
pertencem. Tu és a Verdade mais elevada. Por que, então, te lamentas?

17. Tu não tens nascimento, morte ou mente. Liberdade e confinamento, bem e mal não te
afetam. Por que choras, criança'? Nem tu, nem eu, temos qualquer nome ou forma.

18. ó mente! Por que vagueias perplexa, como um fantasma? Entende o Atma (que é)
incapaz de divisão. Abandona o desejo e sê feliz.

19. Verdadeiramente és a verdade, livre de todas as mudanças, o inabalável, a morada da


emancipação. A ti não pertencem as paixões ou o desejo de paixões. Por que, então, te
lamentas, dominado por desejos?

20. Todos os Vedas proclamam que o Atma está livre de todas as qualidades. É uma
Existência pura, imorredoura, sem forma e homogênea. Sabe que eu sou isso, sem dúvida.

21. Sabe que tudo que existe em forma é irreal. Conhece o Um indiviso e informe. Pelo
conhecimento desta verdade todo o nascimento futuro é nulificado.

22. Os sábios declaram que sem dúvida existe apenas uma entidade imutável. Quando
abandonas as paixões e resta apenas UM, a variedade desaparece.

23. Como pode haver Samadhi5 se Atma não tem forma? Como pode haver Samadhi se não
ocorre assim? Como pode haver Samadhi se não existe nem isto, nem aquilo? Tudo isto é
ilimitado, como a própria Liberdade.

24. Tu és a essência imutável pura, sem forma e sem morte. Como podes dizer que sabes
isto e não sabes aquilo sobre o Atma?

25. O eu, e somente o eu, é declarado por tais frases como (isso és tu). Isto, não é isto, é a
palavra dos Vedas sobre a questão. O mundo fenomenal não é uma realidade.

26. No eu somente e pelo eu (tu) somente se acha contido tudo isto (universo). Para ti não
há contemplador, contemplação ou o órgão da contemplação. Como, então, contemplas e
não te envergonhas?

27. Eu não conheço O venturoso, como posso falar sobre Ele? Eu não conheço O
venturoso, como posso adorá-Lo? Eu sou O venturoso, a verdade mais elevada, a essência
homogeneamente una, livre e ilimitada como ó espaço.

28. Eu não sou matéria, mas um princípio imutável e além do alcance da imaginação. Sou
livre de toda a servidão, nem sou alguém que escraviza (outros). Como posso, então, ser
cognoscível em minha natureza?

29. Não existe outro senão o Um eterno, nenhum outro senão o princípio da existência.
Apenas Atma é a verdade mais elevada. Não existe um que mata, nem o ato de matar.

30. Quando um vaso se parte, seu espaço interior surge para o espaço universal;
similarmente, na mente pura, apenas o Atma imaculado permanece. E então nenhuma
diferença, em absoluto, existe para mim.

5
Samadhi - O mais alto estado de realização espiritual.
31. Não existe o vaso, nem o espaço ocupado por ele; tampouco a alma individual ou seu
receptáculo. Conhece o Brahman apenas, em quem não existe o cognoscente ou aquilo que
é paira ser conhecido.

32. Conhece o Atma como o eternamente verdadeiro em todos os lugares, em todos os


tempos, porque de todas as maneiras o mundo é irreal mas o Atma é a própria realidade.
Sabe que assim existo, sem dúvida.

33. Não existem os Vedas nem as diferentes religiões; tampouco os deuses ou os


sacrifícios; nem as etapas diferentes da vida, família, ou casta; tampouco a trilha de fumaça
ou a trilha da luz; apenas existe o Brahman, a verdade mais elevada.

34. Quando estás de fato esvaziado de tudo e estás onipresente, como podes achar que
estás presente ou ausente?

35. Alguns anseiam pela Unidade, outros pela Dualidade. Eles não conhecem a Essência
imutável destituída de toda a dualidade e unidade.

36. Como podem eles descrever a Essência que está vazia de todas as cores como o
branco e as demais, ou de todos os atributos, tais como o som e o resto, e que é inacessível
ao pensamento e fala?

37. Quando alguém chega a conhecer Brahman, todo este mundo de matéria aparece sem
base, como o ar. E então não resta dualismo em Um.

38. A mim o Atma parece ser um, somente, e idêntico a Brahman. Como pode haver um
contemplador, ou a contemplação em quem está livre como o espaço e não tem dualidade?

39. O que quer que eu faça, coma, sacrifique e dê, nada é meu. Eu sou o puro, não gerado
e imorredouro.

40. Fica sabendo que todo o universo existe sem for-ma; que todo o universo existe sem
mudança; aprende, agora, que todo o universo é como uma corporificação da pureza; que
todo o universo é como uma espécie de Ventura ininterrupta.

41. Tu és sem dúvida a Essência verdadeira; que mais sei eu? Como então achas. que o
Atma seja inacessível ou acessível ao conhecimento?

42. Ó caro! O que falas do Maya ou não Maya? Não existe a substância, nem a sua sombra.
Tudo isto é uma Existência, pura e livre como o espaço.

43. Eu sou sem começo, meio ou fim; tampouco me encontro em servidão. Sou puro em
natureza. Esta é minha opinião definitiva.

44. Este mundo, embora grandioso, parece-me nada. Tudo isto é Brahman. Como podem
haver quaisquer etapas prescritas de vida?

45. Eu sempre sei tudo. Sou eternamente um, verdadeiro e sem apoio. C Mundo com seus
fenômenos, tais como o céu, etc., é falso.

46. Tu não és um animal, homem ou mulher, tampouco és conhecimento ou ignorância;


como, então, te consideras cheio de venturas ou destituído delas?

47. Tu és uma Essência imorredoura, pura por tua própria natureza, não pura por virtude do
Sadânga Yoga ou pela eliminação da mente ou pelas instruções do Guru.
48. Tu não és um estojo de cinco elementos, tampouco alguém sem um corpo. Tudo é
apenas Atma. Como podem haver a terceira ou quarta etapas?

49. Não estou manietado, nem livre, tampouco me acho separado de Brahman. Não sou um
agente, nem um desfrutador, acho-me despido de tudo que permeia e que é Permeado.

50. Assim como a água atirada em água se toma uma só, sem distinção, a mim parece que
o Prakriti6 e o Purusha7 são inseparáveis um do outro.

51 . Quando não estás manietado, nem liberado, como então te consideras ser com ou sem
forma?

52. Eu sei que teu eu supremo está livre e onipresente como o espaço visível. Tudo o mais
(o mundo) é ilusório como miragem.

53. Não existe o Guru nem sua instrução, tampouco upadhi ou ação. Conhece o que é
imaterial, livre como o espaço. Eu sou puro por minha própria natureza.

54. Tu és puro e incorpóreo, tua mente é mais elevada que a mais elevada. Eu sou o Atma,
o mais elevado de todos, não te envergonhes de dize-lo.

55. Por que choras, ó mente? Exalta-te por teu Atma, criança. Bebe as águas da
imortalidade e do Advaitismo.

56. Não é conhecimento, tampouco a falta de conhecimento, nem conhecimento e


ignorância juntos. Quem tem tal tipo de conhecimento possui um conhecimento verdadeiro,
como não existe outro melhor.

57. Não existe sabedoria ou lógica, nem meditação ou Yoga, tampouco tempo ou espaço,
nem existem as instruções de um Guru. Eu sou a Verdade mais elevada, eternamente livre
como o espaço.

58. Não sou nascido, nem morto, tampouco meus atos são bons ou maus. Eu sou o
Brahman puro e sem descrições. Como pode haver servidão ou emancipação para mim?

59. Se O refulgente é difundido e preenche tudo por toda a parte, não vejo quaisquer
diferenças. Como, então, pode haver qualquer exterior ou interior?

60. Que maravilhosa é Maya, causa das noções de unidade e dualidade, pelas quais este
universo parece um e intacto!

61. Não há existências materiais ou imateriais, assim dizem os Vedas para sempre. Existe
apenas o Atma, destituído de todas as dimensões de unidade e de separação.

62. Tu não tens pai ou mãe, irmão ou esposa, amigo ou filho. Tu não és afetado pela
parcialidade ou imparcialidade. Como, então, pode existir esta perturbação em tua mente?

63. Não há dia ou noite, tampouco amanhecer ou ocaso em tua mente. Como podem
homens sábios atribuir corpo ao incorpóreo?

64. Sabe que o Atma imorredouro é destituído de todo ou de parte. Nele não há divisão ou
união, nem pesar, nem alegria.
6
matéria
7
espírito
65. Não sou agente, nem desfrutador, tampouco existem quaisquer atos a me prenderem.
Não sou corpo, nem incorpóreo; como pode a posse ser atribuída a quem tem nenhuma?

66. Não sou contaminado pelas paixões, etc. tampouco sofro aflições corporais. Conhece-
me como o eu ilimitado como o espaço.

67. Amigo, o que ganhas falando tanto? Amigo, o que ganhas com tais contorções
intelectuais? Já te disse o que é a essência verdadeira. Tu és o mais elevado Eu, ilimitado
como o espaço.

68. Deixa que os Yogues morram com qualquer impressão mental e em qualquer lugar; eles
se submergirão no Brahman como o espaço ocupado por um vaso se une com o espaço
exterior.

69. Aquele que morre, quer em casa ou em local de peregrinação, tendo-se despido de
todas as ligações pessoais, se toma o Eu mais elevado de todos, permeando tudo.

70. Os Yogues consideram toda a virtude, riqueza, ambição, as criaturas móveis de todas as
ordens, até mesmo a salvação, como tão imaginárias quanto a miragem.

71. Não desfruto, nem deixo de desfrutar os atos que foram ou estejam sendo cometidos.
Esta é minha crença firme.

72. O asceta batizado pelo sentimento de unidade vive feliz neste mundo de vacuidade;
caminha sozinho, abandonando todo o orgulho, porque se realiza em seu próprio eu.

