You are on page 1of 15

Educação ideológica: que bicho é esse?

Romualdo Tavares de Oliveira 1


Dina do Socorro Paiva Borges 2
Isabel Cristina dos Santos Oliveira3

RESUMO:
O presente trabalho procurou apresentar uma discussão a respeito do conceito
de ideologia e educação e o seu aparecimento na sociedade, buscando
estabelecer uma concepção sobre o que vem a ser educação ideológica e
estabelecer uma discussão sobre este conceito e seus pilares de sustentação.
Optou-se por uma abordagem qualitativa, onde se realizou uma pesquisa
bibliográfica. Como resultado, percebeu-se que a escola ainda é um aparelho
ideológico do Estado, e por isso, repassa em programas educacionais,
ideologias para as classes menos favorecidas ou oprimidas.

Palavra-chave: ideologia, educação ideológica e escola.

Para iniciar a discussão...

É importante frisar que renomados estudiosos como Louis Althusser,


na França e José B. Libanio no Brasil, têm contribuído para a reflexão sobre o
papel da ideologia para a sociedade e, especificamente, para a manutenção ou
superação dos modelos educacionais.
Assim, neste trabalho, a proposta é, de início, conceituar o que aqui se
entende por ideologia, educação e educação ideológica. Em seguida, será
abordado historicamente o surgimento desses conceitos nas sociedades.
Como terceira parte deste trabalho, procurar-se-á desenvolver e discutir sobre
a questão da educação ideológica e os seus pilares de sustentação, como: a
família, a igreja, a escola, a mídia e qualquer lugar onde o Estado consegue,
através dos seus aparelhos reprodutores ideológicos, repassar a sua ideologia,
que hoje assombra a educação brasileira. Também, procurar-se-á debater
sobre a questão dos modelos educacionais que visam o repasse da ideologia
da classe dominante para as demais classes que compõem a sociedade por

1
Coordenador Pedagógico do colégio Amapaense (unidade escolar da rede pública do Estado do Amapá)
e professor da Universidade Vale do Acaraú-UVA/AP. E-mail: romualdot2000@yahoo.com.br.
2
Professora de Literatura do Colégio Amapaense (unidade escolar da rede pública de ensino do Estado do
Amapá) e professora da Universidade Vale do Acaraú-UVA/AP. E-mail: dina.sb@hotmail.com
3
Graduanda do curso de Pedagogia do Instituto de Ensino Superior do Amapá-IESAP. E-mail:
isabel35@hotmail.com.br
meio das escolas e seus projetos pedagógicos. E por fim, procuraremos fazer
uma reflexão acerca da ideologia na escola e nos modelos educacionais.

O que é ideologia e educação: do conceito ao consenso teórico.


