You are on page 1of 126

Faculdade de Engenharia FEUERJ

Departamento de Estruturas e Fundações


PGECIV

COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO

CONTEÚDO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 3

2. COMPRESSIBILIDADE.............................................................................................................................. 4

2.1.1. Tipo de Solo.................................................................................................................................. 6


2.1.2. Estrutura....................................................................................................................................... 6
2.1.3. Nível de Tensões ........................................................................................................................... 7
2.1.4. Grau de Saturação ....................................................................................................................... 8
2.2. HISTÓRIA DE TENSÕES ............................................................................................................................ 8

3. ADENSAMENTO - ANALOGIA HIDROMECÂNICA............................................................................ 9

3.1. TEMPO DE CONSOLIDAÇÃO ................................................................................................................... 11


3.2. MAGNITUDE DAS PORO-PRESSÕES........................................................................................................ 13
3.2.1. Solicitação Não Drenada × Solicitação Drenada ...................................................................... 13
3.2.2. Magnitude dos Acréscimos de Poro-Pressão ............................................................................. 17

4. RECALQUES .............................................................................................................................................. 20

4.1. RECALQUE INICIAL ............................................................................................................................... 22


4.2. RECALQUE PRIMÁRIO OU DE ADENSAMENTO ....................................................................................... 23
4.2.1. Recalque Primário para Carregamentos Finitos ....................................................................... 29
4.3. RECALQUE SECUNDÁRIO ...................................................................................................................... 31

5. TEORIA DE ADENSAMENTO OU CONSOLIDAÇÃO UNIDIMENSIONAL................................... 32

5.1. SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DE ADENSAMENTO ......................................................................................... 33


5.1.1. Porcentagem de Adensamento.................................................................................................... 35
5.1.1.1. Excesso Inicial de PoroPressão Variável com a Profundidade.................................................................41
5.1.2. Porcentagem Média de Adensamento: ....................................................................................... 45
5.2. CURVA RECALQUE X TEMPO ................................................................................................................ 48

6. ENSAIO DE ADENSAMENTO ................................................................................................................. 51

6.1. ENSAIO CONVENCIONAL OU ENSAIO OEDOMÉTRICO ............................................................................ 51


6.1.1. Procedimento de Ensaio............................................................................................................. 52
6.1.2. Parâmetros Obtidos.................................................................................................................... 52

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 1


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

6.1.2.1. Parâmetros Iniciais ...................................................................................................................................53


6.1.2.2. Índice de Vazios Final (ef) .......................................................................................................................53
6.1.2.3. Coeficientes de Compressibilidade ..........................................................................................................54
6.1.2.4. Tensão Efetiva de Pré-Adensamento (σ’vm )............................................................................................55
6.1.2.5. Coeficiente de Adensamento (cv) .............................................................................................................57
6.1.2.6. Exemplos de Resultados Experimentais...................................................................................................61
6.1.2.7. Coeficiente de Compressão Secundária (Cα) ...........................................................................................64
6.1.2.8. Coeficiente de Permeabilidade (k) ...........................................................................................................66
6.2. ENSAIO DE ADENSAMENTO COM VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO CONSTANTE (CRS)........................... 67
6.2.1. Procedimento de Ensaio............................................................................................................. 71
6.2.2. Resultados Experimentais........................................................................................................... 73
6.2.2.1. Influência da velocidade dos Ensaios CRS ..............................................................................................74

7. CASOS PARTICULARES ......................................................................................................................... 89

7.1. CARREGAMENTO NÃO INSTANTÂNEO.................................................................................................... 89


7.2. CAMADAS DE ESPESSURA ELEVADA ...................................................................................................... 91
7.3. ADENSAMENTO UNIDIMENSIONAL COM GRANDES DEFORMAÇÕES ...................................................... 94
7.4. O EFEITO DA SUBMERSÃO DE ATERROS ............................................................................................... 96

8. ACELERAÇÃO DE RECALQUES........................................................................................................... 97

8.1. DRENOS VERTICAIS .............................................................................................................................. 97


8.2. SOBRECARGA ...................................................................................................................................... 102

9. INTERPRETAÇÃO DE MEDIDAS DE RECALQUE.......................................................................... 103

9.1. MÉTODO DE ASAOKA, (1978) MODIFICADO POR MAGNAN E DEROY (1980) ....................................... 103
9.1.1.1. Resultado Experimental .........................................................................................................................106
9.2. MÉTODO DE ORLEACH ........................................................................................................................ 111

10. INFLUENCIA DA AMOSTRAGEM.................................................................................................. 113

10.1. PROCESSO DE AMOSTRAGEM .......................................................................................................... 113


10.2. PARÂMETROS DE COMPRESSIBILIDADE .......................................................................................... 116

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RECOMENDADAS............................................................. 122

12. APENDICE I - SOLUÇÃO ANALÍTICA DA EQUAÇÃO DE TERZAGHI ................................. 123

13. APÊNDICE III– INTERPRETAÇÃO DO ENSAIO CRS ................................................................ 124

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 2


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

1. INTRODUÇÃO

Grande parte das obras de engenharia civil (prédio, pontes, viadutos, barragens, estradas,
etc.) é assentada diretamente sobre o solo. A transferência dos esforços da estrutura para o solo
é feita através de fundações rasas (sapatas, radiers) ou profundas (estacas, tubulões). No projeto
geotécnico de fundações faz-se necessário avaliar se a resistência do solo é suficiente para
suportar os esforços induzidos pela estrutura e, principalmente, se as deformações (recalques)
estarão dentro dos limites admissíveis. Recalques diferenciais ou de magnitude elevada podem
causar trincas na estrutura ou inviabilizar sua utilização.
O Palácio de Belas Artes, na Cidade do México, é um caso clássico de recalque de
fundação. Após sua construção, ocorreu um recalque diferencial de 2m, entre a rua e a área
construída; o recalque geral desta região da cidade foi de 7m.. Um visitante, ao invés de subir
alguns degraus para entrar no prédio, como estabelecido no projeto original, ele hoje tem de
descer. A Figura 1.1 apresenta em esquema do que ocorreu com esta construção.

Figura 1 Palácio de las Bellas Artes, na cidade do México. Recalque diferencial de 2m


entre a estrutura e a rua1.

1
Lambe e Whitman, 1969

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 3


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

2. COMPRESSIBILIDADE

O solo é um sistema composto de grãos sólidos e vazios, os quais podem estar


preenchidos por água e/ou ar. Quando se executa uma obra de engenharia, impõe-se no solo
uma variação no estado de tensão que acarreta em deformações.
A natureza das deformações pode ser subdividida em 3 categorias: deformações elásticas,
plásticas ou viscosas. As deformações elásticas estão associadas a variações volumétricas
totalmente recuperadas após a remoção do carregamento. Estas deformações causam em geral
pequenas variações no índice de vazios. As deformações plásticas são aquelas que induzem a
variações volumétricas permanentes; isto é, após o descarregamento o solo não recupera seu
índice de vazios inicial. Já as deformações viscosas, também denominada fluência, são àquelas
associadas a variações volumétricas sob estado de tensões constante.
Essas deformações se devem a:
♦ deformação dos grãos individuais;
♦ compressão da água presente nos vazios (solo saturado);
♦ variação do volume de vazios, devido ao deslocamento relativo entre partículas.
Considerando as faixas de tensões aplicadas pelas obras civis é razoável desprezar as
parcelas relativas a compressão do grão individual e da água. Assim sendo, as deformações no
solo ocorrem basicamente pela variação de volume dos vazios. Somente para casos em que os
níveis de tensão são muito elevados, a deformação total do solo pode ser acrescida da variação
de volume dos grãos.
Define-se como Compressibilidade a relação entre a magnitude das deformações e a
variação no estado de tensões imposta. No caso de solos, estas deformações podem ser
estabelecidas através de variações volumétricas ou em termos de variações no índice de vazios.
Dependendo da forma adotada, a compressibilidade do solo fica então definida a partir de
diferentes parâmetros conhecidos como: módulo confinado (D) , coeficiente de variação
volumétrica (mv), coeficiente de compressibilidade (av) e índices de compressibilidade (Cc, Cr,
Cs). A Figura 2.1 mostra as diferentes formas de obtenção destes parâmetros.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 4


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

e av=-Δe/Δσ’v
σ’v e Ci=-Δe/Δlogσ’v
D=Δσ’v /Δε
mv=1/D
Cr
Δlogσ’v
Δe
Cc Δe
Δσ’v Δσ’v
Cs
Δε

ε=ΔH/Ho σ’v logσ’v

(a) (b) (c)

Figura 2 Parâmetros de Compressibilidade

Observa-se, ainda na Figura 2.1, que as curvas de compressibilidade não são lineares.
Desta forma a magnitude dos parâmetros de compressibilidade dependerá da faixa de tensões de
trabalho. Faz-se necessário, portanto na prática da engenharia, indicar os limites em termos de
tensão efetiva inicial e tensão efetiva final e, neste trecho, calcular a tangente à curva.
Uma vez determinado a compressibilidade do solo em função de qualquer um do
parâmetros, é possível obter qualquer outro a partir das correlações apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Parâmetros de Compressibilidade

Coeficiente de Variação Coeficiente de


Módulo Confinado Índice de Compressão
Volumétrica Compressibilidade

Δσv 1 1 + e0 (1 + e0 )σv medio


Módulo D= D= D= D=
Δε v mv av 0,435Cc
Confinado

1 Δε v av 0,435Cc
Coeficiente
mv = mv = mv = mv =
de Variação D Δσv 1 + e0 (1 + e0 )σ vmedio
Volumétrica
Coeficiente
1 + e0 Δe 0,435Cc
de
av = a v = (1 + e 0 ) m v av = − av =
Compressibi D Δσv σv medio
lidade
(1+ e0 )σvmedio (1 + e0 )σvmedio mv a vσvmedio Δe
Índice de
Cc = Cc = Cc = Cc = −
Compressão 0,435D 0,435 0,435 Δ log σ v

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 5


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Os fatores que determinam a compressibilidade dos solos são:


♦ tipo de solo
♦ estrutura
♦ nível de tensões
♦ grau de saturação

2.1.1. TIPO DE SOLO


A interação entre as partículas de solos argilosos (argilo-minerais) é feita através de
ligações elétricas e o contato feito através da camada de água absorvida (camada dupla). Já os
solos granulares transmitem os esforços diretamente entre partículas. Por esta razão, a
compressibilidade dos solos argilosos é superior a dos solos arenosos, pois a camada dupla
lubrifica o contato e portanto facilita o deslocamento relativo entre partículas. É comum referir-se
aos solos argilosos como solos compressíveis.

2.1.2. ESTRUTURA
A estrutura dos solos é um fator importante na definição da sua compressibilidade. Solos
granulares podem ser arranjados em estruturas fofas, densas e favo de abelha (solos finos),
conforme mostrado na Figura 3. Considerando que os grãos são admitidos como incompressíveis,
quanto maior o índice de vazios, maior será a compressibilidade do solo.

(a) fofa (b) densa (c) favo de mel

Figura 3. Estrutura dos Solos Granulares

Já os solos argilosos se apresentam segundo estruturas dispersas ou floculadas (Figura


4). Solos com estrutura floculada são mais compressíveis; com a compressão desses solos o
posicionamento das partículas tende a uma orientação paralela (estrutura dispersa).

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 6


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Argilo-mineral

Camada dupla

(a) dispersa (b) floculada

Figura 4. Estrutura dos Solos Argilosos

Devido a importância da estrutura na definição da compressibilidade dos solos, ensaios de


laboratório para determinação das características de compressibilidade devem ser sempre
executados em amostras indeformadas. No caso dos solos granulares, de difícil amostragem, os
ensaios devem ser realizados em amostras moldadas segundo o índice de vazios de campo.

2.1.3. NÍVEL DE TENSÕES


O nível de tensões a que o solo está sendo submetido interfere na sua compressibilidade
tanto no que diz respeito à movimentação relativa entre partículas, quanto na possibilidade de
acarretar em processos de quebra de grãos.
A Figura 5 ilustra a influência do nível de tensões. Nesta figura, quanto mais vertical é a
tangente à curva, maior é a compressibilidade do material. Quando, por exemplo, um solo
arenoso fofo é comprimido, as partículas vão se posicionando em arranjos cada vez mais
densos, diminuindo a compressibilidade do solo. A medida que o nível de tensões é
aumentado, elevam-se as tensões intergranulares acarretando em fraturamento e/ou
esmagamento das partículas. Com a quebra de grãos, a compressibilidade aumenta
sensivelmente.

Tensão

Arranjo Quebra de
Grãos
Denso

Deformação

Figura 5. Curva Tensão-Deformação – solo arenoso

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 7


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Na maioria das obras de engenharia os níveis de tensão não atingem os patamares


necessários para causar deformações ou quebra nos grãos.

2.1.4. GRAU DE SATURAÇÃO


No caso de solos saturados, a variação de volume ocorre por uma variação de volume de
água contida nos vazios (escape ou entrada). No caso de solos não saturados, o problema é mais
complexo uma vez que, ao contrário da água, a compressibilidade do ar é grande e pode
interferir na magnitude total das deformações.

2.2. HISTÓRIA DE TENSÕES

No caso da utilização da curva e x logσ’v (Figura 5c), observa-se, diferentemente dos


outros gráficos (Figura 5a e b), uma mudança brusca de inclinação da tangente à curva de
compressibilidade. Este fato se dá porque este tipo de gráfico permite observar claramente
quando o solo muda de comportamento. No trecho inicial, de menor compressibilidade, o solo
está, na realidade, sendo submetido a um processo de recompressão. No trecho seguinte, o solo
está sendo carregado, pela primeira vez, para valores de tensão efetiva maiores do que os
máximos que o depósito já foi submetido (Figura 6). Assim sendo, o limite entre os dois trechos é
definido por um valor de tensão efetiva correspondente à máxima tensão efetiva que o solo foi
submetido em toda sua história. A esta tensão efetiva dá-se o nome de tensão efetiva de pré-
adensamento (σ’m)
Tensão efetiva de
Trecho de pré-adensamento
e recompressão
(σ’vm)

Trecho de
compressão
virgem

Trecho de
descarregamento

logσ’v

Figura 6. História de Tensões

Na prática, a relação entre a tensão efetiva de pré-adensamento (σ’vm) e a tensão efetiva


vertical de campo (σ’vo ) pode se dar de duas maneiras:

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 8


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

i) σ’vm =σ’vo
Neste caso, o solo nunca foi submetido à uma tensão efetiva vertical maior a atual.
Para esta condição diz-se que o solo é normalmente adensado e sua Razão de Pré-
Adensamento (RPA) 2 ou OCR (“over consolidation ratio”), definida como sendo
σ′vm
RPA =
σ′vo
é igual à unidade. Durante a formação de um solo sedimentar, por exemplo, as tensões
vão crescendo continuamente com a deposição de novas camadas e conseqüente o aumento
da espessura do depósito. Para estes materiais, nenhum elemento foi submetido a tensões
efetivas maiores do que as atuais.
ii) σ’vm >σ’vo
Neste caso, conclui-se que, no passado, o depósito já foi submetido a um estado de
tensões superior ao atual. A Razão de Pré-Adensamento (RPA) será sempre maior do que 1
e a este material dá-se o nome de solo pré-adensado. Vários fatores podem causar pré-
adensamento. A variação no estado de tensões ocasionado pela remoção de sobrecarga
superficial, por exemplo, pode ser citada como uma das causas de pré-adensamento de um
depósito. Esta remoção pode estar associada a um processo de erosão, à ação do homem ou
mesmo o recuo das águas do mar. Outras causas de pré-adensamento podem estar
relacionadas a variações de poro-pressão (bombeamento, ressecamento superficial, etc)
ou mesmo mudança da estrutura do solo por ação do tempo (fluência).

3. ADENSAMENTO - ANALOGIA HIDROMECÂNICA

O solo é um material composto por grãos sólidos e vazios, os quais podem estar
preenchidos por água e/ou ar. Quando todos os vazios estão preenchidos por água o solo é dito
saturado.
Quando um solo saturado é submetido a um carregamento, parte da carga é transmitida
para o arcabouço sólido e parte é resistida pela água. A forma como esta divisão acontece na
prática pode ser visualizada a partir da analogia hidromecânica apresentada na figura abaixo. A
Figura 7(a) mostra um cilindro de solo saturado com uma pedra porosa no topo, que permite
passagem de água. Considerando o arcabouço sólido como uma mola e a existência de uma
válvula que regule a passagem de água é possível observar o comportamento das duas fases em

2
Na terminologia inglesa a RPA é denominado OCR (‘over consolidation ratio”)

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 9


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

separado. Quando uma carga é transmitida ao conjunto mola (solo) / água, as parcelas que serão
resistidas, respectivamente, pela água e pelo arcabouço sólido irão depender da velocidade com
que a água escapa. Imediatamente após a aplicação da carga (t = 0), toda a carga é suportada
pela água. A medida que ocorre o escape da água (t = 0+), as cargas vão sendo transferidas para
a mola, até que, ao final do processo (t = ∞), toda a carga passa a ser resistida pela mola,
chegando-se a uma condição de equilíbrio.
Nesta analogia, o deslocamento do pistão representa o recalque observado na superfície
do solo devido à aplicação de uma tensão vertical.
Define-se como Adensamento ou Consolidação o processo gradual de transferência de
tensões entre a água (poro-pressão) e o arcabouço sólido (tensão efetiva).
A Figura 8 apresenta esquematicamente o processo gradual de transferência de carga
entre a mola (sólidos) e a água. Ao observar este processo através do modelo hidromecânico,
verifica-se que a magnitude do deslocamento do pistão depende exclusivamente da
compressibilidade da mola e não do conjunto mola + água. Respeitando-se a analogia, conclui-se
portanto que a compressibilidade de um solo depende exclusivamente das Tensões
Efetivas e não das Tensões Totais (σ = σ ′ + u ).
Válvula
NA

Pedra Porosa Pistão

Mola
(Solo)
SOLO
Água

(a) (b)

Força Válvula Força Água Força


Fechada Escapando
NA
Válvula
Pistão Pistão Recalque
Aberta
Pistão

Água Mola
sob Comprimida
Pressão Água

(c) (d) (e)

Figura 3.1 -

Figura 7. Analogia Hidromecânica. (a) Modelo Real; (b) Modelo Físico; (c) Carga
Aplicada com a Válvula Fechada (t=0); (d) Após Abertura da Válvula (t=0+); (e) Situação
Final de Equilíbrio .

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 10


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Tensão
Aplicada
(F/A)

Mola
Água

tempo

Figura 8. Transferência Gradual de Carga

Examinando-se ainda o gráfico da Figura 3.2, surgem outras questões adicionais:

i) Em quanto tempo o equilíbrio é atingido? Em outras palavras, qual o tempo de


consolidação da fundação?
ii) Qual a magnitude do excesso inicial de poro-pressão?
iii) Como a transferência entre a poro-pressão e a tensão efetiva ocorre ao longo do
tempo?

3.1. TEMPO DE CONSOLIDAÇÃO


Para responder a primeira questão é preciso avaliar as variáveis envolvidas no processo
de transferência de carga. Quanto maior a velocidade de escape da água e menor o volume de
água, mais rápido o adensamento ocorrerá; isto é:
volume de água

velocidade de escape (3.1)
Considerando que o volume de água que é expulso é proporcional à carga aplicada (Δσ
= força/área), à espessura da camada (H) e compressibilidade da mola/solo (m) e que a
velocidade de escape3[2] depende da permeabilidade do solo (k) e do gradiente hidráulico
(≅Δσ/H), pode-se rescrever a equação 3.1 da seguinte forma:

( Δσ )( H )( m) ( H 2 )( m)
tα =
( k )( Δσ H ) (k )
(3.2)

3[2]
Segundo a Lei de Darcy, a velocidade de fluxo é definida como sendo v = k i , onde k é a permeabilidade e i o
gradiente hidráulico (diferença de carga total / distância percorrida)

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 11


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

De acordo com a equação 3.2 o tempo de consolidação independe do carregamento


aplicado e sua magnitude é proporcional à geometria e compressibilidade e inversamente
proporcional à permeabilidade do solo de fundação.
Ao contrário dos solos arenosos, solos com baixa permeabilidade e alta compressibilidade
(solos argilosos), podem levar dezenas de anos para atingirem à condição de equilíbrio. Esta
observação pode ser ilustrada pelos Exemplos 3.1 e 3.2.

Exemplo 3.1
Considerando que a compressibilidade de um solo arenoso é 1/5 da compressibilidade do solo
argiloso e o contraste de permeabilidade entre os dois materiais é de 10000 vezes, qual a relação entre os
tempos necessários para que o adensamento ocorra nesses materiais, admitindo que a espessura da
camada é a mesma?

