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Documentos de identidade - Uma Introdução às teorias do currículo- Tomaz Tadeu da Silva

Sinopse:Traçar um mapa dos estudos sobre currículo desde sua gênese, nos anos vinte, até às
atuais teorias pós-críticas é o que se propõe este livro. Em capítulos curtos e redigidos em
linguagem direta, o autor nos fornece um panorama sintético, mas abrangente, das principais
perspectivas sobre currículo.

Resenhas dos leitores

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Viviane Flores Dilkin

A obra “Documentos de Identidade- Uma introdução às teorias do currículo”, pertencente ao autor


Tomaz Tadeu da Silva, foi publicada em 2002, pela editora Autêntica, e tem por objetivo realizar
um apanhamento geral das teorias de currículo, bem como refletir a respeito de cada uma delas
perpassando a história do desenvolvimento da educação ao longo dos séculos. Analisa-se a
contribuição e as interferências que as teorias de currículo causaram dependendo do contexto
histórico onde eram aplicadas e são até hoje. Embora viessem a contemplar os desafios de uma
época, sabe-se que ainda nos tempos atuais teorias antigas continuam a ser pano de fundo na
educação de muitos lugares. Bom? Ruim? É possível posicionar-se após a leitura completa do livro
em questão, que por sua vez, dividi-se em quatro grandes capítulos, que tem por finalidade a
organização dos debates, diferenciando teorias tradicionais, das críticas, e das pós-críticas. Ainda
analisa a situação atual e o que se viveu após as teorias críticas e pós-críticas. Já na introdução, que
é contemplada no primeiro capítulo, nota-se que as teorias de currículo são apresentadas como uma
forma de invenção do próprio currículo, e a afirmação sugerida é que se venha a falar não em teoria
mas em discursos, uma vez que este significa tudo aquilo que é escrito com a finalidade de
comunicar algo. Dois autores são apresentados como protagonistas de alguns discursos sobre
currículo, e o primeiro deles, Taylor, é citado como sendo a inspiração para a conceitualização de
currículo encontrada em Bobbit. Para Bobbit, currículo é visto como “processo de racionalização de
resultados educacionais, cuidadosa e rigorosamente especificados e medidos.” Na verdade Bobbit
tratou de descobrir o currículo vigente e descrevê-lo, e não significa que o tenha criado a partir de
um nada. A grande questão é que o currículo até então era tradicional e com as definições de
Bobbit, continuou sendo com mais força, pois agora possuía suporte teórico e “supostas asserções
sobre a realidade acabam funcionando como se fosse asserções sobre como a realidade deveria ser.”
As teorias tradicionais aceitavam as coisas como estavam, e os conhecimentos concentram-se nas
questões técnicas, no preparo do indivíduo para a sociedade, e não o via como agente transformador
de nada, mas como sujeito de trabalho, mecanicamente parte do sistema de massas geradoras de
produtos. O conhecimento qualificaria o trabalho e só. Supostamente, os estudos sobre currículo
deram origem as teorias tradicionais, como são conhecidas. Sendo que as análises de Bobbit eram
sedutoras para uma época, pois vinham com promessas de tornar o currículo mais científico, já
agora, no segundo capítulo do livro resenhado, surge uma passagem das teorias tradicionais para as
críticas, que como nominalmente já traduzem, tinham por claro objetivo criticar e derrubar o
currículo tradicional, oferecendo uma nova visão do currículo ideal, transformador de uma
realidade. Novo nome é lembrado aqui: Dewey, que não via a educação tanto como preparação para
a vida, e sim como um “local de vivência e prática direta dos princípios democráticos”. E outros
autores surgem, para criticar as idéias tradicionais vigentes e incutir novas reflexões: Paulo Freire,
Louis Althusser, Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, Baudelot e Establet, Basil Bernstein,
Michael Young, Samuel Bowles e Herbert Gintis, William Pinar e Madeleine Grumet, Michael
Apple, entre outros, que também serão apresentados ao decorrer da presente resenha. As teorias
