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Conteúdo

1 Generalidades 3
1.1 Um breve histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Algumas considerações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2.1 Periodicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.2 Ortogonalidade de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.3 Ortogonalidade em relação à função peso . . . . . . . . . . . . . 9

2 A série de Fourier trigonométrica 11


2.1 Relações de ortogonalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.1.1 Prova das relações de ortogonalidade . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Os coeficientes de Euler-Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3 A convergência da série . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4 O cálculo da série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4.1 Caso I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4.2 Caso II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4.3 Caso III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.5 Série de Fourier na forma compacta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.5.1 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

1
2 CONTEÚDO
Capítulo 1

Generalidades

Este capítulo apresenta de modo sucinto a origem de uma importante área da matemática,
a Análise de Fourier, e os conceitos básicos que a fundamentam. Este ramo da análise é
devido a vários matemáticos contemporâneos de Fourier e seus sucessores próximos. Um
enfoque cronológico da evolução da teoria pode ser encontrado em [O’Neil, 1995].

1.1 Um breve histórico


A análise de Fourier consiste no estudo de séries, de integrais e de transformadas, e é
assim denominada em homenagem a Jean Baptiste Joseph Fourier(1768-1830), físico
e matemático francês que, em 1807, submeteu um artigo sobre a formulação matemática
da condução do calor à Academia de Ciências de Paris. O desenvolvimento de funções
"arbitrárias" em séries trigonométricas (séries infinitas de senos e co-senos) chocou a co-
munidade científica da época e seu trabalho foi rejeitado por falta de precisão matemática.
De fato, Joseph Louis Lagrange provou que algumas funções não podem ser represen-
tadas por tais séries. Contudo, os grandes matemáticos da época, que avaliaram o ar-
tigo, Laplace, Lagrange e Legendre encorajaram-no a prosseguir na pesquisa. Em 1811,
Fourier submeteu uma versão revisada do artigo à Academia que, então, reconheceu a
importância de seu trabalho e lhe concedeu o grande prêmio, mas deixando de publicá-
lo por apresentar lacunas em alguns detalhes. Finalmente, em 1822, Fourier publicou o
seu, agora clássico, tratado "Thèorie Analytique de la Chaleur", incorporando as idéias de
1811 a outras novas.
Entretanto, a formulação e o estabelecimento da teoria para desenvolver funções em
séries trigonométricas, aproximadamente em 1750, são atribuídos a Daniel Bernoulli
(1700-1782) e a Leonhard Euler1 . As fórmulas integrais, que definem os coeficientes
da série, foram descobertas por Euler em 1777.
Fourier não estabeleceu nenhuma restrição para a validade da representação em séries.
Somente em 1828, Dirichlet2 impôs condições suficientes para a convergência das séries
1
Leonhard Euler (1707-1783), matemático suíço, muitas vezes chamado de "o grande analista de sua
época". Entre aproximadamente 1729-1753, durante o estudo das perturbações planetárias, foi levado a
escrever uma função em série trigonométrica. Morreu cego, na Alemanha.
2
Peter Gustav Lejeune-Dirichlet (1805-1859), matemático alemão, conhecido por seus trabalhos em
análise e equações diferenciais também foi um dos mais importantes matemáticos, na área da Teoria dos
Números, do século XIX.

3
4 CAPÍTULO 1. GENERALIDADES

de Fourier.
Amigo e confidente de Napoleão, em 1798, Fourier fez parte da comitiva que acom-
panhou o imperador ao Egito. Fourier também é lembrado por ter patrocinado Jean
François Champollion, o primeiro a decifrar os hieróglifos egípcios da pedra de Rosetta.
A integral de Fourier consta no final de seu trabalho de 1811 e, em 1816, no artigo
de Cauchy que foi o vencedor do prêmio sobre ondas de superfície em um fluido e no de
Poisson, sobre ondas de água.
A transformada de Fourier aparece, perto de 1872, nos trabalhos de Cauchy e de
Laplace. A transformada discreta de Fourier é utilizada com o objetivo de determinar a
amplitude e o período de um sinal obtido por amostragem, ou como uma aproximação
para a transformada de Fourier. O par Fourier F (w) e f (t), que será estudado neste
curso, envolve as funções exponenciais complexas conjugadas e2πiwt e e−2πiwt . O par
transformada Fourier discreta simplifica o cálculo do par transformada, pelo fato de que a
exponencial e2πim = 1, para todo inteiro m. Ou seja, é uma discretização da transformada
de Fourier, para o cálculo com o computador: a análise digital de um sinal. A transfor-
mada rápida de Fourier(FFT) é um algoritmo para o cálculo eficiente da transformada
discreta de Fourier, sendo o grande responsável pelo sucesso do método da transformada
de Fourier em aplicações na engenharia. O algoritmo aparece pela primeira vez, em 1965,
em um artigo de cinco páginas intitulado "An Algorithm for the Machine Calculation of
Complex Fourier Coefficients," escrito por James W. Cooley da IBM e John W. Tukey da
Princeton University. Entretanto, o algoritmo foi desenvolvido usando idéias de Danielson
e Lanczos. Este último, um matemático húngaro, concebeu as idéias essenciais, em torno
de 1938, quando trabalhava em problemas de métodos numéricos e análise de Fourier.

1.2 Algumas considerações


O ponto de partida para o estudo da Análise de Fourier será o desenvolvimento de uma
função "arbitrária" (as condições impostas à função, suficientes para a convergência, serão
dadas a conhecer mais tarde) definida em certo intervalo, em série de funções trigono-
métricas.

Figura 1.1: Função definida num intervalo simétrico e num intervalo qualquer.

a0 X h ³ nπ ´ ³ nπ ´i

f (x) ' + an cos x + bn sin x (1.1)
2 n=1
L L
A série representa "qualquer" função tal que f (x + 2L) = f (x), ou seja, com período
2L = T . Para aproximar uma função na forma da Eq.(1.1), os conjuntos infinitos de
1.2. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 5

funções ortogonais são de fundamental interesse e constituem o assunto a ser desen-


volvido inicialmente.

Observação
A expansão de uma função em série de Fourier é uma representação mais geral, quanto
ao tipo de função, que as séries de Taylor e de MacLaurin, nas quais procura-se aproximar
uma função através de um polinômio. Ou seja, expande-se uma função em termos de uma
série de potências 1, x, x2 , x3 ,...
Para o desenvolvimento em série de potências, a condição imposta à função é que
f (x) seja contínua e diferenciável até ordem n, em um intervalo fechado [a, b], sendo as
derivadas contínuas e que a derivada de ordem n + 1 exista em um intervalo aberto (a, b).
As funções periódicas apresentadas na Figura 1.2 não têm representação em série de

Figura 1.2: Funções periódicas.

Taylor, contudo admitem expansão em série de Fourier.


• As funções representadas à esquerda e ao centro, na Figura 1.2, são contínuas, entre-
tanto, nos pontos A, B e C a derivada da função f (x) não está definida.
• A função, Figura 1.2 à direita, tem descontinuidades do tipo salto nos pontos A, B, C e
D.

Em matemática avançada, uma função é considerada a generalização de um vetor.


Analogamente aos espaços lineares, onde um escalar é associado a cada par ordenado de
vetores satisfazendo certas propriedades, o produto escalar é utilizado para desenvolver
noções de "ortogonalidade", "distância"e "convergência" no espaço de funções. A orto-
gonalidade de certas funções, como estudado na disciplina de Equações Diferenciais II,
proporciona uma poderosa ferramenta para resolver problemas de valores no contorno.

