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ISSN: 1809-2950

FISIOTERAPIA e
PESQUISA
REVISTA DE FISIOTERAPIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL

Volume 15 – número 4 Outubro – Dezembro 2008


Fisioterapia e Pesquisa Fisioterapia e Pesquisa
em continuação a Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo. Revista do Curso de Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e
Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo -
Fofito/FMUSP
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Reitora SECRETARIA
Profa. Dra. Suely Vilela Sampaio Patrícia Pereira Alfredo
Vice-Reitor
INDEXAÇÃO E NORMALIZAÇÃO BIBLIOGÁFICA
Prof. Dr. Franco Maria Lajolo
Serviço de Biblioteca e Documentação da FMUSP
Faculdade de Medicina e-mail: sbd@biblioteca.fm.usp.br

Diretor EDIÇÃO DE TEXTO, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Prof. Dr. Marcos Boulos Tina Amado, Alba A. G. Cerdeira Rodrigues e Daniel Carvalho
Pixeletra ME
Depto. Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional IMPRESSÃO
Chefe Gráfica UNINOVE
Profa. Dra. Claudia Regina Furquim de Andrade
Tiragem: 800 exemplares
Curso de Fisioterapia
Coordenadora
Profa. Dra. Silvia Maria Amado João

FISIOTERAPIA E PESQUISA
Curso de Fisioterapia
Fofito/FM/USP
R. Cipotânea 51 Cidade Universitária
05360-160 São Paulo SP
e-mail: revfisio@edu.usp.br
Fisioterapia e Pesquisa v.15, n.4, out./dez. 2008 http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php
Telefone: 55 xx 11 3091 8416
Fisioterapia e Pesquisa / (publicação do Curso de Fisioterapia
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) INSTITUIÇÕES COLABORADORAS
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS
v.1, n.1 (1994). – São Paulo, 2005.
v. : il.
Continuação a partir de v.12, n.1, 2005 de Revista de
Fisioterapia da Universidade de São Paulo.
Semestral: 1994-2004
Quadrimestral: a partir do v.12, n.1, 2005
Trimestral: a partir do v.15, n.1, 2008 ASSOCIAÇÃO DE FACULDADE DE MEDICINA
FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL DE RIBEIRÃO PRETO / USP
Sumários em português e inglês
ISSN 1809-2950 APOIO

1. FISIOTERAPIA/periódicos I. Curso de Fisioterapia da Faculdade


de Medicina da Universidade de São Paulo

Filiada à

FACULDADE DE MEDICINA
DA UNIVERSIDADE
DE SÃO PAULO
ISSN: 1809-2950

FISIOTERAPIA e
PESQUISA
REVISTA DO CURSO DE FISIOTERAPIA DA FACULDADE
DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO


BRASIL

Volume 15 – número 4 Outubro – Dezembro 2008


Fisioter Pesq. 2008;15(4) 321
Fisioterapia e Pesquisa
Publicação trimestral do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP
Fisioterapia e Pesquisa visa disseminar conhecimento científico rigoroso de modo a subsidiar
tanto a docência e pesquisa na área quanto a fisioterapia clínica. Publica, além de artigos de
pesquisa originais, revisões de literatura, relatos de caso/s, bem como cartas ao Editor.
indexada em: LILACS – Latin American and Caribbean Health Sciences; LATINDEX –
Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Cientifícas de Américas; CINAHL
– Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature; e SportDiscus.
EDITORAS-CHEFES EDITORES ESPECIALISTAS
Amélia Pasqual Marques Celso R. Fernandes de Carvalho – Fofito / FMUSP
Fofito / FMUSP – Depto. Fisioterapia,
Isabel de Camargo Neves Sacco – Fofito / FMUSP
Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional,
Faculdade de Medicina / USP Jefferson Rosa Cardoso – Depto. Fisioterapia / Univ. Estadual de Londrina
Débora Bevilaqua Grossi Raquel Simoni Pires – Laboratório de Neurociências / Univ. Cidade de São
Paulo
RAL/ FMRP/USP Depto. Biomecânica,
Medicina e Reabilitação do Aparelho Rosângela Corrêa Dias – EEFFTO – Escola Educ. Física, Fisioterapia e Terapia
Locomotor, Faculdade de Medicina de Ocupacional / Univ. Federal de Minas Gerais
Ribeirão Preto / USP Silvia Maria Amado João – Fofito / FMUSP
CORPO EDITORIAL
Anamaria Siriani de Oliveira RAL, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / USP Ribeirão Preto SP Brasil
Depto. Engenharia Telecomunicações e Controle Escola
Andre Fabio Kohn São Paulo SP Brasil
Politécnica / USP
Anke Bergmann Curso de Fisioterapia / Centro Univ. Augusto Motta Rio de Janeiro RJ Brasil
Antonio Fernando Brunetto Depto. Fisioterapia / Univ. Estadual de Londrina Londrina PR Brasil
Armèle Dornelas de Andrade Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de Pernambuco Recife PE Brasil
Barbara M. Quaney Medical Center / University of Kansas Kansas City KA EUA
Clarice Tanaka Fofito / Faculdade de Medicina / USP São Paulo SP Brasil
Cláudia R. Furquim de Andrade Fofito / Faculdade de Medicina / USP São Paulo SP Brasil
School of Allied Health and Life Sciences / New York
Chukuka S. Enwemeka Nova Iorque NY EUA
Institute of Technology
École de Réadaptation et GRIS, Faculté de Médecine / Univ.
Debbie Feldman Montréal QC Canadá
de Montréal
Dirceu Costa Faculdade Ciências da Saúde/ Univ. Metodista de Piracicaba Piracicaba SP Brasil
Fátima A. Caromano Fofito / Faculdade de Medicina / USP São Paulo SP Brasil
Fay B. Horak Neurological Science Institute/ Oregon Health & Science Univ. Portland OR EUA
Laboratoire d’Automatique, de Méchanique et d’Informatique,
Franck Barbier Industrielles et Humaines / Univ. de Valenciennes Le Mont Houy França
Gil Lúcio Almeida Depto. Fisioterapia / Univ. de Ribeirão Preto Ribeirão Preto SP Brasil
Helenice Jane C. Gil Coury Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de São Carlos São Carlos SP Brasil
Jan Magnus Bjordal Dept. Public Health and Primary Health Care / Univ. of Bergen Bergen HD Noruega
João Carlos Ferrari Corrêa Depto. Ciências da Saúde / Univ. Nove de Julho São Paulo SP Brasil
Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela EEFFTO / Univ. Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Brasil
Marcelo Bigal Dept. of Neurology, Albert Einstein College of Medicine Bronx NY EUA
Marco Aurélio Vaz Escola de Educação Física / Univ. Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Brasil
Marcos Duarte Escola de Educação Fisica e Esportes / USP São Paulo SP Brasil
Maria Ignêz Zanetti Feltrim Instituto do Coração, Faculdade de Medicina/ USP São Paulo SP Brasil
Mariano Rocabado Facultad de Odontología / Univ. Andres Bello Santiago RMS Chile
Raquel A. Casarotto Fofito / Faculdade de Medicina / USP São Paulo SP Brasil
Ricardo Oliveira Guerra Depto. Fisioterapia / Univ. Federal Rio Grande do Norte Natal RN Brasil
Rinaldo R. J. Guirro RAL / Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / USP Ribeirão Preto SP Brasil
Sérgio Teixeira da Fonseca EEFFTO / Univ. Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Brasil
Simone Dal Corso Depto. Ciências da Saúde / Univ. Nove de Julho São Paulo SP Brasil
Tânia de Fátima Salvini Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de São Carlos São Carlos SP Brasil
Vera Lúcia Israel Curso Fisioterapia / Univ. Federal do Paraná – Litoral Matinhos PR Brasil

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SUMÁRIO
CONTENTS
Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 325
Editorial
PESQUISA ORIGINAL
ORIGINAL RESEARCH
Fatores associados à qualidade de vida em idosos com osteoartrite de joelho . . . . . . . . . . . . . . . . 326
Factors associated to quality of life among elderly with knee osteoarthritis
Tiago da Silva Alexandre, Renata Cereda Cordeiro, Luiz Roberto Ramos
Perfil da fisioterapia na reabilitação cardiovascular no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333
A profile of physical therapy in cardiovascular rehabilitation in Brazil
Vanessa Mair, Darlene Yuri Yoshimori, Gerson Cipriano Jr., Shamyr Sulyvan de Castro,
Renato Avino, Enio Buffolo, João Nelson R. Branco
Estudo comparativo preliminar entre os alongamentos proprioceptivo e estático
passivo em pacientes com seqüelas de hanseníase. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 339
Preliminary comparative study between proprioceptive and passive static stretching in patients
with leprosy sequelae
Augusto Floricel Diaz, Fabio Luiz Moro, Jussara Machado Binotto,
Andersom Ricardo Fréz
Percepção de servidores municipais frente ao diagnóstico de distúrbio osteomuscular
relacionado ao trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 345
Public officers’ perceptions of work-related musculoskeletal disorder diagnosis
Mirna Albuquerque Frota, Marcelo de Carvalho Filgueiras
Incapacidade funcional associada à lombalgia em cuidadores de crianças com paralisia
cerebral grave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 349
Functional disability associated to low-back pain in caregivers of children with severe cerebral palsy
Angélica Campos Maia, Camila Bruno Fialho, Marcus Alessandro de Alcântara,
Rosane L. de Souza Morais
Nifedipina promove diminuição da qualidade óssea em ratas com osteopenia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355
Nifedipine decreases bone quality in female rats with osteopenia
Dernival Bertoncello, Andrezza Ferreira da Silva, Juliana A. de Souza Borges
Atendimento de puérperas pela fisioterapia em uma maternidade pública humanizada . . . . . . . . . 361
Postpartum women assisted by physical therapy at a humanized public maternity house
Mariana Tirolli Rett, Nicole de Oliveira Bernardes, Aline Maria dos Santos,
Marcela Ribeiro de Oliveira, Simony Cristina de Andrade
Influência do posicionamento de membros superiores sobre os efeitos do treinamento
muscular inspiratório de curta duração e alta intensidade em indivíduos jovens sadios . . . . . . . 367
Influence of arm positioning on the effects of a short-term high intensity inspiratory muscle training
protocol in healthy young subjects
Vinícius Cavalheri, Carlos Augusto Camillo, Fábio Pitta, Luiz Antonio Alves,
Vanessa Suziane Probst, Antonio Fernando Brunetto

Fisioter Pesq. 2008;15(4) 323


Efeito da realização simultânea de tarefas cognitivas e motoras no desempenho
funcional de idosos da comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 374
Dual task effects on functional performance in community-dwelling elderly
Juliana M. Machado Barbosa, Brenda de Sá S. Prates, Camila Ferreira Gonçalves,
Alexandre Roberto Aquino, Adriana Netto Parentoni
Estudo comparativo entre exercícios com dinamômetro isocinético e bola
terapêutica na lombalgia crônica de origem mecânica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 380
Comparison between isokinetic dynamometer and therapeutic ball exercises in chronic low-back pain
of mechanical origin
Cíntia Domingues de Freitas, Júlia M. D’Andrea Greve
Avaliação da flexibilidade muscular entre meninos e meninas de 7 e 8 anos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 387
Muscle flexibility assessment among boys and girls aged 7 and 8 years old
Patrícia Jundi Penha, Sílvia M. Amado João
Sinais e sintomas da disfunção temporomandibular nas diferentes regiões brasileiras . . . . . . . . . 392
Signs and symptoms of temporomandibular disorders across Brazilian regions
Anamaria Siriani de Oliveira, Débora Bevilaqua-Grossi, Elton Matias Dias
RELATO DE CASOS
CASE REPORT
Efeitos de um protocolo de reeducação sensorial da mão: estudo de caso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397
Effects of a hand sensory reeducation program: case report
Raquel Metzker Mendes, Amanda Carla Arnaut, Rafael Inácio Barbosa,
Valeria M. Carril Elui, Marisa de Cássia R. Fonseca
REVISÃO
REVIEW
Bioética e pesquisa na Fisioterapia: aproximação e vínculos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 402
Bioethics and research in physical therapy: approximation and bonds
Ana Fátima V. Badaró, Dirce Guilhem
Exercícios terapêuticos nas desordens temporomandibulares: uma revisão de literatura . . . . . . . 408
Therapeutic exercises in temporomandibular disorders: a literature review
Sâmia Amire Maluf, Bruno G. Dias Moreno, Patrícia Pereira Alfredo,
Amélia Pasqual Marques, Graziela Rodrigues
Agradecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416
Instruções para os autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 418
Ficha de assinatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 420

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EDITORIAL
EDITORIAL
A ABRAPG-Ft – Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia – é o resultado do
crescimento da área de Fisioterapia. Esta, recente, só nos últimos anos vem crescendo, o que se expressa nos
números de fisioterapeutas com mestrado e doutorado, de publicações e de programas de pós-graduação
stricto sensu. Nasceu daí a necessidade de criação de uma associação para servir de elo entre os acadêmicos
e de alavanca para o crescimento da área.
Fundada em 2005 durante o I Fórum Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia, realizado em
São Carlos SP, por iniciativa de pesquisadores, grupos de pesquisa e programas de pós-graduação, a ABRAPG-
Ft tem as seguintes finalidades:
• Promover estudos e discussões para subsidiar as Instituições nas ações voltadas para o desenvolvimento
cientifico e da pós-graduação;
• Promover eventos científicos para a divulgação da pesquisa e da pós-graduação;
• Representar pesquisadores e programas de pós-graduação perante instituições nacionais e estrangeiras, em
assuntos relativos à pesquisa e a pós-graduação;
• Propor sugestões à formulação e execução de políticas para o desenvolvimento científico;
• Apoiar a Revista Brasileira de Fisioterapia e outros periódicos que possam fortalecer a pesquisa e a pós-
graduação;
• Colaborar com o Coffito, Crefitos e associações;
• Estimular a cooperação entre os programas de pós-graduação;
• Subsidiar as representações da área junto aos órgãos e agências de fomento.
Durante o IV Fórum Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia, realizado em São Paulo em
junho de 2008, foi eleita a nova diretoria da ABRAPG-Ft para o período 2008-2010, que ficou assim constituída:
• Presidenta: Arméle Dornelas de Andrade (UFPE)
• Vice-presidenta: Raquel Rodrigues Britto (UFMG)
• Secretário: João Carlos Ferrari (Uninove, SP); suplente: Aparecida Catai (UFSCar)
• Coordenadora científica: Amélia Pasqual Marques (USP); suplente: Ricardo Guerra (UFRN)
• Comissão científica: Jefferson Cardoso (UEL, PR), Luci Teixeira-Salmela (UFMG), Pedro Dall’Ago (UFRGS),
Raquel Pires (USP), Rinaldo Guirro (USP); suplentes: Ana Cláudia Sverzut (USP), Arthur Ferreira (Unisuam,
RJ), Luís Vicente Oliveira (Uninove), Mônica Perracini (Unicid), Naomi Nakagawa (Unicid, SP)
• Tesoureira: Tânia Salvini (UFSCar); suplente: Sérgio Fonseca (UFMG)
• Conselho fiscal: Erika Santangelo (Unitri, MG), Gardênia Holanda (UFRN), Maria das Graças Araújo (UFPE);
suplentes: Maria de Fátima Alcântara (UFPB), Paulo de Tarso Carvalho (Uniderp, MS), Sara Lucia Menezes
(UFRJ)
• Conselho de ética: Rosana Teodori (Unimep, SP), Rúben Negrão Filho (Unesp), Stella Maris Michaelsen
(Udesc, SC); suplentes: Anamaria Mayer (Udesc), Carlos Pastre (Unesp), Elaine Caldeira Guirro (Unimep).
Para que a ABRAPG-Ft constitua espaço para a efetiva consolidação da pesquisa e da pós-graduação em
Fisioterapia, é necessária a adesão de todos. Todos têm papel importante nesse desafio: associe-se, mantenha
em dia o pagamento da anuidade, participe efetivamente, envie sugestões. Aqueles que ocupam cargos
administrativos que possam contribuir para os objetivos propostos juntem-se a nós, para construirmos um
lugar de destaque da Fisioterapia brasileira no cenário mundial.
Armèle Dornelas de Andrade

Presidenta da ABRAPG-Ft
Raquel Rodrigues Britto
Vice-presidenta da ABRAPG-Ft

Fisioter Pesq.
Fisioter
2008;15(4)
Pesq. 2008;15(4) 325
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.326-32, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Fatores associados à qualidade de vida em idosos com osteoartrite de joelho


Factors associated to quality of life among elderly with knee osteoarthritis
Tiago da Silva Alexandre1, Renata Cereda Cordeiro2, Luiz Roberto Ramos3

Estudo desenvolvido no Depto. RESUMO: O estudo visou investigar se a qualidade de vida (QV) de idosos com
de Medicina Preventiva da osteoartrite (OA) de joelho pode ser influenciada por fatores sociodemográficos e/
EPM/Unifesp – Escola Paulista ou por parâmetros clínicos e funcionais gerados pela doença. A uma amostra de
de Medicina da Universidade 40 idosos atendidos em ambulatório de reabilitação gerontológica na cidade de
Federal de São Paulo, São São Paulo foi aplicado o questionário de QV 36-Item Short-Form Survey (SF-36). A
Paulo, SP, Brasil funcionalidade, a rigidez articular e a dor foram medidas pelo Womac – Western
1 Ontario and MacMaster Universities Osteoarthritis Index; os dados
Fisioterapeuta;Prof. Ms. do sociodemográficos, as variáveis clínicas e o uso de recursos físicos e
Depto. de Fisioterapia da
Universidade de Taubaté, SP, medicamentosos para controle da dor foram obtidos por questionário complementar.
Brasil A análise de regressão linear mostrou relação independente entre o domínio
funcionalidade do Womac e seis domínios do SF-36 (p<0,05). São determinantes
2
Fisioterapeuta Ms.; de pior QV na amostra estudada a dificuldade na realização de atividades funcionais,
Coordenadora geral do setor de usar dispositivo de auxílio à marcha, apresentar comprometimento articular bilateral,
Reabilitação Gerontológica do o recurso a diversos meios para alívio da dor, bem como a baixa escolaridade e o
Lar Escola São Francisco, fato de morar com outro de sua geração (r=0,3; p<0,05). As atividades funcionais
vinculado à EPM/Unifesp mais comprometidas foram as que envolvem a flexo-extensão de joelho e descarga
3
de peso na articulação afetada. Fatores tanto sociodemográficos como clínicos e
Médico; Prof. Dr. titular do funcionais gerados pela OA influenciaram negativamente a QV de idosos com OA
Depto. de Medicina Preventiva de joelho.
da EPM/Unifesp
DESCRITORES: Idoso; Osteoartrite do joelho; Qualidade de vida
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA ABSTRACT: This study inquired whether quality of life (QoL) among elderly patients
with knee osteoarthritis (OA) may be influenced by sociodemographic and/or clinic
Tiago da Silva Alexandre and functional factors. A sample of 40 elderly outpatients from a gerontological
R. José Gonçalves 73 Parque rehabilitation service in Sao Paulo answered the Brazilian version of the 36-Item
Industrial Short Form Survey (SF-36). Functionality, joint stiffness and pain were assessed by
12237-710 São José dos the Womac – Western Ontario and MacMaster Universities Osteoarthritis Index.
Campos SP Further data on sociodemographic and clinical features, including pain-relieving
e-mail: tsfisioalex@gmail.com strategies, were obtained by a complementary questionnaire. By means of linear
regression analysis, an independent relationship was found between the Womac
functionality domain and six SF-36 domains (p<0.05). In the studied sample, poor
QoL was found to be correlated to difficulty in functional activities, using a gait
assistive device, to present bilateral knee impairment, to resort to several means to
relieve pain, as well being illiterate and living with another elderly (r=0.3; p<0.05).
The most impaired functional activities were those that involve knee flexion and
APRESENTAÇÃO extension, and weight support on the affected limb. Both sociodemographic and
jan. 2008 clinical, functional factors generated by OA negatively influenced QoL of elderly
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO patients with knee OA.
nov. 2008 KEY WORDS: Aged; Osteoarthritis, knee; Quality of life

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2008;15(4)
Alexandre et al. QV em idosos com osteoartrite

INTRODUÇÃO social são consideradas condições ex-


ternas7.
de deficiência cognitiva. Todos os sujei-
tos assinaram um Termo de Consen-
O processo de transição epidemio- timento Livre e Esclarecido; o estudo foi
O bem-estar pode ser influenciado
lógica que vem ocorrendo nos últimos aprovado pelo Comitê de Ética da Uni-
por dor ou sofrimento físico e psicológico.
anos em países desenvolvidos e em de- versidade.
Pessoas com dor crônica usam basicamente
senvolvimento transformou o paradigma duas estratégias de enfrentamento: a Para avaliar a qualidade de vida, dor,
de saúde, fazendo com que, hoje, doen- “reação passiva” ou o “pensamento rigidez articular e atividades funcionais,
ças crônicas e degenerativas como a tranqüilizador”. O primeiro comporta- foram aplicados questionários sob a
osteoartrite (OA) – que afeta freqüente- mento pode ser considerado como forma de entrevista na sala de espera do
mente a população idosa – assumam negativo, resultando talvez em maior centro de reabilitação e do ambulatório,
papel de destaque. A capacidade funcio- utilização de serviços de saúde. Já o na ausência de qualquer outra pessoa a
nal (CF), por ser afetada diretamente por segundo pode ser considerado como não ser o entrevistador e o idoso, en-
essa doença, tornou-se um importante positivo, pois esses indivíduos acreditam quanto os idosos aguardavam seu
meio de avaliar a autonomia e a inde- que sua condição clínica e funcional atendimento regular.
pendência do idoso1. poderia ser pior8.
Para a avaliação da QV foi utilizada
A OA é uma doença articular crôni- Sabe-se que em doenças crônicas e a versão brasileira do questionário
ca, caracterizada por dor e limitações degenerativas o maior desafio terapêu- genérico SF-36 – Medical Outcomes
funcionais; é a mais comum queixa tico é a mudança de comportamento Study 36-item Short-Form Health Survey.
musculoesquelética no mundo hoje2. A frente à deficiência; e que a dor crônica, Esse instrumento foi recomendado pela
prevalência de OA de joelho em idosos a incapacidade e a maneira como a Liga Internacional de Associações de
é de 12,2%, sendo a idade avançada, a pessoa enfrenta os problemas podem Reumatologia e pela Sociedade de
obesidade, a sobrecarga mecânica afetar negativamente a QV 8 . Dessa Pesquisas em OA como o mais adequado
articular e a fraqueza muscular os forma, o objetivo do presente estudo foi instrumento de avaliação genérica de
principais fatores de risco para seu investigar se a QV de idosos com OA de saúde para o acompanhamento de
desenvolvimento3. A dor ao subir e des- joelho pode ser influenciada por dados populações com OA de joelho, além de
cer escadas e ao deambular, associada sociodemográficos e/ou por parâmetros ter se mostrado um instrumento ade-
à rigidez matinal, são as principais clínicos e funcionais gerados pela quado para a população idosa10,11. Os
queixas com repercussões no estilo de doença. itens são agrupados em oito domínios
vida e nas características psicossociais cujo escore varia de 0 a 100 e, quanto
desses pacientes 3 . Embora muitas mais alta a pontuação total, melhor a
pesquisas focalizem a dor e a incapaci- METODOLOGIA qualidade de vida.
dade física, há um crescente interesse
em mensurar o impacto dessa doença Este é um estudo transversal analítico, Para avaliar dor, rigidez articular e
na qualidade de vida (QV), principal- com amostra de conveniência cons- funcionalidade foi utilizado o questio-
mente na população idosa4. tituída por 40 idosos, de ambos os sexos, nário específico para OA Womac –
atendidos no centro de reabilitação e no Western Ontario and MacMaster
A QV refere-se à “percepção do Ambulatório de Doenças Osteoar- Universities Osteoarthritis Index 12,
indivíduo sobre sua posição na vida, ticulares ligados à disciplina de Geriatria também em sua versão brasileira13. Este
dentro do contexto de cultura e sistema da EPM/Unifesp – Escola Paulista de registra a percepção de dor, rigidez
de valores nos quais vive, e em relação Medicina da Universidade Federal de articular e funcionalidade com base nas
às suas metas, expectativas e padrões São Paulo. Foram incluídos idosos com 48 horas que antecedem sua aplicação;
sociais” 5 . Trata-se de um conceito OA de joelho, uni ou bilateral, con- a pontuação, em escala tipo Likert, varia
multidimensional, com componentes firmada clínica e radiologicamente por de 0 a 4 e, quanto mais elevado o escore,
objetivos e subjetivos que podem se um médico, de acordo com os critérios pior a dor, a rigidez articular e a funcio-
inter-relacionar, variando de acordo com do American College of Rheumatology9, nalidade.
o tempo, a idade, o gênero, a raça, a excluída a presença de outra patologia
A percepção de dor, referente às
cultura, a presença de doenças, o estado de ordem reumatológica; foram incluí-
últimas 24 horas, também foi avaliada
financeiro e a relação com a sociedade6. dos aqueles com deambulação inde-
por uma escala visual analógica (EVA)
Assim, a QV refere-se a quatro domínios: pendente, com ou sem dispositivo de
em três situações: durante o movimen-
ambiente, capacidade comportamental auxílio à marcha, e dor em um ou ambos
to, à noite e em repouso; medida em cm
(incluindo saúde), percepção da QV, e os joelhos com freqüência constante ou
de 0 a 10, escores elevados indicam dor
bem-estar psicológico (incluindo satis- intermitente nos últimos seis meses.
mais intensa.
fação com a vida). Condições intra e Foram critérios de exclusão: cirurgia
extra-pessoais a influenciam: saúde, prévia de joelho devido à OA; artro- Dados sociodemográficos e clínicos
capacidade funcional e mecanismos de plastia de quadril ou joelho; locomoção como sexo, estado civil, estrutura fa-
auto-aceitação são consideradas con- exclusiva por cadeira de rodas; seqüelas miliar, escolaridade, situação previ-
dições internas, enquanto ambiente, tra- de acidente vascular encefálico; doença denciária e ocupacional, condição de
balho, condição de moradia e suporte de Parkinson, Alzheimer ou outros tipos moradia, renda pessoal, uso de medica-