73. Não existe o terceiro, nem o quarto estado de consciência: o mais elevado de todos se
realiza em si próprio. Não há virtude ou vício. Como podem haver servidão ou
emancipação?

74. O asceta imerso no sentimento de unidade e purificado de todas as suas afecções


mentais declara a verdade que nem os Mantrans, nem os versos védicos, ou a lógica podem
exprimir (Brahman).

75. Não existe vazio, nem plenitude, tampouco existência ou inexistência. Isto foi expresso
de acordo com juízo intuitivo completado pelas instruções dos shastras.

Fim do primeiro capitulo do Avadhuta Gita, por Shri Dattatreya, sobre o conhecimento
do Atma.
COMENTÁRIOS SOBRE O SERMÃO DA
MONTANHA
Por Swami Prabhavananda
Textos extraídos do livro “O sermão da montanha segundo a Vedanta.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados.

Nesta primeira bem-aventurança, Cristo fala da principal característica que o discípulo


precisa possuir, antes que esteja pronto para receber o que o mestre iluminado tem para lhe
dar. Ele precisa ser pobre em espírito: noutras palavras, precisa ser humilde. Se uma
pessoa orgulha-se do que sabe, da riqueza, da beleza ou da linhagem; se tem idéias
preconcebidas do que seja a vida espiritual e de como deveria ser ensinada — então sua
mente não está receptiva aos ensinamentos mais elevados. Lemos no Bhagavad-Gità, o
evangelho dos hindus:

"As almas iluminadas que perceberam a verdade hão de instruir-te no conhecimento de


Brahma (o aspecto transcendental de Deus), se tu te prostrares diante delas, as inter-
rogares e as servires como um discípulo.”

Bem-aventurados os que choram: porque serão consolados.

Enquanto nos julgarmos ricos de bens terrenos ou de conhecimentos, não poderemos


progredir espiritualmente. Quando sentirmos que somos pobres em espírito, quando nos
afligirmos por não termos percebido a verdade de Deus — somente então seremos
consolados. Sem dúvida que todos nós choramos — mas por quê? Pela perda de prazeres
e de posses terrenos. Mas, não é desse tipo de lamento que Cristo fala. O lamento que
Cristo chama de "abençoado" é bastante raro, porquanto nasce de um sentimento de perda
espiritual, de solidão espiritual. É um lamento que surge necessariamente antes que Deus
nos console. A maioria de nós está inteiramente satisfeita com a vida superficial que leva.
No fundo de nós, talvez tenhamos consciência de que nos falta algo, mas agarramo-nos
ainda na esperança de que essa falta possa ser preenchida pelos objetos sensíveis deste
mundo.

Sri Ramakrishna costumava dizer: "As pessoas derramam rios de lágrimas porque um filho
não nasceu ou porque não conseguiram ficar ricas. Quem, entretanto, verte sequer uma
lágrima por não ter visto Deus?" Este falso sentido de valores é resultado da nossa
ignorância. No tocante à natureza dessa ignorância, o filósofo indiano Shankara dizia que o
sujeito, o cognocente (o Eu ou o Espírito), opõe-se tanto ao objeto, o conhecido (não-Eu ou
matéria), como a luz se opõe às trevas. No entanto, por influência de maya — o poder
inexplicável da ignorância — sujeito e objeto misturam- se a tal ponto que, em geral, o
homem identifica o Eu com o não-Eu.

É muito fácil entender intelectualmente que o Eu verdadeiro é diferente do corpo, da mesma


forma que somos diferentes da roupa que vestimos. Todavia, quando o corpo adoece,
dizemos: "Estou doente." Intelectualmente, podemos entender que o verdadeiro Eu é
diferente da mente. Mas, se temos uma alegria ou um sofrimento, dizemos: "Estou feliz", ou
"Sou um miserável." Além disso, identificamo-nos com os nossos parentes e amigos: algo
que aconteceu a eles parece estar acontecendo a nós. Identificamo-nos com as nossas
posses. Se perdermos nossas riquezas, sentimo-nos como se perdêssemos a nós mesmos.
Essa ignorância é comum a toda a humanidade. Somente o conhecimento direto de Deus
pode removê-la.
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.

A ignorância e a ilusão são características da mente degenerada. Tal ignorância é


confirmada e suportada pelo nosso sentimento de ego — a nossa idéia de que estamos
separados uns dos outros e de Deus. Importa superar o egoísmo para que a mente se livre
da ilusão. Portanto, bem-aventurados os mansos. Mas, por que diz Cristo que eles herdarão
a terra? À primeira vista isso parece de difícil compreensão. Entre os aforismos yogues de
Patanjali (yoga significa união com Deus, bem como o caminho para essa união) há um que
corresponde a essa bem-aventurança: "O homem que toma a resolução de não roubar
torna-se o mestre de todos os ricos." Que quer dizer "não roubar"? Quer dizer que
precisamos desistir da ilusão egoísta de que podemos possuir coisas, de que algo pode
pertencer-nos de modo exclusivo, como indivíduos. Podemos pensar: "Mas somos pessoas
boas. Nada roubamos! Tudo quanto possuímos é fruto do nosso trabalho e merecimento.
Pertence-nos por direito!" A verdade, porém, é que nada nos pertence. Tudo pertence a
Deus. Quando olhamos qualquer coisa deste universo como nossa, estamos apropriando-
nos de coisas de Deus.

Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.

Encontramos em qualquer religião dois princípios básicos: o ideal de realização e o método


para realizar-se. Qualquer escritura do mundo tem proclamado a verdade de que Deus
existe e de que a finalidade da vida do homem é conhecê-Lo. Todo grande mestre espiritual
tem ensinado que o homem precisa conhecer Deus e renascer em espírito. No Sermão da
Montanha, a realização desse objetivo vem expressa como a perfeição em Deus: "Sede
perfeitos como vosso Pai que está nos céus é perfeito." E o método de realização que Cristo
ensina é a purificação do coração que leva a essa perfeição.

Existem muitos caminhos de purificação do coração. Como haveremos de ver, Cristo


procurava mostrá-los ao longo do seu Sermão. Qualquer que seja o método, o princípio
essencial é o devotamento a Deus. Quanto mais pensarmos em Deus e nele nos
refugiarmos, tanto mais o amaremos e mais puros se tornarão nossos corações.

O princípio de centralizar nosso coração em Deus é igualmente afirmado pelos homens


santos, quer sejam das tradições judaicas, cristãs ou hindus. "O Senhor é minha força e
meu escudo", diz o Salmista. Na Imitação de Cristo, lemos: 'Tu és minha esperança, minha
verdade e meu consolo... Vejo que tudo é fraco e inconstante fora de ti.”

Sede, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.

Com esta frase, dá-nos Jesus o tema central do Sermão da Montanha. Todo o sentido da
vida humana resume-se nisso. E o mesmo tema acha-se no cerne de toda religião: Procura
a perfeição! Tem consciência de Deus! Mas onde encontrar a perfeição? Onde está Deus?
De acordo com o Vedanta, existe uma Base, Brahman, subjacente ao universo de nomes e
formas. Ele é onipresente: portanto, existe dentro de cada criatura e de cada objeto do
universo, bem como além deles. Considerado em seu aspecto imanente, Brahman se
chama Atman, o Eu interior; trata-se, porém, apenas de um termo conveniente, que não
implica nenhuma diferença entre os dois — Atman e Brahman são um só. Quando a alma
estiver purificada através dos exercícios espirituais e estiver apta a voltar-se para o interior
de si mesma, o indivíduo descobre que o seu verdadeiro ser é Atman-Brahman. Revelar
este ser verdadeiro ou esta divindade, que jaz oculta dentro do eu, é tornar-se perfeito. Esta
é a técnica de todas as práticas místicas.

O próprio Cristo ensinou-nos a buscar o Deus interior. No Evangelho segundo São Lucas,
lemos: "O reino de Deus não tem aparência ostensiva; nem se poderá dizer: ei-lo aqui ou ei-
lo ali! Porque o reino de Deus está dentro de vós."
Esta afirmação às vezes tem sido interpretada para significar que Cristo viveu entre seus
discípulos neste mundo. Mas, se não aceitamos a afirmação de Cristo como uma referência
à divindade dentro do homem, como haveremos de entender sua prece ao Pai: ''Eu neles, e
tu em mim, para que possam tornar-se perfeitos na unidade...?”Ou o lembrete do apóstolo
Paulo aos Coríntios: "Ignorais acaso que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus
habita em vós?”

O que nos impede de perceber esta


verdade de que Deus está sempre
presente dentro de nós? É a nossa
ignorância — a identificação falsa de
nossa natureza real, que é Espírito, com
o corpo, a mente, os sentidos e a
inteligência. “E a luz brilhou nas trevas, e
as trevas não a compreenderam." A luz
de Deus brilha, mas o véu de nossa
ignorância esconde essa luz. Esta
ignorância é uma experiência direta e
imediata. Só pode ser removida por outra
experiência direta e imediata — a
realização de Deus.

A diferença entre a ignorância e a


realização de Deus, segundo Buddha, é
como a que existe entre o sono e o
despertar. Em nossa ignorância, é difícil
para nós acreditar que Deus pode
manifestar- se. De fato, muitos resistem a
esta idéia.

No entanto, em todas as épocas, houve grandes almas que viram a Deus, falaram com ele e
tiveram experiência da união com ele. Mestres como Jesus, Buddha e Sri Ramakrishna não
apenas manifestaram Deus, como ainda insistiram que todos devam fazê-lo.