Lembrar:
no espaço Rn ,
P
n
• < ~u, ~v >= uk vk é o produto escalar.
√ 1
• ||~u|| = < ~u, ~u > é a norma induzida pelo produto escalar.
• ||~u|| = 1, o vetor de comprimento unitário, é dito vetor unitário.
• Qualquer vetor não-nulo pode ser normalizado dividindo-o pelo seu próprio
~v
comprimento w ~= .
|~v |
• A distância entre dois vetores ~u, ~v é definida como ||~u − ~v ||.
6 CAPÍTULO 1. GENERALIDADES

Conceitos importantes:
• periodicidade;
• ortogonalidade;
• normalização/ortonormalização;
• base, conjunto linearmente independente (L.I.);
• função par/função ímpar.

1.2.1 Periodicidade
Uma função f satisfazendo a identidade f (x) = f (x + T ) para todo x de seu domínio,
onde T > 0, é dita periódica ou, mais especificamente, T-periódica. Ao menor T > 0,
denomina-se período fundamental da função. Se T é um período, então nT também o é,
para qualquer inteiro n > 0.
Qualquer função constante é periódica com período arbitrário. As funções trigonomé-
tricas f (x) = sin(x) e f (x) = cos(x) são periódicas de período T = 2nπ, n 6= 0 inteiro,
sendo o período fundamental T = 2π. Fenômenos periódicos são comuns em problemas

Figura 1.3: Funções periódicas.

da Física e Engenharia: forças, corrente elétrica, voltagem, movimento, ondas sonoras,


etc. são, muitas vezes, de natureza periódica. Alguns sistemas periódicos têm sua repre-
sentação através de Movimento Harmônico Simples (MHS). Este é o caso das vibrações
livres naturais, sistema de um grau de liberdade cuja resposta é representada por uma
única superposição das funções seno e co-seno e, se uma condição inicial é nula, reduz-se
a apenas uma função seno ou co-seno.
Outros fenômenos têm um comportamento periódico mais complexo. Por exemplo, o
batimento cardíaco, as marés dos oceanos e os sons musicais. Este também é o caso de
sistemas oscilatórios (massa mola e circuitos elétricos) submetidos a forças periódicas. A
representação desses fenômenos exige uma superposição infinita de funções senoidais.

1.2.2 Ortogonalidade de funções


Assim como a ortogonalidade de vetores, a ortogonalidade de funções é concebida a partir
do produto interno. A ortogonalidade de um conjunto infinito de funções é o fundamento
essencial para o desenvolvimento de uma função em série de Fourier. A estrutura básica,
os conceitos e as definições fundamentais para o desenvolvimento em séries são o objeto
de estudo desta seção.
1.2. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 7

• Produto interno
O produto interno de duas funções f e g em um intervalo [a, b] é o número

Zb
< f, g >= f (x)g(x)dx. (1.2)
a

• Ortogonalidade
Duas funções f e g são ortogonais em [a, b], se
Z b
< f, g >= f (x)g(x)dx = 0. (1.3)
a

Neste contexto, o termo ortogonal não tem qualquer significado geométrico.

Exemplo 1
As funções
f (x) = x2 e g(x) = x3
são ortogonais no intervalo [−1, 1], pois da Eq.(1.3) o produto interno é
Z 1 Z 1 ¸1
2 3 x6 5 1
< f, g >= x x dx = x dx = = [1 − (−1)6 ] = 0.
−1 −1 6 −1 6

Exemplo 2
Dadas as funções
f (x) = 2x e g(x) = 3 + cx, 0 ≤ x ≤ 1,
determine o valor da constante c para que f e g sejam ortogonais neste intervalo.
Tem-se da Eq.(1.2) que
Z 1 Z 1 · ¸1
6x2 2cx3
2 2
< f, g >= (2x)(3 + cx)dx = (6x + 2cx )dx = + = 3 + c.
0 0 2 3 0 3

2 2 9
O produto interno será nulo, se 3 + c = 0 ⇒ c = −3 ∴ c = − .
3 3 2
9
Conclui-se que as funções f (x) = 2x e g(x) = 3 − x são ortogonais em [0, 1].
2
• Normalização e ortonormalização
A norma, módulo ou comprimento generalizado de uma função em [a, b] é dada por
s
p Z b
Nf = ||f || = < f, f > = [f (x)]2 dx. (1.4)
a

A norma quadrática de f , no intervalo [a, b], é definida como


Z b
2
||f || = [f (x)]2 dx. (1.5)
a
8 CAPÍTULO 1. GENERALIDADES

Exemplo 3
Considere-se as funções ortogonais, no intervalo [0, 1],
9
f (x) = 2x e g(x) = 3 − x.
2
A norma quadrática e a norma destas funções são dadas, respectivamente, por
Z 1 Z 1 · 3 ¸1 r
4x 4 4
||f (x)||2 = (2x)2 dx = 4x2 dx = = ∴ Nf = ||f || =
0 0 3 0 3 3
Z 1 µ ¶2
2 9 9 3
||g(x)|| = 3− x dx = ∴ Ng = ||g|| =
0 2 4 2
• Para o cálculo da norma de uma função, esta deve ser de quadrado integrável, ou seja,
uma função do espaço L2 .

• Se ||f (x)||2 = 1, f é dita normalizada em [a, b], isto é, se


Z b
[f (x)]2 dx = 1. (1.6)
a

• Um conjunto infinito de funções {φk }, k = 1, 2, ... é dito ortonormal em [a, b], se for
ortogonal, Eq.(1.3), e normalizado, Eq.(1.6), neste intervalo, ou seja, se
Z b ½
0. m 6= n
< φn , φm >= φn (x)φm (x)dx = (1.7)
a 1, m = n,

A equação Eq(1.7) pode ser escrita sob a forma


Z b
φn (x)φm (x)dx = δm,n ,
a
½ ¾
0, m 6= n
onde δm,n é a notação delta de Kronecker, δm,n = .
1, m = n.
• Um conjunto ortogonal de funções {φk (x)}, k = 1, 2, ... é dito uma base em [a, b].

• Qualquer conjunto ortogonal de funções não nulas {φk (x)}, k = 1, 2, ... pode ser trans-
formado em um conjunto ortonormal, dividindo-se cada função por sua norma.

Exemplo 4
O conjunto de funções periódicas, T = 2L,
n ³π ´ ³π ´ ³ nπ ´ ³ nπ ´ o
φn = 1, cos x , sin x , ..., cos x , sin x , ... ,
L L L L
n inteiro positivo, é um conjunto ortogonal de funções em [−L, L] com o produto escalar
Z L
< φn , φm >= φn (x)φm (x)dx.
−L
1.2. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 9

Exemplo 5
O conjunto infinito de funções periódicas

φn = {1, cos(nx), sin(nx)}, n = 1, 2, ...

é um conjunto ortogonal em [−π, π], sobre o produto escalar definido na Eq.(1.2) acima.

Exemplo 6
O conjunto infinito de funções

{1, cos(x), cos(2x), ...}

é ortogonal no intervalo [−π, π].

Exemplo 7
O conjunto infinito de funções
½ µ ¶¾

φk = sin x , k = 1, 2, ...
L
° µ ¶°2
° kπ ° L
°
é um conjunto ortogonal em [0, L] e sua norma quadrática é °sin x ° = .
L ° 2

1.2.3 Ortogonalidade em relação à função peso


A ortogonalidade em relação à função peso é fundamental para as séries de Fourier ge-
neralizadas, como foi amplamente estudado na disciplina de Equações Diferenciais II. A
seguir, são apresentados de modo sucinto alguns resultados já conhecidos pelo aluno.