Solução:

t areia mareia H 2 k areia m k


= 2
= areia arg ila
t arg la marg ila H k arg ila marg ila k areia
se
1
mareia = marg ila
5
então

tareia 1 t
kareia = 10.000karg ila ∴ = ∴ tareia = arg ila
targ la 5 × 10.000 50.000
Exemplo 3.2
Uma camada de argila de espessura H atingirá 90% de consolidação em 10 anos. Quanto tempo
necessário caso a espessura da camada fosse 4H?
Solução:

m( 4H ) 2 k
t4 H 16H 2
= =
tH m H2 k H2

se tH = 10 anos ∴ t4 H = 160 anos

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 12


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

3.2. MAGNITUDE DAS PORO-PRESSÕES


No caso do modelo hidromecânico, apresentado na figura 3.1, quando um acréscimo de
tensão vertical Δσv (= Fv/área do pistão) é aplicado, gera-se um incremento de poro-pressão Δu. A
distribuição de poro-pressão no interior do cilindro, inicialmente hidrostática, passa a não
estar mais em equilíbrio e um regime de fluxo se inicia. A água flui pela válvula até retornar
à condição de equilíbrio. Neste instante, todo acréscimo de tensão, resistido inicialmente
pela água, foi totalmente transferido para o arcabouço sólido.
Este processo de fluxo é denominado Transiente, já que a vazão varia ao longo do
tempo; as vazões são inicialmente altas no início do processo e nulas ao final.
Sendo assim, a magnitude das poro-pressões (u), também variável ao longo do
tempo, é determinada pela soma de uma parcela correspondente ao seu valor inicial (u0) e uma
parcela variável, gerada pela carga aplicada (Δu); isto é:
u = u 0 + Δu( t ) (3.3)

No modelo hidromecânico da Figura 3.1, a poro-pressão inicial é hidrostática (u0= zp×γω ),


onde zp é a profundidade do ponto considerado e γω ao peso específico da água. Já o acréscimo
de poro-pressão (vide Figura 3.2), este é inicialmente igual à tensão vertical aplicada (Δσv =Fv/A),
tendendo a zero, quando a condição de equilíbrio é novamente atingida. Em outras palavras:

Para t = 0 ⇒ Δu = Δσv
u = u0 + Δσv

Para t = t1 ⇒ 0 < Δu < Δσv


u = u0 + Δu(t1)

Para t = ∞ ⇒ Δu = 0
u = u0

3.2.1. SOLICITAÇÃO NÃO DRENADA × SOLICITAÇÃO DRENADA


Em muitos problemas práticos, é possível separar os efeitos de um carregamento no solo
em 2 fases:
1) não drenada → àquela que ocorre imediatamente após o carregamento, quando
nenhum excesso de poro-pressão foi dissipado; ou melhor, quando nenhuma variação de volume
ocorreu na massa de solo. Esta fase representa, no modelo da Figura 7, a hipótese da válvula de
escape de água estar fechada.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 13


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

2) drenada → àquela que ocorre durante a dissipação dos excessos de poro-pressão ou,
melhor, durante o processo de transferência de carga entre a água e o arcabouço sólido. Nesta
fase ocorrem as variações de volume e ,consequentemente, os recalques no solo.
A Figura 9 exemplifica como o solo responde a essas fases. Considere que uma camada
de solo é solicitada por um acréscimo de carga (Δσ), aplicado instantaneamente em toda a
extensão da camada. Um elemento A, localizado no interior da massa, sofre um acréscimo de
tensão vertical Δσv, que gera imediatamente um acréscimo de poro-pressão Δu. Como a variação
de poro-pressão é idêntica ao acréscimo de tensão vertical (Δσv), não ocorre, neste instante,
nenhuma variação no valor da tensão efetiva vertical . Somente quando a água inicia seu
processo de drenagem, ocorre a transferência entre os esforços resistidos pela água para o
arcabouço sólido, aumentando o valor da tensão efetiva.
Uma vez que o comportamento do solo é determinado pelo valor da tensão efetiva,
subdividir a resposta do solo nessas 2 etapas (não drenada × drenada) é bastante útil para
a elaboração de projetos geotécnicos. No caso do exemplo da Figura 9 menores valores de
tensão efetiva ocorrem ao final da construção enquanto que, para situações a longo prazo,
observa-se um ganho de tensão efetiva.

σvf
Δσv
σvo
to to+
Tempo
Δσv (b.1)
u+Δu
Δu=Δσv
u0
Solo
A Saturado (b.2) Tempo
σ′vf

(a)
σ′vo

Fase Drenada Tempo

Fase Não Drenada


(b.3)
Figura 9. (a) Modelo Analisado : Carregamento Uniformemente Distribuído. (b)
Tensões no Elemento A - (b.1) Variação da Tensão Vertical Total ; (b.2) Variação da Poro-
Pressão - (b.3) Variação da Tensão Efetiva

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 14


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Quando se estuda a estabilidade de uma obra, deve-se avaliar a capacidade do solo


de resistir à determinada variação em seu estado de tensões. O projeto deve então ser
elaborado considerando-se a situação mais desfavorável, a partir da comparação entre a
resistência do solo com as tensões atuantes na massa. No caso de solos, a resistência não é
uma grandeza fixa; isto é, a resistência é diretamente proporcional ao valor da tensão efetiva
(Figura 10). Quanto maior for o valor da tensão efetiva maiores serão as tensões que o solo é
capaz de suportar.

Resistência

Tensão Efetiva (σ’)

Figura 10. Envoltória de Resistência

Assim sendo, deve-se sempre estudar o problema para situações em que os níveis de
tensão efetiva são os mais baixos. Nestes casos é comum utilizar a nomenclatura final da
construção × a longo prazo para definição do tipo de análise mais adequado. Nesta terminologia
estão embutidos os conceitos:

Resposta do Solo
Tipo de Análise Fase Crítica Variação de volume Transferência
por escape de água Δu→Δσ
Final de construção ⇔ não drenada ⇔ não ⇔ não
Longo prazo ⇔ drenada ⇔ sim ⇔ sim

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 15


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

É importante ressaltar que nem sempre a situação final de construção (quando as


tensões totais foram modificadas pelo carregamento e nenhuma transferência de esforços ocorreu
entre as poro-pressões e as tensões efetivas) representa a condição mais desfavorável. Para
situações de descarregamento, por exemplo, a variação de poro-pressão inicial é negativa. Neste
caso a situação mais desfavorável é a longo prazo, quando menores valores de tensão efetiva e,
portanto de resistência, ocorrem no solo, conforme mostrado na Figura 11.

σvo

σvf
to to+
Tempo
uo

uo-Δu

Tempo
σ′v
σ′vmax

σ′vmin

Tempo
Longo Prazo

Fase de
Construção

Figura 11. Esquema de Variação das Tensões Totais, Poro-pressões e Tensões Efetivas
para uma Situação de Descarregamento Uniforme

Um outro aspecto importante a ser ressaltado é que nem só a permeabilidade do solo


(kalta - areia ; kbaixa - argila) determina quando a análise drenada ou não drenada representa a
condição mais desfavorável. O tempo de carregamento; isto é, o tempo de construção,
também deve ser observado. Solos arenosos, quando solicitados pela ações dinâmicas (“tempo
de carregamento” infinitamente pequeno), terremotos por exemplo, geram poro-pressões
instantaneamente. Nestes casos, deve-se estudar a situação mais desfavorável (final de
construção - não drenado ou a longo prazo-drenado). No caso de solos argilosos os tempos
usuais utilizados para execução de obras são, em geral, suficientemente pequenos (comparados
com a permeabilidade desses materiais), sendo sempre necessário avaliar a resposta mais crítica
do solo.
Em resumo, a definição da condição mais desfavorável depende do contraste entre a
permeabilidade do solo e o tempo de carregamento:

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 16


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Permeabilidade Tempo de Tipo de Análise


do Solo Carregamento
baixa ⇔ usual ⇔ Avaliar condição mais desfavorável
infinitamente alto ⇔ Drenada
alta ⇔ usual ⇔ Drenada
infinitamente pequeno ⇔ Avaliar condição mais desfavorável

3.2.2. MAGNITUDE DOS ACRÉSCIMOS DE PORO-PRESSÃO


O acréscimo de poro-pressão para um carregamento infinito, uniformemente distribuído na
superfície de uma camada de solo saturado (Figura 12), é igual ao acréscimo de tensão vertical
aplicado pelo carregamento. Neste caso as deformações ocorrem exclusivamente na direção
vertical, após a expulsão da água presente nos vazios. Este modelo representa uma condição de
adensamento unidimensional (fluxo e deformações verticais).

Δσv
Δvert.≠0 → εv≠0

Δhor.=0 → εh=0

Figura 12.- Adensamento / Recalque Unidimensional

Para situações em que as deformações horizontais não são nulas (Figura 13) a
magnitude dos acréscimo de poro-pressão pode ser calculada pela expressão sugerida por
Skempton, em que:
Δu = B[Δσ3 + A (Δσ1 − Δσ3 )] (3.4)

onde A e B são denominados parâmetros de poro-pressão e Δσ1 e Δσ3 os acréscimos de


tensão total nas direções principais maior e menor, respectivamente. Os parâmetros de poro-
pressão podem ser calculados através de ensaios de laboratório, sendo que o parâmetro B varia
de 0 a 1 em função do grau de saturação (S=0 → B=0 e S=100% → B=1)

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 17


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Solo Solo

(a) Sapata (b) Aterro

Figura 13. Exemplo de Casos que o Solo Apresenta Deformações Verticais e Horizontais

No caso de problemas de carregamento vertical em solo saturado, em que as deformações


horizontais são nulas a expressão de Skempton reduz-se a:
Δ u = Δ σ 3 = Δσ 1 (3.5)
conforme demonstrado abaixo.

CÁLCULO DA VARIAÇÃO DE PORO-PRESSÃO PARA A CONDIÇÃO DE ADENSAMENTO


UNIDIMENSIONAL
Pela TE as deformações (ε) na direções x, y e z são definidas pelas expressões abaixo, onde E
é o Módulo de Elasticidade e ν o Coeficiente de Poisson,

εx =
1
E
[
Δσ x − ν( Δσ y + Δσ z ) ]
1
[
ε y = Δσ y − ν( Δσ x + Δσ z )
E
]
1
[
ε z = Δσ z − ν( Δσ x + Δσ y )
E
]
sendo a deformação volumétrica a soma das deformações nas três direções:
ΔV
. ε vol = = εx + εy + εz
V
isto é,

ε vol =
1
E
[
( Δσ x + Δσ y + Δσ z ) − 2ν( Δσ x + Δσ y + Δσ z ) ]
(1 − 2ν )
ε vol =
E
[Δσ x + Δσ y + Δσ z ]
No caso do processo de adensamento unidimensional, as deformações no plano horizontal
(direções x e y) são iguais e nulas. Considerando a igualdade das deformações, verifica-se que os
acréscimos de tensão nas direções x e y são idênticos:

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 18


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

εx = εy ∴
1
E
[ 1
] [
Δσ x − ν( Δσ y + Δσ z ) = Δσ y − ν( Δσ x + Δσ z )
E
]
⇒ Δσ x − νΔσ y = Δσ y − νΔσ x
⇒ (1 + ν )Δσ x = (1 + ν )Δσ y ∴ Δσ x = Δσ y = Δσ

e, como as deformações são nulas, determina-se a relação entre o acréscimo de tensão


vertical (Δσz) e os demais (Δσx e Δσy ):
εx = εy = 0

⇒ εx =
1
E
[ ]
Δσ x − ν (Δσ y + Δσ z ) = 0 ∴ Δσ − ν (Δσ + Δσ z ) = 0

1
[ ]
⇒ ε y = Δσ y − ν (Δσ x + Δσ z ) = 0 ∴ Δσ − ν (Δσ + Δσ z ) = 0
E
(1 − ν )
⇒ Δσ z = Δσ
ν
O acréscimo de poro-pressão imediatamente após a aplicação do carregamento, ocorre na
fase não-drenada, quando não houve nenhuma variação de volume do solo. Neste caso, o
Coeficiente de Poison é 0,5, conforme demonstrado abaixo:
ε vol = 0

⇒ ε vol =
1
[(2Δσ + Δσ z ) − 2ν(2Δσ + Δσ z )] = 0
E =
(1 − ν ) (1 − ν )
⇒ [2 + ]Δσ = 2ν[2 + ]Δσ
ν ν
⇒ 1 = 2ν ∴ ν = 0,5
Sendo assim, verifica-se que para a condição de adensamento unidimensional os acréscimos
de tensão total são iguais em todas as direções ( Δσ x = Δσ y = Δσ z = Δσ ) e iguais à carga

aplicada.
A magnitude da variação de poro-pressão, segundo a equação de Skempton, fica então
reduzida a:
Δu = B[Δσ 3 + A (Δσ1 − Δσ 3 )]∴ Δu = B( Δσ)

Como no caso de solos saturados B=1, tem-se que a variação da poro-pressão devido a um
carregamento infinito, uniformemente distribuído na superfície de um solo saturado (Δσ), é, no
instante inicial, idêntico à magnitude da carga aplicada.
Δu = Δσ

AULA DE COMPORTAMENTO DRENADO X NÃO DRENADO (FUNDAMENTOS 2007.1)

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 19


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

4. RECALQUES

Na prática, os recalques (ρ) observados no campo podem ser subdivididos em três


fases:inicial, primário e secundário, conforme mostrado na Figura 14.

tempo

Inicial ou Não-drenado

Primário ou de Adensamento

Secundário

Figura 14. Evolução dos Recalques

O recalque primário ou recalque de adensamento ocorre durante o processo de


transferência de esforços entre a água e o arcabouço sólido, associado à expulsão da água dos
vazios. Nesta fase, as variações de tensão total, aplicadas pelo carregamento e absorvidas pela
água, vão sendo transmitidas para o arcabouço sólido, causando uma variação no valor inicial de
tensões efetivas (vide Figura 8).
Os recalques iniciais ou não-drenados ocorrem imediatamente após a aplicação de
carga e são denominados não-drenados pelo fato das deformações ocorrem sem a expulsão de
água; isto é, sem drenagem. Quando observa-se o modelo hidro-mecânico, apresentado na
Figura 7, verifica-se que as deformações na mola (recalques) só ocorrem quando a água é
expulsa do modelo. Este comportamento só é possível porque as deformações horizontais são
nulas.
Quando a largura do carregamento em relação à espessura da camada não é grande
(carregamentos finitos, vide Figura 13), os recalques ocorrem tanto por deslocamentos horizontais
do solo da fundação (recalques iniciais) quanto por expulsão de água (recalques por
adensamento). Este comportamento é facilmente visualizado pela Figura 15.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 20


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Em geral, esses dois tipos ocorrem simultaneamente, preponderando em determinadas


condições um ou outro.

For

For

Recalque For

Água
Inicial Escapando
NA
Válvula Recalque
Pistão Pistão
Aberta Adensamento
Pistão

(a) (b) ( c)

Figura 15. Analogia Hidromecânica para a Condição de Deformação Lateral. (a)


Recalque Imediato ou Não Drenado ; (b) Início Recalque de Adensamento; (c) Após
Dissipação dos Excessos de Poro-Pressão

Ressalta-se, portanto, que, tanto para o recalque imediato ou não drenado quanto para
o recalque primário ou de adensamento, estes ocorrem devido a variações nas tensões
efetivas, fisicamente observada através da deformação da mola. No primeiro caso, a tensão
efetiva varia em função da existência de deformações laterais; já no segundo caso, os excessos
de poro-pressão são transferidos para tensão efetiva durante o processo de escape de água.
O recalque secundário ou consolidação secundária, também chamado de fluência,
representado na Figura 14 como as deformações observadas no solo após o final do processo de
adensamento, ocorre após as tensões efetivas terem se estabilizado. Isto é, ao contrário dos
recalques imediato e de adensamento, a consolidação secundária ocorre mesmo com
tensões efetivas constantes, pelo fato da relação entre o índice de vazios e tensão efetiva ser uma
função do tempo.
Segundo Ladd, as deformações durante a compressão secundária ocorrem pelo fato das
partículas de solo, ao final do adensamento primário, estarem posicionadas em um equilíbrio
instável. Assim sendo, estas continuam a se movimentar se restabelecer uma estrutura estável.
Num tempo infinito, a compressão secundária tende a zero.
Na maioria dos solos, a compressão secundária tem menor importância porque a sua
magnitude é inferior à dos outros tipos de recalque, sendo por esta razão desconsiderada na
maioria das análises. Em argilas muito plásticas e solos orgânicos o recalque secundário é
significativo e deve ser incorporado no projeto.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 21


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

4.1. RECALQUE INICIAL


O recalque inicial ocorre em situações de carregamento finito. Nestes casos, após a
aplicação da carga, o solo sofre tanto deformações verticais quanto horizontais. A existência de
deformações horizontais faz com que a variação no estado de tensões, gerada pelo
carregamento, seja transmitida em parte ao arcabouço sólido e em parte à água. Assim sendo, os
excessos iniciais de poro-pressão gerados pelo carregamento não se igualam à variação de
tensão vertical e uma variação da tensão efetiva ocorre imediatamente. Face a esta variação no
estado de tensões efetivas, o solo varia de volume resultando em recalques denominados
imediatos ou não drenados.
Os recalques imediatos ou não drenados podem ser calculados executando-se o somatório
das deformações verticais causadas pelas variações de tensão {Δσ} geradas pelo carregamento.
No caso de um corpo elástico, com um carregamento aplicado na superfície, o recalque pode ser
calculado pela integração direta das deformações verticais; isto é:
Z
ρ = ∫ ε v dz
0 (4.1)
Nestes casos utiliza-se a teoria da elasticidade tanto para determinação das tensões
induzidas quanto para o cálculo das deformações, as quais podem ser escritas de acordo com as
equações abaixo

εx =
1
E
[
Δσ x − ν( Δσ y + Δσ z ) ]
(4.2)

εy =
1
E
[Δσ y − ν( Δσ x + Δσ z )]
(4.3)

εz =
1
E
[Δσ z − ν( Δσ y + Δσ x )]
(4.4)
onde E é o módulo de elasticidade ou módulo de Young , ν o coeficiente de poisson e Δσi
as variações nas tensões na direção i.
As soluções obtidas são então representadas por equações cujos termos são função da
magnitude do carregamento e dimensões da fundação.
No caso de carregamentos circulares o recalque imediato pode ser expresso por:
R
ρ = Δq I p ( ν, x )
E (4.5)
onde Δq é a tensão vertical aplicada na superfície, R o raio da área carregada, E o módulo
de Young e Ip(ν,x) um coeficiente de influência que depende do coeficiente de Poisson (ν) e da
distância horizontal ao eixo de simetria do carregamento (vide Figura 16). Desta forma esta
expressão permite calcular os recalques não somente sob a área carregada, mas também em

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 22


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

pontos mais afastados. Em geral o recalque na borda do carregamento é da ordem de 70% do


recalque no centro.

Figura 16. Distribuição de Recalques sob Fundação Circular Flexível

No caso de uma fundação circular flexível, aplicada na superfície, o recalque no eixo de


simetria pode ser obtido diretamente pela expressão:
R
ρ = Δq 2( 1 − ν 2 )
E (4.6)

Para situações em que o carregamento é aplicado a uma determinada profundidade, os


recalques tendem a ser menores. Nestes casos, coeficientes de correção são introduzidos nas
equações acima (Budhu, 2000)

4.2. RECALQUE PRIMÁRIO OU DE ADENSAMENTO


O cálculo de recalques gerados pelo adensamento primário é feito a partir da seguinte
expressão:
Ho
ρ= Δe
( 1 + eo ) (4.7)
onde Δe é a variação do índice de vazios, sendo eo e Ho o índice de vazios e espessura
inicial da camada. A equação 4.7 baseia-se no fato de que os recalques ocorrem por uma
variação no volume de vazios. Assim sendo, observando a Figura 4.4, o recalque pode ser escrito
a partir da variação do índice de vazios, isto é:
ΔVv ΔHv
Δe = =
Vs Hs (4.8)
ou melhor,

ρ = ΔHv ∴ ρ = Hs × Δe (4.9)

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 23


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

A equação 4.9 mostra, então, que o recalque é o resultado do produto da variação do


índice de vazios e da altura de sólidos (Hs), a qual pode ser estabelecida em função das
condições iniciais da camada, conforme demonstrado no conjunto de equações (4.10)

Δh Ho = Hvo + Hs
mas
Hvo Vv Hvo × Area Hv
água eo = = = ∴ Hvo = eo × Hs
Ho Vs Hs × Area Hs
então
sólidos Hs
Ho = eo × Hs + Hs = ( 1 + eo ) × Hs
e
Figura 17. Subdivisão de Fases
Hs = Ho /( 1 + eo ) (4.10)

Assim sendo os recalques provenientes da variação do estado de tensões são diretamente


proporcionais à variação do índice de vazios, já o termo Ho/(1+eo), da equação 4.7, representa a
altura de sólidos, sendo considerado portanto uma constante nesta expressão.
A estimativa da variação de índice de vazios é feita com base nos parâmetros de
compressibilidade do solo, os quais correlacionam variações volumétricas com variações de
tensão efetiva. Assim sendo, dependendo do parâmetro adotado para definir a compressibilidade
do solo, a expressão para cálculo do recalque primário fica definida como:

i) Coeficiente de Compressibilidade
Δe Ho
av = − ρ= av Δσ′v
Δσ′v ⇒ ( 1 + eo ) (4.11)
ii) Coeficiente de Variação Volumétrica
Δε av
mv = − =
Δσ′v 1 + e0 ⇒ ρ = H o mv Δσ′v (4.12)
iii) Índice de Compressão
No caso dos parâmetros de compressibilidade estarem definidos em função dos índices de
compressão; isto é:
Δe
Cc ou Cr ou Cr = −
Δ log σv (4.13)
O cálculo dos recalques dependerá da faixa de tensões efetivas associadas ao projeto; isto
é, da história de tensões do depósito.
No caso de solos normalmente adensados (RPA ou OCR=1), a tensão efetiva de pré-
adensamento, por definição, é igual à tensão efetiva vertical de campo. Nestes casos, qualquer

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 24


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

acréscimo de tensão efetiva estaria associada a uma variação do índice de vazios prevista no
trecho de compressão virgem, conforme mostrado na Figura 18. Neste caso o recalque é
calculado a partir das seguintes expressões, dado que σ’vf=σ’vo+Δσ’v:

e Ho
σ’vm = σ’vo ρ= Cc Δ log σ′v
Cr ( 1 + eo ) (4.14)

σ’vf ou

Cc Ho
ρ= Cc [log σ′f − log σ′o ]
( 1 + eo ) (4.15)