Um vidente védico afirmou: "Conheci aquele Grande Ser de luz fulgurante, além de toda a
treva. Tu também, conhecendo essa Verdade, superarás a morte." E Jesus disse: "E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." A experiência dessa verdade é possível
através da transformação ou, nas palavras de Jesus, do renascimento espiritual: "A menos
que uma pessoa renasça, não poderá ver o reino de Deus." Comentando esta passagem, o
místico alemão Angeius Silesius disse: "Cristo pode nascer milhares de vezes em Belém,
mas se não renascer dentro de teu próprio coração, permanecerás eternamente só.”
A Unidade além da Dualidade
Bede Griffiths
Tradução: Roldano Giuntoli

Nossa meditação nos expõe as profundas feridas em nossa natureza e, nos força a encarar
o sofrimento da humanidade, desde o início dos tempos. Ela cultiva a compaixão e, isso por
sua vez precisa se expressar como compaixão em nossas vidas.

Precisamos superar a dualidade da mente consciente, que nos separa de Deus e, uns dos
outros e, compreender que, em Cristo, essa dualidade foi superada. Vocês sabem, o pecado
original é uma queda em direção à dualidade. O ser humano original foi criado para ser
unificado em corpo, alma e espírito e, assim estar aberto a Deus. A queda da humanidade é
a queda do espírito à psique, o que vale dizer, ao ego, ao eu separado. Em lugar de nos
abrirmos constantemente a Deus no espírito, caímos em nosso ego, e nos fechamos no
medo e na luta, para nos auto-preservarmos. Cristo veio para nos libertar dessa dualidade.
Uma vez que você cai em direção à psique, tudo se torna dual, o bem e o mal, certo e
errado, branco e preto, consciente e inconsciente, mente e matéria, sujeito e objeto, verdade
e erro. A mente racional dualiza tudo. Ela enxerga tudo em termos de pares de opostos.

Porém, sempre, além do dualismo da mente, está o espírito unificador. A meditação nos
leva além das dualidades, em direção ao espírito unificado. Jesus é aquele que rompeu a
divisão em nossa natureza. São Paulo nos diz que ele “destruiu a muralha divisória”. No
Templo, em Jerusalém, havia uma muralha que nenhum gentio podia cruzar. Caso o
fizesse, ele seria executado. Era para os judeus, o povo escolhido. Essas pessoas ficavam
de fora. Jesus destruiu essa muralha divisória, franqueando o Templo a toda a humanidade.
Todavia, nós construímos todas essas muralhas novamente, dividindo o mundo e, é claro
que este tem sido o nosso problema.

Jesus destruiu a muralha divisória, como diz São Paulo e, isto é a hostilidade dentre nós e,
reconciliou-nos em um corpo na cruz. Necessitamos, hoje em dia, levar a sério essa visão
de que a humanidade é um corpo, um todo orgânico. Os Padres possuíam esse forte
sentimento do Adão que está em toda a humanidade. São Tomás de Aquino, numa bela
frase, nos disse: Omnes homines, unus homo, todos os homens são um homem, um todo
orgânico. Somos todos membros deste único Homem, que caiu e se dividiu em conflitos e
confusão. E Jesus restaurou a humanidade, não apenas judeus ou cristãos, ou qualquer
grupo em particular, mas, a humanidade, a essa unicidade, o novo Adão, a raça humana
consciente de sua unidade fundamental e de sua unidade com o cosmos. Isso é o que hoje
estamos recuperando. Estamos começando a redescobrir a humanidade que nos é comum.

A televisão, que traz os eventos de todas as partes do mundo para tão perto das pessoas,
está nos ajudando a compreender que as coisas que acontecem no Iraque e em outros
lugares, são parte de nossos próprios problemas. Enxergamos a humanidade como parte de
um todo cósmico. Somos todos parte deste planeta, moldados por ele e, estamos crescendo
e vivendo a partir dele. Somos todos partes uns dos outros, estamos crescendo através de
contatos uns com os outros, assim como, um todo orgânico. Estamos recuperando essa
unidade, além da dualidade, por direito de nascimento.
Em nossa tradição hebraica, a dualidade é muito forte. Penso que a humanidade teve que
passar pelo dualismo, para aprender a diferença entre o certo e o errado, o bem e o mal, a
verdade e o erro.

Você precisa passar por esse estágio de separação e divisão, porém, então, você precisa
transcendê-lo. O Velho Testamento geralmente reflete essa dualidade: eram sempre os
israelitas que eram o povo sagrado e, de fora ficavam os gentios, que deveriam ser
rejeitados. Os bons deveriam ser separados e os maus condenados. Esse dualismo permeia
toda a tradição judaica.

Jesus é originário dessa tradição judaica e, freqüentemente se utilizava de sua linguagem


de rejeição e condenação, ainda assim, ele ia sempre além dela e, nos levava ao ponto
onde transcendemos todas as dualidades. Há uma maravilhosa expressão disso no
evangelho de São João: “afim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em
ti, que eles estejam em nós” Jesus é completamente um com o Pai, ainda assim, ele não é o
Pai. É uma relação não dual. Não é um e, não é dois. É um mistério de amor. O amor não é
um e, não é dois. Quando duas pessoas se unem no amor, elas se tornam uma, ainda
assim, mantém sua distinção. Jesus e o Pai possuíam essa completa comunhão em amor e,
ele nos pede para nos tornarmos um, assim como ele é um com o Pai, unicidade completa,
no ser não-dual do Pai. É o chamado cristão, para a recuperação dessa unidade.

Na Índia, essa idéia da não-dualidade, advaita, é


fundamental. A tradição indiana possui esse
sentido de se ir além das dualidades. Os cristãos
de nossos dias podem aprender muitas coisas
da tradição indiana e, particularmente, esse
entendimento do advaita, a não-dualidade. O
cristianismo desenvolveu, a partir de Israel, uma
tradição de dualismo. Atravessou a cultura
greco-romana, que também era dualista, de um
modo diferente e, assim continuou. Porém, hoje
estamos nos encontrando com as religiões da
Ásia e, estamos começando a descobrir o
princípio da não dualidade. É o chamado
fundamental da humanidade.

A não-dualidade não é um e, não é dois e, não é racional. A mente racional requer que tudo
seja um ou dois, enquanto que a não-dualidade, que está além do racional, afirma uma
relação que não é um e, não é dois. Somente através da meditação passamos além dessa
dualidade. Estamos sendo chamados a recuperar a unidade, além da dualidade, que é
nosso direito por nascimento e que, só ela, pode atender a mais profunda carência da
humanidade hoje.

Tenho planos para um livro sobre as Escrituras do mundo, para ser lido por cristãos e
outros, no qual eu tente mostrar que toda religião, hinduísmo, budismo, taoísmo, islamismo,
judaísmo e cristianismo, todas elas possuem um elemento dualístico, a partir do qual
começam e, todas elas se dirigem a esse não-dualismo. Judaísmo e islamismo são
especialmente dualistas em suas escrituras, tendem a sempre ser dualistas e, podem ser
repletas de terríveis acusações a não-crentes e, descrições de sua condenação e punição.
Este é um estágio da religião, que não devemos rejeitar, que as pessoas tem de atravessar.
Os sufis dos séculos oito e nove, no Islam, foram além, direto para o não-dualismo e, o não-
dualismo sufi é exatamente similar ao não-dualismo indiano, assim como o não-dualismo de
mestre Eckhart, de nossa tradição cristã. Toda religião, através de sua tradição mística, vai
além do dualismo, para o não-dual. Este é o nosso chamado, ir além do dualismo.

A meditação é o único caminho, para se ir além do dualismo. Quando a mente cessa, você
descobre o princípio unificador por trás de tudo. Esta é nossa verdadeira esperança e,
nosso chamado. Isto é importante e, penso que no movimento da meditação Deus está nos
conduzindo e, à humanidade através de nós. É um chamado que percorre todo o mundo.
Por toda parte, pessoas estão se encontrando, descobrindo esta carência e atendendo-a,
nos diferentes caminhos da meditação. Estamos todos sendo chamados a abrir nossos
corações ao mistério não-dual da Santíssima Trindade. Não é um, não é um Deus assim. É
a comunhão de amor. Aquela é a Realidade não-dual. Assim, aquele é o nosso chamado
hoje.

Bede Griffiths (1906-1993)

“A meditação é o único caminho, para se ir além


do dualismo. Quando a mente cessa, você descobre
o princípio unificador por trás de tudo”
tudo”.
Assim falou Vivekananda

Jnãna Yoga – O Yoga do conhecimento


Assim, o homem, depois de suas buscas vãs de vários deuses, completa o ciclo e descobre
que o Deus imaginado por ele como sentado no céu, governando o mundo, é seu próprio
Eu. Nenhum outro, a não ser o Eu, era Deus, e o Pequeno "eu" jamais existiu.

Essa é a única forma de alcançar a meta. dizer a nós próprios e dizer a todos os demais,
que somos divinos. E, conforme repetirmos isso, a força virá.

Embora todos os sistemas concordem em que tivemos o império e o perdemos, dão-nos


conselhos vários quanto à forma de o reavermos. Um diz que devemos realizar certas
cerimônias, pagar certas somas em dinheiro a certos ídolos, comer certa qualidade de
comida, viver de maneira especial, e assim reaveremos o império. Outro diz que devemos
chorar e nos prostrar e pedir perdão a certo Ser que está para além da natureza, e assim
reaveremos o império. E ainda outro diz que se amarmos aquele Ser como todo o nosso
coração, reaveremos o império.

Mas o último e o maior conselho diz que não deveis absolutamente chorar. Não precisais
realizar todas essas cerimônias nem tomar conhecimento de como reaver O vosso império,
porque jamais o perdestes. Por que deveríeis procurar o que jamais perdestes ? Sois puros
desde já, desde já sois livres. Se pensais que sois livres, livres sereis neste momento, e se
pensais que estais aprisionados, aprisionados estareis.

Essa é uma declaração muito atrevida. Pode assustar-vos agora, mas quando pensardes
nela e a compreenderdes em vossa própria vida, então sabereis que o que eu digo é
verdade. Porque, supondo que a liberdade não é a vossa natureza, não há forma alguma de
vos tornardes livres. Supondo que sois livres e que de certa forma perdestes essa liberdade,
isso mostra que não éreis livres no começo. Se tivésseis sido livres, o que poderia levar-vos
a perder essa liberdade? O independente jamais se pode tornar dependente. Se é
realmente dependente, sua independência era uma alucinação.

