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XI SIMPEP Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004

Estudo de caso: gerenciamento de resíduos sólidos industriais em uma


indústria processadora de soja

Sílvia Regina Machado Pukasiewicz (CEFET-PR) silviapuk@bol.com.br


Prof. Dr. Ivanir Luiz de Oliveira (CEFET-PR) ivanir@pg.cefetpr.br
Prof. Dr. Luiz Alberto Pilatti (CEFET-PR) lapilatti@pg.cefetpr.br

Resumo

O presente artigo tem como objetivo caracterizar e analisar o gerenciamento dos resíduos
sólidos em uma indústria processadora de soja, através da identificação das fontes geradoras
e os seus respectivos resíduos. A maioria dos resíduos são pertencentes à classe II, devido a
grande quantidade de casca de soja gerada no processo. Este resíduo é comercializado e
utilizado na alimentação animal.
Palavras chaves: Resíduos sólidos, Soja, Gerenciamento.

1. Introdução
Atualmente existe uma preocupação crescente com o gerenciamento de resíduos, notadamente
no caso das empresas exportadora, justificada pela necessidade da redução do uso dos
recursos naturais, bem como pela preocupação em se evitar o desperdício de consumo de
materiais.
O manuseio, acondicionamento, armazenagem, coleta, transporte e destinação final dos
resíduos, devem estar fundamentadas em sua classificação. Conforme a classificação são
definidos os controles necessários em todas as fases envolvidas no processo (ROCCA, 1993).
A gestão inadequada dos resíduos acaba acarretando a degradação do solo, assim como a sua
contaminação, podendo chegar a atingir lençóis freáticos através da lixiviação diminuindo os
recursos naturais disponíveis (MOURA, 2002).
O problema central abordado neste artigo refere-se ao fato de que as indústrias processadoras
de soja necessitam de apoio para que seu desempenho ambiental possa estar de acordo com as
exigências legais e mercadológicas, o que pode ser conseguido através do gerenciamento dos
resíduos sólidos gerados na cadeia produtiva. Este estudo propõe desenvolver a caracterização
dos resíduos sólidos gerados em uma indústria processadora de soja e analisar o seu
gerenciamento.

2. Metodologia
Realizou-se um levantamento dos resíduos gerados na Soja S/A, através de visita ao local,
posteriormente foram identificadas as fontes geradoras nos seguintes setores: armazenagem,
preparação, extração, lecitina, caldeira, laboratório, almoxarifado, manutenção, departamento
técnico, administrativo, recursos humanos, estação de tratamento de água (ETA), estação de
tratamento de efluente (ETE), refeitório e ambulatório. Foi realizada a análise da quantidade
dos resíduos sólidos gerados conforme sua classificação de acordo com a NBR 10004.
Finalmente foi relatada a destinação final dos resíduos sólidos gerados.
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3. Resultados Obtidos
3.1 Descrição do processamento de soja
A soja é recebida das diversas regiões produtoras através de caminhões ou trens. Quando os
caminhões ingressam no pátio ou vagões no desvio ferroviário construído pela empresa,
inicia-se a primeira etapa de industrialização dessa oleaginosa: a pesagem em balanças, em
seguida, o encaminhamento as moegas de recebimento. Depois a soja é transportada para o
setor de limpeza, onde passam por equipamentos de pré-limpeza para a remoção de impurezas
provenientes da lavoura e remoção da casca da soja. Estes resíduos são armazenados em um
silo de “casquinha” e retirados por caminhões. A soja limpa vai para os silos e posteriormente
é encaminhada aos secadores.
Depois de seca, a matéria-prima vai para o silo, depois para o silo pulmão e em seguida para a
etapa da preparação. A soja sofre sua primeira transformação no setor Preparação: um
conjunto de quebradores trituram o grão; e um conjunto de máquinas laminadoras
transformam a soja quebrada em lâmina delgada. Depois de laminada ocorre a expansão da
massa, ou seja, a lâmina de soja recebe vapor no interior de um equipamento com uma rosca
sem fim que empurra a massa para uma matriz com perfurações, desta forma, a massa torna-
se porosa e aumenta a área de contato do óleo com o solvente, com isto facilita a extração por
solvente, que é a próxima etapa do processo, de onde resultam o óleo bruto e o farelo de soja.
O óleo bruto passa por uma etapa denominada de degomagem, onde resultam o óleo
degomado e a goma que após passar pela etapa de secagem se transforma em lecitina. O
farelo de soja é obtido a partir da moagem, secagem e peletização. A Figura 1 mostra o
fluxograma do processo da Soja S/A.O farelo de soja representa em média 80% da produção,
o óleo de soja 29% e a lecitina 1%.
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Figura 1- Fluxograma do processamento da Soja S/A.

