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Heilborn Maria Luiza. “Gravidez na adolescência e pânico moral”.
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Kanauth Daniela Riva. “Sexualidade e Ciclo de Vida”.
ti kanela, nos últimos vinte anos). Já a iniciação sexual mais temprana e os resultados
que desta actividade advém muitas vezes – a gravidez não planificada e na
adolescência3, é fortemente condenada e as mães adolescentes passaram a ser alvo de
intensa recriminação social.
Esse risco social, que muitas vezes se corporiza em posturas incriminatórias esta
intimamente relacionado com duas questões: os conceitos moralizantes, e as
profundas transformações ocorridas nas sociedades ocidentais no século XX, tais
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Não podemos dizer que toda gravidez na adolescência é indesejada, mas a maioria da gravidez na adolescência é não
planejada, isto é acontece sem intenção, causadas por diferentes factores individuais ou sociais.
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htpp://www.adolescencia.org.br. “Cartilha da gravidez na adolescência”.
como a incorporação massiva das mulheres ao mundo do trabalho, o aumento da
escolaridade, a mudança das expectativas de vida no que se refere as vivências
(idade para estudar, idade para namorar, idade para casar, idade para ter filhos), ou
seja, relaciona-se com as expectativas sociais sobre o que é “politicamente correcto na
adolescência”.
O outro facto, foi a publicação dum artigo publicado no jornal “A Semana”6, com
destaque na primeira página “Grávidas desaparecem das escolas”. A priori e ainda
sem ler o conteúdo, podia-se concluir que o mesmo continha dados que mostravam
que o problema da gravidez na adolescência tinha sido resolvido no nosso país.
Ao finalizar a leitura o(a) leitor(a) compreende que o entendimento inicial não tinha
nenhuma relação com as constatações: o artigo mostra “que apesar de existir uma
relação mais liberal com o preservativo no seio das famílias cabo-verdianas (...) as
moças continuam a engravidar a um ritmo assustador, (mas), o espectáculo pouco
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O caso tratava-se especificamente duma gravidez indesejada, pois era produto de um estupro...
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ASemana. Sexta-feira, 17 de Junho de 2005.
desejável das grávidas nas escolas desapareceu, porque as pessoas acabaram por
entender a medida”7, ou melhor diria eu, acabaram por aceitar e render-se perante a
medida, pois contra factos não a argumentos: as adolescentes grávidas tem de anular
a matrícula, ou seja, o referido despacho é aplicado, pelo menos sempre que a
gravidez seja uma evidência visual, ou seja, assumida publicamente pela jovem.
Face a isto pode concluir-se que apesar da escola geralmente ser considerada um
local de integração e protecção social, em Cabo Verde, devido a natureza de nossos
estabelecimentos e das concepções que nela circulam, é necessário proteger as
grávidas e seus respectivos bebés da escola.
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Adaptado de “ASemana. Sexta feira, 17 de Junho de 2005. “Grávidas desaparecem do panorama escolar”.
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Ministério de Educação, Cultura e Desporto, Gabinete do Ministro. “Orientações gerais para uma melhor gestão da questão da
gravidez nas escolas” 2001.
estipulassem não só o acesso, como a possibilidade de opção pela permanência ou
não na escola, respeitando a opção pessoal da jovem grávida, assim como o
reconhecimento dos direitos que ela como mulher possui, de desfrutar duma licença
de parto.
O debate que mencionei parece apontar esse caminho: reflectir, pesquisar, debelar a
nossa realidade e os factores que estão na base da gravidez na adolescência,
encontrar os caminhos a serem percorridos e que de facto ponham no centro da
atenção as nossas adolescentes e os problemas que elas enfrentam, é necessário fazer
tudo para diminuir a gravidez na adolescência e para evitar os riscos sociais que se
abatem sobre a jovem mãe, mas sem tabus e sem falsa moral, porque é preciso
encarar sem subterfúgios a questão que o artigo coloca: a medida trouxe satisfação pelo
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“ASemana. Sexta feira, 17 de Junho de 2005. “Grávidas desaparecem do panorama escolar”.
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Ministério de Educação, Cultura e Desporto, Gabinete do Ministro. “Orientações gerais para uma melhor gestão da questão da
gravidez nas escolas” 2001.
carácter moralizador, mas o problema, longe de deixar de existir agudiza-se, porque apenas foi
escondido debaixo do tapete – só e unicamente só por isso é que as grávidas desapareceram do
sagrado espaço escolar.
Maritza Rosabal