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DOENÇAS OCUPACIONAIS

A LEGISLAÇÃO E A REALIDADE DO TRABALHADOR

PAULO FRANCISCO PEREIRA


Tecnologo em Saúde e Segurança do Trabalho
DOENÇAS OCUPACIONAIS

A LEGISLAÇÃO E A REALIDADE DO TRABALHADOR

** Paulo Francisco Pereira

RESUMO:

As doenças do trabalho atingem cada vez mais um número maior de pessoas, o que
representauma ameaça para o trabalhador, a prevenção foi e continua sendo a melhor
forma de combate a este tipode patologia. A adoção de posturas e ritmos de trabalho mais
adequados são fundamentais. Quando existe uma suspeita de lesão, o acompanhamento de
um profissional torna-se primordial para a correta avaliação e implantação de técnicas
preventivas (engenheiro de segurança do trabalho) e tratamento do funcionário (medico do
trabalho). O incentivo para o trabalhador é pouco, ao contrário da cobrança da produtividade
que na maioria das vezes ultrapassa toda a orientação baseada na segurança. O respeito
pelo limite de segurança é a maior lição na prevenção das lesões. Sendo de origem
profissional, provocado pelo uso impróprio e excessivo dos músculos e tendões por rápidos
movimentos repetitivos e de força, DORT (também conhecido como LER), que significa
Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho, atingem, principalmente, os membros
superiores embora possam afetar o ser humano como um todo. Estas lesões acontecem
quando pessoas que executam tarefas nas quais movimentos continuados ou repetitivos
são realizados constantemente, postura inadequada, ou seja, o trabalhador esta a cima do
seu limite, apresentam queixas de dor, que podem estar localizadas em uma única região ou
ser percebidas como generalizadas, atingindo os braços, as mãos e o pescoço.

Palavras-chave: Ergonomia. Prevenção. Doença Ocupacional


1. INTRODUÇÃO

No Brasil as DORT representam um importante problema de saúde pública. Seu modo de


adoecimento, a multideterminação de sua origem e a conturbada assistência prestada aos
lesionados parece expor as próprias contradições do modo de produção capitalista.

DORT é uma síndrome polêmica de dimensões sociais e econômicas, refletida na


incapacidade do trabalhador para exercer suas atividades e o sofrimento decorrente disso,
bem como a geração de custos significativos para as organizações e o Estado.
A organização do trabalho caracterizada pela exigência de ritmo intenso de trabalho, pelo
conteúdo pobre das tarefas, pela existência de pressão, autoritarismo das chefias,
mecanismos de avaliação, punição e controle da produção dos trabalhadores em busca da
produtividade, desconsiderando a diversidade própria do homem.
Se considerar os fatores de risco para a ocorrência de doenças profissionais, facilmente se
perceberá que a prevenção não depende apenas da correção de um problema ou outro.
Trata-se de dissecar a organização de trabalho, identificando aspectos que se constituem
em fatores de risco.
As doenças ocupacionais suscitam polêmica em vários aspectos, basicamente pela
singularidade da forma como aparecem e evoluem. Intrigam prevencionistas, profissionais
de segurança, tratamento e reabilitação, sociólogos, seguradoras, empresários e
sindicalistas.

2. DOENÇA OCUPACIONAL

Doença Ocupacional é designação de várias doenças que causam alterações na saúde do


trabalhador, provocadas por fatores relacionados com o ambiente de trabalho.
Uma doença profissional normalmente é adquirida quando um trabalhador é exposto acima
do limite permitido por lei a agentes químicos, físicos, biológicos ou radioativos, sem proteção
compatível com o risco envolvido.
2.1 DORT

Representa uma síndrome de dor nos membros superiores, com queixa de grande
incapacidade funcional, causada primariamente pelo próprio uso das extremidades
superiores em tarefas que envolvem movimentos repetitivos ou posturas forçadas.
Disfunções posturais ou de movimentos podem surgir quando os postos de trabalho
inadequados, mesmo que as atitudes posturais sejam adequadas.
Podendo dizer, que não é uma conseqüência natural do processo de trabalho e sim uma
anomalia gerada por diversos fatores, destacando-se a política dos grandes grupos
econômicos que fazem qualquer coisa para reduzir os custos do trabalho para conseguir
lucros cada vez maiores. Esse tipo de atitude é conseqüência da globalização, que faz com
que a competição entre as empresas fique cada vez mais acirrada.
Essas lesões não só causam dor e incapacidade ao indivíduo, como também geram custo á
empresa: o rendimento perdido, doenças, seguros e multas legais.