Dos dois lados, qual escolhereis, então? Se dizeis que a alma era por sua natureza pura e
livre, segue-se, naturalmente, que nada no universo poderia torná-la aprisionada ou limitada.
Mas se havia algo na natureza que podia aprisionar a alma, segue-se, naturalmente, que ela
não era livre, e vossa declaração de que ela era livre não passava de uma ilusão. Assim, se
nos é possível alcançar a liberdade, a conclusão é inevitável: a alma é livre por sua
natureza. Não pode ser de outra maneira.

Liberdade significa independência de tudo quanto é exterior, e significa que nada fora dela
própria pode agir sobre ela como causa. A alma é imotivada, e daí seguem todas as
grandes idéias que temos. Não podeis estabelecer a imortalidade da alma a não ser que
concedais ser ela livre por sua natureza, ou, em outras palavras, que nada pode agir sobre
ela, vindo do exterior. Bebo veneno e morro, assim mostrando que meu corpo pode receber
a ação de algo externo que se chama veneno.
Mas se é verdade que a alma é livre, segue-se, naturalmente, que nada pode afetá-la e ela
jamais pode morrer. Liberdade, imortalidade, bem-aventurança, tudo isso depende de estar
a alma para além da lei de causação, para além de maya8.

A solução da Vedanta é que não estamos aprisionados, que já somos livres. Não apenas
isso, mas dizer ou pensar que somos prisioneiros é perigoso: é um erro, um auto-
hipnotismo. Assim que dizeis: "Estou aprisionado, "Sou fraco", sou desamparado", desgraça
sobre vós! Prendei-vos a mais uma cadeia. Não digais tais coisas, não pensais tais coisas.
Eu soube de um homem que vivia numa floresta e costumava repetir, dia e noite:
"Shivobam", "Eu sou o Abençoado". Um dia um tigre caiu sobre ele e o arrastou para matá-
lo. As pessoas que estavam do outro lado do rio viram aquilo e ouviram a voz, enquanto a
voz nele permaneceu, dizendo: "Shivoham", mesmo entre as próprias fauces do tigre. Tem
havido homens assim. Tem havido homens que, mesmo no momento em que estão sendo
cortados em pedaços, abençoaram seus inimigos. "Eu sou Ele, Eu sou Ele, e assim és tu.
Sou puro e perfeito, e assim são todos os meus inimigos. Vós sois Ele, e assim o sou eu."
Essa é a posição de força.

A força, portanto, é uma coisa imprescindível. Força é o


remédio para a doença do mundo. Força é o remédio que o
pobre deve ter quando o rico o tiraniza. Força é o remédio que
o ignorante deve ter, quando oprimido pelo erudito, e é o
remédio que os pecadores devem ter quando tiranizados pelos
outros pecadores. E nada dá mais força do que essa idéia do
monismo. Nada nos faz mais morais do que essa idéia do
monismo. Nada nos faz trabalhar tão bem, da forma melhor e
mais alta, do que ter sobre nós tôda a responsabilidade.

Eu vos desafio, um a um. Como vos comportaríeis se eu vos


pusesse nas mãos um bebezinho? Toda a vossa vida se
modificaria no momento, e fosseis o que fosseis, deveríeis
tornar-vos destituídos de egoísmo naquele momento.

Abandonaríeis todas as idéias criminosas assim que a responsabilidade fosse atirada sobre
vós e vosso caráter se modificaria por inteiro. Assim, se toda a responsabilidade fosse
atirada sobre nossos ombros, estaríamos a agir em nosso ponto melhor e mais alto. Quando
nada temos para procurar às apalpadelas, nem demônio sobre o qual lançar as culpas, nem
Deus Pessoal para carregar nossas cargas, quando só nós somos responsáveis, então nos
erguemos até o melhor e o mais alto. "Sou responsável pelo meu destino, sou quem traz o .
bem para mim próprio, sou quem traz o mal para mim próprio. Sou o Puro e o Abençoado."

Esta, diz a Vedanta, é a única prece que deveríamos ter. Este é o único caminho para
alcançar a meta, dizer a nós mesmos e dizer a todos os demais, que somos divinos. E
conforme formos repetindo isso, a força virá. O que de início vacila irá se tornando cada vez
mais forte, nossa voz aumentará de volume, até que a verdade tome posse de nossos
corações e corra através de nossas veias, e impregne nossos corpos. A ilusão se
desvanecerá conforme a luz se torne mais e mais fulgurante, carga e mais carga de
ignorância desaparecerão, e então chegará o momento em que tudo o mais terá
desaparecido, e só ficará o Sol a cintilar.

8
Maya - Palavra sânscrita que significa "ilusão".
É necessária alguma prática para alcançar a Unidade? Positivamente, sim. Essa ilusão que
diz serdes vocês o Sr. ou a Sra. Fulano de Tal pode desaparecer através de outra ilusão,
que a prática. O fogo engolirá o fogo, jà podeis usar uma ilusão para dominar outra ilusão.

O Eu, o Conhecedor, o Senhor de tudo, o Ser real, é a causa de toda a visão que existe no
universo, mas Lhe é impossível ver a si próprio, exceto através de reflexo. Vós não podeis
ver vossa própria face a não ser num espelho, e assim o Eu não pode ver Sua própria
natureza enquanto ela não for refletida, e todo este universo, é, portanto, o Eu tentando
compreender-se. Esse reflexo é reproduzido primeiro do protoplasma depois de plantas e
animais, e assim por diante, cada vez de melhores refletores, até que o melhor refletor - o
homem perfeito - é alcançado. Tal como um homem que, desejando ver seu próprio rosto,
olha primeiro para uma pequena poça de água lodosa, e apenas vê um contorno, depois vai
para a água limpa e vê melhor imagem, e a seguir, diante de um pedaço de metal brilhante
vê imagem ainda melhor, para, finalmente, colocando-se diante de um espelho, ver-se tal
qual é. Portanto, o homem perfeito é o mais alto reflexo desse Ser, que, ao mesmo tempo, é
substância e objeto.

Agora, descobrireis por que o homem instintivamente


cultua tudo, e por que o homem perfeito é
instintivamente cultuado como Deus em cada país.
Podeis dizer o que quiserdes, mas são eles que se
destinam a ser cultuados. Por isso os homens cultuam
Encarnações, tais como o Cristo ou Buda. Elas são as
mais perfeitas manifestações do Eu eterno.

Estão muito acima de todas as concepções de Deus


que vós e eu podemos fazer. Um homem perfeito é
muito maior do que essas concepções. Nele, o círculo
se completa, e a substância e o objeto fazem-se um.
Nele, as ilusões se desvanecem, e em lugar delas
vem a compreensão de que sempre foi aquele Ser
perfeito.
Certa vez eu viajava pelo deserto, na Índia. Viajei por mais de um mês, sempre encontrando
as mais belas paisagens diante de mim, bonitos lagos, e tudo o mais. Um dia, tendo muita
sede, desejei beber a água de um daqueles lagos, mas quando me aproximei, o lago
desapareceu. Imediatamente, como uma pancada, veio-me ao cérebro a idéia de que aquilo
era a miragem, sobre a qual eu tinha lido toda a minha vida. Então, recordei-me, e sorri da
minha loucura: durante o mês que se escoara, todas as belas paisagens e lagos que eu
estivera vendo tinham sido miragens, mas eu não sabia distingui-Ias. No manhã seguinte eu
estava novamente a caminho. Lá estavam o lago e a paisagem, mas com eles me veio
imediatamente a idéia: "Isto é miragem". Uma vez conhecida, ela perdera seu poder de me
iludir.

Assim, essa ilusão do universo um dia se desvanecerá. Todo ele se desvanecerá, se


esfumará. Isso é compreensão. A filosofia não é gracejo ou conversa. Tem de ser
compreendida. Este corpo se desvanecerá, esta terra, e tudo com ela, se desvanecerá, esta
idéia de que eu sou o corpo ou a mente em algum tempo se desvanecerá. Se o karma9
terminar, isso desaparecerá, para nunca mais voltar, mas se parte do karma permanecer, o

9
Karma - Palavra sânscrita que significa "ação" e designa a lei de causa e efeito, chamada também de
retribuição ou compensação.
corpo, mesmo depois da ilusão se ter desvanecido, continuará a funcionar durante algum
tempo - como o torno do oleiro, que se conserva rodando pelo seu próprio movimento,
mesmo depois que a vasilha foi torneada. De novo este mundo virá, homens, mulheres e
animais virão, tal como a miragem se repete no dia seguinte, mas não com a mesma força.
Com eles virá a idéia de que agora eu conheço a sua natureza, e eles não mais me
aprisionarão, não mais produzirão dor, aflição ou angústia. Ao sobrevir qualquer coisa
angustiosa, a mente poderá dizer: "Sei que isto é uma alucinação".

Quando um homem alcança esse estado, chamam-no jivanka, "o que vive livre", livre
mesmo enquanto vive. A meta e o fim nesta vida, para os jnane-yogues, é tornar-se um
jivan-mukia, "o que vive livre". É iivanmukta o que vive neste mundo sem estar a ele
apegado. 9 como as folhas do Iótus sobre a água, que jamais se chegam a molhar. É a
forma mais alta dos seres humanos, o mais alto de todos os seres, pois compreendeu sua
identificação com o Absoluto, compreendeu que é um com Deus.

