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Rosa Lima

31 de Outubro de 2005

Modelos, teorias e tendências


na abordagem do
desenvolvimento fonológico: a
importância da sílaba na
avaliação
Resumo
Traça-se aqui um panorama das conceptualizações teóricas relativas
ao desenvolvimento fonológico. É feita uma leitura em função da
afirmação crescente dos aspectos suprassegmentais, nomeadamente
do papel da sílaba na aquisição. Finalmente, são apresentados
registos de avaliação com base nos processos fonológicos e tendo em
conta os formatos silábicos.

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O conhecimento sobre o desenvolvimento da fonologia tem sofrido


várias metamorfoses conceptuais. De uma posição na qual se
contemplava apenas a realização isolada do fonema, passou-se a
outra, na qual existem distintos níveis de representação, inter-ligados
por relações mútuas de dependência. Aqui, o papel da sílaba é
preponderante, porquanto se constitui como posição intermédia entre
o fonema e outros níveis de representação superiores, entre eles a
palavra.

A fonologia constitui o nível mais elementar de avaliação da estrutura


formal da linguagem. Na verdade, quando a criança não consegue
expressar-se de acordo com o modelo da sua língua, a primeira
observação, por parte de qualquer ouvinte, é a de que “não sabe falar
bem”. Esta apreciação pode referir-se a “ainda não consegue”, o que
equivale a dizer que ainda não superou as dificuldades inerentes à
sua idade cronológica. Por outro lado, outro colectivo de crianças
pode apresentar atraso no desenvolvimento da linguagem em geral e
da estrutura formal da mesma em particular. Em qualquer uma
destas circunstâncias, “não saber falar bem” corresponde a não
dominar os padrões fonológicos (materializadas na palavra), na base
dos quais se encontram as estruturas neuro-perceptivas e fono-
articulatórias que permitem uma realização modelar da linguagem
falada.

A avaliação dos produtos linguísticos da criança permite-nos situá-la


face ao eixo da normalidade vs. desvio/atraso. A avaliação dos
processos e das dimensões da linguagem a partir do domínio mais
elementar, que é a fonologia, é de grande importância.

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Este artigo propõe um modelo de avaliação da fonologia,


consubstanciado na apresentação de dois casos clínicos. Ele consiste
na aplicação dos princípios emergentes da avaliação centrada em
processos de avaliação e aquela que resulta da valorização das
unidades superiores ao fonema, isto é, concepção inerente à
fonologia não linear. A fim de compreender as linhas teóricas que
subjazem ao modelo proposto, sistematizam-se, numa visão
cronológica, os momentos que explicitam as distintas teóricas do
desenvolvimento fonológico, permitindo assim apreender o papel
crescente das unidades superiores ao elemento “fonema”.

A última parte deste trabalho centra-se na avaliação da fonologia a


partir de duas perspectivas: uma que contempla os processos de
compreensão e de expressão, bem como as dimensões fonológica,
morfossintáctica, semântica e pragmática; a outra centra-se apenas
na avaliação dos processos fonológicos encontrados num registo de
linguagem obtido a partir de um instrumento de nomeação .

1. DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO: MODELOS, TEORIAS E


TENDÊNCIAS

Em publicação recente, Ingram (1999) afirma que "os factos


desenvolvimentais acerca da aquisição da Fonologia foram
razoavelmente avaliados e descritos em várias publicações" (p.73).
Esta constatação coexiste, no entanto, com a de que " não foi ainda
estabelecida (...) a forma de interpretar estes factos" (idem).

A clareza dos factos é, por um lado, suficiente para a definição de


grandes subperíodos /estadios de desenvolvimento da Fonologia.
Mostra-se assim mais ou menos consensual a divisão entre um
desenvolvimento precoce (até cerca dos 4 anos) e tardio
(subsequente). Do ponto de vista estritamente motor, algumas
investigações reforçam, inclusivamente, este marco, enfatizando uma
tendência para a estabilização dos movimentos articulatórios por

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volta dos 4 anos (Goffman e Smith, 1999). Ingram (1976)


considerava, depois de um "período da primeira palavra" (até 1,6
anos) um desenvolvimento correspondente à "Fonologia do Morfema
Simples" (de 1, 6 até 4 anos), seguido de um período de
completamento do inventário fonémico (até 7 anos). No âmbito desta
periodização, Vihman (1996) reconhece, nos últimos anos, a
concessão de um privilégio notório o desenvolvimento cumprido no
1º ano de vida (transição para a linguagem).

A definição dos estadios em causa socorre-se, então, de factos do


surto vocabular (18m), da elaboração progressiva de um sistema
fonológico que atinge a inteligibilidade por volta dos 4 anos e que se
refina aproximadamente até aos 7.

Que dizer então acerca das formas de dar conta destes factos?
Explicar a aquisição da Fonologia é uma tarefa que (a) vigora há
várias décadas na comunidade científica, (b) está longe do consenso
paradigmático e cuja característica eventualmente mais saliente
passa pela (c) dependência relativamente a redes disciplinares de
origem diversa nas quais a Linguística exerceu, desde o seu
nascimento enquanto domínio científico, uma acção determinante.

As linhas gerais de orientação histórica no estudo do


desenvolvimento fonológico integram um sentido crescente de
transdisciplinaridade (Vihman, 1996). Este sentido começou por
desenhar-se na relação entre a Linguística e a Psicologia, sendo,
ainda hoje, evidentes as marcas da Teoria Linguística no quadro dos
modelos explicativos do Desenvolvimento Fonológico .

Esta transdisciplinaridade crescente desenvolve-se num quadro de


proliferação de modelos explicativos que, na perspectiva de
Serra et al (2000) revelam dificuldade no acordo quanto a questões
basilares como as relativas à identidade das possíveis unidades de

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percepção e processamento ou do trabalho mental necessário para a


ocorrência das transformações na criança. Os autores referem, neste
contexto, a crucialidade de questões específicas como a das
condições de aprendizagem que determinam e mudam as unidades
de representação e a da natureza do processamento próprio da
produção e compreensão da fonologia (nomeadamente o que a
distingue da percepção acústica). Salientam ainda o facto de as
crianças poderem utilizar diferentes estratégias de processamento
para palavras novas e conhecidas como factor de complexificação
deste domínio de estudo.

No parecer dos autores, são exigências das teorias explicativas do


desenvolvimento fonológico - e para além da necessidade de
oferecer um modelo evolutivo geral - a resposta às questões
levantadas pelas especificidades de cada língua (estruturais e
frequências de uso) e pelas diferenças individuais. Neste contexto, a
tendência a provar modelos "...mais que a formular uma teoria
propriamente dita..." (idem, p.215) surge como força dominante.

1.1. Teorias do desenvolvimento fonológico: uma sinopse

Dado o intuito de apreciação das tendências evolutivas neste


domínio, adoptamos aqui um referencial aproximado de ordenação
cronológica.

1.1.1. Comportamentalismo
A aplicação da perspectiva comportamentalista ao desenvolvimento
fonológico constituiu, em articulação com a linguística estruturalista,
um dos momentos de partida da História deste domínio.

Autores como Mowrer (1952) e Olmsted (1966) socorreram-se dos


postulados de base da “Teoria da Aprendizagem” (imitação e reforço
diferencial na discriminação das características próprias dos sons)
para sublinhar a importância, no desenvolvimento fonológico, de
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factores como a percepção ou o papel da frequência de input.


Serra et al (2000) especificam-nos como factores de facilidade
perceptiva categorial e de frequência na língua, associando-os à
proposta explicativa de que (1) os fonemas mais contrastantes são os
primeiros a aparecer (facilidade perceptiva categorial) e (2) em
segundo surgem os fonemas com mais frequência na língua. Nesta
perspectiva, previa-se que a sonoridade e a nasalidade fossem de
aprendizagem mais fácil que a fricação e o lugar de articulação,
admitindo-se, por inerência, um grau correlativamente inverso de
dificuldades produtivas (mais dificuldades no uso contrastivo do lugar
de articulação). Segundo Serra et al (2000), o autor terá ele próprio
reconhecido a falta de apoio empírico a estas previsões .

Numa visão geral, são, em suma, os conceitos de aprendizagem,


competências perceptivas e frequência de uso que dominam esta
leitura do desenvolvimento fonológico. O peso de factores
contingenciais na aquisição faz, assim, com que a noção
estruturalista de desenvolvimento universal (sobre a qual nos
debruçamos em seguida) encontre aqui uma das mais violentas
oposições.