3. ERGONOMIA

Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e


ambiente, aplicando os conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos
problemas desse relacionamento. (LIDA, 1991)
É o estudo dos aspectos do trabalho e sua relação com o conforto e bem-estar do
trabalhador. Esta mais ligada às posturas, movimentos e ritmo determinados pela atividade
e conteúdo dessa atividade, nos seus aspectos físicos e mentais. Ela intervém analisando o
trabalho, as posturas adotadas pelo trabalhador, sua movimentação e seu ritmo que de
modo geral são determinados por outros fatores organizacionais.
As melhorias ergonômicas se referem a vários aspectos do trabalho, tais como:
cadeiras, mesas, bancadas; o planejamento e localização de dispositivos de materiais de
trabalho; a quantidade, qualidade e localização da iluminação; indicações sobre melhorias
na organização da atividade, incluindo o planejamento de novos dispositivos de trabalho ou
modificação nos existentes e alteração ritmo seqüenciamento de várias tarefas
desempenhadas pelo operador. Recomendações ergonômicas são importantes para
aredução da sobrecarga.
Ergonomia é um conjunto de ciências e tecnologias que procura a adaptação confortável e
produtiva entre o ser humano e seu trabalho, basicamente procurando adaptar as condições
de trabalho às características do ser humano. (COUTO, 1995).

3.1 NORMA REGULAMENTADORA 17

A Norma Regulamentadora (NR 17) estabelece alguns parâmetros que podem auxiliar a
adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores,
de modo a proporcionar conforto, segurança e desempenho eficiente.
A administração tem que proporcionar um ambiente de trabalho ergonomicamente seguro,
ensinar a mecânica corporal apropriada e as técnicas de prevenção das lesões, além de
inserir uma política coerente e promover um estilo de vida saudável.
Por sua vez, o trabalhador deve ter a responsabilidade de aprender e aplicar com
fundamento as estratégias e dispositivos na redução dos riscos. A tecnologia de tentar evitar
as lesões estão bem estabelecida depende da motivação do trabalhador e da administração
para usá-la.

4. PREVENÇÃO

Um programa de prevenção em uma empresa inicia-se pela criteriosa identificação dos


fatores de risco presentes na situação de trabalho. Deve ser analisado o modo como as
tarefas são realizadas, especialmente as que envolvem movimentos repetitivos, movimentos
bruscos, uso de força, posições forçadas e por tempo prolongado.
Aspectos organizacionais do trabalho e psicossociais devem ser especialmente focalizados.
Prevenção significa abordar as causas na sua fonte, analisando os ambientes de trabalho,
para a eliminação/minimização dessas causas ou a redução de sua influência, bem como
conscientizando os empregados em todos os níveis, inclusive empregadores, para a sua
efetiva participação no programa. A prevenção de lesões é o fundamento principal de toda a
programação de segurança satisfatória. Tanto o trabalhador como a empresa tem que
assumir seu respectivo papel nessa responsabilidade.
É muito importante que haja incentivo da direção para o trabalho de investigação dos
resultados. Infelizmente, há carência de estudo nesse campo. O incentivo para o
trabalhador é pouco, ao contrário da cobrança da produtividade que na maioria das
vezesultrapassa toda a orientação baseada na segurança. O respeito pelo limite de
segurança é a maior lição na prevenção das lesões.
Para encontrar soluções que resolvam ou diminuam os problemas relacionados é
necessário conhecer o processo de trabalho, uma medida que pode ser adotada são as
pausas durante as jornadas.
Alguns métodos a serem utilizados como prevenção:
· Modificação do mobiliário:
· Conforto é essencial para a prevenção.
· Os postos de trabalho devem ser feitos para acomodar o trabalhador no seu ambiente para
que ele tenha uma movimentação eficiente e segura.
· As operações mais freqüentes devem estar ao alcance das mãos.\As máquinas devem se
posicionar de forma que o trabalhador não tenha que se curvar ou torcer o tronco para pegar
ou utilizar ferramentas com freqüência.
· A mesa deve ser planejada de acordo com a altura de cada pessoa e ter espaço para as
movimentações das pernas.
· As cadeiras devem ter altura para que haja apoio dos pés, formato anatômico para o
quadril e encosto ajustável ao trabalhador.
· Planejamento dos métodos de trabalho.
· Pausas - As pausas nos trabalho devem permitir principalmente um alívio para os
músculos mais ativos. Diferente da pausa para a recuperação do esforço físico pesado.
· Rodízio de funcionário, em determinados setores.
· Ginástica Laboral.
· Orientação ergonômica quanto ao mobiliário e equipamentos
Embora normas técnicas ajudem a estabelecer alguns parâmetros, o resultado de um
programa de prevenção de agravos decorrentes do trabalho em uma empresa, depende da
participação e compromisso das pessoas envolvidas, em especial a direção da empresa,
passando pelos diversos níveis hierárquicos, incluindo trabalhadores e seus sindicatos,
supervisores, copeiros, profissionais da saúde e de serviço de segurança do
trabalho, gerentes e cargos de chefia.
Para a concretização dessas ações preventivas há necessidade de mudança de
comportamentos e hábitos já cristalizados na vida das pessoas, que priorizam os objetivos
técnico/administrativos, deixando de lado os valores humanos que preservam e promovem a
saúde. A consciência da prevenção é uma ação que requer mobilização interior e individual,
que é um processo demorado e difícil, pois reserva um papel importante especialmente para
as áreas da educação e da saúde, ainda em processo deconstrução no nosso país.
Empregadores e empregados devem envidar esforços no sentido de aprimorar o ambiente
de trabalho, pela análise dos equipamentos, tarefas, sistemas e organização do trabalho.
Manter um ambiente de trabalho seguro e saudável é responsabilidade do empregador e
deve contar com a colaboração dos empregados.