Cs ou

log σ’v Ho σ′
ρ= Cc log f
( 1 + eo ) σ′o (4.16)
Figura 18. Solo Normalmente adensado

No caso de solos pré-adensados, o trecho da curva de compressibilidade a ser


considerado dependerá dos limites das tensões envolvidas. Se a faixa de tensões estiver contida
exclusivamente no trecho de recompressão; isto é, se σ’vf <σ’vm (Figura 19) tem-se
Ho σ′
ρ= Cr log f
(σ’vf <σ’vm ) ⇒ ( 1 + eo ) σ′o (4.17)
Caso a tensão efetiva vertical final ultrapasse a tensão efetiva de pré-adensamento; isto é,
se σ’vf >σ’vm (Figura 4.6b) tem-se

Ho ⎡ σ′vm σ′vf ⎤
ρ= ⎢Cr log ′ + Cc log ′ ⎥
(σ’vf <σ’vm ) ⇒ ( 1 + eo ) ⎣ σo σvm ⎦ (4.18)
Quando esta situação ocorre, a tensão efetiva de pré-adensamento, que representa a
máxima tensão efetiva que o elemento foi submetido na história do depóstito, passa a ser igual à
tensão efetiva final induzida pelo carregamento (σ’vf =σ’vm )

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 25


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

e e
σ’vm σ’vm

σ’vo σ’vf log σ’v σ’vo σ’vf log σ’v

(a) σ’vf <σ’vm (b) σ’vf >σ’vm

Figura 19. Solo Pré-Adensado

Para situações de descarregamento, a expansão do solo é calculada em função da


compressibilidade definida pela inclinação Cs, da curva de compressibilidade; isto é:
Ho σ′
ρ= C s log f
(1 + eo ) σ ′o (4.19)

Exemplo 4.1
Sobre o perfil abaixo serão lançados 2 aterros de grandes dimensões em um intervalo de 6 meses.
O primeiro aterro terá 1m de altura e o segundo 2m de altura. Ambos serão construídos com solo local e
atingirão um peso específico após a compactação de 18,1 KN/m3. Estime o recalque de adensamento
primário considerando o coeficiente de compressibilidade médio na camada de argila de av = 1x10-4m2/KN.

argila
7m
eo=0,9

Solução
i) cálculo do acréscimo de tensão vertical, considerado aterro infinito
aterro 1: Δσv = 18,7 X 1 = 18,7 kN/m2
aterro 2: Δσv = 18,7 X 2 = 37,4 kN/m2

ii) A expressão para cálculo do recalque em função do coeficiente de compressibilidade é


Ho
ρ= av Δσ′v
( 1 + eo )

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 26


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

nesta expressão, o termo Ho/(1+eo) representa a altura de sólidos, sendo portanto constante para
ambos os carregamentos. Assim sendo:

1x10 − 4 [18,7 + 37,4] = 0,021m = 21mm


7
ρ=
( 1 + 0,9 )

Exemplo 4.2
Uma camada de argila de 1,5m de espessura está localizada entre 2 camadas de areia. No centro
da camada de argila, a tensão total vertical é de 200kPa e a poro pressão é 100kPa. O aumento de tensão
vertical causado pela construção de uma estrutura, no centro da camada de argila será de 100kPa. Assumi
solo saturado, Cr = 0,05, Cc = 0,3 e e = 0,9. Estimar o recalque primário da argila, considerando as situações
(i) solo normalmente adensado, (2) solo pré-adensado (OCR = 2), (3) solo pré-adensado (OCR = 1,5).

Solução:
Condições iniciais:
σvo = 200 kPa
uo = 100 kPa
σ’vo = 100kPa
Condições finais:
σvf = σvo +Δσv = 200 + 100 kPa
Uf = 100 kPa
σ’vf = 200 kPa
solo normalmente adensado
OCR = 1 ⇒ σ∋ = 100kPa
Ho σ′ 1,5 200
ρ= Cc log f = 0,3 log = 0,071m = 71mm
( 1 + eo ) σ′o ( 1 + 0,9 ) 100
(i) solo pré adensado
OCR = 2 ⇒ σ’vm = 200 kPa
Ho σ′ 1,5 200
ρ= Cr log f = 0,05 log = 0,012m = 12mm
( 1 + eo ) σ′o ( 1 + 0,9 ) 100
(iii) solo pré adensado
OCR = 1,5 ⇒ σ’vm =150 kPa

Ho ⎡ σ′vm σ′ ⎤ Ho ⎡ σ′f ⎤
ρ= ⎢Cr log + Cr log f ⎥ = ⎢Cr log(OCR ) + Cr log ′ ⎥
( 1 + eo ) ⎣ σ′vo σ′vm ⎦ ( 1 + eo ) ⎣ σvm ⎦

1,5 ⎡ 150 200 ⎤


ρ= 0,05 log + 0,3 log = 0,037m = 37mm
( 1 + 0,9 ) ⎢⎣ 100 150 ⎥⎦

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 27


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Exemplo 4.3
O elemento localizado no centro de uma camada de argila normalmente adensada encontra-se sob
tensão efetiva de 200kPa e apresenta um índice de vazios de 1,52. Quais recalques seriam esperados se a
camada sofresse um incremento de tensão de 150 kPa e em seguida sofresse um descarregamento de 200
kPa? Descreva a história de tensões após esta sequência de eventos. A camada tem 4m de espessura ,
está saturada e seus parâmetros de compressibilidade são: Cr = 0,08, Cc = 0,37.
Solução:
Condições iniciais
OCR = 1
σ∋ϖο = 200 kPa
eο = 1,52
i) Cálculo de recalques:
i.1) ao final do adensamento (fase de carregamento)
σ’vf = σ’vo + Δσv = 200 + 150 = 350 kPa
Ho σ′ 4 350
ρ= C c log f = 0,37 log = 0,143m = 14,3cm
(1 + eo ) σ ′o ( 1 + 1,52 ) 200
i.2)ao final do adensamento (fase de descarregamento)
σ’vo = 350 kPa
σvf = σvo - Δσv = 350 – 200 = 150 kPa

Ho σ ′v 4 150
ρ= cr log = 0,08 log = −0,047m
1 + eo σ ′vi 1 + 1,52 350
ii) História de tensões (vide figura)
condições iniciais ⇒ OCR = 1

σ’vo = σ’vm = 200 kPa


qo final do adensamento (fase de carregamento)
σ’vf = 350 kPa – nova tensão efetiva de campo (σ’vo) - nova tensão efetiva máxima (σ’vm)
⇒ OCR = σ’vm / σ’vo = 1 solo normalmente adensado
ao final do adensamento (fase de descarregamento)
σ’vf = 150 kPa – nova tensão efetiva de campo (σ’vo)
σ’vo (máxima tensão efetiva) – 350 kPa
⇒ OCR - σ’vm /σ’vo = 2,33 solo pré adensado

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 28


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

e σ’vm =σ’vo

σ’vf (2ª fase) σ’vf (1ª fase)

log σ’v

4.2.1. RECALQUE PRIMÁRIO PARA CARREGAMENTOS FINITOS


A teoria de adensamento unidimensional se aplica para situações em que as deformações
horizontais são nulas e, consequentemente, a geração de poro-pressão inicial é constante ao
longo da profundidade e igual à tensão vertical aplicada; isto é Δuo=Δσz. Na prática, deformações
horizontais nulas ocorrem em situações em que a espessura da camada é muito pequena ou em
situações em que a relação entre a espessura da camada e a largura do carregamento é muito
pequena.
Nos casos em que o acréscimo inicial de poro-pressão varia com a profundidade, a teoria
de adensamento pode ser estendida a partir da subdivisão da camada compressível em sub-
camadas, admitindo-se um acréscimo poro-pressão constante em cada sub-camada. A Figura 20
ilustra esta solução.

Δσ1
H1

H2 Δσ2

Ho
H3 Δσ3

H4 Δσ4

Figura 20. Carregamento variável com a profundidade

Utilizar esta teoria para situações em que as deformações laterais não são nulas pode
acarretar em erros de mais de 20% na estimativa dos recalques. (Budhu, 2000)

Exemplo 4.4

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 29


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

A seção vertical da fundação de uma estrutura está apresentada na figura abaixo. A fundação
possui 10m de largura e 20m de comprimento. O coeficiente de variação volumétrica médio na camada de
argila é mv = 5x10-5 m2/kN. Estime o recalque de adensamento primário causado pelo carregamento.

200kPa

1m

10m
10m
argila

pedregulho

Solução:

Para calcular o recalque é preciso inicialmente determinar os acréscimos de tensão vertical


causados pelo carregamento, a partir das soluções da teoria da elasticidade que fornecem
equações/ábacos para cálculo de tensão induzida por carregamentos retangulares.
Para o problema em questão, os acréscimos de tensão vertical, no eixo de simetria da fundação
estão apresentados na tabela abaixo:

Sub-camada Z(m) F(m,n) Δσϖ(kPa) = F(m,n) x Δq


0–2m 1 0,992 198,4
2m–4m 3 0,951 190,2
4m–6m 5 0,876 175,2
6m–8m 7 0,781 156,2
8 m – 10 m 9 0,686 137,2
O recalque pode ser então calculado a partir do somatório dos recalques estimados em cada sub-
camada: Assumindo Δu = Δσ v

5
ρ = ∑ (H i mv Δσ vi ) = 2 × 5 × 10 −5 (198,4 + 190 ,2 + 175,2 + 156 ,2 + 137 ,2 ) =0 ,086m = 86mm
i =1

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 30


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

4.3. RECALQUE SECUNDÁRIO


O recalque secundário ou consolidação secundária, também chamado de fluência (‘creep”)
está associado a deformações observadas após o final do processo de adensamento primário,
quando as tensões efetivas já se estabilizaram. Isto é, ao contrário dos recalques imediato e de
adensamento, a consolidação secundária ocorre para tensões efetivas constantes. Apesar de
serem perfeitamente compreendidas, as deformações são atribuídas a uma mudança no
posicionamento das partículas em busca de um arranjo mais estável.
Assim sendo, o recalque secundário independe da variação de tensões efetivas, sendo
função exclusiva do intervalo de tempo. A expressão para cálculo do recalque é:
Ho t
ρs = Cα log f
( 1 + eo ) tp (4.20)
onde eo e Ho são, respectivamente, o índice de vazios e espessura da camada iniciais, Cα
o coeficiente de compressão secundária, tt o tempo final e tp o tempo correspondente ao final do
adensamento primário. (vide figura 6.8). Em geral tf corresponde ao tempo associado à vida útil da
obra.

Exemplo 4.3
Estime o recalque secundário no caso do exemplo anterior, admitindo que o final do recalque
primário ocorrerá em um intervalo de tempo de 18 anos e que uma vida útil da estrutura é de 100 anos. O
índice de vazios da camada de argila é 1,1 e o coeficiente de compressão secundária é Cα = 8x10-4.
Solução:
Será admitido que o recalque secundário ocorrerá após o final de adensamento primário em um
período de 82 anos.
10 100
ρs = 8 x10 − 4 log = 0,003m = 3mm
( 1 + 1,1) 18

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 31


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

5. TEORIA DE ADENSAMENTO OU CONSOLIDAÇÃO UNIDIMENSIONAL

O processo de adensamento, em um solo saturado, envolve uma transferência gradual de


esforços entre a água e o arcabouço sólido. Como esta transferência só é possível pela
dissipação dos excessos de poro-pressão através da drenagem da água, utiliza-se a equação de
fluxo para estudar analiticamente este processo.
De acordo com as equações de continuidade e validade da lei de Darcy, a equação geral
de fluxo unidimensional é definida como:

∂ 2h 1 ∂S ∂e
kz 2 = (e + S )
∂z 1 + e ∂t ∂t (5.1)
onde kz é a permeabilidade na direção vertical, h a carga total, e o índice de vazios, S o
grau de saturação e t o tempo.
No caso de solos saturados o grau saturação é constante e igual a 100%. Sendo assim,
(∂S ∂t ) = 0 , a equação reduz-se a:

∂ 2h 1 ∂e
kz 2 = ( )
∂z 1 + e ∂t (5.2)
Admitindo que compressibilidade do solo definida pelo coeficiente de compressibilidade
(ver Tabela 1); isto é pela relação entre a variação do índice de vazios e tensão efetiva; tem-se:
∂e
av = −
∂σ ′ (5.3)
Substituindo a Eq. (3.3) em Eq. (3.2) tem-se:
∂e ∂e ∂σ′ ∂σ′
= = −a v
∂t ∂σ′ ∂t ∂t
(5.4)
∂ 2h 1 ∂σ′
⇒ kz 2 = ( −a v )
∂z 1+ e ∂t
Por outro lado, a tensão efetiva é uma definição representada pela diferença entre a tensão
total (σ) e a poro-pressão (u = uo+Δu). Sendo assim,
∂σ, ∂σ ∂u0 ∂Δu
σ‘ = σ - u0 - Δu ⇒ = − − (5.5)
∂t ∂t ∂t ∂t
Substituindo a Eq.(3.5) em Eq. (3.4), tem-se
∂ 2h a ∂Δu ∂σ
kz = v { − } (5.6)
∂z 2
1 + e ∂t ∂t

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 32


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Com relação ao lado esquerdo da equação h = he + hp , onde he é a carga de elevação e hp a


carga de pressão. Sendo assim,
u0 + Δu
h= z+ (5.7)
γw
Derivando a carga total em função da posição, tem-se
∂ 2 h ∂ ⎛ ∂z ⎞ 1 ∂ ⎛ ∂u 0 ⎞ 1 ∂ ⎛ ∂Δu ⎞
= ⎜ ⎟+ ⎜ ⎟+ ⎜ ⎟ (5.8)
∂z 2 ∂z ⎝ ∂z ⎠ γ w ∂z ⎝ ∂z ⎠ γ w ∂z ⎝ ∂z ⎠
∂z ∂u0
Considerando que =1 e = cte , tem-se que os dois primeiros termos da Eq. (5.8) são
∂z ∂z
nulos . Substituindo, então a Eq. (5.8) na Eq. (5.6) chega-se a
k z ∂ 2 Δu a ⎛ ∂Δu ∂σ ⎞
= v ⎜ − ⎟
γ w ∂z 2
1 + e ⎝ ∂t ∂t ⎠

k z. (1 + e ) ∂ 2 Δu ∂Δu ∂σ
⇒ = − (5.9)
a v .γ w ∂z 2 ∂t ∂t

k z .(1 + e)
denominando o termo de coeficiente de adensamento cv , isto é:
a v .γ w
k z .(1 + e)
cv = (5.10)
a v .γ w
chega-se à:
∂ 2 Δu ∂Δu ∂σ
cv. = − (5.11)
∂z 2 ∂t ∂t
conhecida como Equação de Adensamento de Terzaghi

Admitindo, como hipótese que o carregamento é instantaneamente aplicado, isto é, este


∂σ
não varia no tempo, o último termo da equação passa a ser nulo e a equação fica então
∂t
reduzida à:

∂ 2 Δu ∂Δu
cv. = (5.12)
∂z 2 ∂t

5.1. SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DE ADENSAMENTO


A solução da equação 3.13 possibilita a determinação do excesso de poro-pressão em
determinada profundidade e determinado tempo. Esta equação incorpora as seguintes hipóteses:

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 33


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

homogeneidade do solo; saturação total; compressão dos grãos sólidos e da água desprezíveis;
compressão e fluxo unidimensional; validade da lei de Darcy; compressibilidade constante e
carregamento Instantâneo.
A solução analítica pode ser obtida introduzindo-se duas variáveis adimensionais, a saber :
i) Fator de profundidade:
z
Z=
Hd (5.13)
onde z é distância do topo da camada compressível até o ponto considerado e Hd o
comprimento de drenagem, ou seja, o comprimento de maior trajetória vertical percorrida por uma
partícula de água até atingir a fronteira drenante.
ii) Fator tempo:
cv . t
T=
Hd 2 (5.14)
onde t é o tempo expresso em unidades compatíveis com o cv.
Substituindo as equações (5.13) e (5.14) na eq. (5.12) :

∂ 2 Δu 1 ∂ 2 Δu
2 = .
z = Hd . Z ⇒ ∂z Hd 2 ∂Z 2 4[3]
(5.15)

∂Δu 1 ∂Δu
= .
Hd 2 ∂t Hd 2 ∂T
t= .T
cv ⇒ cv ∴ (5.16)
Tem-se a equação. de adensamento em função dos fatores de profundidade e tempo:

∂ 2 Δu ∂Δu
=
∂Z 2 ∂T (5.17)

Para casos em que o excesso inicial de poro-pressão é constante ao longo da


profundidade e a drenagem é permitida em ambas extremidades, tem-se a solução analítica da
equação acima:

2q
Δu = ∑ .(sen AZ ). e − A T π
2

A= .( 2 m + 1)
m= 0 A , sendo: 2 (5.18)
cujo desenvolvimento matemático está apresentado no apêndice I.

∂Δu ∂Δu ∂Z ∂Δu 1


= . = .
4[3] ∂z ∂Z ∂ z ∂Z Hd

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 34


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

5.1.1. PORCENTAGEM DE ADENSAMENTO


A solução da equação de adensamento possibilita a determinação do excesso de poro-
pressão em um determinado instante a uma determinada profundidade.
Na prática, entretanto, é mais importante conhecer o quanto de dissipação de poro-
pressão ocorreu, ao invés da quantidade de excesso de poro-pressão que ainda existe no solo, já
que a evolução das deformações está relacionada à porcentagem de poro-pressão dissipada.
Define-se como porcentagem de adensamento (Uz) a relação entre o excesso de poro-
pressão dissipado em um determinado tempo e o excesso inicial; isto é:
Δu( t )
Uz = 1−
Δu 0 (5.19)
onde Δu(t) é o excesso de poro-pressão em um tempo qualquer t , e Δu0 o excesso de
poro-pressão no tempo t=0.
A porcentagem de adensamento (Uz) varia entre 0 e 1; no início do processo, a
porcentagem de adensamento é nula
Δu(t = 0)
Uz = 1− =0
Δu(t = 0) (5.20)
e, ao final, quando o excesso é nulo (Δu (t=∞) = 0)
0
Uz = 1− = 100%
Δu(t = 0) (5.21)
Substituindo a equação (5.18) na equação (5.19) chega-se à solução analítica para o
cálculo da porcentagem de adensamento.

2
Uz = 1 − ∑ .(sen AZ ).e − A T π
2

A= .( 2 m + 1)
m =0 A , sendo: 2 (5.22)

Esta equação pode ser representada graficamente pelo ábaco da Figura 21. Nesta figura,
cada uma das curvas representa a solução da equação de adensamento, expressa em termos de
porcentagem de adensamento e fator de profundidade, para um determinado fator tempo.
Observa-se que teoricamente, a dissipação total dos excessos de poro-pressão ocorrerá em um
tempo infinito.
Estas curvas são denominadas isócronas e sua forma irá depender da distribuição do
excesso inicial de poro-pressão e das condições de drenagem.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 35


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

1,8
0,05
1,6

1,4
0,1
1,2
0,15 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 Tv=0,8 Tv=∞
Z=z/Hd

0,8

0,6

0,4

0,2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Uz
Figura 21. Porcentagem de Adensamento x Fator de Profundidade x Fator Tempo

Para melhor entender fisicamente a forma da solução gráfica da equação de adensamento,


apresenta-se, na Figura 22, a tendência esperada para a solução da equação de adensamento
em função das condições de contorno.
Nesta figura estão representadas duas situações típicas: (a) camada compressível
intercalada entre duas camadas drenantes e (b) camada compressível assente sobre superfície
impermeável. No caso de drenagem dupla (Figura 22(a)), após a aplicação do carregamento
infinito, toda a camada sofre um acréscimo de poro-pressão igual à tensão aplicada. Com o
tempo, os excessos de poro-pressão na região próxima às fronteiras drenantes são
imediatamente dissipados; na região central, entretanto, a velocidade de dissipação é menor,
acarretando em uma distribuição senoidal de excesso de poro-pressão.
Define-se como superfície impermeável àquela que não permite a passagem de fluxo de
água. Para casos de drenagem dupla, o centro da camada representa um plano impermeável, já
que não há fluxo interceptando este plano.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 36


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

No caso de drenagem simples (Figura 22(b)), a solução observada representa metade da


solução para drenagem dupla.

Inclinação

2H

(b) Drenagem Simples

(a) Drenagem Dupla

Figura 22. Influência das Condições de Drenagem

É interessante ressaltar que, para situações de dupla face drenante, o fator de


profundidade varia entre Z = 0 e Z = 2, já que o comprimento de drenagem é igual à metade da
espessura da camada (Hd = Ho/2); isto é:
0
z=0⇒Z = =0
Ho / 2
Ho
z = Ho ⇒ Z = =2
Ho / 2 (5.23)

Para situações em que uma das extremidades é impermeável, o fator de profundidade (Z)
varia entre 0 e 1, já que o comprimento de drenagem é igual à espessura da camada (Hd = Ho).
Nestes casos, utiliza-se a mesma solução apresentada graficamente na Figura 21, limitando-a à faixa
de variação do fator de profundidade de 0 a 1, conforme mostrado na Figura 22.