Um conjunto infinito de funções {φn (x)}, n = 1, 2... é ortogonal em relação à função


peso w(x), em um intervalo [a, b], se
Z b
w(x)φm (x)φn (x)dx = 0, m 6= n. (1.8)
a

A hipótese usual é que w(x) > 0 no intervalo de ortogonalidade [a, b].

Associando conhecimentos

(a) As soluções equação de Hermite

y 00 − 2xy 0 + 2ny = 0

são os polinômios de Hermite Hn (x) gerados pela fórmula de Rodrigues

dn ³ −x2 ´
n x2
Hn (x) = (−1) e e .
dxn
10 CAPÍTULO 1. GENERALIDADES
2
Os polinômios de Hermite são ortogonais em relação à função peso w(x) = e−x no in-
tervalo −∞ < x < ∞, pois
Z ∞
2
e−x Hm (x)Hn (x)dx = 0, m 6= n
−∞

e a norma quadrática é Z ∞ √
2
e−x [Hn (x)]2 dx = 2n n! π.
−∞

A solução da equação diferencial pode ser escrita na forma

f (x) = A0 H0 (x) + A1 H1 (x) + A2 H2 (x) + ...,

sendo os coeficientes
Z∞
1 2
Ak = k √ e−x f (x)Hk (x)dx.
2 k! π
−∞

(b) A equação diferencial

(1 − x2 )y 00 − 2xy 0 + n(n + 1)y = 0

é conhecida como a equação de Legendre. As soluções são denominadas de funções


de Legendre ordem n ou os polinômios de Legendre, Pn (x), obtidos pela fórmula de
Rodrigues
1 dn 2
Pn (x) = n (x − 1)n .
2 n dxn
O conjunto {Pn (x)}, n = 1, 2, ... é ortogonal em relação à função peso constante w(x) = 1,
no intervalo −1 ≤ x ≤ 1.
De fato,
Z 1 Z 1
2
Pm (x)Pn (x)dx = 0, m 6= n e [Pn (x)]2 dx = .
−1 −1 2n + 1

(c) A equação diferencial de Laguerre

xy 00 + (1 − x)y 0 + ny = 0,

para n = 0, 1, 2, ..., tem como soluções os polinômios Ln (x), dados pela fórmula de
Rodrigues
dn
Ln (x) = ex n (xn e−x ),
dx
que são ortogonais em relação à função peso w(x) = e−x , no intervalo 0 ≤ x < ∞, sendo
que Z Z
∞ ∞
−x
e Lm (x)Ln (x)dx = 0, m 6= n e e−x [Lm (x)]2 dx = (n!)2 .
0 0
Capítulo 2

A série de Fourier trigonométrica

O objetivo deste capítulo é estabelecer a teoria, a fim de escrever uma função periódica
em série de Fourier trigonométrica (série real), ou seja, escrever f (x) na forma

a0 X h ³ nπ ´ ³ nπ ´i

f (x) ' + an cos x + bn sin x . (2.1)
2 n=1
L L

Para tanto, deve-se determinar os coeficientes Ck de modo que


° °
° Xn °
° °
°f − Ck φk ° = mínima.
° °
k=1

Este problema tem uma única solução, se

< f, φk >
Ck = , n = 1, 2, ..., n. (2.2)
kφk k2

Fundamentação teórica

 1. Relação de ortogonalidade dos elementos da base
2. Obtenção dos coeficientes

3. Condições para a convergência (Dirichlet)
Observação: como ambas as funções
¡ ¢ £ ¤ 
cos Lπ x = cos Lπ (x + 2L) 
¡π ¢ £π ¤  são periódicas de período T = 2L, a série
sin L
x = sin L
(x + 2L)
a0 X h nπ i


+ an cos x + bn sin x
2 n=1
L L
deve ser periódica de período T = 2L. Portanto, deve-se supor a função f (x) como sendo
periódica.

A seguir, serão consideradas as funções, Figura(2.1), tais que f (x + 2L) = f (x), para
a extensão normal (Caso I).

11
12 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA

Figura 2.1: Função periódica definida em [−L, L].

2.1 Relações de ortogonalidade


Deve-se mostrar que o conjunto infinito de funções
n ³ nπ ´ ³ nπ ´o
1, sin x , cos x
L L n=1,2,...

é um conjunto ortogonal no intervalo [−L, L], ou seja, que



Z L ³ mπ ´ ³ nπ ´  0, m 6= n 6= 0
cos x cos x dx = L, m = n 6= 0 (2.3)
−L L L 
2L, m = n = 0
Z L ³ mπ ´ ³ nπ ´ ½
0, m 6= n
sin x sin x dx = (2.4)
−L L L L, m = n
Z L ³ mπ ´ ³ nπ ´
cos x sin x dx = 0, m, n = 1, 2, ... (2.5)
−L L L
A prova das relações de ortogonalidade, acima, é estabelecida a partir das pro-
priedades
Z L ³ nπ ´ Z L ³ nπ ´
(A) cos x dx = 0, (B) sin x dx = 0.
−L L −L L

e das relações trigonométricas:


1
(R1 ) cos(A) cos(B) = {cos(A − B) + cos(A + B)}
2
1
(R2 ) sin(A) sin(B) = {cos(A − B) − cos(A + B)}
2
1
(R3 ) sin(A) cos(B) = {sin(A − B) + sin(A + B)}
2
Prova (A) Tem-se, no intervalo [−L, L], que
Z L ³ nπ ´ ³ nπ ´ ¯L
L ¯ 2L
cos x dx = sin x ¯ = sin(nπ) = 0,
−L L nπ L −L nπ
2.1. RELAÇÕES DE ORTOGONALIDADE 13

pois sin(kπ) = 0, k = 0, 1, 2....

Prova (B) No intervalo simétrico, segue que o produto interno é


Z L ³ nπ ´ ³ nπ ´ ¯L
L ¯ L L
sin x dx = − cos x ¯ =− cos(nπ) + cos(nπ) = 0,
−L L nπ L −L nπ nπ

pois cos(−a) = cos(a).

2.1.1 Prova das relações de ortogonalidade


Prova de 2.3
O produto interno, no intervalo [−L, L], é dado por

ZL ³ mπ ´ ³ nπ ´ ZL ½ · ¸ · ¸¾
R1 1 (m − n) (m + n)
cos x cos x dx = cos πx + cos πx dx
L L 2 L L
−L −L

m
 ∈ Z, n ∈ Z, m − n = N ∈ Z, m + n = M ∈ Z

 m 6= n 6= 0

 RL ¡ Nπ ¢ RL ¡ Mπ ¢

 1 1

 = 2
cos L
x dx + 2
cos L
x dx = 0

 −L −L



 m = n 6= 0
RL £ ¡ ¢¤ RL ¯L

 = 1
2
1 + cos 2mπ
L
x dx = 12 −L dx = 12 x¯−L = L

 −L



 m = n = 0



 RL ¯L

 = 12 2dx = t¯−L = 2L
−L

Prova de 2.4
Calculando o produto interno, no intervalo considerado acima, vem

ZL ³ mπ ´ ³ nπ ´ ZL ½ · ¸ · ¸¾
R2 1 (m − n) (m + n)
sin x sin x dx = cos πx − cos πx dx
L L 2 L L
−L −L

m
 ∈ Z, n ∈ Z, m − n = N ∈ Z, m + n = M ∈ Z

 m 6= n



 RL ¡ Nπ ¢ RL ¡ ¢

 = 1
2
cos L
x dx − 1
2
cos MLπ x dx = 0
−L −L

 m=n

 RL £ ¡ 2mπ ¢¤ ¯

 1 1 ¯L

 = 2
1 − cos L
x dx = x
2 −L
=L
−L
14 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA

