You are on page 1of 14

DAS PESSOAS JURÍDICAS.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro:


volume I: parte geral, 4 ed. rev. atual. – São Paulo:
saraiva, 2007.

1 - Conceito. A pessoa Jurídica é, portanto, proveniente do


fenômeno histórico e social. Consiste num conjunto de pessoas ou de
bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituído na forma da
lei, para a consecução de fins comuns. Pode-se afirmar, pois, que
pessoas jurídicas são entidades a que a lei confere personalidade,
capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações. A sua principal
característica é a de que atuam na vida jurídica com personalidade
diversa da dos indivíduos que as compõem (CC Art. 50). Os bens da
pessoa jurídica não se confundem com os dos seus sócios.

Em cada país se adota denominação diversa para essas


entidades: França e Suiça – pessoas morais; Portugal – pessoas
coletivas; Argentina – entes de existência ideal; Brasil, Alemanha,
Espanha, e Itália – Pessoas Jurídicas, etc.

2 - Natureza jurídica:

Existem teorias que negam a existência da pessoa jurídica


(Teorias negativistas), que não aceitam uma associação formada por um
grupo de indivíduos ter personalidade própria, outras em maior número
( Teorias Afirmativas), procuram explicar esse fenômeno pelo qual
grupos de pessoas passa a constituir uma unidade orgânica, com
individualidade própria reconhecida pelo Estado e distinta das pessoas
que a compõem.

Teoria negativista: não aceita a existência de uma pessoa (no


caso pessoa jurídica) formada por grupo de pessoas.

As diversas Teorias afirmativas existentes podem ser


reunidas em dois grupos:

2.1 – Teoria da Ficção se divide em duas categorias: ficção


legal e teoria de ficção doutrinária:

- Teoria de ficção legal: entende que a pessoa jurídica é uma


criação artificial da lei, um ente fictício, pois somente a pessoa natural
pode ser sujeito da relação jurídica e titular de direitos subjetivos.

Entende que a pessoa jurídica não passa de um conceito


destinado a justificar a atribuição de direitos a certo grupo de pessoas.

- Teoria da Ficção Doutrinária: entende que a pessoa jurídica


não tem existência real, mas apenas intelectual, ou seja na inteligência
dos juristas.
Essas teorias tiveram grande aceitação no passado mas hoje
não são mais aceitas. Do contrário como explicar a existência dos
estados nacionais. Se um estado é uma ficção também a lei emanada
desse estado é mera ficção.

2.2 - Teorias da Realidade: os defensores da teoria da


realidade são opositores da teoria da ficção e defendem que as pessoas
jurídicas são realidades vivas e não mera abstração, tendo existência
própria como os indivíduos.

Há divergências entre seus adeptos quanto à percepção


dessa realidade. São diversas as concepções:

a) – Teoria da realidade objetiva ou orgânica – entende que a


pessoa jurídica é uma realidade sociológica, fruto da imposição das
forças sociais. Teve origem na Alemanha e acredita que a vontade
pública ou privada é capaz de dar vida a um organismo, que passa a ter
existência própria, distinta de seus membros, capaz de tornar-se sujeito
de direito real e verdadeiro.

Como podem os grupos sociais, que não tem vida própria e


personalidade, adquirir personalidade e se tornar sujeitos de direitos e
obrigações? Essa teoria reduz o papel do Estado a mero conhecedor
dessa realidade.
b) – Teoria da realidade jurídica ou institucionalista:
assemelha-se muito à anterior. Entende que a pessoa jurídica nasce não
da vontade humana mas das relações sociais.

As críticas são semelhantes às anteriores.

c) – Teoria da Realidade Técnica: É uma questão meramente


técnica. É um expediente que a lei adota para reconhecer a existência de
grupos de indivíduos que se unem na busca de determinados fins. A
personificação é atribuída a grupos que o estado reconhece vontade e
objetivos próprios. O Estado reconhece a necessidade e conveniência de
se dotar a determinados grupos de personalidade própria para poder
participar da vida jurídica nas mesmas condições das pessoas naturais.

Para essa teoria a personalidade é um atributo que o estado


confere a certas entidades merecedoras dessa benesse. O Estado não
outorga esse beneficio de maneira arbitraria mas tendo em vista
determinada situação e obediência de determinados requisitos.