De imediato, é preciso delimitar o que se entende por ideologia.
Dessa forma, pode-se dizer que ideologia é um sistema mais ou menos
coerente de imagens, idéias, princípios éticos, representações globais. Esse
sistema também exprime gestos coletivos, rituais religiosos, estruturas de
parentesco, técnica de sobrevivência e desenvolvimento. Implica expressões
artísticas, discursos míticos ou filosóficos. Refere-se à organização dos
poderes, das instituições e dos enunciados e das forças que estas colocam em
jogo. É um sistema que tem por fim regular, no seio de uma coletividade, de um
povo, de uma nação, de um Estado, relações que os indivíduos entretêm com
os seus, com os estrangeiros, com a natureza, com o imaginário, com o
simbólico, com os deuses, com as esperanças, com a vida e com a morte.
(CHATELET apud LIBÂNIO, 2004).
Para Chauí (2004), ideologia é um conjunto lógico, sistemático e
coerente de representações de idéias e valores e de normas ou regras de
conduta, que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem
sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Portanto,
para ela a ideologia é uma regra, uma norma, que tem a função de explicar a
divisão de classes na sociedade e suas diferenças culturais e econômicas, não
mostrando a verdadeira divisão da sociedade que é na diferença de produção
de riqueza econômica.
Sendo assim, percebe-se que tanto Libanio(2004) quanto Chauí (2004)
convergem para uma mesma concepção a respeito do que se pode denominar
por ideologia, quando afirmam que a ideologia se situa no imaginário de cada
membro da sociedade e que esta vai estabelecer os padrões que deverão ser
vivenciados por cada membro dessa coletividade social.
Segundo Libanio (2004), é través da ideologia que as pessoas vão
revelando como representam e pensam e/ou imaginam a realidade. Nesse
sentido, a ideologia pertence á maneira humana de pensar, porque somos
movidos por dois pólos interiores. De um lado, queremos ter visão geral de
tudo. E isso vale até para as coisas materiais. Por outro lado, por mais
abragentes que queiramos ser, nossas visões de conjunto sempre se fazem a
partir de um ponto muito particular.
Logo, com a tomada de consciência explícita do termo ideologia, pode-
se definir agora o que se compreende por educação. Com a ajuda da
etimologia, isto é, o estudo da origem das palavras, poderar-se-á compreender
melhor esse termo. A palavra educação vem do Latim “educere” que significa
extrair, tirar, desenvolver. (BRANDÃO, 2001)
No dicionário da língua portuguesa educação significa: ato ou processo
de educar (se), qualquer estágio desse processo, aplicação de métodos
próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento resultante desse
processo: preparo. Desenvolvimento metódico de uma faculdade, de um
sentido, de um Órgão. Conhecimento e observação dos costumes da vida
social, civilidade, delicadeza, polidez e cortesia.
Então, pode-se entender que educação é um ato de aprendizagem
formal e informal, que acontece de maneira didática e espontânea, levando o
indivíduo a uma percepção de memória e dos sentidos. Também, ela ocorre
em todos os espaços de interação social do homem, sendo o meio pelo qual
este mesmo homem vai se apropriar dos valores, das crenças, das normas e
as idéias que foram construídas historicamente pela coletividade e/ou parte
dela..
Para Freire (1983), a educação é o fator mais importante para se
alcançar à felicidade. Já para Freitas (1986), ela é uma filosofia de vida, uma
concepção de sociedade concreta, que se dá através de instituições
específicas como: família, comunidade, mídia e escola, que são as porta -
vozes de uma nova pedagogia pós-moderna.
Portanto, pode-se afirmar que educação ideológica nada mais é do que
uma forma pedagógica de desenvolver e/ou manter as concepções e idéias
daqueles que estão no domínio de um determinado grupo social. Daí a
necessidade de atentarmos para o alerta de Libanio (2004), quando afirma que
é necessário que se trabalhe a consciência ideológica, buscando levar as
pessoas a perceberem a enorme diferença que existe entre a maneira como
elas imaginam a realidade e como esta se constrói de fato.
Assim, é imprescindível que os educadores da base do processo de
formação da coletividade social ressignifiquem as suas práticas pedagógicas,
procurando abolir da escola o papel de agente reprodutor da ideologia
dominante. Até porque, segundo Altusser apud Luckesi (1994), a escola tem
atuado em duas direções:
 Procura ensinar a ler, escrever, a contar, ou seja, aquilo que ele nomeia
como “saberes práticos”. Dessa forma, Prepara a maior parte de uma
mesma sociedade para o serviço braçal;
 Na outra direção, trabalha à disposição daqueles que irão ser os futuros
capitalistas e seus servidores, ensinando-lhes a mandar bem, a falar
bem àqueles que serão os futuros operários. A escola também os
ensina as regras dos bons costumes, do comportamento, da moral, da
consciência cívica, profissional e a redigir bem.
Para Luckesi (1994), A escola é o principal aparelho ideológico do
Estado. Ela, através dessa prática educativa, perpassa a vida das pessoas da
infância à maturidade, deixando uma forte marca na personalidade de cada
um, produzindo, assim, a força de trabalho.
Se pudéssemos ilustrar com uma frase de impacto o que é educação
ideológica, poderíamos, então, citar: “Cada massa que fica pelo caminho está
praticamente recheada da ideologia que convém ao papel que ela deve
desempenhar na sociedade (LUCKESI, 1994:47)”.

Educação e ideologia: o aparecimento na coletividade social.


