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A leitura dos documentos, base do ofício do historiador, deve ser incentivada no
ambiente escolar. E, de forma crítica, pode ser extrapolada para o ambiente extraescola.
Os alunos podem ser levados a pensar: porque o autor de tal jornal escreve desta forma?
Quais seus interesses? O que eu penso sobre isso? Como posso argumentar minha
posição? Porque os supermercados (e outras materialidades) são construídos desta
forma? Quais as intencionalidades destas construções (destes documentos)? Isso nos
leva à segunda questão:
Lendo documentos em sala de aula (2)
A prática de ler e interpretar documentos deve ser constante em nosso cotidiano profissional:
tanto nós devemos sempre estar atentos à leitura do mundo e de bibliografia que nos atualize,
como devemos, em esforço infindo (pois ano que vem, turma nova e trabalho recomeçando "do
zero"!), despertar os alunos para esse exercício interpretativo, auxiliando-os nesse processo
formativo.
Ao longo deste módulo, voltaremos a essa questão algumas vezes, sempre tentando chamar a
atenção para as possibilidades de trabalho com documentos em sala de aula.
Para ler mais sobre os desafios da leitura:
O desafio de ler e compreender em todas as disciplinas.
Delia Lerner fala sobre a leitura e a escrita em contexto de
estudo.
A cultura material como documento histórico
Você já reparou que, assim como lemos textos escritos e
imagens, também podemos analisar a própria cultura
material? Veja as carteiras escolares. Há alguns anos elas
deixaram de ser compartilhadas e passaram a ser destinadas
a um único aluno. Os estudantes, com isso, foram
desobrigados a negociar espaços (dos braços, pernas e
cadernos) para serem os "donos" de seus próprios espaços
(suas carteiras!). O que você acha que isso pode nos dizer
sobre nossa cultura atual? Ou melhor, o que podemos pensar
sobre isso? Não há uma única resposta, mas podemos
levantar tantas hipóteses! Lance-se o desafio: vamos pensar
o mundo material?
Levar os alunos a entender tudo o que lêem exige explorar diferentes gêneros e procedimentos de
estudo. Para ser bem-sucedido na tarefa, é necessário o envolvimento dos professores de todas as
disciplinas
Rodrigo Ratier (rodrigo.ratier@abril.com.br)
No Brasil, um em cada dez brasileiros com 15 anos ou mais não sabe ler e escrever. Uma vergonha
que encobre outras realidades não tão evidentes, mas igualmente dramáticas. Como o fato de que
dois terços da população entre 15 e 64 anos é incapaz de entender textos longos, localizar
informações específicas, sintetizar a ideia principal ou comparar dois escritos. O problema não é
reflexo apenas de baixa escolarização: segundo dados do Instituto Paulo Montenegro, ligado ao
Ibope, mesmo considerando a faixa de pessoas que cursaram de 5ª a 8ª série, apenas um quarto
delas é plenamente alfabetizado. A conclusão é que, na escola, os alunos aprendem a ler - mas
não compreendem o que leem.
É preciso virar esse jogo. Num mundo como o atual, em que os textos estão por toda a parte,
entender o que se lê é uma necessidade para poder participar plenamente da vida social.
Professores como você têm um papel fundamental nessa tarefa (leia o infográfico abaixo).
Independentemente de seu campo de atuação, você pode ajudar os alunos a ler e compreender
diferentes tipos de texto, incentivando-os a explorar cada um deles. Pode ensiná-los a fazer
anotações, resumos, comentários, facilitando a tarefa da interpretação. Pode, enfim, encaminhá-
los para a escrita, enriquecida pelos conhecimentos adquiridos na exploração de livros, revistas,
jornais, filmes, obras de arte e manifestações culturais e esportivas.
O primeiro passo é firmar um compromisso: ensinar a ler é tarefa de todas as disciplinas, não
apenas de Língua Portuguesa. É essa ideia que norteia esta edição especial de NOVA ESCOLA.
