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A ERA DOS FURACÕES - Cada vez mais numerosos e violentos

Nos últimos anos, o aumento das ocorrências de furacões de categoria 4 e 5 - os


mais fortes e destruidores - é apenas uma das conseqüências do aquecimento
global. Conheça também as outras.

Katrina, o furacão que em 2005 destruiu a cidade de Nova Orleans (EUA), não foi uma surpresa
para os meteorologistas. Há muito eles sabem que a aceleração do aquecimento global está
aumentando a violência dos fenômenos naturais. A Terra chegou ao ponto de não conseguir mais
balancear as piruetas do clima. Assim, como já aconteceu no passado, diversos cenários novos
podem aparecer: numa única estação, poderemos nos encontrar num ambiente tropical, ou no
início de uma era de frio intenso.

Os norte-americanos não esquecerão agosto de 2005, mês em que o furacão Katrina arrasou a
cidade de Nova Orleans: uma catástrofe climática sem precedentes na história dos Estados
Unidos. Tratava-se, no entanto, de uma tragédia anunciada. Já no início daquele ano os centros de
meteorologia do país avisavam que a temporada de furacões de 2005 seria particularmente
intensa. Katrina, por sinal, foi apenas um dos vários ciclones que nos últimos anos varreram a
costa sul dos Estados Unidos. O que está acontecendo com o clima nestes primeiros anos do
século 21?

...Natureza em fúria
Duas imagens por satélite do Katrina. Avião-robô meteorológico do Noaa entra no olho do furacão.
Seqüência de três imagens tiradas durante a passagem do Katrina.

Uma primeira resposta chega do prestigioso Massachusetts Institute of Technology, cujos


cientistas descobriram uma clara conexão entre o aquecimento global e o aumento da violência
dos ciclones tropicais. Segundo esses estudos, nos últimos 30 anos o potencial destrutivo dos
furacões atlânticos aumentou em 50%. Também alarmantes são as recentes simulações do
National Oceanic and Atmospheric Administration (Noaa), que prevêem para o futuro furacões
cada vez mais intensos e numerosos como conseqüência do aquecimento global.

Uma pesquisa do Georgia Institute of Technology mostra que, nos últimos 35 anos, a freqüência
dos furacões mais violentos praticamente dobrou em relação ao último século. Não apenas: nos
anos 70, somente 20% dos furacões atingiam os níveis de força 4 e 5, os mais altos (veja o
quadro). Mas, nos últimos dez anos, esses furacões se tornaram 35% do total.

A culpa, em princípio, é da temperatura da Terra que não pára de subir. Mas as temperaturas do
planeta estão subindo há mais de cem anos. Por que, então, só nos últimos anos, e de repente, os
ciclones tropicais parecem ter se tornado mais violentos e destruidores?

Uma resposta poderia ser dada pela teoria segundo a qual as mudanças climáticas raramente
acontecem de maneira lenta e gradual, mas sim com variações bruscas e intensas, como a que la
que há poucos milhares de anos mudou toda a face do Atlântico Norte.

Há mais ou menos 12 mil anos, alguns milhares de anos depois do período mais frio da última
glaciação, a Terra estava rapidamente se aquecendo, e os verões já eram similares aos de hoje
em dia. De repente, no curtíssimo período de 50 anos, em toda a América do Norte e na Europa,
as temperaturas caíram alguns graus, favorecendo um novo avanço das geleiras e o retorno do
gelo.

Aconteceu aquilo que os meteorologistas definem como um Younger Dryas, um "estertor da


glaciação". Ele durou algumas centenas de anos, até que no arco de poucas décadas, em toda a
região norte, o clima voltou a ser quente e os gelos se derreteram. Uma brincadeira de mau gosto
da natureza? Nada disso.

Até há pouco, os cientistas achavam que as grandes variações climáticas levassem séculos ou até
mesmo milhares de anos para se completar. Mas uma das descobertas recentes mais
surpreendentes foi a detecção, na história climatológica da Terra, de numerosas variações bruscas
e imprevistas do clima, similares à do "estertor da glaciação" descrita ao lado. Atualmente, a
ciência faz uma releitura do início e do fim das eras glaciais a partir dessa nova luz.

