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Resumo: A partir do campo das Artes (Música) o texto tem como objetivo trazer algumas
reflexões sobre as possibilidades de parceria entre músico e pedagogos no contexto dos anos
iniciais do Ensino Fundamental. Meu Brasil, brasileiro é um relato de experiência que teve
como proposta uma aprendizagem colaborativa, instituindo os participantes como principais
agentes do agir/pensar reflexivo. Apresenta a necessidade de o professor especialista realizar
diferentes diálogos com a equipe pedagógica e com o mundo que o rodeia, trazendo
principalmente as contribuições teóricas de Paulo Freire. Conclui-se provisoriamente, que os
professores necessitam permanentemente do desenvolvimento ser/sentir-se reflexivo,
proporcionando cada vez mais a construção coletiva de métodos de trabalhos.
Palavras chave: educação musical, ensino fundamental, interdisciplinaridade.
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Na concepção do autor, basicamente os projetos de trabalho se caracterizam por possuírem um tema-problema;
atitude cooperativa e professor aprendiz; estabelecer conexões; trabalhar com diferentes tipos de informação
entre outras.
Já nos 2º, 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental, a proposta era estimular o aluno à
pesquisa, procurando conhecer os diferentes compositores em diferentes épocas. A escolha
entre este ou outro compositor seria decidida a partir do interesse de cada classe.
Para estimular a pesquisa dos alunos sobre os compositores, buscamos transportar os
alunos para outro lugar, outro tempo. Com esta proposta, nos colocamos como sujeito da
investigação e ao colocar uma música no aparelho de som2 comentamos que adorávamos
aquela música, porém, não sabíamos se ela era nova ou velha. Graciosamente, um aluno nos
alertou: “- É fácil, Profª! É só olhar a data de validade!!!”
Percebemos naquele momento, que o consumo ou a cultura familiar é a verificação
das datas de validade dos produtos consumidos, mas ao mesmo tempo, ficava-nos
subentendido que não devemos consumir produtos de validade vencida. Seria então, uma
proposta indecente propor o consumo de músicas com “data de validade” vencida? Como
explicar aos alunos que a música não tem validade? Como explicar que esta escrita, este
registro, marca época, história, contextualiza um momento? Como explicar que existe
músicas que não morrem nunca (apesar de seus compositores já estarem mortos) e que outras
músicas já morreram independentes de seu compositor ainda estar vivo? Seria então, uma
proposta de valores? Como construir essa amplitude de repertório, sem intervir nos valores e
crenças familiares?
Com essas indagações iniciais, optamos partir do conhecimento prévio do aluno. Os
alunos foram trazendo para as aulas de música suas realidades musicais e seus valores
(situações conhecidas), assim foram afirmando a inexistência das tradicionais canções
infantis entre eles e, o domínio das mesmas por canções de sucesso, especialmente aquelas
veiculadas às novelas, programas de auditório, comerciais e outros. Fomos observando que
mesmo as crianças que fazem aula de música em escolas especializadas, estão convivendo e
sendo influenciadas pela mídia. Não queremos aqui, fazer críticas as mídias e muito menos
julgar as qualidades e gostos musicais, mas refletir em “como” agir e ampliar o repertório
musical sem vetar o interesse da criança.
Neste momento, a professora de artes desistiu do trabalho em parceria com a música!
Mesmo assim, as aulas de música permaneceram com a permissão da audição de diferentes
músicas trazidas pelas crianças, o que proporcionou a necessidade de reflexões e debates
sobre o gosto musical. Resumidamente, os debates se focaram em: O que faz você gostar
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Neste caso específico, a música escolhida foi um chorinho.
desta música? É a melodia? É o ritmo? Onde você costuma ouvi-la? Ela é muito presente na
mídia? Se sim, por que será? A letra da música possui uma boa mensagem?