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :326-32 327


mentos, tempo de dor, fatores que me- números 0 e 1 (dummy-variables) para O tempo em anos de dor relatada no
lhoram a dor e co-morbidades foram participarem do modelo estatístico. O joelho foi de 8,5±6,9 anos. Para reduzir
obtidos por meio de um questionário nível de significância para todos os testes a dor, 15% dos idosos usavam calor,
estruturado pelo pesquisador. As co- foi fixado em 0,05. 20% gelo, 20% repouso e 62,5%,
morbidades foram relatadas pelos analgésicos. O comprometimento da OA
idosos, exceto depressão, que foi era bilateral em 52,5% dos sujeitos.
confirmada por diagnóstico médico RESULTADOS Recorriam a dispositivo de auxílio à
registrado no prontuário do paciente, da- marcha 25% dos participantes.
da sua importância e interferência na QV. A amostra constituiu-se praticamen-
te só de mulheres (97,5%, apenas um O questionário Womac evidenciou
Foi realizada análise descritiva sim- homem), com idade média de 73 e maior ocorrência de dor ao subir e
ples, envolvendo medidas de tendência desvio padrão (DP) de seis anos, sendo descer escadas (87,5%), ao ficar em pé
central e dispersão. Para testar a associa- a idade mínima encontrada 60 anos e a (85%), ao caminhar em superfície plana
ção entre a pontuação nos domínios do máxima 88 anos, sem vida conjugal (77,5%) e ao sentar e deitar (75%); maior
SF-36 e as variáveis sociodemográficas, (65%). Em relação à escolaridade, ocorrência de rigidez após acordar de
clínicas, os escores nos três domínios do 57,5% tinham de um a quatro anos de manhã (80%) e após sentar-se, deitar-se
Womac, de dor nas três EVAs e os demais estudo. Quanto à estrutura familiar, ou descansar (72,5%); maior dificuldade
dados clínicos obtidos, foram usados: o 57,5% residiam com família multi- em entrar e sair do carro (97,5%), ao
coeficiente de correlação de Pearson geracional e em casa própria. realizar tarefas domésticas pesadas
(correlações presentes, positivas ou ne- (92,5%), ao descer escadas (87,5%), ao
gativas, foram consideradas fracas se O número médio de co-morbidades curvar-se para tocar o chão (87,5%) e
=0,3|r|<0,5; moderadas, se =0,5|r|<0,7; foi de 6,88, com DP de 2,6. A hiperten- ao subir escadas (82,5%).
e fortes, se ¦r¦=0,7); o teste t para são arterial sistêmica estava presente em
amostras não-relacionadas; e a análise 65% da amostra, seguida por Devido à distribuição heterogênea, as
de variância (Anova). Em seguida, dislipidemia (30%), osteoporose, variáveis sexo, situação previdenciária
conduziu-se análise de regressão linear quedas, obesidade e fibromialgia e renda pessoal não foram incluídas nos
múltipla, onde as variáveis estrutura (22,5%). O número médio de medica- testes preliminares de correlação com os
familiar e escolaridade foram divididas mentos utilizados pelos idosos era domínios do SF-36. As médias de
em subgrupos identificados pelos 4,2±2,0. pontuação obtidas no SF-36 em função

Tabela 1 Qualidade de vida (pontuação média nos domínios do SF-36) em função das variáveis sociodemográficas
Média de pontuação nos domínios do SF-36
Variável Categoria
CF AF Dor EGS V AS AE SM
Masculino n=1 40,0 100 41,0 97,0 85,0 100,0 100,0 92,0
Sexo
Feminino n=39 42,9 39,4 46,0 62,5 54,1 64,4 67,5 59,5
Com vida conjugal n=14 39,6 41,1 44,9 64,1 50,0 63,4 61,9 57,7
Estado civil
Sem vida conjugal n=26 44,6 41,3 46,4 62,9 57,5 66,3 71,8 61,7
Vive só n=10 51,5 45,0 55,2* 74,5 60,5 70,0 70,0 68,4
Estrutura
Com outro de sua geração n=7 41,9 21,9 27,4* 64,4 46,3 43,8 58,3 52,0
familiar
Em família multigeracional n=23 39,3 46,6 48,4* 57,9 55,5 71,0 71,2 59,6
Analfabeto n=4 27,5 0,0 23,3* 49,8 56,3 31,3 25,0 28,0*
Escolaridade 1 a 4 anos n=23 44,8 44,6 52,0* 63,0 56,7 72,8 72,5 64,0*
5 e + anos n=13 44,2 48,1 42,0* 68,1 51,2 62,5 74,4 63,7*
Aposentado n=26 45,6 45,2 46,5 63,9 56,2 67,3 64,1 60,2
Situação
Pensionista n=10 35,5 27,5 40,0 62,6 54,0 58,8 73,3 60,0
previdenciária
Outros n=4 43,8 50,0 56,5 61,5 48,8 68,8 83,3 62,0
Situação Aposentado ou trabalha n=8 38,8 62,5 46,8 64,0 51,3 76,6 83,3 63,0
ocupacional Dona de casa n=32 43,9 35,9 45,7 63,2 55,8 62,5 64,6 59,6
Condição de Moradia própria n=23 42,2 43,5 44,6 62 52,6 57,6 65,2 54,3*
moradia Alugada ou cedida n=17 43,8 38,2 47,6 65,1 57,9 75,7 72,5 68,5*
Sem renda n=5 49,0 40,0 47,6 64,6 42,0 57,5 66,7 60,0
Renda pessoal 1 a 3 salários mínimos n=31 41,6 35,5 46,3 62 55,3 65,3 64,5 60,8
4 a 6 salários mínimos n=4 45,0 87,5 40,8 72,0 67,5 75,0 100,0 57,0
Média 42,9 41,3 45,9 63,3 54,9 65,3 68,3 60,3
DP 23,1 42,9 20,7 23,8 19,3 33,2 41,3 21,8
CF = capacidade funcional; AF = aspecto físico; EGS = estado geral de saúde; V = vitalidade; AS = aspectos sociais; AE = aspecto emocional;
SM = saúde mental; DP = desvio padrão; * p=0,05

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2008;15(4)
Alexandre et al. QV em idosos com osteoartrite

das variáveis sociodemográficas e entre o maior uso de medicamentos e a Foi encontrada correlação entre a
clínicas estão dispostas nas Tabelas 1, 2 pior pontuação no domínio dor do SF- estrutura familiar e o domínio dor do SF-
e 3. 36; entre os escores na EVA de dor à 36: os que moravam sozinhos tiveram
noite e do domínio EGS do SF-36, bem menor pontuação nesse domínio
A análise preliminar mostrou cor-
como na EVA de dor ao repouso e do do- quando comparados aos que vivem em
relações negativas (de moderadas a
mínio aspecto emocional (AE) do SF-36. família multigeracional ou com outro de
fortes) entre o domínio funcionalidade
sua geração. A escolaridade e a condi-
do Womac e os domínios capacidade Usar dispositivo de auxílio à marcha
ção de moradia apresentaram correlação
funcional (CF), aspecto físico (AF), dor, correlacionou-se com mais baixos
com pior escore no domínio SM, sendo
estado geral de saúde (EGS), aspectos escores nos domínios CF, AF e dor do
os idosos analfabetos e moradores em
sociais (AS) e saúde mental (SM) do SF- SF-36 (Tabela 2). Ter comprometimento
casa própria aqueles com pior pontua-
36 (Tabela 3) ou seja, quanto maior o bilateral dos joelhos e usar gelo para
ção nesse domínio.
escore no domínio funcionalidade do diminuir a dor e apresentaram correla-
Womac, mais negativa a percepção da ção com a percepção de menor vitali- A análise de regressão linear múltipla
interferência desses domínios do SF-36 dade; e usar calor para aliviar a dor, com permite supor uma relação de causa-
na qualidade de vida. Também foram menor pontuação no domínio AE do SF- efeito entre duas variáveis, de tal forma
encontradas correlações moderadas 36. que uma variável pode ser predita a
Tabela 2 Qualidade de vida (pontuação média nos domínios do SF-36) em função das variáveis clínicas
Média de pontuação nos domínios do SF-36
Variável Categoria
CF AF Dor EGS V AS AE SM
Sim n=8 49,4 50,0 56,3 76,8 56,3 73,4 79,2 68,0
Repousa para reduzir a dor
Não n=32 41,3 39,1 43,3 60 54,5 63,3 65,6 58,4
Usa medicação para Sim n=25 40,4 42,0 43,4 59,8 52,4 63,0 73,3 58,4
reduzir a dor Não n=15 47,0 40,0 49,9 69,2 59,0 69,1 60,0 63,5
Sim n=8 32,5 21,9 39,1 62,8 38,1* 50,0 45,8 54,0
Usa gelo para reduzir a dor
Não n=32 45,5 46,1 47,6 63,5 59,1* 69,1 74,0 61,9
Sim n=6 30,0 16,7 39,8 52,2 45,0 41,7 22,2* 46,0
Usa calor para reduzir a dor
Não n=34 45,1 45,6 46,9 65,3 56,6 69,5 76,5* 62,8
Usa dispositivo de auxílio à Sim n=10 25,0* 12,5* 28,9* 55,4 49,0 46,3* 36,7* 52,8
marcha Não n=30 48,8* 50,8* 51,5* 66,0 56,8 71,7* 78,9* 62,8
Comprometimento em Unilateral n=19 53,2* 46,1 54,7* 68,2 62,1* 76,3* 71,9 68,2*
membros inferiores Bilateral n=21 33,6* 36,9 37,9* 59,0 48,3* 55,3* 65,0 53,1*
Sim n=7 43,6 35,7 41,6 57,6 47,9 53,6 52,3 49,1
Depressão
Não n=33 42,7 42,4 46,8 64,5 56,4 67,8 71,7 62,6
Média 42,9 41,3 45,9 63,3 54,9 65,3 68,3 60,3
DP 23,1 42,9 20,7 23,8 19,3 33,2 41,3 21,8
CF = capacidade funcional; AF = aspecto físico; EGS = estado geral de saúde; V = vitalidade; AS = aspectos sociais; AE = aspecto emocional;
SM = saúde mental; DP = desvio padrão; * p=0,05

Tabela 3 Correlação (r) entre os escores (média e desvio padrão) nos domínios do Womac, de dor, medicamentos, diagnósticos
e as médias nos domínios do SF-36
Correlação com as médias nos domínios do SF-36
Variável Média DP
CF AF Dor EGS V AS AE SM
Dor (Womac) 1,69 0,86 -0,7* -0,4† -0,6‡ -0,5† -0,2 -0,5† -0,2 -0,6‡
Rigidez articular (Womac) 1,62 1,04 -0,6‡ -0,2 -0,5† -0,4† -0,04 -0,3 -0,06 -0,5†
Funcionalidade (Womac) 1,60 0,87 -0,8* -0,5‡ -0,6‡ -0,6‡ -0,2 -0,5‡ -0,3† -0,6‡
Dor (EVA) ao movimento 5,35 0,49 -0,6‡ -0,3 -0,4† -0,4† -0,2 -0,4† -0,3 -0,4†
Dor (EVA) à noite 4,33 0,51 -0,5‡ -0,2 -0,4† -0,6‡ -0,2 -0,3† -0,2 -0,3†
Dor (EVA) ao repouso 2,97 0,50 -0,5‡ -0,3 -0,5† -0,5† -0,2 -0,5† -0,4† -0,4†
Número de medicamentos 4,18 2,01 -0,2 -0,3 -0,5† -0,3† -0,1 -0,4† 0,1 -0,3
No de hipóteses diagnósticas 6,88 2,57 0,1 -0,2 0,1 -0,1 -0,1 0,01 <0,001 0,05
Correlação: * r ≥0,7; † ≥0,3 r<0,5; ‡ ≥0,5 r< 0,7; DP = desvio padrão; CF = capacidade funcional; AF = aspecto físico; EGS = estado
geral de saúde; V = vitalidade; AS = aspectos sociais; AE = aspecto emocional; SM = saúde mental

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :326-32 329


partir de outra ou outras. No presente
estudo, supõe o quanto a QV (medida
DISCUSSÃO mobilidade, principalmente quando a
dor está exacerbada, deixando de reali-
pelo SF-36) poderia variar segundo as O fato de a amostra estudada apre- zar suas atividades sociais rotineiras,
mudanças nas demais variáveis. Essa sentar alto número de co-morbidades aumentando o risco de isolamento
estimativa é determinada pelo valor do corrobora os dados de Van Dijk e cola- social. Neste estudo, isso pôde ser obser-
coeficiente ß, que indica quanto os boradores14, segundo os quais idosos com vado pela relação entre a funcionalidade
escores de QV aumentam ou diminuem OA têm maior risco de desenvolvê-las; o avaliada pelo questionário Womac e a
de acordo com a mudança do compor- número de co-morbidades foi associado percepção da interferência dos aspectos
tamento das demais variáveis. ao pior desempenho nos domínios sociais (no SF-36) na qualidade de vida.
funcionalidade do Womac e capacidade
O aumento de um ponto no escore A dor e a dificuldade nas AVD, de-
funcional do SF-3616. Apesar de essa
do domínio funcionalidade (Womac) pendência física, restrição à mobilidade
associação não ter sido encontrada no
indica perda de 19,72 pontos no escore e à integração social geradas pelas inca-
presente estudo, neste o domínio do SF-
do domínio CF do SF-36 (p<0,001); pacidades aumentam a ansiedade, o
36 que mais interfere na qualidade de
21,12 no domínio AF (p=0,004); 11,11 desânimo e podem culminar no apa-
vida foi justamente a capacidade
no domínio dor (p<0,001); 11,4 no recimento da depressão 18. A incapa-
funcional prejudicada.
domínio EGS (p=0,004); 19,58 no cidade leva os idosos à pior percepção
domínio AS (p=0,001); e 11,65 pontos A dor, o processo inflamatório, a dege- de saúde mental, seja porque apresen-
no domínio SM (p<0,001). neração e a rigidez articular ocasionadas tam dor ou porque a dor persistente
pela doença, deficiências musculoes- desencadeou um processo depressivo.
Quanto à influência da pontuação nas queléticas presentes nos pacientes com A depressão e a ansiedade podem
EVAs de dor sobre os escores do SF-36, OA, promovem incapacidades em intensificar os efeitos da OA por
o aumento de um ponto na EVA de dor atividades funcionais relacionadas à aumentarem a dor, as limitações
à noite levaria à perda de 2,63 pontos flexo-extensão de joelho e à constante funcionais e diminuírem a adesão a tra-
no escore do domínio EGS (p=0,012); e descarga de peso na articulação, con- tamentos medicamentosos8. Parmelee e
um ponto a mais na EVA de dor ao forme observado nos relatos de dificul- colaboradores19 mostraram que, inicial-
repouso, à perda de 4,36 pontos no dade nas atividades de subir e descer mente, a relação da depressão com
domínio AE (p=0,02). O aumento no escadas, permanecer em pé e caminhar. incapacidade funcional é mediada pela
consumo de um medicamento im- Dados semelhantes foram encontrados dor; em contrapartida, a atividade e a
plicaria perda de 2,23 pontos no no estudo de Jinks e colaboradores15, no participação social são independente-
domínio dor (p=0,042). qual 25% dos idosos apresentavam dor mente associadas à depressão. Após um
ao subir e descer escadas, seguida de ano, os sintomas depressivos aumen-
Os idosos que não utilizam disposi-
12% ao permanecer em pé e 11% ao taram com o aumento dos problemas de
tivo de auxílio à marcha apresentaram
caminhar. saúde e com a redução da participação
13,98 pontos a mais no escore do
domínio CF (p=0,005); 27,78 a mais no A dificuldade na realização de social. Neste estudo, não foi encontrada
escore do domínio AF (p=0,049) e 12,7 atividades funcionais foi avaliada pelo associação entre depressão e QV, o que
a mais no escore do domínio dor. Os domínio funcionalidade do questionário pode ser explicado pela limitação da
que não utilizam gelo para diminuir a Womac. A relação negativa entre os fonte de informações referentes à de-
dor tiveram 21,38 pontos a mais no escores nesse domínio e nos domínios pressão, coletadas em prontuários com
domínio vitalidade (p=0,002), os que CF, AF, dor e EGS do SF-36 sugere que, esse diagnóstico médico, independente
não utilizam calor apresentaram 46,09 quanto maior a dificuldade do idoso em do período em que lhe fora atribuído.
pontos a mais no domínio AE (p=0,006). realizar atividades de vida diária (AVD), Em razão de critérios diagnósticos de
Aqueles com comprometimento bila- pior sua percepção em importantes depressão pouco definidos e dis-
teral de joelhos apresentaram 14,2 domínios da QV. O uso de dispositivo crepância temporal entre esse dado e a
pontos a menos no escore do domínio de auxílio à marcha reflete-se em pior avaliação da QV, assume-se a limitação
vitalidade (p=0,009). percepção da atividade física e dor na da impossibilidade de atribuir relações
avaliação da QV. Os idosos acreditam de determinação entre depressão e QV.
Quanto às variáveis sociodemográfi- que apresentar dificuldades ao realizar
cas, os analfabetos e aqueles que tinham atividades funcionais é indicativo de O maior número de medicamentos
até quatro anos de escolaridade saúde ruim e decrepitude, sendo o uso utilizados relacionou-se à percepção de
apresentam 23,86 pontos a menos no de dispositivos um indicador direto de pior interferência da dor na QV. O recur-
domínio SM do SF-36 (p=0,011) quan- incapacidade16. so a medicamentos, mesmo sem pres-
do comparados aos que têm cinco anos crição médica, é uma estratégia muito
ou mais de estudo. Os que vivem A dor e as incapacidades prejudicam usada para controlar o dor em idosos
sozinhos ou com família multigeracio- a mobilidade, resultando em desvanta- com OA20. Os idosos da amostra estu-
nal apresentam 17,02 pontos a mais no gem e piora da integração social. Maly dada não tomavam apenas medicamen-
domínio dor (p=0,002) quando compa- e Krupa17, em seu estudo qualitativo tos para a dor, mas também para
rados aos que vivem com outra pessoa sobre a experiência de idosos vivendo controlar doenças crônicas, o que nos
de sua geração. com OA, relatam que eles restringem sua leva a supor que a relação verificada não

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Alexandre et al. QV em idosos com osteoartrite

decorra do uso exclusivo de analgésicos de lidar com a dor. Idosos parecem pre- cíficos para uma doença, para uma
ou antiinflamatórios. Não houve contro- ferir morar em suas próprias casas, pois função ou para um problema. O
le dessa variável (tipo de medicação), o morar com outros é vinculado à perda Womac, embora concebido como um
que constitui uma limitação do presente de privacidade e autonomia, sendo instrumento clinimétrico, não foi
estudo, prejudicando a interpretação percebido como ameaça à integridade validado em dois dos cinco domínios de
dessa relação encontrada. pessoal22. A própria autonomia faz com sua concepção original (domínios
que utilizem estratégias comporta- emocional e social), o que limita sua
Elevada pontuação na EVA de dor à mentais para regular, tolerar ou minimi- classificação12. Por essa razão, o Womac
noite correlacionou-se com percepção zar o distresse psicológico gerado pela foi utilizado somente para avaliar a
de pior EGS, assim como elevada dor. Outra possível explicação de que percepção de dor, rigidez articular e
pontuação na EVA da dor ao repouso esses idosos que moram só apresentam funcionalidade. O impacto dessas
com pior percepção do AE. O processo melhor QV seria a presença de OA me- deficiências, incapacidades e desvanta-
inflamatório relacionado à OA muitas nos grave e, portanto, de menos dor e gens na QV foi avaliado pelo SF-36,
vezes está associado a edema articular, incapacidade. instrumento psicométrico.
rigidez matinal e dor no período notur-
no. A dor noturna e ao repouso têm Também é possível supor que usar
impacto negativo direto na qualidade do gelo ou calor, ou mais medicamentos,
para aliviar a dor seja um indicativo de
CONCLUSÃO
sono dos idosos. O fato de a insônia estar
dor mais intensa, talvez de OA mais gra- Este estudo confirma que as atividades
associada à dor implica irritabilidade,
ve, o que justificaria as relações encon- funcionais mais comprometidas nos
pior percepção da função emocional e,
tradas entre essas variáveis e a percepção idosos com OA de joelho são as que
portanto, de pior estado geral de saúde8.
de pior QV. envolvem a flexo-extensão de joelho e
Considerando o peso de fatores psico-
descarga de peso na articulação afetada.
lógicos na percepção de bem-estar geral, No presente estudo não se avaliou a
Coerentemente, a dificuldade na reali-
pode-se inferir que a presença de dor gravidade clínica e radiológica da OA,
zação de atividade física, a redução da
pode interferir negativamente na pois diversos estudos têm demonstrado
capacidade funcional foram os fatores
percepção da função emocional que a radiografia de joelho é um guia
que mais interferiram na QV na amostra
(aspecto psicológico)21. impreciso quando a dor articular e a
estudada; outros determinantes de pior
incapacidade estão presentes23. Esta é
Foi observada uma discrepância entre QV foram usar dispositivo de auxílio à
uma limitação deste estudo; futuras
os escores encontrados no domínio dor marcha, apresentar comprometimento
pesquisas devem buscar incluir o grau
do questionário Womac e nas EVAs. Isso articular bilateral, apresentar maior
de gravidade do acometimento.
pode ser explicado pois neste estudo a queixa de dor à noite e ao repouso, re-
A escolha dos instrumentos utilizados correr a maior número de medi-
EVA foi aplicada referindo-se a três
baseou-se na classificação de instrumen- camentos, a gelo e calor para aliviar a
situações (movimentação, noite e
tos de QV em genéricos e específicos. dor, bem como a baixa escolaridade e o
repouso) distintas daquelas avaliadas
Os perfis de saúde são instrumentos fato de morar com outra pessoa de sua
pelo Womac – caminhando, subindo e
genéricos (psicométricos), que buscam geração. Foi possível verificar que tanto
descendo escadas, deitado na cama,
medir os aspectos importantes da QV. fatores sociodemográficos como fatores
sentando ou deitando e ficando em pé.
Os instrumentos específicos (clinimétri- clínicos e funcionais gerados pela OA
O fato de morar sozinho/a pareceu cos) centram sua avaliação em aspectos influenciaram negativamente a QV de
estar relacionado à melhor capacidade do estado de saúde, podendo ser espe- idosos com OA de joelho.