Prova de 2.5
De Eq.(1.2), vem

ZL ³ mπ ´ ³ nπ ´ ZL · µ ¶ µ ¶¸
R3 1 m−n m+n
cos x sin x dx = sin πx + sin πx dx
L L 2 L L
−L −L

m
 ∈ Z, n ∈ Z, m − n = N ∈ Z, m + n = M ∈ Z

 m 6= n

 RL ¡ Nπ ¢ RL ¡ ¢

 1 1

 = 2
sin L
x dx + 2
sin MLπ x dx = 0
−L −L

 m = n 6= 0

 RL RL ¡ 2m ¢

 1 1

 = 2
sin 0dx + 2
sin L
πx dx = 0
−L −L

2.2 Os coeficientes de Euler-Fourier


Nesta seção, serão obtidas as fórmulas de Euler para determinar os coeficientes da série
de Fourier. Para tanto, considere-se uma função periódica f (x + 2L) = f (x). Deseja-se
escrever
X∞ h ³ nπ ´ ³ nπ ´i
f (x) ' A + an cos x + bn sin x , (2.6)
n=1
L L
e, sendo assim, as fórmulas para o cálculo dos coeficientes an , bn e A devem ser estabele-
cidas.

A fórmula para os coeficientes an


Para deduzir
¡ mπ a¢ fórmula dos coeficientes an , n = 0, 1, 2, ..., multiplica-se a expressão (2.6)
por cos L x e, a seguir, integra-se os dois lados no intervalo [−L, L], obtendo-se
Z L ³ mπ ´ Z L ³ mπ ´
f (x) cos x dx = A cos x dx
−L L −L L
| {z }
0
∞ ·Z
X L ³ mπ ´ ³ nπ ´ Z L ³ mπ ´ ³ nπ ´ ¸
+ an cos x cos x dx + bn cos x sin x dx .
−L L L −L L L
n=1 | {z }
0

Assim,
Z L ³ mπ ´ Z L ³ mπ ´ ³ mπ ´ Z L ³ ´
2 mπ
f (x) cos x dx = an cos x cos x dx = am cos x dx
−L L −L L L −L L
| {z }
0 se m6=n e L se m=n

e Z L ³ mπ ´
f (x) cos x dx = am L.
−L L
2.2. OS COEFICIENTES DE EULER-FOURIER 15

Deste modo,
Z L ³ nπ ´
1
an = f (x) cos x dx, para n ≥ 0. (2.7)
L −L L

A fórmula para os coeficientes bn


De modo similar ao anterior,
¡ ¢a fórmula para os coeficientes bn é obtida multiplicando a
expressão (2.6) por sin mπ
L
x e integrando o resultado no intervalo [−L, L]. Com este
procedimento, vem
Z L ³ mπ ´ Z L ³ mπ ´
f (x) sin x dx = A sin x dx
−L L −L L
| {z }
0
∞ ·
X Z L ³ mπ ´ ³ nπ ´ Z L ³ mπ ´ ³ nπ ´ ¸
+ an sin x cos x dx + bn sin x sin x dx .
−L L L −L L L
n=1 | {z } | {z }
0 L se m=n

Com m = n, segue que


Z L ³ mπ ´ Z L ³ mπ ´
f (x) sin x dx = bm sin2 x dx = bm L,
−L L −L L
ou seja,
Z L ³ nπ ´
1
bn = f (x) sin x dx, n ≥ 1. (2.8)
L −L L

A fórmula para o coeficiente A


Integrando a expressão (2.6) no intervalo [−L, L], obtém-se
Z L Z L X∞ · Z L ³ nπ ´ Z L ¸

f (x)dx = A dx + an cos x dx +bn sin xdx .
−L −L −L L −L L
n=1 | {z } | {z }
0 0
Assim, Z Z
L L
f (x)dx = A dx = 2AL
−L −L
ou
Z L
1
A= f (x)dx. (2.9)
2L −L

Por outro lado, com a fórmula para os an , com n = 0, tem-se que


Z L Z L
1 1
a0 = f (x) cos(0)dx = f (x)dx. (2.10)
L −L L −L

Comparando as expressões (2.9) e (2.10), conclui-se que


a0
A= . (2.11)
2
16 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA

2.3 A convergência da série


As condições suficientes, para a convergência da série de Fourier para a função, são
conhecidas como as condições de Dirichlet:
1. f periódica, f (x + 2L) = f (x);

2. f definida, exceto em um número finito de pontos no intervalo −L ≤ x < L;

3. f e f 0 seccionalmente contínuas no intervalo −L ≤ x < L,


então a série de Fourier converge para f (x) em todos os pontos onde f (x) é contínua e
f (x+ ) + f (x− )
converge para , nos pontos onde f (x) é descontínua.
2
Observe que estas condições são suficientes, mas não necessárias para a convergência
da série. Satisfeitas todas as condições, então a série converge para a função; não satis-
feitas, a série pode convergir ou não. Em geral, as hipóteses acima são satisfeitas nos
problemas de ciências e engenharia.

2.4 O cálculo da série de Fourier


As fórmulas para o cálculo da série de Fourier de uma função periódica são escritas de
acordo com o intervalo em que a função está definida. Portanto, serão considerados três
casos, a saber: a função definida em um intervalo simétrico, em um intervalo qualquer e
em meio intervalo(semi-intervalo).

2.4.1 Caso I
Este caso é conhecido como a extensão normal, pois f (x) é definida no intervalo [−L, L]
e periódica, f (x + 2L) = f (x). A função deverá ser escrita como a superposição de
elementos da base ortogonal

a0 X h ³ nπ ´ ³ nπ ´i

f (x) ' + an cos x + bn sin x
2 n=1
L L

e os coeficientes serão normalizados, isto é,

Z L ³ nπ ´
1
• an = f (x) cos x dx, conforme Eq.(2.7).
L −L L
Z L ³ nπ ´
1
• bn = f (x) sin x dx, conforme Eq.(2.8).
L −L L
Z L
a0 1
• = f (x)dx, conforme Eq.(2.10).
2 2L −L
2.4. O CÁLCULO DA SÉRIE DE FOURIER 17

Exemplo
Determine a série de Fourier correspondente à função
½
0, −5 < x < 0
f (x) = , f (x + 10) = f (x).
3, 0 < x < 5

Como deve ser definida a função em x = −5, x = 0 e x = 5 de modo que a sua série de
Fourier convirja para f (x) no intervalo −5 ≤ x ≤ 5?

Figura 2.2: Função definida num intervalo simétrico.

