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1 INTRODUÇÃO
2 DOLO
2.1Teorias do Dolo
Esta teoria é tida como clássica, definindo dolo como a direção da vontade ao
resultado. Explica Bitencourt (2008, p. 268):
“A essência do dolo deve estar na vontade, não de violar a lei, mas de realizar a
ação e obter o resultado. Essa teoria não nega a existência da representação
(consciência) do fato, que é indispensável, mas destaca, sobretudo, a importância
da vontade de causar o resultado”.
Para esta teoria basta supor o resultado, com dolo, a previsão deste como provável ou
certo. Esta teoria é infrutífera, pois somente a previsão do resultado, não se faz suficiente
para dissipar a noção de dolo.
Jesus (2009, p. 284), ao referir-se a esta teoria, estabelece que “requer a previsão ou
representação do resultado como certo, provável ou possível, não exigindo que o sujeito,
queira produzi-lo, sendo suficiente o seu assentimento”.
Esta teoria, por sua vez, aponta a representação e a vontade como sendo
características principais no conceito de dolo. Se houver vontade, mesmo que dirigida de
forma indireta ao resultado possível, assume-se o risco de produzi-lo.
Consentir que o resultado ocorra é uma forma de querê-lo. Faz-se necessária a
representação, que não é suficiente para que se caracterize a existência do dolo.
O Código Penal Brasileiro adotou duas teorias, sendo a da vontade, adotada para o
dolo direto, e a teoria do consentimento, adotada para o dolo eventual (BITENCOURT,
2008).
No dolo direto o agente quer o resultado representado como fim de sua ação. A
vontade do agente é dirigida à realização do fato típico. O objeto do dolo direto é o
fim proposto, os meios escolhidos e os efeitos colaterais representados como
necessários à realização do fim pretendido (BITENCOURT, 2008, p. 270).
Enfim denomina-se dolo direto de primeiro grau, quando se trata do fim diretamente
desejado pelo agente, e dolo direto de segundo grau, quando o resultado é desejado em
virtude da dedução do meio escolhido, e esta diferenciação influenciará na fixação da pena
base.
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Ao contrário dos Códigos Penais de 1830 e 1890, o Código Penal de 1940, com a
reforma penal de 1984, não define crime, facultando a conceituação aos doutrinadores
nacionais. Utiliza-se, portanto, os elementos estruturais do conceito analítico de crime, como:
ação típica, antijurídica, e culpável.
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O dever de solidariedade deverá ser dominante entre os seres humanos, exercido, não
só pelo dever, mas também pelo impulso de ajudar o outro, máxime quando há situação de
urgência ou necessidade.
É crime, tanto a omissão de socorro quando o próprio agente envolvido no acidente e
estando em plenas condições físicas não socorre a vítima, quanto o não cumprimento de uma
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ordem expedida pelo policial ou oficial do corpo de bombeiros, para ajudar na remoção da
vítima.
Ao utilizar quaisquer dos meios previstos nos incisos deste parágrafo, o agente
responderá pelo homicídio qualificado, como demonstra a denúncia recebida pela Promotoria
local do município de Palmas-Pr:
Atualmente, a posição adotada pela jurisprudência pátria tem sido em não mais
considerar a atuação do agente em determinados delitos de trânsito, como culpa consciente,
mas como dolo eventual.
O condutor que ignora a vedação legal de certas condutas, tais como: racha e direção
em alta velocidade sob embriaguez, e continua a agir de forma arriscada, deverá responder
por crime de dolo eventual.
A respeito da decisão proferida pelo Superior Tribunal Federal:
Trata a jurisprudência:
Age com dolo eventual o motorista que dirige veículo sem habilitação, em
velocidade excessiva para o local, realizando manobras perigosas, assumindo,
dessa forma, o risco de causar o dano, no caso, atropelamento com resultado fatal
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para duas vítimas. Em razão desta conduta, deve o acusado ser submetido ao
Tribunal do Júri, juízo constitucionalmente competente para apreciar os crimes
dolosos contra a vida” (TJRO, SER 200.000.2003.008963-8, CCrim, rela. Desa.
Zelite Andrade Carneiro, j. 12-2-2004, RT 825/676), (RIZZARDO, 2008, p.
40).
Aquele que, inabilitado, dirigindo veículo furtado, em alta velocidade, atropela
e mata alguém age com dolo eventual, isso porque, embora a razão de sua conduta
não seja diretamente a de atropelar e matar a vítima, assume o risco do resultado
letal e o aceita. Demonstrados a materialidade do delito e os indícios de sua
autoria, a regra é a pronúncia”(TJMG, SER 308.821-8/00, 2ª CCrim, rel. Des. Luiz
Carlos Biasutti, DJMG de 10-6-2003, REVISTA JURÍDICA n. 309, p. 168),
(RIZZARDO, 2008, p. 40).
3 CULPA
Trata o Art. 18, II, que o crime será culposo quando o agente der causa ao resultado
por imprudência, negligência ou imperícia (NUCCI, 2007). Para a verificação da culpa,
necessário se faz um prévio juízo de valor, sem o qual não se sabe se ela está presente ou
não, sendo a culpa definida como o elemento normativo da conduta. O resultado de perigo ou
dano na culpa não é previsto, porém previsível. Se de alguma forma foi previsto, o agente
não aceita, pois acredita que tal não ocorra.
Explica (BITENCOURT, 2008, p. 285):
As modalidades da culpa estão descritas no art. 18, II, do Código Penal: imprudência,
negligência e imperícia.