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Perfil da fisioterapia na reabilitação cardiovascular no Brasil


A profile of physical therapy in cardiovascular rehabilitation in Brazil
Vanessa Mair1, Darlene Yuri Yoshimori1, Gerson Cipriano Jr.2,
Shamyr Sulyvan de Castro3, Renato Avino4, Enio Buffolo5, João Nelson Rodrigues Branco6

Estudo desenvolvido no Depto. RESUMO: O estudo visou conhecer o modelo de atuação da fisioterapia em reabilitação
de Cirurgia Cardiovascular da cardiovascular (RC) no Brasil, bem como o perfil profissional do fisioterapeuta que
EPM/Unifesp – Escola Paulista trabalha com RC e o perfil administrativo dos serviços de RC. Foram obtidas 67
de Medicina da Universidade respostas a um questionário disponibilizado na internet durante 2005, consistindo
Federal de São Paulo, São em 52 perguntas fechadas sobre a RC: 25 questões referentes ao modelo de atuação,
Paulo, SP, Brasil 14 aos procedimentos de avaliação, 3 ao perfil acadêmico e profissional da equipe,
1 6 à administração do serviço de RC e 4 questões abertas para sugestões. A
Fisioterapeutas; pós-graduandas intervenção fisioterápica (IF) em RC está presente em cerca de dois terços dos
na disciplina de Cirurgia
Cardiovascular da EPM/Unifesp serviços estudados; dentre os que oferecem IF em RC, 63% iniciam a reabilitação
no período pré-intervenção. O acompanhamento fisioterápico no pós-intervenção
2
Fisioterapeuta; Prof. Dr. adjunto é realizado em 71% dos serviços nas unidades de terapia intensiva e em 75% nas
da Universidade de Brasília, unidades de internação. Na fase III da RC, 65% dos serviçoc oferecem tratamento
Brasília, DF supervisionado aos pacientes. O fisioterapeuta é o principal profissional ligado à
administração do serviço e a maioria apresenta formação em nível de
3
Fisioterapeuta Ms. do Hospital especialização. O presente estudo evidencia a necessidade de outros estudos sobre
das Clínicas da Faculdade de o tema, visando a padronização dos serviços e a criação de manuais de conduta.
Medicina da Universidade de
São Paulo DESCRITORES: Doenças cardiovasculares/reabilitação; Prática profissional/estatística
& dados numéricos; Serviço hospitalar de fisioterapia
4
Fisioterapeuta especialista em
Clinica Médica ABSTRACT: This exploratory study aimed at knowing physical therapy practices in cardiac
rehabilitation (CR) services in Brazilian hospitals, as well as the professional profile
5
Médico cirurgião; Prof. Dr. and scholarly background of physical therapists who work therein, besides getting
titular do Depto. de Cirurgia information on Pt services management. A websurvey was carried out using a 52-
Cardiovascular da EPM/Unifesp item questionnaire consisting in: 25 questions on the model of action; 14 on
6 procedures performed during evaluations; 3 on scholarly and professional profiles;
Médico cirurgião; Prof. Dr.
6 on administration of the CR service, plus four open-ended questions for
adjunto do Depto.de Cirurgia
Cardiovascular da EPM/Unifesp suggestions. In about a third of the 67 respondent institutions, there is no CR physical
therapy; among those where there is one, 63% of the services begin CR in the pre-
ENDEREÇO PARA intervention period. Physical therapy monitoring in the post-intervention period is
CORRESPONDÊNCIA performed in 74% of services. In phase III of CR, 65% of patients undergo supervised
treatment. Physical therapists are the main professionals linked to the administration
Vanessa Mair in 32% of the services (n=18), and most of them have master degrees. This study
Escola Paulista de Medicina - points to the need to further studying the subject, so as to help service standardization
Cirurgia Cardiovascular and the production of guidelines for CR physical therapy.
R. Napoleão de Barros 715 3º KEY WORDS: Cardiovascular diseases/rehabilitation; Physical therapy department,
andar hospital; Professional practice/statistics & numerical data
04025-001 São Paulo SP
e-mail: darleneyuri@ig.com.br

APRESENTAÇÃO
fev. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
nov. 2008

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INTRODUÇÃO cas, tendo vasta área de atuação nas dife-
rentes populações, incluindo indivíduos
conselhos de classe. Após o término da
pesquisa, o modelo do questionário per-
A reabilitação cardiovascular (RC) com doença cardiovascular. Entretanto, manece disponível por correio eletrônico,
apresenta uma série de benefícios bem também parece não atuar em quantida- garantindo assim sua reprodutibilidade.
estabelecidos na literatura, tais como de e qualidade suficiente, capaz de res-
Os dados coletados foram converti-
melhora na capacidade funcional, redu- ponder às demandas epidemiológicas
dos para planilhas do software Excel® e
ção de fatores de risco, redução dos sin- nas diversas áreas.
posteriormente analisados estatistica-
tomas, melhora na qualidade de vida e Não foram encontrados na literatura mente com o software Stata®, versão 9.2
detecção precoce de sinais e sintomas dados sobre o número ou distribuição (StataCorp, USA). Na análise descritiva os
que antecedem sérias complicações. A geográfica dos serviços de RC no Brasil. dados foram representados em freqüência
RC tem sido recomendada para pacien-
Acreditando que o melhor conhecimen- absoluta (n) e relativa (%).
tes após infarto agudo do miocárdio e
to do perfil de atuação do fisioterapeuta
após cirurgia de revascularização do
nos programas de reabilitação cardio-
miocárdio; estudos recentes também têm
recomendado no pós-operatório de ci-
vascular poderia fornecer subsídios e esti- RESULTADOS
mular a realização de futuras pesquisas,
rurgias cardíacas, insuficiência cardíaca Foram obtidas respostas de 67 ins-
aprimorando o trabalho desse pro-
crônica estável, pré e pós-transplante tituições; como a maioria não informou
fissional, o presente estudo tem como
cardíaco, intervenções percutâneas do sua localização (não preencheu o campo
objetivo conhecer o modelo de atuação,
miocárdio, doenças valvares e doença “região de atuação”), não foi possível
perfil profissional e formação acadêmica
arterial periférica1,2. analisar sua distribuição geográfica.
do fisioterapeuta que trabalha com RC
Segundo definição da OMS, a RC é no Brasil, além do perfil administrativo Dentre os respondentes, 37 eram fisio-
um conjunto de atividades necessárias do serviço de RC. terapeutas.
para garantir aos pacientes portadores
de doenças cardiovasculares as melhores Modelo de atuação
condições sociais, mentais e físicas pos- METODOLOGIA
síveis, para que possam alcançar com Os dados quanto ao modelo de atua-
seu próprio esforço uma vida normal e Este estudo transversal contou com a ção estão apresentados na Tabela 1. Em um
produtiva. Programas de RC são uma participação de 67 voluntários que terço dos serviços a fisioterapia não par-
realidade em países desenvolvidos e responderam a questionário eletrônico ticipa da RC. No período pré-intervenção,
contam com a participação de uma am- (veiculado pela internet, websurvey), observamos que a maioria dos serviços
pla gama de profissionais, com impor- que foi disponibilizado durante o (63%) realiza intervenção fisioterápica,
tante papel nas três fases da RC: a fase I período de janeiro a dezembro de 2005. assim como nas fases pós-intervenção
inicia-se na internação hospitalar; a fase Das 52 questões, 19 (36,5%) não foram clínica e/ou cirúrgica, ou seja, fases I na
II vai da alta hospitalar até dois a três respondidas ou apresentaram número UTI e na enfermaria, II e III, onde a
meses após o evento; e a fase III é consi- insuficiente de respostas e portanto não maioria dos serviços realiza tratamento
derada de recuperação e manutenção. puderam ser avaliadas no presente fisioterápico, respectivamente 68%
Recomenda-se que a RC seja implemen- estudo. (n=44), 67% (n=45), 55% (n=36) e 71%
tada e executada por uma equipe mul- O questionário consiste em 52 per- (n=47).
tiprofissional, formada por médico, guntas fechadas, relacionadas à RC,
fisioterapeuta, psicólogo, enfermeiro, Nas diferentes fases de atuação, o
sendo 25 questões referentes ao modelo suporte à emergência não é uma
nutricionista, educador físico, assisten- de atuação, verificando em quais fases
te social e terapeuta ocupacional3-7. realidade na maioria dos casos. Dentre
e de que maneira é realizado o atendi- os 47 serviços em que há atuação fisio-
Embora a doença cardiovascular, mento fisioterápico, 14 aos procedimentos terapêutica na fase III, apenas 16 (34%)
principalmente a coronariopatia, apre- realizados durante a avaliação, 3 ao perfil oferecem suporte avançado no local; 15
sente no Brasil alta prevalência e seja acadêmico e profissional, 6 à adminis- (32%) o fazem em hospital próximo com
considerada primeira causa de morte em tração do serviço de RC, além de 4 ques- suporte básico no local; 8 (17%) ofere-
ambos os sexos, a RC parece não ser tões abertas para sugestão. Do total de cem suporte básico no local com cre-
uma realidade capaz de atender às questões, 43 eram de múltipla escolha dencial a um suporte avançado; e outros
demandas de saúde pública nessa área. com duas até oito opções, sendo que em 8 (17%) oferecem suporte básico no
Não há informações a respeito em nosso algumas poderiam ser escolhidas mais de local sem credencial a suporte avan-
país, mas sabe-se que nos EUA apenas uma alternativa. As demais nove questões çado.
10% a 20% dos pacientes elegíveis eram descritivas, a serem preenchidas
participam de um programa de RC1,8,9. pelos respondentes com informações ou
comentários. Procedimentos de avaliação
O fisioterapeuta profissional utiliza o
exercício físico e a biomecânica como O questionário foi disponibilizado em Quanto aos procedimentos realizados
instrumentos de trabalho para eliminar página da internet e sua divulgação pro- durante a avaliação nas diferentes fases
ou reduzir limitações físicas e sociais movida em associações e sociedades da RC, a maioria das instituições utiliza
causadas por afecções agudas e crôni- ligadas à área, assim como em alguns modelo padronizado de avaliação, mas

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Mair et al. Fisioterapia cardiovascular no Brasil

Tabela 1 Modelo de atuação da fisioterapia nas instituições (n=67)


Pré-intervenção Fase I UTI Fase I enfermaria Fase II Fase III
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
Não realiza fisioterapia 25 (37) 17 (25) 17 (25) 28 (42) 19 (28)
Só avaliação 4 (6) 4 (6) 5 (8) 1 (1) 0
Avaliação e orientação 9 (13) 0 0 0 0
Avaliação e tratamento ambulatorial
1 (2) 0 0 10 (15) 4 (6)
não-supervisionado
Avaliação e tratamento ambulatorial
8 (12) 0 0 26 (39) 43 (64)
supervisionado
Avaliação e tratamento hospitalar 20 (30) 44 (66) 45 (67) 0 0
Não respondeu 0 2 (3) 2 (3) 1 (1)
Total 67 (100) 67 (100) 67 (100) 67 (100) 67 (100)

em apenas 31% dos serviços na fase pré- Tabela 2 Distribuição percentual* dos procedimentos de avaliação utilizados nos
intervenção, e em porcentagens ainda serviços segundo as fases da RC
menores nas demais fases (Tabela 2). Na
fase I destaca-se o uso da manovacuo- Procedimento Pré-int FI F II F III
metria em 31% (n=65) e da ventilometria Ficha de avaliação protocolada 31 28 28 30
em 15% (n=41), como as medidas mais Questionário específico 7 4 10 8
utilizadas em relação às outras fases. Os
Ventilometria 12 15 4 6
questionários validados específicos são
muito pouco utilizados independente da Manovacuometria 17 31 14 11
fase da RC, assim como as escalas de Espirometria 11 6 10 7
risco, a espirometria e o teste ergoespi- Teste ergométrico 8 4 14 19
rométrico. O teste ergométrico tem Teste ergoespirométrico 3 4 6 9
maior utilização nas fases II em 14% dos
serviços e em 19% na fase III (Tabela 2). Escalas de risco 8 4 7 6
Outros 3 4 7 4
Perfil da equipe profissional *
Total (%) 100 100 100 100
respostas múltiplas: podiam ser indicados um ou vários procedimentos;
Quanto às equipes que atuam nos Pré-int = pré-intervenção; F = Fase
serviços, pôde-se constatar a diversida-
de dos profissionais diretamente envol- rapeutas envolvidos no programa de RC próximas: em um terço dos casos vêm
vidos na RC, sendo os fisioterapeutas que participaram deste estudo, 8 têm de uma distância de até 5 km e, em outro
bem menos numerosos do que psicólo- graduação, 2 aprimoramento, 7 especia- terço, de até 15 km de distância.
gos ou nutricionistas. Em contrapartida, lização, 16 mestrado e 4, doutorado.
o fisioterapeuta é o principal profissional
ligado à administração do serviço, segui-
Administração do serviço DISCUSSÃO
do pelo médico, enfermeiro, nutricionis-
ta e psicólogo, entre outros (Tabela 3). O estudo traz informações importan-
Quanto à situação econômica do
tes sobre o modelo de atuação e proce-
Foi possível obter informação sobre serviço de RC, os 65 respondentes a essa
dimentos de avaliação empregados pelo
a formação de apenas 24 profissionais questão a classificam: 21 (40,4%) como
fisioterapeuta que trabalha com RC, nas
ligados à administração do serviço de RC: boa; 19 (36,5%) como regular; e 12
diferentes fases, além de informações
mais de dois terços (n=15) têm formação (23,1%) como ruim. A manutenção do
ligadas ao perfil acadêmico, profissional
em administração, dois possuem gradua- programa de RC é em sua maioria fi-
e à administração do serviço de RC.
ção, quatro pós-graduação lato sensu, e nanciada pelo SUS (35,4%), origem
três pós-graduação scricto sensu. Quanto principal dos honorários. A maioria dos Esse tipo de estudo, com base em
à formação acadêmica dos 37 fisiote- pacientes são provenientes de regiões questionário veiculado pela internet

Tabela 3 Profissionais envolvidos na RC e ligados à administração do serviço de RC

Profissionais Fisioterapeuta Médico Enfermeiro Psicólogo Nutricionista Outros Equipe


n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
Envolvidos na RC 8 (11) 11 (15) 12 (16) 17 (23 21 (29) 4 (6) 73 (100)
Ligados à administração 18 (32) 10 (17) 9 (16) 7 (12) 9 (16) 4 (7) 57 (100)

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(websurvey), tem sido discutido e uti- 2001, mostrou poucas evidências da vital importância para obter informações
lizado em estudos estrangeiros de fisioterapia em prevenir complicações sobre a doença cardíaca e medicação
diversas áreas10-13. Pesquisas mostram pulmonares no pós-operatório, resultado em uso, identificação de fatores de risco
que o uso dessa metodologia de coleta que pode ser atribuído à grande diver- de doença cardiovascular e determinar
de dados é válido e apresenta algumas gência metodológica dos estudos avalia- a existência de alguma condição ou
vantagens quando comparada a os dos, bem como à dose terapêutica insu- complicação que aumente eventos
outros meios de coleta, como questio- ficiente para produção dos benefícios cardíacos recorrentes28. No entanto, nos
nários via correio, entrevistas telefôni- desejados. Apesar dos achados em estu- serviços aqui estudados, os questionários
cas ou domiciliares, tais como rapidez dos recentes24,25, é inegável que a fisio- validados específicos são pouco
na resposta, diminuição dos custos e terapia desempenha importante papel utilizados nas diversas fases da RC. Um
agilidade na criação do banco de nessa fase, por meio do desmame da estudo realizado na Itália mostra que
dados14-18. ventilação mecânica, manobras de higie- 92,8% dos centros de RC utilizam alguns
ne brônquica, exercícios respiratórios, desses questionários nos pacientes que
Os resultados mostram que grande participam de programa de RC. Resul-
orientações e mobilização precoce; no
parte dos serviços inicia a intervenção tados importantes alcançados em
entanto, requerem-se outros estudos que
no período pré-operatório de pacientes programa de RC ou itens importantes a
corroborem sua eficácia em prevenir
eletivos, porém apenas 30% realizam serem observados no início de um
complicações.
orientação e tratamento nessa fase. programa, como melhora psicossocial,
Normalmente, a fisioterapia no período O acompanhamento na fase II ocorre melhora da auto-estima, redução do
pré-intervenção é indicada para em menos da metade dos serviços. Há estresse, melhora da qualidade de vida,
pacientes considerados de alto risco, poucos estudos sobre RC abordando maior adesão ao tratamento e entendi-
como portadores de DPOC, obesos, essa fase de transição entre a alta mento da doença, avaliação cognitiva,
idosos e portadores de antecedentes pul- hospitalar e o início da fase III. nível de atividade física, grau de depen-
monares, para minimizar risco de com- dência ao cigarro podem ser avaliados
Em relação à fase III, a maioria dos
plicações pulmonares no pós-opera- por esses questionários29.
centros realiza reabilitação de forma
tório19. Para pacientes considerados de
supervisionada. Um estudo recente26 Quanto aos demais itens utilizados
baixo risco, é controversa a indicação
mostrou que a RC não-supervisionada para avaliação, a manovacuometria é
de tratamento fisioterápico no período
ou semi-supervisionada pode ser uma mais usada que a ventilometria e a espi-
pré-intervenção: alguns estudos sugerem
alternativa para aumentar a adesão ao rometria. A manovacuometria é a ava-
que a fisioterapia antes da intervenção
treinamento físico em pacientes de baixo liação mais realizada pelo fisioterapeuta,
pode reduzir o tempo de internação
risco, além de oferecer custos inferiores principalmente porque cabe a esse
hospitalar e a incidência de complica- profissional identificar pacientes com
quando comparados à RC supervisionada.
ções pulmonares. Esta é uma área onde redução da força muscular respiratória
A predominância da RC supervisionada nos
a atuação da fisioterapia deveria ocorrer e, por meio de exercícios de fortaleci-
serviços deste estudo pode significar que
em maior intensidade, promovendo mento, melhorá-la21. A espirometria é um
apresentam pacientes considerados de maior
identificação de fatores de risco, orienta- item importante para avaliar pacientes
risco, ou que aspectos culturais e de infra-
ções sobre os objetivos da fisioterapia no portadores de doença pulmonar prévia e
estrutura podem limitar o uso da reabili-
pós-operatório e tratamento preventivo, identificar pacientes com maior risco de
tação na modalidade não-supervisionada.
contribuindo para maior colaboração e complicações no pós-operatório. Segun-
entendimento do paciente sobre as Quanto ao suporte de emer- do o American College of Physicians,
alterações decorrentes do procedimento gência oferecido durante a fase III, obser- não é recomendada a espirometria de
cirúrgico20,21. vamos que dois terços dos serviços de rotina no pré-operatório de cirurgia
RC não dispõem de suporte avançado cardíaca, e nenhuma anormalidade na
O tratamento fisioterápico no perío-
de emergência. As recomendações função pulmonar é capaz de prever mor-
do pós-operatório na fase hospitalar é
existentes versam apenas sobre os equipa- talidade. No entanto, algumas escalas
realizado na maioria dos serviços parti-
mentos e técnicas de RC supervisionada27 usam índices espirométricos em conjun-
cipantes do estudo. Recomendações da
para a área médica, estando disponíveis to com outros dados como idade, pre-
American Heart Association (AHA) e da
para a equipe multiprofissional apenas sença de doença pulmonar prévia e
American Association of Cardiovascular
recomendações internacionais23, que outras co-morbidades, índice de massa
and Pulmonary Rehabilitation (AACVPR)
destacam o treinamento de todos os corpórea, para identificar risco de com-
são de se iniciarem atividades de baixa
membros da equipe em níveis básico e plicações e mortalidade cirúrgica30. A
intensidade nas primeiras 24 h de pós-
avançado de suporte de vida, além da ventilometria tem importância maior no
operatório de cirurgia de revasculariza-
obrigatoriedade de itens de reanimação na período pós-intervenção imediato, pois
ção do miocárdio e após 24 h do infarto
área onde é realizado o programa de RC. é usada como indicador para desmame
agudo do miocárdio 4,22,23. Apesar da
da ventilação mecânica19.
atuação crescente do fisioterapeuta O presente estudo mostra a
nesse período, uma revisão sistemática avaliação como o item mais realizado O teste ergométrico e o ergoespiro-
publicada em 2003 24, de 27 estudos em todas as fases da RC. A AACVPR23 métrico ganham maior importância na
randomizados publicados entre 1978 e atribui à avaliação e entrevista pessoal fase III, já que deveriam ser fundamentais

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Mair et al. Fisioterapia cardiovascular no Brasil

para a adequada prescrição da atividade próximas ao local (até 15 km), mos- RC. Futuros estudos devem buscar
física. Os testes de esforço são impor- trando que a distância pode ser um fator utilizar questionário que não demande
tantes para a segurança e efetividade de que contribua para maior adesão ao muito tempo dos respondentes, além de
um programa de RC; devem ser aplica- programa. tentar mapear os serviços existentes,
dos antes do início da fase III, e repetidos superando outra limitação do presente
Quanto aos profissionais ligados
quando ocorrerem mudanças no estado estudo, quanto à representatividade das
à administração do serviço, observa-se
clínico ou sintomático, bem como para instituições respondentes.
maior participação do fisioterapeuta,
prescrição e reavaliação do treino de
seguida por médicos e enfermeiros. Esse
exercícios22,28. Entretanto, segundo os
dados deste estudo, são muito pouco
achado é semelhante ao encontrado em
estudo realizado na Inglaterra, que
CONCLUSÃO
utilizados.
aponta o fisioterapeuta e enfermeiro A fisioterapia tem importante partici-
Nos serviços deste estudo, pro- como profissionais responsáveis pela pação nos programas de RC. A interven-
fissionais de diversas áreas e formações coordenação dos serviços de reabili- ção fisioterápica no período pré-
estão envolvidos na RC. E a maior parte tação32. intervenção e demais fases está presente
dos fisioterapeutas que trabalham com em cerca de dois terços dos serviços.
Este estudo apresenta limitações
RC e responderam o questionário apre- Para a avaliação, a ficha protocolada é
decorrentes do número de questões, que
senta alto nível de escolaridade. Esse o item mais utilizado, sendo questio-
exigiu do voluntário participante longo
achado condiz com o perfil de pro- nários específicos raramente usados. O
tempo para resposta. Isso pode ter
fissional com maior conhecimento, uma fisioterapeuta é o principal profissional
causado o grande número de questões
vez que a área de trabalho é bastante ligado à administração do serviço de RC.
não respondidas ou de respostas em
técnica, exigindo maior qualificação Apesar das informações aqui obtidas
número insuficiente (36,5%). Como
profissional. Um estudo publicado na
essas questões eram principalmente sobre o trabalho do fisioterapeuta na RC,
Espanha destaca o fisioterapeuta como
ligadas às técnicas fisioterápicas requerem-se outros estudos abordando
profissional não-médico que aparece
utilizadas durante o tratamento, estas não só o perfil do fisioterapeuta, mas a
com maior freqüência na equipe de
não puderam ser aqui analisadas. atuação fisioterapêutica em RC no Brasil,
reabilitação cardíaca30.
Também ficou prejudicado, devido ao auxiliando também a padronização e
A maioria dos pacientes que parti- baixo número de respostas, o perfil expansão dos serviços e a criação de
cipam da RC residem em regiões acadêmico do profissional envolvido na manuais de conduta.