críticas apontavam a escola como transmissora de ideologias através das disciplinas, e dizia ser as
ideologias constituídas por crenças que auxiliam o indivíduo a aceitar as coisas como estão, e que
por isso, deviam ser derrubadas, dando espaço para debates mais reflexivos a cerca da sociedade e
da função real do indivíduo na mesma. É a atitude fenomenológica entrando em cena, para que uma
constante análise e avaliação sobre os processos aplicados em sala de aula, não fiquem distantes dos
objetivos esperados concretamente em nível de modificação social e estrutural. Para cada um dos
autores citados anteriormente haverá um enfoque novo a ser trabalhado a partir de uma visão crítica
de teoria de currículo. Citam-se no livro, em subcapítulos especiais, alguns nomes que de modo
mais específico marcaram tais processos de transição do tradicional ao crítico. Assim a crítica
neomarxista de Michael Apple criticará as culturas dominantes em relação aos dominados,
entendendo currículo como uma forma sutil de estabelecer vínculos entre dominadores e dominados
de modo que os segundos sejam oprimidos sem que se dêem conta disso. É uma relação de poder
sutil e avassaladora, que gira em torno do poder econômico, e está intimamente relacionada ao nível
de classe social que se ocupa socialmente. Para Henry Giroux, o currículo é visto como uma política
cultural, e tem relação com a importância de se trazer a cultura para a sala de aula, a fim de
devolver à sociedade uma cultura transformada, a partir de reflexão e debate. Para tanto, Giroux
defende a idéia dos professores serem intelectuais transformadores da realidade. Paulo Freire
estabelecerá a relação de currículo como uma relação entre opressores e oprimidos, e sugere a
quebra deste paradigma, pensando uma educação de qualidade para todos, sem a dementização de
disciplinas tradicionais, mas repleta de significação. A educação torna-se política e transformadora,
em Paulo Freire. E Michael Young pode ser citado aqui como pioneiro de uma crítica parecida,
porém ocorrente na Inglaterra, onde junto a Bourdieu e Bernstein publicava ensaios sobre a função
de um currículo baseado nas questões sociológicas, e que devia ser repensado com visão crítica da
realidade social. Para estes, a preocupação era “com o processamento de pessoas, e não o
processamento do conhecimento.” Ressalta-se ainda aqui, que de todos os pensadores sobre teorias
críticas de currículo, na linha de Young, o único empirista era Nell Keddie, que traz a idéia de que
“o conhecimento prévio que os professores têm dos alunos, determina a forma como eles irão tratá-
los”. Chama de “teorias de rotulação”. Basil Bernstein torna suas teorias mais complexas e
sofisticadas, convidando à uma análise de currículo que revele seus códigos e reprodução cultural.
Não usa o termo currículo, por justamente ocupar-se da palavra código, como sendo substituta do
primeiro termo, sendo sua teoria uma forma sociológica de ver o currículo, pois está preocupado
com as relações estruturais que o constituem. Bernstein quer saber como se dá a estruturalização do
código. Usará a análise identificando os currículos de coleção, que são separados por disciplina, e o
currículo integrado, que contempla a interdisciplinaridade. Ainda no segundo capítulo da obra de
SILVA, que aqui vem a ser resenhada, encontra-se Bowles e Gintis “descobrindo o currículo
oculto”, ou seja, sabe-se que Philip Jackson, em 1968, teria usado a expressão currículo oculto para
falar das objetivações existentes por detrás de um currículo, que não eram visíveis primeiramente
pelos indivíduos sujeitos da educação, mas agora os dois autores críticos trarão a tona a reflexão de
que os objetivos do currículo oculto tornaram-se tão gritantes que não mais podem ser chamados de
oculto, no momento em que estão declarados pela sociedade moderna que escancara assumidamente
sua posição capitalista. Inicia-se neste ponto o terceiro capítulo do livro Documentos de Identidade,
relatando as experiências pós-críticas de currículo, que surgem como aprofundamento das críticas,
mas querem contemplar as novas questões emergentes da sociedade. Inicia-se uma nova hera, onde