1.1.2. Estruturalismo
Baseado nos trabalhos da Escola linguística de Praga, Jakobson
(1941/68) partiu do material descritivo então disponível nos relatos
diarísticos para construir uma “análise estrutural1” do
desenvolvimento fonológico, bem como as “leis gerais de
solidariedade irreversível” que governam, quer as línguas do
mundo, quer a aquisição da Fonologia na criança.

É, na sua obra, encontrado um paralelo entre o desenvolvimento


fonológico na criança e a dissolução fonológica no adulto (afasia),

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No domínio da Linguística consideram-se estruturalistas as descrições de uma língua assentes na ideia
de um sistema de relações. Segundo Trask (1996), “virtualmente todas as abordagens do séc. XX são,
neste sentido, estruturalistas na medida em que se opõem às anteriores abordagens atomísticas, por
sua vez conceptualizadoras da fonologia de uma língua como colecção de elementos” (p.340).
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processo cujas implicações cabem numa perspectiva evolutiva


relativa à formação das línguas (Blache, 1978). Na síntese de Blache
(idem), o que é universal na Linguagem infantil e nas línguas do
mundo é inerente apenas quando relações incompatíveis da mesma
ordem são demonstradas como existentes na afasia. O
desenvolvimento e a dissolução são, enfim, regulados pelas mesmas
leis.

Jakobson enfatizou o carácter universal e inato na ordem de


aquisição fonológica, concebendo um sistema que inclui a
progressiva diferenciação de uma sequência de contrastes afectando
classes de sons sucessivamente mais pequenas. Neste contexto, os
contrastes são pré-requisitos uns dos outros, referindo Jakobson uma
sequência de aquisição na qual uma distinção inicial de poucos traços
distintivos progride a par com a capacidade de contrastação e
correlativa ampliação do repertório (Bosch, 1984; Macken, 1995). A
ordem será a seguinte: 1-nasalidade; 2-labialidade; 3-continuidade; 4-
lugar de articulação (anterior-posterior); 5-sibilância.

Serra et al, (2000) enfatizam, na leitura da obra do autor, um sentido


de afinamento da capacidade contrastiva (dos contrastes máximos
aos mais débeis) passível de traduzir compromissos progressivos com
a dificuldade articulatória da língua .

Central no corpo explicativo de Jakobson foi ainda a cisão entre um


período pré-linguístico (destituído de padrão ou estrutura) e um
período línguístico (associado à universalidade das aquisições),
estabelecendo o autor uma correspondência entre esta oposição e a
dicotomia produção fonética (pré-linguística)/ fonológica (linguística).
Esta descontinuidade estaria também associada à ocorrência de uma
forma de reaprendizagem fonética em função da língua, coincidindo
esta com a emergência do período linguístico (Serra et al, 2000).

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Uma elaboração da proposta de Jakobson surge, nos anos 70, com


Moskowitz (1970, 1971, 1973, in Bosch, 1984; Acosta, León e
Ramos, 1998). De acordo com Bosch (1984), a abordagem de
Moskowitz é ainda uma leitura estruturalista que substitui a
perspectiva do contraste, considerando unidade mínima a sequência
composta de som mais significado. Acosta et al (1998) consideram
que "...ainda que os seus postulados continuem no fundo a ser
estruturalistas" (p.42), Moskowitz introduz na sua teoria elementos da
Fonologia generativa contemporânea. Estes passarão, segundo os
autores, pela consideração do desenvolvimento fonológico não só
como aquisição de unidades mas também de regras que as regem.
Acrescentam ainda a importância da perspectiva de hierarquia de
níveis linguísticos no percurso desenvolvimental, partindo a produção
de unidades mais amplas (frase e entoação) para chegar a unidades
menores (segmento). Ao longo deste percurso, a unidade silábica
assume uma importância capital, na medida em que "...de forma
notável lhe confere valor semântico." (idem).

Serra et al (2000) apontam a tese da descontinuidade como um dos


pontos do modelo mais susceptíveis à crítica. Acrescentam a esta
forma de questionamento o facto de a leitura de Jakobson não
permitir ter em conta os factos das diferenças individuais, da
selecção de estratégias individuais e da sensibilidade às
especificidades da língua tal como esta surge implicada nas
frequências de uso de um dado fonema em diversas línguas. Para
além disto, referem a possibilidade de confrontar a proposta do autor
com os dados que apoiam a noção de uma unidade de
processamento inicial não baseada em segmentos e traços, mas sim
na palavra.

1.1.3. Modelos Generativos Linguísticos

A fonologia generativa consiste, em sentido estrito, numa


abordagem baseada na formulação de formas subjacentes que são
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convertidas pela aplicação de uma (possivelmente longa) sequência


de regras fonológicas em formas fonéticas de superfície e que são
elas próprias formuladas como sequências lineares de segmentos
(Trask, 1996).

As formas subjacentes, também designadas de representações


subjacentes ou subjacencias, constituem uma representação
fonológica mais ou menos abstracta de um segmento, um morfema,
uma palavra ou uma frase que é suposta por um analista e a partir da
qual são derivadas as respectivas formas de superfície que incluem
as realizações de variantes. As formas subjacentes podem ser mais
ou menos abstractas, dependendo isto das preferências teóricas do
analista. O conceito e o termo foram introduzidos na linguística por
Bloomfield (1933, in Trask, 1996), tendo os estruturalistas americanos
rejeitado a ideia.

As regras fonológicas são, num sentido amplo, qualquer regra que,


numa análise, é assumida como envolvida na derivação de uma
pronúncia a partir de uma representação fonológica subjacente. São
incluídas aqui regras relativas à informação morfológica, lexical e
regras puramente fonéticas. Conforme as perspectivas, surgem
restrições à natureza das regras a considerar.

A fonologia generativa foi inaugurada na obra de Chomsky, Halle e


Lukoff (1959), e apresentada com algum detalhe na obra de Halle
(1959). A versão elaborada, modificada e apresentada na publicação
de Chomsky e Halle (1968) representou a forma canónica da
fonologia generativa clássica.

Em termos latos, a fonologia generativa representa um rótulo


aplicado a toda a Fonologia nos anos 60, incluindo não apenas o
trabalho atrás referido, mas também as várias aproximações
(principalmente não lineares) desenvolvidas nos anos 80. As

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abordagens modernas diferem das anteriores, mas unem-se no


reconhecimento de continuarem o programa de investigação
desenvolvido por Chomsky e Halle na obra “The Sound Pattern Of
English” (1968). A estas mais recentes abordagens nos referiremos
adiante.

Fonologia Generativa de Chomsky


Baseado na assunção de que a criança está inatamente dotada de um
“conhecimento tácito” dos princípios universais da estrutura
linguística, Chomsky criou um vínculo fundamental entre a aquisição
da Linguagem e os objectivos da teoria linguística. As linhas gerais da
sua teoria fonológica podem ser resumidas de acordo com os
seguintes princípios (Vihman, 1996): (1)As descrições fonológicas
podem ser formuladas em termos de afirmações e notações precisas
e explícitas; (2)os segmentos são analisáveis como um complexo de
traços; (3)Existem dois níveis de representação, correspondendo aos
níveis subjacente (abstracto) e fonético (de superfície); (4)as regras
fonológicas medeiam os dois níveis; (5) as regras fonológicas
interagem (Dinnsen, 1984, in Vihman, 1996).

Num enquadramento histórico relativo aos grandes paradigmas da


Linguística, Trask (1996) atribui à Fonologia Generativa Clássica a
responsabilidade pela inversão do primado da representação sobre a
regra tal como este subsistira no Estruturalismo Americano. Com
Chomsky e Halle, é, ao contrário, a regra que domina.

Depois de Chomsky: Stampe, Smith e a Fonologia natural


Formulada num território marcado por preocupações de natureza
linguística, a concepção Chomskiana deixa em aberto questões
relativas ao desenvolvimento. Dois referenciais vieram, segundo
Vihman (1996), dar resposta a duas dessas questões: a aquisição das
regras generativas e a natureza desse conhecimento inato.

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Esses referenciais foram o da Fonologia Natural de Stampe (1969;


1979) e o da Fonologia Generativa de Smith (1973).