Com efeito, os ciclos das grandes glaciações, com alternância de picos glaciais (nos quais boa
parte das terras do planeta ficam cobertas por espessas camadas de gelo) e períodos quentes
intermediários (como este em que estamos vivendo), são regulados pelas variações da órbita da
Terra, tanto a sua rotação ao redor do Sol quanto a rotação ao redor do seu eixo: todos eles são
ciclos que duram algumas dezenas de milhares de anos.

O estudo das bolhas de ar contidas nos gelos perenes do Ártico e da Antártida, e nos fósseis que
jazem no fundo dos oceanos, parece, no entanto, demonstrar que a passagem de períodos
quentes a períodos frios aconteceu no passado em apenas algumas centenas e até mesmo
algumas dezenas de anos.

De acordo com essa teoria - chamada snowblitz e apresentada já na década de 1970 pelos
cientistas Hubert Lamb e Alastair Woodroffe -, a passagem do calor ao frio pode ocorrer na
passagem de um único verão! Se, durante uma fase caracterizada por uma queda da intensidade
da energia solar que chega à Terra, um inverno particularmente frio fosse seguido por um verão
muito ameno, poderia se instaurar um mecanismo em cadeia que em pouco tempo levaria à
formação de extensas camadas de gelo sobre a superfície do planeta.

Com um verão ameno, a neve acumulada durante o inverno não se derreteria completamente. A
neve que permanecesse refletiria parte da já reduzida radiação solar inclusive durante o outono:
um solo coberto de neve absorve apenas 10% dos raios solares e reflete os outros 90%. Seria
aberta assim a estrada para outras nevascas abundantes que iriam tornar mais espessa a calota
glacial em formação. Em poucas estações, regiões inteiras seriam cobertas por extensas placas de
gelo em expansão, dando origem de maneira totalmente imprevista a uma nova glaciação.

Não importa quais forças o obrigam a mudar, o clima possui uma inércia que se opõe às
transformações. Quando, porém, os fatores que levam à mudança (alterações da órbita terrestre,
anomalias da circulação das correntes marítimas, ciclos solares e o efeito estufa, por exemplo) se
tornam insustentáveis, o sistema climático muda de repente e quase sempre de modo radical.

O clima do planeta, em resumo, não varia um pouco de cada vez, de ano em ano, mas parece
sujeito a sofrer, de forma imprevisível, grandes variações. Uma das leis fundamentais que
regulam a física da atmosfera é que "pequenas ações podem produzir grandes reações". De
repente, forças que agem sobre o sistema climático podem levá-lo à superação de certos pontos
críticos, a partir dos quais tem início uma nova fase climática completamente diferente. Esta é a
razão pela qual, embora o aquecimento global esteja acontecendo a mais de um século, os
ciclones tropicais apenas nos últimos anos estejam se tornando mais numerosos e violentos.

A partir da segunda metade do século 19, as temperaturas médias do planeta se elevaram


notavelmente. O aquecimento, porém, não foi constante: existem períodos em que as
temperaturas subiram muito pouco, e outros em que a elevação foi vertiginosa. Nesse período,
ocorreram também momentos em que o clima voltou temporariamente a esfriar.
A máquina climática, assim, tem a capacidade de se mover em diversas velocidades, bem como
de engatar a marcha à ré. Assim se explica a aceleração sofrida pelo processo de aquecimento do
planeta nos últimos anos.

Segundo estudos do National Climatic Data Center do Noaa, no século 20, a temperatura média da
Terra aumentou em cerca de 0,6º. Esse ritmo, porém, foi muito mais rápido e elevado a partir da
década de 1970, quando o aumento da temperatura alcançou a velocidade de 1,7o centígrado.
Significa que nos últimos 30 anos o planeta se aqueceu bem mais que nos 70 anos precedentes. O
sistema climático parece ter engatado uma marcha superior e ter entrado em uma fase nova na
qual o aquecimento veloz chega acompanhado por uma intensificação de fenômenos atmosféricos
extremos, como os furacões.

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