Com base nas curvas de Porcentagem de Adensamento x Fator Tempo x Fator de


Profundidade (isócronas) é possível calcular os gradientes hidráulicos (i) desenvolvidos ao longo do
processo de fluxo. Por definição,

ΔH
i=
Δz (5.24)

onde ΔH é diferença de carga total e Δz a distância percorrida pela partícula de água. No


caso do processo de adensamento, a diferença de carga total é estabelecida em função da geração de
um excesso de poro-pressão, conforme apresentado na expressão abaixo

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 37


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Δ( uo + u( t )) Δu( t )
ΔH = Δ( he + hp ) = Δhp = =
γω γω (5.25)

Adicionalmente, a distância percorrida (Δz) pode ser expressa em termos de fator de


profundidade (ΔZ); isto é

Δz = ΔZ × Hd (5.26)

onde Hd é o comprimento de drenagem. Combinando as equações 5.24 a 5.26 tem-se:

Δu( t )
i=
γ ωΔZH d (5.27)

Considerando que a variação da porcentagem média de adensamento pode ser escrita como:

⎛ Δu ( t ) ⎞ Δu ( t )
ΔU z = Δ⎜⎜1 − ⎟= ∴ Δu ( t ) = ΔU z × Δu 0
⎝ Δu0 ⎟⎠ Δu 0
(5.28)

Substituindo a equação (5.28) em (5.27), tem-se a expressão para cálculo do gradiente


hidráulico em função da tangente às curvas isócronas (Figura 5.3).

Δu o ΔU z
i=
γ ωH d ΔZ (5.29)

Observa-se pela Figura 23, que para uma dada profundidade, por exemplo Z=1,6, as
tangentes às curvas vão tornando-se mais suaves para tempos maiores. Essa mudança se deve ao
fato que a velocidade em que a água é expulsa do solo (gradiente) vai reduzindo a medida que o
processo de adensamento vai ocorrendo. Da mesma forma, para um mesmo Fator Tempo, os
gradientes variam ao longo da camada; gradientes mais elevados ocorrem junto às faces drenantes.
No centro da camada o gradiente é nulo, consequentemente, não há fluxo na profundidade
correspondente à Z=1.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 38


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

2,0

1,8
ΔUz ΔUz
1,6 ΔZ ΔZ

1,4
ΔUz

1,2 ΔZ
Z=z/Hd

0,8

0,6

0,4

0,2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1


Uz

Figura 23. Determinação de Gradientes Hidráulicos

Exemplo 5.1
Um depósito argiloso, saturado, com 6m de espessura e assente sobre uma camada impermeável
estará submetido ao efeito do lançamento de um aterro de grandes dimensões com 2,5 m de altura, com
peso específico igual a 20kN/m3. Pede-se a distribuição das poropressões imediatamente após a
construção, 3 meses após o lançamento do aterro e ao final do processo de recalque primário. Considerar
para a camada argilosa cv = 4x10-7 m2/s
Solução:

Hd = 6m (1 face drenante)
Δq = 2,5 x 20 = 50 kPa
Δuo = Δσv = Δq

i) imediatamente após o carregamento

z (m) uo(kPa) Δuo = Δqo u = uo+Δu

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 39


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

(kPa) (kPa)
1 10 50 60
2 20 50 70
3 30 50 80
4 40 50 90
5 50 50 100
6 60 50 110
ii) após 3 meses

cv . t 4 x10 −7 x 3x 30 x86400
Tv = = ≅ 0,09
Hd 2 36

z (m) Z = z / Hd U (%) Δu =[100 – U] uo (kPa) U = uo +Δu


x ΔUo (kPa) (kPa)
1 0,16 70 15 10 25
2 0,33 44 28 20 48
3 0,5 22 39 30 69
4 0,66 12 44 40 84
5 0,83 9 45,5 50 95,5
6 1 4 48 60 108

ii) ao final do adensamento

Δu = 0 ⇒ Δσ’v = Δq
⇒ a distribuição de poro pressão retorna a condição original, hidrostática, conforme mostra a figura
abaixo.

argila 6m

uo+Δuo

z uo uo+Δu(t)
impermeável

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 40


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

5.1.1.1. Excesso Inicial de PoroPressão Variável com a Profundidade

A solução da equação de adensamento, apresentada graficamente na figura 5.1, se aplica


em situações em que o excesso inicial de poro-pressão é constante ao longo de toda a camada
compressível. Esta condição só é verificada na prática em carregamentos “infinitos”.
Existem outros tipos de solicitação que acarretam em distribuições de excesso inicial de
poro-pressão variáveis com a profundidade. Quando, por exemplo, se executa um bombeamento
em uma das extremidades de uma camada argilosa, impõe-se uma variação nas condições
iniciais de poro-pressão, exclusivamente na região em que as ponteiras do sistema de
bombeamento estão instaladas. Isto gera um processo de fluxo na camada argilosa. Nestes casos
a solução da equação de adensamento acarreta em isócronas com aspecto diferente da
observada na Figura 21. A Figura 24 apresenta a tendência de dissipação dos excessos de poro-
pressão para situações de dupla face drenante, considerando-se, por exemplo, uma situação de
bombeamento da camada superficial.

Figura 24. Tendência de Dissipação para Condição de Drenagem Dupla

Rebaixar o NA durante a construção pode causar recalques indesejáveis em estruturas


adjacentes, entretanto, se bem controlado, esta etapa pode ser usada para pré-adensar a camada
argilosa.
No caso de condições de dupla drenagem, a solução da equação de adensamento pode
ser obtida gráficamente a partir da Figura 25. Neste caso, a determinação dos excessos de poro-
pressão pode ser obtida em função das porcentagens de adensamento indicadas nesta figura,
considerando-se como excesso inicial (Δuo), independente da profundidade estudada, o máximo
valor registrado no perfil, conforme mostrado na Figura 26.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 41


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Uz

Figura 25. Solução da Equação de Adensamento para Distribuição Incial de Excesso de


Poro-Pressão Triangular e Drenagem Dupla.

z Z= z/0,5Ho
Ho =2H d Solo
Argiloso T=cvt/[0,5Ho]2

Δutempo t=[1-Utempo t] Δuo

Δ uo

Figura 26. Distribuição linear de Excesso de Poro-pressão Inicial

Para casos de drenagem simples a solução da equação de adensamento é alterada


conforme mostra a Figura 27.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 42


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Figura 27. Tendência de Dissipação para Condição de Drenagem Simples

Exemplo 5.2
Uma camada de argila de 8 m de espessura situa-se entre duas camadas de areia. A espessura da
camada superior é de 4 m. O NA encontra-se a 2 m de profundidade. A camada de areia subjacente está a
submetida a um artesianismo. Um peizometro instalado na base da camada indicou NA 6 m acima do nível
do terreno. Os pesos específicos da areia e da argila, respectivamente são: 20 kN/m3 e 19 kN/m3. O peso
específicos da areia acima do NA é 16 kN/m3. Considerar Cv = 4,5x10-8 m2/s.
Devido a um bombeamento o nível artesiano cai para 3m. Calcule a distribuição do excesso inicial
de poro pressão e a distribuição 6 meses após o rebaixamento.

6m

areia 2m 20 kPa 180kPa


2m u

argila
8m

z u (hidrost.)

Solução:
A distribuição inicial de poro pressão está apresentada na figura acima
Antes do rebaixamento:
Para z = 0 ⇒ uo = 20 kPa

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 43


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Para z = H⇒ uo = (6+4+8)x10 = 180 kPa


Após o rebaixamento:
Para z = 0 ⇒ uf = 20 kPa
Para z = H ⇒ uo = 180 kPa – 30 kPa = 150 kPa
Assim sendo o excesso final de poro pressão pode ser representado de uma forma triangular como
mostrado na figura

6m

areia 2m 20 kPa 180kPa


2m
7,5 kPa 2m u

2 m
15 kPa argila
8m ueo
2 m
22,5 kPa

2 m
30 kPa z u (hidrost.)

Considerando t = 6 meses – T = 4,5x10-8 x (6x30x24x60x60) / 42 = 0,04


A partir do gráfico apresentado na figura 16, a porcentagem de adensamento relativa a cada
profundidade pode ser determinada. Para a determinação do excesso de poro pressão basta multiplicar o
excesso de poro pressão inicial imposto na base da camada (30 kPa) pela parcela não dissipada.

z Z U (%) (6 Ue (t = 0) Ue (t = 6 meses)
meses)*
2 0,5 75 7,5 30 x (1-0,75) = 7,5
4 1,0 50 15 30 x (1-0,50) = 15,0
6 1,5 34 22,5 30 x (1-0,34) = 19,8
valores em kPa

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 44


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

5.1.2. PORCENTAGEM MÉDIA DE ADENSAMENTO:


A porcentagem de adensamento, definida no ítem anterior, estabelece, para um
determinado tempo, o grau de adensamento em qualquer ponto, o qual é variável ao longo da
profundidade da camada. Na prática deseja-se conhecer, para um determinado instante, qual é o
grau de adensamento de toda a camada, consideradas as contribuições de todos os pontos. Com
esta informação é possível determinar a evolução das deformações; ou melhor, a evolução dos
recalques ao longo do tempo.
Define-se como porcentagem média de adensamento U o somatório das porcentagens de
adensamento de todos os pontos da camada em relação ao adensamento total :
Z

U = 1−
∫ 0
Δu( t )dZ
Z
∫ 0
Δu0 dZ
(5.24)
A porcentagem média de adensamento (U) pode ser interpretado como a relação entre as
áreas delimitadas pelas curvas de porcentagem de adensamento, para um determinado fator
tempo. A parte escura da Figura 28 representa a integral dos excessos de poro-pressão
existentes na camada em um determinado tempo e a parte clara a integral dos excessos já
dissipados.

1,8

1,6

1,4

1,2

Δuo-Δu(t)
Δu(t
Z=z/Hd

0,8

0,6

0,4

0,2

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Figura 28. Interpretação Gráfica da Porcentagem Média de adensamento

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 45


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Assim sendo, para cada tempo estará associado uma porcentagem média de
adensamento que corresponde ao adensamento do solo devido à contribuição da dissipação dos
excessos de poro –pressão em todos os pontos da camada.

2 − A 2T
U = 1− ∑ 2
.e A=
π
.( 2 m + 1)
m=0 A , sendo: 2 (5.25)

A solução da equação 3.17 pode ser representada graficamente pelo ábaco da Figura 29.
Nesta figura apresentam-se as soluções para determinação da porcentagem média de
adensamento em função do fator tempo para diferentes condições de carregamento e de
drenagem. Estas condições, apresentadas na Figura 30, mostram que em situações de o excesso
inicial de poro-pressão é constante com a profundidade, a determinação da porcentagem média é
feita a partir da curva (1), independentemente das condições de drenagem. No caso do excesso
inicial de poro-pressão varia com a profundidade, a curva (1) é valida somente para condição de
drenagem dupla. Para excessos iniciais de poro-pressão triangulares, as curvas (2) ou (3) são
válidas dependendo da posição da fronteira impermeável.

Tv=cvt/(Hd)2

Figura 29. Porcentagem Média de Adensamento x Fator Tempo

Alternativamente, no caso das condições de contorno estabelecidas pala curva (1) da


Figura 19, o fator tempo (T) pode ser obtido diretamente a partir das seguintes expressões:

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 46


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

2
π⎛ U ⎞
Tv = ⎜ ⎟ LLU < 60%
4 ⎝ 100 ⎠ (5.26)
Tv = 1,781− 0,933 log (100 − U )LLU ≥ 60% (5.27)
Mais uma vez observa-se que a equação não fornece solução para condição final do
adensamento primário (U=100%). Isto se deve ao fato de que teoricamente, esta condição só é
atingida em um tempo infinito. Na prática, a definição do tempo para dissipação completa dos
excessos de poro-pressão e, consequentemente, final do adensamento primário é feita
considerando-se porcentagens médias de adensamento menores que 100%. Quando, por
exemplo, utiliza-se porcentagens médias de adensamento iguais a 95%, assume-se que quando a
dissipação atinge este valor praticamente todo recalque já ocorreu. Nestes casos, o tempo real
correspondente ao final do adensamento é calculado como:
cv t 1,13H d2
T95% = ∴ t 95% =
H d2 cv (5.28)

Drenagem livre

Drenagem Impermeáve Drenagem


livre
livre
(a) curva (1)

Drenagem livre

Impermeável

(b) curva (2) (c) curva (3)

Figura 30. Validade das Soluções para Diferentes Condições de Contorno e Diferentes
Distribuições de Excesso Inicial de Poro-Pressão

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 47


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Exemplo 5.3
Considerando os dados do exemplo 3, qual o tempo necessário para que seja atingido 80% do
adensamento em toda camada de argila?
Solução:

4 x10 −7 . t ( s)
0,55 = ⇒ t ( s) = 49500000s ≅ 1,57anos
Tv(80%) = 0,55 ⇒ 36

5.2. CURVA RECALQUE X TEMPO


O recalque de adensamento primário está associado à condição de final de consolidação;
isto é, quando todo excesso de poro-pressão foi dissipado. Para avaliar a evolução dos recalques
ao longo do tempo (Figura 31), basta relacionar a porcentagem média de adensamento associada
àquele tempo; em outras palavras:
ρ tempo = U ( t ) × ρ total
onde ρtotal é o recalque de adensamento primário e U(t) a porcentagem média de
adensamento associada ao tempo desejado.

Tempo
Recalque

Figura 31. Curva recalque x tempo

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 48


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Exemplo
Será construído um prédio comercial sobre o perfil abaixo. O índice de vazios da areia fina é 0,76 e
o teor de umidade na argila é igual 4,5%. A construção resultará em um aumento de tensão vertical no
centro da camada argilosa de 140 kPa. Desenhar a curva tempo x recalque primário da argila. Assumir solo
saturado acima do NA Cr = 0,5, Cc = 0,3, G = 2,7 e Cv = 2 m2/ano.

3m

10,4m
Areia fina

Argila
2m normalmente
adensada

Areia

Solução:

Ho
ρ= Δe
1 + eo
Ho σ′
ρ= Cc log vf
solo normalmente adensado ⇒ 1 + eo σ′vo

cálculo das tensões iniciais:


i) cálculo dos pesos específicos

⎛G + e ⎞ ⎛ 2,7 + 0,76⎞
γsat = ⎜ ⎟γω = ⎜ ⎟ ×10 = 19,7kN / m3
areia ⇒ ⎝ 1+ e ⎠ ⎝ 1+ 0,76 ⎠

2,7 x 0,43
Gω = Se ∴ e = = 1,16
argila⇒ 1

⎛G + e ⎞ ⎛ 2,7 + 1,16 ⎞
γ sat = ⎜ ⎟γ ω = ⎜ ⎟ × 10 = 17,9kN / m 3
⎝ 1+ e ⎠ ⎝ 1 + 1,16 ⎠
ii) no centro da camada de argila
σvo = 19,7 x 10,4 + 17,9x1 = 222,78 kPa
u = (7,4 + 1) x 10 = 84 kPa
σ’vo = 138,78 kPa
iii) cálculo das tensões finais:
σ’vf = 138,78 + 140 = 278,78 kPa
2 278,78
ρ= 0,3 log = 0,084m = 84mm
1 + 1,16 138,78

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 49


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

curva tempo x recalque

U (%) T t(ano)* t(dias) recalque


5 0,001963 0,00 0,36 4,2
10 0,007854 0,00 1,43 8,4
20 0,031416 0,02 5,73 16,8
30 0,070686 0,04 12,90 25,2
40 0,125664 0,06 22,93 33,6
50 0,19635 0,10 35,83 42
60 0,286278 0,14 52,25 50,4
70 0,402846 0,20 73,52 58,8
80 0,567139 0,28 103,50 67,2
90 0,848 0,42 154,76 75,6
91 0,890692 0,45 162,55 76,44
92 0,938417 0,47 171,26 77,28
93 0,992524 0,50 181,14 78,12
94 1,054985 0,53 192,53 78,96
95 1,128861 0,56 206,02 79,8
96 1,219278 0,61 222,52 80,64
97 1,335846 0,67 243,79 81,48
98 1,500139 0,75 273,78 82,33
cv t TH d2
T= ∴t =
H d2 cv

Tempo (dias)
0 50 100 150 200 250 300
0
10
20
Recalque (mm)

30
40
50
60
70
80
90

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 50


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

6. ENSAIO DE ADENSAMENTO

6.1. ENSAIO CONVENCIONAL OU ENSAIO OEDOMÉTRICO


O ensaio de adensamento tem por objetivo determinar as características de
compressilbilidade e adensamento dos solos compressíveis.
O ensaio de adensamento convencional é realizado aplicando-se uma tensão vertical na
superfície de uma amostra de solo e medindo-se a evolução das deformações verticais ao longo
do tempo. Este ensaio reproduz em laboratório a condição de fluxo e deformação unidimensional,
já que a amostra é impedida de se deformar horizontalmente e a drenagem é imposta no topo e
base.
O equipamento utilizado é denominado oedômetro ou consolidômetro e está apresentado
esquematicamente na Figura 6.1.

Extensômetro
F

Pedras Porosas
Anel Confinante

Solo

Linha de Drenagem

Figura 32. Esquema do Ensaio Oedométrico

O ensaio é preparado montando-se uma amostra indeformada no interior do anel


confinante. A parte interna do anel é lubrificada para minimizar o atrito solo-anel. Nas
extremidades superior e inferior pedras porosas são posicionadas, servindo como elementos de
drenagem. No contato entre a pedra porosa e a amostra é colocada papel filtro para evitar o
carreamento de grãos durante o processo de drenagem. As cargas são aplicadas estaticamente
no topo da amostra e as tensões são transmitidas ao solo através de uma peça metálica. As
deformações resultantes são medidas durante o ensaio através dos registros no extensômetro.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 51


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

6.1.1. PROCEDIMENTO DE ENSAIO


O ensaio é realizado aplicando-se uma seqüência de carregamentos e/ou
descarregamento. Após a aplicação de um carregamento, os deslocamentos verticais da amostra
são registrados até que os excesso de poro pressão tenham sido dissipados.
Em geral, as cargas são aplicadas em estágios, dobrando-se o valor da carga a cada
estágio. Os valores de carga comumente usados são: 25, 50, 100, 200, 400, 800kPa. Em cada
estágio a tensão vertical é mantida até que a compressão tenha praticamente cessado. Em solos
argilosos o uso de estágios de carga de 24 h é muito comum.

6.1.2. PARÂMETROS OBTIDOS


Para cada incremento de carga traça-se uma curva compressão x tempo, com base nas
leituras do extensômetro, conforme mostra a Figura 33.

Leitura do
extensômetro

Figura 33. Curva Compressão x Tempo

Para estágio de carga calcula-se a variação do índice de vazios devido a compressão da


amostra. Assim sendo, ao final do ensaio, é possível plotar a curva de compressibilidade do solo
representada pela relação entre o índice de vazios e tensão efetiva. (Figura 34)

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 52


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

p
Figura 34. Curva Índice de Vazios x Tensão Efetiva

6.1.2.1. Parâmetros Iniciais

a) Peso específico total (γt)


b) Densidade dos grãos (G)
c) Teor de umidade inicial (wo)
1 + wo
eo = Gγ w − 1
d) Índice de Vazios Inicial γt

6.1.2.2. Índice de Vazios Final (ef)

Δh (1 + eo )
e f = ei − = ei − Δh
Hs Ho (6.1)
onde Δh é a variação de altura da amostra, Hs a altura de sólidos e Ho a espessura inicial
da amostra. Observa-se que o índice de vazios final é determinado em função da altura de sólidos
(Hs), que representa um valor constante, independente da deformação do solo. A altura de sólidos
pode ser determinada a partir do índice de vazios original e espessura inicial da camada,
conforme demonstração abaixo:

Demonstração

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 53


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Δh Δh = ΔH v

água Hvo Vv H vo × Area H v


eo = = = ∴ H vo = eo × H s
Ho Vs H s × Area H s
sólidos Hs
H o = H vo + H s ∴ H o = eo × H s + H s

H o = ( 1 + eo ) × H s ∴ H s = H o /( 1 + eo )

6.1.2.3. Coeficientes de Compressibilidade

Define-se como Compressibilidade a relação entre a magnitude das deformações e a


variação no estado de tensões imposta. No caso de solos, estas deformações podem ser
estabelecidas através de variações volumétricas ou em termos de variações no índice de vazios.
Dependendo da forma adotada, a compressibilidade do solo fica então definida a partir de
diferentes parâmetros conhecidos como: módulo confinado (D), coeficiente de variação
volumétrica (mv), coeficiente de compressibilidade (av) e índices de compressibilidade (Cc, Cr, Cs).
A Figura 35 mostra as expressões para o cálculo dos diversos parâmetros.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 54


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

e1 Δe e − e1
av = − =− 2
Δe Δσ′v σ′v 2 − σ′v 1 (6.5)
e2
Δσ’v

σ’v1 σ’v2 σ’v

(a) Coeficiente de compressibilidade

σ’v

Δε ε − ε1
Δσ’v2 mv = − =− 2
Δσ′v σ′v 2 − σ′v 1 (6.6)
Δσ’v
Δσ’v1
Δε

ε1 ε2 ε=ΔH/Ho

(b) Coeficiente de variação volumétrica

Cr
e1 Δe e − e1
Cc Cc = − =− 2

Δ log σ v σ′
log v 2
e2 σ′v 1 (6.7)
Cs
logσ’v
logσ’v1 logσ’v2

(c) Índices de compressibilidade

Figura 35. Parâmetros de Compressibilidade

6.1.2.4. Tensão Efetiva de Pré-Adensamento (σ’vm )

Quando uma amostra é extraída do campo esta sofre um processo de descarregamento.