Stampe (1969; 1979) concebe um sistema inato de regras


fonológicas automáticas - os processos de simplificação - aplicadas
às representações fonéticas. São definidos como operações mentais
"que vão convertendo uma oposição fonológica potencial no membro
da oposição que menos ponha à prova as restrições da capacidade
fonética humana" (Stampe, 1969, p.443). Tais processos não teriam
de ser aprendidos, já que consistiriam em respostas naturais
necessárias perante as limitações da percepção e produção humanas.
Os processos seriam universais e disponíveis de modo inato,
sendo a tarefa da criança a da redução progressiva da aplicação dos
processos não ocorrentes na sua língua através da ordenação,
limitação e supressão dos mesmos (aquisição da fonologia). Partindo
de um estadio de recurso massivo aos processos fonológicos naturais,
a criança rejeitá-los-ia progressivamente de forma a aceder às
oposições fonológicas contidas na fala adulta (das quais esses
processos não constam).

Neste contexto, Stampe recusa a ideia de que a criança possui um


“sistema próprio”, insistindo no facto de as suas representações
das palavras serem próximas das formas de superfície da fala
adulta (Vihman, 1996). Na formulação de Acosta et al (1998), as
representações fonéticas das produções das crianças são o resultado
da aplicação desse sistema inato a uma representação fonológica
abstracta hipotetizada.

A acção dos processos enquanto operações mentais faz, segundo


Serra et al (2000), com que as crianças restrinjam as oposições da
língua àquelas que existem no seu sistema natural das crianças, indo-
se suprimindo as que não se encontram no sistema linguístico
envolvente. Assim, existem oposições que são integradas se existem
na língua e outras que não integradas se não existem.
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Este dado levanta uma das críticas possíveis ao modelo: perante a


ideia de que as crianças possuem um sistema genérico com todos os
contrastes de início, como é que este sistema - mais rico - se vai
restringindo progressivamente? Nas palavras de Acosta et al (1998)
"...preocupa a afirmação de Stampe de que a representação
subjacente que a criança tem de uma palavra é igual à da forma
adulta falada. Se assim fosse, o sistema perceptivo da criança teria
que estar completamente desenvolvido no início da fala com
significado." (p.44)

Para além deste problema subsiste, segundo Serra et al (2000), a


questão de os processos poderem ser lidos ou como simplificações ou
- simplesmente - como limitações perceptivas. O valor do conceito de
processo não deixa, no entanto, de prevalecer como instrumento
explicativo de grande peso. Acosta et al (1998) acrescentam às
críticas formuláveis as da (1) possibilidade de definição operacional
dos processos enquanto "operações mentais", (2) a inexplicabilidade
das variações individuais mediante a universalidade de ordenação de
processos e (3) a ausência de explicação, no modelo, da forma
segundo a qual a criança extrai e armazena uma representação
fonológica.

Uma diferença fundamental entre as concepções estruturalista de


Jakobson e a Fonologia Natural reside na transição da noção de
sistema de oposições (encerrado nas Leis implicacionais) para a de
regra (processo). Actualiza-se aqui o espírito generativista e um
novo paradigma ocupa o território do desenvolvimento linguístico .

Stampe rejeitou a possibilidade de delimitar o âmbito dos processos


possíveis. Caberia, posteriormente, a Ingram (1976, 1979), Schriberg
e Kwiatkowski (1980) e Hodson (1980) a sua definição. Herdeiro, em
parte das concepções de Stampe, Ingram, em particular, lançar-lhes-á
um novo revestimento que passará pela contemplação da
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variabilidade produtiva nas crianças , incluindo um factor de


“preferências individuais” (Bosch, 1984).

O modelo inicial de Ingram (1976, 1979) enquadra-se num


desenvolvimento da fonologia natural de Stampe, segundo a qual a
criança cumpre o seu percurso de desenvolvimento tardio (1,6 a 4
anos) pela perda progressiva dos processos fonológicos.

Ingram (1976) descreve o desenvolvimento fonológico em paralelo


com os estadios de desenvolvimento cognitivo de Piaget. Recorre às
noções de assimilação e acomodação para descrever
respectivamente os processos de sucessiva criação e modificação de
estruturas ao longo do desenvolvimento. Dotada de um papel activo,
a criança organiza-se no interior do seu sistema, contando com a
colaboração não só desta dimensão (organização), como também da
produção e percepção. Para além do sistema da criança, participam
no percurso desenvolvimental os sistemas da palavra adulta e da
palavra infantil (o grupo de sons que, em dado momento, a criança
efectivamente produz).

Neste contexto de estruturação progressiva e gradual do seu sistema


fonológico, o conceito de preferências fonológicas vem marcar a
oposição ao universalismo de Stampe. A variabilidade individual
postulada é, no entanto, compatível com a formulação de uma
tipologia de processos de simplificação passível de abarcar a
caracterização da fala infantil.

Elemento simultaneamente metodológico (método de análise de


dados) e teórico-conceptual , esta noção entrelaça-se,
nomeadamente, com o pressuposto da palavra enquanto unidade
priviligiada na aquisição.

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Esta relação é visível na necessidade, enfatizada pelo próprio autor


(Ingram, 1979), de complementarizar uma análise baseada em
processos com uma consideração de aspectos de ordem dinâmica
(variabilidade fonética e influência lexical), processos não isomórficos
(ausência de correspondência um-a-um entre pronúncia infantil e
adulta) e preferências individuais (por uma classe de sons ou
estrutura silábica)

Para além desta variabilidade individual, a variabilidade


translinguística encerrada na noção de carga funcional é um factor a
ser contemplado, tornando-se fundamental atender à frequência dos
diversos fonemas na língua em aprendizagem.

A presença de regularidades quer nos erros (substituições de


segmentos) da pronúncia na criança, quer na aproximação das suas
produções às da forma adulta fundamentou a proposta teórica de
Smith (1973). A autora concebeu uma série de regras de
realização, formatando-as por recurso aos instrumentos da fonologia
generativa.

Para Smith, a Fonologia da criança consiste numa série de regras


(processos) psicologicamente válidas que operam em representações
lexicais subjacentes derivadas da forma de superfície do adulto. Estas
são assumidas como sendo percebidas e armazenadas de forma
correcta. É, assim, novamente rejeitada a ideia de um sistema
específico à criança.

As funções servidas pelas regras de realização exercem


constrangimentos de forma inata sobre o âmbito das soluções da
criança para os problemas fonológicos postos pela língua ambiente.
As regras de realização constituem filtros à competência da criança e
deverão ser eliminados à medida que ela se aproxima da língua
adulta. Entre as funções exercidas pelas regras estão a harmonia

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consonantal ou vocálica, a redução de grupos consonantais, a


redução de contrastes e a simplificação gramatical. Em conjunto, o
resultado destas funções define um formato universal “ ...do qual a
criança terá de escapar para adquirir a sua língua-ambiente.” (Smith,
1973, p.206).

1.1.4. Fonologia prosódica

A fonologia prosódica de Firth (1948), antecipadora dos modelos não


lineares actuais, deslocou o ênfase nos aspectos paradigmáticos da
Fonologia no sentido do domínio sintagmático. Os designados
componentes fonémicos longos (traço fonético estendido por mais
que um segmento dentro de uma unidade fonológica – forma mais
evidente de prosódia), bem como outras características fonéticas e
fonológicas) eram extraídos das representações e sobrepostos a um
esqueleto de unidades de especificação mínima – as unidades
fonemáticas. Resultaria desta abordagem a implementação do
conceito de prosódia enquanto elemento fonológico cuja descrição só
é possível por referência a um domínio de longitude maior que a de
um simples segmento, incluindo-se aqui, entre outros, os aspectos
suprassegmentais de acento e entoação (Trask, 1996).

Antes de gerar muitas das recentes grelhas de leitura não lineares –


nomeadamente a da Fonologia autossegmental - esta concepção foi,
no território do desenvolvimento fonológico, aproveitada pelo modelo
de Waterson (1971). Apostando num enfoque holístico (considerando
como unidade a palavra como um todo e não o segmento), Waterson
defende as ideias de uma especificidade inerente ao sistema da
criança, bem como a de que a percepção da criança começa por
ser esquemática e incompleta. A escolha de um padrão de
pronúncia por parte da criança residiria na saliência perceptiva das
emissões adultas.

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Numa perspectiva descritiva relativamente ao decurso de


desenvolvimento, surgem as ideias de que a criança começa por
desenvolver a produção e a percepção com base na melodia. Neste
momento, as unidades fonéticas são realizadas de forma não
analisada. Progressivamente vão atendendo a unidades como
acentuação, silabificação e, finalmente, a fonemas e traços.