Solução
A função f (x) está definida em [−L, L] e é periódica de período T = 2L = 10. Deseja-
se escrever esta função na forma série de Fourier trigonométrica, Eq. (1.1). Para tanto,
devem ser calculados os coeficientes a0 , an e bn .
• Com n = 0, da Eq.(2.10), vem
Z5 Z5
a0 1 1 3x ¯¯5 3
= f (x)dx = 3dx = ¯ = .
2 10 10 10 0 2
−5 0

• Para n ≥ 1, com a Eq.(2.7), tem-se

1
Z 5 ³ nπ ´ Z
1 5 ³ nπ ´ 3 · 5 ³ nπ ´¸5
an = f (x) cos x dx = 3 cos x = sin x = 0.
5 −5 5 5 0 5 5 nπ 5 0

• Para n ≥ 1, com a Eq.(2.8), decorre


Z ³ nπ ´ Z ³ nπ ´
1 5 1 5
bn = f (x) sin x dx = 3 sin x dx
5 −5 5 5 0 5
· ³ nπ ´¸5
3 5 3 3
= − cos x = [1 − cos(nπ)] = [1 − (−1)n ].
5 nπ 5 0 nπ nπ

E substituindo os valores dos coeficientes acima, em Eq.(1.1), resulta



3 3 X [1 − (−1)n ] ³ nπ ´
f (x) ' + sin x .
2 π n=1 n 5
18 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA

Agora, sendo ½
n 0, n par
1 − (−1) = ,
2, n ímpar
segue que
∞ µ ¶
3 6X 1 (2n − 1)π
f (x) ' + sin x ,
2 π n=1 2n − 1 5
isto é, µ ¶
3 6 ³π ´ 2 3π 6
f (x) ' + sin x + sin x + sin (πx) + ...
2 π 5 π 5 5π
Nos pontos de descontinuidade, x = −5, x = 0 e x = 5, por exemplo, em x = −5,
+ (−5− )
a função deve ser definida como f (x) = 23 , porque f (−5) = f (−5 )+f
2
= 32 (con-
vergência pontual).
a0
Observe que este é o valor de , o valor médio da função no intervalo. E a função
2
deverá ser definida de modo similar, nos outros pontos em que é descontínua.

Figura 2.3: Função e sua série para n = 3, n = 10 e n = 50.

2.4.2 Caso II
A função f (x) é periódica, f (x + 2L) = f (x), e definida em um intervalo [c, d] qualquer.
O período é T = d − c = 2L ⇒ d = c + 2L.
Assim, Z Z Z
d c+T c+2L
f (x)dx = f (x)dx = f (x)dx.
c c c
Como determinar¡os coeficientes
¢ a0 , ¢an e bn ?
¡ 2nπ
2nπ
Utiliza-se cos d−c x e sin d−c x que satisfazem as condições de ortogonalidade e
procedendo-se deste modo, com c qualquer número real, decorre que
Z µ ¶ Z µ ¶
1 d 2nπ 1 c+2L 2nπ
an = f (x) cos x dx = f (x) cos x dx, n = 0, 1, 2...
L c d−c L c 2L
e
Z d µ ¶ Z µ ¶
1 2nπ 1 c+2L 2nπ
bn = f (x) sin x dx = f (x) sin x dx, n = 1, 2...
L c d−c L c 2L
2.4. O CÁLCULO DA SÉRIE DE FOURIER 19

Figura 2.4: Função definida em um intervalo qualquer.

Portanto, os coeficientes são calculados com


Z ³ nπ ´
1 c+2L
an = f (x) cos x dx, n ≥ 1 (2.12)
L c L
Z c+2L ³ nπ ´
1
bn = f (x) sin x dx, n ≥ 1 (2.13)
L c L
Z c+2L
1
a0 = f (x)dx, n = 0 (2.14)
L c

Nota: para c = −L, tem-se as fórmulas do caso anterior.

Exemplo
Dada a função f (x) = x2 , 0 < x < 2π, periódica de período 2π, obtenha a representação
em série de Fourier e expanda a série para n = 0...4.

Figura 2.5: Função e sua extensão periódica.

Solução
Cálculo dos coeficientes
• Para n = 0, ¯2π
Z 2π
a0 1 2 1 x3 ¯¯ 1 8π 3 4π 2
= x dx = = = .
2 2π 0 2π 3 ¯0 2π 3 3
20 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA

• Para n 6= 0,
Z
1 2π 2
an = x cos(nx)dx
π 0
½ µ ¶ µ ¶ µ ¶¾ ¯2π
1 1 1 1 ¯
= 2
(x ) sin(nx) − (2x) − 2 cos(nx) + 2 − 3 sin(nx) ¯ = 4.
π n n n ¯ n2
0

Z
1 2π 2
bn = x sin(nx)dx
π 0
½ µ ¶ µ ¶ µ ¶¾ ¯2π
1 1 1 cos(nx) ¯
= 2
(x ) − cos(nx) − (2x) − 2 sin(nx) + 2 ¯ = − 4π .
π n n n 3 ¯ n
0

A série da função é dada por


X∞ · ¸
2 4π 2 cos(nx) π sin(nx)
x ' +4 2
− .
3 n=1
n n
E, com a série truncada em S4 , obtém-se
·
2 4π 2 1 π
x ' + 4 cos(x) − π sin(x) + cos(2x) − sin(2x)
3 4 2
¸
1 π 1 π
+ cos(3x) − sin(3x) + cos(4x) − sin(4x) + ...
9 3 16 4

Figura 2.6: Função e a série correspondente, para n = 3, n = 10 e n = 20.

2.4.3 Caso III


A função é definida em meio intervalo [0, L] e estende-se a função sobre o intervalo
[−L, 0]: extensão par ou ímpar. Este é o caso em que a série é denominada de semi-
série de Fourier, pelo fato de ser uma série de senos apenas, se a função f(x) for estendida
como ímpar; ou envolver somente co-senos, se estendida como par.
Aqui, o cálculo dos coeficientes pode ser simplificado, como será visto a seguir. En-
tretanto, antes de serem apresentadas as fórmulas para a obtenção dos coeficientes, faz-se
necessária uma breve revisão sobre a definição e algumas propriedades de funções pares
e ímpares.
2.4. O CÁLCULO DA SÉRIE DE FOURIER 21

Funções pares e ímpares


Seja f (x) uma função cujo domínio contém o ponto −x sempre que contiver o ponto x.
Por exemplo, f (x) cujo domínio é o intervalo [−L, L].
Definição: diz-se que f é par, se f (−x) = f (x), para cada x do domínio; a função f é
dita ímpar se f (−x) = −f (x), para cada x do domínio.

Exemplos
(a) f (x) = x2n , n ∈ Z, f (x) = cos(x) e f (x) = |x| são exemplos de função par.
(b) f (x) = x2n+1 , n ∈ Z, f (x) = sin(x) e f (x) = x são funções ímpares.
(c) f (x) = x + x2 e f (x) = ex não são funções pares, nem são ímpares.
(d) f (x) ≡ 0 é a única função que é par e, ao mesmo tempo, é ímpar.

Propriedades do produto
• O produto de duas funções pares é uma função par.
Exemplo: se f (x) = x2 e g(x) = x4 +x6 , então F (x) = f (x)g(x) = x2 (x4 + x6 ) = x6 + x8
é uma função par.
• O produto de duas funções ímpares é uma função par.
Exemplo: se f (x) = x e g(x) = x3 +x5 , então F (x) = f (x)g(x) = x(x3 + x5 ) = x4 + x6
é uma função par.
• O produto de uma função par por uma função ímpar é uma função ímpar.
Exemplo: se f (x) = x2 e g(x) = x3 + x5 , então, se F (x) = f (x)g(x), tem-se que
F (x) = x2 (x3 + x5 ) = x5 + x7 é ímpar.