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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.339-44, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Estudo comparativo preliminar entre os alongamentos proprioceptivo


e estático passivo em pacientes com seqüelas de hanseníase
Preliminary comparative study between proprioceptive and passive
static stretching in patients with leprosy sequelae
Augusto Floricel Diaz1, Fabio Luiz Moro1, Jussara Machado Binotto1, Andersom Ricardo Fréz2

Estudo desenvolvido na Escola RESUMO: A proposta deste estudo foi comparar a aplicação de alongamento estático
de Fisioterapia da FAA – passivo e alongamento proprioceptivo no tratamento de seqüelas de hanseníase.
Faculdades Anglo-Americano, Doze pacientes com essas seqüelas participaram da pesquisa, separados
campus de Foz do Iguaçu, PR, aleatoriamente em dois grupos: o grupo FNP, tratado com facilitação neuromuscular
Brasil proprioceptiva, e o grupo AEP, com alongamento estático passivo. Ambos realizaram
1 dez sessões de alongamentos, sendo submetidos à avaliação inicial e final nas
Fisioterapeutas quais foram aplicados o questionário SF-36, mensuradas a amplitude de movimento
2
Fisioterapeuta da Clínica-Escola (ADM) do punho e tornozelo, testados os reflexos e a sensibilidade. No grupo FNP
de Fisioterapia da FAA foi observada melhora na ADM do tornozelo e em três domínios do SF-36; no
grupo AEP, em cinco domínios do SF-36. Quando comparados os grupos, o FNP
ENDEREÇO PARA obteve melhora significativa na extensão do punho, dorsiflexão e plantiflexão em
CORRESPONDÊNCIA relação ao AEP. A facilitação neuromuscular proprioceptiva parece ser um método
mais eficaz para ganhar alongamento muscular e ADM de tornozelo e punho em
Andersom Ricardo Fréz pacientes com seqüelas de hanseníase. Não foi observada relação entre acréscimo
Av. Paraná 5661 vila A na ADM e melhora na qualidade de vida relacionada à saúde nos pacientes dos
85868-030 Foz do Iguaçu PR dois grupos.
e-mail:
DESCRITORES: Exercícios de alongamento muscular; Hanseníase/reabilitação;
andersom_frez@yahoo.com.br
Terapia por exercício

ABSTRACT: The purpose of this study was to compare the effects of two kinds of stretching
– passive, static stretching, and proprioceptive neuromuscular facilitation (PNF) –
in patients with leprosy sequel. Twelve patients were randomly assigned into two
groups: the PNF group and the SS group, that was submitted to static stretching.
Both groups attended ten stretching sessions, being submitted to initial and final
evaluations in which were assessed: health-related quality of life, by means of he
SF-36 questionnaire; ankle and wrist range of motion (ROM); and sensitivity and
reflex testing. Improvements in ankle movement and in three SF-36 domains were
observed in PNF group; and in five SF-36 domains in SS group. PNF group showed
better improvement in wrist extension and ankle movement than SS group. PNF
seems to be a more effective method to increase flexibility and ankle and wrist
APRESENTAÇÃO range of motion in patients with leprosy sequelae. No relation was found between
abr. 2008 ROM improvement and perception of better health-related quality of life in any of
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO the groups.
nov. 2008 KEY WORDS: Exercise therapy; Leprosy/rehabilitation; Muscle stretching exercises

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :339-44 339


INTRODUÇÃO Caracteriza-se pelo uso de contração
muscular ativa com o objetivo de ocasio-
Procedimentos
A hanseníase é uma doença infeccio- nar inibição autogênica do músculo As variáveis avaliadas, antes e após o
sa crônica causada pelo Mycobacterium alongado. Quando aplicada, ocorre tratamento, foram: ADM de flexão e
leprae, um microorganismo de alta relaxamento muscular reflexo do músculo extensão do punho, dorsi e plantiflexão;
infectividade, porém de baixa virulência alvo que, associado ao alongamento e a qualidade de vida relacionada à
e patogenicidade. O contato inter-humano passivo, promove o ganho de ADM15. saúde. Inicialmente foi realizada uma
é a forma de contágio e as manifestações avaliação coletando-se dados de idade,
O alongamento estático é um exer- sexo, tempo da patologia, sensitividade
clínicas afetam predominantemente pele
cício constante no qual a posição extre- e reflexos, ADM e qualidade de vida.
e/ou nervos periféricos1-3, pois o bacilo tem
ma da ADM é mantida por um intervalo Todas foram conduzidas pelo mesmo
predileção para infectar as regiões mais
de tempo, sem ativar o reflexo do alon- pesquisador, e a avaliação física realiza-
frias do corpo. O comprometimento
gamento16. Não tem ênfase na veloci- da bilateralmente.
ocorre por uma reação inflamatória cau-
dade, mas na manutenção da posição11.
sada pela ação direta do bacilo ou como A avaliação da sensibilidade foi
Quando realizado de forma passiva,
uma resposta imunológica do orga- obtida utilizando-se o monofilamento de
com a aplicação de força por outra
nismo3. Semmes-Weinstein de 10 g18, aplicado
pessoa, o alongamento pode ser condu-
zido além da ADM ativa17. em dez pontos específicos no pé e em
Nos membros superiores são compro-
sete na mão, em um ângulo de 90º,
metidos os nervos ulnar, mediano e
O objetivo deste estudo é mensurar e enquanto o voluntário fora instruído a
radial. Nos membros inferiores o fibular,
comparar os resultados da aplicação de dizer “sim” cada vez que percebesse o
o tibial posterior4, o ciático e o poplíteo
exercícios de alongamento estático contato do fio19. Devido ao acometimen-
externo. As terminações nervosas sensi-
passivo e de FNP na qualidade de vida to do sistema nervoso, também foram
tivas, motoras e autonômicas da pele são
e ADM em portadores de seqüelas de avaliados os reflexos bicipital, braquior-
acometidas1. O envolvimento osteoar-
hanseníase. O presente estudo é radial, tricipital, patelar e do tendão
ticular atinge 50 a 70% dos indivíduos5 calcâneo20.
delineado como uma pesquisa experi-
e resulta das alterações nos nervos
mental, com a aplicação de duas técni- Devido ao acometimento distal da
periféricos3. A dor causada pela neurite
cas distintas de alongamento – estático hanseníase, foram avaliadas a ADM de
é um dos fatores para o aparecimento
passivo (AEP) e FNP – em pacientes flexão e extensão do punho, dorsi e plan-
das incapacidades1, com perda da flexi-
portadores de seqüelas causadas pela tiflexão. Essas mensurações foram realiza-
bilidade que, por sua vez, compromete
hanseníase. das conforme a descrição de Cipriano20,
a execução adequada dos movimentos6.
posicionando o goniômetro no plano
Ações educativas devem ser direcio-
nadas visando a promoção da saúde, a METODOLOGIA sagital e o centro no processo estilóide
da ulna para os movimentos do punho
prevenção e o controle da doença, o que e no maléolo lateral para o tornozelo.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê
pode contribuir para a melhora da qua- Os movimentos foram realizados
de Ética em Pesquisa da Faculdade Assis
lidade de vida relacionada à saúde7. ativamente.
Gurgacz, Cascavel, PR. Doze pacientes
Uma das medidas para melhorar as con-
foram recrutados na Clínica de Fisiote- Para avaliação da qualidade de vida
dições de vida dos hansenianos é o
rapia do Centro de Especialidades Mé- relacionada à saúde foi aplicada a versão
programa de reabilitação funcional, pois
dicas da Prefeitura de Foz do Iguaçu, PR, brasileira do questionário 36-Item Short-
as limitações na execução das atividades
onde foi feito o tratamento. Todos os Form Survey, conhecido como SF-3621.
afetam sua independência8.
sujeitos se enquadraram nos critérios de Consiste em oito domínios, com escores
Dentre os programas terapêuticos de inclusão: pacientes portadores de que variam de 0 a 100, que consideram
reabilitação, o aumento da flexibilidade hanseníase, em tratamento medicamen- a percepção do paciente sobre a forma
articular é um componente importante. toso, sem seqüelas de alterações neuro- como sua saúde, bem-estar e a maneira
Envolve o alongamento dos tecidos colá- lógicas centrais, reumatológicas ou como desempenha suas atividades de
genos que limitam a amplitude de movi- ortopédicas; não houve recusa e todos vida diária interferem em sua qualidade
mento (ADM)9, gerando alterações em assinaram um termo de consentimento de vida .
tecidos contráteis e não-contráteis10. Esse livre e esclarecido. Os pacientes foram Posteriormente à avaliação inicial, os
alongamento pode ser estático, ou pela alocados alternadamente em dois gru- pacientes foram encaminhados para o
facilitação neuromuscular proprio- pos: o grupo FNP (n=6) foi composto por atendimento, sendo alocados alternada-
ceptiva (FNP)11. A FNP é uma técnica 4 mulheres e dois homens, com idade mente para intervenção do alongamento
criada na década de 1950 e combina média de 48,2±18,8 anos e tempo de pela técnica da FNP (grupo FNP) e para
mecanismos fisiológicos do controle patologia de 7,0±6,9 anos. E o grupo o AEP (grupo AEP). Previamente à
neuromuscular com ativação dos impulsos AEP (n=6) foi constituído por três mu- aplicação das técnicas todos os volun-
dos órgãos tendinosos de Golgi11-13. A lheres e três homens, com idade média tários realizavam, por 15 minutos, um
contração-relaxamento é um padrão de de 51,7±18,5 anos e tempo de patologia aquecimento com exercícios calistêni-
FNP para aumentar a flexibilidade14. de 2,9±2,2 anos. cos e bicicleta ergométrica16.

340 Fisioter Pesq. 2008;15(4):339-44


2008;15(4)
Diaz et al. Alongamento em pacientes com hanseníase

Para o grupo FNP foi selecionada a voluntário. No grupo AEP ocorreu ausência Na análise intra-grupo, foi observada
técnica de contrair-relaxar, inibição de sensibilidade em 5,3±3,4 pontos no pé melhora estatisticamente significativa na
autógena da FNP, sendo solicitada uma direito; 5,2±3,8 no esquerdo; 2,5±2,1 na ADM de dorsi- e plantiflexão bilaterais no
contração isométrica máxima do mús- mão direita e 2,5±2,3 na esquerda. Não grupo FNP. No grupo AEP não foi observada
culo alvo por 6 segundos e posterior- houve arreflexia nesse grupo. melhora significativa da ADM (Tabela 1).
mente alongado estaticamente por 10
segundos17, repetindo-se o procedimen- Tabela 1 Valores (em °) da amplitude de movimento antes (pré) e após (pós) o
to por 3 vezes14. alongamento nos dois grupos
O grupo AEP submeteu-se ao alon- Grupo FNP Grupo AEP
gamento estático passivo, executado sem Movimento
Pré Pós p Pré Pós p
a presença de contração muscular e rea-
Flexão punho D 49,2±21,1 60,0±18,7 0,369 50,8±16,3 58,3±7,5 0,329
lizado exclusivamente pelo terapeuta17.
Essa posição foi mantida por 16 segun- Flexão punho E 50,0±18,7 65,8±19,3 0,180 50,0±17,9 58,3±17,5 0,434
dos, também repetida por 3 vezes, para Extensão punho D 45,0±24,3 54,2±20,6 0,497 55,0±13,4 58,3±12,9 0,670
ter o mesmo tempo de estímulo do grupo Extensão punho E 46,7±20,4 63,3±16,9 0,155 43,3±16,3 50,8±18,3 0,471
FNP. Dorsiflexão D 16,7±6,1 28,3±4,1 0,003* 24,2±6,6 29,2±5,8 0,197
Os grupos musculares alongados Dorsiflexão E 20,0±0,0 31,7±2,6 0,001* 27,5±10,8 30,8±8,0 0,558
foram: 1) flexores do punho: flexor radial Plantiflexão D 19,2±6,6 30,8±5,8 0,009* 20,0±7,1 23,3±4,1 0,341
do carpo, flexor ulnar do carpo e palmar Plantiflexão E 24,2±4,9 32,5±5,2 0,018* 20,0±8,4 23,3±6,1 0,448
longo; 2) extensores de punho: extensor * Estatisticamente significativo (p<0,05); D = direito; E = esquerdo; FNP = tratado com
ulnar do carpo, extensor radial curto do facilitação neuromuscular proprioceptiva; AEP = tratado com alongamento estático passivo
carpo, extensor radial longo do carpo;
3) dorsiflexores: tibial anterior e extensor Tabela 2 Escores nos domínios do SF-36, antes (pré) e após (pós) o alongamento
longo dos dedos; e 4) plantiflexores: nos dois grupos
gastrocnêmios, sóleo e plantar. As posturas
para realização dos alongamentos seguiram Grupo FNP Grupo AEP
Domínio do SF-36
Pré Pós p Pré Pós p
as descrições de Fernandes et al.17.
Capacidade funcional 65,8±23,1 80,8±12,0 0,189 52,5±22,1 75,0±17,0 0,076
Os dois grupos foram submetidos a Aspectos físicos 12,5±30,6 70,8±33,2 0,010* 16,7±20,4 70,8±24,6 0,002*
duas sessões por semana, por um perío-
Dor 50,0±34,7 74,8±20,8 0,163 36,2±18,1 58,7±11,3 0,027*
do de cinco semanas, totalizando dez
Estado geral 69,7±17,1 80,3±12,5 0,246 53,7±9,3 57,5±13,8 0,585
atendimentos. Estas intervenções foram
realizas por pesquisadores distintos: um Vitalidade 45,8±21,5 68,3±13,7 0,056 39,2±11,1 55,0±12,6 0,044*
responsável pelos alongamentos no gru- Aspectos sociais 54,2±25,8 66,7±18,8 0,360 39,6±16,6 62,5±15,8 0,034*
po AEP e o outro pelo FNP. Estes não Aspecto emocional 50,0±54,8 100,0±0,0 0,049* 38,9±49,1 66,7±29,8 0,263
participaram da avaliação e não tiveram Saúde mental 42,0±18,4 63,3±14,2 0,048* 45,3±16,1 66,7±6,0 0,013*
contato com seus resultados. * Estatisticamente significativo (p<0,05); D = direito; E = esquerdo; FNP = tratado com
facilitação neuromuscular proprioceptiva; AEP = tratado com alongamento estático passivo
Análise dos resultados Tabela 3 Diferença entre as médias (∆) Tabela 4 Diferença entre as médias (∆)
Após a reavaliação das variáveis dos valores (em °) da dos escores obtidos nos
(ADM de flexão e extensão do punho, amplitude de movimento nos domínios do SF-36 nos dois
dorsi e plantiflexão e domínios do dois grupos e valor de p da grupos e valor de p da
questionário SF-36) os resultados foram comparação intergrupos comparação intergrupos
submetidos à análise estatística intra e Movimento 'FNP 'AEP p Domínio 'FNP 'AEP p
inter-grupo, utilizando o ANOVA fator
Flexão punho D 10,8 7,5 0,547 Capacidade funcional 15,0 22,5 0,251
único, do programa Microsoft Excel,
sendo considerado estatisticamente Flexão punho E 15,8 8,3 0,178 Aspectos físicos 58,3 54,1 0,825
significativo p<0,05. Extensão punho D 9,2 3,3 0,143 Dor 24,8 22,5 0,784
Extensão punho E 16,6 7,5 0,034* Estado geral 10,6 3,8 0,235
Dorsiflexão D 11,6 5 0,073 Vitalidade 22,5 15,8 0,543
RESULTADOS Dorsiflexão E 11,7 3,3 0,002* Aspectos sociais 12,5 22,9 0,381
No grupo FNP foi encontrada Plantiflexão D 11,6 3,3 0,011* Aspecto emocional 50,0 27,8 0,414
ausência de sensibilidade em 7,2±2,9 Plantiflexão E 8,3 3,3 0,155 Saúde mental 21,3 21,4 1,000
pontos no pé direito; 7,3±2,6 no * Estatisticamente significativo (p<0,05); D = FNP = tratado com facilitação
esquerdo; 3,8±2,1 na mão direita; e direito; E = esquerdo; FNP = tratado com neuromuscular proprioceptiva; AEP =
4,0±2,4 na esquerda. Arreflexia patelar facilitação neuromuscular proprioceptiva; AEP tratado com alongamento estático
bilateral foi observada em apenas um = tratado com alongamento estático passivo passivo

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :339-44 341


Em relação aos domínios do questio- Após a aplicação das técnicas de Segundo Martins e Matta30, o AEP
nário SF-36 após o programa de alon- alongamento, os dois grupos apresenta- seria potencialmente danoso, sugerindo
gamento, no grupo FNP foi observada ram valores médios de ADM menores o alongamento pela FNP. No presente
melhora significativa em três domínios: do que os indicados pelo manual de estudo, não foram observados efeitos
aspecto físico, aspecto emocional e Cipriano20, exceto na dorsiflexão. deletérios após o AEP.
saúde mental. No grupo AEP, foi observado
Em um estudo comparativo entre três Em relação ao tempo do alongamento
aumento da pontuação em cinco domínios:
formas de alongamento, Rosa et al.22 estático, Nelson e Bandy31 encontraram
aspecto físico, dor, vitalidade, aspectos
observaram maior ganho de alon- um acréscimo significativo na ADM do
sociais e saúde mental (Tabela 2).
gamento dos isquiotibiais com a FNP, quadril após alongamentos de 30 segun-
A diferença entre as médias obtidas seguido do alongamento ativo e, por dos realizados três vezes por semana
antes e após o alongamento foi utilizada último, o AEP. Com resultados diferentes, durante seis semanas. Bandy et al.32
para análise inter-grupo. Na avaliação em outro estudo Rosa et al.23 mostraram encontraram um acréscimo semelhante
da ADM, foi encontrada diferença que o AEP produz aumento estatistica- na mobilidade dos músculos posteriores
significante do grupo FNP em relação mente significativo no ganho de flexi- da coxa com quatro variações de alon-
ao AEP na extensão do punho esquerdo, bilidade da coluna vertebral, quando gamento estático: um único mantido por
dorsiflexão esquerda e plantiflexão comparado à forma ativa. Worrell et al.24 30 e por 60 segundos, e repetido três
direita (Tabela 3). Na qualidade de vida não encontraram diferença significativa vezes, mantido por 30 e por 60 segun-
aferida pelo questionário SF-36, não foi na ADM após a FNP nem alongamento dos. Cipriani et al.33, por sua vez, não
observada diferença significativa entre estático, enquanto Yuktasir e Kaya 25 encontraram diferença significativa ao
os grupos (Tabela 4). relatam que 30 segundos de FNP ou de comparar os tempos de 10 e 30 segundos
alongamento estático passivo são de alongamento, enquanto Bandy e
suficientes para promover um acréscimo Irion34 relatam que 30 ou 60 segundos
DISCUSSÃO significativo na ADM do tornozelo. No de alongamento estático são mais
presente estudo, no grupo FNP observou-se efetivos que apenas 15 segundos. Neste
Sosenko et al. 19 relatam que a diferença significativa na ADM nos qua- estudo, no grupo AEP o alongamento foi
inabilidade para perceber o monofi- tro movimentos do tornozelo avaliados, mantido por 16 segundos para igualar
lamento em quatro pontos ou mais é com tempo de aplicação de 16 segun- os tempos de estímulo dos dois grupos
indicativa de perda da sensibilidade. dos. Essas diferenças de resultados entre – tempo insuficiente, segundo os traba-
Baseando-se nessa descrição, o grupo os estudos sugerem que a FNP pro- lhos acima, sugerindo o motivo do não-
FNP demonstrou maior acometimento porciona bons resultados para ganho de ganho significativo de ADM nesse grupo.
da sensibilidade. Segundo Boulton36, ADM do tornozelo, mesmo com menor
outra medida de avaliação da sensibili- Em relação às medidas complemen-
tempo de aplicação da técnica.
dade na disfunção neuropática de tares de tratamento da hanseníase,
membros inferiores é a ausência do Malys e Campos26 relatam que, na estudos mencionam a importância da
reflexo do tendão calcâneo. Todos os FNP, a técnica de contrair-relaxar per- fisioterapia na fase de recuperação35, dos
pacientes da pesquisa apresentavam esse mite maior ganho na flexibilidade dos programas de reabilitação funcional para
reflexo. isquiotibiais em relação à técnica prevenção de incapacidades e manuten-
manter-relaxar. Hendel et al.27 relatam ção da independência8, mas não descre-
Quando analisado o grupo FNP, um acréscimo de 6,8º na flexibilidade vem nem evidenciam quais técnicas
observou-se ganho significativo de ADM ativa e passiva do tornozelo após a FNP, deveriam ser empregadas. O presente
apenas para os movimentos do tornoze- e Rees et al.28 um aumento de 7,8% na estudo propõe e descreve o uso de duas
lo. Esse acréscimo na ADM foi acompa- mobilidade do tornozelo com a FNP técnicas distintas de alongamento e seus
nhado de aumento significativo em três realizada três vezes por semana por respectivos parâmetros de aplicação,
domínios do questionário SF-36. No quatro semanas. Utilizando-se a técnica como tratamento complementar das
entanto, esse aumento na ADM do contrair-relaxar, no presente estudo, seqüelas dessa enfermidade.
tornozelo não se refletiu em melhora também foi observado ganho significa-
Na análise das respostas ao questio-
significativa no domínio capacidade tivo da ADM nos movimentos do
nário SF-36, não se observaram diferen-
funcional. O grupo AEP, por sua vez, não tornozelo. Para Appleton29, a FNP é uma
ças significativas entre os grupos, mas
apresentou melhora significativa na técnica de alongamento que provoca
na análise intra-grupo, ambos apresen-
ADM, mas apresentou aumento signifi- aumento na ADM principalmente em
taram aumento significativo nos do-
cativo em cinco domínios no questio- pessoas com alto nível de controle
mínios aspectos físicos e saúde mental.
nário de qualidade de vida SF-36. Esses neuromuscular. Diferentemente, na
resultados sugerem que, em pacientes presente pesquisa observou-se aumento É importante considerar que não se
com hanseníase, o AEP é melhor para da ADM com uso da FNP em pacientes observaram casos graves de incapaci-
ganho de qualidade de vida, enquanto com baixo controle neuromuscular, dade, ao contrário da imagem negativa
a FNP leva a ganhos de alongamento como é o caso daqueles com seqüelas de deformidade que se tem tradicional-
muscular e ADM. de hanseníase. mente da hanseníase.

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Diaz et al. Alongamento em pacientes com hanseníase

CONCLUSÃO AEP, que não produziu resultados signi-


ficantes em ganho de movimento articular.
tenha sido possível estabelecer uma relação
entre aumento da ADM e melhora da
O alongamento pela técnica FNP Portanto, a FNP parece ser um método mais qualidade de vida em indivíduos com
produziu um acréscimo significativo na eficaz para ganhar alongamento muscular seqüelas de hanseníase, o grupo tratado
ADM nos movimentos do tornozelo e e ADM de tornozelo e punho em pacientes com AEP teve ganhos significativos em
da extensão do punho, ao contrário da com seqüela de hanseníase. Embora não qualidade de vida.