Segundo Bosch (1984), é ainda elementos estruturantes da


abordagem prosódica o vector de rejeição da universalidade na
aquisição. Este passará, segundo Acosta et al (1998) pela admissão
de que - dada uma percepção inicial de palavras em função de
características gerais mais do que unidades fonemáticas - "...não
resulta inesperado que um fonema seja tratado diferencialmente em
distintas formas lexicais". (p. 47).

O ênfase na oração ou palavra trouxe, na perspectiva de Serra et al,


"...vantagens que a à Fonologia não linear posteriormente retomou"
(p.216). O fonema deixa assim de ser a unidade básica, tornando-se
"... contingente ao lugar que ocupa na palavra. A forma como é
percebido organiza a sua representação e produção " (idem, p.217).
Segundo os autores, estas premissas explicam a diversidade
individual e a variação entre contextos lexicais no percurso de
desenvolvimento, ao mesmo tempo que dão peso ao input e à
percepção das crianças. Desprezam, todavia, o que há de observável
como constante entre os sujeitos e necessariamente (resultante
possivelmente de estruturas fonológicas exteriores), minimizando
uma das dimensões fundamentais do desenvolvimento. Acosta et al
(1998) acrescentam a estas limitações a circunscrição dos dados
fundamentadores do modelo aos estadios iniciais de aquisição e a
ausência de previsões relativas aos tipos de erro que poderão ocorrer
no desenvolvimento.

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O ênfase em material linguístico específico, mais que na procura


abstracta de universais, fez deste modelo um contribuinte
significativo para alguns dos mais ecléticos modelos cognitivistas
(Vihman, 1996).

1.1.5. Os Cognitivistas de Stanford

Em ruptura com o trajecto disciplinar mantido até inícios da década


de 70, os cognitivistas impuseram uma perspectiva ateórica e não
dedutiva, rejeitando o empréstimo de uma base linguística para as
suas formulações. O modelo foi elaborado durante 10 anos por um
grupo de Investigadores da universidade de Stanford.

Com o cognitivismo, a questão da ordem de aquisição foi apagada (de


Olmsted, ao nível perceptivo, ou de Jakobson, ao nível da produção)
por uma preocupação com as competências cognitivas inerentes
à produção linguística da criança, agora evidentemente dotada de
um papel activo. Nesta qualidade, as crianças formulam hipóteses,
provam e corrigem sem que, obviamente, tenham disso consciência.

Menn e Stoel-Gammon (1995) resumem a essência desta concepção


à ideia de uma criança com meios limitados perante o sistema-
alvo, usando a palavra como primeira unidade e recorrendo a
estratégias de substituição, evitamento e exploração.

A primeira tentativa de articulação desta posição surgiu de Ferguson


e Farwell (1975), que partiram de um estudo longitudinal para
constatar (a) um alto nível de variabilidade na produção das
primeiras palavras, (b)uma “regressão” na pronúncia das primeiras
palavras, inicialmente mais bem pronunciadas do que
posteriormente, e (c) provas de uma selectividade das palavras
produzidas com base nos seus sons constituintes. Ferguson e
Farwell enfatizam as variações intra e interindividuais, tendo cada
criança a sua estratégia resultante num léxico precoce idiossincrático.
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O desenvolvimento desta posição incluiu a constatação de que a


criança, em todos os domínios linguísticos, cumpre uma marcha a
partir de uma aprendizagem pré-sistemática e no sentido da
descoberta e sobregeneralização de padrões (Vihman, 1996).
Acosta et al (1998) descrevem este percurso: "À medida que o seu
vocabulário receptivo e produtivo aumenta, (as crianças) começam a
notar similitudes entre segmentos ou sequências de segmentos e
formulam regras para relacionar palavras com formas similares e/ou
formas silábicas."(p.48) Segundo os autores, estas regras não são
apenas variáveis de criança para criança, como também são
mutáveis. quer isto dizer que, no percurso de aproximação à fala
adulta, elas podem modificar-se se existirem contradições internas.

Segundo Ferguson e Farwell (1975), o desenvolvimento fonológico


precoce é fortemente afectado pelas propriedades das palavras.
Os primeiros contrastes acontecem em palavras individuais, não se
generalizando muito cedo e permanecendo limitados a palavras
específicas (contrastes lexicais). O parâmetro lexical opera quando
um contraste se começa a generalizar, dispersando-se gradualmente
pelas palavras em vez de acontecer de forma súbita em todas as
palavras relevantes. Para os mesmos autores, as crianças têm
pronúncias alternativas para tipos lexicais. Algumas palavras são
mais variáveis que outras. As palavras com pronúncias mais estáveis
chamam-se formas estáveis. (Ingram, 1992).

No que diz respeito às formas progressivas, haverá, inicialmente,


restrições impostas pelo facto de o sistema fonológico ser limitado.
Uma das características que daqui resulta é o idioma fonológico -
primeiras pronúncias das crianças que são superiores a outras
pronúncias posteriores. Tudo acontece como se as primeiras
tentativas fossem reflexões directas das capacidades perceptivas e
articulatórias das crianças, sem que houvesse interferência do

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Rosa Lima
31 de Outubro de 2005

sistema fonológico. Uma vez integradas no sistema, a sua pronúncia


tornar-se-ia mais simples. A existência dos idiomas (fonológicos)
progressivos sugere que as capacidades perceptivas e produtivas da
criança são mais avançadas que o seu sistema fonológico.

A selectividade fonológica da criança, consubstanciada no recurso


a regras complexas não seria evidência de limitações articulatórias
inatas, exercendo antes uma função de processamento dirigido à
redução das formas a serem armazenadas e acedidas. De acordo com
estratégias de selecção e evitamento, as crianças tendem a produzir
palavras que contêm sons dentro do seu sistema, e a evitar as que
não contêm esses sons. Neste processo existem, segundo Serra et al
(2000), produções que não são fruto do sistema adulto nem são
simplificações.

Resulta assim deste conjunto de noções uma ideia global de


variabilidade na sequência de aquisição. Fala - se em
estratégias individuais , preferências e léxico idiossincrático.

Nas suas várias expressões, os modelos cognitivistas rejeitam o


conhecimento inato das categorias linguísticas, apostando
antes na existência de capacidades naturais para a percepção e
produção. Neste sentido, a universalidade existente só se deve às
bases auditivas e articulatórias de cada momento maturativo (Serra
et al, 2000). Relativamente às unidades de aquisição, no início a
unidade é a palavra e progressivamente os contrastes incorporam-se
na representação.

Referindo-se às críticas sobre este modelo incidentes, Serra et al


(2000) apontam o facto de, na qualidade de construtivista, apostar na
interacção sujeito/meio e não permitir, nesta medida, grandes
predições nem refutações da teoria.

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Rosa Lima
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1.1.6. Os modelos biológicos

De elaboração recente, os modelos biológicos enfatizaram a ideia de


origem da Fonologia no âmbito dos constrangimentos perceptivo-
motores, fazendo sugestões específicas acerca dos mecanismos que
facilitam a transição do balbucio para a fala. São nomes
proeminentes neste domínio os de Kent (1992), Locke (1986) e Locke
e Pearson (1992).

Locke (1983) formulou o designado modelo da continuidade, centrado


na acção de componentes fisiológicos, perceptivos e cognitivos na
transição do balbucio para a fala. Submeteu-o a elaborações
posteriores (1993), ampliando-o ao nível da consideração explícita de
aspectos sociobiológicos e neuronais.

Complementar a esta abordagem, a noção de auto-organização (Kent,


1984) ou sistema auto-organizado (Edelman, 1987; Thelen, 1985),
centralizou os precursores do controle motor na primeira infância. A
ideia de categorias fonéticas universais enquanto factores genéticos
(Jusczyck, 1992) foi aí também inserida.

Lindblom (1992) foca, por sua vez, os princípios linguísticos


estruturais bem como as considerações de percepção e produção
capazes de explicar as origens ontogenéticas dos sistemas
fonológicos.

