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....., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob n.º ...., com sede à
Rua ......, Município de Guarapuava-Pr, com filial em Curitiba-Pr, à Rua ......, através de
seu procurador judicial infra-assinado (instrumento de mandato em anexo), advogados
regularmente inscritos na OAB/PR, com escritório profissional na sede da Requerida, no
endereço acima indicado, onde recebe intimações e notificações, vem respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, apresentar sua CONTESTAÇÃO à AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS DECORRENTES DE
ACIDENTE DO TRABALHO, autuada sob o nº ...../99, em trâmite por esse r. Juízo,
em que são Autoras ....... e ......., ambas já qualificadas nos autos, consubstanciando-se
nos seguintes fatos e fundamentos:
I - SÍNTESE DA INICIAL
Alegam, em síntese, que a vítima, Sr. Nelson Soares da Silva, exercia a função de
auxiliar de serviços gerais para a Requerida, com salário médio mensal de R$885,00,
tendo falecido em decorrência de acidente do trabalho, em função de traumatismo
craniano encefálico, ocorrido no dia 07 de maio de 1999, por volta das 4h00min.
A vítima teria sido puxada pelas roupas para junto do eixo das polias do moinho de
trigo, no quinto andar de instalação dos equipamentos, no momento em que fazia limpeza
no local, tendo aproximado-se das partes móveis das máquinas usando uma blusa
amarrada na cintura, razão pela qual aponta a culpa da Requerida em face da omissão e
negligência, em decorrência de falta de proteção dos equipamentos, com a autorização de
limpeza sem que o moinho fosse desligado, colocando em risco as pessoas que ali
trabalhavam, observando, também, que o caso é de culpa "in vigilando", pelo fato de a
empresa deixar de fiscalizar e exigir o uso correto do vestuário.
Na mesmo reunião, ficou esclarecido pelos funcionários, que o Sr. Nilson "sempre
deixava a japona no térreo", seguindo as orientações de segurança no trabalho.
O acidente fatal jamais teria ocorrido se estivessem ausentes um dos dois fatores de
risco infringidos pela vítima. Ademais, o acidente não ocorreu exclusivamente pela
vítima estar próxima do equipamento, mas sim, pela atitude imprópria de amarrar a
japona à cintura.
Se não fosse colhido pela japona, o muito que poderia lhe ocorrer seria uma
luxação por encostar no eixo ou nas polias, com pequena gravidade.
Sobre a matéria merece ser lembrada a precisa lição proferida por Carlos Roberto
Gonçalves:
No mesmo sentido:
d) várias medidas foram adotadas com relação à segurança, sendo a principal delas,
o treinamento dos empregados e a substituição de vassouras pelo compressor de ar para a
limpeza do local.
"... que trabalha com moinhos a sete anos; que esta é a primeira
morte que tem conhecimento que ocorreu em um moinho;..."
Vê-se, por outro lado, que a Vítima, contrariando a própria realidade de suas
funções e normas elementares de segurança, sem que houvesse necessidade para tal, agiu
de modo impróprio e impensado motivando a causa exclusiva do evento danoso.
Inaceitável, que por um único fato ocorrido ao longo de muitos anos, pretendam as
Autoras impingir a pecha da irresponsabilidade à Requerida, principalmente pelo fato de
sempre deixar seus empregados cientes de todos os perigos da atividade laboral, inclusive
com o fornecimento de todo o apoio e material de segurança necessário na execução dos
serviços.
Restará comprovado nos autos, que a Requerida sempre procurou vigiar e fiscalizar
o cumprimento das normas de segurança do trabalho, estando sempre atenta e diligente
no sentido de coibir atos que resultassem em risco aos trabalhadores, inclusive fazendo
reuniões quinzenais, para troca de opiniões, transmissão de conhecimentos e de
experiência, de molde a culminar com o bem comum de todos, representado pela
segurança no local de trabalho. A Requerida, inclusive, teve o capricho de elaborar o
"Manual de Procedimentos do Moinho", onde estão discriminados todos os
procedimentos a serem realizados no ambiente de trabalho (vide docs. 15/31).