3 - Requisitos Para a Constituição da Pessoa Jurídica.

São quatro os requisitos para a criação da pessoa jurídica:

a) - vontade humana criadora (intenção de criar uma


entidade distinta de seus membros);
b) - elaboração do ato constitutivo (contrato social ou
estatuto);
c) - registro do ato constitutivo no órgão competente;
d) - liceidade de seu objetivo.

A pessoa jurídica sem registro é apenas uma sociedade de


fato, ou sociedade não personificada. Assemelha-se ao nascituro.

3.1 - Começo da existência legal da pessoa jurídica:

A existência da pessoa jurídica resulta da vontade humana,


não é necessário qualquer ato administrativo de autorização, exceto nos
casos previstos em lei.

A existência legal da pessoa jurídica de direito privado


começa com o registro de seu ato constitutivo no órgão competente:

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito


privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar
o ato constitutivo.

As sociedades que estão ligadas a interesses coletivos


dependem de prévia autorização dos Poderes Público Federal, Estadual
ou Municipal: empresas estrangeiras, agências ou estabelecimentos de
seguros, cooperativas, instituições financeiras, sociedades de exploração
de energia elétrica, de riquezas minerais, sociedades jornalísticas,
escolas .
Contrato Social é a convenção por meio da qual duas ou mais
pessoas se obrigam reciprocamente a conjugar esforços, contribuindo
com bens ou serviços, para a consecução de fim comum mediante o
exercício de atividade econômica, e a partilhar, entre si, os resultados
(CC 981).

O registro da pessoa jurídica faz-se na Junta Comercial, as


associações faz-se o registro nos Cartórios de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas.

O Código Civil assegura à pessoa jurídica a proteção aos


direitos da personalidade: direito ao nome, à boa reputação, à própria
existência, de ser proprietária e usufrutuária, de contratar e adquirir bens
por sucessão causa mortis.

O registro deverá conter:

Art. 46. O registro declarará:

I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social,


quando houver;

II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos


diretores;

III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente,


judicial e extrajudicialmente;

IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de


que modo;
V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais;

VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu


patrimônio, nesse caso.

O procedimento registral está previsto no artigo 121 da Lei


dos Registros Públicos (Lei 6.015/73):

“Para o registro serão apresentadas duas vias do estatuto, compromisso


ou contrato, pelas quais far-se-á o registro mediante petição do
representante legal da sociedade, lançando o oficial nas duas vias, a
competente certidão de registro, com o respectivo numero de ordem,
livro e folha. Uma das vias será entregue ao representante e a outra
arquivada em cartório, rubricando o oficial as folhas em que estiver
impresso o contrato, compromisso ou estatuto”.

As pessoas jurídicas atuam mediante os órgãos previstos nos


estatutos ou contrato social, que são em geral: assembléia geral, diretoria
e conselho administrativo.

A pessoa jurídica somente responde pelos atos de seus diretores,


nos limites de seus estatutos ou contrato social. É o que prevê o Código
Civil:

Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores,


exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo.

Os diretores não são representantes das pessoas jurídicas


porque não são incapazes.
3.2 - Sociedades Irregulares ou de Fato:

A pessoa jurídica sem registro será considerada mera


sociedade de fato ou associação.

O seu registro não tem efeito retroativo.

As sociedades de fato são reguladas pelo Código Civil na


parte em que trata do direito de empresa, que é considerada sociedade
não personificada:

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a


sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste
Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem
compatíveis, as normas da sociedade simples.

No caso de insolvência da empresa os sócios respondem


solidariamente e ilimitadamente pelos pelas obrigações das empresas
irregulares:

Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas


obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art.
1.024, aquele que contratou pela sociedade.

Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente


podem provar a existência da sociedade por escrito, aos terceiros é
permitida a utilização de qualquer meio de provas.

A pessoa a quem couber a administração dos bens


responderá ativa e passivamente em juízo ou fora dele pela sociedade.
3.3 - Grupos despersonalizados:

A herança, a massa falida, os bens do casal, o fundo de


comércio, o fundo mútuo de ações, o condomínio. Quem responde por
tais patrimônios?

