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Análise da Descentralização com Base no Orçamento Geral do Estado

(OGE) - Moçambique
Por: Michael Godet Sambo

A descentralização pode ser definida como a reforma da administração pública que visa dar
aos governos distritais e municipais mais poderes de decisão, recursos e possibilidades de
interagir melhor com os cidadãos nas autarquias (cidades e vilas) i. Isto implica que algumas
decisões importantes sobre a vida da população sejam tomadas a um nível que permite as
próprias populações participarem activamente e controlarem a sua implementação.

Segundo Aghón (1996), há três formas de descentralização: (i) política, que confere maior
autonomia política para o estado sub-nacional [provincial, autárquico bem como distrital]; (ii)
administrativa, que transfere mais competências e (iii) económica, que confere mais recursos
e mais autonomia na produção de bens e serviços aos governos locais. Aghón enfatiza a
importância de se evitar exclusividade, elevando a importância de articulação entre as três
formasii.

A primeira lei da descentralização em Moçambique foi aprovada pouco antes das primeiras
eleições gerais de 1994. Trata-se da lei 3/94, de 13 de Setembro, que cria o quadro legal e
institucional dos distritos municipais (urbanos e rurais).iii

Incidindo o informe sobre a descentralização administrativa, que é onde se enquadra a


questão do orçamento, correspondem os esforços para atribuição de mais autonomia aos
governos locais ou distritais para identificação das necessidades, planificação e prestação de
serviços públicos às populações com auxílio das mesmas.

O Orçamento Geral do Estado é o documento de âmbito nacional que reflecte todas as


despesas a serem incursas pelo governo, no período de um ano, para a materialização do seu
plano. Com vista a reflectir os esforços de descentralização, o Orçamento Geral do Estado
inclui a alocação de recursos para os distritos de acordo aos respectivos planos de
governação.

No caso concreto de Moçambique, o “Informes Orçamentais” de Maio/2010 (sobre IV


Relatório de Execução Orçamental 2009) mostra que o total de recursos em 2009 foi de
87.453 milhões de MT, dos quais 44% foram executados no âmbito provincial e 66% no
âmbito central. De uma forma mais desagregada, englobando os distritos e as autarcias, a
distribuição dos recursos contemplou em 5% aos distritos, 1% às autarquias, e 28% às
províncias contra 66% das despesas realizadas no âmbito central.
Despesas Totais 2009 por Âmbito Geográfico (milhões
de Meticais)

Âmbito Provincial
28%

Âmbito Central
Âmbito Autárquico 66%
1%
Âmbito Distrital
5%

Fonte: Informes Orçamentais3 (Maio 2010)

Segundo o “Informes Orçamentais 4”, referente ao Orçamento do Estado de 2010, o total de


recursos disponíveis para este ano é de 117.977 milhões de Meticais, cuja previsão de gastos
com as despesas pública foi proposta da seguinte maneira: 72% ao nível central, 22% ao nível
provincial e aos níveis distrital e autárquico em igual proporção relativamente a 2009 (5% e
1%) como mostra a figura a seguir.

Comparação da Distribuição das Despesas Públicas por


Níveis Governativos (2009 & 2010)
80%
70%
2009
60%
2010
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Central Provincial Distrital Autárquico

Fontes: Informes Orçamentais 3 e 4

Os dados demonstram um aumento na percentagem dos gastos a nível central em detrimento


dos gastos em despesas públicas das províncias. Porém, o “informes” lembra que muitas
actividades e programas são contabilizados ao nível central (nomeadamente as despesas de
investimento) pelo facto de as capacidades e conhecimentos técnicos nas províncias e
distritos ainda não estarem a níveis desejados.

No entanto, esta situação da concentração dos fundos do Orçamento do Estado levanta


questionamentos quanto a existência ou não de interesses de descentralização bem como
sobre o discurso político do “distrito como pólo de desenvolvimento”. Sobretudo quando se
nota que o orçamento médio por distrito, dos 128 distritos segundo o padrão de
contabilização, corresponde a 0,05% do OGE e por município, dos 43 municípios,
corresponde a 0,02% que são valores equiparáveis aos fundos destinados ao funcionamento
do gabinete do anterior chefe de estado correspondente a 0.04%.

Valores ≈ do OGE para Distrito e Localidade VS Órgãos


Centrais
733,533,000

491,827,100
364,794,400

65,105,900 60,623,690
24,694,902

) ) ) ) ) )
6 2% 4 2% 3 1% 0 6% 0 5% 0 2%
. . . 0. . .
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Fonte: cálculos com base em dados de: Informes Orçamentais 4, cip, macua.blog

Comparados os valores médios orçados por distrito e município são inferiores aos valores
orçados para cada órgão do governo central como se pode ver pela figura acima. As questões
a levantar são: “em que consiste a descentralização em Moçambique? Que estratégias as
Organizações da Sociedade Civil-OSC (representando a população) podem adoptar para sua
maior participação na governação a nível local e nacional? A verdade é que as necessidades
directas da sociedade são satisfeitas aos níveis distrital e municipal, e para isso as OSC´s têm
algum papel a desempenhar.
i
Referências
Fernanda Faria e Ana Chichava, Outubro de 1999
Santiago, Chile, (2000) Desenvolvimento Local e Descentralização na América Latina: O Caso do
ii

Estado do Ceará, Brasil.


http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/04/orçamento-do-estado-privilegia-órgãos-
centrais.html

http://comunidademocambicana.blogspot.com/2010/04/oposicao-questiona-criterios-da.html

http://www.cip.org.mz/index.asp?sub=actual&doc=86

http://www.cip.org.mz/index.asp?sub=actual&doc=65

iii
http://www.mae.gov.mz/061116_1522/a_descentralizacao.htm

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