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Queridos irmãos e irmãs:
Órfã aos 5 anos de idade, Juliana, junto à sua irmã Inês, foi confiada aos
cuidados das religiosas agostinianas do convento-leprosário de Mont-Cornillon.
Foi educada sobretudo por uma freira cujo nome era Sabedoria e que
acompanhou o seu amadurecimento espiritual, até que a própria Juliana
recebeu o hábito religioso e se converteu, também ela, em freira agostiniana.
Adquiriu uma notável cultura, chegando até a ler as obras dos Padres da Igreja
em latim, particularmente Santo Agostinho e São Bernardo. Além de uma
inteligência vivaz, Juliana mostrava, desde o começo, uma propensão
particular à contemplação; tinha um sentido profundo da presença de Cristo,
que experimentava vivendo de maneira particularmente intensa o sacramento
da Eucaristia e meditando com frequência sobre as palavras de Jesus: "Eis que
estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28,20).
Aos 16 anos, teve uma primeira visão, que depois se repetiu muitas vezes nas
suas adorações eucarísticas. A visão apresentava a lua em seu pleno
esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. O Senhor
fê-la compreender o significado do que lhe aparecera. A lua simbolizava a vida
da Igreja na terra; a linha opaca representava, no entanto, a ausência de uma
festa litúrgica, para cuja instituição se pedia a Juliana que trabalhasse de
maneira eficaz, isto é, uma festa na qual os fiéis pudessem adorar a Eucaristia
para aumentar sua fé, crescer na prática das virtudes e reparar as ofensas ao
Santíssimo Sacramento.
Contudo, Deus pede frequentemente aos santos que superem provas, para
que a sua fé cresça. Isso aconteceu com Juliana, que teve de sofrer a dura
oposição de alguns membros do clero e do próprio superior do qual o seu
mosteiro dependia. Então, por vontade própria, Juliana deixou o convento de
Mont-Cornillon com algumas companheiras e, durante 10 anos, entre 1248 e
1258, foi hóspede de vários mosteiros de religiosas cistercienses. Ela edificava
todos com a sua humildade, nunca tinha palavras de crítica ou de reprovação
para os seus adversários, senão que continuava difundindo com zelo o culto
eucarístico. Faleceu em 1258, em Fosses-La-Ville, na Bélgica. Na cela em que
jazia, expuseram o Santíssimo Sacramento e, segundo as palavras do seu
biógrafo, Juliana morreu contemplando, com um último arrebato de amor,
Jesus Eucaristia, a quem sempre havia amado, honrado e adorado.
Para a boa causa da festa do Corpus Domini, foi conquistado também Giacomo
Pantaléon de Troyes, que tinha conhecido a santa durante o seu ministério de
Arquidiácono em Lieja. Foi precisamente ele quem, ao tornar-se Papa com o
nome de Urbano IV, em 1264, quis instituir a solenidade do Corpus Domini
como festa de preceito para a Igreja Universal, na quinta-feira depois do
Pentecostes. Na bula de instituição, intitulada Transiturus de hoc mundo (11 de
Agosto de 1264), o Papa Urbano evoca também com discrição as experiências
místicas de Juliana, respaldando a sua autenticidade, e escreve: "Ainda que a
Eucaristia seja solenemente celebrada todos os dias, consideramos justo que,
ao menos uma vez por ano, se faça dela mais honrada e solene memória. As
demais coisas, de facto, das quais fazemos memória, nós apreendemo-las com
o espírito e com a mente, mas não obtemos por isso a sua presença real. No
entanto, nesta comemoração sacramental de Cristo, ainda que sob outra
forma, Jesus Cristo está presente connosco na Sua própria Substância. De
facto, enquanto estava a ponto de ascender ao céu, disse: 'Eis que estou
convosco todos os dias, até o fim dos tempos' (Mt 28, 20) ".
Rezo para que esta "Primavera Eucarística" se difunda para vez mais em todas
as paróquias, em particular na Bélgica, a pátria de Santa Juliana. O Venerável
João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia, constatava que, "em muitos
lugares, é dedicado amplo espaço à adoração do Santíssimo Sacramento,
tornando-se fonte inesgotável de santidade. A devota participação dos fiéis na
procissão eucarística da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo é uma graça
do Senhor que anualmente enche de alegria quantos nela participam. E mais
sinais positivos de fé e de amor eucarísticos se poderiam mencionar" (n. 10).
Obrigado.