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Logística Enxuta e Six Sigma

Carlos R. Menchik 1
21/agosto/2007
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Muito tem sido falado sobre logística a partir da década de 90,


apesar da logística, como área de atuação e conhecimento humano,
existir a muito tempo. A literatura tradicional na área chama atenção
para sua origem militar, bem como para sua importância desde a
Antigüidade, a competência em processos logísticos muitas vezes
determinou o sucesso ou decadência de muitos impérios estudados nos
livros de história, Fleury et al. (2000 p.27), ainda destaca como um
paradoxo por ser uma atividade econômica secular, como mencionado
acima, e também um conceito gerencial muito moderno.

Dentro deste contexto estaremos demonstrando, relacionando e


destacando que os custos de armazenagem e o custo de estoque vêm
sofrendo um incremento contínuo nos últimos três anos, devido à
necessidade de melhorar os níveis de atendimento a cliente e a
variedade de produtos em um mercado de hipercompetição, nesta
aldeia global em que vivemos. Segundo Leite (2003, p35) em 1994
foram lançados 20.076 novos produtos 2 nos Estados Unidos.
Comparados aos 1.365 lançados em 1970, representado um
crescimento de 1370% neste período, a velocidade de lançamento de
produtos é uma das características da competitividade das empresas
modernas. Ainda segundo Leite (2003) essa verdadeira “corrida” de
lançamentos é imposta pela redução sistemática dos ciclos de vida
mercadológicos dos produtos, devido a fatores como moda, status e
novas tecnologias etc., encontrando-se exemplos de produtos em que o
tempo de elaboração do projeto e de sua realização é maior do que o
ciclo de vida do produto. Adiciona-se uma complexidade gigantesca na
gestão de inventários ao longo da cadeia de suprimentos, sugerindo
uma constante gestão de mudanças.

Como alternativa a estas dificuldades esta sendo proposto criar


oportunidades de redução de custo na armazenagem, através da
eliminação das perdas determinadas por Ohno (1996) comentadas nesta
coluna em edições anteriores e sugerindo observar outras perdas a
serem contempladas nos operações que envolvam armazenagem dentro

1
Mestrando em Engenharia de Produção e Sistemas pela Unisinos com especialização em Gestão de Cadeias
de Suprimentos pela Oliver White (EUA) e Graduado em Administração de empresas pela PUC/RS.
Consultor em Logística Empresarial e professor nos cursos de Pós Graduação da ESPM/RS.
2
Segundo revista New Products publicada em 1996.
da filosofia enxuta. Principalmente a redução das variabilidades ao longo
da cadeia produtiva com o Six Sigma 3.

A gestão de estoque, certamente contribui para muitos


problemas organizacionais. Se a empresa consegue enxugar o estoque
de forma desordenada pode sofrer como conseqüência a falta de
insumos, reduzindo a eficiência global da fábrica e consequentemente
seu nível de serviço ao cliente. Se ao contrário, colocar muito estoque
drena os recursos de capital de giro gerando outros custos como efeito
colateral. A busca de um balanço nestes níveis de inventário sempre é
um desafio, porém, estoques baixos fragilizam os sistemas expondo as
deficiências destes, tais como fornecedores não confiáveis, quebras de
máquinas e outros problemas ficando mais simples sua identificação e
uma conseqüente solução na causa raiz.

Segundo Shingo (1996) “Estoque Zero” somente pode ser


perseguido respeitando uma produção cadenciada pela demanda,
utilizando-se um dos pilares do Sistema Toyota de Produção, o JIT,
porém, fundamentalmente com uma técnica para puxar a produção
(Kanban).
Estoques altos encobrem as ineficiências do processo produtivo,
e demonstram uma organização febril.

Por outro lado, segundo Novaes (2007, p.32) “em razão das
descontinuidades entre o ritmo de produção e de demanda, precisa-se
manter produtos acabados em estoque. Essas operações eram
antigamente consideradas atividades de apoio, inevitáveis. Os
executivos entendiam então que, no fundo, tais operações não
agregavam nenhum valor ao produto”.

No que se refere ao custo, o quanto custa efetivamente


armazenar este inventário, qual o giro do estoque de matéria prima, do
material em processo e finalmente do produto acabado deve-se buscar,
novamente, informações, para quantificar e nestes casos, para
qualificação do estoque no que tange a sua acuracidade, ou seja, se a
quantidade física corresponde à quantidade contábil, no sistema de
gestão da empresa. Ainda neste tópico temos toda a equipe para
manusear este estoque (handling), gerenciar, sem falar-se no custo
direto de seguro e segurança. Todos estes aspectos são amplificados
pelo fator custo financeiro do dinheiro parado em estoque, que na
realidade brasileira é bastante expressivo.

3
Segundo Goldby (2004, p5) Six Sigma (6σ) é uma metodologia gerencial que propõe o entendimento e a
eliminação dos efeitos negativos das variações no processo.
Todos os processos logísticos envolvem muitas pessoas
manuseando a mercadoria, em vários elos ao longo de uma cadeia de
suprimento, gerando muitas oportunidades de otimização de custos,
nosso objetivo é tentar nominar todas estas oportunidades pela ótica da
logística enxuta.