3.2 Caracterização dos Resíduos Sólidos Gerados na Soja S/A


As fontes geradoras da Soja S/A e os respectivos resíduos sólidos estão contempladas na
Tabela 1.
Fontes Geradoras Resíduos Gerados
Casca de soja
Cinza
Resíduo orgânico de processo
Armazenagem Material não reciclável
Plástico
Papel
Sucata
Resíduo orgânico de processo
Material não reciclável
Preparação Plástico
Papel
Sucata
Borra de óleo
Extração Resíduo orgânico de processo
Material não reciclável
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Fontes Geradoras Resíduos Gerados


Plástico
Extração Papel
Sucata
Material não reciclável
Plástico
Lecitina
Papel
Sucata
Cinza
Material não reciclável
Caldeira Plástico
Papel
Sucata
Resíduos químicos
Vidro
Laboratório Material não reciclável
Plástico
Papel
Madeira
Material não reciclável
Almoxarifado Plástico
Papel
Sucata
Óleo lubrificante
Lâmpada
Bateria (alcalina, Chumbo/ ácido)
Cobre
Resíduos de construção civil
Manutenção
Pneu
Material não reciclável
Plástico
Papel
Sucata
Toner
Departamento Técnico Administrativo Material não reciclável
Recursos Humanos Plástico
Papel
Resíduos químicos
Lodo
ETA Material não reciclável
Plástico
Papel
ETE Lodo
Orgânico
Material não reciclável
Refeitório
Plástico
Papel
Ambulatório Resíduo de ambulatório

Tabela 1 – Setores da Soja S/A com os respectivos resíduos sólidos gerados.

Os resíduos sólidos são classificados de acordo com a NBR 10004, esta classificação é
dividida em Classe I (Perigoso), Classe II (Não-inerte) e Classe III (Inerte). São considerados
resíduos Classe I, os resíduos que, em função das suas propriedades físicas, químicas ou
infecto contagiosas, podem apresentar risco à saúde pública, provocando ou acentuando, de
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forma significativa, um aumento da mortalidade ou incidência de doenças e/ou apresentam


efeitos adversos ao meio ambiente, quando manuseados ou dispostos de forma inadequada.
As características que conferem periculosidade a um resíduo são: inflamabilidade;
corrosividade, reativadade, toxidade e patogenecidade.
Os resíduos Classe II são aqueles que não se enquadram nem como Classe I ou Classe III.
Estes resíduos podem ter propriedades, tais como: combustibilidade; biodegradabilidade ou
solubilidade na água.
Os resíduos Classe III são aqueles que quando amostrados de forma significativa, segundo a
norma NBR 10007 – Amostragem de Resíduos, e submetidos ao teste de solubilidade (NBR
10006 – Solubilidade de Resíduos – Procedimentos) não tenham nenhum de seus constituintes
solubilizados, em concentrações superiores aos valores constantes na Listagem 8 – “Padrões
para teste de solubilização” – Anexo H da NBR 10004.
A Tabela 2 descreve os resíduos sólidos da Soja S/A e a estimativa da quantificação destes.
Quantidade Estimada em
Resíduo Sólido Industrial Percentagem (%) Classificação
2003 (ton/ano)
Casca de soja 11353 84,48288% Classe II
Resíduos de construção civil 1000 7,44146% Classe II
Cinzas 782 5,81922% Classe II
Lodo fossa séptica 106,9 0,79549% Classe II
Sucata de metais ferrosos e não
70 0,52090% Classe III
ferrosos
Lodo ETE 60 0,44649% Classe II
Materiais não recicláveis 20 0,14883% Classe II
Lodo ETA 12 0,08930% Classe Il
Resíduo orgânico do refeitório 9,6 0,07144% Classe II
Papel/Papelão 6,5 0,04837% Classe III
Borra de óleo 5 0,03721% Classe l
Plástico 4,5 0,03349% Classe III
Resíduo orgânico do processo 3,5 0,02605% Classe II
Borracha 1,2 0,00893% Classe II
Tambores 0,9 0,00670% Classe III
Óleo lubrificante 0,6 0,00446% Classe I
Resíduos químicos 0,6 0,00446% Classe I
Madeira 0,5 0,00372% Classe III
Tinta 0,5 0,00372% Classe I
Pneu 0,4 0,00298% Classe II
Lâmpadas 0,15 0,00112% Classe I
Amianto (chapas) 0,14 0,00104% Classe I
Baterias alcalinas 0,12 0,00089% Classe II
Bateria (chumbo/ácido) 0,07 0,00052% Classe I
Amianto (fitas) 0,023 0,00017% Classe I
Vidro 0,01 0,00007% Classe III
Toner 0,006 0,00004% Classe I
Pincel 0,0034 0,00003% Classe I
Resíduo ambulatório 0,0025 0,00002% Classe I
PESO TOTAL 13.438,22 100,0000%