Assumindo que o solo é homogêneo e saturado, as tensões verticais total (σv) e efetiva (σ’v) a que
esta amostra estava submetida no campo são calculadas pela expressões:

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 55


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

σ v = γ sat z e σ v′ = (γ sat − γ w )z (6.8)


onde γsat e γw são, respectivamente, o peso específico saturado e peso específico da água
e z a profundidade da amostra. Após a extração da amostra as tensões totais tornam-se nulas e,
consequentemente, as tensões efetivas são também praticamente anuladas. Com a aplicação de
estágios de carregamento, no ensaio de adensamento, a amostra passa a sofrer recompressão.
Durante esta fase de recompressão a amostra apresenta uma compressibilidade constante,
conforme observada na curva e × log σ’v (Figura 36). No instante em que as tensões aplicadas
ultrapassam a máxima tensão efetiva que a amostra já foi solicitada na sua história, a
compressibilidade aumenta e as deformações passam a ser controladas pela inclinação do trecho
de recompressão virgem. Esta máxima tensão efetiva é conhecida como tensão efetiva de pré-
adensamento, sendo representada pelo símbolo σ’vm.. A Figura 36 mostra o procedimento gráfico
para obtenção da tensão efetiva de pré-adensamento, o qual segue os seguintes passos:
i) determinar o ponto da curva de menor curvatura;
ii) traçar retas horizontal e tangente a este ponto, de forma a obter a bissetriz ao ângulo
formado por estas retas;
iii) a interseção entre a bissetriz e o prolongamento da reta virgem define a posição de σ’vm.

σ’vm

horizontal
e α
Raio α bissetriz
mínimo
tangente
Trecho de
Trecho de compressão Trecho de
recompressão virgem compressão virgem

logσ’v
Figura 36.Determinação da Tensão Efetiva de Pré-adensamento

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 56


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

6.1.2.5. Coeficiente de Adensamento (cv)

O coeficiente de adensamento (cv) representa, na equação de adensamento, o parâmetro


que estabelece a velocidade de dissipação dos excessos de poro-pressão. Este parâmetro é
determinado a partir da evolução dos deslocamentos verticais da amostra ao longo do tempo.
Assim sendo, sua determinação é feita para cada estágio de carga.
Existem na literatura duas proposições para cálculo do coeficiente de adensamento:
Método da Raiz do Tempo (Taylor) e Método do Logaritmo do Tempo (Casagrande).

Método de Raiz do Tempo (Taylor)


O método da raiz do tempo, proposto por Taylor, determina que o deslocamento vertical
seja plotado em função da raiz do tempo.
Na Figura 37 estão plotados os resultados de um ensaio em conjunto com a curva
teoricamente esperada. A curva teórica é uma reta até cerca de 60% de adensamento e ao final
do adensamento, os deslocamentos verticais tendem a ser nulos.
Na prática, observa-se diferença nos instantes inicial e final do ensaio. A curvatura inicial é
atribuída a eventual existência de ar na montagem do ensaio e as deformações medidas são
relacionadas a ajustes do equipamento. Assim sendo, o método sugere uma correção do trecho
inicial através da linearização da curva nesta região (de ho para hs):
Leitura do Leit
extensômetro

Figura 37. Resultado Experimental/Teórico – Método de Taylor

Após aplicada a correção inicial, o método propõe o traçado de uma segunda reta,
coincidindo com a primeira no tempo zero e tendo todas as abscissas 1,15 vezes maior que as
correspondentes à primeira reta. O ponto de interseção entre a segunda reta e a curva de ensaio
corresponde a um tempo associado a uma porcentagem de adensamento de 90% (t90).

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 57


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Conhecendo-se o tempo real correspondente a 90% de adensamento (t90) é possível


determinar o fator tempo associado (T90) consultando a Figura 29. O coeficiente de adensamento
fica então calculado pela equação 6.2:

U = 90% ⇔ T90 = 0.848


0.848 × H d2
cv =
t90 (6.2)
onde Hh é o comprimento de drenagem, o qual deve ser determinado a cada estágio, como
sendo metade do valor da espessura média no começo e no fim de cada incremento.

Método do Logaritmo do Tempo (Casagrande)


O método do logaritmo do tempo, proposto por Casagrande, determina que o
deslocamento vertical seja plotado em função de um gráfico semi-logaritmo.
Na Figura 38estão plotados os resultados de um ensaio em conjunto com a curva
teoricamente esperada. Teoricamente, a interseção da tangente e da assíntota à curva de
adensamento, mostrada na Figura 6.4 abaixo, corresponde à condição de 100% de adensamento.
O método propõe correção do trecho inicial. Como a primeira parte da curva é
aproximadamente uma parábola o ponto h0 pode ser localizado com base no seguinte
procedimento: (i) no trecho inicial da curva de laboratório, marcam-se os tempos t1 e t2 numa
razão de 4 para 1 (t1 e t2=4t1); (ii) a distância vertical medida entre esses dois instantes (Δh) é
somada à leitura correspondente ao ponto (t1), determinando-se o valor de h0 .

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 58


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

(a)

(b)
Figura 38. Resultado Experimental/Teórico – Método de Casagrande

Após aplicada a correção inicial, o método propõe a localização do tempo correspondente


a 100% de compressão primária (t100), definido pela interseção dos trecho linear e final da curva
de adensamento. Conhecendo-se t100, determina-se a altura associada a 50% de adensamento e,
consequentemente, o tempo (t50).
h0 + h100
h50 = KKKK → t50
2 (6.3)
Conhecendo-se o tempo real correspondente a 50% de adensamento (t50) é possível
determinar o fator tempo associado (T50) consultando a Figura 6.4. O coeficiente de adensamento
fica então calculado pela equação 6.4:

U = 50% ⇔ T50 = 0.197


0.197 × H d2
cv =
t50 (6.4)

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 59


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

onde Hh é o comprimento de drenagem, o qual deve ser determinado a cada estágio, como
sendo metade do valor da espessura média no começo e no fim de cada incremento.

Comparação entre as Metodologias para Determinação do cv


Os métodos de determinação do coeficiente de adensamento incorporam correções aos
resultados experimentais de forma a adaptá-los a uma solução teórica. Apesar desta restrição,
estes métodos são efetivamente adotados em projetos de engenharia civil e traduzem a melhor
forma de determinação deste coeficiente no laboratório.
Na prática, observa-se diferenças entre os valores determinados por ambos os métodos. O
método da Taylor requer uma definição precisa nos instantes iniciais do estágio, para a definição

do trecho linear da curva de leitura do extensômetro x t , enquanto que o método de


Casagrande exige o conhecimento do comportamento da amostra nos instantes finais. Em geral, o

método proposto por Taylor ( t ) fornece valores da mais elevados do que o método de

c ≅ 1,5 a 2,5 cv (log t )


Casagrande ( v ( t ) ).
Adicionalmente, observa-se que os valores de cv variam com o nível de tensões e direção
de solicitação (carregamento ou descarregamento). Comparando-se a curva de compressibilidade
de um solo com os valores correspondentes de coeficiente de adensamento (Figura 39) verifica-se
uma redução significativa na magnitude de cv quando o nível de tensões aplicado à amostra passa
do trecho de recompressão para o trecho de compressão virgem, assim com um aumento
significativo quando há inversão na direção de carregamento.
Na prática observa-se que o valor de cv determinado em laboratório em amostras
indeformadas acarreta em previsões de tempo de recalque inferiores às observadas no campo.
No laboratório a drenagem é restrita ao topo e base da amostra (unidimensional) e no campo esta
pode ocorrer também em outras direções (tridimensional), acelerando o processo de dissipação
de excesso de poro-pressão.
Assim sendo, em projetos de engenharia, a determinação de cv em ensaios oedométricos
permite somente uma estimativa do tempo de recalque de uma estrutura. Quando o projeto requer
uma determinação mais precisa do tempo de dissipação, faz-se necessário utilizar instrumentação
de campo adequada (piezômetros) para o acompanhamento da evolução e dissipação das
poropressões geradas.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 60


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

carregamento

descarregamento

log σ’v

cv carregamento

descarregamento

log σ’v

Figura 39. Variação do Coeficiente de Adensamento com o Nível de Tensões

6.1.2.6. Exemplos de Resultados Experimentais

Apresentam-se a seguir as curvas de índice de vazios vs. tempo de todos os estágios de


carregamento de ensaio realizado na argila mole da Baixada Fluminense5.
Os ensaios foram realizados através da aplicação de seis estágios de carregamento axial (10,
20, 40, 80, 160 e 320 kPa) e quatro estágios de descarregamento (160, 40, 10 e 5 kPa). Na fase de
carregamento, o incremento de carga de cada estágio (Δσv/σv) foi 1,0. Os estágios de carregamento
foram monitorados por 24 horas, sendo que o estágio de 320 kPa foi mantido durante 96 horas, para
possibilitar maior precisão na obtenção do coeficiente de compressão secundária (cα).

5
Spannenberg, 2003

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 61


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

3.25

3.00

estágio 1
2.75
estágio 2
estágio 3
estágio 4
2.50
estágio 5
estágio 6

2.25 estágio 7
e

2.00

1.75

1.50

1.25
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
log t

Figura 40 . Método de Casagrande

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 62


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

3.25

estágio 1
estágio 2
3.00
estágio 3
estágio 4

estágio 5
2.75
estágio 6
estágio 7

2.50

2.25
e

2.00

1.75

1.50

1.25
0 100 200 300 400 500 600
raiz t

Figura 41 . Método de Taylor

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 63


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

6.1.2.7. Coeficiente de Compressão Secundária (Cα)

A fase de adensamento primário termina quando o excesso de poro-pressão gerado é


integralmente dissipado (Δuo=0) e transferido para tensão efetiva. Em alguns casos o solo
continua a variar de volume. Esta deformação adicional é atribuída à busca das partículas para
uma condição mais estável de se arranjo estrutural.
A determinação deste coeficiente de compressibilidade, denominado coeficiente de
compressão secundária (Cα), é feita plotando-se, para cada estágio de carga, a variação do índice
de vazios em função do logaritmo do tempo. Para tal, os deslocamentos verticais (Δh) obtidos pela
leitura do extensômetro podem ser transformados em índice de vazios a partir da expressão:
( 1 + eo )
e = ei − Δh
Ho (6.9)
onde ei é o índice de vazios ao início do estágio, eo e Ho índice de vazios e altura inicial da
amostra. A Figura 42 o trecho da curva e × log t a partir do qual o coeficiente Cα é calculado.
Ressalta-se que o intervalo de tempo a ser considerado varia do final do adensamento primário
(tp) a um tempo final (tf).

Δe Δe
Cc = − =−
Cα Δ log t tf
log
t p1
tp tf
(6.10)
log t
Adensamento Compressão
primário secundária

Figura 42. Coeficiente de Compressão Secundária

Resultados experimentais indicam como valores típicos para o coeficiente de compressão


secundária, os valores apresentados na Tabela 2

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 64


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Tabela 2. Valores Típicos de Cα (Lambe e Whitman, 1969)

Solo Cα
Argila normalmente adensada 0,005 a 0,02
Solos orgânicos > 0,03
Argilas pré-adensadas < 0,001

A Figura 43 mostra o resultado de um ensaio de adensamento convencional em que a


amostra foi mantida sob carga constante por um período de 96 horas. Admitindo que as fases de
adensamento primário e secundário ocorram em seqüência, estima-se sejam necessárias 1,67
horas (t100) para a dissipação dos excessos de poro pressão gerados na etapa do adensamento
primário. Com isto estima-se um coeficiente de compressão secundária igual a 0,06. Este valor
concorda com a faixa de valores sugerida por Ladd (1971), que indica que o coeficiente de
compressão secundária deve apresentar um valor entre 0,065 e 0,100 para solos com
características da argila do Sarapuí.

1.70
σv = 320 kPa
1.65

1.60
índice de vazios (e)

1.55

1.50

1.45

1.40

1.35

1.30

1.25
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
log t (seg)

Figura 43. Variação do índice de vazios em função do tempo (Spannenberg, 2003)

Os valores de coeficiente de compressão secundária (cα) obtidos para a argila mole da


escavação experimental do Sarapuí, relatados por Sayão (1980), apresentam uma média da
ordem de 0,045. Este valor fica um pouco mais baixo do que o sugerido por Ladd (1971).

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 65


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

6.1.2.8. Coeficiente de Permeabilidade (k)

A dedução da equação de adensamento, apresentada no Capítulo 5, define o coeficiente


de adensamento a partir do conjunto de parâmetros presentes na equação diferencial; isto é:

k z .(1 + e)
cv =
a v .γ w (6.11)
Desta forma, uma vez conhecidos os parâmetros de compressibilidade e coeficiente de
adensamento, é possível estimar indiretamente o valor do coeficiente de permeabilidade do solo,
utilizando-se as seguintes expressões.

av
k z = cv γ
(1 + eo ) w (6.12)
ou

k z = cv mvγ w (6.13)

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 66


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

6.2. ENSAIO DE ADENSAMENTO COM VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO

CONSTANTE (CRS)

Os ensaios de adensamento contínuo podem ser de vários tipos: com velocidade


constante de deformação (Wissa et al., 1971), velocidade constante de carregamento, fluxo
contínuo, e de gradiente constante. Dentre estes, o ensaio do tipo CRS (“Constant Rate of Strain
Test”) é o mais utilizado.
O CRS consiste em aplicar ao corpo de prova um carregamento vertical com velocidade
constante de deformação ε& v (Figura 44). A drenagem é permitida em apenas uma das faces do
corpo de prova, em geral o topo. A outra face deve ser mantida sob condições não drenadas, de
forma a possibilitar a medição das poropressões geradas pelo carregamento. Considerando-se uma
distribuição de poropressões parabólica ao longo da altura do corpo de prova, pode-se obter a
tensão efetiva média em qualquer instante do ensaio. Assumindo que a poropressão tenha uma
distribuição parabólica, conforme mostra a figura abaixo, tem-se então que a poropressão média é
2 2
um = u b ⇒ σ′v = σ v − u b
3 3

σv
ut=0

poropressão Tensão efetiva


vertical

ub σ’v ub
ub≠0 σv
Transdutor de
pressão
Figura 44. Esquema do ensaio CRS

A aplicação do carregamento vertical pode ser feita pela mesma prensa utilizada em
ensaios triaxiais de deformação controlada. São medidos nestes ensaios, de modo contínuo, os
valores da tensão vertical total aplicada no topo (σv), a poropressão na base (ub) e a variação da
altura (Δh) do corpo de prova.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 67


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Este tipo de ensaio foi desenvolvido para contornar 2 limitações básicas do ensaio
convencional:
i) ampliar o numero de pontos que definem a curva e x log σv’ e, desta forma,
melhorar a definição da tensão de pré-adensamento σ′vm ;

1.0

0.9

0.8
e/e o

0.7
Índice de Vazios

0.6

0.5

0.4

0.3

0.2
1 10 100 1000
Tensão Efetiva (kPa)

Figura 45 – Resultado de ensaio CRS6

ii) reduzir o tempo necessário para realização de ensaios em solos de baixa


permeabilidade. Enquanto um ensaio convencional tem duração de 10 a 15 dias, o ensaio
contínuo pode requerer cerca de 1 dia para ser executado.

6
Spannenberg, 2003

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 68


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

O ensaio foi idealizado por Hamilton e Crawford (1959)7, com objetivo de determinar o
valor de σ′vm com mais rapidez e precisão. A partir de resultados de ensaios com ε& v = 0,3%/H a
9%/H os autores observaram a influência da velocidade de deformação. Altas velocidades de
deformação geram altos valores de poro-pressão e, consequentemente, gradientes
hidráulicos muito superiores aos observados no campo.
Posteriormente, Crawford (1964)8 observou que esta influência é muito pequena desde
que a poropressão na base ub ≈ 5% a 8% Δσv
Wissa et al. (1971)9 realizaram um amplo programa de pesquisa em amostras
reconstituídas da argila de Boston. Os ensaios foram limitados a . ε& v = 0,6%/H a 2,9%/H e as

curvas e x log σv’ foram semelhantes às dos ensaios convencionais. Os autores sugeriram que ub /
σv =2 a 5%, de forma a garantir que os baixos gradientes mantenham a validade da hipótese de
coeficiente de variação volumétrica (mv) constante.
Ribeiro (1992), Carvalho et al. (1993) e Garcés (1995) fizeram uma revisão ampla sobre o
assunto e da formulação teórica proposta por Wissa et al. (1971) para o ensaio CRS. As hipóteses
básicas adotadas para este ensaio são: o solo é saturado, as partículas sólidas e o fluído são
incompressíveis, as deformações são infinitesimais, as deformações e o fluxo se dão em uma
única direção e cv não varia com o tempo.
A maior dificuldade associada à realização do ensaio CRS é a definição da velocidade

( ε& v ) adequada ao tipo de solo. A norma ASTM (1982), que fixa procedimentos para ensaios CRS,
indica valores de velocidade do ensaio em função do limite de liquidez do solo (Tabela 3). Esta
norma determina que o valor da razão de poropressão (ub/σv) deve estar entre 3% e 20%. Wissa
et al. (1971), por outro lado, sugerem que, se o valor de ub/σv for superior a 5%, a não
uniformidade no corpo de prova pode ser excessiva.

7
Hamilton, J J e Crawford, C B (1959) Improved Determination of Preconsolidation Pressure of a Sensitive Clay –
ASTM – STP 54 – Symposium on Time Rates of Loading in Soil Testing, American Society for Testing and Meterials
pp 254-271.
8
Crawford, C B (1964) Interpretation of Consolidadtion Test – Journal Soil Mechanics and Foundation Engineering ,
ASCE, vol 90, n. SMS, pp 93-108.
9
Vissa, E Z; Cristian, J T, Davis, E H e Heiberg, S (1971) – Consolidation at Constant Rate of Strain, Journal Soil
Mechanics and Foundation Engineering , ASCE, vol 97, n. SM10, pp 1393-1413.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 69


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Tabela 3. Velocidade para CRS em função do limite de liquidez ( ASTM, 1982)

Velocidade ( ε& v ) (s-1) Velocidade ( ε& v ) (%/h)


Limite de Liquidez (%)

< 40 6,67 x 10-6 2,400


40 – 60 1,67 x 10-6 0,600
-7
60 – 80 6,67 x 10 0,240
-7
80 – 100 1,67 x 10 0,060
-8
100 – 120 6,67 x 10 0,024
-8
120 – 140 1,67 x 10 0,006

Os limites recomendados para ensaios CRS por outros autores para diferentes tipos de
argila, estão resumidos na Tabela 4. Alguns autores se restringiram a avaliar apenas a velocidade
de deformação, outros a avaliar a razão de poropressão, outros ainda avaliaram os dois aspectos
conjuntamente.

Tabela 4. Proposições para velocidade dos ensaios CRS10

Material ε& v ub/σv Observação Autor


( %/h) (%)

Argila mole 0,3 a 9,0 - - Hamilton & Crawford (1959)


Argila sensitiva de Leda 7 a 14 5a8 - Crawford (1964)
Argila sensitiva de Massena - < 50 - Smith & Wahls (1969)
Argila azul de Boston 0,6 a 2,9 2a5 ucp = 500 kPa Wissa et al. (1971)
Diferentes materiais 0,2 a 5,2 < 32 ucp = 69 kPa Gorman et al. (1978)
Argila mole sensitiva de
0,1 a 4,1 - ucp = 200 kPa Vaid et al. (1979)
Saint-Jean-Vianney
- - 3 a 20 Tabela 5 ASTM (1982)
Argilas da Suécia 0,72 < 15 - Larson & Sallfors (1986)
Argilas da Noruega 0,5 a 1,0 2a7 - Sandbaekken et al. (1986)
Argila mole do Sarapuí - < 30 ucp = 0 ; S = 100% Carvalho (1989)

Argila mole do Sarapuí - 10 a 60 75% < U < 95% Carvalho et al. (1993)

Wissa et al. (1971) propuseram a metodologia para interpretação do ensaio CRS. Esta
metodologia admite que a deformação é infinitesimal (Apêndice III). Os autores apresentam duas
soluções para o cálculo de cv, considerando o comportamento do solo como sendo linear e

10
Spannenberg (2003) tese mestrado PUC-Rio

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 70


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

considerando o comportamento não-linear. Aqui serão apresentados a formulação e o resultado


obtido para as diferentes considerações. As equações propostas por Wissa et al. (1971) estão
apresentadas a seguir:

H 2 ⎛ Δσ v ⎞
Equação linear ⇒ cv = ⎜ ⎟
2ub ⎝ Δt ⎠

⎛σ ⎞
H 2 log⎜⎜ v 2 ⎟⎟
Equação não-linear ⇒ cv = − ⎝ σ v1 ⎠
⎛ u ⎞
2Δt log⎜⎜1 − b ⎟⎟
⎝ σ v1 ⎠
onde: H = altura do corpo de prova; ub = poro-pressão na base; v = variação da tensão total;
t = intervalo de tempo; v1 = tensão total no início do intervalo t; v2 = tensão total no tempo
final do intervalo t.

6.2.1. PROCEDIMENTO DE ENSAIO11


O ensaio de adensamento CRS (“Constant Rate of Strain”) consiste essencialmente na
aplicação gradual de carga na amostra, como resultado da imposição de uma taxa de deformação
constante. Durante o ensaio, a drenagem é permitida pelo topo do corpo de prova, enquanto a
base é mantida sob condição não drenada, com medição de poropressões. O ensaio é realizado
em uma prensa para aplicação de carregamento uniaxial. A Figura 46. Prensa utilizada para os
ensaios CRS Figura 46 mostra o equipamento utilizado.
Corpos de prova com diâmetro médio de 8,73cm e altura média de 2,00cm são moldados
por cravação lenta do anel metálico no próprio amostrador. A célula de adensamento é então
montada, tomando-se o cuidado de introduzi-la em um recipiente com água destilada para garantir
a saturação completa do sistema de medição de poropressão.