Conforme nos ensina o Dr. José Luiz Dias Campos, ocorre a culpa in vigilando
"quando ocasionada pela falta de diligência, atenção, vigilância, fiscalização ou
quaisquer outros atos de segurança do agente, no cumprimento do dever, para evitar
prejuízo a alguém". (Responsabilidade Penal, Civil e Acidentária do Trabalho, pág. 11, 4ª
ed., LTr).
Nesta mesma obra, o ilustre Rui Stoco cita a definição do Profº José Aguiar Dias:
Assim, não há como imputar responsabilidade por ato ilícito culposo, quer seja por
ação ou omissão. A responsabilidade, no caso, é da própria vítima, pessoa que tinha pleno
discernimento, que escolheu uma prática inadequada em determinado momento:
Deste entendimento, importa afirmar que é impossível vigiar todos os atos do ser
humano, eis que este pode tomar decisões imprecisas a qualquer momento, valendo-se
exclusivamente de seu poder racional. É diferente, por exemplo, do dever de vigilância da
manutenção de uma máquina, dos freios de um veículo, ou da cerca que divide duas
fazendas, impedindo que o gado invada e destrua a plantação do vizinho.
"... mister se faz que o evento danoso não tenha ocorrido por
simples risco da atividade econômica desenvolvida pelo empregador.
Impõe-se a presença de uma conduta patronal de desrespeito evidente às
regras de segurança do trabalho, de sorte a evidenciar senão a vontade
de lesar, pelo menos a indiferença intolerável diante do risco sério
corrido pelo obreiro." (Humberto Theodoro Júnior, ob. cit., pág. 26).
(Grifamos).
Certo que em todas as atividades industriais existem riscos de acidentes, não sendo
diferente com o moinho de trigo da Requerida. Este risco existente e conhecido deve ser
traduzido como "risco da atividade econômica" acima citado, da qual redundou o
infortúnio que vitimou o companheiro e pai das Autoras, não se vislumbrando a hipótese
indenizatória pelo fato ocorrido.
V - PRINCÍPIO DA EVENTUALIDADE
Diante do exposto nos itens II, III e IV, espera a Requerida que seja por Vossa
Excelência, determinada a improcedência da ação, face à culpa exclusiva da vítima.
Porém, sendo outro o Vosso entendimento, "ad cautelam", tece a Requerida outras
considerações que devem ser observadas para a decisão da presente lide.
VI - CONCORRÊNCIA DE CULPA
Da lição cada vez mais prestigiada de MARIA HELENA DINIZ, vale destacar:
"Se o lesado e lesante concorreram com uma parcela de culpa,
produzindo um mesmo prejuízo, porém, por atos independentes, cada um
responderá pelo dano na proporção em que concorreu para o evento
danoso. Não desaparece, portanto, o liame de causalidade; haverá tão
somente uma atenuação da responsabilidade, hipótese em que a
indenização é, em regra, devida pela metade (RT 221:220, 216:308,
222::187, 158:163, 163:669,439:112; RF 109:672, 102:575) ou diminuída
proporcionalmente (RT 231:513). Haverá uma bipartição dos prejuízos, e
a vítima, sob a forma negativa, deixará de receber a indenização na
parte relativa a sua responsabilidade." (CURSO DE DIREITO CIVIL
BRASILEIRO, 7.ª edição, Saraiva, 1987, p. 83).
Como é cediço, toda indenizatória objetiva restaurar o status quo ante. Repugna a
lei que o acidente seja erigido em fator gerador de enriquecimento indevido. O ilícito,
mesmo quando tenha intensa repercussão moral ou patrimonial, deve se limitar à
manutenção da situação financeira anterior, sendo imperativo, para tanto, a comprovação
da dependência econômica que as Autoras tinham e face da vítima.
Pelos documentos juntados aos Autos (fls. 64 a 73), as Autoras fazem prova de que
a vítima, no período compreendido entre outubro/94 a maio/99, trabalhou para as
empresas Central Construções Civil Ltda. (outubro/94 a março/95), Falcão Construtora
de Obras Ltda. (março/95 a setembro/95), HBPO Engenharia e Construções Ltda.
