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CONSELHOS PARA APOLOGISTAS CRISTÃOS
WILLIAM LANE CRAIG
Em 1983, quando Alvin Plantinga deu sua palestra inaugural como o Professor John
O'Brien de Filosofia na Universidade de Notre Dame, ele escolheu o tópico
“Conselhos Para Filósofos Cristãos.” Hoje, eu escolhi como meu assunto um tópico
relacionado, mas de certa forma mais amplo, “Conselhos Para Apologistas
Cristãos.” Os conselhos de Plantinga, porém, foram dirigidos àqueles que já eram
Filósofos Cristãos, enquanto meus comentários podem mais apropriadamente
intitulados “Conselhos Para Cristãos Quase Apologistas,” ou seja, para aqueles que
entrarão, mas ainda não entraram, em um ministério de apologética Cristã.
Nós vimos ontem a tremenda necessidade e os benefícios da apologética Cristã,
tanto em moldar a cultura quanto em influenciar vidas individuais. Agora, para
ajudar-nos a fazer isso bem, deixe-me fazer algumas sugestões.
Mas por que, poderíamos perguntar, é impossível em uma era científica acreditar
em um Cristo sobrenatural? Afinal, um bom número de cientistas são crentes
Cristãos, e a física contemporânea se mostra muito aberta à possibilidade de
realidades que estão fora do domínio da física. Qual é a justificação para o anti-
sobrenaturalismo?
Aqui as coisas ficam realmente interessantes. De acordo com o Jesus Seminar, o
Jesus histórico, por definição, deve ser uma figura não-sobrenatural. Aqui eles
apelam para D.F. Strauss, o crítico bíblico alemão do século 19. O livro de Strauss
"A Vida de Jesus Examinada Criticamente” foi baseado diretamente em uma
filosofia do naturalismo. Segundo Strauss, Deus não age diretamente no mundo; Ele
só age indiretamente através de causas naturais. No que diz respeito à
ressurreição, Strauss afirma que Deus ressuscitar Jesus dos mortos "é inconciliável
com as idéias iluministas da relação de Deus com o mundo" 4.
Agora ouça com atenção o que o Jesus Seminar diz sobre Strauss:
Strauss distingue nos Evangelhos o que ele chamou de "o mítico" (definido por ele
como tudo que é lendário ou sobrenatural) do histórico. . . . A escolha que Strauss
sugeriu em sua avaliação dos Evangelhos foi entre o Jesus sobrenatural – o Cristo da fé
– e o Jesus histórico.5
Perceba: Tudo o que é sobrenatural é, por definição, não histórico. Não há nenhum
argumento dado; é apenas definido dessa maneira. Assim, temos um radical
divórcio entre o Cristo da fé, ou o Jesus sobrenatural, e o Jesus real e histórico. O
Jesus Seminar dá um endosso chamativo à distinção feita por Strauss: eles dizem
que a distinção entre o Jesus histórico e o Cristo da fé é "o primeiro pilar da
sabedoria acadêmica" 6.
Mas agora toda a busca pelo Jesus histórico torna-se uma charada. Se você começa
pressupondo o naturalismo, então é claro que o que você vai descobrir é um Jesus
puramente natural! Este Jesus naturalista e reconstruído não é baseado em
evidências históricas, mas em uma definição. O que é surpreendente é que o Jesus
Seminar não faz nenhuma tentativa de defender esse naturalismo; ele é apenas
pressuposto.
Mas este pressuposto é totalmente injustificado. Enquanto a existência de Deus for
pelo menos possível, então precisamos estar abertos à possibilidade de que Ele
tenha agido miraculosamente no universo. Só se você tiver uma prova para o
ateísmo é que pode ser justificado pensar que milagres são impossíveis.
Agora, muitas vezes os críticos céticos adotarão uma linha um pouco mais suave,
pressupondo um naturalismo metodológico como uma pré-condição do estudo
histórico da vida de Jesus. Por exemplo, Gerd Lüdemann rejeita a ressurreição de
Jesus como a melhor explicação para a evidência histórica porque a ressurreição é
um milagre, e o Professor Lüdemann tem um pressuposto metodológico contra os
milagres. Ele afirma, "A crítica histórica... não reconhece uma intervenção de Deus
na história."7 Assim, a ressurreição não pode contar como uma explicação histórica.