11[
Spannenberg, 2003

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 71


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Figura 46. Prensa utilizada para os ensaios CRS

Com as válvulas de drenagem abertas, a parte superior da célula contendo o corpo de prova
é instalada, evitando assim a formação de bolhas de ar. A célula de adensamento era então
posicionada na prensa para aplicação de carregamento uniaxial.
A aquisição de dados pode ser feita com 3 instrumentos eletrônicos acoplados ao sistema
do ensaio: um LSCDT (deslocamento vertical), uma célula da carga (força vertical) e um
transdutor de pressão (poropressão na base). Desta forma, é possível obter as leituras de maneira
automatizada.
Previamente à realização dos ensaios, os instrumentos de medição de deslocamento
(LSCDT), carga (célula de carga) e poropressão (transdutor) devem ser calibrados.
A principal dificuldade do emprego de ensaios CRS é a definição da velocidade adequada de
deformação. Esta velocidade deve ser tal que a geração de poropressão na base seja no máximo
igual a 40 % da tensão total, segundo as recomendações de Carvalho (1993). A velocidade de
deformação não deve ser superior a 3,8 x10-5 s-1, segundo Crawford (1964). Para tal, recomenda-se
que seja executado, inicialmente, um ensaio piloto que permita a estimativa da velocidade mais
adequada.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 72


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

6.2.2. RESULTADOS EXPERIMENTAIS


Apresenta-se abaixo o resultado de 4 ensaios (CRS-01, CRS-02, CRS-03 e CRS-05) com
velocidades distintas e também um ensaio adicional (CRS-04) com amostra previamente
amolgada. O material utilizado foi extraído da argila mole da baixada fluminense (Maristani, 2003)
A Tabela 5 resume os valores das velocidades adotadas para este estudo, após as correções
relativas aos ajustes das engrenagens da prensa.
O ensaio com amostra previamente amolgada foi realizado para avaliar a influência da
qualidade da amostragem e moldagem do corpo de prova. Para este ensaio foi necessário o
amolgamento completo da estrutura original da amostra. O amolgamento da amostra efetuou-se
durante cerca de 15 minutos sob volume constante. A amostra foi acondicionada em 3 sacos
plásticos sobrepostos evitando-se a perda de umidade do solo saturado durante o processo.

Tabela 5 - Velocidades dos ensaios CRS

Ensaio no CRS-01 CRS-02 CRS-03 CRS-04 CRS-05


Velocidade (mm/min) 0,082 0,035 0,007 0,007 0,002
-1 -5 -5 -5
Velocidade deformação (s ) 6,8 x 10 2,9 x 10 0,58 x 10 0,58 x 10 -5
0,17 x 10-5
Nota: o ensaio CRS-04 foi realizado com amostra previamente amolgada

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 73


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

6.2.2.1. Influência da velocidade dos Ensaios CRS

A velocidade de deformação nos ensaios CRS foi estudada a partir da variação da razão
de poropressão (ub / v) gerada nos corpos de prova. Na Figura 47 estão plotadas as curvas da
razão de poropressão em função da tensão efetiva. Como já esperado, os ensaios mais lentos
geram menores excessos de poropressão, garantindo maior uniformidade no interior do corpo de
prova.

80

70
CRS-01
60

50
ub /σv (%)

CRS-02
40

30
CRS-04
20
CRS-03
10 CRS-05

0
0 100 200 300 400 500 600 700
Tensão Efetiva (kPa)

Figura 47- Valores da razão de poropressão nos ensaios CRS

Dentro dos limites de ub / v, sugeridos pelos vários autores Tabela 4, o ensaio CRS-05,
realizado com velocidade de deformação igual a 0,002 mm/min, enquadra-se melhor nos padrões
definidos como aceitáveis para a razão de poropressão, apresentando um valor de ub / v = 7%.
Nota-se que a razão ub / v no trecho inicial do ensaio varia consideravelmente, porque a
poropressão na base (ub) é muito pequena para valores de ’v abaixo da tensão de pré-
adensamento. Uma vez ultrapassada a tensão de pré-adensamento, tanto ub quanto ’v
experimentam um aumento acentuado, tornando a razão ub / v virtualmente constante. Este
comportamento também foi observado por Carvalho et al. (1993).
Os ensaios CRS-03 e CRS-04 foram realizados na mesma velocidade. Entretanto, o
resultado do ensaio CRS-04 foi obtido em amostra previamente amolgada. Os resultados mostram
para o ensaio com material amolgado uma maior geração de poropressão.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 74


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Ensaios SIC

Com o objetivo de comparar os resultados dos ensaios CRS com os ensaios SIC, foi feita
uma estimativa da velocidade de deformação para os ensaios convencionais de adensamento.
Esta estimativa foi feita para cada estágio do ensaio, ou seja, para os diferentes níveis de tensão
efetiva. Outra variável estudada foi a porcentagem de deformação atingida em um intervalo de
tempo. Desta forma, para cada estágio, foram obtidas duas velocidades distintas, v100 e vf. Cada
uma delas é representativa de um determinado intervalo de tempo: t100 (100% de adensamento
primário) e tempo total de duração do estágio (tempo de 24 horas).
A Tabela 6 resume os valores de velocidade e a Figura 48 mostra que esta sofre
variações menos acentuadas na região normalmente adensada ( ’vm > 35kPa).

Tabela 6 - Velocidades dos ensaios SIC

σ’ med v100 vf (24 h)


(kPa) (mm/min)
Estágio 2 7,5 0,0013 0,0001
Estágio 3 15 0,0007 0,0001
Estágio 4 30 0,0008 0,0006
Estágio 5 60 0,0029 0,0024
Estágio 6 120 0,0023 0,0016
Estágio 7 240 0,0022 0,0013

0,0035

0,0030
Velocidade (mm/min)

0,0025

0,0020

0,0015

0,0010
t100
0,0005
tf 24hs
0,0000
0 40 80 120 160 200 240 280
Tensao Efetiva Média (kPa)

Figura 48. Valores da velocidade de deformação em ensaios SIC

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 75


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

História de tensões
Na Figura 49, estão apresentadas as curvas do índice de vazios com a tensão efetiva para
os ensaios CRS, em conjunto com o ensaio de adensamento convencional SIC-01
1.1

1.0

0.9
Índice de Vazios e/e o

0.8
CRS-03
0.7

0.6 CRS-04
CRS-05
0.5 SIC-01
CRS-02
0.4

0.3 CRS-01

0.2
1 10 100 1000
Tensão Efetiva (kPa)

Figura 49 -Efeito da variação da velocidade de deformação no ensaio CRS

Os resultados mostram que a curva do ensaio CRS-03 sugere um leve amolgamento,


evidenciado pela suavização da curva no trecho inicial. A partir da tensão efetiva de 100kPa o
resultado do ensaio se mostra mais coerente com os demais. Ainda assim o valor da tensão de
pré-adensamento estimado para este ensaio não foi muito diferente do obtido para os demais.
Na Tabela 7 estão apresentados os valores da tensão de pré-adensamento e OCR dos
ensaios de adensamento convencional (SIC) e de deformação controlada (CRS) realizados na
campanha experimental Rio-Polímeros II. Adicionalmente estão incluídas as velocidades
associadas a cada ensaio.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 76


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Tabela 7. Valores de tensão de pré-adensamento e OCR

Ensaio no σ’vm OCR Velocidade


(kPa) (mm/min)
SIC-01 35 1,40 0,002
SIC-02 35 1,40 0,002
CRS-01 55 2,20 0,082
CRS-02 38 1,52 0,035
CRS-03 40 1,25 0,007
CRS-04 7 0,22 0,007
CRS-05 42 1,47 0,002

Os resultados indicam um leve pré-adensamento, com valores de OCR variando de 1,3 a


2,2, a partir de amostras consideradas de boa qualidade.
As diferenças nos valores de OCR dos ensaios CRS podem ser atribuídas às diferentes
velocidades de deformação. Esta influência, entretanto, só foi significativa no ensaio mais rápido
(CRS-01), pois os demais fornecem OCR aproximadamente igual a 1,5. O amolgamento da
amostra (CRS-04) acarreta em uma redução significativa no valor de OCR.
A velocidade de deformação estimada para o ensaio SIC apresentou valor aproximado à
velocidade do ensaio CRS-05. Assim, fica possível avaliar os resultados dos ensaios CRS frente
aos resultados dos SIC. Neste caso, analisando os valores de OCR, percebe-se que o ensaio
CRS mais lento (CRS-05) tem valor mais próximo ao encontrado nos ensaios SIC (1,47 e 1,40
respectivamente).
A dispersão dos valores de OCR encontrados em duas campanhas (Rio-Polímeros I e II)
pode ser verificada na Figura 50, juntamente com valores obtidos por outros autores na argila
mole da Baixada Fluminense

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 77


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

OCR
0 5 10 15
0
Profundidade (m)

Rio-Polímeros I

4 Rio-Polímeros II
(Sayão, 1980)
(Garcés, 1995)
(Ortigão, 1980)
6

Figura 50 -Valores do OCR para a argila do Rio de Janeiro

Índices de compressibilidade
A Figura 51 e Figura 52 mostram os valores de índice de recompressão (cr), índice de
compressão (cc) e índice de descompressão (cs) em função das velocidades de deformação.

0.35

0.30

0.25
Índices cr, cs

0.20

0.15

0.10
CRSs
0.05 CRS-04
SIC
0.00
0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10
Velocidade de deformação (mm/min)

Figura 51. Variação de cr e cs em função da velocidade de deformação

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 78


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

3.0

Índice de Compressão (c c)
2.5

2.0

1.5

1.0
CRSs
0.5 CRS-04
SIC
0.0
0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10
Velocidade de deformação (mm/min)

Figura 52. Variação do cc em função da velocidade de deformação

Observa-se que os resultados de CRS sugerem uma tendência de apresentar valores mais
baixos de cc, cr e cs para maiores velocidades de deformação. O valor de cr resultante do ensaio
CRS-03 (com v = 0,007 mm/min) é inferior aos demais, face aos indícios de amolgamento da
amostra utilizada neste ensaio. Este indício mais uma vez se confirma pelo resultado similar ao do
ensaio CRS-04, este sim, amolgado. Os valores resultantes dos ensaios SIC tendem a ser
inferiores aos do CRS. Cabe lembrar que pode haver imprecisões na definição da velocidade de
deformação dos ensaios SIC, visto que foram adotados valores médios e conseqüentemente
considerada válida a hipótese de velocidade constante para todo estágio.
A Figura 53 e Figura 54 compara com dados experimentais de outros autores.
Cr, Cs
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
0
Rio-Polímeros I
R-P II - SIC
1 R-P II - CRS-01
Profundidade (m)

2 2 R-P II - CRS-02

3 R-P II - CRS-03

1 2 4 R-P II - CRS-04

4 5 R-P II - CRS-05
5 (Sayão, 1980)
3 4
(Garcés, 1995)
(Ortigão, 1980)
6

Figura 53 -Valores do cs para a argila do Rio de Janeiro

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 79


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Cc
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
0
Rio-Polímeros I
R-P II - SIC
1 R-P II - CRS-01
Profundidade (m)

2 2 R-P II - CRS-02
3 R-P II - CRS-03
2
1 4 R-P II - CRS-04

4 5 R-P II - CRS-05
5
4 3 (Sayão, 1980)
(Garcés, 1995)
(Ortigão, 1980)
6

Figura 54 - Valores do cc para a argila do Rio de Janeiro

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 80


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Coeficiente de adensamento vertical (cv)

Wissa et al. (1971) apresenta duas soluções alternativas para o cálculo de cv em ensaios
CRS, considerando o solo com comportamento linear ou não-linear. Na Figura 55 estão
apresentadas as curvas obtidas no ensaio CRS-05, para as duas considerações. Pode-se
perceber que os resultados são bastante próximos, praticamente coincidentes na região
normalmente adensada. Assim sendo, os valores de cv apresentados no presente trabalho foram
calculados considerando comportamento linear.
10
( x 10 -2cm²/s)

Solução Não-Linear
1
C V
Coeficiente de Adensamento

Solução Linear

0.1

0.01
1 10 100 1000
Tensão Efetiva (kPa)

Figura 55 -Valores de Cv - Ensaios CRS

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 81


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Na Figura 56 estão apresentados os valores de cv para os ensaios CRS e SIC Observa-se


que cv diminui com o aumento da tensão efetiva. Nota-se também que o valor de cv sofre redução
ao se diminuir a velocidade de deformação. O ensaio mais lento (CRS-05) apresenta resultados
semelhantes aos do ensaio convencional, na região normalmente adensada. Adicionalmente
percebe-se que o ensaio CRS-03 apresenta curva bastante distinta, para o trecho até 100kPa.
Após esta tensão, o ensaio apresenta a mesma tendência percebida para os demais ensaios.
O ensaio CRS-04, que foi realizado com amostra amolgada e na mesma velocidade de
deformação do ensaio CRS-03, apresenta valor de cv um pouco mais baixo que os demais.
Entretanto, segue ainda a mesma tendência, reduzindo o seu valor até a tensão de pré-
adensamento e tornando-se constante logo após.
10

CRS-01
( x 10 -2cm²/s)

CRS-02
1
V

CRS-05
Coeficiente de Adensamento C

SIC-01
0.1

CRS-03

CRS-04
0.01

0.001
1 10 100 1000
Tensão Efetiva (kPa)

Figura 56 –Comparação da variação do cv para os ensaios CRS

Na Figura 57 estão apresentadas as variações de cv em função da velocidade de


deformação dos ensaios CRS. Através da indicação do nível de tensão analisado, observa-se

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 82


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

que, no trecho de recompressão, há tendência de crescimento, seguido de redução do cv. Já no


trecho virgem, existe o mesmo crescimento inicial e, para as velocidades mais elevadas, há uma
tendência de crescimento de cv com o aumento da velocidade. Esta tendência de crescimento
torna-se menos significativa com o aumento do nível de tensão efetiva. No caso de ’vm =
300kPa, a curva é aproximadamente horizontal, sugerindo que não depende da velocidade de
deformação.
Observa-se, também, que os resultados dos ensaios SIC são bastante concordantes com
os dos CRS para as tensões do trecho virgem. O resultado do ensaio amolgado (CRS-04) não
parece variar com o nível de tensão efetiva.

10
CRS-04
SIC
CRS
( x 10 -2cm²/s)

σ' = 30
SIC 30 kPa
σ' = 100
SIC 120 kPa σ' = 20 kPa
σ' = 300
SIC 240 kPa

1
V
Coeficiente de Adensamento C

σ' = 30 kPa

σ' = 100 kPa

0.1
σ' = 120 kPa

σ' = 240 kPa

CRS-04 σ' = 300 kPa


0.01
0.000 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060 0.070 0.080 0.090
Velocidade de deformação (mm/min)

Figura 57 –Variação do cv em função da velocidade de deformação

Na Figura 58 estão apresentados os valores de cv (método de Taylor) obtidos na área da


Rio-Polímeros juntamente com resultados apresentados por outros autores. Observa-se que estes
resultados apresentam um comportamento similar ao descrito por Ortigão (1993). Para tensões
inferiores ou aproximadamente iguais à tensão de pré-adensamento ( ’vm), a dispersão é

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 83


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

bastante grande, ocorrendo valores de cv altos e até mesmo externos à faixa proposta. Já para
tensões superiores a ’vm, no trecho de compressão virgem, o valor de cv mantém-se
aproximadamente constante. Os resultados apresentados se enquadram dentro da faixa proposta.

Figura 58 –Adequação dos valores de cv à faixa proposta por Ortigão (1993)

Coeficiente de variação volumétrica (mv)


O coeficiente de deformação volumétrica (mv) é definido pela razão entre a deformação
vertical e o incremento de pressão efetiva vertical correspondente. Uma maneira alternativa de se
avaliar a compressibilidade do material é através da determinação do módulo de
compressibilidade (M ou D) definido como o inverso do módulo de variação volumétrica (mv).
Na Figura 59 estão apresentadas as curvas do módulo de compressibilidade em função da
tensão efetiva para os ensaios CRS. Observa-se que os valores de M tendem a diminuir ou

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 84


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

permanecer quase constantes na região pré-adensada, passando a aumentar sensivelmente na


região normalmente adensada. Esta tendência é mais evidenciada conforme o aumento da tensão
efetiva.
Com o decréscimo da velocidade de deformação, o módulo M sofre um aumento, como
pode-se perceber pela região final das curvas dos ensaio CRS-03 e CRS-05, que foram os dois
ensaios mais lentos do programa experimental.
Na Figura 59, observa-se que a amostra do ensaio CRS-03 dá indícios de um leve
amolgamento, já que o formato da curva é próximo ao formato obtido para o ensaio CRS-04, este
sim realizado com amostra amolgada.
Pode-se observar também que o inverso do coeficiente de variação volumétrica (mv),
obtido no ensaio SIC-01 coloca-se concordante com os resultados de CRS. Este resultado situa-
se entre os resultados dos ensaios CRS-05 e CRS-02.
50
Módulo de Compressibilidade M (x 10 2 kN/m²)

45

40

35

30
CRS-05
25
CRS-04
20

15
SIC-01
CRS-02 CRS-01
10
CRS-03
5

0
1 10 100 1000
Tensão Efetiva (kPa)

Figura 59 – Comparação da variação do módulo M para os ensaios CRS

Na Figura 60 estão apresentadas as variações de M em função da variação da velocidade


de deformação dos ensaios CRS. No trecho de recompressão há uma redução do valor de M
seguida de tendência de se tornar constante. O resultado do ensaio SIC tem valor
significativamente mais baixo do que os resultados de CRS para este nível de tensão.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 85


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

20
SIC
18
σ' =3030 kPa
SIC
Módulo de Compressibilidade M (x 10 2 kN/m²)

16

14

12

10
CRS
8
σ' = 20 kPa
6

σ' = 30 kPa
4

0
0.000 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060 0.070 0.080 0.090
Velocidade de deformação (mm/min)

Figura 60 – Variação do módulo M para o trecho de recompressão

Na Figura 61 que apresenta as variações de M no trecho virgem, ocorre uma elevação


deste módulo com o aumento do nível de tensão. Existe uma tendência de diminuição dos valores
de M com o aumento da velocidade. Esta tendência é menos significativa para os níveis de tensão
efetiva mais baixos. No caso de ’vm = 100 kPa, a curva é aproximadamente horizontal,

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 86


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

sugerindo que não depende da velocidade de deformação. Os ensaios SIC apresentam resultados
um pouco dispersos.

20

18
Módulo de Compressibilidade M (x 10 2 kN/m²)

16 CRS

σ' = 300 kPa


14

12

10 σ' = 240 kPa

6 σ' = 120 kPa

4
SIC
σ' = 100 kPa
2 σ' = 100
SIC 120 kPa
σ' = 300
SIC 240 kPa
0
0.000 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060 0.070 0.080 0.090
Velocidade de deformação (mm/min)

Figura 61 – Variação do módulo M para o trecho virgem

Coeficiente de permeabilidade (k)


Os valores correspondentes ao coeficiente de permeabilidade (k) foram obtidos a partir dos
ensaios de adensamento SIC e CRS.
Os ensaios SIC permitem uma estimativa indireta do coeficiente k, em função dos
coeficientes de adensamento e de variação volumétrica (k = cv mv γw). Nos ensaios CRS, k é
obtido através de correlações com a poropressão gerada na base, conforme a formulação de
Wissa et al. (1971). Na Figura 62, estão apresentadas as curvas da permeabilidade em função da
tensão efetiva. Observa-se que a permeabilidade diminui com o aumento da tensão efetiva e com
o decréscimo da velocidade de deformação.
Para o ensaio CRS-03, os valores de k não concordam com o comportamento descrito,
evidenciando um amolgamento no trecho inicial ( 'v < 100 kPa). Após 100kPa, os valores de k
para este ensaio seguem a mesma tendência dos demais. Ainda na mesma figura, está

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 87


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

apresentada a curva da permeabilidade em função da tensão efetiva, para o ensaio CRS-04


(amolgado). Os valores são ligeiramente mais baixos do que para o ensaio CRS-03 (realizado
com a mesma velocidade de deformação), permanecendo estes valores na faixa de 1 a 100 x 10-
8 cm/s.