1.1.7. Alternativas formais: da regra à representação

Entre as propostas mais recentes, alinham-se os modelos não


lineares, derivados dos modelos generativos dos anos 60, e os
modelos conexionistas, elaborados por psicólogos e cientistas não
especificamente interessados no desenvolvimento fonológico. Um
aspecto comum a ambos é o de terem permitido um deslocamento da
regra (processo) para a representação.
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Rosa Lima
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Fonologia Não Linear


As aplicações do modelo generativo aos fenómenos prosódicos –
entoação e acento – conduziu, no momento do declínio da Fonologia
Generativa Clássica, a dois modelos que viriam a representar papel
precursor na formação do conjunto vasto dos designados modelos
não lineares: O modelo autossegmental de Goldsmith (1979) e o
modelo métrico (Liberman e Prince, 1977) mostraram-se, então,
capazes de “...exprimir mais directamente as bases fonéticas das
regras de assimilação e de abranger efeitos fonológicos baseados na
sílaba e na palavra, conseguindo ainda incorporar fenómenos até
então extra-teóricos como a estrutura interna das sílabas" (Vihman,
1996, p.38).

A Fonologia não linear (da qual a Fonologia autossegmental é uma


representante eminente) tem-se vindo a impor essencialmente como
formalismo descritivo de grande utilidade. As propriedades mais
notórias desta formalização passam pela (a)especificação de
domínios de aplicação para os traços fonéticos que vão para além do
segmento (sílaba e palavra), bem como a (b)liberdade na ordenação
sequencial dos traços que resulta da sua localização em níveis de
organização diferentes (fiadas) (Menn, 1978, in Vihman, 1996). O
recurso explicativo de base assenta, assim, num pressuposto de que
existem níveis de representação, que estes correspondem às
designadas fiadas e que, entre elas, existem ramificações que as
relacionam. A fiada da palavra ramificar-se-ia nas dos pés, estes nas
das sílabas, estas, nas dos seus constituintes, estes nas dos
segmentos.

Bernhardt e Stoel-Gammon (1994) salientam a diversidade que as


grelhas não lineares exibem nas várias descrições de tipos e funções
entre o segmento e a frase. Acrescem que, no entanto, elas são
semelhantes na forma como assumem as unidades suprassegmentais
enquanto parte da estrutura prosódica. testemunho desta

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Rosa Lima
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variabilidade é a omissão ou introdução de fiadas nas diversas


representações apontadas na literatura. Assim, para o exemplo da
palavra porta - e mediante a adaptação do esquema de Vihman
(1996), a representação não inclui a fiada do pé e será feita da forma
sugerida na fig. 1.
INSERIR FIG. 1
Segundo Menn e Stoel-Gammon (1995), a teoria autosegmental
partilharia com a abordagem prosódica uma noção de “palavra
horizontal” que pode ser contraposta ao conceito implícito na
Fonologia segmental (generativa clássica) - o de palavra como
conjunto de traços verticais.

Para além de domínio formalizante e descritivo, a Fonologia não


linear ramificou-se em subdomínios com potencial explicativo:

• A teoria autossegmental de Goldsmith (1979),


desenvolvimento particular destes modelos não lineares, veio de
algum modo fornecer um revestimento explicativo para o
desenvolvimento fonológico. Segundo o autor, a fonologia precoce
envolveria representações autossegmentais de certos traços, i.e., a
localização de um traço numa fiada separada (por exemplo, apenas
para velares ou nasais). O curso posterior do desenvolvimento
envolveria a “desautosegmentalização”, ou a incorporação desses
traços (inicialmente representados a nível superior) no nível dos
segmentos.

• Explicações mais recentes (Velleman, 1992 in Vihman, 1996)


apelam a hipóteses como a de inexistência de níveis de
representação em estadios precoces ou até à falta de
determinadas ramificações, as quais justificariam a emissão de
palavras monossilábicas apenas (ramificação de palavra inexistente)
ou omissão de determinados segmentos (ramificação de sílaba
inexistente).

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Neste panorama, Bernhardt e Stoel-Gammon (1994) exploram os


contributos explicativos dos corpos teóricos da Fonologia Métrica,
Fonologia Lexical e da Teoria da Subespecificação para a
conceptualização do desenvolvimento. Esta última constitui uma das
vias explicativas na explicação da representação de traços durante o
desenvolvimento, concorrendo com a Teoria da especificação
contrastiva (Ingram, 1999).

Modelo conexionista
Em relação ao passado dos modelos de desenvolvimento fonológico,
o modelo conexionista recuperou alguns conceitos do
comportamentalismo, como a frequência do input e a
variabilidade do output, aspectos estes minimizados nos modelos
estruturalistas e universalistas dominantes até inícios dos anos 70.

Tendo como autores de referência McClelland e Rumelhart (1986, in


Plunkett, 1998), esta corrente integrou o grupo de alternativas ao
enfoque computacional no âmbito da Psicolinguística. A perspectiva
conexionista partilha com a concepção cognitivista ou mentalista o
respeito pela realidade das representações mentais. Contudo, uma
oposição fundamental as divide. Segundo Plunkett (1998) "...é uma
assunção fundamental dos modelos conexionistas de aprendizagem
da linguagem a de que ela é baseada em processos associativos
envolvendo conexões e pesos sinápticos modificáveis entre redes de
unidades simples de computação" (p.98). A génese da oposição ao
cognitivismo radicará, segundo o autor, no facto de esta última
abordagem admitir a existência de sistemas simbólicos de natureza
física nos quais as representações são manipuladas por um conjunto
de regras explícitas.

Para a explicação - pretendida funcional - da actividade cognitiva,


recorre-se a princípios como os da activação (excitação-inibição). Ao
pretender substituir-se a “metáfora do computador” pela “metáfora
do cérebro”, deu-se particular enfoque à noção de armazenamento
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31 de Outubro de 2005

da informação em redes (não se supondo, assim, localizada na


memória). Estas redes conteriam unidades subsimbólicas que
interagiriam entre si, de acordo com a interacção estabelecida pelo
organismo com o meio. Para além de acentuar esta dimensão
empiricista na teorização da aprendizagem (apelo às determinações
contingenciais do input), este enfoque viria a fazer apelo a
perspectivas biológicas.

Sternberger (1992) aponta como assunção central do conexionismo a


de que todos os fenómenos da aquisição de competências fonológicas
podem ser descritos como mudanças on-line, baseadas na forma
adulta tal como a criança a percebe. O autor salienta também a
existência de níveis de representação (pragmático, semântico,
sintáctico, programação motora) ao nível dos quais decorre não
apenas uma activação sequencial (de níveis superiores para
inferiores), como também um processo de feedback (sentido inverso).
Dentro deste marco, Storkel e Morissette (2002) exploram as
interacções entre Fonologia e léxico.

2. A SÍLABA COMO PRIMEIRA UNIDADE: ENFOQUES


PRODUTIVOS E PERCEPTIVOS

Moskowitz (1973), um dos primeiros investigadores a preocupar-se


com a dimensão da primeira unidade de produção, postulou a sílaba
como primeira unidade fonológica universal.

Ferguson e os seus colegas começaram por considerar existir, acima


de tudo, uma variabilidade-algumas crianças começariam com a
sílaba, e outras com a palavra como um todo. Desenvolvimentos
posteriores vieram a privilegiar a palavra como unidade de contraste
no sistema da criança.

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Rosa Lima
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MacNeilage e Davis (1990) defenderam a ideia de que o formato


silábico forneceria, no desenvolvimento precoce, o esquema motor
para o preenchimento do conteúdo silábico e segmental específico.

Com o regresso à representação, marcado pela Fonologia não linear,


diversas unidades assumem destaque nos planos múltiplos de
representação que são pressupostos. Entre estes, o domínio da sílaba
ocupa o seu lugar de eminência.

2.1. Investigação no âmbito da percepção e valorização dos


aspectos prosódicos

A relevância da percepção para a aquisição é um dado inquestionável


(Almeida e Chakmati, 1996).

A atribuição explícita de peso às unidades suprassegmentais é, no


entanto, uma tendência recente e que inclui no seu quadro geral uma
tendência para a afirmação da unidade silábica no percurso
desenvolvimental.

Revemos em seguida alguns dados da investigação recente passíveis


de elucidar sobre a afirmação crescente do papel da percepção de
dimensões prosódicas com especial ênfase na sílaba.

2.1.1. Percepção de propriedade prosódicas

Crianças bilingues de 4 meses distinguem línguas ritmicamente


similares, segundo Bosch e Sebastian (2001). O dado robustece a
hipótese de uma discriminação precoce de padrões prosódicos.
Ramus, Nespor e Mehler (1999) apoiam uma noção de classe rítmica
aplicada à caracterização das línguas, articulando-a com a afirmação
da capacidade precoce (neonatos) para a percepção do ritmo. Na
mesma linha, Nazzi, Bertoncini e Mehler (1998) sugerem que os
neonatos utilizam informação rítmica para categorizar afirmações em
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Rosa Lima
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classes largas de línguas (baseadas no acento vs baseadas na mora).