Apesar do custo de transporte ser o maior componente de custo


logístico, o custo que vem crescendo consistentemente acima da média,
em relação aos demais custos logísticos, nos últimos três anos, é o
custo de armazenagem em função das necessidades de atendimento ao
cliente e ao alto custo financeiro, segundo o 18th Annual State Logistic
Report. Este movimento pode ser obviamente visualizado na abaixo.

70%

65%

60%

55%

50%

45%

Carrying Costs
Transportation
40%

35%

30%
1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Evolução do custo Logístico nos EUA, segregando a participação do


transporte e armazenagem
Fonte: Annual State Logistics Report Histórico adaptado pelo autor

Porque precisamos ter Estoque?


Antes de fundamentarmos como se podem otimizar as perdas em
função dos altos níveis de estoque, tem-se que entender porque temos
estoques.
Proteção contra incertezas - Novaes (2007) cita como um dos
fatores para a geração de estoques a incerteza e ou descontinuidade
entre o ritmo de produção e de demanda.
Quando abordamos incertezas, temos que contemplar variáveis
do tipo:
• Fornecedores não confiáveis;
• Altas variabilidades no transporte;
• Alta incerteza na SC (Pires, 2004 p.133)
• Pobre manutenção preventiva;
• Oscilações na demanda;
• Efeito Forrester (Pires, 2004 p. 136);
• Alta de visibilidade na cadeia de suprimentos;
• Lotes econômicos de Compra (LEC)
• Outros.

As principais razões que nos levam a manter estoque estão


centradas principalmente na necessidade de um bom nível de Serviço ao
Cliente, dentre estas se pode citar:
• Melhorar o Serviço ao Cliente: os estoques ajudam a
minimizar o impacto das incertezas da demanda do mercado;
• Redução de Custos: dependendo da situação o estoque
pode indiretamente ajudar a reduzir custos operacionais locais em
outras atividades, entretanto é importante citarmos esta redução de
custos, pode ser somente aparente, logo aqui tem-se um ponto
importante de análise;

De outro lado, quais as razões contra os estoques:


- Primeiro que os estoques podem ser considerados
como desperdícios do processo, pois absorvem capital que poderia estar
sendo utilizado em outra parte da empresa;
- Também podem ajudar a mascarar problemas de
qualidade;
- Podem, ainda tornar os elos da cadeia de suprimentos
isolados, o que leva a perder-se o incentivo para tomada de decisões em
conjunto, ou seja, que considerem toda a cadeia.

O Lean prega a eliminação do armazém para eliminar perdas de


movimentação e transporte, na essência desenvolvendo fornecedores
aptos a uma atividade de abastecimento direto a linha de montagem
sem esperas no almoxarifado, isso como um reflexo da redução das
variabilidades da cadeia de suprimentos, onde, utilizando uma
ferramenta como o SIX SIGMA oferece soluções de grande valia. Na
logística, observa-se que na literatura contemporânea uma vinculação
“visceral” do LEAN com o SIX SIGMA como forma definitiva de redução
de custo ao longo da cadeia de suprimentos.

Segundo Goldsby (2005, p.5) logística se traduz em gerenciar


estoques e gerenciar estoques se trata de gerenciar variações
promovendo uma natural combinação entre o LEAN e o SIX SIGMA.

A crítica concentra-se na redução, ou eliminação de armazéns


dentro de uma cadeia de suprimentos, conclui-se, também, ter menores
estoques de segurança e principalmente determinar a empresa a focar
seus esforços em maiores níveis de serviço, reduzindo as variações
mencionadas acima, porém ampliando a visibilidade dos elos e da real
demanda feita pelo consumidor que ocorre na ponta da cadeia,
transformando-se todos os processos produtivos em puxados.

A própria embalagem na logística é normalmente fonte de perda,


tendo em vista que o consumidor não percebe a necessidade de
embalagens terciárias nem secundárias, e o varejo na loja tem que fazer
o descarte das embalagens.

Deve-se aprofundar o estudo no trade-off 4 logístico observado


no gráfico acima onde permite-se a inversa relação entre o custo de
transporte com o custo de estoques, pela interpretação dos dados
coletados pelos autores tendo como fonte o CSCMP através do Annual
State Logistic Report entende-se que para reduzir os estoques
precisamos aumentar a participação do custo de transporte, pode-se
interpretar também, como uma forma de avaliação do custo total da
operação transpondo o custo logístico, ou seja, contemplando fatores de
atendimento a cliente, ampliação do faturamento através de
disponibilidade de estoques.

Denota-se a grande oportunidade de aplicação do LEAN dentro


dos processos de armazenagem, com uma fácil aplicação das perdas de
OHNO como conseqüência da armazenagem ser em última analise uma
perda que o consumidor não esta disposto a pagar.

4
Trade-off - Troca compensatória, na sua forma básica, o resultado incorre em um aumento de custos em uma
determinada área com o intuito de obter uma grande vantagem em relação às outras.
Carlos R. Menchik – Professor Pós Graduação
ESPM e Diretor Executivo do Núcleo de Logística
do RS. cmenchik@espm.com.br

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Empresarial
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