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344 Fisioter Pesq. 2008;15(4):339-44


2008;15(4)
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.345-8, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Percepção de servidores municipais frente ao diagnóstico de distúrbio


osteomuscular relacionado ao trabalho
Public officers’ perceptions of work-related musculoskeletal disorder diagnosis
Mirna Albuquerque Frota1, Marcelo de Carvalho Filgueiras2
Colaboradora: Lorena Barbosa Ximenes3

Estudo desenvolvido no RESUMO: As doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT) são distúrbios
Instituto de Previdência do do aparelho locomotor de etiologia ligada à atividade laboral que vêm apresentando
Município de Fortaleza, incidência crescente em todo o mundo. Este estudo teve o objetivo de descrever a
Fortaleza, CE, Brasil forma como servidores municipais de Fortaleza, CE, vivenciam as DORT. O estudo
1
qualitativo foi realizado em uma clínica de fisioterapia em 2004. Os informantes
Enfermeira; Profa. Dra. do foram nove servidores (com idades entre 40 e 57 anos) em atendimento fisioterápico
Mestrado em Saúde Coletiva da na clínica – agentes administrativos, professores e um técnico. Os dados foram
Universidade de Fortaleza coletados por meio da observação participante e de entrevista semi-estruturada.
2
Fisioterapeuta; Prof. Ms. da Da análise emergiram as categorias temáticas “reações frente ao diagnóstico e
Universidade Federal do Piauí, tratamento” e “vivência da doença nas relações interpessoais”. Os resultados
Parnaíba, PI permitiram inferir o impacto do diagnóstico da DORT no cotidiano do trabalhador:
a limitação funcional leva à frustração e indignação; o não-reconhecimento pelos
3
Enfermeira; Profa. Dra. da colegas gera a percepção de rejeição ou exclusão social. A reação de negação
Universidade Federal do Ceará, inicial, que leva o trabalhador a evitar a procura de atendimento especializado, é
Fortaleza, CE importante pela subnotificação gerada, que provoca limitação nas medidas de
prevenção e controle das DORT.
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA
DESCRITORES: Saúde do trabalhador; Transtornos traumáticos cumulativos

Mirna Frota ABSTRACT: Work-related musculoskeletal disorders (WRMD) have shown increasing
R. Manoel Jacaré 150 apto. incidence all over the world. This study aimed at describing how public officers (in
1401 Meireles Fortaleza, CE) react to a WRMD diagnosis. In this qualitative study, data were
60175-110 Fortaleza CE collected by means of participant observation and interviews with nine informants
e-mail: mirnafrota@unifor.br; (aged 40 through 57), recruited at a rehabilitation clinic in 2004; they were office
profmarcelo@unifor.br clerks, teachers, and a technician. Two subject-matter categories emerged from
data analysis: reactions to diagnosis and treatment; and interpersonal relation
changes after diagnosis. Results allowed for inferring the impact of WRMD in
workers’ daily lives: functional limitation leads to frustration and indignation; the
illness non-acknowledgment by workmates brings a feeling of rejection and
APRESENTAÇÃO exclusion. The initial reaction of denying the illness – hence not resorting to medical
abr. 2008 assistance – points to the issue of underreporting, which hinders WRMD both
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO prevention and control.
nov. 2008 KEY WORDS: Occupational health; Cumulative trauma disorders

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :345-8 345


INTRODUÇÃO METODOLOGIA Como você se sentiu diante do diagnós-
tico? O que a doença mudou em sua
As doenças osteomusculares relacio- Este é um estudo descritivo, de natu- vida? Como você percebe os outros em
nadas ao trabalho (DORT) são distúrbios reza qualitativa, que busca desvendar o relação a isso? – que abriam a discussão
do aparelho locomotor de etiologia universo de significações, motivos, para alcançar um diálogo livre, em que
ligada à atividade laboral que vêm aspirações, atitudes, crenças e valores os fatores culturais envolvidos no adoe-
apresentando incidência crescente em de determinada população9. Foi desen- cimento por DORT se fizessem notar,
todo o mundo1. No Brasil, a magnitude volvido na Clínica de Fisioterapia do englobando a percepção acerca da
e a gravidade dos casos diagnosticados Instituto de Previdência do Município de doença e suas implicações.
e acompanhados pelos centros de Fortaleza, CE, que atende a servidores
municipais e seus dependentes, Os depoimentos coletados foram
referência de saúde do trabalhador organizados e analisados de acordo com
profissionais de diversas ocupações –
comprovam sua importância no a técnica de análise do discurso, com-
oferecendo assim condições satisfatórias
contexto da saúde coletiva, tomando preendendo a pré-análise, a exploração
tanto no que se refere ao acesso a
proporções de epidemia2,3. informantes como ao espaço físico do material e o tratamento dos resul-
Apesar de ser um grupo de doenças adequado. O estudo foi aprovado pelo tados, permitindo inferências acerca de
associado ao uso de novas tecnologias, Comitê de Ética em Pesquisa da determinado assunto do qual o infor-
como computadores, seu surgimento não Universidade de Fortaleza; os mante é conhecedor10.
é recente. Relatos de Ramazzini4 no informantes foram esclarecidos sobre a
natureza, objetivos e relevância do
século XVIII já atestavam os efeitos
maléficos de uma vida sedentária, es-
estudo, assinando o termo de consenti- RESULTADOS E
mento. Durante toda a pesquisa foram
forços repetitivos e pressão psicológica
estritamente observados os aspectos DISCUSSÃO
para a saúde de escribas e notários. éticos. Para preservar o anonimato, os
A caracterização da amostra é exposta
As causas predisponentes às doenças sujeitos foram indicados como
“trabalhador”, numerados de acordo com no Quadro 1. Suas profissões eram: um
osteomusculares relacionadas ao funcionário de usina de asfalto, quatro
trabalho na época de Ramazzini ainda a ordem da entrevista (T1, T2...T9).
agentes administrativos e quatro profes-
se encontram presentes, consistindo em Os informantes foram nove servido- sores. A faixa etária variou entre 40 e 57
aspectos multifatoriais ligados à postura res municipais da ativa acometidos por anos. Quanto ao diagnóstico, apesar de
e nível de estresse no trabalho, o que doença osteomuscular relacionada ao apresentarem diversas patologias, todos
pode resultar em altos níveis de dor em trabalho, recrutados por conveniência
tinham a caracterização de DORT pelo
trabalhadores5,6. dentre os pacientes em atendimento
médico perito do Instituto de Previ-
fisioterapêutico que tivessem diagnós-
As DORT acometem principalmente dência do município.
tico clínico de DORT.
os membros superiores, provocando dor Da análise dos dados emergiram as
Os dados foram coletados entre abril
crônica e incapacidade. Para além dos categorias temáticas “reações frente ao
e agosto de 2004, por meio de obser-
sinais e sintomas físicos, porém, apre- diagnóstico” e “vivência das relações
vação dos pacientes em atendimento,
sentam características complexas que interpessoais com a doença”. A análise
registrada em diário de campo, e entre-
demandam estudos baseados nas vistas semi-estruturadas, agendadas e permitiu apreender uma trajetória
ciências humanas e sociais aplicadas à realizadas na própria clínica. As entrevis- comum aos pacientes com diagnóstico
saúde. Sato7 defende a importância de tas partiam de questões norteadoras – de DORT.
se incorporarem categorias antropo-
lógicas, sociológicas e psicossociais,
visando aprofundar o entendimento desses Quadro 1 Caracterização dos informantes
distúrbios. Além da incapacidade para o Sujeito Idade* Sexo Diagnóstico Função
trabalho e influência na maior parte das
T1 46 M Lombalgia Agente administrativo
atividades cotidianas, os aspectos
T2 46 F Tendinite do supra-espinhoso Professora
subjetivos dos pacientes incluem intenso
sofrimento físico e psíquico8. T3 49 M Cérvico-braquialgia Técnico de usina de asfalto
T4 53 F Lesão de manguito rotador Professora
Assim, elucidar aspectos subjetivos
T5 55 M Tendinite do supra-espinhoso Professor
dessas doenças é tão significativo quan-
T6 44 F Epicondilite lateral Agente administrativa
to conhecer seus sinais e sintomas. Este
estudo objetivou descrever a percepção T7 53 F Lesão de manguito rotador Professora
de servidores municipais com T8 40 F Epicondilite lateral Agente administrativa
diagnóstico de DORT, verificando o T9 57 F Síndrome do túnel do carpo Agente administrativa
impacto desta em seu cotidiano. * em anos; M = masculino; F = feminino

346 Fisioter Pesq. 2008;15(4):345-8


2008;15(4)
Frota & Filgueiras Servidores públicos com diagnõstico de DORT

Reações frente ao diagnóstico Neste estudo, alguns trabalhadores


demonstraram decepção e frustração:
Os centros de referência de saúde dos
trabalhadores, na relação com a rede de
Observou-se que os trabalhadores assistência e reabilitação, deveriam sofrer
T1 Aí veio a decepção, de mim como
procuram negar o surgimento dos pri- modificações com ênfase à capacitação,
ser humano. A idéia é que eu era
meiros sintomas. Essa negação é uma atualização e organização dessa deman-
de ferro, não ficava doente, tá – e
forma de resistência, não-intencional, da, a partir de uma maior compreensão
a gente se depara com uma
uma reação defensiva, de acordo com da complexidade do fenômeno, tendo
situação que vê que é frágil. Uma
suas crenças e valores11. Apenas uma como referência um modelo de cuidado
coisinha simples.. e você tá
pequena parcela das pessoas acometi- integral2.
imobilizado!
das relata a doença espontaneamente,
T6 Aí fiquei triste, porque minha vida
o que dificulta medidas eficazes de
é computador, adoro digitar,
Relações interpessoais
controle12.
trabalho com isso há muito O trabalhador sofre com a discrimi-
T2 [No começo] era só assim, aquele tempo... nação pois, além dos profissionais de
cansaço no braço. Várias vezes, saúde, muitas vezes o meio social não
Apreende-se, das entrevistas, uma
eu começava a escrever no reação de surpresa frente ao diagnóstico. dá crédito às suas queixas, gerando
quadro, quando levantava o No entanto, observa-se nos discursos a hostilidade. Murofuse e Marziale15 tam-
braço, dava vontade de soltar o existência de dor prévia, que se revela bém observaram isso, quando uma
giz de uma vez, certo? E eu achei somente após o laudo médico. O informante declara que “gostaria de ter
que não era nada, eu achava que diagnóstico significa a institucionali- o braço amputado para que as pessoas
era, tipo, cansaço, a gente acha zação da doença; o estado subjetivo de pudessem acreditar em sua doença”.
que tá cansada, não dormiu... sofrimento adquire um nome científico, Essa situação gera angústia para o
T3 Comecei a sentir cansaço no um tratamento específico, implica trabalhador, pois, além de fisicamente
braço e passei a trabalhar depois, normas e leis; há uma identificação com incapacitado para o trabalho – e para
mesmo sentindo, e com o tempo outros que sofrem o mesmo problema. outras atividades –, tem de conviver com
senti necessitar de médico... Esse é um traço da cultura influencia- o descaso e desconfiança de seu entorno.
da pelo paradigma biomédico: o sujeito O sentimento de perda de esperança no
O reconhecimento e aceitação do
está doente ou sadio desde que haja futuro é reflexo de uma ideologia de
diagnóstico pelo paciente é dificultado
julgamento de um especialista. O culpabilização individual8.
ainda pela crença de alguns profissionais desprezo pela subjetividade é, portan-
de saúde na capacidade de simulação T6 Me senti excluída, senti que a
to, um obstáculo a ser superado na con-
por parte dos pacientes, para a obtenção gente faz tudo e, na hora da
quista da humanização do processo
de ganhos secundários13, como licença saúde-doença. A subnotificação de doença, você não é nada.
médica ou redução de carga horária para casos de DORT no Brasil é provocada T8 Acham que eu tou brincando, não
tratamento. por essa realidade, uma vez que se vêem nada... Aí dizem, ´Ah, você
O trabalhador, conscientemente ou observa, na formação médica, a desva- tá com manha’. ‘Não quer
não, pode reorganizar a vida de acordo lorização do trabalho como fator trabalhar, diga, dá o lugar pra
com determinada limitação imposta pela etiológico de doenças13. Em parte, isso outro’, ficam fazendo hora, né [...]
doença e prosseguir com sua atividade se deve à formação do profissional de A dor a gente agüenta, mas os
saúde, que é preparado para reconhecer outr os acharem que você tá
Assim, enquanto a sintomatologia se
sinais clínicos objetivos das doenças e brincando, é o que mais inco-
encontra nos limites considerados normais
laudos de exames complementares, moda.
– quando o indivíduo é capaz, de alguma
subestimando-lhes o valor subjetivo,
forma, de se adaptar às novas limitações Percebe-se como característica do
sendo que as DORT, na maioria dos
impostas – não se percebe doente, adoecimento por DORT a exclusão
casos, não apresentam sinais clínicos ao
admitindo determinado sintoma como social dos trabalhadores acometidos2.
exame físico13.
natural. Existe uma produção da culpa, o que
A valorização da narrativa do doente exige a análise dos fatores psicossociais
Segundo Sullivan et al.14, ao perceber- é fundamental para um atendimento
se doente, o sujeito experimenta sen- da doença, indicando o efeito da culpa
humanizado. A perspectiva da DORT é e suas conseqüências, tais como a baixa
timentos de injustiça, perda e culpa. particularmente influenciada, pois o
Associados à dor, é comum surgirem auto-estima, por estarem incapazes para
diagnóstico é esclarecido com base, o trabalho17.
traços de depressão entre trabalhadores entre outros aspectos, na fala do
acometidos por DORT5,6. Nesse sentido, trabalhador10. Dessa forma, a atenção à Índices elevados de depressão, ansie-
além do sofrimento físico causado pela saúde do trabalhador exige a formação dade, somatização e distúrbios de
lesão, o trabalhador enfrenta uma carga e atuação de profissionais com uma personalidade são mais elevados em
emocional significativa, que se reflete visão ampla da realidade, sem espaço pacientes com dor crônica quando com-
diretamente em sua condição de saúde. para reducionismos. parados à população em geral16. Ficam

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :345-8 347


bastante claros esses aspectos subjetivos passivo: a atribuição da capacidade de trabalhadores públicos municipais,
das DORT na população estudada. julgar o outro por parte de quem sofre o principalmente no âmbito das relações
julgamento torna o envergonhado vítima interpessoais e no enfrentamento subje-
Ressalta-se uma reação significativa, tivo da doença. O diagnóstico de DORT
e cúmplice do processo.
percebida no discurso dos informantes, é inicialmente negado pelos servidores,
que se caracteriza como o sentimento de que evitam procurar atendimento
vergonha, entendido como reação
provocada pelo juízo alheio. No entan-
CONCLUSÕES especializado. Esse fato é importante pela
subnotificação gerada, o que provoca
to, segundo De La Taille17, o sujeito que O estudo revelou que as DORT limitação nas medidas de prevenção e
sofre a vergonha não é completamente produzem grande impacto na vida dos controle das DORT.

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Incapacidade funcional associada à lombalgia em cuidadores de crianças


com paralisia cerebral grave
Functional disability associated to low-back pain in caregivers of children
with severe cerebral palsy
Angélica Campos Maia1, Camila Bruno Fialho1, Marcus Alessandro de Alcântara2, Rosane Luzia de Souza Morais2

Estudo desenvolvido no Depto. RESUMO: O objetivo deste estudo foi analisar a contribuição de variáveis físicas,
de Fisioterapia da UFVJM – psicossociais e sociodemográficas para a ocorrência de incapacidade funcional
Universidade Federal dos Vales associada à dor lombar entre cuidadores de crianças com paralisia cerebral grave.
do Jequitinhonha e Mucuri, A amostra foi composta de 45 cuidadores com lombalgia crônica. Foram coletados
Diamantina, MG, Brasil dados sociodemográficos e aplicados instrumentos sobre intensidade da dor,
1 satisfação com a vida e incapacidade funcional. Os dados foram tratados
Graduandas em Fisioterapia na estatisticamente e o nível de significância fixado em p<0,05. As variáveis que
UFVJM apresentaram correlação significativa com incapacidade (p<0,05) foram inseridas
2
Profs. Ms. assistentes do Depto. no modelo de regressão linear múltipla. A média de intensidade da dor foi
de Fisioterapia da UFVJM 5,67±2,23; os escores médios de satisfação com a vida foram de 18,9±6,64 e de
incapacidade, 9±5,35. Apenas a correlação entre intensidade de dor e incapacidade
ENDEREÇO PARA foi significativa (r=0,34; p=0,021). A análise de regressão linear múltipla confirmou
CORRESPONDÊNCIA a intensidade da dor como o maior preditor de incapacidade e explicou 11% da
incapacidade (r=0,36; p<0,05). A intensidade da dor lombar é pois um preditor
Marcus A. Alcântara moderado de incapacidade, mas não foi encontrada interferência das variáveis
R. Violetas 175-A Jardim sociodemográficas e satisfação com a vida no grau de incapacidade funcional dos
39100-100 Diamantina MG cuidadores de crianças com paralisia cerebral.
e-mail:
alcantaramarcus@hotmail.com DESCRITORES: Avaliação da deficiência; Cuidadores; Dor lombar

ABSTRACT: The aim of this study was to assess the contribution of physical, psychosocial,
and sociodemographic variables to disability due to low-back pain among caregivers
of children with severe cerebral palsy. The sample was made up of 45 caregivers
with chronic back pain. Socio-demographic data, as well as pain, satisfaction with
life and functional disability measures were collected. Data were statistically treated
and significance level set at p<0.05. Variables showing significant association with
disability (p<0.05) were entered in a multiple linear regression model. Mean score
for pain was 5.67±2.23; for satisfaction with life, 18.9±6.64; and for disability,
9±5,35. Association between intensity of pain and disability was the only significant
one found (r=0.34; p=0.021). Linear regression analysis confirmed that pain intensity
is a major disability predictor and explained 11% of the disability (r=0.36, p<0.05).
Low-back pain intensity is then a moderate predictor of functional disability, but
APRESENTAÇÃO
no interference could be found of socio-demographic features or satisfaction with
jul. 2008
life in caregivers of children with cerebral palsy.
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
nov. 2008 KEY WORDS: Caregivers; Disability evaluation; Low-back pain

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :349-54 349


INTRODUÇÃO METODOLOGIA como a avaliação global da qualidade
de vida de uma pessoa de acordo com
A lombalgia é uma das doenças mais Os dados deste estudo transversal seus próprios critérios22,23. O instrumento
freqüentes do mundo industrializado e gera foram coletados em amostra de con- traz cinco afirmativas e o respondente
impactos não apenas na saúde física, mas veniência pelo recrutamento prospectivo marca sua concordância ou não em uma
também interfere na funcionalidade e de 64 cuidadores (sem restrição de sexo, escala tipo Likert de sete pontos (varian-
qualidade de vida dos indivíduos1-3. Mais raça ou idade) de crianças com PC, do de 1, “Discordo totalmente”, a 7,
de 70% da população mundial já expe- usuárias do Núcleo de Reabilitação “Concordo totalmente”). Os valores são
rimentou dor lombar, o que revela um Nossa Senhora da Saúde, de Diaman- somados; escores acima de 20 pontos
problema de grandes proporções, com tina, MG. indicam que o indivíduo está satisfeito
enormes conseqüências para o indivíduo com sua vida.
Para serem incluídos no estudo, os in-
e sociedade1,2,4-6. divíduos deveriam ter como ocupação O Questionário de Roland-Morris
A lombalgia é classificada como primária a atividade de cuidar de criança (QRM) avalia a incapacidade funcional
crônica quando há sintomas recorrentes por com PC14 e apresentar sintomas recor- como resultado de dor lombar, sendo uma
rentes de dor lombar por mais de 12 das ferramentas mais utilizadas para
mais de 12 semanas7,8. Os fatores de risco
semanas15. A criança deveria ter diag- avaliar essa condição1,2,19. Esse questio-
para desenvolver a lombalgia crônica
nóstico clínico de PC, idade entre 6 e nário, desenvolvido e validado por
podem ser individuais (idade, sexo, nível
12 anos e ser classificada como nível IV Roland e Morris (1983), foi adaptado
educacional, desemprego), psicossociais
ou V no Sistema de Classificação da para a população brasileira por
(estresse, crenças sobre a dor) e
Função Motora Grossa para Paralisia Nusbaum et al. 24 e tem adequadas
ocupacionais (satisfação com o trabalho,
Cerebral - GMFCS 18 . Esse sistema propriedades psicométricas. O instru-
movimentos de rotação ou inclinação do
classifica 5 níveis de função motora gros- mento é aplicado pela leitura de 24
tronco)8-10. Nesse sentido, há uma mul-
sa a partir da observação das habilidades afirmativas que descrevem limitações
tiplicidade de fatores que contribuem
e limitações apresentadas na movi- funcionais comumente relacionadas à
para o desenvolvimento e manutenção da
mentação espontânea, sendo que os dor lombar. O entrevistado é instruído a
dor lombar crônica que, por sua vez, pode responder sim para as frases que o
níveis IV e V representam maior com-
levar à redução da capacidade funcio- descrevem no momento. Os escores
prometimento motor. Os indivíduos com
nal6,11,12. variam de 0 a 24, somando-se as respos-
relatos de cirurgia ou fratura na coluna,
Apesar dos vários fatores de risco história de dor crônica não-lombar ou tas afirmativas; escores acima de 14
envolvidos, o impacto da lombalgia nos múltiplas queixas de dor foram excluídos. indicam incapacidade significativa24.
cuidadores de crianças com paralisia
cerebral (PC) tem sido pouco estudado. Na Coleta de dados Procedimentos
PC há desordens do desenvolvimento
motor e cognitivo e, quanto maior o Os dados sociodemográficos foram Inicialmente foi realizado um estudo-
comprometimento, mais dependente a coletados por meio de um protocolo de piloto para treinamento das pesquisado-
criança se torna de um cuidador13-15. Isso entrevista estruturada elaborado para ras e realização das medidas de confia-
justifica a alta incidência de dor lombar este estudo, reunindo informações sobre bilidade.
em mais de 70% dos cuidadores de sexo, idade, estado civil, escolaridade, Os participantes do estudo foram
crianças que necessitam de assistência tempo de início dos sintomas e ocupa- selecionados pela busca de crianças
para transferências16. Além disso, estudos ção dos sujeitos. com diagnóstico de PC nos arquivos do
demonstram que cuidadores de crianças Para medir a intensidade da dor foi referido Núcleo de Reabilitação. En-
com limitações funcionais são mais utilizada uma escala visual analógica quanto os cuidadores dessas crianças
susceptíveis a experiências de depressão (EVA). É um instrumento amplamente aguardavam o atendimento, eram abor-
e estresse, quando comparados a cuida- utilizado, considerado padrão-ouro para dados pelas pesquisadoras, que for-
dores de crianças sem incapacidades17. mensurar a intensidade da dor1-4,11,19. É neciam explicações sobre os objetivos
uma escala simples de auto-avaliação da e procedimentos da pesquisa. Após o
Estudar o impacto funcional da dor
dor, onde o sujeito marca numa régua participante concordar em participar da
lombar em cuidadores de crianças com
de 0 a 10 o ponto que melhor define pesquisa, era obtida a assinatura do
PC num modelo multidimensional
sua dor no momento da entrevista; 0 termo de consentimento. Esta pesquisa
poderá fornecer informações para o
representa ausência de dor e 10 a pior foi aprovada pelo Comitê de Ética em
entendimento da saúde física e psicos-
dor possível. Pesquisa da Universidade Federal dos
social dessa população. Assim, o obje-
Vales Jequitinhonha e Mucuri.
tivo deste estudo foi analisar a con- Para estimar a qualidade de vida, este
tribuição da dor lombar e de variáveis estudo utilizou a versão adaptada para Foram selecionados 64 cuidadores de
psicossociais e sociodemográficas para o português da Escala de Satisfação com crianças com PC. Destes, 45 preenche-
a ocorrência de incapacidade funcional a Vida (ESV), instrumento descrito com ram os critérios de inclusão e 19 foram
entre cuidadores de crianças com pa- adequadas propriedades psicométri- excluídos (18 por não comparecer ao
ralisia cerebral grave. cas20,21. Satisfação com a vida é definida serviço de reabilitação durante o período

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Maia et al. Lombalgia em cuidadores de pacientes com PC

de entrevistas e 1 por se recusar a parti- teste-reteste de cada uma das entre- escala de satisfação com a vida variaram
cipar). vistadoras variou de moderada a boa, de 7 a 35 pontos (média 18,9±6,64),
com a de 0,97 e 0,99 para intensidade com 64% dos participantes declarando-
Análise estatística da dor, 0,94 e 0,99 para satisfação com
a vida e 0,66 e 0,71 para incapacidade.
se insatisfeitos com a vida.