Que acontecerá ao mundo, então? Que bem faremos ao mundo? Tais perguntas não
surgem. "Que se tornará meu bolo de gengibre, quando eu ficar velho?" diz o pequenino.
"Que será de minhas bonecas quando eu ficar velha?" - diz a criança. "Que será de minhas
bolinh3.s de gude quando eu ficar velho?" - diz o menino. A pergunta é a mesma com
relação a este mundo. Ele não tem existência no passado, no presente ou no futuro. Se
tivéssemos conhecido o Atman como é, se tivéssemos sabido que nada existe a não ser o
Atman, que tudo o mais não passa de um sonho, sem existência na realidade, então este'
mundo, com suas pobrezas, suas angústias, suas perversidades e suas bondades, cessaria
de nos perturbar. Se tais coisas não existem, por quem e por que teremos transtornos? Isto
é o que jnane-yogue ensina.

Antes de entrar na parte prática, cuidaremos de mais uma questão intelectual. Até aqui a
lógica tem sido tremendamente rigorosa. Se o homem raciocina, não há lugar onde possa
ficar até que chegue a isto: que há somente uma Existência, que tudo o mais nada é. Não
há outro ponto de vista para a humanidade racional a não ser esse. Mas como se explica
que o que é infinito, sempre perfeito, sempre abençoado, Existência-Conhecimento-Bem-
aventurança Absoluta, viesse a ficar sob tais ilusões? É a mesma pergunta que tem sido
feita em todo o recanto do mundo. Na forma vulgar a questão é assim proposta: "Como veio
ter ao mundo o pecado?" Essa é a forma mais vulgar e sensória da pergunta, e a outra é a
forma mais filosófica: mas a pergunta é a mesma. A mesma pergunta tem sido feita em
vários graus e maneiras, mas em suas formas inferiores não encontra solução, porque as
histórias de maçãs, serpentes e mulheres não fornecem uma explicação. Nesses estágios a
pergunta é infantil, e infantil é a resposta.

Mas a pergunta assumiu uma alta forma filosófica: "Como surgiu essa ilusão?" E a resposta
é igualmente alta. A resposta é que não podemos esperar resposta alguma a uma pergunta
impossível. A própria pergunta é autocontraditória. Não tendes o direito de fazer essa
pergunta. Por que? Que é a perfeição? O que está para além do tempo, do espaço, da
causação. Isso é perfeito. Então perguntais como o perfeito se tornou imperfeito. Na
linguagem lógica, a pergunta pode ser colocada nos seguintes ter-mos: "Como aconteceu
que o que está para além da causalidade se tornou causado?" Vós vos contradizeis.
Primeiro admitis que isso está para além da causalidade e depois indagais o que causa isso.
Essa pergunta só pode ser respondida dentro dos limites da causalidade. É pergunta que
pode ser feita até onde o tempo, o espaço e a causalidade se estendam. Mas, para além
disso, seria tolice formulá-la, porque a pergunta seria ilógica.
Dentro do tempo, do espaço e da causalidade, ela jamais pode ser respondida, e que
resposta pode existir para além desses limites só pode ser sabido quando os
transcendermos. Portanto, o prudente será deixar a pergunta em paz. Quando um homem
está doente, a gente se dedica a curar-lhe a doença, sem insistir em que primeiro deve
aprender como lhe aconteceu apanhá-la.

Há outra resposta que não fica assim em plano filosófico tão alto. Pode qualquer realidade
produzir ilusão? Certamente não. Vemos que uma ilusão produz outra, e assim por diante. É
sempre a ilusão que produz ilusão. É a doença que produz doença e não a saúde que
produz doença. A onda é a mesma coisa que a água; o efeito é a causa sob outra forma. O
efeito é ilusão, portanto, a causa deve ser ilusão. Que produziu essa ilusão? Outra ilusão. E
assim vai, sem princípio. A única pergunta que vos resta fazer, é: "Não rompe nosso
monismo o fato de termos duas existências no universo - uma o Eu, e a outra a ilusão?" A
resposta é: "A ilusão não- pode ser chamada uma existência. Milhares de sonhos entram em
vossa vida, mas não formam qualquer parte de vossa vida. Os sonhos vêm e vão: não têm
existência. Chamar existência à ilusão seria sofisma. Há, portanto, apenas uma Existência
indivisível no universo, sempre livre e sempre abençoada, e é isso que sois". É essa a última
conclusão a que chegaram os advaitistas.

Podeis, então, indagar: "Que será de todas essas formas de culto?" Permanecerão. Estão
apenas tateando nas trevas, em busca de luz, e através desse tateamento a luz virá.

Acabamos de ver que o Eu não pode ver a si próprio. Nosso conhecimento está dentro de
uma teia de maya, de irrealidade, e além disso fica a libertação. Dentro da teia há
escravidão e tudo está sob a lei. Para além não há lei. No que se refere ao universo, a
existência é governada pela lei, e para além dele fica a liberdade. Enquanto estiverdes na
teia do tempo, do espaço, da causalidade, dizer que sois livres é tolice, porque essa teia
está sob lei rigorosa. Todos os pensamentos que tendes são causados, todos os
sentimentos são causados, e dizer que a vontade é livre não passa de mera tolice. Só
quando a Existência infinita vem, por assim dizer, para essa teia de maya, é que ela toma a
forma de vontade. Vontade é uma porção daquele Ser, apanhada nas teias da maya;
portanto, a vontade é um nome falso, uma denominação imprópria. Nada significa - simples
tolice. Assim é todo esse falatório com respeito a liberdade. Não há liberdade em maya. Não
há liberdade enquanto não fordes além de maya. Essa é a verdadeira liberdade da alma.

O jnane diz: A mente não existe, nem o corpo. Sua meditação, portanto, é a mais difícil, a
negativa. Ele nega tudo, e o que fica é o Eu. O jnane deseja arrancar o universo do Eu pela
mera força da análise. O jnane procura arrancar--se ao seu aprisionamento da matéria pela
força da convicção intelectual. Este é o caminho negativo - o neti, neti - "isto não, isto não".

A felicidade está no corpo, na mente ou no Atman. Nos animais, e nos seres humanos
inferiores, a felicidade está toda no corpo. Homem algum pode comer com a mesma
satisfação com que come um cão ou um lobo esfaimados; portanto, no cão e no lobo a
felicidade está inteiramente no corpo. Nos homens encontramos um plano mais alto de
felicidade, o do pensamento. E no inane há o mais alto plano de felicidade, no Eu, o Atman.

Assim, para o filósofo, esse conhecimento do' Eu é da maior utilidade, porque lhe dá a mais
alta felicidade possível. Satisfação dos sentidos ou coisas físicas não podem ser da mais
alta utilidade para ele, porque não encontra neles o mesmo prazer que encontra no
conhecimento de si mesmo. E, afinal, o conhecimento é a única meta, e é, realmente, a
maior felicidade que conhecemos.
Todas as pessoas que trabalham, e lutam, e se esforçam como se fossem máquinas, não
gozam realmente a vida, mas quem a goza é o homem instruído. Um ricaço compra um
quadro, mas o homem que entende de pintura é quem o goza.

E se o ricaço não tem conhecimento de arte, o quadro é inútil para ele. Torna-se o
possuidor, apenas. Por todo o mundo, é o homem instruído quem goza a felicidade desse
mundo. O ignorante nunca tem prazer. Precisa trabalhar para os outros, inconscientemente.

Não há senão um Atman: não pode haver dois. Vimos como em todo o universo há apenas
uma Existência, e essa única Existência, quando vista através dos sentidos, é chamada
mundo, o mundo da matéria. Quando é vista através da mente, é chamada mundo dos
pensamentos e idéias. E quando é vista como é, então é o único Ser infinito. Deveis manter
em vossas mentes o seguinte: não é que exista uma alma no homem, embora eu tivesse de
aceitar isso, de início, como fora de dúvida, a fim de poder explicar. Mas há apenas uma
Existência, e essa Existência é o Atman, o Eu. Quando isso é percebido através dos
sentidos, através de imagens dos sentidos, é chamado corpo. Quando é percebido através
do pensamento, é chamado mente. Quando é percebido através de sua própria natureza, é
chamado o Atman, a única Existência.

Portanto, não existem três coisas numa só - o corpo, a mente, e o Eu, embora esse fosse
um caminho conveniente para o curso da explicação. Mas tudo isso é Atman, e esse Ser
único é às vezes chamado corpo, às vezes mente, e às vezes Eu, segundo os diferentes
pontos de vista. Não há senão um único Ser, que os ignorantes chamam mundo.

Dualismo e não-dualismo são expressões filosóficas muito boas, mas, em percepção


perfeita, jamais vislumbramos o Real e o falso ao mesmo tempo. Todos nascemos monistas,
não o pode-mos evitar. Sempre vislumbramos um. Suponhamos que vedes um de vossos
amigos vindo em vossa direção, na rua, a uma certa distância. Vós o conheceis muito bem,
mas, através da obscuridade do nevoeiro que tendes pela frente, pensais que se trata de um
outro homem. Quando vedes vosso amigo como um outro homem, não vedes mais o vosso
amigo, ele se desvaneceu. Estais vislumbrando apenas um. Suponhamos que o vosso
amigo seja o Sr. A, mas quando vislumbrais o Sr. A como Sr. 13, não vedes absolutamente
o Sr. A. Em cada um dos casos vedes apenas um. Quando vos vedes como um corpo, sois
corpo e nada mais, e esta é a percepção da vasta maioria da humanidade. Podem falar de
alma, da mente, e de todas essas coisas, mas o que percebem é a forma física - tacto,
paladar, visão, e assim por diante.

Quando a consciência se erguer ainda mais alto, quando esta pequena, insignificante
consciência tiver desaparecido para sempre, o que é Realidade por trás dela, brilhará, e nós
a veremos como a única Existência-Conhecimento-Bem-aventurança, o único Atman, o
Universal. "Um que é o próprio Conhecimento único, um que é a própria Bem-aventurança,
para além de toda a comparação, para além de todo o limite, sempre livre, jamais
aprisionado, infinito como o céu, imutável como o céu: tal como se manifestará em vosso
coração, na meditação."