Para entender o surgimento do conceito de ideologia, deve-se retroceder
na história. Pois, bem antes de, entre nós, se travarem batalhas ideológicas, a
Europa já tinha assistido à ascensão da classe burguesa, a primeira a içar a
bandeira ideológica na luta de interesses entre classes. A classe burguesa
nasceu predominantemente nas cidades, em oposição aos senhores feudais,
que eram donos de terras e tinham a seu serviço os “servos”, dedicando-se
fundamentalmente à guerra e ao gozo dos rendimentos produzidos pelos
servos.
A classe burguesa constitui-se na primeira e autêntica classe social,
sendo responsável pelo surgimento da ideologia nesse sentido mais restrito.
Até então, os grupos sociais, aristocracia (bellatores, guerreiros e nobres),
clero (oratores, rezadores) e servos (laboratores, trabalhadores), entendiam-se
como segmentos fixos, camadas naturais, verdadeiras “ordens” da sociedade.
Cada indivíduo acreditava pertencer a uma determinada camada desde o
nascimento, por ordem divina. Pouco a pouco essa ordem foi rompida, os
indivíduos passaram a constituir grupos sociais. Por exemplo, a maior mudança
foi sentida nos servos, que começaram a se tornar independente dos senhores
feudais em virtude das atividades artesanais, comerciais e agropecuárias.
Num primeiro momento a burguesia não tinha um projeto próprio; ou
seja; não tinha ideologia estava mais preocupada em garantir a aquisição de
títulos de nobreza e por isso não tinha ainda uma consciência ideológica. Por
outro lado, a monarquia entrou em choque com os interesses da burguesia e
como esta não tinha seu próprio projeto ideológico, foram esmagados. Mas a
burguesia conseguiu elaborar uma visão própria da sociedade em que defendia
seus interesses.
Com a visão mais clara, racional, dos próprios interesses com os outros
grupos, a primeira ideologia que apareceu na história foi a “ideologia
burguesa”. Ela esteve na base da Revolução Francesa, em 1789.(LIBANIO,
2004)
Vale salientar que o conceito de ideologia vem do francês “ideologie”
(1796). Filosoficamente é a ciência que estuda a origem das idéias humanas e
as percepções sensoriais do mundo externo. Esse conceito nasceu com o
filósofo francês Destutt de Tracy no século XVIII. (Idem)
Por outro lado, o conceito de educação surge nas sociedades primitivas,
quando o trabalho que produz os bens e quando o poder que reproduz a ordem
são divididos e começam a gerar hierarquias sociais, também o saber das
tribos. (BRANDÃO, 2001)
Assim, percebemos que os dois conceitos têm uma relação muito
estreita com o desenvolvimento das relações sociais, pois é na sociedade que
os grupos irão revelar e desenvolver as suas ideologias.

Educação ideológica e os seus pilares de sustentação...