a diferença e a identidade estão claras, e um currículo multiculturalista deve aparecer para abranger
os resultados de uma sociedade que quer se libertar e se tornar mais humanista. As relações de
poder estão escancaradas, e não há mais camuflagem dos debates sobre. A pedagogia feminista, as
relações de gênero, são assuntos que serão contemplados pelas teorias pós-críticas de currículo.
Fala-se agora de um currículo como narrativa étnica e racial, que contemple a identidade cultural e
biológica do indivíduo, para que este venha a encontrar espaço para a própria construção histórica.
Para tanto o currículo deveria evitar os estereótipos e modelos, a fim de dar lugar a novas visões
contemporâneas estruturais de currículo, mas flexível e livre. Ainda sobre este aspecto e ponto de
vista, pode-se perceber a teoria queer, que traz ao debate a relação homossexual, pedindo que esta
não mais seja excluída como anormal e diferente. Quer se oferecer espaço para o respeito as
diferenças, e que estas sejam contempladas de modo coerente a realidade de cada indivíduo. O pós
modernismo ajudará a organizar todas as correntes pós- críticas e oferecerá espaço para uma futura
crítica do pós-estruturalismo do currículo, para que este venha a deixar de ser um componente que
apenas analise a linguagem e os processos de aquisição do saber, para passar para um pós-
modernismo, que abranja o todo das interações sociais.As relações de poder estarão ligadas não
tanto as questões financeiras, ainda que estas continuem vigentes, mas pode mais agora quem
SABE MAIS. O saber encontra espaço e terreno nos debates modernos. Após uma narrativa pós-
colonialista, que tenta libertar o indivíduo de seu passado colonial, gerador de processos como datas
comemorativas, entre outros, encontra-se os estudos culturais de currículo que se solidificará em
Raymond Williams, em Richard Hoggart e em Thompson, por serem autores que defendem o idéia
de uma análise social profunda, que não exclua os processos de reflexão anteriores, mas parta de
uma perspectiva mais aberta a mudanças, de acordo com as urgentes necessidades sociais, a fim de
que o currículo seja instrumento favorável as modificações sociais, e seja modificado a partir delas,
quando houver necessidade. Defendem o preparo do professor e a formação contínua, para que estes
dêem-se conta de seus papéis sociais, no momento em que a própria cultura é um jogo de poder e
todo conhecimento é um objeto. Para esta visão, a pedagogia tem o dever de revelar o saber, que já
está lá no indivíduo. Por fim, o último capítulo do livro resenhado, e que fará fechamento as teorias
de currículo até então apresentadas, traz a tona a atual definição de currículo: uma questão de saber,
poder e identidade, que tornará o indivíduo mais autônomo no momento em que souber de seus
próprios processos vivenciados e o fará mais consciente de todo contexto social, para que o possa
transformar não de modo utópico, mas concreto e pessoal, confirmando a idéia de que um currículo
é capaz de formar não só um profissional, mas um indivíduo, um cidadão, um ser, e que, portanto,
currículo é…DOCUMENTO DE IDENTIDADE. Certamente o livro de Tomaz Tadeu da Silva vem
a favorecer um modo de compreender as modificações das teorias curriculares, ampliando os
debates a partir de uma sólida fundamentação teórica, que objetiva nova visão sobre a assimilação
do currículo como algo em processo constante de mudança, e não um mero papel distante de toda
realidade. Uma vez que o objetivo da obra era de fato fazer refletir sobre os processos que norteiam
as críticas e pós-críticas constantes ainda em tempos atuais, pode-se dizer que com sucesso se
alcançou a potencialidade de oferecer conhecimento a cerca do entendimento do currículo como
algo que formou e forma gerações, de modo declarado ou não, e ainda assim é certo ver que toda
obra, embora um tanto complexa lingüisticamente para quem nada saiba sobre teorias de currículo,
possibilita a posterior solidez necessária para posteriores aquisições de saberes sobre currículo.

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