Então, que justificativa Lüdemann dá para esse pressuposto fundamental da
inadmissibilidade de milagres? Tudo o que ele oferece são algumas citações de uma
única frase de Hume e Kant. Ele diz: "Hume... demonstrou que um milagre é
definido de tal maneira que 'nenhum testemunho é suficiente para estabelecê-lo'".
8 A concepção milagrosa da ressurreição, ele diz, pressupõe "um realismo filosófico
que tem sido insustentável desde Kant."
Agora, o Professor Lüdemann não é um filósofo, ele é um teólogo do Novo
Testamento. E aqui o procedimento de meramente mencionar nomes de filósofos
famosos, infelizmente, é muito típico dos teólogos. Thomas Morris, um filósofo
cristão, comenta em seu livro “Filosofia e a Fé Cristã”,
O que é particularmente interessante sobre as referências que os teólogos fazem a
Kant e Hume é que, na maioria das vezes, nós vemos o filósofo meramente
mencionado..., mas nós raramente, se alguma vez, vemos uma explicação de
precisamente quais dos seus argumentos realizaram a suposta refutação... Na
verdade, confesso nunca ter visto nos escritos de qualquer teólogo contemporâneo a
exposição de um único argumento a partir de Hume ou Kant, ou de qualquer outra
figura histórica, que chegue sequer perto de refutar... a doutrina cristã histórica, ou... o
realismo teológico... 10
A melhor analogia que posso pensar para isso é a relação entre o Papai Noel e o
bispo São Nicolau original do século IV. Nicolau era a pessoa real que viveu e
morreu. Papai Noel é uma figura imaginária, que, embora seja muito real na
experiência de pequenas crianças, não existe realmente. Agora, embora os adultos
racionais possam acreditar em algumas das coisas que esta figura imaginária
simboliza, como o espírito de doação, nós não acreditaríamos nele.
Portanto, a questão crucial é: que verdade literal é expressa por declarações sobre
o Jesus pós-pascal, como "Jesus ressuscitou", ou "Jesus me ama"? Aqui Borg
enfrenta um problema insuperável. Pois ele diz que não existem verdades literais
sobre de Deus. Ele pensa que Deus é inefável, ou seja, "além de todo pensamento
racional." Ele escreve: "Deus é inefável... Deus está além de todas as imagens,
físicas e mentais... Todos os nossos pensamentos a respeito de Deus... são
tentativas de expressar o inefável. O inefável está além de todos os nossos
conceitos, inclusive este."16. Mas isso implica que não há verdade literal expressa
por suas afirmações sobre o Jesus pós-pascal. Portanto, eles não são metáforas;
elas são um absurdo.
Mas a coisa fica ainda pior. Pois é incoerente dizer que Deus é "além de todos os
nossos conceitos." Pois, se nenhum dos nossos conceitos se aplica a Deus, então
até mesmo o conceito de inefabilidade não se aplica a Deus. Mas então, no final das
contas, Deus não é inefável! Assim, a visão de Borg refuta a si mesma: se é
verdadeira, então é falsa. Borg parece perceber isso, quando ele diz que Deus está
"além de todos os nossos conceitos, inclusive este." Mas se o conceito de
inefabilidade não se aplica a Deus, então não é o caso de que Deus seja inefável,
como afirma Borg. Assim, a visão de Borg é, em referência a si mesma, incoerente
e não pode ser racionalmente afirmada.
Assim, questões filosóficas às vezes podem ser absolutamente decisivas para lidar
com questões históricas importantes para o apologista cristão.
Da mesma forma, no florescente diálogo contemporâneo entre ciência e teologia,
que é vitalmente relevante para o campo da apologética científica, eu percebo
várias vezes que as questões centrais acabam sendo mais filosóficas do que
científicas. Seria fácil ilustrar isso com respeito à teoria da relatividade e a teoria
quântica, os dois pilares da física contemporânea, que abertamente envolvem
questões epistemológicas e metafísicas. Mas mesmo em uma ciência relativamente
de baixo nível teórico como a biologia, questões filosóficas se intrometem.
Tem sido a permanente contribuição de Philip Johnson para o debate sobre as
origens biológicas chamar a atenção para o papel crucial desempenhado por
pressupostos metodológicos na avaliação de uma teoria. Como eu o compreendo, o
principal ponto de Johnson pode ser melhor expressado em termos do modelo da
explicação científica conhecido como a inferência para a melhor explicação.
Além disso - para falar agora em um nível pessoal -, você ficará surpreso com as
portas de oportunidade que se abrirão para você, se você tiver um doutorado.