É importante frisar que não iremos falar aqui nesse estudo dos governos
neoliberais ou progressistas e nem de partidos de direita ou de esquerda,
iremos falar sobre educação ideológica, pois é isso que mantém um sistema de
governo seja ele conservador ou progressista no poder.
A educação ideológica é usada pelo Estado para manter o poder de
Estado, e isso, é uma premissa de qualquer tipo de governo em qualquer parte
do mundo.
Vivemos num mundo globalizado onde a fronteira que separa as classes
sociais está cada vez mais forte e a suas diferenças acentuadas de maneira
que a luta que já era histórica, tornou-se também desumana.
Na busca por uma educação livre da ideologia das classes dominantes
deparamos com a tentativa de divulgação da ideologia das classes oprimidas,
essa luta histórica e antagônica no âmbito filosófico e político é ao mesmo
tempo alienadora, pois busca o domínio do Estado através de uma educação
ideológica.
Não se quer condenar essa ou aquela ideologia, nem defender uma
educação livre de qualquer ideologia, o que se quer é buscar uma escola
transformadora, na qual, haja uma pedagogia neutra, que terá em sua filosofia
a busca por uma ideologia elaborada pelos alunos e alunas, e professores e
professoras, livres do domínio do Estado ou de qualquer outro tipo de domínio.
A educação é o passaporte para um mundo novo, para um homem e
uma mulher novos autônomos e acima de tudo humanista/dialéticos.
Esperamos contribuir para o debate sobre o momento histórico em que
vive a educação, contribuindo de maneira neutra e livre dos dogmas
ideológicos, que encontramos na educação hoje.
Contribuindo para a formação do ser através do conviver e do conhecer,
fazendo desse movimento à maneira de fazer o pensar reflexivo objetivo e
subjetivo do individuo na sua formação inicial, a fim de torná-la capaz de
transformar e construir tudo a sua volta.
Buscar uma escola transformadora, humanista e criativa é o grande
desafio da educação brasileira nesse inicio de século XXI.
Também é bom lembrar que conceito educacional dos conservadores e
dos marxistas hoje, generaliza o sujeito que atua e o que conhece, a um
formato de sujeito ativo na construção da vida social que acham correta para
os seus interesses.
Falam em democracia, mas silenciam o povo o que é uma farsa, dão ao
povo “comprimidos pedagógicos” como solução imediata e apaziguadora do
sofrimento do saber. Comprimidos de conhecimentos ideológicos partidários.
Todo o sistema educacional se justifica, através de uma base de
argumentações, que oscilam entre uso da educação, como fator importante
para a correção do sistema socioeconômico e cultural, e outro, que defende a
educação como papel principal para a transformação do modelo de sociedade
em que vivemos.
A educação não está doente, porque nunca houve um sistema
educacional verdadeiro proposto pelos governos, por isso, não precisa de
remédios, precisa sim de uma proposta que una a educação: familiar, social,
global e intelectual.
A educação neoliberal, mesmo sendo moderna, não tem força para
esconder as diferenças de classes e seus interesses antagônicos históricos.
A educação progressista de cunho ideológico marxista é a
incompetência dos governos de esquerda, pois é fanática e remota a um
pensamento marxista-stalinista ou, até mesmo, a uma utopia cubana cheia de
clichês e de controvérsias, já que busca a conquista do poder, manipulação
das massas populares e uma inversão cultural.
"O socialismo realista", conforme o professor Paulo Freire, nunca foi
socialista, pois é desfacelada e tem como excelência intelectual um conhecer
sem compreender e, especialmente, sem sentimento e paixão.
Na escola, se percebem a divulgação e reprodução de uma ideologia
que domina o conjunto de idéias, concepção e conhecimento sobre um ponto
de discussão. Podemos ter duas visões para o mesmo assunto e, também,
dois posicionamentos ideológicos: um liberal (neoliberal) outro marxista, que
acarretara uma ação efetiva no sentido de organização ideológica da escola.
Há também a ideologia da igualdade de oportunidade escolar:
tratamento, gratuidade, obrigatoriedade, neutralidade, religiosidade, currículos
e de métodos, igualdade de competição escolar. A ideologia nas escolas divide
o sistema único em duas redes: uma inferior e outra superior, instruindo e
selecionando em duas versões: uma técnica e outra superior (PINSKY, 1999).
A escola como instituição para reproduzir o domínio de classe vigente de
poder de Estado ou do equilíbrio social, já que ela possui as ferramentas para o
desenvolvimento da ideologia da classe de poder de Estado, pois ela tem as
funções instrutivas e as educativas.
A ideologia educacional vem com a obrigação, nesse caso, de ocultar
essa divisão, formando um corpo de sentimento único e coeso, que tem a
função de apoiar a estrutura atual, não permitindo a mudança ou até mesmo
um princípio de mudança que venha tirar a ordem social do momento.
É importante dizer que o Estado sempre manteve a sociedade sobre os
domínios dos aparelhos repressivos, tais como: administração, polícia, exército,
tribunais, que constituem os aparelhos repressivos de Estado, esses aparelhos