(agosto/96 a abril/97), Ceres Coml. de Mat. Elétricos Ltda. (novembro/97 a março/98) e,
por último, para a ora Requerida (fevereiro/99 a maio/99).
Conclui-se que a vítima não era estável nos empregos, passando por diversas
empresas, mantendo contratos de trabalho por curto período de tempo, trabalhando
apenas 30 meses, dos 56 meses comprovados nos autos, apurando-se uma média
salarial mensal de R$321,48 (melhor visualizado em planilha anexa à esta peça – docs.
1/2)
Esta era a situação financeira mantida pela vítima às Autoras, alternando períodos
de emprego e de desemprego. E, outra não pode ser a decisão final nos presentes autos,
para reparar o dano material sofrido.
Isto porque as horas extras e noturnas trabalhadas no mês de abril (maior salário
recebido), não integram o salário para qualquer efeito legal. Como a vítima trabalhava em
revezamento de turnos, nos meses seguintes não teria acrescido ao seu salário os referidos
adicionais.
Os adicionais somente se integram ao salário após dois anos de recebimento
ininterrupto, conforme enunciado nº 76 do TST, citado pelo MM Juiz e professor Sérgio
Pinto Martins:
Mesmo que não seja do Vosso entendimento, que a indenização deva seguir o
salário fixo, também há que se concluir pela impossibilidade de adoção do maior valor
pago, por não refletir a realidade da condição financeira proporcionada pela vítima à
Autoras.
Março................................................ R$614,75
Abril................................................ R$885,69
TOTAL................................................ R$2.027,68
Não se pode olvidar, MM. Juiz, que do rendimento líquido auferido pela vítima,
parte era gasta com a sua própria manutenção. Nesse sentido, a doutrina e a
jurisprudência soam uníssonas no mesmo sentido, qual seja:
Igualmente:
No mesmo sentido:
Inobstante tal termo limite, há outros fatores que podem determinar a extinção da
obrigação, independente da observação daquela data.
Igualmente:
Tais entendimentos devem ser abraçados pela decisão da presente lide, para
cumprir os requisitos do caráter alimentar da indenização pleiteada.
"Na verdade muito embora o STF tivesse editado a Súmula 491 (diz:
é indenizável o acidente que causa a morte de filho menor, ainda que
não exerça trabalho remunerado), ficou assentado que a indenização
cinge-se ao dano patrimonial, repelido o dano moral. (cf. ROBERTO ROSAS
- Direito Sumular – 2ª. ed. P. 238).
O ressarcimento do dano deve ater-se aos casos enumerados pelo próprio Código
Civil e legislação correlata. A indenização, em caso de homicídio, consiste: I – No
pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II –
Na prestação de alimentos, às pessoas a quem o defunto devia. (art. 1.537, do Código
Civil).
Nem se argumente que com o advento da nova Carta Magna esse posicionamento
ficou superado. A inacumulabilidade continua sendo a tese dominante nos Tribunais
como se pode inferir dos arestos adiante colacionados.
O colendo Tribunal de Justiça deste Estado, através de sua Terceira Câmara Cível,
em decisão unânime, no acórdão nº 7.886, de lavra do eminente Desembargador Nunes
do Nascimento, proferida em 17.09.91, assentou que:
E, ainda:
IX - QUESTÕES SUPLEMENTARES
Os juros somente são devidos a partir da citação, quando a Requerida ficou constituída
em mora, como assentou, em caráter definitivo, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça
(cfe. Revista do Superior Tribunal de Justiça n.10, junho/90, p. 449 e 17, Janeiro/91,
p.394 ).
A verba honorária deve ser arbitrada sobre as prestações vencidas, mais 12 das
vincendas, conforme pacificado pelas decisões do Egrégio TA/PR:
Ante todo o exposto nesta peça de defesa, passa a Requerida a pleitear de Vossa
Excelência sejam tomadas as seguintes providências:
Termos em que,
pede deferimento.