Propriedades da integral
• Se F (x) é uma função par em [−L, L], então
Z L Z L
F (x)dx = 2 F (x)dx (2.15)
−L 0

• Se F (x) é uma função ímpar em [−L, L], então


Z L
F (x)dx = 0 (2.16)
−L

De fato, Z Z Z
L 0 L
F (x)dx = F (x)dx + F (x)dx. (2.17)
−L −L 0

Considere-se x = −u, então dx = −du e, assim,


Z 0 Z 0 Z L Z L
F (x)dx = − F (−u)du = F (−u)du = F (u)du,
−L −L 0 0

pois, por hipótese, a função é par, F (−u) = F (u).


Portanto, na Eq.(2.17), vem
Z L Z L Z L
F (x)dx = F (x)dx + F (x)dx.
−L 0 0
22 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA

Procede-se de modo análogo, para mostrar a propriedade Eq.(2.16).

As séries Fourier seno e co-seno


Estas séries de Fourier são também denominadas de semi-séries de Fourier por serem
constituídas, respectivamente, só por termos em seno ou só por termos em co-seno.
Assim, considere-se uma função periódica, f (x) definida no semi-intervalo 0 ≤ x ≤ L,
sendo que a função deve ser estendida sobre o intervalo −L < x < 0. Há três maneiras
de estender a função:
• extensão par em [−L, 0];
• extensão ímpar em [−L, 0];
• e a terceira, é considerá-la periódica de período fundamental igual ao meio-intervalo,
ou seja T=L. Esta última, aqui, não deve ser utilizada, pois, a série poderia conter, simul-
taneamente, termos em seno e co-seno(ou o termo em a0 e os termos em seno). Neste
momento, o objetivo é desenvolver estritamente a função em série Fourier seno ou em
série Fourier co-seno. Mais adiante, no texto, ao final do exemplo, será apresentado este
caso de extensão.

Extensão par
Os coeficientes da série de Fourier são dados por
Z L ³ nπ ´ Z L
2 a0 1
an = f (x) cos x dx, bn = 0 e = f (x)dx. (2.18)
L 0 L 2 L 0

Os coeficientes bn são todos nulos, pela propriedade da integral Eq.(2.16). A série da


função estendida como par é a série Fourier co-seno

a0 X
∞³ nπ ´
f (x) ' + an cos x .
2 n=1
L

Extensão ímpar
Os coeficientes da série de Fourier são dados por
Z L ³ nπ ´
2 a0
an = 0, bn = f (x) sin x dx e = 0. (2.19)
L 0 L 2

Os coeficientes an , n = 0, 1, 2... são todos nulos, pela propriedade da integral Eq.(2.16).


A série da função estendida como ímpar é a série Fourier seno

X ³ nπ ´
f (x) ' bn sin x .
n=1
L

Exemplo
Desenvolva f (x) = x, 0 ≤ x ≤ 2 em série Fourier seno e série Fourier co-seno.

Solução
Dada f (x) = x, estende-se a função a [−L, 0], Figura(A3graf9), e prolonga-se de modo
a ser periódica, ou seja, f (x) = f (x + 4), período T = 2L = 4.
2.4. O CÁLCULO DA SÉRIE DE FOURIER 23

(a) Extensão ímpar


Os coeficientes an = 0, ∀ n. O período T = 4 = 2L, L = 2 e os coeficientes
Z L ³ nπ ´ Z 2 ³ nπ ´
2
bn = f (x) sin x dx ∴ bn = x sin x dx.
L 0 L 0 2

Figura 2.7: A função e a extensão ímpar.


Z
sin(au) u cos(au) nπ
Sendo u sin(au)du = 2
− , com a = , tem-se
a a 2
¡ ¢ ¡ nπ ¢ ¯¯2 ³ nπ ´ 2x ³ nπ ´ ¯¯2
sin nπ x cos x ¯ 4 4
2
bn = ¡ ¢2 − x nπ
2
¯ = 2 2 sin x − cos x ¯¯ = − cos(nπ).

2
¯ nπ 2 nπ 2 0 nπ
2 0

A série de Fourier da função é


∞ µ
X ¶ ³ nπ ´
4
f (x) ' − cos(nπ) sin x .
n=1
nπ 2

Portanto, a extensão ímpar de f (x) = x, a função dente de serra, é representada por


· ³ ´ µ ¶ ¸
4 π 1 1 3π
f (x) ' sin x − sin(πx) + sin x − ...
π 2 2 3 2

ou, simplesmente, por

Figura 2.8: A função e a série seno, com n = 5, n = 10 e n = 15.


24 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA


4 X (−1)n+1 ³ nπ ´
f (x) ' sin x .
π n=1 n 2
(b) Extensão par
O prolongamento par de f (x) = x é representado na Figura(2.9). Neste caso, os coefi-
cientes bn , n = 1, 2, .., são nulos e os coeficientes an são calculados a seguir.

Figura 2.9: A função e a extensão par.

• Para n = 0, ¯2
Z
2 2
x2 ¯¯ a0
a0 = xdx = ¯ = 2 ∴ = 1.
2 0 2 0 2
• Para n 6= 0,
Z 2 ³ nπ ´ 4 ³ nπ ´ 2 ³ nπ ´ ¯¯2
an = x cos x dx = 2 2 cos x + x sin x ¯¯ .
0 2 nπ 2 nπ 2 0

4 4 4
an = cos(nπ) − cos(0) + sin(nπ).
n2 π 2 n2 π 2 nπ
(
4 0, n par
∴ 2 2 [cos(nπ) − 1] = 8
nπ − 2 2 , n ímpar

De modo que
∞ · ³ nπ ´¸
4 X 1
f (x) ' 1 − 2 (cos(nπ) − 1) cos x
π n=1 n2 2
ou
· ³ ´ µ ¶ µ ¶ ¸
8 π 1 3π 1 5π
f (x) ' 1 − 2 cos x + 2 cos x + 2 cos x + ...
π 2 3 2 5 2
A série Fourier co-seno, que corresponde à onda triangular, Figura(2.10), converge
mais rapidamente para f (x) = x, em −2 ≤ x < 2, do que a série Fourier seno, relativa à
função dente de serra, Figura(2.9).
Isto ocorre devido ao fato de que a onda triangular é uma função mais suave do que a
função dente de serra, sendo, portanto, mais fácil de ser aproximada. Em geral, quanto
2.4. O CÁLCULO DA SÉRIE DE FOURIER 25

Figura 2.10: A função e a série co-seno, n = 5.

mais derivadas contínuas tem a função, no intervalo inteiro −∞ < x < ∞, mais depressa
sua série de Fourier vai convergir.
A convergência da série, numa vizinhança de zero, é melhor quando a extensão é ím-
par, Figura(2.9). A extensão ímpar é mais suave que a extensão par nesta vizinhança.
Entretanto, a série de Fourier associada à função par aproxima melhor a função f (x) = x
globalmente.

Como foi dito no início desta seção, há uma outra possibilidade de estender a função
f (x) = x, definida no intervalo [0, 2], sobre o intervalo [−L, 0]: simplesmente, considerá-
la como periódica, Figura(2.11), com período fundamental T = 2. Este procedimento
conduz ao CASO II, arquivo 2_F ourier_Caso2.mw aulas com o Maple, pois a função
está definida como periódica em um intervalo [c, d] qualquer e não em um intervalo
simétrico [−L, L]. O período fundamental é T = 2, daí, L = 1. Mas, neste caso, os
2
coeficiente são dados por a0 = 2, an = 0, n = 1, 2, .. e bn = − . Portanto, a série

a0
envolve o termo = 1 e os termos em seno, pois a função não é par, nem é ímpar, neste
2
intervalo, ou seja,

Figura 2.11: A função, sua extensão periódica e a série de Fourier.