estão ligados a um sentido de violência, o Estado se impõe através da violência
que, às vezes, chega a ser até física.
O pensador marxista italiano Antonio Gramsci afirmara que o Estado
não possui só aparelho repressivo, existem também as instituições da
sociedade civil, que formam os aparelhos ideológicos do Estado. Essas
instituições, em sua maioria, são instituições privadas como: os sindicatos, as
escolas, as igrejas, as famílias.
São esses aparelhos que funcionam através da ideologia, por isso, não
precisam ser públicos e nem privados. Os aparelhos ideológicos do Estado são
múltiplos, distintos e com certa autonomia, oferecem um campo vasto de
contradições ora ampla, ora limitada, para as lutas de classes.
Nesses aparelhos, o Estado exerce o seu poder através da ideologia,
diferente dos aparelhos repressivos, em que ele; (o Estado) exerce o seu poder
pela força física.
No início da década de setenta, o filósofo francês Louis Althusser
afirmou que a escola é um aparelho ideológico do Estado, causando com isso
um verdadeiro furor entre os intelectuais da época. Alguns professores
acordaram para a questão de serem peças num tabuleiro de jogo ideológico.
Os problemas educacionais estão no conceito de que a escola reproduz
desigualdade social, na medida em que contribui para a reprodução da
ideologia das classes dominantes e mesmo para a reprodução das próprias
classes sociais.
A dominação de classe se dá em primeiro momento no econômico, é a
luta histórica, que expressa na política, na luta ideológica e na hegemonia. O
Estado usa os aparelhos ideológicos e reprodutores de ideologia, para manter
a dominação sobre a classe menos favorecida. São concepções de mundo e
crenças sedimentadas historicamente.
Para Bourdieu e Passerou apud Libanio (2004), a escola é de certa
forma, uma maneira de perpetuar as relações de força de uma sociedade
classista”. A arma de uma escola é a sua ideologia; um sistema de verdade
universal.
Antonio Gramsci dizia que era preciso distinguir os conceitos de
ideologia orgânica da ideologia arbitrária, pois são diferenciadas no seu
contexto histórico, já que a orgânica serve para organizar as forças sociais e
para os homens e mulheres tomarem consciência de sua posição de luta. Para
Gramsci, a ideologia é, no primeiro momento, o cimento do alicerce da
estrutura social (NOSELLA, 1992).
Na ideologia arbitrária, o pensamento ideológico é imposto de maneira
alienada, com um domínio pelo poder de Estado do repasse e divulgação da
doutrina.
A maneira de pensar e agir ou na ação e reflexão, é uma dicotomia que
separa a sociedade no âmbito escolar. Uma parcela da sociedade se dedica ao
trabalho intelectual e outra ao trabalho técnico, a uma divisão do trabalho. Uma
classe pensa e manda; outra classe não pensa, logo, só obedece.
A leitura de mundo, na pedagogia transformadora é a liberdade, o papel
importante na vontade de ação na transformação social, mas como alcançar
essa liberdade presa a uma ideologia.
As ideologias não são estáticas, permanentes, elas funcionam de
maneira hegemônica e se reformulam a todo o momento, sem perder a sua
essência principal. A um confronto nesse processo, entre os intelectuais
tradicionais, os orgânicos e a práxis da sociedade.
O Estado cria uma escola pobre de cultura, tendo como fins a
profissionalização e a busca por empregos para as classes menos favorecidas.
Com isso, o ensino superior fica restrito cada vez mais à elite que controla a
ideologia e o poder de Estado.
Segundo Nosella (1992), Antonio Gramsci utiliza o termo ideologia como
referencia a hegemonia de classe, que se impõem com o significado de ação
sutil, de tal modo, que as ações de uma sociedade venham contribuir para
justificar a situação atual.
A escola como aparelho ideológico do Estado, vem a serviço da
dominação de uma classe sobre a outra, através de um processo de
hegemonia ideológica, mediante a uma conscientização alienante.
Perpetuando uma relação de produção e distribuição social do poder de
Estado.
Qualquer filosofia ou qualquer modelo de sociedade democrática
necessita ser consciente de que a ideologias é algo, que precisa ser conhecida.
É também importante saber, que cada ideologia tem sua liturgia, sua técnica e
suas tácticas de persuasão.
Antonio Gramsci utiliza o termo Hegemonia Ideológica, para se referi a
ideologia que se impõem de maneira significativa, e que, possibilite uma ação
de maneira sutil, de tal modo, que inclusão de formas de organização e de
atuação de uma sociedade, em que contribuam a manter a situação de
injustiça, seja a ser percebida como inevitáveis, naturais, sem possibilidade de
modificação (NOSELLA,1992).
A dominação de uma classe sobre a outra se dá, através da produção
eficaz de uma hegemonia ideológica, mediante a criação de uma consciência e
de um consentimento espontâneo dos membros da classe social submetida ao
poder de Estado.
Então, voltamos a dizer que escola é a ponte entre a sociedade civil e o
Estado, entre o consenso e a força política. A escola assumi o papel de
dominante na luta de classe e representa a maior força política e ideológica do
Estado.

