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O art. 37, VII da Magna Carta assegura ao servidor público o direito de greve, a
ser exercido nos termos de ulterior lei específica. Anteriormente à EC 19/98, tal
exercício se daria nos termos e limites de lei complementar. Forte no princípio
hermenêutico da força normativa da Constituição (Canotilho), segundo o qual, havendo
várias interpretações possíveis, deve-se adotar a que garanta maior permanência,
aplicabilidade e amplitude à norma constitucional, é forçoso concluir que o sobredito
dispositivo veicula norma de eficácia contida, e não limitada, isto é, o direito de greve já
está garantido ao servidor público (não será a lei específica que o fará), apenas seus
limites e termos é que poderão ser definidos pela lei específica.
Esta greve ambiental (na feliz expressão cunhada por Raimundo Simão de
Mello), além de adentrar o conceito material de direitos fundamentais por força do
sistema aberto destes direitos (CF, art. 5º, § 2º), especificamente quanto aos
trabalhadores também ingressa formalmente em tal categoria por força da localização
tópica, no título dos direitos e garantias fundamentais, do art. 6º, da parte final do caput
do art. 7º e do inciso XXII deste mesmo artigo da Constituição.
Em síntese, quer no que toca aos trabalhadores agasalhados pelo capítulo II do
título II da Magna Carta (empregados comuns e avulsos), quer no que toca a todos os
demais trabalhadores, inclusive militares, agasalhados subsidiariamente pelo art. 5º,
caput, da Constituição, a greve ambiental, ao se consubstanciar em direito ou fato
social, é forma de autotutela justa e jurídica a todos os segmentos, e nenhum óbice
poderá ser oposto a tal modalidade de greve, que pleiteia interesses e direitos implícitos
no direito à vida e, mais, nos princípios da dignidade da pessoa humana e do valor
social do trabalho (art. 1º, III e IV da Constituição).
Em segundo lugar, a greve, nestas situações excepcionais, deve ser tolerada,
inclusive em relação aos militares, como fato social suscetível de chamamento das
autoridades para a negociação, rumo à consecução de um verdadeiro acordo de
cavalheiros (comprometendo-se as autoridades a enviarem projetos de lei de
reestruturação da carreira, etc). Trata-se aqui de um aspecto político da greve, não
podendo ser desprezado seu papel vocalizador dos anseios da coletividade e sua
imanência ao valor democracia.
Isto posto, ante a omissão do Poder Público em disciplinar os meios pelos quais
o direito (ou fato social) da greve no serviço público deverá ser exercido, impende a
adoção de uma postura garantista, deferindo-se a aplicação, por analogia juris, da Lei nº
7.783/89.
BIBLIOGRAFIA:
BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro, Trabalho Decente. São Paulo: LTr,
2004.
MELO, Raimundo Simão, A Greve no Direito Brasileiro. São Paulo: LTr, 2006.