Observamos que vivemos em uma sociedade permeada de virtudes, mas também de
vícios. Segundo Souza (2000), é preciso que o professor tenha como objetivo a produção de
uma consciência verdadeira, que se oriente pelos alunos e que decida sua metodologia em
cada lugar e em cada situação, procurando conscientizar-se sobre os diversos conteúdos e
conseguir relativizar seus ideais estéticos. Apoiados nesta concepção e na idéia de que
ensinar exige respeito aos saberes dos educandos, criticidade, percebemos que
Na verdade, a curiosidade ingênua que, ‘desarmada’, está associada ao saber
do senso comum, é a mesma curiosidade que, criticizando-se [...] se torna
curiosidade epistemológica. [...] Não haveria criatividade sem a curiosidade
que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo
que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. (FREIRE, 1996,
p.15, grifos do autor)
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Segundo Asensio (apud Hernández; Ventura, 1998, p. 53) entende-se por interdisciplinariedade a “tentativa
voluntária de integração de diferentes ciências com um objetivo de conhecimento comum”.
Nesta perspectiva, o especialista se tornou o responsável pelos conteúdos musicais,
entretanto, a parceria entre músico e pedagogo foi uma alternativa viável para que a música
pudesse ser vivenciada cotidianamente pelos alunos, transcendesse as aulas específicas e
possibilitasse liberdade, curiosidade, experiência e ampliação de repertórios, proporcionando
o mínimo necessário para o desenvolvimento de ouvintes-críticos.
Dentro dos limites, observamos que algumas pedagogas abraçaram o projeto com
amor e carinho, outras se sentiram “obrigadas” a negociar com ele, entretanto, todas
conseguiram vincular um projeto já existente com um fato histórico brasileiro escolhido
pelos seus alunos na aula de música. Para realizar estes links entre os projetos já existentes
foi preciso vários encontros.
As pedagogas trouxeram seus temas e suas propostas de “como” realizar as parcerias
e por outro lado, a professora de música precisou re-organizar e re-elaborar suas idéias
iniciais, contando com opiniões, reclamações e reflexões sobre as possibilidades ou não de
tais parcerias.
Para a professora de música, o desafio era realizar uma apresentação formal (chama-
se uma classe por vez), mas que os diferentes momentos representados pelas crianças
acontecessem sem interrupções. Assim, iniciamos as montagens de cenários plásticos,
narrativas de uma determinada época, imagens de arquivos captadas pelas crianças (uso de
projeções em telões) como suportes entre uma e outra apresentação musical. Desta forma,
provocamos a escola para que as diferentes linguagens e as novas tecnologias fossem
perdendo suas fronteiras.
Uma das classes da escola infantil, por exemplo, em parceria com a música conseguiu
possibilitar que os pais se tornassem “fontes de pesquisa”, onde inclusive, uma avó nos
ensinou a dançar o iê- iê- iê. Com ela, realizamos uma grande pesquisa oral e presencial.
Realizamos um “Baile Retrô”, onde todos vestidos à caráter, mostraram suas escolhas
musicais, alguns passos de danças, mas também aprenderam outros passos e outras músicas
com a avó. Assim, fomos re-criando cenários e uma história dentro da história da música
brasileira, ressignificando-a dentro do contexto escolar.
Nossas reflexões mostram que o trabalho colaborativo cria tensões, mas exige que a
equipe toda esteja crítica e reflexiva, que se permita dialogar, aprender a respeitar os limites,
a ser comprometida, a se inserir e a se deixar ser inserida. Em relação às aulas de música,
Figueiredo (2001, p. 36) afirma que
O trabalho conjunto entre generalista e especialista poderá ampliar as ações e
as competências musicais na escola, viabilizando uma educação musical
continuada, presente no currículo escolar de forma significativa na formação
da criança.
Assim, sugerimos que as pessoas envolvidas devem ser tratadas com respeito, com
amor, onde o mais importante não é a realização do projeto em si, o conteúdo, sua
apresentação, mas o processo, as ações que criam o movimento e as intervenções que
acontecem nas entrelinhas.
Este relato, provisoriamente nos mostra que os professores necessitam
permanentemente do desenvolvimento ser/sentir-se reflexivo, proporcionando cada vez mais
a construção coletiva de métodos de trabalhos.
Referências