Inicialmente, a confiabilidade intra e As características sociodemográficas Incapacidade


inter-examinador foi verificada num dos sujeitos estão apresentadas na Tabela
estudo piloto. Em seguida, foi realizada 1. A média de idade dos participantes As variáveis que se associaram signi-
análise descritiva da amostra, medindo- ficativamente à incapacidade (α=5%)
foi de 35,1±8,65 anos (amplitude: 14–
se a tendência central (média) e dispersão 49), com predominância de indivíduos foram selecionadas para o modelo de
(desvio-padrão), freqüência e porcen- do sexo feminino (96%) e casados regressão linear múltipla. Nenhuma
tagem. Utilizou-se o programa estatístico (40%). Em relação à escolaridade, mais variável sociodemográfica se associou
SPSS. Todos os dados quantitativos foram da metade (51%) dos participantes com incapacidade (p>0,05), embora este
submetidos ao teste de normalidade de relataram quatro anos ou menos de estudo tenha considerado um valor de
Shapiro-Wilk para definir os testes a se- p mais conservador (dados não tabula-
estudo. Quanto à ocupação, houve
rem realizados (paramétrico ou não) nas predomínio de pessoas exclusivamente dos). Entre as variáveis clínicas, apenas
análises bivariadas. Nestas, foram rea- cuidadoras (73%). A média de duração intensidade da dor apresentou corre-
lizados testes para verificar quais fatores da dor foi de 37±28,5 meses (amplitude lação significativa com incapacidade
(variáveis independentes) estariam as- 5-120 meses). (r=0,34; p<0,05) (Tabela 2).
sociados à incapacidade (variável de-
Os participantes relataram níveis Os escores obtidos na ESV também
pendente). Como os escores do QRM
variados de dor, em sua maioria refe- não se associaram significativamente
não apresentaram distribuição normal,
foram usados os testes Mann-Whitney rindo intensidade 4 a 8
para comparações entre dois grupos, (78%), com valor médio
de 5,7±2,2 (amplitude: Tabela 2 Relação entre incapacidade (variável
Kruskal-Wallis para variáveis categóricas
1–10). Com relação à dependente) e dor & satisfação com a vida
com três ou mais grupos e teste de
(SV) – média, desvio padrão (DP) e
correlação de Spearman para variáveis incapacidade funcional,
correlação de Spearman (r)
contínuas. o escore médio foi de
9±5,35 pontos (amplitu- Variável Variação Média DP r (dor) r (SV)
Na análise multivariada, o método de: 0–20), com menos
usado foi de regressão linear múltipla Incapacidade (1) 0 – 24 9 5,35 0,34* 0,43
de 10% dos cuidadores
com entrada hierarquizada, no qual a apresentando escores de Dor (2) cm 0 – 10 5,67 2,23 - -0,12
escolha das variáveis se baseia em incapacidade superiores SV (3) 7 - 35 18,9 6,64 - -
critérios estatísticos, bem como relações
a 14 (que corresponde a (1) medida pelo questionário Brasil-RM; (2) avaliada por
teóricas25. Assim, as variáveis que se incapacidade signifi-
correlacionaram significativamente com EVA; (3) Satisfação com a vida, medida pela ESV; *p<0,05
cativa). Os escores na
incapacidade e apresentaram coeficien-
tes de regressão com nível de signifi- Tabela 1 Características com incapacidade (r=0,43; p=0,78).
cância α=0,15 permaneceram no mode- sociodemográficas dos Apesar disso, julgou-se importante
lo. As variáveis que não contribuíram sujeitos incluir essa variável, uma vez que o
para o modelo foram excluídas e aquelas Característica n % papel das dimensões psicossociais da
que alcançaram um nível de signifi- saúde é representativo e pelo fato de a
Sexo
cância menor que 0,10 permaneceram interferência da satisfação com a vida
Homens 2 4,4
no modelo final. Esse procedimento sobre a incapacidade estar diretamente
Mulheres 43 95,6
permite avaliar o aumento na explicação relacionada aos objetivos do estudo.
da variável dependente pela adição de Estado civil
cada variável independente na equação. Solteiro 8 17,8 Seguindo os critérios já descritos, ape-
Casado 18 40,0 nas as variáveis intensidade da dor e
Separado/divorciado 2 4,4 satisfação com a vida foram selecionadas
RESULTADOS Viúvo 2 4,4 para a análise de regressão, tendo a
incapacidade como variável resposta ou
Escolaridade
Foram realizados testes de confiabi- Analfabeto 1 2,2 desfecho. Inicialmente, intensidade da
lidade intra e inter-examinadores com 1ª-4ª série 22 48,9 dor foi adicionada ao modelo e explicou
replicação dos testes em intervalos de 5ª-8ª série 12 26,7 11% da variabilidade da incapacidade
48 h entre as entrevistas para as medidas Ensino médio 10 22,2 (p=0,016) (Tabela 3). No segundo passo,
de intensidade da dor, satisfação com a Ocupação satisfação com a vida foi incluída, mas
vida e incapacidade. Respectivamente, Cuidador 33 73,3 não houve mudanças significativas na
o valor de a entre os examinadores foi Cuidador remunerado 10 22,2 explicação do modelo e a mesma foi
0,90, 0,98 e 0,81. A confiabilidade do Cuidador+outro emprego 2 4,4 removida (p=0,54).

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :349-54 351


Observou-se no modelo final que a cação da incapacidade entre cuidadores pessoas relatem níveis mais baixos de
relação entre intensidade da dor e inca- de crianças com PC. A satisfação com a incapacidade34.
pacidade apresentou um coeficiente de vida, apesar de associada à incapa-
As variáveis sociodemográficas não se
regressão ß=0,36 e explicou 11% da cidade em condições crônicas de saúde,
associaram significativamente à incapa-
incapacidade (p<0,05). parece não estar relacionada a desfechos
cidade. Apesar de alguns estudos defen-
funcionais, ou seja, uma
derem sua importância para ocorrência
baixa satisfação com a
Tabela 3 Relação entre incapacidade funcional e de incapacidade crônica, quando anali-
vida pode ou não gerar
intensidade da dor pela análise de regressão sadas em conjunto a outras variáveis,
incapacidade2. Rabini et
al.26 postulam que não aquelas características tendem a apre-
Variável E p F R
2 2
R ajust apenas os fatores mecâ- sentar fraca ou nenhuma associação
nicos e orgânicos, mas com constructos multidimensionais,
Passo 1 como qualidade de vida25 e incapaci-
Dor (1) 0,36 0,016 6,305* 0,13 0,11 também os sensoriais,
afetivos, ambientais e dade6. É possível que a pouca varia-
Passo 2 emocionais causam in- bilidade das características analisadas
Dor (1) 0,37 0,014 capacidade e deterio- tenha interferido nos resultados. Autores
3,296* 0,14 0,09 argumentam que as diferenças sociode-
SV (2,3) 0,09 0,542 ração na qualidade de
vida. Kovacs et al.2 jus- mográficas podem ser minimizadas pela
(1) avaliada por EVA; (2) Satisfação com a vida, medida pela
tificam ainda que outros cronicidade da doença – a pessoa inter-
ESV; (3) variável removida; *p<0,05
fatores influenciam a pretaria estímulos negativos de forma
qualidade de vida de menos intensa25. São necessários estu-
pacientes com lombalgia crônica, que dos longitudinais analisando a interfe-
DISCUSSÃO E não são mensurados pelo QRM (tais rência dos fatores sociodemográficos
CONCLUSÃO como a ansiedade), o que deve ser con-
siderado em futuros estudos.
sobre a incapacidade e bem-estar.
É importante listar algumas limitações
O perfil sociodemográfico encontra- Como esperado, a intensidade da dor deste estudo. Primeiro, como a amostra
do foi similar ao de outros estudos que mostrou maior força de correlação com neste estudo foi de conveniência, é
utilizaram amostras de cuidadores em incapacidade, ou seja, com níveis mais composta quase exclusivamente por
relação à idade, sexo, estado civil e altos de dor, há maior impacto funcio- mulheres. Contudo, a maior prevalência
ocupação. São do sexo feminino, casa- nal10. De fato, segundo vários estudos, a de mulheres reflete o perfil dos cui-
das, geralmente a própria mãe da dor é um preditor da incapacidade2,6,8. dadores de crianças com PC, destacado
criança, e dedicam-se exclusivamente à A dor interfere diretamente na inca- em outros estudos14,17. Além disso, o
ocupação de cuidar9,14,17,26. pacidade e sofre influência indireta dos desenho transversal de natureza corre-
Os níveis de dor e incapacidade fatores psicossociais. Essa relação pode lacional não permite realizar inferências
relatados pelos participantes do estudo se tornar um ciclo vicioso, caso não haja de causa e efeito (termo preditor é inter-
foram moderados, confirmando outros uma abordagem ampla de todos os fa- pretado como de natureza estatística e
estudos de dor crônica3,8,27. Estudos de- tores que geram incapacidade2,19,28. não inferência causal). O modelo de re-
monstram que a cronicidade da dor gressão apresentado explicou apenas
Embora a intensidade da dor seja
produz ajustamentos no cotidiano da 11% de incapacidade Pesquisas mais
considerada um dos mais importantes
pessoa, sugerindo um comportamento abrangentes também não foram capazes
preditores de incapacidade, isolada-
de aceitação ou adaptação à nova de desenvolver um modelo altamente
mente ela explicou apenas parte dessa
realidade28-30. A maior parte da amostra explicativo, uma vez que a incapacidade
variável32. Estudos defendem a existência
deste estudo declarou-se insatisfeita com é um constructo amplo, e influenciado
de outros fatores que interferem no nível
sua vida. Cuidadores de crianças com por diversos fatores2,6,33. A ausência de
de incapacidade, como depressão, re-
limitações funcionais estão mais sus- informações relacionadas à situação
ligião e estratégias de enfrentamen-
ceptíveis à depressão e estresse que socioeconômica, depressão, espiritua-
to6,26,29,33. Alcântara10 analisou o efeito
aqueles cuidadores de crianças sem li- lidade, crenças e atitudes frente à dor
mediador de crenças e atitudes frente à
mitações, o que pode estar relacionado (que não foram aqui investigadas)
dor na dinâmica dor/incapacidade e
a prejuízos na satisfação com a vida30. podem influenciar o nível de incapaci-
demonstrou que a influência das
Além disso, a demanda por cuidados dade, como demonstrado em outros
variáveis psicossociais sobre a inca-
gerada pela alta dependência das estudos6,10,11,32. Novos estudos devem
pacidade foi superior aos fatores físicos.
crianças pode causar um sentimento de incluir outras variáveis psicossociais,
No presente estudo aparece ainda o
autocobrança e limitar o tempo para como crenças sobre a dor, e explorar me-
vínculo familiar como influenciador do
cuidar de si mesmos, o que tem impacto lhor os fatores que influenciam a incapa-
processo. Sendo a maioria dos cuida-
negativo na qualidade de vida dessas cidade e satisfação com a vida dos
dores a própria mãe da criança, existe o
pessoas17,31. cuidadores de crianças com PC.
sentimento de obrigação de cuidar,
Neste estudo, a variável satisfação ainda que haja prejuízos a seu estado Apesar de a interferência das variáveis
com a vida não contribuiu para a expli- de saúde, o que faz com que essas sociodemográficas e satisfação com a

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Maia et al. Lombalgia em cuidadores de pacientes com PC

vida não ser significativa, a intensidade da possível afirmar que terapêuticas disso, é imprescindível intervir precoce-
dor foi apontada como preditor moderado destinadas apenas aos domínios físicos mente sobre essa condição de saúde,
de incapacidade, confirmando outros da lombalgia crônica podem ser insu- antes que esses problemas se tornem
achados. Isoladamente, essa variável ex- ficientes para tratar essa condição de crônicos e conduzam à incapacidade.
plicou apenas parte da incapacidade, saúde. Torna-se necessário propor abor- Tais intervenções poderão reverter-se em
evidenciando que outros fatores estão dagens terapêuticas que considerem os benefícios para o cuidador, para a crian-
envolvidos nesse processo. Assim, é fatores biológicos e psicossociais. Além ça e seus familiares.

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2008;15(4)
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.355-60, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Nifedipina promove diminuição da qualidade óssea em ratas com osteopenia


Nifedipine decreases bone quality in female rats with osteopenia
Dernival Bertoncello1, Andrezza Ferreira da Silva2, Juliana Almeida de Souza Borges2

Estudo desenvolvido no Curso RESUMO: O objetivo do trabalho foi avaliar, por parâmetros biomecânicos e físicos, a
de Fisioterapia da Uniube – qualidade óssea dos fêmures de ratas ovariectomizadas tratadas com nifedipina.
Universidade de Uberaba, Foram utilizadas 28 ratas Wistar, de 4 meses de idade, divididas nos grupos: intactas
Uberaba, MG, Brasil (Int); ovariectomizadas tratadas com salina (Ovx+Sal); ovariectomizadas tratadas
1 com nifedipina (Ovx+Nfd), intactas tratadas com nifedipina (Int+Nfd). O tratamento
Prof. Dr. adjunto do Curso de durou oito semanas, seis dias por semana, com administração de nifedipina ou
Fisioterapia da UFTM – salina, por gavage, na dose de 10 mg e 0,1g/100g PC respectivamente. Tendo-se
Universidade Federal do
retirado o fêmur direito de cada animal, verificou-se a carga máxima suportada, a
Triângulo Mineiro, Uberaba,
MG densidade mineral e a qualidade óssea. Os resultados foram analisados
estatisticamente, com nível de significância fixado em p<0,05). Houve diminuição
2
Fisioterapeutas; pós-graduandas significativa da carga máxima dos fêmures dos animais tratados com nifedipina
em Fisioterapia Hospitalar (grupos Ovx+Nfd e Int+Nfd). Nesse último grupo, houve aumento significativo da
Geral na UFTM densidade mineral. Os resultados mostram que o tratamento com nifedipina
promove pior qualidade óssea dos fêmures de ratas.
ENDEREÇO PARA DESCRITORES: Densidade óssea; Doenças ósseas metabólicas; Nifedipina; Ratos
CORRESPONDÊNCIA

Prof. Dr. Dernival Bertoncello ABSTRACT: The aim of this study was to assess, by biomechanical and physical
Curso de Fisioterapia /UFTM parameters, the bone quality of femurs from ovariectomized female rats treated
Av. Frei Paulino 30 Abadia with nifedipine. Twenty eight Wistar female rats, 4 months old, were divided into
38025-180 Uberaba MG four groups: intact (Int); intact treated with nifedipine (Int+Nfd); ovariectomized
e-mail: treated with saline (Ovx+Sal); ovariectomized treated with nifedipine (Ovx+Nfd).
bertoncello@fisioterapia.uftm.edu.br Treatment was carried out for eight weeks, six days per week, with administration
of 10 mg of nifedipine or 0.1/100g BW of saline, by gavage. After removing the
right femur of each animal, maximum load support, mineral density, and bone
quality were assessed. Results were statistically analysed and significance level set
at p<0.05. A significant reduction of maximal load support was found in femur of
APRESENTAÇÃO rats treated with nifedipine (Ovx+Nfd and Int+Nfd groups). In the latter group, a
jul. 2008 significant increase in mineral density was noticed. Results show that treatment
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO with nifedipine resulted in lower bone quality.
nov. 2008 KEY WORDS: Bone density; Bone diseases, metabolic; Nifedipine; Rats

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :355-60 355


INTRODUÇÃO pela elevada ligação às proteínas plas-
máticas e metabolismo extenso. Ela
inferências para intervenções terapêuti-
cas sobre o tecido ósseo, na prevenção
Sabe-se que o osso é uma forma rígida bloqueia a entrada do íon cálcio ao lon- de alterações estruturais ou da perda de
de tecido conjuntivo que está geralmente go das zonas selecionadas sensíveis à massa óssea.
disposto em estruturas definidas, agru- voltagem, chamadas canais lentos,
padas em células (principalmente através das membranas celulares do
osteoblastos e osteoclastos) e uma matriz músculo liso e cardíaco. Ao diminuir a METODOLOGIA
extracelular formando o esqueleto. A concentração de cálcio intracelular,
dilata as artérias coronárias, artérias e Este foi um ensaio controlado rando-
matriz intercelular é formada por uma
arteríolas periféricas, e pode diminuir a mizado. Foram utilizadas 28 ratas Wistar,
fração orgânica e outra inorgânica. A
freqüência cardíaca, reduzir a contratili- com 4 meses de idade, provenientes do
fração orgânica do tecido ósseo consiste
dade miocárdica e retardar a condução biotério da Universidade de Uberaba.
em 90% a 95% de fibras colágenas e o
nodal átrio-ventricular. Elas ficaram mantidas em um regime de
restante é constituído por meio gelatino-
claro/escuro de 12 horas e temperatura
so homogêneo denominado substância Souza et al.10 avaliaram a influência controlada, com água e ração comercial
amorfa. Os componentes inorgânicos da nifedipina no bloqueio neuromus- à vontade, durante todo o período de
proporcionam rigidez ao osso e são cular produzido pelo atracúrio e cisa- experimento.
constituídos principalmente de fosfato e tracúrio (anestésicos) em um estudo em
de carbono de cálcio, com baixa quan- preparações do nervo frênico-diafragma Para realização do trabalho, conforme
tidade de hidróxido, fluoreto e sulfato de ratos e concluíram que a nifedipina as normas do comitê de ética em
de magnésio, variando segundo a idade potencializou o bloqueio neuromuscular pesquisa institucional, foram seguidos
e uma série de fatores de dieta1,2. produzido pelo atracúrio e cisatracúrio, todos os princípios propostos por alguns
onde estudos eletrofisiológicos demons- autores11 e ratificados pela Unesco, em
Segundo Bedani e Rossi3, o cálcio tem
traram ação pré-sináptica e ausência de 1978, que elaborou a Declaração dos
grande importância para a prevenção de
ação despolarizante sobre a fibra mus- Direitos dos Animais. O experimento
algumas doenças, inclusive a osteopo-
cular. Embora a nifedipina administrada cercou-se de todos os cuidados neces-
rose, e estudos demonstram relação
isoladamente não altere a amplitude das sários para evitar o sofrimento de cada
positiva com a sua suplementação na
respostas musculares, ela aumenta animal12.
dieta. Essa doença é considerada impor-
tante problema de saúde pública e está significativamente a atividade bloquea- Os animais foram divididos nos
presente, em média, em 15% da popu- dora neuromuscular produzida pelos seguintes grupos: ovariectomizadas
lação mundial de 50-59 anos de idade4, anestésicos. tratadas com salina (Ovx+Sal, n=7);
provavelmente afetando 15 milhões de ovariectomizadas tratadas com nife-
Petermann et al. 6 avaliaram o
brasileiros. Manifesta-se no decorrer da dipina (Ovx+Nfd, n=7); intactas (Int,
efeito da nifedipina nas reservas mus-
idade e principalmente em mulheres n=7): intactas tratadas com nifedipina
culares de glicogênio em ratos imobili-
pós-menopausa, pois não há tratamento (Int+Nfd, n= 7). A ovariectomia foi
zados e constataram aumento nessas
eficaz e sim preventivo. Sabe-se que está realizada conforme técnica descrita por
reservas energéticas, sugerindo que a
relacionada à remodelação óssea e, Zarrow et al.13.
nifedipina interfere no processo da
conseqüentemente, ligada ao cálcio5.
atrofia desencadeadas pelo período O tratamento dos animais ocorreu
Alguns estudos demonstram o papel inicial de desuso da musculatura. Verifica- durante oito semanas, seis dias por
da nifedipina como bloqueador de ram que a nifedipina impediu a proteólise semana. A dose de nifedipina foi de 0,1
canais de cálcio em tecido muscular liso em decorrência da imobilização, consta- ml, por gavage, diariamente, entre 10-
e esquelético, porém há certa escassez tando que ela reduz a atividade das 12 h. A dose de salina utilizada foi de
de estudos quanto à sua interferência no proteases cálcio-dependentes. 0,1 ml/100g peso corporal (PC), por
tecido ósseo6,7. Duarte et al.7 realizaram gavage, também diariamente, entre 10
A administração da nifedipina, um
um experimento de curta duração, em e 12 h.
bloqueador de canais de cálcio, é
que avaliaram a influência da adminis-
sugestiva para realização de uma análise No decorrer das seis semanas de trata-
tração de ciclosporina ou nifedipina e
óssea pelo fato de a literatura relatar que mento, semanalmente, foram verificados
sua interrupção sobre a densidade óssea
ela não tem efeito sobre a densidade os valores de peso corporal dos animais,
em uma região lateral à superfície de
óssea. Apesar de os estudos abordarem a fim de preparar a solução a ser inje-
implantes de titânio inseridos em coelho,
sua atuação sobre o tecido muscular, tada, de acordo com o peso de cada
concluindo que a nifedipina não apre-
não são bem conhecidos os efeitos no uma, bem como para avaliar o ganho
sentou influência negativa na densidade
osso de indivíduos osteopênicos. O de peso corporal.
do osso.
objetivo deste trabalho foi avaliar os
A nifedipina, indicada em casos de efeitos da nifedipina sobre o tecido ósseo Análise óssea
hipertensão arterial e doença arterial de ratas osteopênicas, por parâmetros
coronariana8,9, é uma droga adminis- biomecânicos e físicos. A rata ovariecto- Para obtenção dos valores da carga
trada por via oral, caracterizada pelo mizada constitui modelo experimental máxima, volume ósseo, densidade mi-
acentuado efeito de primeira passagem, de osteopenia e seu estudo permite neral, densidade óssea e qualidade do

356 Fisioter Pesq. 2008;15(4):355-60


2008;15(4)
Bertoncello et al. Nifedipina diminui qualidade óssea

osso, a análise óssea foi realizada pelas Após a obtenção dos resultados ração entre os grupos foi utilizado o teste
propriedades físicas do fêmur direito e referentes à densidade mineral e ao teste de Tukey-Kramer, sendo adotado para
o ensaio mecânico de flexão a três de flexão do fêmur direito, esses dados ambos um nível de significância de 5%.
pontos. foram relacionados entre si a fim de se
No final do experimento os animais
verificar a qualidade óssea, identificada
pela força máxima normalizada16.
RESULTADOS
foram sacrificados utilizando tiopental.
Foram retirados os fêmures, dissecados Em relação ao ganho de massa cor-
e mantidos em salina a 0,9% a -20 °C. Análise dos resultados poral dos animais, observou-se diferença
Doze horas antes dos ensaios, os ossos significativa comparando o grupo
foram descongelados à temperatura Para a análise simultânea dos grupos Ovx+Sal com o de ratas intactas e intactas
ambiente e mantidos em solução salina foi utilizado o teste Anova e para compa- tratadas com nifedipina (Gráfico 1).
até o momento imediatamente anterior g 60
ao teste. Foram medidos os comprimen- *
tos dos fêmures direitos com um pa- 50
químetro. Os ensaios mecânicos foram
realizados numa máquina de ensaio 40
universal Emic DL3000, em temperatura
ambiente, do Laboratório de Pesquisa 30
em Odontologia da Universidade de
Uberaba. As extremidades do fêmur 20
ficaram apoiadas em dois roletes com
diâmetro de 3 mm, suportados por 10

apoios distanciados de 20 mm.