Em todas as áreas, há aproximações possíveis com o tema. "Um professor de História deve
ensinar que muitos textos da área têm uma estrutura cronológica e que é necessário identificá-la
para entender a informação. O de Ciências precisa discutir como ler as instruções de experiências
e ensinar a produzir relatórios, e o de Matemática, a interpretar problemas. A alfabetização plena
requer que os estudantes saibam compreender e produzir textos específicos das disciplinas",
explica a pesquisadora espanhola Isabel Solé, uma das maiores autoridades do mundo quando o
assunto é leitura (leia a entrevista).
UM GRANDE ENCONTRO
No diálogo entre o estudante e o texto, o professor tem um papel importante para criar condições
de interpretação
O aluno
Leitor Ativo Toda criança é um leitor que realiza um esforço cognitivo para processar e atribuir
significado ao que está escrito. Com isso, interpreta.
O professor
Contexto de produção Quem é o autor? Em que época escreveu? Quais suas possíveis
intenções? Cabe ao professor ajudar cada aluno a enxergar esses aspectos.
Contexto de leitura Para que lemos um texto? Estabelecer um objetivo claro (considerando o
que a turma já sabe) é fundamental para dar sentido à tarefa.
O texto
Forma Por possuir estruturas diferentes, cada gênero desperta expectativas distintas. Explorar
suas características oferece pistas para antecipar a interpretação.
Conteúdo Para motivar, o tema deve estar ligado aos interesses de quem lê. E o professor de
cada disciplina tem de direcionar o olhar da turma para aspectos específicos de sua área.
Antes de começar, vale a pena refletir um pouco sobre a tarefa à sua frente. Você já se perguntou
o que significa ensinar alguém a ler? Mais que isso: o que é ler? Um passeio pela origem da
palavra ajuda a esclarecer. Do latim lego, ler significa, entre outras coisas, colher e roubar.
O primeiro termo aponta para um tipo de leitura em que o sentido do texto já está pronto,
totalmente determinado. Ao leitor, caberia só captar colher o que o autor quis dizer. A essa
concepção, dominante até pelo menos os anos 1970, contrapõe-se a indicada pelo segundo termo.
Roubar, no caso, equivale a dizer que o autor deixa de ser dono absoluto do que escreve: com
base no que lê e em seus saberes prévios, o leitor também constrói sentidos.
Por essa perspectiva, os textos nunca dizem tudo: para se completarem, dependem da
interpretação de quem os lê. Essa ideia, presente na maioria dos estudos mais recentes sobre o
tema, não significa que o leitor seja livre para atribuir todos os sentidos que quiser. É aqui que
entra o ensino: cabe ao professor fornecer indícios para a compreensão algo essencial, ainda
mais considerando que os estudantes são, em sua maioria, leitores em formação.
Progressivamente, cada um estabelece um diálogo próprio com o texto e a leitura se torna
autônoma, afirma Claudio Bazzoni, assessor de Língua Portuguesa da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo e selecionador do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10.
Encaminhar a turma para entender o que lê inclui ensinar uma série de estratégias de que o leitor
experiente lança mão inconscientemente quando se depara com um texto. Uma das mais
essenciais diz respeito aos objetivos de leitura: por que estou lendo isso? A resposta a essa
questão influi muito na maneira como o faz: se é por prazer, pode ler na cama, pular as partes
chatas e até desistir. Se a intenção é estudar as ideias do autor, provavelmente terá um lápis à
mão e, compenetrado, registrará os conceitos mais importantes. Agora, se quer encontrar,
digamos, uma estatística importante, basta passar os olhos, localizar o número, anotá-lo em
algum lugar e fechar o livro.
Também é comum explorar o texto antes de ler. No caso de um livro, vale passear pela capa,
explorar a biografia do autor na orelha e dar uma olhada no índice. No jornal, títulos, subtítulos e
fotos captam a atenção. Ao mesmo tempo, cada um compara o que está escrito com seus
conhecimentos (o que sei sobre o conteúdo do texto?) e se indaga: o que espero encontrar aqui?