Como explica o advaitista as várias teorias de céus e infernos e essas várias idéias que
encontramos em todas as religiões? Quando um homem morre, diz-se que vai para o céu ou
para o inferno, para aqui ou para ali, ou que quando um homem morre, torna a nascer em
outro corpo, seja no céu ou em outro mundo, algures.
Tudo isso não passa de alucinações. Falando com realismo, ninguém nasce nem morre.
Não há céu, nem inferno, nem este mundo: todos os três realmente jamais existiram. Contai
a uma criança uma porção de histórias de fantasmas, e fazei-a sair à rua, pela noite. Existe
ali um pequeno toco de árvore. Que vê a criança? Um fantasma, com as mãos estendidas,
pronto para agarrá-la.

Suponhamos que um homem vire a esquina, desejando encontrar sua namorada: vê


naquele toco de árvore uma jovem. Um policial que venha da mesma esquina vê o toco
transformado em ladrão.

O ladrão o vê como um policial. Trata-se do mesmo toco de árvore, que foi visto de várias
maneiras. O toco é a realidade, e as visões do toco são as projeções das várias mentes.

Há um Ser, um Eu, que nunca vem nem vai. Quando um homem é ignorante, deseja ir para
o céu, ou para um lugar parecido. Durante toda a sua vida pensou e tornou a pensar nisso,
e quando esse sonho terreno se desvanece, vê este mundo como um céu com anjos
voando sobre ele. Se um homem deseja toda a sua vida encontrar-se com os seus
antepassados, consegue encontrá-los, a partir de Adão, polis cria todos eles. Se um homem
é ainda mais ignorante e está sempre assustado pelos fanáticos com idéias de inferno, com
toda a sorte de castigos quando ele morrer, verá este mesmo mundo como um inferno.

Tudo o que significa isso de nascer ou morrer é simplesmente um caso de mudanças no


plano da visão. Nem vós vos moveis nem se move aquilo sobre o que projetais vossa visão.
Sois os permanentes, os imutáveis. Como podeis ir e vir? Isso é impossível: sois
onipresentes.

Nunca digais: "ó Senhor, sou um miserável pecador!"


Quem vos ajudará? Sois o auxílio do universo. Que,
neste universo, pode ser de auxílio para vós? Onde está
o homem, o deus, ou o demônio que vos ajude? Que
pode prevalecer sobre vós? Sois o Deus do universo.
Onde podereis encontrar auxílio? jamais o auxílio veio
de parte alguma a não ser de vós mesmos. Em vossa
ignorância, cada prece foi respondida por algum Ser,
mas vós mesmos, sem o saber, respondestes à prece.
O auxílio veio de vós mesmos, e vós tivestes satisfação
em imaginar que certo Alguém vos estava mandando
auxílio. Não há auxílio para vós fora de vós mesmos:
sois o Criador do universo. Como o bicho-da-seda,
tecestes um casulo em torno de vós. Quem vos
salvará? Rompei vosso casulo e sal dele como a bela
borboleta, como alma liberta.

Então, só então, vereis a Verdade. Dizei sempre convosco mesmos: “Eu sou Ele". Essas
são palavras que queimarão as escórias da mente, palavras que farão surgir as tremendas
energias que já estão dentro de vós, o poder infinito que dorme em vossos corações. Tais
coisas devem surgir através da verdade constantemente ouvida, e de nada mais. Donde
houver pensamentos de fraqueza, não vos aproximeis. Evitai toda a fraqueza, se quiserdes
ser um jnane.

Extraído do livro: Quatro Yogas de Auto-realização.


A NECESSIDADE DE PRINCÍPIOS UNIVERSAIS
RELIGIOSOS
Paramahansa Yogananda
Fragmentos extraídos do livro JOURNEY DO SELF-REALIZATION – Self-Realization Fellowship –
1997 – 1a. Edição - Páginas 178 - 190. Tradução não-oficial feita por Estudantes da Self-Realization
Fellowship de Fortaleza-CE

Religiões dogmáticas são atalhos, algumas vezes ruelas cegas que conduzem ao nada;
mas, mesmo assim, uma religião dogmática pode conduzir o buscador sincero à larga
rodovia da verdadeira religião, que, por sua vez, conduz a Deus. Essa larga rodovia é a
ioga, o processo científico através do qual toda alma se reconcilia com Deus. No Bhagavad
Gita, ioga é proclamada como mais importante que todos os demais caminhos – mais que o
caminho da devoção, da sabedoria e da ação justa. Ioga é a ciência sobre como o homem
descendeu do Espírito ao corpo e tornou-se identificado ao corpo e aos sentidos; e como
pode ele reascender a Deus. A experiência ou realização da verdade que vem da prática da
ioga é a prova da unidade subjacente de todas as religiões, encontrada na percepção do
seu denominador comum – Deus.

A religião organizada é a colméia; a auto-realização é o mel. Ambos são necessários. Mas


sempre acontece que, quando a religião organizada se concentra em doutrinas e
cerimônias, torna-se uma colméia dogmática vazia. No extremo oposto, alguns iogues que
vivem nos Himalaias acumulam o mel da auto-realização em seus corações, sem prover
colméias de religião organizada, através da qual outros poderiam se saciar com o néctar
divino. Isto é egoísmo. Se a religião organizada estiver guarnecida por grandes sábios, ela
promove o bem no mundo. Se é promovida apenas egoisticamente, de forma intolerante, ou
dirigida para fins comerciais, ela faz um bem muito pequeno e causa danos a muitos.

Se a fé é intuitiva, é mesmo necessária a presença de um guru?

Deus não fala abertamente ao buscador espiritual principiante; sua intuição não está ainda
desenvolvida, e assim a orientação interna não é infalível. Deus então guia os ensinamentos
por meio de um guru que realmente O conhece. O preceptor deve possuir sintonia divina ou,
do contrário, teremos “um cego guiando outro cego”.

Não toma a religião forma dogmática depois que é organizada e orientada por
símbolos e convenções?

Assim como a noz fica oculta pela concha, a verdadeira religião se oculta nas formalidades
dogmáticas da religião. Do mesmo modo que a casca da noz pode ser aberta pelo quebra-
nozes e o alimento encontrado dentro, buscadores espirituais profundos, através do quebra-
nozes da meditação intuitiva nos ideais religiosos, podem quebrar a casca dogmática e
alcançar a verdade interna oculta. Um corvo pode bicar inutilmente uma casca dura de noz e
nunca alcançar a castanha; similarmente buscadores espirituais superficiais mordem sem
sucesso a casca dogmática da religião sem nunca alcançar o núcleo da verdade.

O Senhor acredita que existe uma unidade fundamental de todas as religiões. Se tal
unidade existe, por que há disputas e conflitos entre os seguidores de um credo e os
outros que possuem outras convicções?
Nós lemos sobre esses conflitos mesmo através das escrituras antigas. Os discípulos do
grande deus Shiva exaltavam-no como supremo; os devotos Vaishinavas consideram
Vishnu e sua encarnação como Rama ou Krishna superior. Os seguidores dentro das
divisões religiosas não possuem a realização daqueles cujas vidas inspiraram caminhos
verdadeiros. Tenho dito constantemente se Jesus, Krishna, Buda, e outros verdadeiros
emissários de Deus aparecessem juntos, eles não promoveriam disputas, mas beberiam do
mesmo único copo da comunhão em Deus.

A diversidade de visão dos religiosos é semelhante à estória contada na Índia sobre seis
irmãos cegos que estavam lavando um elefante. O primeiro irmão proclamou que o elefante
é como uma enorme parede; ele estava lavando as laterais do paquiderme. Ouvindo isso, o
segundo irmão discordou, asseverando que o elefante é como uma vara de bambu flexível;
ele estava lavando a tromba. O terceiro, pensando que os dois irmãos estavam tontos,
insistiu que o elefante é semelhante a duas folhas de bananeira; ele estava lavando as
orelhas. Ouvindo essas absurdas declarações, o quarto irmão os corrigiu definindo o
elefante como um grande telhado de carne sustentado por quatro pilares; ele estava lavando
as pernas. O quinto irmão ria descontroladamente, pois para ele o elefante era dois pedaços
de osso; ele estava lavando as presas do elefante. Finalmente, o sexto irmão disse que eles
estavam loucos e afirmou incisivamente que o elefante era uma corda descendo do céu; ele
estava lavando o rabo e, sendo o menor, não podia pegar no topo do rabo, concluindo que
ele descia das regiões celestiais. Enquanto observava a discussão, o perspicaz pai explicou,
“todos estão certos e todos estão errados. Estão certos porque descreveram aquilo que
experimentavam, mas errados porque cada experiência era apenas parte do todo. O
elefante é um agregado de todas essas partes”.

A consciência humana evolui através das encarnações e gradualmente experimenta mais e


mais do oceano de alegria da Verdade. Cada pessoa pode absorver apenas o grau da sua
experiência individual. Essas diferenças de percepção são as causas dos argumentos e
controvérsias, cada um vendo apenas a parte da Verdade integral. A troca de diferentes
visões é construtiva quando feita com abertura e respeito; mas destrutiva, terminando em
disputas, quando há intolerância e fanatismo.

O Senhor reconhece similaridades entre a fé hindu e cristã?

O Bhagavad Gita e a Bíblia Cristã, especialmente o Novo Testamento, eu considero as


maiores de todas as escrituras, porque ambas apontam o mesmo caminho iogue para Deus.
O Bhagavad Gita ensina: “Aquele que vê o Espírito igualmente em todos é um homem de
realização” e a Bíblia diz: “Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de
Deus habita em vós?”. A Revelação de São João na Bíblia é uma alegoria dos mesmos
princípios de ioga citados no Gita. Meu Guru enviou-me para o Ocidente especialmente para
mostrar o caminho iogue que leva a Deus, subjacente à Bíblia e ao Bhagavad Gita.

