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[Na Sala Paulo VI]
Nessa Eucaristia solene, vivida por tantos fiéis presentes com intensa
participação e devoção, orei com fervor pelos que se dirigem em peregrinação
a Santiago, para que possam receber o dom de chegar a ser verdadeiras
testemunhas de Cristo, a quem redescobriram nas encruzilhadas dos
sugestivos caminhos rumo a Compostela. Rezei também para que os
peregrinos, seguindo os passos de numerosos santos que, no decurso dos
séculos, fizeram o "Caminho de Santiago", continuem mantendo vivo o seu
genuíno significado religioso, espiritual e penitencial, sem ceder à banalidade, à
distracção, às modas. Esse caminho, entretecido de vias que sulcam vastas
terras, formando uma rede através da Península Ibérica e a Europa, foi e
continua sendo um lugar de encontro de homens e mulheres das mais diversas
procedências, unidos pela busca da fé e da verdade sobre si mesmos, e
suscita experiências profundas de partilha, de fraternidade e de solidariedade.
A igreja da Sagrada Família foi concebida e projectada por Gaudí como uma
grande catequese sobre Jesus Cristo, como um cântico de louvor ao Criador.
Nesse edifício tão importante, ele colocou a sua própria genialidade ao serviço
do belo. De facto, a extraordinária capacidade expressiva e simbólica das
formas e dos motivos artísticos, como também as inovadoras técnicas
arquitectónicas e esculturais, evocam a Fonte suprema de toda a beleza. O
famoso arquitecto considerou este trabalho como uma missão na qual estava
envolvida toda a sua pessoa. Desde o momento em que aceitou a tarefa da
construção dessa igreja, a sua vida foi marcada por uma mudança profunda.
Ele empreendeu, assim, uma intensa prática de oração, jejum e pobreza,
advertindo a necessidade de preparar-se espiritualmente para conseguir
expressar na realidade material o mistério insondável de Deus. Pode-se dizer
que, enquanto Gaudí trabalhava na construção do templo, Deus construía nele
o edifício espiritual (cf. Ef 2, 22), reforçando-o na fé e aproximando-o cada vez
mais da intimidade de Cristo. Inspirando-se continuamente na natureza, obra
do Criador, e dedicando-se com paixão a conhecer a Sagrada Escritura e a
liturgia, soube realizar no coração da cidade um edifício digno de Deus e, por
isso mesmo, digno do homem.