Esta afirmação é ainda explorada em Mehler, Christophe e Ramus
(2000).

De acordo com os dados de Snow (1998), a dimensão da entoação


parece ser de aquisição mais precoce que a da duração silábica.

Confrontando o peso das pistas fonotácticas com as prosódicas na


segmentação de palavras em crianças de 9 meses, Mattys, Jusczyk,
Luce e Morgan (1999) concluem pela supremacia das últimas.
Jusczyk, Goodman e Baumman (1999) encontram, em crianças de 9
meses, maior sensibilidade a constituintes intrassilábicos quando a
sílaba em causa está em início de palavra. Desafiando a concepção
de uma representação holística das palavras, Coady (2002) apoia a
hipótese de uma sensibilidade segmental legível mediante a
utilização de métodos de investigação adequados.

Também especificando dimensões da unidade segmental, Yavas e


Gogate (1999) apontam a propriedade perceptual da sonoridade
como responsável pela consciência fonológica em tarefas de
segmentação, sobrepondo-se este factor ao da posição.

A dispersão dos dados da investigação por domínios perceptuais de


amplitude diversa convive com uma clara afirmação do papel da
sílaba no processamento da linguagem.

2.1.2. Especial relevância da sílaba

Eimas (1999) reune, a partir de provas de categorização em crianças


de 3-4 meses, dados tendentes a reforçar a hipótese de que as
representações silábicas são inicialmente as mais robustas.

Bertoncini (1998) sugere que as crianças mostram uma sensibilidade


particular à composição silábica das afirmações e a padrões
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31 de Outubro de 2005

prosódicos associados. Esta sensibilidade permitir-lhes-á começar a


processar a fala com base no suporte inicial das propriedades
prosódicas associado aos constituintes pro-silábicos das afirmações.
Dado de grande relevância para a valorização da unidade silábica é
ainda o facto de apenas existir nas crianças uma capacidade de
diferenciação do número de componentes (padrões acentuais ou
contorno entoacional) quando estas propriedades são veiculadas
pelas sílabas.

Tabossi, Colina, Mazzetti e Zopello (2000) defendem a partir de dados


obtidos com falantes do espanhol e do Italiano que a unidade
sublexical usada por falantes de línguas românicas para a
segmentação da fala e acesso ao léxico é a sílaba .

A verificação do uso de propriedades estatísticas de sílabas para a


detecção de palavras num continuum sonoro em crianças que
aprendem a linguagem (Safran, Johnson, Richard e Newport, 1999)
reflecte simultaneamente o peso das influências ambientais e da
realidade da sílaba enquanto objecto perceptivo.

3. PROCESSOS DE SIMPLIFICAÇÃO FONOLÓGICA NA


AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM ORAL

As linhas de trabalho atrás apresentadas revelam, em suma, que as


unidades suprassegmentais – e, em especial, a sílaba – são
unidades de processamento no percurso de aquisição. É
necessário, portanto, assumir o papel da sílaba nos instrumentos de
avaliação da fonologia. O recurso a uma avaliação que maximiza o
papel da sílaba não invalida, porém, a utilização de grelhas de
processos de simplificação, que permitem obter uma visão detalhada
de todas as ocorrências na produção fonético-fonológica da criança.

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4. APRESENTAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS


Apresentamos dados de avaliação relativos a dois casos distintos. No
primeiro, expõem-se dados relativos à caracterização da linguagem
nas suas múltiplas dimensões. No segundo, considera-se apenas a
dimensão fonético-fonológica, sendo esta alvo de maior
aprofundamento.

4.1. Avaliação multidimensional: processos e dimensões da


linguagem

M., criança do sexo masculino, 5 anos e 7 meses de idade, apresenta


um atraso na área da Linguagem – vertente compreensiva e
expressiva. Integra-se numa família de nível sócio-económico médio e
ocupa a segunda posição na fratria. Frequenta o Jardim-de-infância
desde os três anos de idade.

No que concerne aos antecedentes pré e peri- natais não revelam


qualquer acontecimento digno de relevo. De salientar, todavia, a
ocorrência frequente de episódios de otites médias até aos 3 anos de
diade. Este factor é relevante, porquanto sabemos a sua interferência
com a recepção da informação, podendo estar relacionado com as
dificuldades reveladas no domínio da percepção auditiva,
designadamente no relativo às competências discriminativas.

Relativamente aos dados desenvolvimentais, tais como o controlo


esfincteriano e o início da marcha, estes ocorreram de acordo com os
parâmetros considerados normativos. No domínio da linguagem oral,
é de sublinhar que a articulação da primeira palavra foi emitida por
volta dos treze meses (do tipo CV CV), enquanto que a primeira frase,
para a realidade dos pais, teria acontecido após os três anos de
idade.

EXPLORAÇÃO

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MOTRICIDADE BUCOFONOARTICULATÓRIA

No âmbito da motricidade oral destacamos como aspectos


importantes, relativos à criança em estudo, a ausência de
reflexos orais e peri-orais, a presença de uma face simétrica, o
controlo de saliva (em repouso e actividade), bem como a
adequada mastigação e deglutição de líquidos e sólidos. Revela
boa mobilidade voluntária dos lábios, bem assim como adequada
implantação e oclusão dentárias. Utiliza uma respiração do tipo
clavicular e manifesta sensibilidade facial e intra-oral normais.
Evidencia uma língua de cor rosada, ausente de freio, micro ou
macroglossia e de protusão, com boa mobilidade voluntária de
lateralização, elevação e extensão. A estrutura palatal (palato
duro e mole) não exibe qualquer tipo de anomalia quanto à
coloração, simetria e mobilidade.

DIMENSÕES DA LINGUAGEM

FONOLOGIA

Esta dimensão, vinculada à organização e sequenciação dos


elementos sonoros da língua, envolve estruturas centrais de recepção
e processamento da informação acústico-verbal e requer
competências cognitivas básicas. Encontra-se intimamente associada
a processos de desenvolvimento global, iniciando-se como um
sistema de simplificação da fala adulta em que se denotam défices de
percepção do sistema de contrastes de sonoridade.

Neste sentido, e reportando-nos a aspectos muito globais da fala da


criança em causa, sublinhamos algumas características: a
inteligibilidade do seu discurso é normal/baixa. Os dados que
resultam da sua produção nem sempre são suficientemente
perceptíveis, dada a evidência dos défices fonético-fonológicos,

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Rosa Lima
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traduzidos em vários processos de simplificação. A administração e


análise de um Protocolo Fonético (Lima, 2003) e o registo de
Amostras de Fala Espontânea conduziram à detecção de défices
articulatórios, particularmente na realização dos fonemas /k/,
/g/, /Σ /, /z/, /{ /, / / e /r/ nos diferentes contextos fonológicos e
diferentes agregados silábicos da língua, dando origem a uma vasta
proliferação de processos fonológicos de simplificação de fala
patentes no seu discurso. Entre eles destacam-se: omissão das
oclusivas /k/ e /g/; omissão da líquida vibrante simples /r/ nos
formatos silábicos CV (consoante/vogal), Vr (vogal/consoante), CVr
consoante/vogal/consoante), CrV (consoante/consoante/vogal), CrVC
(consoante/consoante/vogal/consoante) em posição inicial, intermédia
e final da sílaba; omissão da líquida vibrante múltipla /{ /; omissão
das fricativas /z/ e /Σ / e omissão da oclusiva nasal / /. Comete,
igualmente, substituições múltiplas, entre as quais, substituições com
oclusivização, com anteriorização, com desvozeamento, substituição
de oclusiva nasal palatal // por oclusiva nasal alveolar /n/ e de
líquida vibrante simples alveolar /r/ em CV por líquida lateral /l/. As
suas produções linguísticas exibem, de igual modo, harmonias
(alveolar regressiva contígua; alveolar progressiva contígua e labial
regressiva contígua) e, ainda, semivocalização da líquida vibrante
simples alveolar /r/.

MORFOSSINTAXE

A presente dimensão incorpora a organização formal das palavras e


os aspectos estruturais de dada língua. A organização estrutural da
Linguagem inclui os conceitos de morfologia, respeitante ao estudo
da estrutura interna das palavras e da forma como referida estrutura
reflecte as relações entre si e de sintaxe, a qual se dedica ao estudo
das propriedades das combinações de palavras e das condições
acerca da correcta formação das mesmas.