5. CONCLUSÃO

O afastamento do trabalho agrava a difícil situação econômica de trabalhadores.


Eles estão expostos, ainda, à discriminação no trabalho, na família, nos serviços de saúde e
nas perícias médicas. O objetivo é o direito à saúde e à inclusão social a partir das garantias
constitucionais e daquelas pautadas pela Lei Orgânica da Saúde de 1990. Como nos
adverte Cassou (1984) “[...] a finalidade é a busca incessante de que os trabalhadores
ganhem vida e não a percam ao ganhá-la”.
No entanto, freqüentemente a alteração desses aspectos entra em conflito com as gerências
de planejamento e produção. Freqüentemente há orientações das gerências de
planejamento para que as chefias "apertem" o ritmo com o objetivo de produzir mais com
menos gente. Essa filosofia tão disseminada vai frontalmente contra políticas de prevenção.
Por outro lado, sabe-se que apenas o aumento de funcionários também não é a solução, se
não houver um planejamento adequado. O importante em todo esse processo de prevenção
é que haja um acordo entre trabalhadores e empregadores.
Esse acordo deve atingir todos os níveis hierárquicos da empresa, desde o
redirecionamento das políticas até o comportamento individual das pessoas. Do lado dos
trabalhadores, é fundamental que as negociações também atinjam desde as centrais até as
organizações locais.
Assim, partindo-se do pressuposto de que a prevenção é fundamental, como prevenir
constitui-se em um ponto de discussão: como comprometer empregadores e sindicatos em
um processo de prevenção, que envolve negociações contínuas no dia-adia, em meio a uma
conjuntura adversa?
As DORT, podem levar a incapacitação total para o trabalho, são hoje um dos principais
problemas de saúde enfrentados pelos trabalhadores. Na atual conjuntura de recessão no
país, a política adotada pela maioria das empresas tem sido produzir mais com pouca mão-
de-obra, o que gera ritmo extremamente acelerado, sobrecarregando os trabalhadores. Com
isso, a incidência de casos tende a aumentar.

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** Paulo Francisco Pereira


Tecnólogo em Saúde e Segurança do Trabalho
REFERÊNCIAS:

BRASIL. Decreto no 3.048 de 06 de maio de 1999. Aprova o regulamento da Previdência


Social, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 1999; 06 mai.

BRASIL. INSS. LER - Lesões por Esforços Repetitivos. Normas técnicas para
avaliação da incapacidade. Brasília, 1993.

BRASIL. Lei no 6367, de 1976. Define a Doença do Trabalho, no parágrafo 30, artigo 20
como "a doença adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o
trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente". Brasil, 1976

BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de


procedimentos para os serviços de saúde. Brasília, 2001.

COUTO, Hudson de Araujo. Ergonomia aplicada no trabalho: manual técnico da


maquina humana. Belo Horizonte, 1995.

LIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo, 1991.

Setembro/2010

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