Tabela 2 – Descrição dos resíduos sólidos da Soja S/A contendo quantificação, percentagem
e classificação.
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Na soja S/A são geradas 11.353 toneladas/ano de casca de soja, ou seja, 84,48% do total de
resíduos sólidos industriais, a casca de soja é gerada na etapa de limpeza, como mencionado
na descrição do processamento de soja. Este resíduo é o de maior valor comercial em uma
indústria processadora de soja, sendo que a sua principal utilização é como ingrediente na
alimentação animal. Outra aplicação é a adição no farelo de soja com alto teor de proteína,
desta forma o farelo passa a ter um teor de proteína adequado facilitando a sua
comercialização e a casca de soja é vendida a preço de farelo, ou seja, agrega valor ao
resíduo.
Um resíduo gerado no processamento de soja é a borra de óleo que corresponde a 0,04% dos
resíduos sólidos gerados. Este resíduo é obtido no fundo dos tanques de óleo bruto e pode ser
utilizado como matéri prima na obtenção de glicerol e ácido graxo. Algumas borras de óleo
têm como característica possuir elevados níveis de ácidos graxos livres, como é o caso das
gorduras hidrolizadas e do óleo ácido de soja. Normalmente, essas gorduras são subprodutos
da indústria alimentícia que acabam sofrendo uma ruptura da ligação dos triglicerídios em seu
processamento, liberando glicerol e ácidos graxos. (QUEIROZ, L, 2000).
O resíduo orgânico gerado no processamento da soja representa 0,03% do total, este é obtido
da limpeza de equipamentos e varrição da soja e pode ser utilizado no solo como adubo, pois
contém alto teor de de Fósforo (P) e Potássio (K) em sua composição.
Um resíduo gerado fora do processo produtivo é a cinza proveniente da queima de biomassa
nas caldeiras para geração de vapor e nos secadores de cereais. Este corresponde a 5,82% do
total de resíduos sólidos da Soja S/A. A cinza pode ser aproveitada como enriquecedor do
solo, pois há grande quantidade de minerais em sua composição.
Com relação a quantidade de resíduos geradas por Classe: 13.348 toneladas/ ano são resíduos
Classe II, 82,41 toneladas/ ano são resíduos Classe III e 7,09 toneladas/ ano são resíduos
Classe I, o que representa 99,33%, 0,61% e 0,05%, respectivamente, conforme demonstrado
na Figura 1.

C lasse I
99,33
C lasse II
100 C lasse III

80
Percentagem (%)

60

40
0,05 0,61
20

0
Class e I Class e II Class e III

Figura 1 – Classificação dos resíduos sólidos industriais segundo a NBR 10004.


3.3 Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Gerados na Soja S/A
Na Tabela 3 observa-se a destinação final dos diferentes resíduos sólidos gerados, assim
como, a Classe de cada resíduo.
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Resíduo Sólido Classificação Destino Final


Casca de soja Classe II Alimentação animal
Baterias alcalinas Classe II Aterro controlado
Materiais não recicláveis Classe II Aterro controlado
Resíduo orgânico do refeitório Classe II Aterro controlado
Resíduo ambulatório Classe I Aterro controlado- vala séptica
Amianto (chapas) Classe I Aterro industrial
Amianto (fitas) Classe I Aterro industrial
Borra de óleo Classe I Aterro industrial
Pincel Classe I Aterro industrial
Resíduos químicos Classe I Aterro industrial
Tinta Classe I Aterro industrial
Borracha Classe II Empresa especializada- co-processamento
Pneu Classe II Empresa especializada- co-processamento
Bateria (chumbo/ácido) Classe I Empresa especializada- reciclagem
Lâmpadas Classe I Empresa especializada- descontaminação
Óleo lubrificante Classe I Empresa especializada- re-refino
Lodo fossa séptica Classe II ETE
Papel/Papelão Classe III Reciclagem
Plástico Classe III Reciclagem
Sucata de metais ferrosos e não ferrosos Classe III Reciclagem
Tambores Classe III Reciclagem
Vidro Classe III Reciclagem
Toner Classe I Reciclagem
Madeira Classe III Reuso- queima nas caldeiras
Cinza Classe II Reuso- doada para fins agrícolas
Lodo ETE Classe II Reuso- doado para fins agrícolas
Resíduo orgânico do processo Classe II Reuso- doado para fins agrícolas
Resíduos de construção civil Classe II Reuso- buracos nas estradas da área fabril

Tabela 3 – Gerenciamento dos resíduos sólidos da Soja S/A.