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Rosa Lima
31 de Outubro de 2005

Procedendo à exploração destes aspectos no desempenho linguístico


de M., frisamos os seguintes dados: uso de um léxico marcadamente
reduzido e vinculado ao seu quotidiano; uso preponderante de
palavras de conteúdo, sobretudo substantivos próprios e comuns com
significação denotativa; menor frequência de uso de palavras de
função – emprega alguns pronomes pessoais, relativos e
demonstrativos; utiliza de modo deficitário determinantes artigos
definidos e indefinidos e determinantes possessivos; usa advérbios de
negação, de afirmação, de lugar, de quantidade e de modo; aplica
parcos adjectivos (qualidade, posse e número); utiliza exclusivamente
os verbos no tempo presente do modo indicativo e no pretérito
perfeito; constrói frases com longitude média do enunciado de
quatro/cinco elementos, respeitando a sequência S-V-CD-CI; faz uso
de orações ligadas por coordenação, por vezes destituídas de
conjunção – orações coordenadas assindéticas; as frases são
sobretudo de tipo declarativo na forma afirmativa e negativa e a
concordância em género e em número não está consolidada.

SEMÂNTICA

No que concerne a esta dimensão, relativa ao conteúdo da linguagem


e ao estudo do significado e combinação entre palavras, poder-se-ão
realçar aspectos globais, tais como défices nos domínios receptivo e
expressivo da linguagem. Apresenta dificuldades na compreensão de
pressupostos facilitadores da comunicação, tais como os indicadores
com quem, porquê, para quê, para onde, quantos e quando.
Executa/cumpre ordens ou instruções verbais simples, apesar de
necessitar, em determinadas circunstâncias, de um reforço em
termos de pistas verbais. As suas produções linguísticas denotam
pobreza em diversidade, sendo circunscritas a um léxico concreto e
limitadas a um conteúdo tendencialmente demarcado pelos temas do
seu quotidiano. O discurso pauta-se por um estilo marcadamente
referencial, na medida em que emprega maioritariamente palavras de
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Rosa Lima
31 de Outubro de 2005

conteúdo, denotando-se grandes limitações quanto ao emprego de


palavras de função. A variedade das relações semânticas é reduzida;
não se constata a ocorrência de infra ou sobreextensões, ecolálias,
neologismos ou circunlóquios, nem utilização de referentes
incorrectos. A aplicação da prova de Reynell, na dimensão relativa à
compreensão, revelou uma pontuação inferior à sua idade
cronológica.

No âmbito do desenvolvimento cognitivo, não dispomos de dados e


informações formais que nos permitam tecer considerações. Porém,
em actividades de cariz não formal de conhecimentos gerais
relacionados com as suas experiências, de conceitos quantitativos, de
interpretação de situações sociais, associação de ideias/relações
conceptuais e de competências perceptivo-motoras, as destrezas
manifestadas colocam em evidência a existência de um
comprometimento das áreas da linguagem e da cognição,
observando-se um nível de desempenho inferior ao esperado para a
sua idade cronológica.

Em forma de síntese, o desenvolvimento semântico desta criança


apresenta um comprometimento significativo, pois tanto a vertente
compreensiva como a vertente expressiva da linguagem se situam
aquém do esperado para a sua idade cronológica.

PRAGMÁTICA

A actual dimensão perspectiva a linguagem no seu funcionamento em


contextos sociais, situacionais e comunicacionais. O uso
funcional/conversacional da linguagem subordina-se ao contexto em
que esta ocorre, pelo que o perfil linguístico e as habilidades sociais
se encontram estreitamente vinculados. Neste âmbito, sublinhamos
as seguintes características da criança – alvo: demonstra habilidades
para a expressão de conteúdos de modo apropriado ao contexto, não
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Rosa Lima
31 de Outubro de 2005

obstante o seu frágil domínio de explanação verbal. Relativamente à


organização formal, segue os padrões de atenção conjunta, isto é,
respeita os turnos de conversação; comete algumas inexactidões na
manutenção do tópico, devido às suas dificuldades de compreensão;
evidencia algumas competências deícticas de pessoa, lugar e tempo;
sob o ponto de vista da interacção verbal, apresenta intencionalidade
comunicativa, com fala relativamente fluida e facilidade na iniciativa
para desencadear o diálogo com o interlocutor; demonstra algumas
dificuldades na elaboração de perguntas, pedidos de acção, de
atenção, de informação, de objecto e de confirmação; expressa
respostas imediatas, demasiado latentes ou, em determinados
momentos, ausentes; apresenta um discurso com coerência, reajuste
e flexibilidade às mudanças na interacção; no que concerne ao jogo
interactivo, procura envolver o interlocutor nas suas acções, não
evitando contacto ocular e corporal; organiza o jogo em função do
material e introduz a ficção (“faz de conta”) no seu desempenho
expressivo; no domínio da comunicação não verbal, comunica por
gestos, olhares e sorrisos, manifesta reacções afectivas
(aborrecimento, riso...) e compreende a linguagem não verbal do
interlocutor (gestos, olhares...); quanto às funções comunicativas,
utiliza no seu discurso fundamentalmente as de resposta,
instrumental, reguladora, interactiva, pessoal, criativa e
representativa; ao nível do discurso narrativo, constatam-se
limitações na sequência e coerência narrativas e no que respeita aos
traços de comportamento, apresenta dificuldades de
atenção/concentração em tarefas que compreendem maior índice de
estruturação.

PROCESSOS: Compreensão vs. expressão


Em forma de resumo, parece não haver predominância de um dos
processos relativamente ao outro. Assim, tanto a compreensão (cf.
semântica) como a expressão desta criança se apresentam
claramente deficitárias (cf. avaliação fonológica e sintáctica).
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Rosa Lima
31 de Outubro de 2005

4.2. Avaliação Fonológica

Esta Prova de Avaliação Fonético/Fonológica foi aplicada a uma


criança de 10 anos de idade, situando-se num nível académico
académico correspondente ao 2º ano do 1º ciclo do ensino básico.

Trata-se de uma criança de risco socio-educacional, retirada à família


desde os 8 anos de idade pela Protecção de menores e entregue à
guarda de uma Instituição. A primeira infância foi pautada pela
privação de cuidados básicos de saúde, alimentação e higiene. De
acordo com os dados da Instituição, esta criança foi vítima de maus
tratos por parte dos irmãos e o seu processo de socialização foi
efectuado, em larga escala, na rua.

M. apresenta problemas de instabilidade emocional, dificuldades de


atenção, de concentração e, por consequência, de aprendizagem. Na
escola beneficia de apoio psicológico e de apoio individualizado às
aprendizagens escolares.

Dado o perfil desta criança, as sessões levadas a cabo com vista à


avaliação, num total de três e com a duração de 30 minutos cada,
foram realizadas em ambiente calmo e em local familiar à criança.

Foi administrada uma prova de avaliação fonológica constituída por


62 itens, os quais referenciam todos os fonemas do Português
Europeu (Lima, 2003), enquadrados nos formatos silábicos possíveis.
Foram ainda nesta prova contempladas as distintas posições da
sílaba na palavra (início, meio e final), bem assim como o número de
sílabas (di-, tri- e polissílabo) e a frequência de uso dos estímulos
apresentados. Os resultados obtidos são traduzidos na tabela
seguinte.

34
Rosa Lima
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ESTÍMUL O QUE A TIPIFICAÇÃO DO ERRO SÍNTES


O CRIANÇA E
DIZ
Transcri Escrita
ção literal
fonética
Almofada [mufad Mufada Omissão de sílaba inicial em polissílabo Omi si
] p
o
li
Árvore [ab ] Abe Omissão líquida /r/ em VC inicial Distorçã
Substituição de V/V meio.
o
Omissão de líquida /r/ em CV final.