Paramahansa Yogananda
O significado do “Om”
Swami Dayananda Saraswati

Essa sílaba única, Om, vem dos Vedas. Como uma


palavra sânscrita, significa avati raksati - aquilo que lhe
protege, lhe abençoa. Como se dá essa proteção? É um
mantra e é um nome do Senhor. O nome do Senhor lhe
protege através da repetição do próprio nome. Pelo
nome você reconhece o Senhor. E, portanto, é
reconhecimento em forma de oração. Sendo um mantra,
ele é repetido, e, portanto, torna-se uma prece. O
Senhor é o protetor e o provedor; aquele que abençoa é
o Senhor; o Senhor é na forma de bênção. Repetido
Om, você invoca o Senhor naquela forma específica.
Então, dessa maneira, Om lhe protege. Portanto, ele é
fiel a seu nome. É o Senhor que lhe protege, e não o
som.

Entre o nome e o Senhor há uma ligação (abhidhána abhidheya sambandha). Um é o nome,


o outro é o seu significado. A conexão é que você não pode repetir o nome sem o
significado dele, se você o conhece. Uma vez conhecido o significado, este vem para sua
mente, assim como a palavra. Portanto, não são duas ações diferentes. Não ocorre primeiro
a palavra e depois de algum tempo o significado. Se você conhece o significado quando a
palavra aparece na sua mente, no mesmo instante o significado está lá. Isso é possível
somente quando ambos estão interligados. Essa conexão é chamada abhidhána abhidheya
sambandha. E, por causa desse sambandha, o nome protege você, e o Senhor também.

O Senhor é Um e não-dual. Isso é o que dizem os Vedas.

Om iti idam sarvam yat bhútam yat ca bhavyam bhavisyat iti

O que existia antes, o que existirá depois e o que existe agora. Tudo isso, sarvam, é
realmente Om. Tudo o que existe é Om. Tudo o que existiu é Om, e também tudo o que
existirá depois, no futuro. Passado, presente e futuro, incluindo o tempo e tudo o que existe
no tempo - tudo isso é Om. Aquele Om é Brahman. Portanto, o Senhor é não-dual, e esse
não-dual é Um. A sílaba é também uma e não-dual, significando que tudo está dentro dela.
E tudo está dentro de Om.

Portanto, é também uma contemplação. Pois, apesar de Om ser uma sílaba única, nela
existe A, U e M. A mais U é O, um ditongo, e mais M é Om. Tem, portanto, três mátras, ou
unidades de tempo. A é um mátra, U é outro e M mais outro. Brahman é sarvam (tudo) e
também está na forma de três. Brahman em estado causal, como súkshma prapañcha, o
mundo sutil, e o sthúla, o mundo físico. O corpo físico é chamado de sthúla, assim como o
universo físico. Dentro desse corpo físico existe outro mundo. É o mundo do nosso prána
que mantém este corpo vivo e inclui a mente e os sentidos. É sutil, pois está dentro desse
corpo físico, não visível, mas sua presença não se perde. Portanto, o que mantém esse
corpo vivo, sem o qual estaria morto, isso é súkhma. Quando sthúla e súkshma estão juntos,
então existe vida. Quando súkshma não está presente, esse corpo físico fica inerte. Se
Brahman, o Senhor, é tudo, então todo o sthúla prapañcha, o universo físico que inclui todos
os corpos físicos, é o Senhor, e também o súkhma prapañcha, o mundo sutil, é o Senhor.
Dessa maneira, temos o Senhor nos três níveis: no nível físico, sutil e causal. Na nossa vida
diária também temos três estados distintos de experiência: o acordado, o sonho e o sono
profundo. No sono profundo o indivíduo está na forma causal. No sonho você se identifica
com o súkshma (sutil), sua própria mente. A mente está acordada e existe uma experiência
de sonho e um mundo de sonho. E você ainda identifica-se com o corpo físico e tem então o
estado acordado. Então temos três estados de experiência e três mundos.

Isso constitui o indivíduo enquanto ser acordado e todo o mundo físico, o ser que sonha e
todas as experiências sutis e o causal, no sono profundo. São três e completam tudo o que
existe a nível indifidual e total.

O ser acordado e individual está incluído em Brahman, que é o total. Portanto, o indivíduo
acordado e o mundo acordado é Brahman. Seu mundo acordado está incluído no mundo
acordado total. Todo aquele mundo acordado está representado por A. E existe uma razão
para isso, falada nos Shástras (Escrituras). A é a primeira letra (ou som) que é pronunciada
quando se abre a boca, e, da mesma maneira, M é a última, quando se fecha a boca. U está
entre os dois. O A representa o acordado, do qual depende U. Este A torna-se U quando os
lábios se fazem arredondados. U representa todo o súkshma prapañcha (mundo sutil), e M
representa todo o mundo causal, pois tudo se dissolve em M.

Depois de fechar os lábios, de dizer M, você não pode dizer mais nada. A e U terminam em
M, assim como no sono profundo os mundos físicos e sutil dissolvem-se. Portanto, A-U-M,
Om e quando se pronuncia Om, tudo se dissolve em M. E, depois, tudo retorna, Om. A
origem do retorno não é em M, mas sim no silêncio. A e U dissolvem-se em M, e em
seguida o Om nasce do silêncio. Então, A-U entram em M, e M entra no silêncio. O silêncio
não é A, nem U e nem M, mas está também incluído em Om. Ele é chamado de amátra. O
silêncio que existe entre dois Om's é Brahman, em sua forma essencial, do qual depende
Aum - Jágat, o estado acordado; Swapna, o sonho; Susupti, o sono profundo; o Sthúla
prapañcha, o mundo acordado; Súkshma prapañcha, o mundo de sonho; e o Karana
avasthá, o estado causal. Todos os três dependem do silêncio, que é Brahman, que é
Chaitanya, consciência, Átman, Brahman. E é aquele mesmo que está nesses três.
Portanto, todos os três vêm Dele, são sustentados por Ele e retornam para Ele mesmo.
Aquele é Brahman. Portanto, Om iti idam sarvam: o Om é tudo. É uma sílaba e, ao mesmo
tempo, contém tudo. É não-dual. Então, o Senhor é tudo. Todas as formas na criação são
formas do Senhor.

E todas as formas têm um nome. Imaginemos que queiramos dar um nome ao Senhor. Que
nome deveria ser? Todos os nomes são nomes do Senhor. Então, qual nome que
poderíamos dar? Quando digo cadeira, não é mesa; são diferentes. Suponhamos que
cadeira é Brahman, e que mesa também seja Brahman. Então, qual o nome que daria ao
Senhor? Deveria dar todos os nomes. Então, todos os nomes em qual língua? O Senhor é
Um. Apesar de seu nome ter que incluir todos os nomes, ainda assim existe um nome de
sílaba única que podemos dar a Ele. Este é Om. Em qualquer língua, todos os nomes estão
somente entre dois sons. Isto dentro do ponto de vista puramente fonético. Se você abre a
sua boca e faz um som, este é A. Não existe outro som que possa ser feito. Um indiano, um
chinês, um noruequês, ou até mesmo uma pessoa de alguma tribo, todos dirão A. Então,
feche sua boca e faça um som. Você terá MM. Tente fazer outro som depois de fechar a
boca! Portanto, Am.
Todas as palavras, em todas as línguas, estão entre A e M. Entre essas estão muitas letras
que tem de ser levadas em conta. Todas as outras letras estão representadas por o que
você produz quando arredonda os lábios e diz A. Você terá U. Junte A e U (em sânscrito) e
você terá O; adicione M e terá Om. Todos os nomes, em todas as línguas, conhecidos e
desconhecidos, estão incluídos entre A e M. Om iti idam sarvam. Portanto, Om é tudo e Om
é também um nome fonético para o Senhor. Om não faz parte de uma língua específica. É
fonético, além de qualquer língua. Portanto, Om é o nome para Brahman que inclui o
silêncio também, o nirguna (sem forma) e o turíya (o quarto estado da consciência, que é a
pura consciência). Aum é o turiya. Portanto, Om é considerado o mais sagrado e básico
entre todos os nomes do Senhor.

Você pode fazer o japa de Om ou contemplar o Om. Om é o mantra do sannyási. Produz


tyága vritti, uma tendência a abandonar tudo. É por isso que geralmente as pessoas não
cantam somente Om. Sannyásins têm que cantar Om para não se envolverem. Outros não
são incentivados a cantar para que não larguem tudo.

Geralmente, cantamos Om no início e no final de qualquer coisa. Om representa um início


auspicioso.

Fonte: VidyaMandir
O ENSINAMENTO ESPIRITUAL DE SRI RAMAKRISHNA

“Inúmeros são os caminhos que conduzem a Deus. Há os caminhos de jnana, karma e


bhakti. Se for sincero por fim alcançará Deus qualquer que seja o caminho que seguir.
Grosseiramente
ramente falando há três tipos de yoga: jnana, karma e bhakti yoga.

“O que é jnana yoga? O jnani procura realizar Brahman. Discrimina dizendo, ‘Isto não, isto
não’. Discrimina, dizendo, ‘Brahman é Real e o universo, ilusório’. Discrimina entre o Real e
o irreal. Ao cabo de sua discriminação
discriminação entra em samadhi, e alcança o Conhecimento de
Brahman.

“O que é karma yoga? Seu objetivo é fixar a mente em Deus através do trabalho. É o que o
senhor está ensinando. Consiste no controle do alento, concentração, meditação e assim
por diante, feitos com
om desapego. Se um chefe de família executa seus deveres no mundo
com desapego,
sapego, entregando os resultados a Deus e com Ele no coração, pode-se
pode também
dizer que pratica karma yoga. Se uma pessoa faz adoração, japa e outros atos de devoção,
entregando os resultados
ultados a Deus, pode-se
pode se dizer que pratica karma yoga. Alcançar Deus é o
único objetivo da karma yoga.

“O que é bhakti yoga? É manter a mente em Deus, cantando Seu nome e Suas glórias. Para
o Kaliyuga, o caminho da devoção é o mais fácil. Este é certamente o caminho para esta
época.