0
A força foi aplicada perpendicular- Ovx+Nfd Ovx+Sal Int Int+Nfd
mente ao eixo longitudinal do osso, no Gráfico 1 Valores médios do ganho de peso corporal dos animais por grupo
sentido póstero-anterior, no meio da (*p<0,05 vs Int e Int+Nfd)
distância entre os dois apoios, por uma
haste cilíndrica com um rolete de 3 mm mg/cm3

fixada em sua extremidade, numa 2,5


velocidade constante de 0,5 cm/min até
a fratura do osso. Os gráficos de força 2
por deslocamento permitiram obter valo-
res de carga máxima suportada pelas 1,5
amostras até a fratura, e do deslo-
camento do travessão na carga máxima 1
(em mm).
Após o teste biomecânico, os ossos 0,5
foram mantidos em água destilada e
colocados no dessecador durante 24 0
horas a fim de ser retirado o ar dos poros Ovx+Nfd Ovx+Sal Int Int+Nfd
ósseos. Foram verificadas as seguintes Gráfico 2 Valores médios de densidade óssea dos fêmures por grupo
medidas de peso do osso: peso imerso
(Pi) e peso úmido (P). A seguir, os ossos mg/cm3

foram colocados em estufa a 100 °C 900


durante 24 horas para serem desidrata- 800 *
dos. Obteve-se em seguida o peso seco 700
(Ps). No passo seguinte, os ossos foram
600
colocados numa mufla a 800 oC durante
24 horas a fim de se obter somente o 500

material mineral, do qual também se 400


verificou o peso (Pm)14,15. 300
200
Para obtenção de todas as medidas
citadas, foi utilizada balança eletrônica 100
(Chyo). Seguindo o princípio de Arquimedes, 0
foram calculadas a densidade óssea e Ovx+Nfd Ovx+Sal Int Int+Nfd
mineral dos fêmures direitos, bem como Gráfico 3 Valores médios de densidade mineral dos fêmures por grupo (*p<0,01 vs
os respectivos percentuais ósseos. Ovx+Nfd)

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :355-60 357


kgf O músculo esquelético contém canais
16 # de cálcio tipo lento, semelhante ao
14 * observado nos músculos cardíaco e liso
vascular, com locais especiais de ligação
12 para os bloqueadores de canais de
10 cálcio. Esses canais, nos músculos liso
vascular e cardíaco, encontram-se situa-
8
dos sobre toda a membrana muscular e
6 são muito sensíveis aos bloqueadores de
canais de cálcio, enquanto que no mús-
4
culo esquelético são menos sensíveis e
2 localizam-se no sistema tubular trans-
0
verso. Devido a essas particularidades,
Ovx+Nfd Ovx+Sal Int Int+Nfd alguns processos fisiológicos na junção
neuromuscular ou no músculo podem
Gráfico 4 Valores médios de carga máxima suportada pelos fêmures por grupo ser alterados por drogas bloqueadoras
(*p<0,05 vs Int+Nfd; #p<0,05 vs Ovx+Nfd) de canais de cálcio9.
Sugere-se que a situação de relaxa-
kgf/(mg/cm3)
mento muscular prolongado devido ao
0,025 tratamento com nifedipina possa inter-
# *
ferir na mineralização óssea de forma
0,02 indireta, uma vez que deixa de haver
estímulo mecânico, essencial para as
0,015
células responsáveis pela deposição de
cálcio sobre a matriz.
0,01 No corpo humano adulto há cerca de
1.200g de cálcio, dos quais no mínimo
0,005
99% estão depositados no osso e o
restante disposto nas células e no líquido
extracelular, mantendo a homeostasia.
0
A concentração de cálcio é regulada
Ovx+Nfd Ovx+Sal Int Int+Nfd
com extrema precisão, sendo essencial
Gráfico 5 Valores médios da qualidade óssea dos fêmures (*p<0,05 vs Int+Nfd; # para que haja desempenho adequado
p<0,05 vs Ovx+Nfd) em muitos processos fisiológicos, como
a contração do músculo esquelético,
Não houve diferença significativa
entre os valores de densidade óssea com-
DISCUSSÃO cardíaco e liso, coagulação sangüínea,
transmissão de impulsos nervosos e
parando os quatro grupos, conforme o A nifedipina é um antagonista blo- formação do tecido ósseo. Os íons
Gráfico 2. queador de canal de cálcio tipo II do magnésio, sódio, potássio e carbonato
grupo de dihidropiridina. É utilizada em também estão presentes entre os sais
O Gráfico 3 indica os valores de
várias situações clínicas em que se ósseos. Esses íons e o cálcio são absor-
densidade mineral dos fêmures dos
deseja relaxamento de musculatura, vidos pelo intestino no tubo digestivo e
animais. Houve diferença significativa pelas células de absorção óssea, princi-
principalmente a lisa. Ela reduz a am-
entre os grupos Ovx+Nfd (613,64±21,3) palmente na presença de vitamina D1,2.
plitude e freqüência de contrações
e Int+Nfd (785,211± 52,33).
musculares e, portanto, atua como im- Propõe-se, então, que o tratamento
Houve diferença significativa entre os portante fármaco para controle da com nifedipina possa interferir nos níveis
valores da carga máxima suportada, hipertensão17,18. séricos de cálcio, alterando o processo
comparando os grupos Ovx+Sal de absorção de cálcio por meio da
Sabe-se que os bloqueadores de
(13,6±0,2) e Int (12,6±0,6) em relação vitamina D, reduzindo assim a absorção
canais de cálcio atuam impedindo o
aos demais grupos, como mostra o do íon pelo trato gastrintestinal.
influxo do mineral através da membrana
Gráfico 4.
dos canais lentos de cálcio. Alteram, As células osteogênicas são constituí-
O Gráfico 5 apresenta a qualidade óssea assim, a concentração de cálcio e de das por três tipos: os osteoblastos, os
dos fêmures. Houve maiores valores para adenosina monofosfato cíclico pré- osteócitos e os osteoclastos, que são
os grupos Ovx+Sal (0,0201±0,0006) e Int sináptica. Com isso, inibem a transmis- células relacionadas à formação de
(0,0181±0,0011), comparados cada qual são neuromuscular e a contração mus- matéria óssea do osso em crescimento.
com seu controle que recebeu nifedipina. cular propriamente dita19. Os osteoblastos secretam os componen-

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Bertoncello et al. Nifedipina diminui qualidade óssea

tes orgânicos da matriz, tendo certa posição desse mineral na estrutura óssea. física, contribuem para um balanço
influência sobre a incorporação de Apesar de interferir na absorção de negativo no equilíbrio da remodelação
minerais. Os osteócitos aparecem a cálcio pelo epitélio intestinal, supõe-se óssea, tendo a osteoporose como prin-
partir de osteoblastos, por modulação, que, direta ou indiretamente, atue pro- cipal conseqüência20.
e atuam na manutenção dos constituin- movendo a retirada de cálcio da matriz
Com base nos resultados aqui encon-
tes da matriz intercelular em níveis orgânica rígida, a fim de manter o nível
trados, sugere-se que o tratamento com
normais. Os osteoclastos estão normal- sangüíneo normal quando a absorção
nifedipina possa não prevenir o indi-
mente situados em depressões onde esta não é suficiente, causando um desequi-
víduo quanto ao desenvolvimento da
ocorrendo reabsorção óssea. Os íons líbrio entre as células osteogênicas19.
osteoporose, aumentando assim o risco
cálcio e fosfato, principais compostos A reabsorção óssea tem a função vital de fraturas, por interferir de forma
orgânicos do tecido ósseo, reagem entre de manter constantes os níveis de cálcio negativa na qualidade do tecido ósseo.
si para formar um composto relativamen- extracelulares. A síntese e mineralização
te insolúvel, o fosfato de cálcio, que for- Devido ao fato de que muitos indi-
da matriz óssea têm como principais víduos têm indicação para uso da nife-
ma a hidroxiapatita, o principal sal do objetivos repor o tecido ósseo perdido
osso, oferecendo resistência do osso à dipina, estudos mais específicos devem
pelo processo catabólico e suprir as ser realizados para corroborar estes
compressão1,2. necessidades do órgão de se adaptar às resultados. O uso da nifedipina de forma
À medida que a matriz óssea é condições funcionais. Ao longo da vida isolada ou combinada a outra terapêu-
formada, os osteoblastos ficam envoltos do indivíduo, vão sendo acumulados tica poderia auxiliar no controle da
por ela e passam a ser denominados desequilíbrios entre esses dois processos, hipertensão mas predispor a pessoa a
osteócitos. Essas células têm como principalmente em função da isocal- alguma disfunção no metabolismo do
função manter a viabilidade do tecido cemia. Com a supremacia do processo cálcio ósseo.
ósseo e reabsorver a matriz e os minerais catabólico, a perda óssea se instala, prin-
do osso pela osteólise osteocítica, meca- cipalmente se fatores inibidores da
nismo de reabsorção profunda, essencial neoformação óssea. como os inerentes
à senescência. estiverem associados.
CONCLUSÃO
para manter constantes os níveis de
cálcio extracelulares18. Assim, alterações no metabolismo, na O tratamento com nifedipina pro-
absorção de cálcio e no perfil hormonal, move menor tolerância à carga máxima,
A nifedipina, ao atuar nos níveis séri- principalmente em mulheres após a o que se reflete em menor qualidade
cos de cálcio, pode interferir na sobre- menopausa, associadas à inatividade óssea dos fêmures de ratas.

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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.361-6, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Atendimento de puérperas pela fisioterapia em uma maternidade


pública humanizada
Postpartum women assisted by physical therapy at a humanized
public maternity house
Mariana Tirolli Rett1, Nicole de Oliveira Bernardes1, Aline Maria dos Santos2,
Marcela Ribeiro de Oliveira2, Simony Cristina de Andrade2

Estudo desenvolvido na RESUMO: O objetivo foi descrever o perfil de puérperas atendidas pela fisioterapia
Maternidade Pública Municipal em uma maternidade pública de Betim, MG, e o atendimento a elas prestado,
de Betim, em parceria com a visando contribuir para a assistência fisioterapêutica obstétrica. Foi feito um
PUC-Minas Betim – Pontifícia levantamento de 215 fichas de avaliação fisioterapêutica de puérperas, contendo
Universidade Católica de Minas dados demográficos e clínicos, além dos registros específicos da fisioterapia. A
Gerais, campus de Betim, maioria da puérperas era jovem, do lar, casadas, multíparas e de Betim. Quanto à
Betim, MG avaliação das mamas, a maioria apresentou mamas simétricas, secretantes, mamilos
1 protrusos, tendo sido observados poucos traumas mamilares ou dificuldade na
Fisioterapeutas; doutorandas
em Tocoginecologia na amamentação; 62,3% das puérperas apresentavam diafragma normocinético, 85,1%
Unicamp; Profas. Ms. do som timpânico à percussão abdominal, involução uterina dentro da normalidade,
Estágio Supervisionado de 87,9% contração do assoalho pélvico presente, 30,3% edema em membros
Fisioterapia em Ginecologia e inferiores; a diástase dos músculos reto-abdominais foi de 2±1 e 1±1 dedos supra
Obstetrícia da PUC-Minas e infra-umbilical, respectivamente. As condutas adotadas foram: exercícios
Betim respiratórios diafragmáticos, abdominais isométricos, contração do assoalho pélvico;
exercícios circulatórios de membros inferiores, manobras de eliminação de flatos,
2
Graduandas em Fisioterapia na deambulação e orientação. O perfil das puérperas atendidas correspondeu ao
PUC-Minas Betim esperado, encontrando-se elas em estado de recuperação puerperal. A conduta
proposta pela fisioterapia foi realizada pela grande maioria das puérperas.
ENDEREÇO PARA
DESCRITORES: Parto humanizado; Período pós-parto; Serviço hospitalar de fisioterapia
CORRESPONDÊNCIA

Profa. Mariana Tirolli Rett ABSTRACT: The aim was to describe the profile of postpartum women attended to at
Centro Clínico de Fisioterapia the physical therapy service in a public maternity house in Betim, MG, as well as
– Ambulatório de Ginecologia the treatment they received. The study drew on a total of 215 medical charts of
e Obstetrícia postpartum women, contaning personal, clinic and physical therapy data. Most
PUC-Minas Betim women were young, married, housewives, multiparous, and from Betim. As to
R. Santos Dumont s/n Angola breast evaluation, most women had simetric and secretive breast, protruded nipples,
32630-000 Betim MG few nipple traumas or breast-feeding difficulty having been observed; 62,3% of the
e-mail: maritrett@yahoo.com.br; women presented normal diaphragm kinetics, 85,1% had tympanic sound at
mariana@fcm.unicamp.br abdominal percussion, and normal uterine involution; 87,9% presented pelvic floor
muscle contraction, and 30,3% lower limb edema; abdominal muscle diastases
measured supra and infra umbilical 2±1 and 1±1 fingers, respectively. As to physical
therapy, the women were treated with diaphragm respiratory exercises, abdominal
isometric exercises, pelvic floor muscle contractions, lower limb circulatory
exercises, flatus elimination maneuvers, deambulation, and guiding. The women’s
profile was found to be as expected for post-partum physiological recovery. Most
APRESENTAÇÃO had accomplished the physical therapy protocols offered. This study provides useful
jul. 2008 information on obstetric physical therapy assistance.
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO KEY WORDS: Humanizing delivery; Physical therapy department, hospital;
nov. 2008 Postpartum period

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :361-6 361


INTRODUÇÃO Quando não há um bom posicionamen-
to do bebê para a amamentação, podem
fisioterapia na MPMB, assim como os
protocolos de avaliação e conduta
O período após o parto é chamado surgir fissuras mamilares (lesões que se fisioterapêutica. Além de contribuir para
de puerpério, quando as modificações instalam na base dos mamilos) e isso pode o serviço no qual se desenvolveu o
locais e sistêmicas provocadas no orga- acarretar dor intensa e impedir o aleita- estudo, será importante para outros
nismo da mulher pela gravidez e parto mento6,16. locais que seguem as diretrizes de
retornam ao estado pré-gravídico1. Pode humanização, onde a equipe deve
Atualmente o Ministério da Saúde
ser dividido em: puerpério imediato (do oferecer atenção integral à saúde da
(MS) vem estimulando as maternidades
1o ao 10o dia), tardio (do 10o ao 45o dia) mulher, incluindo os fisioterapeutas que
a adotar novas condutas que ofereçam
e remoto (após o 45o dia)1,2. atuam na área de obstetrícia.
melhor atendimento para mãe e bebê
No âmbito físico, durante o puerpério durante o pré-natal, parto e puerpério.
ocorre a involução uterina e a eli-
minação dos lóquios; vulva, períneo e
Programas como o de Humanização no
Pré-natal e Nascimento e a Iniciativa
METODOLOGIA
vagina podem apresentar lacerações e Hospital Amigo da Criança incluem a Foi conduzido um estudo transversal,
edema, pois sofreram dilatação para a adequação da estrutura física e dos sendo realizado o levantamento de fi-
passagem do feto na ocasião do parto equipamentos hospitalares, além de uma chas de avaliação fisioterapêutica de
vaginal3-5. O assoalho pélvico (AP) pode mudança de atitude dos profissionais de puérperas atendidas na Maternidade
permanecer hipotônico e distendido saúde para com as gestantes17. Assim, Pública Municipal de Betim, no período
pela ação hormonal, sobrecarga do bebê para a prevenção da morbi-mortalidade de março a setembro de 2006. O pre-
e possíveis traumas durante o trabalho materna e neonatal, a equipe de saúde sente estudo foi aprovado pelo Comitê
de parto. Assim, é comum o apare- deve realizar procedimentos comprova- de Ética em Pesquisa da PUC-Minas. No
cimento de queixas urinárias, como damente benéficos para a mulher e o período, foram realizados 275 atendi-
incontinência urinária (IU), que pode ser bebê, evitando intervenções desneces- mentos fisioterápicos, sendo incluídas
uma condição da gravidez ou surgir sárias17. A fisioterapia ainda não faz parte para análise as fichas de puérperas com no
durante o puerpério6-8. das diretrizes do MS no âmbito do pro- mínimo 70% dos dados completos. Foram
grama de humanização. excluídas 60 fichas e selecionadas 215.
Durante a gestação, o crescimento ute-
rino favorece o estiramento da musculatu- A Maternidade Pública Municipal de Na MPMB, considerada referência de
ra abdominal, que é conhecida com diás- Betim (MPMB), onde foi realizado o humanização na região periférica de
tase dos músculos reto-abdominais estudo, adere ao programa de huma- Betim, são realizados em média 200
(DMRA). Esta pode permanecer no pós- nização e recebe acadêmicos e pro- partos por mês. Nela é realizado o
parto imediato9-11 e tem como fatores fissionais de fisioterapia para atuarem estágio supervisionado II de Fisioterapia
predisponentes a obesidade, multipa- junto com a equipe interdisciplinar. A em Ginecologia e Obstetrícia do 10o
ridade, gemelaridade e flacidez da atuação da fisioterapia em uma mater- período do Curso de Fisioterapia da
musculatura abdominal1,8,9. Devido ao nidade decorre da necessidade de se PUC-Minas Betim, duas vezes na sema-
crescimento uterino e à ação da proges- prevenirem complicações e para favo- na, totalizando 10 horas semanais (nos
terona, a biomecânica diafragmática recer a recuperação precoce das puér- períodos matutino e vespertino). Foram
também pode alterar-se, refletindo-se em peras, devido às inúmeras alterações realizados em média 40 atendimentos
um padrão respiratório torácico que ocorridas durante a gravidez que podem mensais em fisioterapia durante esse
pode se manter no puerpério imediato1,4. persistir no pós-parto imediato. período; os dados das puérperas
As alterações hemodinâmicas e a pre- Atualmente há uma crescente deman- atendidas pela equipe de fisioterapia
sença de edema, especialmente em da da abordagem fisioterapêutica na foram coletados rotineiramente pelos
membros inferiores, são comuns durante saúde da mulher, o que implica a oferta acadêmicos, devidamente treinados e
a gestação e podem se estender no puer- de atendimento adequado e fundamen- supervisionados pelos docentes respon-
pério12,13. Além disso, há alteração dos tado. Para as mulheres que se encontram sáveis. Antes de iniciar o atendimento,
fatores de coagulação, o que pode con- no puerpério, essa abordagem ainda não as puérperas foram esclarecidas quanto
duzir a quadros de tromboses venosas8. está bem estabelecida, pois no Brasil é aos objetivos, procedimentos e assinaram
A constipação e diminuição do peristal- escassa a literatura sobre puérperas termo de consentimento livre e esclarecido.
tismo intestinal podem ocorrer como atendidas pela fisioterapia. Todas que aceitaram participar, além de
resultado das alterações hormonais na serem avaliadas, receberam o atendimento
gestação. somados aos fatores relacio- Desse modo, é importante conhecer de rotina dos estagiários.
nados à via de parto7,8. o perfil de puérperas atendidas pela
fisioterapia numa maternidade pública Na ficha de avaliação fisioterapêuti-
No puerpério, ao contrário de todo o e humanizada, para obter informações ca, constavam informações gerais como:
processo involutivo, as mamas são as úni- e ferramentas que direcionem uma dados pessoais (idade, estado civil,
cas estruturas que têm seu apogeu. Inicial- melhor abordagem na avaliação, nas ocupação, procedência, índice de massa
mente, é liberado o colostro14,15, rico em intervenções preventivas e terapêuticas. corporal), duração do trabalho de parto,
fatores imunizantes6,14,16 e, durante as 72 O objetivo deste estudo foi descrever o tipo de parto, episiotomia e antecedentes
horas subseqüentes, ocorre a apojadura. perfil das puérperas atendidas pela obstétricos. Em relação às informações

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2008;15(4)
Rett et al. Atuação fisioterápica no puerpério

obtidas no exame físico, cada puérpera Os atendimentos, incluindo a avalia- em 12 e realizada a episiotomia em 61
era avaliada em decúbito dorsal em seu ção, eram conduzidos individualmente mulheres. As demais (29,8%) foram
leito, sendo considerados: inspeção da pelos estagiários e tinham duração de submetidas à cesariana. A maioria era
condição das mamas (secretantes/ aproximadamente 30 minutos. Durante casada, do lar e procedentes da cidade
presença de colostro), aspecto dos ma- o período de internação, cada puérpera de Betim.
milos, presença ou não de traumas ma- recebia apenas um atendimento e era
Quanto à avaliação das mamas, a
milares e se estavam amamentando. Na respeitado o período de pelo menos 6
maioria apresentou mamas simétricas,
seqüência, realizava-se palpação da ou 8 horas após o parto vaginal e ce-
secretantes e mamilos protrusos e/ou
cinesia diafragmática, percussão abdo- sáreo, respectivamente.
semiprotrusos. Apenas 25 puérperas
minal, involução uterina e mensuração da
Para análise descritiva da amostra apresentaram traumas mamilares e 40
diástase dos músculos reto-abdominais
foram realizadas medidas de tendência relataram dificuldade inicial na ama-
(DMRA). A mensuração da DMRA foi
central (média), dispersão (desvio- mentação (Tabela 2).
realizada com as puérperas na posição
padrão), freqüência e porcentagem. Os
supina com quadris e joelhos fletidos a No que concerne à avaliação fisio-
dados foram tratados usando o programa
90º, pés apoiados e braços estendidos terapêutica, a maioria das puérperas
Microsoft Office Excel v.2003.
ao longo do corpo. Nessa posição, era apresentou cinesia diafragmática nor-
solicitada a flexão anterior do tronco até mocinética, som timpânico à percussão
que o ângulo inferior da escápula
estivesse fora do leito. Os pontos de
RESULTADOS abdominal e involução uterina dentro da
normalidade, ou seja, em regiões
medida da DMRA foram 3 dedos (4,5 A Tabela 1 mostra as características próximas à cicatriz umbilical (Tabela 3).
cm) acima e abaixo da cicatriz umbilical sociodemográficas e obstétricas das Quando inspecionada a musculatura do
e, a DMRA foi graduada pelo número puérperas correspondentes às 215 fichas assoalho pélvico, verificou-se que a grande
de dedos (polpas digitais) entre as bordas selecionadas. Eram na maioria jovens maioria (87,6%) apresentaram contração
mediais dos músculos reto-abdominais. (24,4±5,5 anos). Em relação aos voluntária ao comando verbal e menos da
antecedentes obstétricos, a maioria era metade apresentaram edema em membros
Adicionalmente foi realizada a ins-
multípara e, na ocasião da avaliação, inferiores. A DMRA na região supra-
peção da contração voluntária do AP e
151 (70,2%) havia sido submetida ao umbilical foi de 2,0±1,0 dedos e infra-
da respectiva musculatura acessória
parto vaginal, sendo utilizado o fórceps umbilical de 1,0±1,0 dedo.
(adutores, glúteos e abdominais). Na
mesma posição, com os membros in- O Gráfico 1 mostra a distribuição das
feriores fletidos, abduzidos e com a Tabela 1 Características demográficas e condutas adotadas. A reeducação
região perineal despida, era realizado clínicas (média ± dp, desvio diafragmática, as manobras de elimina-
comando verbal para contração dessa padrão; n e %) constantes das ção de flatos e os exercícios circulatórios
musculatura e observado se a contração fichas das puérperas foram realizados por todas as puérperas.
estava ou não presente. Para verificar a atendidas pela fisioterapia
presença e localização de edema, foi (n=215) Tabela 2 Características das mamas e da
realizada a inspeção dos membros amamentação (n, %),
inferiores. Característica média±dp
segundo as fichas das
Idade (anos) 24,0±5,5 puérperas atendidas pela
Após a avaliação, era proposto um 2
IMC (kg/m ) 25,3±4,2 fisioterapia (n=215)
protocolo de conduta envolvendo 10
repetições de: reeducação diafragmática; Idade gestacional (semanas) 38,8±3,2
Característica n %
abdominais isométricos (transverso Tempo de trabalho de parto 308,0
(minutos; n=202) ±290,8 Simétricas Sim 209 97,2
abdominal: sucção abdominal sustentada
n % Não 6 2,8
por três a cinco segundos); contrações
fásicas (rápidas) e tônicas (sustentadas de Estado civil Solteira 63 29,3 Secretantes (colostro)
seis segundos) do AP; movimentos Casada 113 52,5 Sim 195 90,7
alternados de dorsiflexão e plantiflexão Outros 39 18,5 Não 20 9,3
dos pés (exercícios circulatórios); Mamilos Protrusos/
Ocupação Do lar 145 71,0
manobras de eliminação de flatos (n=210) Estudante semiprotrusos 193 89.8
16 4,4
(massagem abdominal); deambulação Invertidos 10 4,6
Outras 49 24,1
precoce (dois a quatro minutos); orienta- Planos 12 5,6
ções gerais sobre postura adequada para Procedência Betim 184 85,6
Cidades vizinhas 31 14,4 Traumas mamilares
amamentação, mudança de decúbito e
Tipo de parto Vaginal 151 70,2 (n=207) Sim 25 12,1
posturas para a realização das atividades
Cesáreo 64 29,8 Não 182 87,9
de vida diária. Todas as puérperas re-
cebiam uma cartilha com todos os exer- Antecedentes Primípara 87 40,5 Dificuldade p/ amamentar
Multípara 128 59,5 Sim 40 18,6
cícios e orientações, para que pudessem
Não 175 81,4
realizá-los em seus domicílios. IMC = Índice de massa corporal

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :361-6 363


Tabela 3 Avaliação fisioterapêutica das puérperas, segundo as respectivas fichas (n=215) Como rotina de atendimento fisiote-
rápico, foi recomendado um intervalo
Item avaliado n %
de 6 a 8 horas após o parto normal e
Cinesia diafragmática Normocinética 135 62,8 cesáreo respectivamente. Isso é respeita-
Hipocinética 80 37,2 do devido ao estresse físico e emocional
Percussão abdominal Som timpânico 182 84,6 causado pelo parto e pela instabilidade
Ausência de timpanismo 33 15,4 hemodinâmica característica desse
Involução uterina Acima da cicatriz umbilical 68 31,6 período14. A reabilitação da paciente
Abaixo da cicatriz umbilical 109 50,7 com parto cesariana é essencialmente a
No nível da cicatriz umbilical 38 17,7 mesma da paciente com parto vaginal10,
189 87,9 salvo algumas particularidades, como dor
Contração voluntária do assoalho pélvico Presente
na ferida operatória, presença excessiva
Ausente 26 12,1
de flatos e maior restrição ao leito.
Uso de musculatura acessória Sim 95 44,2
(abdominais, glúteos e/ou adutores) Não 120 55,8 Embora a mecânica respiratória se
altere durante a gestação, é esperado
Edema em membros inferiores Presente 65 30,3
que, nos primeiros dias pós-parto, a
Ausente 150 69,7
cinesia diafragmática se apresente hipo
Diástase dos músculos reto-abdominais (dedos) média±desvio padrão ou normocinética, pois a mesma pode
Supra-umbilical 2±1 se restabelecer nos primeiros dias. Como
Infra-umbilical 1±1 visto, a maioria das puérperas apresen-
taram uma dinâmica diafragmática
normocinética e os exercícios respira-
250
215 215 215 215 tórios foram realizados por todas, a fim
204 210 204 de acelerar esse retorno gradual8,13.
200
A presença de timpanismo à per-
150 cussão abdominal foi comum nas puér-
peras, o que é esperado nesse período,
100 devido à constipação intestinal e
também à ação hormonal durante a
50 gestação1,2,7. Na literatura, a constipação
e diminuição do peristaltismo intestinal
0 podem ser observadas em cerca de 30%
das puérperas7 e no pós-parto vaginal
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pode ser devido à presença de episio-


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tomia ou trauma perineal, que podem


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causar desconforto durante a evacuação.