Ideologia na escola: o que estamos vivenciando hoje?

Qual é o melhor modelo educacional para o povo? Ou melhor, qual o


projeto educacional que trará a verdadeira liberdade às classes oprimidas?
O que estamos vendo hoje é uma busca não pela verdadeira pedagogia
da transformação e da cidadania, mas sim, por uma pedagogia dos
comprimidos, que propõe uma carapuça ideológica no problema educacional
brasileiro.
A escola é um aparelho ideológico do Estado, e por isso, repassa em
programas educacionais, ideologias para as classes menos favorecidas ou
oprimidas. É uma violência simbólica que proíbe os homens e mulheres de ser.
É a violência ideológica que explora e mantém um "stato quo" na sociedade.
A luta de classes sempre existiu e é histórica, e essa busca pela
liberdade também é histórica e dolorosa, pois há um medo do novo, do homem
e da mulher, que irão nascer com a liberdade, autênticos e humanistas, com
uma nova leitura de mundo.
O professor Paulo Freire (1983) nos diz que esta pedagogia não pode
ser elaborada nem praticada pelos opressores, os opressores citados são os
que dirigem os poderes do Estado. Quando uma classe assumi o poder e
passa a desenvolver uma educação ideológica, ela passa de oprimida a
opressora, pois não desenvolve uma pedagogia livre da superestrutura, ao
contrário, torna os alienadores da, já alienada, sociedade dos oprimidos.
O ensino público, hoje, no Brasil, ensina a submissão dos alunos e
alunas, com uma prática ideológica alienante. A concepção de projeto
educacional progressista está centrada em definições acabadas, em que o
diálogo é apenas mera verbalização alienante e na qual não se pode denunciar
a falta da democracia educacional. É um ativismo que nega a práxis
pedagógica verdadeira, reduz a reflexão a tudo o que já foi pensado e decido
pelos intelectuais orgânicos desse sistema que aí está posto.
Não é novidade para aqueles que estão no “chão” da escola, ou seja, no
batalhão de frente, que um dos grandes problemas na educação brasileira é a
falta de compromisso dos programas e projetos pedagógicos governamentais
com uma cultara livre da imoralidade das bandeiras partidárias que infectam as
escolas com programas assistencialistas, cujo objetivo sutil é causar a
dependência das massas e a sua escravização intelectual.
Todos os projetos educacionais brasileiros trazem consigo uma ligação
com o governo. A tônica do discurso é sempre a mesma: Tudo pelo povo, mas
nem tudo para o povo. Acham que o povo não é capaz de decidir qual o
modelo educacional é melhor para o seu processo de formação e
humanização, justificando tal pensamento com o discurso de que o Estado é
soberano e tem poder e condições melhores para tomar tal decisão. Assim,
como sempre, assiste-se aos que na prática pedagógica do dia-a-dia
protagonizam o processo de ensino aprendizagem, tornarem-se meros
receptores de tal ação.
A grande questão, hoje, é se algum dia, os iluminados das autarquias
governamentais irão consultar os que compõem a escola, antes de lhes
empurrarem, goela abaixo, doses de comprimidos educacionais, cujo efeito é
de possantes tranqüilizantes. Uma prova do que se fala neste texto, são as
ações dos sistemas educacionais que têm priorizado um conhecimento
acabado em detrimento de um aprendizado dialético. E dessa forma, a
ideologia da classe dominante impregna a prática pedagógica de professores
das diversas áreas do saber, sem que estes tomem consciência de que estão a
serviço das idéias, valores e normas daqueles que detêm o poder.
No Brasil, podem-se ver projetos dados como verdadeiras obras primas
da pedagogia moderna, ser desfeitos por completo ou parcialmente, depois da
troca de governo.
Projetos como o Centro Integrado de Atenção à Criança - CIAC, escolas
de tempo integral, inspirada nos Centros Integrados de Educação - CIEP’s do
Governo de Leonel Brizola, enquanto esteve no governo do Estado do Rio de
Janeiro. E, diga-se de passagem, este projeto do governo Brizola, foi um dos
poucos que trouxeram benefícios pedagógicos a população das escolas
públicas do Rio de Janeiro.
Já os CIAC’s foi um projeto do, então, Presidente da República
Fernando Collor de Melo, que tinha como meta inicial atender 6 milhões de
crianças e jovens e 500 mil adultos na alfabetização no período noturno. É
importante, aqui, frisar que esse projeto do governo Collor estava orçado em
900 milhões.
Com a inauguração do primeiro Centro Integrado de atenção à Criança -
CIAC, em outubro de 1992, educadores de todo o país desejavam ser
contemplados com uma unidade educacional do CIAC em seu Estado, visto a