“O caminho de karma é muito difícil. Primeiro de tudo, como acabei de dizer, onde se vai
encontrar tempo para ele, hoje em dia? Onde há tempo para um homem fazer suas obriga-
obriga
ções como ordenadas nas escrituras? A vida do homem é curta,
curta, nessa época. Além disso é
extremamente
tremamente difícil fazer as obrigações com desapego, sem se preocupar com o resultado.
Não se pode trabalhar com esse espírito, sem antes ter realizado Deus. De uma certa
maneira, o apego aos resultados entra na mente, embora
embora não se esteja consciente dele.

“Seguir jnana yoga nesta época é, também, muito difícil. Primeiro, a vida do homem
depende
pende inteiramente do alimento. Segundo, tem tempo curto de vida. Terceiro, por
nenhuma razão, pode-sese libertar da consciência do corpo;
corpo; e o Conhecimento de Brahman é
impossível sem a destruição da consciência do corpo. O jnani diz: ‘Sou Brahman, não sou o
corpo. Estou além da fome e sede, doença e tribulação, nascimento e morte, prazer e dor’.
Como uma pessoasoa pode ser um jnani se tiver consciência da doença, tribulação, dor, prazer
e coisas semelhantes?
lhantes? Um espinho entra em sua carne, o sangue sai da ferida e você sofre
muito com a dor; entretanto, se for um jnani, deve ser capaz de dizer: ‘Ora, não há qualquer
espinho em minha carne. Não ão há nada comigo’.

“A bhakti yoga é, portanto, recomendada para esta época. Ao seguir este caminho, chega-
chega
se a Deus mais facilmente do que seguindo os outros. Pode-se
Pode se sem dúvida chegar a Deus,
seguindo os caminhos de jnana e karma, mas são caminhos muito difíceis.
“Bhakti yoga é a religião para esta época, mas isto não significa que o amante de Deus al-al
cançará uma meta e o filósofo e o trabalhador, outra.. Isto quer dizer que, se uma pessoa
procura o Conhecimento de Brahman, pode alcançá-Lo,
alcançá seguindo o caminho
inho de bhakti, tam-
tam
bém. Deus, que ama Seu devoto, pode dar-lhe
dar lhe o Conhecimento de Brahman, se Ele assim o
desejar.

“O bhakta, contudo, quer realizar o Deus Pessoal, dotado de forma e conversar com Ele.
Raramente procura o Conhecimento de Brahman. Mas Deus pode fazer de Seu devoto o
herdeiro de Suas glórias infinitas, se isto Lhe agradar. Dá a Seu devoto tanto o Amor de
Deus, quanto o Conhecimento de Brahman. Se alguém chegar de Calcutá de uma maneira
ou outra, poderá ver o Maidan, o museu e outros lugares. O importante é chegar a Calcutá.

“Ao realizar a Mãe Divina do Universo, o senhor terá o Conhecimento e também, Devoção.
Devo
Terá ambos. Em bhava samadhi verá a forma de Deus e no nirvikalpa samadhi, realizará
Brahman, Existência-Conhecimento
Conhecimento-Bem-aventurança Absolutos.
bsolutos. No nirvikalpa samadhi o
ego, nome e forma não existem.

      

Sri Ramakrishna
O PODER DO AMOR
Sri Chinmoy

Quando o poder do amor


Substituir o amor pelo poder,
O homem terá um novo nome: Deus.

O amor é uma chama pura e refulgente. Quando seguimos o caminho do amor,


encontramos nossa vida espiritual, nossa vida interior, nossa vida mais gratificante. Nada
pode ser mais grandioso que o amor. Amor é vida, e a própria vida é néctar e deleite
espontâneos.

Se amor significa possuir algo ou alguém, isso não é amor de verdade; não é amor puro. Se
amor significa oferecer e tornar-se uno com tudo, com a humanidade e a Divindade, isso é
amor verdadeiro. O amor verdadeiro é a nossa total unicidade com o objeto amado e com o
dono do amor. Quem é o dono do amor? Deus!

A quem estamos amando? Ao Supremo em cada pessoa. Quando amamos o corpo, nós
nos limitamos. Quando amamos a alma, nós nos libertamos. É a alma dentro da pessoa, o
Supremo em cada ser humano, que precisamos amar.

Você pode oferecer conscientemente amor puro aos outros e sentir que está oferecendo
uma parte do alento de sua vida ao conversar ou pensar sobre eles. Está oferecendo esse
alento de vida porque sente que você mesmo e o resto do mundo são total e
inseparavelmente um. Onde há unicidade, tudo é puro amor.

O Caminho do Coração.

O amor divino é a maneira mais rápida de se realizar o Altíssimo. A mente já cumpriu seu
papel. Agora, o mundo está suplicando pela riqueza do coração, que é o amor. Se
seguirmos o caminho do coração, veremos que nas profundezas dele vive a alma. É
verdade que a luz da alma permeia o corpo todo, mas há um lugar específico em que ela
reside a maior parte do tempo: o coração. O coração espiritual está localizado no centro do
peito. Se quisermos consolidar um livre acesso à nossa alma, precisamos ficar atentos,
concentrados, em nosso coração. Esse é o centro de amor e unicidade puros.

Você pode alcançar o coração espiritual por meio da concentração e da meditação. Se


quiser fazer isto, então todos os dias, durante alguns minutos, você deve se concentrar no
coração apenas e em nenhuma outra região. Você precisa sentir que não tem cabeça, nem
pernas nem braços. Tem apenas o coração. Permanecendo na mente, a vida pode parecer
um graveto seco. Quando você permanece no coração, a vida pode ser transformada num
mar de puro amor e felicidade.

Conseguindo manter sua consciência ali, gradualmente vai começar a vivenciar um


sentimento de unicidade espontânea. Cultivando o solo espiritual do coração, ali você vai
encontrar florescendo um amor espontâneo por Deus e uma unicidade espontânea com a
criação D’Ele.
O coração de quem ama.

É muito fácil para um ser humano amar outro, desde que ele veja o divino na outra pessoa.
É sempre aconselhável ir até a raiz, que é Deus. Se quisermos amar alguém, o melhor é
amarmos Aquele que é todo amor. Se soubermos como amá-Lo por Si mesmo, será
extremamente fácil amá-Lo em um ser humano.

Quando você vê que as más qualidades e os defeitos de alguma pessoa são óbvios,
procure sentir que eles não a representam totalmente. O ser verdadeiro é infinitamente
melhor do que você vê agora. Tente ver o divino nos outros apesar das limitações alheias.

Vendo as limitações de alguém, não ajudamos o outro de maneira nenhuma. Apenas


atrasamos nosso progresso. Se virmos imperfeições em alguém, as qualidades não divinas
nele virão á tona para defendê-lo, e nosso orgulho, arrogância e sentimento de
superioridade também virá à tona. Entretanto, ao ver o divino em alguém, nós aceleramos
nosso progresso e ajudamos outra pessoa a erigir sua própria vida de realidade sobre um
fundamento divino. Precisamos ver os outros com o coração de quem ama e não com o olho
de quem critica.

Para vermos o divino em outras pessoas, nós precisamos amar. É verdade quando se diz
que o amor não vê defeitos. Se você realmente amar alguém, será difícil ver alguma
imperfeição. Amor significa unicidade. A mãe, apesar de saber das inúmeras limitações de
seu filho, não pára de amá-lo, porque consolidou sua unicidade com ele.

Se há imperfeições no filho, a mãe as assume como verdadeiramente dela. Se você acha


difícil amar o humano em alguém, então ame o divino nele. O divino nele é Deus. Deus
existe tanto naquela pessoa quanto em você. Amar a Deus é extremamente fácil porque ele
é divino e perfeito. A cada vez que você olhar para alguém, se puder perceber
conscientemente a existência de Deus nessa pessoa, não será mais incomodado pelas
imperfeições ou limitações do outro.

Meu senhor,
Ensine-me apenas uma coisa:
A como amar o mundo
Da maneira como Você me ama.

Extraído do livro: As Asas da Alegria – Editora Pensamento-Cultrix.

SRI SCHINMOY
Pensamentos:
Para entender e servir o próximo, primeiro o indivíduo deve se compreender! Deve
remexer o porão mais escuro de sua mente, buscar força, retidão e virtudes, para depois
disto procurar passar algo de proveitoso a todos a sua volta! Desejar fazer isto, sem antes
se olhar internamente, sem buscar a luz da sabedoria, é pura hipocrisia.

Sannyasin

Pode acontecer que algumas vezes não saibas para onde ir, para que lado te voltares.Nesse
caso, não precipites nada, aguarda o tempo e as circunstancias. Fica inabalável no local
onde te encontras.

Sun Tsé

Não leve as experiências da vida tão a sério. Não deixe principalmente que elas o magoem,
pois na realidade, nada mais são do que experiências de sonho... Se as circunstâncias forem
ruins e você precisar suportá-las, não faça delas uma parte de você mesmo. Desempenhe o
seu papel no palco da vida, mas nunca esqueça de que se trata apenas de um papel. O que
você perder no mundo não será uma perda para sua alma. Confie em Deus e destrua o
medo, que paralisa todos os esforços para ser bem sucedido e atrai exatamente aquilo que
você receia.

Paramahansa Yogananda

O egoísmo pessoal é que excita e estimula o homem a abusar de seus conhecimentos e


poderes. O egoísmo é um edifício humano, cujas janelas e portas estão sempre
escancaradas para que toda espécie de iniqüidades entre na alma humana.

Helena P. Blavatsky.

Não podemos fazer muito sobre a extensão de nossas vidas, mas podemos fazer muito
sobre a largura e a profundidade delas.

Evan Esar

Muitas das coisas mais importantes do mundo foram conseguidas por pessoas que
continuaram tentando quando parecia não haver mais nenhuma esperança de sucesso.

Dale Carnegie

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