2X1
f (x) ' 1 − sin(nπx).
π n=1 n
2 sin(2πx) 2sin(3πx)
f (x) = 1 − sin(πx) − − − ...
π π 3π
26 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA

Parte par e parte ímpar de uma função


No texto acima, foram estudas algumas propriedades das funções pares e ímpares, bem
como a representação destas funções em série de Fourier. Entretanto, nos próximos capí-
tulos, a série de Fourier envolverá funções complexas e, para estabelecer a conexão entre
ambas é interessante lembrar que toda função que não é par, nem é ímpar, pode ser de-
composta em suas partes par e ímpar. Mais precisamente, qualquer função real f (x),
que não é par e não é ímpar, é a superposição de suas funções componentes par e ímpar
f (x) = f (x)par + f (x)ímpar ,
sendo
1 1
f (x)par = [f (x) + f (−x)] e f (x)ímpar = [f (x) − f (−x)].
2 2
Justificativa
(a) A superposição conduz à função, pois
µ ¶
1 1 1 1
f (x)par + f (x)ímpar = [f (x) + f (−x)] + [f (x) − f (−x)] = + f (x) = f (x)
2 2 2 2
(b) Deve-se mostrar, também, que f (x)par é uma função par e que f (x)ímpar é ímpar.
• Trocando x por −x, em f (x)par , tem-se que
1
f (−x)par = [f (−x) + f (x)] = f (x)par .
2
• Analogamente, para f (x)ímpar , obtém-se
1 1
f (−x)ímpar = [f (−x) − f (x)] = − [f (x) − f (−x)] = −f (x)ímpar .
2 2
Exemplo
A função f (x) = ex não é par, nem é ímpar. A componente par de f (x) = ex é
1£ x ¤
f (x)par = e + e−x = cosh(x)
2
e a componente ímpar,
1£ x ¤
f (x)ímpar = e − e−x = sinh(x).
2

Figura 2.12: A função, as componentes par e ímpar e a comparação.

Para outros exemplos, veja 6_P arte_par_impar .mw, arquivo das aulas com o Maple.
2.4. O CÁLCULO DA SÉRIE DE FOURIER 27

Considerações sobre o período e freqüência

• Qual é o período da função f (x) = cos(2x)?


2π 2π
w = 2, T = ⇒T = ⇒ T = π.
w 2
• Qual é o período da função f (x) = cos(w1 x) + sin(w2 x)?

As freqüências são w1 e w2 . O período deve ser tal que

w1 T = 2πn e w2 T = 2πm com (m, n ∈ Z),

isto é,
2πn 2πm
T = e T = .
w1 w2
Assim,
2πn 2πm w1 n
= ⇒ = ∈ Q.
w1 w2 w2 m

µ ¶ µ ¶
1 1
• Qual é o período de f (t) = cos t + cos t ?
3 4
1 1
Tem-se as freqüências w1 = e w2 = . E o período deve ser tal que
3 4
2πn 2πm
T = = 6πn e T = = 8πm.
w1 w2
Assim,
n 8 4 2πn 2π · 4
6πn = 8πm ∴ = = ⇒ n = 4, m = 3 ⇒ T = = 1 = 24π.
m 6 3 w1 3

Portanto, T = 24π é o período fundamental, como exibe a Figura(2.13).

Figura 2.13: Função periódica


28 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA

• Qual é o período de f (t) = cos(10t) + cos[(10 + π)t]?

As freqüências são

w1 10
w1 = 10, w2 = 10 + π e = .
w2 10 + π
A razão das freqüências não é um número racional e conclui-se que

f (t) 6= f (t + nπ), n ∈ Z,

portanto, a função não é periódica.

• Qual é o período de f (t) = [10cos(t)]2 ?

Utilizando a identidade trigonométrica

1
cos2 (t) = (1 + cos(2t),
2
decorre
1
f (t) = [10 cos(t)]2 = 100 cos(t)2 = 100 · (1 + cos(2t)) = 50 + 50 cos(2t).
2
Como a função constante tem período arbitrário, segue que a freqüência é


w = 2 e o período é T = = π.
w
Conclusão:
A superposição de funções senoidais será uma função periódica, quando a razão entre
cada par de freqüências for uma fração racional.
Por outro lado, na superposição de funções senoidais, a freqüência fundamental será o
máximo divisor comum (mdc) entre as freqüências; o período fundamental será o mínimo
múltiplo comum (mmc) entre os períodos.

2.5 Série de Fourier na forma compacta


Como foi visto na seção anterior, Eq.(1.1), uma função periódica, com período funda-
mental T e definida em [−L, L], pode ser representada pela série de Fourier

a0 X h ³ nπ ´ ³ nπ ´i

f (x) ' + an cos x + bn sin x
2 n=1
L L

a0 X
= + [an cos(wn x) + bn sin(wn x)]
2 n=1
a0
= + a1 cos(w1 x) + b1 sin(w1 x) + a2 cos(w2 x) + b2 sin(w2 x) + ...
2
2.5. SÉRIE DE FOURIER NA FORMA COMPACTA 29

Nesta seção, tem-se como objetivo escrever a série dada na Eq.(1.1) na forma compacta,
uma forma mais conveniente para algumas aplicações, também conhecida como a forma
harmônica  P∞

 A0 + An sin(nw0 x + φn )
n=1
f (x) ' P∞

 A0 + An cos(nw0 x − ϕn )
n=1

Sendo assim, parte-se do período T = . A freqüência fundamental é
w0
2π 2π π
w0 = = =
T 2L L
e todas as outras são múltiplos desta freqüência. Deste modo, a n-ésima freqüência é dada
por
π
wn = nw0 = n x.
L
Então, em (1.1), tem-se

a0 X
f (x) ' + [an cos(nw0 x) + bn sin(nw0 x)] .
2 n=1

Com as relações trigonométricas concernentes aos lados de um triângulo retângulo,


Figura(2.14), vem
bn an sin(φn ) an
cos(φn ) = p , sin(φn ) = p , tan(φn ) =
= .
an 2 + bn 2
an 2 + bn cos(φn )
2 bn
p µ ¶
2 2 an
A n-ésima amplitude é dada por An = an + bn e φn = arctan é a n-ésima
bn

Figura 2.14: Relação entre os catetos.


fase. Substituindo estes valores na série, Eq.(1.1) acima, segue que

a0 X
f (x) ' + An sin(φn ) cos(wn x) + An cos(φn ) sin(wn x)
2 n=1

a0 X
= + An [sin(φn ) cos(wn x) + cos(φn ) sin(wn x)] .
2 n=1
30 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA

Mas, sendo
sin(A) cos(B) ± cos(A) sin(B) = sin(A ± B)
a0
e considerando-se = A0 , resulta
2


X  sin(wn x + φn )
A0 + An ou (2.20)

n=1 cos(wn x − ϕn )
As fórmulas, acima, são equivalentes, pois cos(ϕn ) = sin(φn ), desde que φn e ϕn sejam
ângulos complementares. Ou, permutando bn e an , na disposição dos catetos do triân-
gulo retângulo, Figura(2.14), obtém-se cos(A) cos(B) ± sin(A) sin(B) = cos(A ∓ B), e,
como a n-ésima fase, tem-se µ ¶
bn
ϕn = arctan .
an

2.5.1 Aplicações
Oscilações elétricas e mecânicas (vibrações).
Sistema submetido a uma força externa periódica(tensão periódica).