proposta pedagógica que este projeto defendia a princípio. No entanto, essa
esperança durou muito pouco e bem menos do que se esperava.
Em Ceilândia, a enorme procura dos alunos pela proposta da educação
integral, acabou superlotando o colégio, que precisou trabalhar com o rodízio
de turmas. Nessa escola, por exemplo, só foram construídas 12 salas de aulas
para 18 turmas formadas. De início os CIAC’s ofereciam almoço completo com
frutas legumes e carne. Pouco tempo depois, acaba-se a lua-de-mel do CIAC
com a educação e só restou a miséria.
Apelando para a memória política e econômica deste país, é importante
recobrar que o abandono completo do programa ocorreu por razões políticas,
técnicas e, principalmente, econômicas. Em janeiro de 1995, o Presidente
Fernando Henrique Cardoso extinguiu a Secretaria Especial do Ministério da
Educação que gerenciava a implementação dos CIAC’s nas unidades
federativas. Desse modo, todos os CIAC’s passaram aos domínios dos
governos estaduais e municipais. A maioria desses governos não preservou a
proposta inicial, apenas aproveitaram a estrutura física para abrigar alunos no
sistema convencional de educação. É importante informar que em nenhuma
das esferas governamentais a educação integral foi oferecida continuamente
durante os 15 anos que se passaram.
Neste processo do “jogo” ideológico, é pouco provável que muitos
educadores que atuam no Estado do Amapá, saibam explicar o que são os
Centros Integrados de Atenção à Criança - CIAC’s. Mesmo porque, o Amapá
ficou de fora desse programa que, na maioria das vezes, vêm sempre em
pacotes prontos, sem uma discussão prévia com aqueles que estão a frente do
trabalho educativo. É relevante que esses pacotes (políticas para a educação),
quase sempre, são de impressionar até o mais cético educador desse país.
Podería-se abrir, aqui nesse texto, um ou dois parágrafos para também falar de
muitos programas governamentais que “não pegaram”, o que seria uma grande
redundância do que se quer ilustrar. Pode-se afirmar, então, que estamos
vivendo a era do anacronismo ideológico: mudam-se os governos, mas não se
mudam as idéias opressoras. Em síntese: ainda estamos passando por um
processo de educação ideológica.
Assim, a educação sofre por acabarem com o projeto original e o
refazerem com outra metodologia, ou melhor, com outra ideologia.
A pedagogia dos comprimidos, que ainda hoje se assiste no Brasil é a
prova da doença ideológica que os nossos governantes estão sofrendo. E essa
doença é repassada para as massas populares de forma violenta: às vezes
simbólica, às vezes repressiva.
Ela é simbólica quando acontece através das ideologias do Estado, que
domina os aparelhos ideológicos como: escola, uma parte considerada da
igreja, os meios de comunicação e o MEC.
É repressiva quando o Estado usa a polícia e todos os aparatos de
segurança para impor suas idéias e manter a "ordem".
Historicamente, tanto os governos conservadores como progressistas
usam os aparelhos quando se sentem ameaçados pelos movimentos da
sociedade organizada. Mas é na escola, que acontece o encontro entre a
educação e as violências simbólica e repressiva. A escola, nesse momento,
torna-se um teatro de discussão ideológica, como se fosse um grande palco
que exibe uma peça de teatro, em que os atores são: educadores e
educandos, uns fingindo que ensinam e outros fingindo que aprendem.
Na platéia, a sociedade fingindo (ou sendo induzida) que acredita no
sistema e o Estado como o grande produtor da obra, financiando a custo baixo
uma educação classista, ideológica, arcaica, deformadora de consciência.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

ALTHUSSER, Louis. Aparelho Ideológico de Estado (AIE); tradução de


Walter Jose Evangelista e Maria Laura Viveiros de castro; 1ª edição; Rio de
Janeiro: ed. Graal, 1983.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense,


2001.

FREIRE, Bárbara - Escola, estado e sociedade; 6ª edição; São Paulo: Ed.


Moraes, 1986.

FREIRE, Paulo. Educação como pratica da liberdade; 18ª edição; Rio de


Janeiro: Ed. paz e terra; 1983.

_______Pedagogia do oprimido; 13ª edição; Rio de Janeiro: Ed. paz e terra;


1983.

GADOTTI, Moacir. Concepção Dialética da Educação: um estudo


introdutório; 1ª edição; São Paulo: Ed. Cortez, Autores Associados; 1987.

LIBANIO, J.B. Ideologia e Cidadania. 2ª edição; São Paulo: Moderna, 2004.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994

NOSELLA, Paolo - A escola de Gramsci; 1ª edição; Porto Alegre/RS; Ed.


Artes médicas sul; 1992.

PINSKY, Jaime. Educação e cidadania; 3ª edição; SP; Ed. contexto; 1999.

You might also like