Os grupos despersonalizados que se destacam:

a) – a família;
b) – a massa falida;
c) - as heranças jacente e vacante (art. 1819, CC);
d) – o espólio;
e) – as sociedades sem personalidade jurídica, denominadas
sociedades de fato ou irregulares;
f) – o condomínio.

Há divergências entre os doutrinadores quanto à existência


de personalidade jurídica do condomínio. O condomínio tradicional ou
comum não há duvida de que não tem personalidade, mas quanto ao
condomínio edilícios ou horizontal existe divergência quanto à existência
de personalidade.
4 – Classificação da pessoa jurídica

a) - quanto à nacionalidade: nacional e estrangeira;

b) - quanto à estrutura interna: corporação e fundação;

finalidade da corporação – visam atender aos sócios, voltada


para dentro;

finalidade da fundação – voltada para fora conforme o desejo


do instituidor.

As pessoas jurídicas classificam-se em Corporações ou


fundações.

As corporações dividem-se em associações e sociedades:

As associações não têm fins financeiros, mas religiosos,


morais, culturais, assistenciais, recreativos, desportivos.

As sociedades simples têm fins econômicos e visam lucro


que devem ser distribuídos entre os sócios: escritórios de advocacia,
engenharia.

As sociedades empresárias também visam lucro e se


distinguem das simples porque têm por objetivo a atividade própria de
empresário sujeito ao registro previsto no código Civil, Art. 967;
Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua
atividade.

As fundações recebem um acervo de bens, que recebe


personalidade para realizar determinados fins. É composta do patrimônio
e o fim – não visa lucro.

c) - quanto à função ou órbita de atuação: de direito público


ou de direito privado, de direito interno ou externo.

São pessoas jurídicas de direito publico externo:

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados


estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público.

São pessoas jurídicas de direito interno:

Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:

I - a União;

II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;

III - os Municípios;

IV - as autarquias;

IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada


pela Lei nº 11.107, de 2005);

V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.


O Código Civil Brasileiro criou uma fórmula genérica, baseado
no Código Civil do México ao referir-se a outras entidades de caráter
público criadas por lei. Aqui se enquadram as fundações.

“Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas


de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado,
regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas
deste Código.” (art. 41, parágrafo único, CC).

São pessoas jurídicas de direito privado:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I - as associações;

II - as sociedades;

III - as fundações.

IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de


22.12.2003)

V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003).

5 - Desconsideração da pessoa jurídica:

Em caso de comprovada fraude, pode o juiz, a pedido dos


credores, desconsiderar a personalidade da pessoa jurídica e determinar
que os bens dos sócios respondam pelo dívida da pessoa jurídica.
6 – Responsabilidade da pessoa jurídica.

A responsabilidade pode ser civil ou criminal – as penas são:


multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade.
Inovação.

6.1 – Responsabilidade de pessoa jurídica de direito privado.

6.2 – Responsabilidade da pessoas jurídicas de direito


público.

Diferentes fases na sua evolução:

a) – da irresponsabilidade;
b) – a civilista em que a parte tinha que provar a culpa do
estado;
c) – a publicista – teoria objetiva da culpa, mas poderia
ocorrer a inversão do ônus da prova. Se o estado provasse que o
ocorrido decorreu da culpa exclusiva da vítima, força maior, ou fato
exclusivo de terceiro, estava isento de responsabilidade.

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente


responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem
danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do
dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. CC.

7 – Extinção da pessoa jurídica.


- COMEÇO: pessoas jurídicas de direito privado nascem com
o registro do ato constitutivo no órgão competente.

- FIM das pessoas jurídicas de direito privado:

a) – convencional. por deliberação de seus membros,


conforme quorum estabelecido nos seus estatutos ou em lei,
por deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na
sociedade por prazo indeterminado;

b) – legal. em razão de motivo determinante em lei.


decretação de falência, morte dos sócios, desaparecimento
do capital, nas sociedades de fins lucrativos.

c) – administrativa. quando as pessoas jurídicas dependem


de autorização do poder público e esta é cassada;

e) – judicial. quando se configura um dos casos de dissolução


previsto em lei ou nos estatutos, especialmente quando a
sociedade se desvia de seus fins, para os quais foi
constituída.

O processo de extinção se realiza pela dissolução ou pela


liquidação.

A personalidade jurídica da pessoa jurídica permanece até a


sua total liquidação.

You might also like