Percebi isso logo depois de completar minhas graduações. Nós estávamos fazendo
uma turnê de palestras em universidades britânicas e, na Universidade de
Nottingham, tive a oportunidade de falar em uma sala de aula. O professor
apresentou-me, dizendo: "O Dr. Craig estudou sob a orientação de John Hick da
Universidade de Birmingham e sob a orientação de Wolfhart Pannenberg, na
Universidade de Munique." Ele fez uma pausa e então disse: "Estes são grandes
nomes e temos o privilégio de ter o Dr. Craig falando em nossa classe." Eu sorri por
dentro e disse: "Obrigado, Senhor!" Fiquei muito feliz por estar sobre os ombros de
meus mentores ao dar uma defesa do teísmo cristão.
Neste último mês, Jan e eu estivemos na China, onde eu falei como convidado do
Departamento de Filosofia em uma grande universidade. Eu apresentei um
argumento moral para o teísmo e, em resposta a perguntas dos alunos, eu fui até
mesmo capaz de compartilhar meu testemunho pessoal de como eu cheguei à fé
em Cristo. Quando cheguei à parte em que descrevi como eu finalmente entreguei
minha vida a Cristo, os alunos realmente irromperam em aplausos! Foi sério depois
refletir que essa oportunidade extraordinária não está aberta para missionários
tradicionais, mas está escancarada para cristãos que têm as credenciais
acadêmicas necessárias.
Ter um doutorado abrirá para você portas do ministério que, de outro modo,
permaneceriam fechadas. Eu tenho bons amigos que são apologistas cristãos que,
no início não quiseram prosseguir para estudos de doutoramento e cujos ministérios
são inibidos, como resultado. Os tipos de espaços que acabei de descrever estão
fechados para eles, tanto nos seus países como no exterior. Fazer um doutorado vai
expandir os horizontes do seu ministério.
Não vai ser fácil. As estruturas de poder em certos campos são, muitas vezes,
profundamente anticristãs. Os estudantes que são cristãos evangélicos podem ser
eliminados, e terem negados graus ou cátedras. Haverá, e já houve, vítimas de
discriminação anticristã no processo. Mas ao longo do tempo, cada vez mais de nós
conseguirão passar com sucesso. Programas de pós-graduação em filosofia são
inundados com estudantes cristãos que estão gradualmente trabalhando seu
caminho através do sistema. A Escola Talbot de Teologia agora tem o maior
programa de Mestre de Artes em Filosofia, em qualquer instituição de língua
inglesa. Eu e os meus colegas na Talbot às vezes somos abordados por filósofos em
universidades seculares realmente convidando-nos a enviar alguns dos nossos
alunos para fazer o trabalho de doutorado com eles. Isso pode acontecer em outros
campos também. Enquanto a velha guarda morre e jovens estudiosos cristãos são
contratados em seus lugares, a cara da universidade vai mudar. O que Thomas
Kuhn disse das revoluções científicas disse também é válido para as revoluções
cristãs: elas caminham um funeral de uma vez.
Agora, eu percebo que talvez alguns de vocês tenham uma vocação diferente. No
seu caso, especialmente para os que são pastores, eu encorajaria você a estar
atento para os estudantes que você pode direcionar para os programas de
doutorado. Por outro lado, se você tiver menos que 35 anos, os estudos de
doutorado ainda são uma opção realista que eu encorajaria você a explorar. As
chaves para o sucesso serão, em primeiro lugar, escolher um tema de dissertação
pelo qual você esteja apaixonado e, por outro lado, encontrar um mentor de uma
universidade secular que seja pelo menos simpático ao seu tema de dissertação.
Você pode ter que escrever sobre um tema mais neutro do que você gostaria, para
não despertar a oposição à sua candidatura. Por exemplo, a minha tese de
doutorado sobre a ressurreição de Jesus foi essencialmente uma história da
apologética histórica sobre a ressurreição. Uma vez que tinha o grau em segurança,
eu então publiquei como um segundo volume centenas de páginas da minha
própria apologética histórica para a ressurreição.
Se você se sente chamado a tornar-se um apologista cristão, então, embora eu não
possa presumir saber a vontade de Deus para você, peço que você considere
seriamente completar os estudos de doutorado. Isso irá aprofundar e enriquecer
sua vida, abrir as portas do ministério para você e aumentar significativamente o
seu impacto para o Reino.
Referências