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3.1.1 Imprudência
3.1.2 Negligência
É a forma displicente de agir. Refere-se à pessoa que toma atitudes com a total falta
de precaução. Age com negligência o sujeito que, podendo tomar as cautelas necessárias, não
o faz, não fazendo o que deveria ser feito.
Complementa o exemplo de Bitencourt (2008, 287): “negligente é o motorista de
ônibus que trafega com as portas do coletivo abertas, e causa a queda e morte de um
passageiro”. A possibilidade do resultado é uma previsão que não passa pela cabeça de um
autor de crime cometido por negligência.
Age, portanto, com negligência aquele que, por inércia ou preguiça mental, não
observa as normas de conduta que um homem médio observaria no seu agir, deixando este de
agir com cautela.
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3.1.3 Imperícia
Não se deve confundir imperícia, com erro profissional, pois este geralmente ocorre
de forma imprevisível, e é totalmente desculpável, justificável, transpondo os limites da
imprudência e atenção humana.
O Código Penal não faz distinção entre culpa consciente e culpa inconsciente,
aumentando a dificuldade de se comprovar, em um caso concreto, qual das duas espécies
ocorreu. Bitencourt (2008, p. 286) esclarece: “destaca-se a sutil diferença entre não prever
um resultado antijurídico, e quanto a prevê-lo, confiando, levianamente, na sua não
ocorrência, se este, de qualquer sorte, se verificar. A gravidade da culpa, seja ela maior ou
menor, será decidida pelo juiz.
Seguem as espécies de culpa:
Na culpa consciente, também conhecida como culpa com previsão, o agente prevê o
resultado e não o aceita, esperando descuidadamente que ele não ocorra, ou se esforçando
para que seja evitado, pois entende que sua habilidade poderá impedir o evento lesivo
previsto. A diferença entre culpa consciente e dolo eventual é que, na culpa consciente,
embora prevendo o possível resultado, o agente, recusa essa possibilidade, enquanto que no
dolo eventual o agente prevê o resultado, porém não se importa que ele ocorra.
Trata-se de uma tênue linha divisória entre culpa consciente e dolo eventual, pois em
ambas o agente prevê a ocorrência do resultado, mas somente no dolo eventual o agente
aceita a possível ocorrência do evento.
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A culpa imprópria não é uma culpa propriamente dita, pois, no momento da ação, o
agente supõe estar acobertado por uma causa que exclui a ilicitude. Entretanto, o erro poderia
ter sido evitado, permanecendo o comportamento culposo. Para Capez (2008, p. 213), “trata-
se de erro de tipo inescusável, que exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo”.
Ocorre quando o agente ocasiona um resultado de forma indireta, sendo este culposo,
previsível e dependente de uma primeira conduta.
Capez (2008, p. 214) cita um exemplo de fácil entendimento: “um motorista que se
encontra parado no acostamento de uma rodovia movimentada, quando é abordado por um
assaltante. Assustado, foge para o meio da pista e acaba sendo atropelado e morto”. O agente
responde pelo roubo, realizado diretamente de forma dolosa, e pela morte da vítima,
ocasionada de forma indireta e culposa.
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O homicídio culposo está tipificado no Art. 121, §3º do Código Penal Brasileiro, e
sua ocorrência na direção de veículo automotor está descrito nos termos do Art. 302 do
Código de Trânsito Brasileiro, que estipula um tipo incriminador específico, qual seja: “Art.
302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor, Penas – detenção, de 2
(dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor”.
Criticável, este conceito típico é uma forma estranha de descrever o delito, não
mencionando o verbo, a conduta principal do autor, pois o comportamento do autor no
homicídio culposo consiste em “matar” culposamente, não em “praticar” homicídio culposo,
pois o sujeito será punido não porque “praticou”, e sim porque “matou alguém”.
Enquadram-se, portanto, como culposos, os delitos de lesões corporais ou de
homicídio, praticados na direção de automóvel, quando o agente não quis o resultado ou
acreditou que não adviriam as lesões ou a morte. Complementa a doutrina que o homicídio
culposo é considerado como “a eliminação da vida de uma pessoa por ato de outra, através de
uma causa gerada por culpa, nas espécies imprudência, negligência ou imperícia
(RIZZARDO, 2008, p. 593)”.
O art. 199 do CTB explica que, ultrapassar pela direita, salvo quando o veículo da
frente devidamente sinalizar que vai entrar a esquerda, é considerada infração média de
trânsito, com a penalidade apenas de multa. Porém, suas conseqüências podem ser
desastrosas, como demonstra a jurisprudência em exemplo:
Age com culpa e responde pela lesão corporal e homicídio culposo, o motorista
que tenta ultrapassar passando caminhão pela direita, invadindo o acostamento e,
aí, vindo a colher pessoas que normalmente trafegavam (TACrimSP, Ap.
1.032.669/3, 12ª Câm., rel. Juiz Ary Casagrande, j. 25-11-1996, RJTACrim
32/103), (RIZZARDO, 2008, p. 33).
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal: parte geral. 12. ed. São Paulo: Saraiva,
2008. v. 1.
BRASIL. Vade Mecum. Código penal. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. p. 354.
Denúncia, disponível em: <HTTP://jornaldointerior.wordpress.com/2009/10/24/justica-
recebe-denuncia-por-homicidio-qualificado-no-transito-ocorrido-em-2005/>. Acesso em: 11
nov. 2009
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JESUS, D. Direito penal: parte geral. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 1.
MIRABETE, J. F. Manual de direito penal. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 454.
NUCCI, G. S. Código penal comentado: 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.
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