Sistema massa-mola
mẍ + cẋ + kx = f (t)
Circuito RLC Z
di 1
L + Ri + i(t)dt = f (t)
dt C
A solução da EDOL Homogênea associada, xh , quase sempre é desprezada nesses
casos. Entretanto, se o sistema oscilatório for não amortecido, deve-se ter cuidado
ao desprezar a solução da equação homogênea associada, xh . Se a freqüência natural
do sistema for muito próxima de uma freqüência da força externa(agora a força externa
será escrita em uma série de Fourier, portanto, com freqüências wnf = nw0 ), isto é, se
wnat ' wnf , tem-se batimento e, se wnat = wnf , ocorre ressonância.
Cabe lembrar
q que
k
wnat = m
é a freqüência natural e wnf é a n-ésima freqüência da força externa.

Exemplo de sistema massa-mola amortecido submetido a carga periódica qualquer


Dados m = 1[kg], c = 0, 02[Ns/m], k = 25[kg/m] e a força externa aplicada

 t + π , −π < t < 0
f (t) = 2 , f (t + 2π) = f (t),
 −t + π , 0 < t < π
2
determine a resposta permanente do sistema.

Solução
O sistema é modelado pela equação diferencial

mẍ + cẋ + kx = f (t).


2.5. SÉRIE DE FOURIER NA FORMA COMPACTA 31

Utilizando os dados do problema, vem


ẍ + 0, 02ẋ + 25x = f (t),
sendo f (t) dada acima.
(a) Gráfico da função periódica

Figura 2.15: A força periódica f (t)

(b) A função f (t) é par, então sua extensão em série de Fourier deverá ser uma série de
co-senos, isto é, bn = 0, ∀n e

a0 X nπ
f (t) = + an cos( t) com 2L = 2π : L = π.
2 n=1
L

Cálculo dos coeficientes da série de Fourier


• Para n = 0,
Z L Z π³ · ¸π · 2 ¸
a0 2 a0 2 π´ 1 −t2 πt 1 π π2
= f (t)dt ∴ = −t + dt = + = − + = 0.
2 2L 0 2 2π 0 2 π 2 2 0 π 2 2
Z
2 L nπ
• Para n 6= 0, an = f (t) cos( t)dt.
L 0 L
Z π³ Z
2 π´ ³ nπ ´ 2 π³ π´
an = −t + cos t dt = −t + cos (nt) dt
π 0 2 2 π 0 2
· Z π Z ¸
2 π π
= − t cos(nt)dt + cos(nt)dt .
π 0 2 0
Sabe-se que
Z Z
cos(ax) x sin(ax) 1
x cos(ax)dx = + e cos(ax)dx = sin(ax),
a2 a a
então
· ¸π · ¸π
2 cos(nt) t sin(nt) 1
an = − + + sin(nt)
π n2 n 0 n
· ¸0
2 cos(nπ) π cos(0) 1
= − 2
+ sin(nπ) + 2
− 0 + [sin(nπ) − 0]
π n 2 n n
· ¸
2 1 cos(nπ) 2
= 2
− 2
= 2 [1 − cos(nπ)]
π n n nπ
32 CAPÍTULO 2. A SÉRIE DE FOURIER TRIGONOMÉTRICA
½
n 0, n par
Como cos(nπ) = (−1) , tem-se 1 − cos(nπ) =
2, n ímpar
Deste modo, a série de Fourier da função dada é

X µ ¶ X∞
nπt 2
f (t) ' an cos = 2π
[1 − cos(nπ)] cos(nt)
n=1
π n=1
n

ou
X ∞
4 4 4 4
f (t) ' cos(t) + cos(3t) + cos(5t) + ... = 2π
cos[(2n − 1)t].
π 9π 25π n=1
(2n − 1)

4
Na série, o termo geral é an = cos(nπ), para n ímpar, e 0, para n par.
n2 π
Cálculo da resposta do sistema em regime permanente
A integral particular, xp , é obtida pelo método dos coeficientes a determinar, para cada
termo da série acima, ou, com o termo geral, supondo (aqui, An denota o n-ésimo coefi-
ciente dos termos em co-seno e não a amplitude, como acima)

xpn = An cos(nt) + Bn sin(nt)

x0pn = −nAn sin(nt) + nBn cos(nt)


x00pn = −n2 An cos(nt) − n2 Bn sin(nt)
Substituindo xpn e suas derivadas na equação diferencial, tem-se

− An n2 cos(nt) − n2 Bn sin(nt) + 0, 02(An n sin(nt) + Bn n cos(nt))


4
+ 25(An cos(nt) + Bn sin(nt)) = cos(nπt)
n2 π
Identificando os coeficientes, obtém-se
( 4
−n2 An + 0, 02nBn + 25An = 2

−n2 Bn − 0, 02nAn + 25Bn = 0
ou ( 4
An (25 − n2 ) + 0, 02nBn = 2π
(I)
n
Bn (25 − n2 ) − 0, 02nBn = 0 ⇒ Bn (25 − n2 ) = 0, 02nAn
Portanto,
0, 02nAn Bn (25 − n2 )
Bn = ou An = .
25 − n2 0, 02n
Substituindo o valor de An em (I), vem

Bn (25 − n2 )2 4 4(0, 02n)


+ 0, 02nBn = 2 ∴ Bn (25 − n2 )2 + 0, 02nBn =
0, 02n nπ n2 π
2.5. SÉRIE DE FOURIER NA FORMA COMPACTA 33

0, 08 0, 08
Bn = ∴ Bn = 2
n2 π[(25 2 2 2
− n ) + (0, 02n) ] n πD
e
4(25 − n2 ) 4(25 − n2 )
An = ∴ An = ,
n2 π[(25 − n2 )2 + (0, 02n)2 ] n2 πD
onde D = (25 − n2 )2 + (0, 02n)2 .

Deste modo,
4(25 − n2 ) 0, 08
xpn = 2
cos(nt) + sin(nt)
n πD nπD
xp = xp1 + xp2 + xp3 + ...
4(25 − 1)2 0, 08
xp1 = cos(t) + sin(t).
πD πD
Com n = 1, é obtida a primeira amplitude
s· ¸2 · ¸2
q
2 2 4(25 − 1)2 0, 08
P1 = A1 + B1 = + = 0, 053
πD πD

E, a n-ésima amplitude é dada por


s· ¸2 · ¸2
q
4(25 − n2 )2 0, 08
Pn = A2n + B2n = + .
n2 πD nπD

Como o segundo termo sob a raiz quadrada torna-se muito pequeno, tem-se para as am-
plitudes
4 4
Pn ' √ ' p .
n2 π D n2 π (25 − n2 )2 + (0, 02n)2
√ p
Note que, para n = 5, a quantidade D = (25 − n2 )2 + (0, 02n)2 é muito pequena,
de modo que P5 é tão grande que xp5 será o termo dominante na resposta permanente xp .
Isto mostra que o movimento permanente é, na prática, uma oscilação harmônica, cuja
freqüência é igual a 5 vezes a freqüência fundamental da força externa.
Veja as amplitudes do exemplo na Tabela (2.1).

n 1 3 5 7 9
Pn 0,053 0,0088 0,51 0,0011 0,00028
Tabela 2.1: Amplitudes do exemplo massa-mola.

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