Banho

Barba [bag Baga Omissão de líquida /r/ em CVC inicial. Omi /r/
Substituição intraoclusivas com
C
anteriorização: /b/ por /g/ em CV final.
V
C

Sub b/g
Brincos [bĩķuΣ bincos Omissão de líquida /r/ em CCV inicial. Omi /r/
] C
C
V
Botões

Borboleta [ bubul Omissão de líquida vibrante /r/ em CVC Omi /r/


et] inicial.
C
V
C
8. [Σ t l Omissão de sílaba inicial em poli. Distorçã
Bicicleta εt ] Substituição Intrafricativa com troca de
o
lugar de articulação: /si/ por /Σ /
Substituição Intraoclusiva /k/ por /t/.
Epêntese Vogal neutra.
Casaco

Iogurte [ gut Omissão de semivogal /j/ em ditongo Distorçã


] crescente.
o
Substituição de vogal / / por / /
Omissão de líquida /r/ em CVC médio.
Chapéu

Cobra [k b ] Omissão de líquida vibrante /r/ em CCV Omi /r/


final. CCV

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Rosa Lima
31 de Outubro de 2005

(continuação)

ESTÍMULO O QUE A CRIANÇA TIPIFICAÇÃO DO ERRO SÍNTESE


DIZ
Transcriç Escrita
ão literal
fonética
Coelho

Caracol

Crocodilo [kukulilu] cuculilu Omissão de líquida /r/ Omi /r/ CCV


em CCV inicial.
Harmonia Har ant sub d/l
consonântica anterior.
Erva [εv ] eva Omissão de líquida /r/ Omi /r/ VC
em VC inicial.

Descalçar. [d Σ ka descauç Semivocalização de Semiv l/w


ω sar] ar líquida /l/ por /u/ em
CVC meio
Dragão [dω gã dagão Omissão de líquida /r/ Omi /r/ CCV
w] em CCV inicial.

Escada

Estrela [Σ tel ] estela Omissão de líquida /r/ Omi /r/ CCV


em CCV meio.

Escrever [Σ k ver esquever Omissão de líquida /r/ Omi /r/ CCV


] em CCV meio.

Faca

Fechada

Floresta [f lulεΣ felulesta Epêntese de vogal Ep vogal neutra


t ] neutra. Har post sub r/ l
Harmonia-
consonântica
posterior com
substituição do /r/
por /l/.
Flor [f lor] felor Epêntese de vogal Ep vogal neutra
neutra.

(continuação)

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Rosa Lima
31 de Outubro de 2005

ESTÍMULO O QUE A CRIANÇA TIPIFICAÇÃO DO Síntese


DIZ ERRO
Transcriç Escrita
ão literal
fonética
Fotografia [tug fi tugafia Omissão de sílaba Omi si poli
] em polissílabo. Omi /r/ CCV
Omissão de
líquida /r/ em CCV
meio
Fralda [fald ] falda Omissão de Omi /r/ CCVC
líquida /r/ em CCVC
inicial.
Frasco [faΣ ku] fasco Omissão de Omi /r/ CCVC
líquida /r/ em CCVC
inicial.
Fruta [fut ] futa Omissão de Omi /r/ CCV
líquida /r/ em CCV
inicial.
Garrafa [R Raf rarrafa Harmonia Har ant sub g/R
] consonântica na
1ªsílaba
Grande [ ) d ãnde Omissão do grupo Omi /gr/
consonântico inicial
[gr] em CCV~
Gelado [Ζ uladu] julado Substituição de V /V Sub vogal neutra
em CV inicial por /u/

Livro [libu] libo Omissão de Omi /r/ CCV


líquida /r/ em CCV
final.
Variante dialectal
Substituição
intraclasse :/b/
por /v/ em CCV final
Maçã

Mesa

Mãos

Magro [magu] mago Omissão de Omi /r/ CCV


líquida /r/ em CCV
final.

(continuação)
Tipificação do Erro
Estímulo O que a criança diz Síntese
Transcriç Escrita
ão literal
fonética
Nariz

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Rosa Lima
31 de Outubro de 2005

Panela

Pistola [f Σ t l pestola Substituição Sub p/f


] extraoclusiva /p/
Sub i por vogal
por /f/ em CVC
neutra
inicial.
Substituição de
V/Vneutra em CVC
inicial
Planta [p l) t pelanta Epêntese de vogal Ep vogal neutra
] neutra.

Pijama [piΖ am pijame Substituição de Sub /


 ] vogal final.

Prato [patu] pato Omissão de Omi /r/ CCV


líquida /r/ em CCV
inicial.
Peixe

Quadro [kwadu] quado Omissão de Omi /r/ CCV


líquida /r/ em CCV
final.
Quatro [kwatu] quato Omissão de Omi /r/ CCV
líquida /r/ em CCV
final.
Quadrado [kw dad quadado Omissão de Omi /r/ CCV
u] líquida /r/ em CCV
meio.
Relógio [R lΖ relójo Omissão de Omi semiv /j/
u] semivogal em CV
final
Sapato

Cigarro [siRaRu] cirraro Harmonia- Har ant sub g/R


consonantal por
anteriorização

Estímulo O que a criança Tipificação do Síntese


diz Erro
Transcriç Escrita
ão literal
fonética
Sopa

Senhora

Sol

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31 de Outubro de 2005

Telefone [t f n tefone Omissão de sílaba Omi si poli


 ] em polissílabo.

Telhado

Tartaruga [t t ru tataruga Omissão de Omi /r/ CVC


g ] líquida /r/ em CVC
inicial.
Três [teΣ ] tês Omissão de Omi /r/ CCVC
líquida /r/ em CCVC

Triciclo [t lisiklu telicico Omissão de Distorção


] líquida /r/ em CCV
inicial.
Substituição de
Vogal /Vogal
neutra.
Epêntese de sílaba
(li)
Vela [bєl ] bela Substituição de Variante dialectal
fricativa /v/ por
oclusiva /b/
Zebra [zeb ] zeba Omissão de Omi /r/ CCV
líquida /r/ em C-CV
final.
Dedo

Queijo

Síntese
A partir da tarefa de nomeação através de imagens de estímulo
verificamos que, ao nível fonético/fonológico, M. apresenta uma fala
nem sempre inteligível.

Produz erros de predomínio fonético e fonológico observando-se com


frequência os seguintes processos de simplificação:
1. Omissão da consoante líquida /r/ nos formatos:
• CVr inicial, CrV inicial nos grupos consonânticos (Br/ Dr/ Gr/ Kr/
Tr/ Pr/ e Fr),
• CrV meio nos grupos ( Dr/ Gr/ Kr/ e Fr),
• CrV final nos grupos (Br/ Dr/ Gr/ Tr/ e Vr), CrV~ inicial, CrVl
inicial e CrVs inicial e Vr inicial.

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À excepção do formato Vr inicial com uma percentagem de erro na


ordem dos 50 %, podemos considerar que neste formato o /r/ é
emergente, ou seja, em vias de estabilização; nos outros formatos a
percentagem de erro é na ordem dos 100% pelo que o fonema /r/ não
está adquirido.
2. Ocorrem ainda uma omissão do grupo consonântico Gr inicial
[ãde], uma omissão de semivogal em CV final [rϖ l] ∞ u], duas
omissões de sílaba inicial em polissílabo e uma de segunda sílaba em
polissílabo.

3. Faz uma substituição intraoclusiva /b/ por /g/ por anteriorização no


formato CV em sílaba final na ordem dos 100% de erro. Esta
percentagem deve-se a ter-se verificado o erro em apenas uma
palavra pelo que em termos de avaliação não nos permite, por
enquanto, concluir se se trata de fonema não adquirido ou
emergente. Substitui a consoante oclusiva /p/ pela fricativa /f/ no
formato CVs em sílaba inicial na ordem dos 100% de erro e pelas
razões apontadas anteriormente este valor não é conclusivo, pelo que
necessita de confirmação de erro em outras palavras com o mesmo
formato. Faz ainda uma substituição de vogal por vogal em CV inicial
[Ζ uladu] e uma de vogal final [piΖ ame].

4. Verificam-se ainda três harmonias consonantais por anteriorização,


como por exemplo: [kukulilu] e uma por posteriorização como por
exemplo: [f lulΕ Σ ta];

5. Existem três epênteses de vogal neutra.

6. Observam-se duas distorções em trissílabos e polissílabos,


respectivamente.

Face ao exposto nesta dimensão e atendendo à idade está aquém do


esperado para a sua idade cronológica.
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31 de Outubro de 2005

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Fiada da palavra Palavra (CVC.CV)


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Fiada da sílaba Forte Fraca

Fiada do Ataque-rima A R A R

N C
Fiada esqueletal C V C C V

Fiada segmental p o r t a

Fig. 1. Níveis de representação na Fonologia Não Linear (adapt. Vihman, 1996)

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