1000

CRS-02
cm/s)

CRS-01
CRS-05
100
-8
Coeficiente de Permeabilidade k ( x 10

CRS-03

SIC-01

10

CRS-04

0.1
1 10 100 1000
Tensão Efetiva (kPa)

Figura 62 – Comparação da variação de k para os ensaios

Na Figura 63 estão apresentadas as variações de k em função da variação da velocidade


de deformação dos ensaios CRS. Observa-se que, no trecho de recompressão, há tendência de
crescimento de k, seguido de redução. Já no trecho virgem, ocorre o mesmo crescimento inicial.
Para as velocidades mais elevadas, vê-se uma tendência de crescimento com o aumento da
velocidade a qual se torna menos significativa com o aumento do nível de tensão efetiva. No caso

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 88


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

de ’vm = 300 kPa, a curva é aproximadamente horizontal, sugerindo que não depende da
velocidade de deformação.
Observa-se, também, que os resultados dos ensaios SIC concordam com os CRS para as
tensões no trecho virgem.
10000
CRS-04
SIC 30
σ' = 30
SIC 30 kPa
σ' = 100
SIC 120 kPa
σ' = 300
SIC 240 kPa
CRS
1000
σ' = 20 kPa
cm/s)
-8
Coeficiente de Permeabilidade k ( x 10

σ' = 30 kPa
100

σ' = 100 kPa


10
σ' = 120 kPa

σ' = 240 kPa

σ' = 300 kPa


1
CRS-04

0.1
0.000 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060 0.070 0.080 0.090
Velocidade de deformação (mm/min)

Figura 63 – Variação de k com a velocidade de deformação

7. CASOS PARTICULARES

7.1. CARREGAMENTO NÃO INSTANTÂNEO


No desenvolvimento da equação de adensamento unidimensional admitiu-se que a parcela
que considera nula a variação da tensão total em função do tempo; isto é, o carregamento é

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 89


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

considerado instantâneo. Na prática, as cargas são aplicadas ao longo do período construtivo,


conforme representa-se esquematicamente na Figura 64.
carga

período de construção

escavação

tempo

Figura 64. Evolução de carregamento com o tempo

Para incorporar o período construtivo na solução de adensamento, Terzaghi propôs um


método empírico para corrigir a curva de carregamento instantâneo. Neste método, a correção é
estabelecida considerando a proporcionalidade entre a carga efetivamente aplicada durante a
construção e o recalque calculado considerando o carregamento instantâneo.
O procedimento proposto, apresentado na Figura 65, considera, para tempos superiores
ao tempo de carregamento, um deslocamento horizontal da curva de carregamento instantâneo
igual à metade do tempo de carregamento (tc/2). Para tempos inferiores ao tempo de construção
(t1<tc), determina-se o recalque correspondente ao tempo igual à metade de t1, traça-se então uma
reta horizontal até a reta vertical que passa por tc; em seguida, une-se este ponto ao tempo zero.
A interseção desta reta com a correspondente à t1 define o ponto corrigido da curva - tempo x
recalque.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 90


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

carga

tempo

tc
t1/ 2 t1
t( anos)

tc/ 2
Carregarregamento
Lento
Carregamento
Instantâneo
ρ
(mm)

Figura 65. Correção da Curva de Carregamento Instantâneo

7.2. CAMADAS DE ESPESSURA ELEVADA


A expressão para cálculo de recalques de adensamento pode ser subdividida em 3
parcelas: ρ = constante × parâmetro de compressibilidade × variação de tensão efetiva.
No caso de camadas de espessura elevada é possível haver uma variação da
compressibilidade ao longo da profundidade Nestes caso, recomenda-se a subdivisão da
camada compressível em sub-camadas, sendo o recalque calculado como o somatório dos
recalque individuais de cada sub-camada.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 91


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Exemplo 4
Uma camada de argila de 8 m de espessura situa-se entre duas camadas de areia. A
espessura da camada superior de areia é de 4 m. O NA encontra-se a 2 m de profundidade. A camada de
areia subjacente está submetida a um artesianismo, sendo o NA correspondente associado a um NA 6 m
acima do nível do terreno. Os pesos específicos saturados da areia e da argila, respectivamente são: 20
kN/m3 e 19 kN/m3. O peso específico da areia acima do NA é 16kN/m3. Para a argila, mv = 9,4x10-4 m2/kN e
Cv = 4,5x10-8 m2/s. Devido a um bombeamento o nível artesiano cai para 3m em um período de 2 anos,
sendo este também o tempo de carregamento. Desenhe a curva recalque x tempo devido ao adensamento
da argila num período de 5 anos desde o início do bombeamento

uo = (6+4+8)x10 = 180 kPa


uf = 150 kPa, Δu = 30 kPa
tc = 2 anos

a) carregamento instantâneo:
ρ = mv . Δσ’ . Ho = ,

2 m 5 kPa

7,5 kPa
2 m
1 1,2 5 kPa
1 5 kPa
2 m
1 8,75 kPa
2 2,5 kPa
2 m
2 6,2 5 kPa
3 0 kPa

ρ1 = (9,4 x10 − 4 )x⎜ 7 ,5 x ⎟ x 2 = (9,4 x10 − 4 )x(5)x 2 = 0,0094 m


⎛ 2⎞
⎝ 3⎠
⎛ 15 + 7 ,5 ⎞
ρ 2 = (9,4 x10 − 4 )x⎜ ⎟ x 2 = 0,021 m
⎝ 2 ⎠
⎛ 22 ,5 + 15 ⎞
ρ 2 = (9 ,4 x10 − 4 )x⎜ ⎟ x 2 = 0,035 m
⎝ 2 ⎠
⎛ 30 + 22 ,5 ⎞
ρ 4 = (9 ,4 x10 − 4 )x⎜ ⎟ x 2 = 0 ,049 m
⎝ 2 ⎠
∑ρi = 0,115 m

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 92


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Cálculo da curva ρ x t (instantâneo):

T=
(4,5x10 ). t = 0,089. t (anos)
−8

42

Tempo (anos) T
U ρ (t ) = U . ρ t (m)
1 0,089 0,34 0,032
2 0,177 0,47 0,044
3 0,266 0,56 0,053
4 0,355 0,66 0,062
5 0,443 0,73 0,069

1 2 3 4 5

t( anos)
20
tc/ 2

40 tc/ 2

tc/ 2
60 tc/ 2 carreg.lento
carregamento instantâneo

80

ρ(mm)

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 93


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

7.3. ADENSAMENTO UNIDIMENSIONAL COM GRANDES DEFORMAÇÕES12


Martins e Abreu (2002) 13 propuseram uma solucao aproximada para calculo do recalque
para considerando grandes deformações, Os autores expressam o recalque decorrente de um
carregamento (Δσ), em termos de porcentagem da espessura inicial Ho da camada mole (Figura
66), como:
ρ = ε v .H o
onde: εv é a deformação específica vertical associada a um carregamento Δσ, a tempo infinito.
Ressalta-se que o valor do recalque ρ é determinado pela curva experimental εv vs σ’v de
laboratório.
Pela teoria clássica de adensamento de Terzaghi, a previsão do recalque para um dado
tempo t é feita a partir do fator tempo T, definido por:
c v .t
T=
H d2
Onde: Cv é o coeficiente de adensamento vertical e Hd é a altura de drenagem.

Figura 66. Adensamento unidimensional de uma camada de solo mole sob o incremento
de tensão vertical total Δσ

A partir do fator tempo T determina-se a porcentagem de adensamento associada U , que


permite a obtenção do recalque em um tempo t, e um ponto da curva recalque vs tempo.

Levando-se em consideração que, para um determinado valor de U , o tempo de


adensamento é diretamente proporcional ao quadrado da distância de drenagem, é de se esperar
que com a ocorrência de grandes deformações, os tempos de adensamento sejam inferiores aos

12
Juliano Lima – Dissertação de mestrado – UERJ
13 MARTINS, I. S. M e ABREU, R. R. S. Uma Solução Aproximada para o Adensamento Unidimensional com Grandes Deformações e Submersão de Aterros. Revista Solos e
Rochas, Vol. 25 (1), pp. 3-14, 2002.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 94


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

previstos pela teoria clássica, mantendo-se o valor de cv constante. Na teoria clássica não se
considera a diminuição da distância de drenagem que ocorre com a evolução do adensamento.
Assim, espera-se que os erros cometidos na previsão dos recalques com o tempo pelo uso da
teoria clássica sejam tão maiores quanto maiores forem as deformações (Martins e Abreu, 2002).
Em vista disso, Martins e Abreu (2002) propõem uma abordagem baseada na suposição
de que o recalque a tempo infinito seja expresso por εv.Ho.Por exemplo, a distância média
corrigida de drenagem correspondente à ocorrência de 5% de adensamento pode ser estimada
pela expressão:
0,05
H d 5 = H od − .ε v .H od
2
Onde: Hod = espessura inicial da camada.
Assim, o tempo necessário para a ocorrência de 5% de adensamento pode ser calculado
por:

T5 .(H od − 0,025.ε v .H od ) 2
t5 =
cv
Sendo: t5 o tempo aproximado para a ocorrência de 5% de adensamento e T5 o fator

tempo da teoria clássica associado a U =5%.


Partindo-se da Eq. 2-6, os autores porpõem um fator tempo modificado T5*, tal que:
c v .t 5
T5* = 2
= T5 .(1 − 0,025.ε v ) 2
H od
A partir desta abordagem, os autores construíram uma tabela com valores de fator tempo
modificados T* (Tabela 8), a partir de um processo incremental que leva em consideração o efeito
da diminuição da distância de drenagem.

Tabela 8. Valores de U x T* (Martins e Abreu, 2002)

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 95


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

7.4. O EFEITO DA SUBMERSÃO DE ATERROS 14


O problema de submersão traduz-se por um alívio ao longo do tempo da carga
efetivamente aplicada devido ao empuxo d’água que passa a atuar na parte do aterro que
submerge.
Admitindo-se que um aterro extenso tenha sido construído sobre uma camada de solo
mole, com nível d’água coincidente com a superfície do terreno, o acréscimo de tensão vertical
(Δσ) transmitido à camada será:
Δσ = γ.h Eq. 7-1

Sendo: γ e h iguais ao peso específico e à altura do aterro, respectivamente.


De acordo com a teoria de adensamento, o acréscimo de tensão vertical total se
transformará em acréscimo de tensão efetiva (Δσ’) a longo prazo, e o recalque será determinado
pela curva do ensaio oedométrico para esta variação da tensão efetiva.

14
Juliano Lima – Dissertação de mestrado – UERJ

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 96


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

No entanto, ao final do processo de adensamento, a submersão do aterro provocará uma


redução no acréscimo de tensão efetiva, ou seja, o incremento de tensão vertical, estimado pela
eq. 2-8, será maior do que o incremento real de tensão efetiva, estimado por:
Δσ' = γ.(h − ρ) + γ sub .ρ , onde: γsub é o peso específico submerso do aterro.
Este problema pode ser resolvido iterativamente, calculando-se em uma 1ª iteração o
recalque admitindo que todo o acréscimo de tensão vertical total se transforme em acréscimo de
tensão efetiva. Nas iterações subsequentes, considera-se o efeito da submersão, descontando-se
o valor do recalque, como indica a Eq. 2-9. O processo iterativo termina quando na n-ésima
iteração, a diferença entre ρn e ρn+1 for menor do que uma dada tolerância, por exemplo, 1%
(Martins e Abreu, 2002).

8. ACELERAÇÃO DE RECALQUES

8.1. DRENOS VERTICAIS


A instalação de drenos verticais tem por finalidade acelerar os recalques através da
redução dos comprimentos de drenagem (Figura 67). Pelo fato da distância entre drenos ser
necessariamente inferior ao comprimento de drenagem vertical, o processo de adensamento é
acelerado, havendo uma predominância de dissipação do excesso de poro pressão no sentido
horizontal-radial e fazendo com que a drenagem vertical tenha menor importância.
Drenos de areia são instalados abrindo-se furos verticais na camada argilosa e
preenchendo-os com solo granular. O diâmetro dos drenos varia entre 0,20m a 0,60m. O diâmetro
dos grãos de areia deve ser especificado de forma a evitar a colmatação dos drenos (entupimento
dos drenos por carreamento dos finos). Materiais geossintéticos têm sido muito utilizados em
substituição aos drenos granulares ou mesmo como elementos de filtragem para evitar a
colmatação.

at erro at erro

Hd

Hd Hd

areia areia

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 97


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

(a) Sem Drenos (b) Com Drenos

Figura 67. Sentidos de drenagem

O espaçamento dos drenos dependerá da permeabilidade da camada e do tempo


necessário para se atingir a um determinado grau de adensamento. Espaçamentos típicos variam
da ordem de 2m a 5m. Em planta, os drenos podem ser localizados segundo arranjos
quadrangulares ou triangulares, conforme é apresentado na Figura 68. Dependendo da
configuração adotada, o raio de influência do dreno (R) fica definido em função do seu
espaçamento (S). No caso de malhas quadrangulares R=0,56S e para malhas triangulares
R=0,53S.
S
S
2rd
R
S
S

malha quadrada

R= 0,5 6 4.S malha t riangular


R= 0,5 2 5.S
2R
1
S = π.R ∴ R =
2 2
. S = 0,564. S 2R< d
π
(b) em corte

(a) em planta

Figura 68. Disposição dos drenos.

A presença de drenos na camada impõe uma condição de fluxo bidimensional, a qual pode
ser solucionada a partir da equação de adensamento, escrita em coordenadas cilíndricas.

∂ 2 Δu ⎛ ∂ 2 Δu 1 ∂Δu ⎞ ∂Δu
cv + ch ⎜ + ⎟=
∂z 2 ⎝ ∂r 2 r ∂r ⎠ ∂t
(8.1)
onde cv e ch são os coeficientes de adensamento vertical e radial, respectivamente; r a
distância radial, z a profundidade e Δu(r,z,t) o excesso de poro-pressão. Considerando como
condições de contorno:
u = 0 ⇔ r = rd L t > 0

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 98


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

∂u
r = R ⇔ não há fluxo L( gradiente hidráulico = 0 ) ⇒ =0
∂r
a solução desta equação é apresentada em função da combinação das porcentagens de
adensamento radial e vertical:
(1 − U rv ) = (1 − U r )(1 − U )
onde, Urv é a porcentagem média de adensamento, considerando fluxos radial e vertical,
Ur a porcentagem média de adensamento devido ao fluxo radial e U a porcentagem média de
adensamento devido ao fluxo vertical.
Para determinação da porcentagem de adensamento vertical utilizam-se as equações e
ábacos fornecidos no capítulo que trata da Teoria de Adensamento unidimensional (capítulo 5).
Para a condição radial, as curvas apresentadas na Figura 69 fornecem as porcentagens médias
de adensamento radial em função do Fator Tempo (Tr) e de diferentes razões entre raio de
influência e raio do dreno (n=R/rd). De forma análoga ao Fator Tempo para fluxo vertical (Tv), o
Fator Tempo (Tr) para fluxo radial é definido como:
c v .t c h .t
U ⇔ Tv = 2 U r ⇔ Tr =
Fluxo vertical:
Hd ⇔ Fluxo radial: 4R 2

Figura 69. Porcentagem de Adensamento versus Fator Tempo para Fluxo Radial

A utilização da solução que combina adensamento vertical e radial requer uma definição
prévia da malha e espaçamento de drenos a ser adotado, já que a estimativa da porcentagem
média de adensamento radial (Ur) depende do raio de influência do dreno (R). Assim sendo,

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 99


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

projetos de drenos verticais são realizados de forma iterativa, seguindo os passos mostrados a
seguir:
estabelecer a porcentagem média de adensamento (Urv) a ser atingida em um
determinado tempo (t), considerando como pré-estabelecido o diâmetro de dreno (rd) a ser
adotado;
calcular a porcentagem de adensamento associada ao fluxo vertical (U);
calcular a porcentagem média de adensamento radial, necessária para atingir os requisitos
de projeto:
1 − U rv
U r = 1−
1− U
assumir valores para n = R/rd e calcular os respectivos valores do Fator Tempo radial (Tr);
com os valores calculados de Fator Tempo radial (Tr), determinar os respectivos raios de
influência (R) e razão n*=R/rd
comparar os valores de n (item iv) com os calculados (item v); o valor de projeto deverá ser
tal que n=n*.

Em projetos de drenos, valem os comentários abaixo relacionados:


9 A instalação de drenos não interfere na magnitude dos recalques totais.
9 O espaçamento entre os drenos deve ser menor que a espessura da camada: 2R <
d
9 O diâmetro do dreno (rd) não é muito importante em termos da eficiência do
sistema. Em geral este valor é estabelecido a partir do equipamento disponível para
perfuração.
9 A eficácia do projeto depende da seleção correta dos coeficientes de adensamento
nas direções horizontal e vertical ( ch e cv ).
9 Em geral, a relação entre os coeficientes de adensamento horizontal e vertical varia
de acordo com a faixa: ch/cv = 1 a 2 .
9 Durante a instalação dos drenos é possível haver a amolgamento do solo ao redor
do dreno (“smear”) causando variações nos valores de ch e cv.
9 Drenos agem como “estacas” e absorvem parte da carga, reduzindo os acréscimos
de Δσ impostos na camada compressível.
9 Drenos não interferem no processo de compressão secundária. Sendo assim, são
pouco eficientes nos casos em que a compressão secundária é significativa.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 100


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Exemplo 5:
Um aterro será construído sobre uma camada de argila de 10 m de espessura sobrejacente a rocha
sã. A construção aumentará a tensão total vertical na camada em 6,5 tf/m2.
O projeto especifica a porcentagem média de adensamento igual a 0,85 após 6 meses de
carregamento.
Determine o espaçamento necessário entre drenos verticais de areia (2 rd = 400 mm) que permita
atender as condições de projeto. Considerar para a argila: Cv = 1,5 x 10-7 m2/s e Ch = 2,5x10-7 m2/s.
Solução:

U = 85% ↔ t = 6 meses

Hd = 10 m

cv .t 1,5x10 −7 x( 6x30x24 x3600)

Drenagem vertical:
Tv =
Hd2 = (102 ) = 0,0231 ⇒ Uv = 17 %

(1 − 0,85) = (1 − 0,17)(1 − U r ) ⇒ U r = 0,82 = 82%

ch .t c h.t 2,5x10 − 7 x( 6x30x24 x3600) 0,972


Tr = R= R=
2 4Tr ∴ 4. Tr Tr
4. R ∴ =

R ch.t R
n= Tr = R=
0,972 n∗ =
rd 2 Tr rd
4. R (ábaco)
5 0,20 2,21 11,05
10 0,33 1,72 8,60
15 0,42 1,52 7,61

n*

20

15
n=n*=9
10

5 10 15 20 n

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 101


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

1,8
S= = 3,2m
R = 0,2 x 9 = 1,8 m ⇒ rede quadrada ⇒ 0,564

8.2. SOBRECARGA
Uma das técnicas para aceleração dos recalques consiste na aplicação de uma
sobrecarga temporária. Com a sobrecarga, a magnitude dos recalques totais aumenta fazendo
que se atinja, em menor tempo, o valor previsto para o recalque total. A Figura 70 ilustra esta
técnica.
Quando se utiliza esta metodologia é necessário avaliar a capacidade de suporte da
fundação em termos do acréscimo de carga proveniente da sobrecarga.
carga
sobrecarga

carregamento

carregamento

carregamento +
sobrecarga
recalque

Figura 70. Aceleração recalques por sobrecarga

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 102


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

9. INTERPRETAÇÃO DE MEDIDAS DE RECALQUE

9.1. MÉTODO DE ASAOKA, (1978) MODIFICADO POR MAGNAN E DEROY


(1980)15
O método de Asaoka (1978) foi desenvolvido para previsão de recalques a partir da
utilização de dados de campo. Ao contrário da teoria de adensamento de Terzaghi, não há
restrição quanto à possibilidade de variação dos coeficientes de compressibilidade e
permeabilidade ao longo do tempo. Entretanto, o método admite que o coeficiente de
adensamento permanece constante durante o processo de adensamento (Almeida, 1996).
De acordo com Almeida (1996), Magnan e Deroy (1980), baseados na teoria de Terzaghi
(1943), desenvolveram uma modificação para o método de Asaoka. Magnan e Deroy (1980)
inseriram a drenagem horizontal proposta por Barron (1948) e a combinação de drenagens
horizontal e vertical proposta por Carrilo (1942).
O procedimento do método de gráfico de Asaoka, modificado por Magnan e Deroy está
descrito abaixo, e esquematizado na Figura 71 e Figura 72 (Almeida, 1996):
i) traçado da curva de recalque ao longo do tempo (Figura 71);
ii) divisão da curva em segmentos igualmente espaçados de Δt (Figura 71), sendo
recomendado 30 ≤ Δt ≤ 90 dias;

15
Formigheri, 2003

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 103


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Figura 71 –Recalque no tempo pelo método de Asaoka (1978)

iii) determinação dos recalques S1, S2, S3....para os respectivos t1, t2, t3.....;
iv) construção do gráfico S1 x Si-1 a partir dos valores acima determinados (Figura 72);
v) ajuste de uma reta a partir dos pontos dos gráficos;
vi) determinação do coeficiente angular β1 (Figura 72);
vii) traçado de uma reta a 45° com (S1= Si-1) para obtenção do valor do recalque máximo,
através da interseção das retas para tempo infinito S∞ (Figura 72);

Figura 72 –Construção gráfica do método de Asaoka , modificado por Magnan e Deroy (1980)

viii) cálculo de cv e ch. a partir das equações apresentadas a seguir.


Para drenagem puramente vertical, o valor de cv é dado por:

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 104


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

−4 ln β1
cv =
2
.H d .
π 2
Δt

onde Hd = espessura da camada; Δt = intervelo de tempo; β1 = inclinação da reta de Asaoka.

Para drenagem puramente radial, o valor de ch é dado por:

− f (n) ln β1
ch =
2
.d e .
8 Δt )
onde Hd = espessura da camada; Δt = intervelo de tempo; β1 = inclinação da reta de Asaoka; f(n) = ln
(n) – 0,75, onde n = razão entre o diâmetro de influência do dreno (de) e o diâmetro do dreno (dw).
O valor do diâmetro de influência do dreno é determinado a partir da distribuição dos
drenos, sendo para disposição quadrangular de = 1,13.s e para disposição triangular de = 1,05.s.
Para drenagem combinada, o valor de ch é dado por:

de
2
⎡ ln β1 π .cv ⎤
ch = .⎢− − 2⎥
8 ⎣ Δ t 4 .H d ⎦

onde Hd = espessura da camada; Δt = intervelo de tempo; β1 = inclinação da reta de Asaoka;


de = diâmetro de influência do dreno e cv = coeficiente de adensamento vertical.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 105


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

9.1.1.1. Resultado Experimental16

A seguir os resultados da previsão recalques e coeficiente de adensamento utilizando o


método de Asaoka modificado por Magnan e Deroy (1980). O local estudado refere-se ao aterro
construído na Baixada Fluminense para implantação da Indústria Rio Polímeros.
O aterro foi dividido em 3 áreas: L= leste; C=centro; O=oeste. A Figura 73 mostra a planta
de instalação das placas de recalque.

sem
escala

16
Formigheri, Luis Eduardo, 2003

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 106


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Figura 73 - Planta de localização das placas de recalque

A Figura 74 apresenta um resultado típico de monitoramento de campo em que o aterro foi


construído em duas etapas. Os resultados apresentados nesta figura referem-se à placa de
recalque RP - 07. A título de exemplo, apresenta-se na Figura 75, a metodologia sugerida pelo
método de Asaoka, para a previsão do recalque final para a mesma placa. Os resultados das
demais placas estão apresentados no anexo 2.