No momento da leitura, todo leitor confirma ou retifica suas expectativas sobre o que imaginou
encontrar. Também se interroga continuamente para saber se entende o que lê (qual a ideia
fundamental do texto? Captei os argumentos principais?). Nesse processo, talvez abra o
dicionário para procurar o significado de uma palavra desconhecida ou, se decidir que ela não é
central para sua compreensão, simplesmente segue em frente. No fim, dependendo dos objetivos
(lembra-se deles?), pode escrever uma síntese do que leu ou incorporar trechos para uma
apresentação. Ou, ainda simplesmente acolher outros pontos de vista que também contribuam
para a interpretação.
Dois procedimentos de estudo ajudam a leitura em todas as áreas e devem ser ensinados por todo
o corpo docente
COMPLEMENTO
Grifos podem destacar palavras
essenciais para a compreensão.
Já as anotações desenvolvem, com
mais detalhes, o que o conceito em
evidência significa. Clique para ampliar
Anotação e sublinhado Antes de sair grifando ou anotando, cada aluno deve ter claro o motivo
da tarefa. Se a opção é destacar apenas as palavras-chave, anotações à margem podem comentar
o que o termo escolhido expressa. Já se a intenção é revelar argumentos, por exemplo, os grifos
devem destacar ideias completas. É essencial, ainda, que você oriente a turma a ler o texto todo
antes de anotar (fica mais fácil perceber o que é relevante) e não grifar trechos enormes (com
tudo destacado, o destaque perde a função). Além disso, nem todos os parágrafos têm passagens
importantes.
SEM CÓPIA
Estruturas como a da foto, com
destaque para os blocos significativos
do texto, auxiliam alunos iniciantes e
evitam que os resumos virem
transcrições. Clique para ampliar
Resumo Ao produzir textos que sintetizem os originais, uma alternativa é dividir o escrito nos
blocos em que ele se estrutura (num texto opinativo, uma classificação possível é apresentação do
tema, argumentação, conclusão e possíveis sugestões de solução). Considerar esses blocos ajuda a
evitar o problema das cópias desenfreadas: você pode propor uma estrutura de resumo com
algumas frases que os conectem (veja na foto). Conforme a turma avança, você pode ir
suprimindo essas passagens até que a escrita seja, de fato, autônoma.
As reportagens estão separadas por disciplina e, dentro de cada uma, há uma divisão em cinco
blocos: a concepção de leitura na área, os gêneros privilegiados (alguns, como imagens, esportes e
obras de arte, não são escritos, mas também é preciso ensinar a lê-los), uma sequência didática,
caminhos para desenvolver habilidades antes, durante e depois do contato com os textos e
procedimentos de estudo gêneros escritos que funcionam bem para a recuperação de ideias
significativas ou para uma compreensão mais aprofundada. Dois deles as anotações e os
sublinhados e os resumos , por serem úteis ao entendimento de quase todos os tipos de texto,
aparecem nesta apresentação. Outros oito surgem nas disciplinas em que são mais usuais. É um
erro partir do pressuposto de que a moçada já sabe sublinhar e fazer esquemas. É necessário
ensinar isso tudo.
Para completar, 20 casos reais de professores em escolas de todo o país mostram exemplos de
bons trabalhos em relação à leitura prova de que levar todos os alunos a compreender o que
leem pode ser difícil, mas é possível. Mudar as estatísticas mostradas no primeiro parágrafo está
ao alcance de todos os professores, de todas as disciplinas.
CONTATO
Claudio Bazzoni, bazzoni@uol.com.br
BIBLIOGRAFIA
Ler e Escrever: Compromisso de Todas as Áreas, Neiva Otero Schaffer (org.), 232 págs., Ed.
UFRGS,
tel. (51) 3308-5644 (edição esgotada)
Ler e Escrever na Escola: o Real, o Possível e o Necessário, Delia Lerner, 128 págs., Ed.
Artmed,
tel. 0800-703-3444, 36 reais
INTERNET
Em portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/BibliPed/Anonimo?Publica_FundII.aspx, os
Referenciais de Expectativas para o Desenvolvimento da Competência Leitora e Escritora no
Ciclo II do Ensino Fundamental.