Na Soja S/A os resíduos Classe I (amianto, pincel, resíduos químicos e tinta) são destinados
em aterro industrial, conforme resolução CONAMA nº 05, de agosto de 1993. Os resíduos
Classe I como, bateria chumbo ácido, lâmpadas e óleo lubrificante, são enviados a empresas
especializadas e os resíduos de ambulatório são encaminhados ao aterro controlado do
Município onde há uma vala séptica, portanto há uma preocupação por parte da empresa em
enviar este resíduo perigoso para locais controlados e adequados.
Apenas 0,22% dos resíduos sólidos gerados são dispostos no aterro controlado do Município,
A maioria dos resíduos Classe III, sucata de metais, papel/ papelão, plástico, tambores e vidro,
são recicladas por pequenas usinas de reciclagem, a madeira proveniente dos “palets” é
reutilizada como biomassa nas caldeiras.
O Lodo da ETA é analisado por espectrofotometria por absorção atômica e indica a presença
de elevadas quantidades de SiO2, Al2O3 e Fe2O3, podendo estes óxidos serem utilizados na
utilização na composição de tijolos. (PORTELA et al, 2003).
4. Conclusão
Os resultados obtidos demonstram que 84,48% do total dos resíduos sólidos gerados na Soja
S/A, refere-se a casca de soja que é obtida no processamento da soja, assim como a borra de
óleo que corresponde a 0,04% do total de resíduos gerados. O resíduo orgânico gerado no
processamento da soja representa 0,03% do total, este é obtido da limpeza de equipamentos e
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varrição da soja. Um resíduo gerado fora do processamento de soja é a cinza que representa
5,82% do total.
Em relação a classificação, 99,33% são resíduos Classe II, 0,61% são Classe III e 0,05% são
Classe I.
No que se refere à destinação final, os resíduos Classe I são destinados corretamente, pois são
dispostos em aterros industriais, enviados a empresas especializadas ou encaminhados a valas
sépticas, como ocorre com os resíduos do ambulatório. Apenas 0,22% dos resíduos sólidos
gerados são dispostos em aterro controlado do Município. Referente aos resíduos Classe III, a
maioria é reciclada o que corresponde a 0,61% dos resíduos sólidos. O lodo da ETA não foi
quatificado, mas relacionado à destinação deste resíduo, sugere-se a utilização na composição
de tijolos.
Desta forma, verifica-se que a Soja S/A possui um adequado gerenciamento dos resíduos
sólidos. Porém, esta empresa pode optar pela melhoria contínua buscando reduzir os resíduos
gerados, através de adaptações no processo, assim como procurar outras formas de destinação
aos resíduos perigosos, enfim, gerenciar os resíduos visando a redução da utilização dos
recursos naturais.
5. Referências Bibliográficas
ABNT, NBR 10004. (1987) – Resíduos Sólidos – Classificação. ABNT. Rio de Janeiro-RJ.
CONAMA, Resolução nº 05 (1993) – Disposição e Tratamento dos Resíduos Sólidos.
Publicação em Diário Oficial da União em 31/08/93.
MOURA, L. A. A. Qualidade e Gestão Ambiental. 3. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002.
PORTELLA, K.F.; ANDREOLI, C.V.; HOPPEN, C.; SALES, A. BARON, O. (2003) -
Caraterização Físico-Química do Lodo Centifugado da Estação de Tratamento de Água
Passaúna – Curitiba – Pr. 22º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA
SANITÁRIA AMBIENTAL. Joinvile.
QUEIROZ, L. (2000) - Óleo de Soja, Óleo Ácido de Soja e Sebo Bovino Como Fontes de
Gordura em Rações de Frangos de Corte. Rev. Bras. Cienc. Avic. vol.2 no.3 Campinas Sept.
ROCCA, A. C. C. (1993) – Resíduos Sólidos Industriais. CETESB. São Paulo- SP.

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