3,5

3,0

2,5
altura (m)

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Tempo (dias)

100

200
Recalque (mm)

300

400

500

600

700

Figura 74 –Recalque x tempo x alteamento para placa PR – 07.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 107


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

1000
Sj

800

600 β = 0,6807

400

200

β = 0,7330
0
0 200 400 600 800 1000

Sj-1
Figura 75 –Método de Asaoka PR – 07.

A Figura 76 compara os recalques medidos e os previstos pelo método de Asaoka, para


diferentes etapas de alteamento do aterro. Nesta figura, está incluída a previsão de recalque total
a partir da teoria de adensamento 1D de Terzaghi.
Os resultados mostram, na maioria dos casos, diferenças entre o recalque medido e o
previsto por Asaoka, inferiores a 20 %. No caso da placa PR – 06, a diferença entre a previsão de
Asaoka e o recalque de campo, é atribuída ao fato de que o processo de adensamento
encontrava-se em sua fase inicial. A comparação entre os recalques sugere, para esta placa, uma
porcentagem média de adensamento de 40%. Ressalta-se que o método de Asaoka é
recomendado para uma condição mínima de 60% de dissipação do excesso de poropressão
gerado pelo carregamento (Asaoka, 1978).

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 108


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

2000

1800 Faixa de valores de recalque total pela teoria de Terzaghi ( H=4 a 5m)

1600

1400
Recalque Asaoka
Recalque (mm)

1200 Recalque Medido

1000

800

600

400

200

0
PR - 6 PR - 7 PR - 8 PR - 9 PR - 10 PR - 11 PR - 12 PR - 13 PR - 14

Placa de Recalque

Figura 76 – Comparação de recalque (área L).

Os elevados valores de recalque total previstos pela teoria de Terzaghi foram atribuídos
aos elevados valores de compressibilidade utilizados nesta estimativa, assim como pelas
hipóteses adotadas pelo método. Spannenberg (2003) comparou diversas campanha de
laboratório realizadas nas baixada Fluminense e observou uma dispersão significativa tanto nos
valores de cc quanto nos valores de cr.
Os valores dos coeficientes de adensamento, estimados pelo método de Asaoka, estão
apresentados na Figura 77.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 109


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

sem escala

Figura 77 - Valores de cv em planta

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 110


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

9.2. MÉTODO DE ORLEACH


Assim como o método de Asaoka, o método de Orleach foi desenvolvido a partir de dados
de campo, com a finalidade de obter os coeficientes de adensamento horizontal e vertical. O
método baseia-se na teoria de Barron, para adensamento puramente radial ou horizontal, e
na teoria de Terzaghi, para adensamento vertical (Almeida, 1996).
Apresenta-se a seguir a construção gráfica do método de Orleach (Figura 78), para
determinação de α1 (Ferreira, 1991):
i) traçar o gráfico de excesso de poropressão no tempo, em escala semi-log;
ii) determinar o trecho de excesso de poropressão, em escala logarítmica, no tempo para a
análise dos dados;
iii) ajustar uma reta pelos pontos do gráfico;
iv) Determinar o valor de α1 através da Figura 78, ajustando uma reta a partir dos pontos
experimentais;
v) Determinar cv e ch.

Figura 78 - Método de Orleach (Ferreira, 1991)

No caso de drenagem puramente vertical, o coeficiente de adensamento vertical pode ser


estimado a partir de:

4.H d2 .α 1
cv =
π2

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 111


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

onde cv = coeficiente de adensamento vertical, Hd = distância máxima de drenagem e α1 =


inclinação da reta em ln (u) x tempo calculado por:
u1
ln
u2
α1 =
t 2 − t1
onde t1 e t2 são os tempos relativos a leituras de ln u1 e u2.
No caso de adensamento puramente radial, o coeficiente de adensamento radial é definido
por:

⎛ f ( n) ⎞
c h = ⎜ d e2 . ⎟.α 1
⎝ 8 ⎠
onde de = diâmetro de influência do dreno; f(n) = ln (n) – 0,75 (onde n = razão entre o diâmetro
de influência do dreno (de) e o diâmetro do dreno (dw)) e α1 = inclinação da reta em ln (u) x tempo.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 112


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

10. INFLUENCIA DA AMOSTRAGEM

10.1. PROCESSO DE AMOSTRAGEM


Os efeitos da amostragem são particularmente importantes em argilas. Antes do ensaio a
amostra é extraída, levada para o laboratório e o corpo de prova preparado para o ensaio, estas
operações geram variações no estado de tensões efetiva da amostra conforme mostra a Figura
79

kf
ko
Tensao Efetiva vertical (σ’v)

A AB = perfuração
C BC = cravação do amostrador
k=1 CD = extração do amostrador
P DE = equalização das poropressões
B EF = moldagem do corpo de prova
FG = aplicação da tensão confinante
D AP = amostragem perfeita
G
E
F
Tensao Efetiva horizontal (σ’h)

Figura 79. Amostragem

Se as operações anteriores ao inicio do cisalhamento não causassem nenhuma


perturbação na amostra, seria possível estimar o valor da tensão efetiva correspondente à
condição de amostragem perfeita.
Antes da extração da amostra a tensão efetiva media é :
σ v′ + 2σ h′ σ v′ (1 + 2k o )
′ =
σ mo =
3 3
Com a amostragem, há alívio de tensões e o estado de tensões totais cai para zero. Como
não se permite a drenagem, a tensão efetiva final é constante e igual a poropressão; isto é:
′ = σ am − u am = σ am − (u o + Δu ) = −(u o + Δu )
σ am
No caso de solo saturado, a geração de poropressão pode ser calculada com base na
equação de Skempton:
Δu = B{Δσ 3 + A(Δσ 1 − Δσ 3 )}
Mas

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 113


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Δσ 1 = σ v f − σ v o = −σ v o = −(σ v′ o − u o )
Δσ 3 = σ h f − σ h o = −σ h o = −(σ h′ o − uo )

Então (B=1 para solo saturado)


′ + u o ) + A[(σ vo
Δu = −{(σ ho ′ + u o )]} = −{(σ ho
′ + u o ) − (σ ho ′ + u o ) + A[σ vo ′ ]}
′ − σ ho

ou
′ + A[σ vo
u am = Δu + u o = −{σ ho ′ ]}
′ − σ ho

Com isso a tensão efetiva para amostragem perfeita seria isotrópica e igual a
′ + A[σ vo
′ = {σ ho
σ am ′ ]}
′ − σ ho
ou
′ = {k o + A[1 − k o ]}σ vo
σ am ′ KK para k o < 1

′ = {1 + A[k o − 1]}σ vo
σ am ′ KK para k o > 1

Entretanto, observa-se experimentalmente que a tensão efetiva após a amostragem não


apresenta os valores teoricamente esperados. A Tabela 9 mostra alguns resultados
experimentais, obtidos em ensaios triaxiais através da medição da poropressao. Nesta tabela,
mostra-se a variação da tensão efetiva em relação à tensão media inicial; isto é
Δσ m′ = σ m′ o − σ am
′ .

Tabela 9. Efeito da amostragem

⎛ Δσ m′ ⎞ ⎛ Δσ m′ ⎞
⎜ ⎟ ⎜ ⎟
Solo ko A ⎜ σ′ ⎟ ⎜ σ′ ⎟
⎝ m o ⎠ teorico ⎝ m o ⎠ exp

1 0,46 0,17 -0,14 -0,63


2 0,55 0,20 -0,08 -0,53
3 0,58 0,25 -0,05 -0,89

i) Amolgamento

⎛ Δσ m′ ⎞
Os maiores valores de variação de ⎜⎜ ⎟ foram atribuídos ao amolgamento nas paredes

⎝ σ ′
m o ⎠
do amostrador. A cravação do amostrador gera um acréscimo de poropressão, na região próxima
a parede, fazendo com que surja um gradiente dentro da amostra (Figura 80). Com uf positivo,

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 114


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

haverá uma redução na tensão efetiva ao final da amostragem. Esta geração de poropressão é
função da espessura da parede do tubo amostrador.

u1

uf
u2
x

Figura 80. Gradiente gerado pela cravação do amostrador

ii) Variação da Temperatura


Um outro aspecto que também pode influenciar na tensão efetiva após a amostragem é a
temperatura. Sob condições não drenadas, a variação de temperatura afeta a tensão efetiva do
solo, já que os coeficientes de dilatação térmica do solo e da água são diferentes. A taxa de
variação da tensão efetiva com a temperatura é função do nível de tensões . Estudos mostraram
que quando a temperatura aumenta, há uma queda na tensão efetiva. Ate 3m de profundidade
observa-se a influencia da temperatura.
iii) Evaporacao
Um último aspecto a ser, também, considerado é a possibilidade de evaporação da água
presente nos vazios.
Segundo Terzaghi, a razão de evaporação (ve) é definida como:
Δvol (volume evaporado)
ve =
tempo(t ) × area externa( S )
Então
Δvol= ve × t × S
Considerando-se uma amostra cilíndrica de 2R de diâmetro e altura igual a 4R tem-se um
volume total (V) de 4πR3 e uma área superficial de 10πR2. Nestas condicoes

(
Δvol= ve × t × 2πR 2 × ) 4R
4R
= 2,5 × ve × t e ×
V
R
ou

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 115


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Δvol 2,5 × ve × t e
=
V R
mas, define-se compressibilidade (m) por
Δvol
m= V
Δσ ′
Com isso, a variação da tensão efetiva gerada pela evaporação pode ser escrita como:
2,5 × v e × t e
Δσ ′ =
m× R
Em argilas moles, com alta compressibilidade, esta variação é insignificante. Convém
observar que o tempo de evaporação afeta diretamente o valor da variação da tensão efetiva. Por
este motivo, recomenda-se proteger a amostra imediatamente após a extração para evitar perdas
por evaporação.

10.2. PARÂMETROS DE COMPRESSIBILIDADE

Lunne et al (1977)17 avaliaram a influencia da amostragem nos parâmetros


geotécnicos das argilas de Oslo, Noruega. Os autores realizaram coletas de amostra com
2 amostradores diferentes: Sherbrooke, Amostrador de pistão de 95mm e 54mm. O
amostrador Shebrooke é considerado procedimento de amostragem em bloco. Os demais
fornecem amostras cilíndricas.

17
Lunne, T., Berre, T. e Strandvik, S. (1997) Sample sisturbance effects in soft low plastic Norwegian clay. Recent
Developments in Soil and pavement Mechanics, ed. Almeida . Balkema

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 116


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

(a) Sherbrooke (b) Pistao 54mm (c) Pistao 95mm


Figura 81 - Amostradores

Comparando resultados de ensaios de adensamento foi possível observar a grande


influencia que o tipo de amostrador gera nos resultados (Figura 82). A amostra de mehor
qualidade apresenta uma curva de εv x log σ´v mostra melhor definição na região da
tensão de pré-adensamento. A curvatura da curva vai se tornando menos acentuada com
a queda na qualidade da amostra. A compressibilidade (M=mv) também é muito sensível
ao processo de amostragem, podendo em determinados trechos observar diferenças de
ate 2x maior.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 117


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Figura 82 – Influência nas curvas de adensamento

Por muitos anos o NGI tem usado a deformação volumétrica εvo necessária para
atingir a tensão efetiva vertical de campo (σ´vo), calculada em ensaio de adensamento,

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 118


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

como indicador da perturbação da amostra (Figura 83). Lunne et al propõem o critério


apresentado na Tabela 10

Figura 83 – Deformação volumétrica εvo correspondente a σ´vo

Tabela 10. Critério de qualidade de amostragem

OCR Δe/eo
Excelente Boa Ruim Muito ruim
1-2 < 0,04 0,04 – 0,07 0,07 – 0,14 >0,14
2-4 < 0,03 0,03 – 0,05 0,05 – 0,10 > 0,10

Δe e
OBS: × o = ε vo
eo 1 + eo

Coutinho et al (2001)18 examinaram a influencia da qualidade de amostragem nas


argilas moles de Recife, usando procedimentos semelhantes aos de Lunne et al (1977). A
Figura 84 mostra perfis de deformação vertical εvo para 2 locais de Recife. Nas figuras
também aparecem linhas verticais correspondentes ao critério sugerido por Lunne et al,
separando o que á satisfatório do não satisfatório.

18
Coutinho, Oliveira, J.T; Oliveira, A.T (2001) Caracteristicas Geotécnicas das Argilas Mole de Recife. Encontro de
Propriedades de Argilas Moles Brasileira, Marco, COPPE/UFRJ

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 119


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Figura 84 – Qualidade da amostra -Recife

A Figura 85 mostra uma correlação estatística entre o índice de compressão (Cc) e o


índice de vazios inicial (eo), observando-se as diferenças relativas a qualidade da
amostra
A Figura 86 mostra a correlação entre a razão de compressão (CR) x εvo, incluindo a
proposta de Lunne et al. O gráfico mostra a redução de CR com o aumento de εvo ; isto é ,
com a redução na qualidade da amostra. A curva tende para um limite, o qual
corresponderia à condição totalmente amolgada. Coutinho et al sugerem, com base na
experiência local, um novo limite para definir o critério de qualidade da amostra e propõe
curva de correlação. Esta curva pode ser interessante na pratica da engenharia, uma vez
que permite correção no valor de CR.

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 120


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

Figura 85 – Correlação estatística Cc e eo

Figura 86 – Razão de compressão (CR) x εvo

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 121


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RECOMENDADAS

Budhu, M. (2000) – Soil Mechanics and Foundation, John Wiley & Sons, Inc
Craig, R. F (1974) – Soil Mechanics, Van Nostrand Reinhold
Lambe, T.W. & Whitman, R.V. (1969) - Soil Mechanics,. John Wiley & Sons, Inc
Ortigão, J.A R. (1993) - Introdução à Mecânica dos Solos dos Estados Críticos.
Vargas, M.(1977) – Introdução à Mecânica dos Solos, . MacGraw Hill

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 122


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

12. APENDICE I - SOLUÇÃO ANALÍTICA DA EQUAÇÃO DE TERZAGHI

Pela técnica de separação de variáveis podemos definir o excesso de poro pressão por um
produto das funções F(Z) e Φ(T):
Δu = F ( Z ).Φ( T ) (II.1)
substituindo a eq. II.1 na equação de adensamento, tem-se:

∂ 2 F (Z ) ∂Φ ( T )
Φ (T ) = F (Z )
∂Z 2
∂T ⇒ Φ ( T ). F ′ ′ ( Z ) = F ( Z ). Φ ′ ( T ) ⇒

F ′ ′ ( Z ) Φ′ (T )
=
⇒ F (Z ) Φ (T ) (II.2)
Entretanto se
F ′ ′ (Z )
Z=cte e T= = cte
⇒ F (Z ) = -A2
variável

T=cte e Z= ⇒ = -A2

variável
Pode-se definir as funções F(Z) e Φ(T) como :
F´´(Z) = -A2. F(Z) ⇒ (II.3)
Φ´(T) = -A . Φ(T) ⇒
2
(II.4)
Multiplicando-se as duas funções, tem-se a equação genérica que calcula o excesso de
poro-pressão:

Δu = (C4 .cos Az + C5 .sen Az). e − A T


2

(II.5)
Para as condições de contorno, Δq

esquematicamente representadas na figura ao


lado:
i) t ≥ 0: z = 0 (topo) ⇒ Δu(t)=0 argila 6m
z
ii) z = Hd(base) ⇒ (impermeável)
iii) t = 0: Δu = q 0≤ z ≤ 1
impermeável

A equação fica então definida como:


Apendice II -

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 123


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

13. APÊNDICE III– INTERPRETAÇÃO DO ENSAIO CRS

Wissa et al. (1971) propuseram a metodologia para interpretação do ensaio CRS. Esta
metodologia admite que a deformação é infinitesimal e está apresentada a seguir:
No caso de velocidade de deformação constante, define-se:
w( t ) / H
ε& =
t
onde ε& = velocidade de deformação; H = altura do corpo de prova; w(t) = deslocamento na
direção axial; t = tempo.
Escrevendo a equação de fluxo

∂ 2h 1 ∂S ∂e
kz = (e +S )
∂z 2
1 + e ∂t ∂t
Com relação ao lado esquerdo da equação h = he + hp , onde he é a carga de elevação e hp a
carga de pressão. Sendo assim,
u 0 + Δu
h=z+
γw
Derivando a carga total em função da posição, tem-se
∂ 2 h ∂ ⎛ ∂z ⎞ 1 ∂ ⎛ ∂u 0 ⎞ 1 ∂ ⎛ ∂Δu ⎞
= ⎜ ⎟+ ⎜ ⎟+ ⎜ ⎟
∂z 2 ∂z ⎝ ∂z ⎠ γ w ∂z ⎝ ∂z ⎠ γ w ∂z ⎝ ∂z ⎠

∂z ∂u 0
Considerando que =1 e = cte , tem-se que os dois primeiros termos da Eq. são nulos
∂z ∂z
. Substituindo, então a Eq. (5.8) na Eq. (5.6) chega-se a
k z ∂ ⎛ ∂Δu ⎞ 1 ⎛ ∂e ⎞
⎜ ⎟= ⎜ ⎟
γ w ∂z ⎝ ∂z ⎠ 1 + e ⎝ ∂t ⎠
mas
∂Δu ∂Δσ ∂Δσ'
= −
∂z ∂z ∂z
∂Δσ
Considerando = 0 tem-se
∂z
∂ ⎛ ∂σ′ ⎞ γ ω 1 ⎛ ∂e ⎞
⎜ ⎟= ⎜ ⎟
∂z ⎝ ∂z ⎠ k z 1 + e ⎝ ∂t ⎠
Admitindo que compressibilidade do solo definida pelo coeficiente de variação volumétrica
mv (ver Tabela 1); isto é :

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 124


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

∂n
mv =
∂σ'
e que
o coeficiente de variação volumétrica é dado por:
Δe 1 ⎛ ∂e ⎞ ⎛ ∂n ⎞ ∂n ∂n ∂σ′ ∂σ′
Δn = ⇒ ⎜ ⎟=⎜ ⎟ ⇒ = = mv
1+ e 1 + e ⎝ ∂t ⎠ ⎝ ∂t ⎠ ∂t ∂σ′ ∂t ∂t
Então
∂ ⎛ ∂Δσ′ ⎞ m v γ w ⎛ ∂σ′ ⎞
. ⎜ ⎟= ⎜ ⎟
∂z ⎝ ∂z ⎠ k z ⎝ ∂t ⎠
Dado que o coeficiente de adensamento cv , é dado por
k z .(1 + e) kz
cv = =
a v .γ w mv γ w
chega-se à:
∂ ⎛ ∂Δσ′ ⎞ ⎛ ∂σ′ ⎞ ∂ ⎛ ∂Δn ⎞ ⎛ ∂n ⎞
.c v ⎜ ⎟=⎜ ⎟ ou .c v ⎜ ⎟=⎜ ⎟
∂z ⎝ ∂z ⎠ ⎝ ∂t ⎠ ∂z ⎝ ∂z ⎠ ⎝ ∂t ⎠
Para deformações unidimensionais n = ε com isso
∂ ⎛ ∂Δε ⎞ ⎛ ∂ε ⎞
.c v ⎜ ⎟=⎜ ⎟
∂z ⎝ ∂z ⎠ ⎝ ∂t ⎠
Por definição
∂ω
ε=−
∂z
Fazendo
ω z c t
W= ; Z = ; .T = v2
H H Hd

a equação reduz-se a
⎛ ∂ 2 ΔW ⎞ ⎛ ∂W ⎞
..⎜⎜ ⎟⎟ = ⎜ ⎟
⎝ ∂ Z ⎠ ⎝ ∂T ⎠
Wissa et al propuseram a expressão:
ε(X, T ) = ε& t[1 + F(X, T )]
onde
2 ∞ cos(inX ) −i2n2T
F(X, T ) =
1
( )
2 − 6X + X2 − 2 ∑ e
6T n T 1 i2

A equação ε(X,T) pode ser dividida em 3 partes:

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 125


Faculdade de Engenharia FEUERJ
Departamento de Estruturas e Fundações
PGECIV

i 1o. termo: deformação média imposta


ii 2o. termo: condição de regime permanente ⇔ ≠ f.(t)
iii 3o. termo: condição de regime transiente ⇔ = f.(t)
Após T = 0,5 a curva X × T torna-se única; para T>0,5 obtem-se solução do regime
permanente.

rH2 ⎛ Z2 ⎞
ε(X, T ) = ε& t +
Z
⎜⎜ 3 2 2 − 6 + 2 ⎟⎟
6c v ⎝ H H ⎠
Para um tempo qualquer t:
rH2
Z=0 ⇒ ε o (X, T ) = ε& t +
3c v

rH2
Z=H ⇒ ε H (X, T ) = ε& t −
6c v

Assim a deformação entre o topo e base é


ε& H2
ε o − εH . = = Δε
2c v
A diferença entre a tensão efetiva no topo e base é Δσ′ = Δu
Para um comportamento tensão x deformação linear pode-se escrever Δε = m v Δσ′ = m v Δu ,
com isso tem-se
ε& H2 ε& H2 k ε& H2
Δε = m v .u b = . . ⇒ m v .c v = = .⇒k = γω
2c v 2u b γ ω 2u b
mas
k Δε Δε Δσ′
mv = = e ε& = = mv
c v γ ω Δσ′ Δt Δt
Assim sendo
H2 Δσ′
cv =
2u b Δt

Compressibilidade e Adensamento – 30/04/08 126

You might also like