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Após a cesárea, o próprio procedimento


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cirúrgico pode favorecer ou agravar os


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sintomas ou, então, a dor na cicatriz


Co

operatória e a restrição ao leito intensi-


Gráfico 1 Distribuição das condutas fisioterapêuticas adotadas para as puérperas ficam as queixas 1,4,8. Especialmente
(n=215) naquelas que apresentavam som tim-
Apenas 11 não realizaram os exercícios onde as mulheres em geral têm mais de pânico durante a percussão abdominal,
um filho e se ocupam com atividades foram enfatizadas e realizadas as
abdominais isométricos e deambulação
domésticas. Contudo, não foi encontra- manobras manuais de eliminação de
e cinco não realizaram os exercícios do
do na literatura nenhum trabalho que flatos, além da orientação quanto à
assoalho pélvico.
retrate a população dessa região. realização domiciliar. Associada aos
exercícios ativos de membros inferiores
Embora ainda não faça parte da rotina
DISCUSSÃO do Programa de Humanização no Pré-
e deambulação, essa manobra pode ser
útil na eliminação de gases, diminuindo
natal e Nascimento, a atuação fisiote- a dor e desconforto abdominal pós-
As características sócio-demográficas
rapêutica no pós-parto imediato tem sido operatório10.
da população estudada mostraram pre- valorizada, visto que possibilita mini-
domínio de mulheres jovens, casadas, mizar as conseqüências fisiológicas e Foi verificado que a grande maioria
do lar, procedentes de Betim e com morfológicas que marcam esse período9,18,19. das puérperas realizava contração
história de duas ou mais gestações Conforme recomendações do American voluntária dos músculos do AP, mas não
anteriores. Isso é esperado nessa College of Obstetricians and Gynecologists, foram avaliadas as queixas urinárias
população, pois a MPMB está localizada a puérpera deve ser estimulada a nesse momento. Sabe-se que a gravidez,
em uma região de periferia da cidade, exercitar-se precocemente18. o trabalho de parto e o parto podem

364 Fisioter Pesq. 2008;15(4):361-6


2008;15(4)
Rett et al. Atuação fisioterápica no puerpério

provocar efeitos negativos na função zados exercícios isométricos para essa o fisioterapeuta, junto com a equipe dos
dessa musculatura 20 e favorecer o musculatura. Mesquita et al.9 demonstra- profissionais da saúde, oferece orienta-
aparecimento de IU em cerca de 38% ram uma redução significativa da ções, por exemplo, quanto à postura
das puérperas, porcentagem que se eleva diástase dessa musculatura (p<0,001) no correta durante a amamentação, con-
para 45% em multíparas21,22. Isso justifica grupo que realizou um protocolo de tribuindo para os baixos índices de
a importância dessa avaliação e de duas a três séries de 10 a 20 repetições traumas mamilares e dificuldade de
intervenção fisioterapêutica precoce, já de exercícios abdominais nas primeiras amamentar16,17.
que é uma abordagem de baixo custo, 6 horas após o parto.
Observou-se que a maioria das puér-
sem efeitos colaterais e tem demonstrado
Observou-se no presente estudo peras atendidas encontrava-se em um
bons resultados. Os exercícios de forta-
menor prevalência de edema nos mem- estado de recuperação fisiológica sem
lecimento do assoalho pélvico são utili-
bros inferiores em relação aos 43% intercorrências, o que permite a atua-
zados tanto na prevenção quanto no
encontrados na literatura12,13. Contudo, ção fisioterápica adequada. Para tanto,
tratamento da IUE no puerpério 22-24.
os exercícios circulatórios de membros a presença do fisioterapeuta nessa
Morkeved e Bo25 demonstraram, em um
inferiores foram realizados e enfatizados maternidade pôde assegurar que os
seguimento de um ano, melhora signi-
após a alta hospitalar. Tais exercícios, exercícios fossem realizados de manei-
ficativa da força muscular do assoalho
associados ao estímulo à deambulação ra correta e gradual, sempre respeitando
pélvico e diminuição da IU (p<0,01) em
precoce, são práticas importantes, uma as condições particulares de cada
puérperas submetidas a um treinamento
vez que estimulam o peristaltismo puérpera. Estes resultados contribuirão
específico dessa musculatura. Como
intestinal, auxiliam a prevenção dos para ampliar o conhecimento sobre a
alguns estudos apontam possíveis
fenômenos tromboembolíticos, ajudam abordagem fisioterapêutica no puerpério
disfunções perineais, especialmente
após o parto vaginal21 (tipo de parto mais no retorno venoso e diminuem o edema imediato, além de estimular a discussão
comum na amostra estudada), os exer- puerperal5,8,19. sobre estratégias preventivas e
cícios do assoalho pélvico são realizados terapêuticas que podem ser empregadas
Em relação à amamentação, sabe-se
de rotina, como medida preventiva, no âmbito público ou privado.
que a presença de traumas mamilares
conforme recomendado pela litera- pode ser uma condição que leva ao
tura18,25. Algumas puérperas não realiza-
ram os exercícios por apresentar
desmame precoce. Contudo, foi obser-
vado que um número muito pequeno de
CONCLUSÃO
desconforto na região da episiorrafia. puérperas apresentavam traumas mami- O perfil das puérperas atendidas foi
No presente estudo, foi observada a lares e/ou dificuldade para amamentar. conforme o esperado para o local de
DMRA dentro da normalidade, pois se Essa situação pode ser atribuída ao fato estudo, sendo a maioria jovens, casa-
considera normal uma separação de até de a maioria apresentarem mamilos das, do lar, multíparas e procedentes
aproximadamente 3 cm9-11. Entretanto, protrusos, o que facilita a amamentação; de Betim. Verificou-se que, com a avalia-
deve ser levado em consideração que a e, também, pelo fato de a equipe da ção fisioterápica descrita, as mulheres
avaliação da DMRA é realizada de MPMB atender às diretrizes do MS, encontravam-se em um estado fisio-
maneira subjetiva e que não foi feia com favorecendo o aleitamento materno. Vale lógico de recuperação puerperal e que
a utilização de instrumento fidedigno, ressaltar que a amamentação facilita a a conduta proposta pela fisioterapia foi
como um paquímetro. Conforme reco- liberação de lóquios e acelera a invo- realizada pela grande maioria das
mendado pela literatura, foram reali- lução uterina. Observando essa situação, puérperas.

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2008;15(4)
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.367-73, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Influência do posicionamento de membros superiores sobre os efeitos do treinamento


muscular inspiratório de curta duração e alta intensidade em indivíduos jovens sadios
Influence of arm positioning on the effects of a short-term high intensity inspiratory
muscle training protocol in healthy young subjects
Vinícius Cavalheri1, Carlos Augusto Camillo1, Fábio Pitta2, Luiz Antonio Alves3,
Vanessa Suziane Probst2, Antonio Fernando Brunetto4
Estudo desenvolvido no RESUMO: O objetivo do estudo foi analisar os efeitos de um treinamento muscular
Hospital Universitário Regional inspiratório (TMI) de curta duração e alta intensidade, com e sem o apoio de
do Norte do Paraná e no Depto. membros superiores, sobre as pressões respiratórias máximas em jovens saudáveis.
de Fisioterapia da UEL – Trinta jovens do sexo feminino foram aleatoriamente distribuídas em três grupos: o
Universidade Estadual de grupo controle (GC) fez treinamento placebo na posição sentada; o grupo GSA
Londrina, Londrina, PR, Brasil treinou em pé sem apoio de membros superiores; e o grupo GCA treinou com
1 apoio de membros superiores. O TMI consistiu em três sessões diárias de 10 minutos
Fisioterapeutas do LabPFP –
em três dias consecutivos. Antes, ao final e após um mês do final do treino foram
Laboratório de Pesquisa em
Fisioterapia Pulmonar do avaliadas a pressão inspiratória máxima (PImáx) e a pressão expiratória máxima (PEmáx).
Depto. de Fisioterapia da UEL No GSA, houve aumento significante da PImáx após o treino de -75±10 para -97±14
cmH2O (p<0,001) e após um mês (-99±14 cmH2O; p<0,001). O mesmo ocorreu
2
Fisioterapeutas Drs. do LabPFP no GCA: a PImáx passou de -77±18 para -96±20 cmH2O (p<0,001), mantendo-se
do Depto. de Fisioterapia da após um mês (-96±23 cmH2O, p<0,001). Não houve diferença entre a PImáx final
UEL dos dois grupos. Quanto à PEmáx, apenas no GCA houve aumento significante, de
99±16 para 112±16 cmH2O (p<0,05), seguida de diminuição após um mês (101±19
3
Fisioterapeuta Ms. do LabPFP cmH2O, p<0,05). Em jovens saudáveis do sexo feminino, um TMI de curta duração
do Depto. de Fisioterapia da e alta intensidade gera aumento da força muscular inspiratória independente do
UEL posicionamento dos braços; e aumento da força expiratória quando o treinamento
4
Prof. Dr. do Depto. de é feito com os membros superiores apoiados.
Fisioterapia da Universidade do DESCRITORES: Braço; Exercícios respiratórios; Postura
Norte do Paraná, Londrina, PR,
Brasil ABSTRACT: The purpose of the study was to analyse the effects of a short-term, high-
intensity inspiratory muscle training (IMT) on healthy youth maximal respiratory
ENDEREÇO PARA pressures, with and without arm bracing postures. Thirty young women were
CORRESPONDÊNCIA randomly assigned to three groups: control group (CG); group training with no arm
bracing (NAB); and group training with arm bracing (AB). The IMT consisted of
Vinícius Cavalheri three 10-minute daily supervised sessions for three consecutive days. Before, at the
R. Ildefonso dos Santos 300 end, and one month after the end of training, subjects’ maximal inspiratory pressures
casa 4 Jardim Sta. Clara
(MIP) and maximal expiratory pressures (MEP) were assessed. In NAB group a
86036-590 Londrina PR
e-mail: vcavalheri@pop.com.br significant increase in MIP was found, from -75±10 to -97±14 cmH2O (p<0.001)
and one month later (-99±14 cmH2O, p<0.001). Similarly, in AB group, MIP
Este estudo contou com apoio significantly raised from 77±17 to -96±20 cmH2O (p<0.001), which was maintained
do CNPq – Conselho Nacional one month later (-96±23 cmH2O, p<0.001). No significant difference was found
de Desenvolvimento Científico between the two groups final MIP (p>0.05). As to MEP, only in AB group a significant
e tecnológico. increase on final MEP was found, from 99±16 to 112±16 cmH2O, p<0.05), followed
by a decrease one month later (101±19 cmH2O, p<0.05). Hence in young healthy
APRESENTAÇÃO women a short-term, high-intensity IMT protocol increases inspiratory muscle
jul. 2008 strength independently of arm positioning, simultaneous to an increase in expiratory
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO muscle strength when the IMT is performed with arm bracing.
nov. 2008 KEY WORDS: Arm; Breathing exercises; Posture

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :367-73 367


INTRODUÇÃO diafragmática, ao gerar maior relação
comprimento-tensão10. Banzett e colabo-
radores14. Os dois maiores resultados
tecnicamente satisfatórios que apresen-
Os músculos respiratórios, assim radores 12 mostraram, em indivíduos taram uma diferença menor que 5%
como os músculos periféricos, melho- normais, um aumento da capacidade entre si foram analisados e o maior deles
ram sua função em resposta ao treina- ventilatória quando os sujeitos apoiavam utilizado para análise15.
mento 1 . Lotters e colaboradores 2 os membros superiores. No entanto, não
As participantes foram recrutadas em
concluíram que o treinamento muscular há relatos prévios dos efeitos dessa pos-
uma amostragem de conveniência. Após
inspiratório (TMI) melhora significan- tura sobre os resultados de um protocolo
a avaliação inicial, foram distribuídas
temente a força e resistência muscular de TMI.
aleatoriamente (por envelope aberto no
respiratória, diminui a sensação de O presente estudo teve como objetivos dia da avaliação inicial, com ocultação
dispnéia no repouso e durante o exer- analisar os efeitos de um protocolo de da alocação) em três grupos para o trei-
cício e tende a melhorar a capacidade treinamento muscular inspiratório de cur- namento: o grupo controle (GC, n=10)
de exercício em pacientes com doença ta duração e alta intensidade em jovens treinou sentado, com 15% da PImáx
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). O saudáveis do sexo feminino, verificando inicial; o grupo sem apoio (GSA, n=10)
TMI também já tem sido utilizado em a influência de duas diferentes posturas treinou em posição ortostática, sem
indivíduos saudáveis 3-5 e atletas 6,7 , (com membros superiores apoiados e apoio de membros superiores, com 75%
aumentando a pressão inspiratória não-apoiados) sobre os efeitos desse da PImáx; o grupo com apoio (GCA,
máxima (PImáx) desses sujeitos. No entanto, treinamento. n=10) treinou em posição ortostática,
com relação a demais variáveis como com apoio de membros superiores e
capacidade de exercício e sensação respira- também 75% da PI máx . A Tabela 1
tória, estudos envolvendo o TMI têm METODOLOGIA apresenta as características iniciais de
mostrado conclusões contraditórias, cada grupo. No final do treinamento, os
como Sasaki e colaboradores4, que não Este foi um ensaio clínico aleatório sujeitos foram reavaliados quanto à PImáx
encontraram diferenças quanto à função controlado uni-cego. Os treinadores e PE máx; e, após um mês do fim das
pulmonar e valores de pico em teste de foram previamente ensinados quanto aos intervenções, os grupos GSA e GCA
exercício, e Sonetti e colaboradores6, tipos de treinamento e eram cegos foram novamente reavaliados, sendo que
que observaram aumento do consumo quanto ao objetivo do estudo. O avalia-
em ambos os momentos a metodologia
de oxigênio no pico de exercício após dor inicial e final foi o mesmo, diferente
utilizada foi idêntica à da avaliação
apenas duas semanas de TMI. dos treinadores, e não tinha conheci-
inicial.
mento sobre qual intervenção seria
A técnica de treinamento com válvula realizada com o avaliado. O projeto foi O treinamento consistiu em três
com resistência inspiratória regulável aceito pelo Comitê de Ética em Pesquisa sessões diárias supervisionadas de 10
(threshold) tem sido a principal maneira da Universidade Estadual de Londrina. minutos em três dias consecutivos,
de se treinar os músculos inspiratórios8. Todas as participantes concordaram em inspirando contra uma resistência de
Porém, protocolos de TMI diferem entre participar do estudo e o termo de 75% da PImáx inicial (com exceção do
si em quesitos como posicionamento do consentimento livre e esclarecido foi GC, que treinou com 15%), com uma
paciente, ótima intensidade, número de obtido antes do início dos testes. freqüência respiratória de 12 ciclos por
repetições e freqüência. Os protocolos minuto controlada por um sinal sonoro.
que induzem os efeitos mais significa- Participaram do estudo 30 jovens
O dispositivo utilizado para o treina-
tivos ainda precisam ser determinados9. saudáveis (sem qualquer tipo de doença
mento foi um aparelho com válvula
diagnosticada) do sexo feminino, para
Estudos de treinamento muscular spring load com resistência inspiratória
garantir a homogeneidade dos grupos,
inspiratório não costumam citar a posi- regulável (Threshold® IMT, Health Scan
pois há diferenças marcantes entre
ção dos sujeitos durante o treinamento Products Inc., Cedar Grove, EUA). Caso
homens e mulheres quanto à força
e os que citam não comparam diferentes o valor máximo de pressão do aparelho
muscular inspiratória e expiratória. As
posturas. A relevância dessa questão comercialmente disponível (41 cmH2O)
participantes não eram tabagistas, eram
reside na ação da gravidade e nas dife- não fosse suficiente para atingir os 75%
inexperientes quanto ao treinamento
renças anatômicas observadas nos mús- da PImáx utilizado para o treinamento,
muscular inspiratório e não participavam
o aparelho era adaptado com duas molas
culos respiratórios de acordo com as de programas de atividade física regular.
internas para atingir um máximo de
diversas posturas do corpo humano, que Foram submetidas à avaliação inicial de
pressão igual a 82 cmH2O.
determinam diferenças na atividade PImáx e PEmáx, sentadas, como descrito por
dessa musculatura10. Além disso, a posi- Black e Hyatt13. O aparelho utilizado foi O TMI sem o apoio de membros
ção de inclinação do tronco, somada à o manovacuômetro digital (MVD-500 superiores foi realizado em posição
descarga parcial do peso do tronco com v.1.1, Microhard System, Globalmed, ortostática com membros superiores
apoio de membros superiores, habilitam Porto Alegre, Brasil), o sistema para relaxados ao lado do corpo; e o TMI com
os músculos da cintura escapular a análise dos dados foi o AqDados 4 (Lynx apoio dos membros superiores foi feito
agirem mais eficientemente como mús- Tecnologia Eletrônica, São Paulo, Brasil) com o apoio na altura do processo
culos acessórios da respiração11. Essa e os valores previstos utilizados foram estilóide da ulna, com inclinação an-
posição melhora também a função os propostos por Neder e colabo- terior de tronco e flexão de cotovelos

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Fisioter Pesq.
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2008;15(4)
Cavalheri et al. Treinamento muscular inspiratório

RESULTADOS não houve diferença estatisticamente


significante (Tabela 2).
A Tabela 1 apresenta as No GCA, com relação à PImáx inicial,
características iniciais de também houve aumento significante na
cada grupo. Os três grupos PImáx final (-96±20 cmH2O, p<0,001)
(GC, GSA e GCA) completa- e após um mês, sem diferença entre PImáx
ram o mesmo tempo de trei- final e após um mês. Também nesse
namento durante os três dias grupo, com relação à PEmáx inicial, houve
consecutivos. No total, cada um incremento significante na PEmáx final
participante realizou 90 mi- (112±16 cmH2O, p<0,05), seguida de
nutos de esforço inspiratório diminuição após um mês (101±19
divididos em nove séries de cmH2O, p<0,05), não sendo encontrada
dez minutos (três por dia). diferença entre PEmáx inicial e após um
Não houve exclusões de mês (Tabela 2).
indivíduos participantes do
A comparação da PImáx final entre os
estudo.
três grupos também é mostrada na Tabela
Os valores absolutos das 2. A PImáx final do GSA e do GCA foi
pressões respiratórias máxi- maior que a do GC (p<0,05). Não houve
mas em cada grupo e em to- diferença entre GSA e GCA tanto na PImáx
dos os momentos são mos- final quanto após um mês do fim do
trados na Tabela 2. Todos os treinamento.
grupos apresentaram como Não foi encontrada diferença na
característica inicial PI máx PEmáx final entre os três grupos (Tabela
maior que 70% do predito 2). Porém, analisando a diferença da
Figura 1 Ilustração da posição de treinamento do (Tabela 1), o que significa PEmáx final com relação à inicial (∆PEmáx,
GCA – com apoio dos membros superiores que os sujeitos não tinham ou seja, PEmáx final – PEmáx inicial), foi
fraqueza muscular inspira- encontrada diferença estatisticamente
de aproximadamente 30°, promovendo tória. Inicialmente não havia diferença significante entre o GCA e GC, o que não
descarga de peso nos membros su- significante de PI e PE entre os três ocorreu entre o GSA e o GC (Figura 2).
máx máx
periores. Para o apoio foi utilizado um grupos (p=0,25 e 0,86 respectivamen-
andador (Figura 1).
O programa utilizado para análise
te). Tanto a PImáx quanto a PEmáx do GC
não mostraram diferenças significantes
DISCUSSÃO E
estatística foi o GraphPad Prism 3.0. Para entre os valores inicial e final do CONCLUSÃO
a análise da normalidade na distribuição treinamento muscular inspiratório.
Os resultados deste estudo indicam
dos dados, foi aplicado o teste de No GSA, com relação à PImáx inicial, que o TMI de curta duração (três dias) e
Kolmogorov-Smirnov. Como a distribui- houve aumento significante na PImáx final alta intensidade (75% da PImáx) promove
ção dos dados foi normal, a análise esta- (-97±14 cmH2O; p<0,001) e após um um incremento significante da PImáx de
tística utilizada foi paramétrica e todos mês, sem diferença entre PImáx final e jovens saudáveis do sexo feminino sem
os valores são apresentados como média após um mês. Entre os valores de PEmáx fraqueza muscular inspiratória prévia, e
± desvio padrão. Para a comparação de
PImáx e PEmáx inicial e final do GC foi Tabela 1 Características iniciais (média ± desvio padrão) dos três grupos: controle
utilizado o teste t de Student pareado. A (GC); que treinou sem apoio de membros superiores (GSA); e que treinou
comparação intragrupo de PImáx e com apoio de membros superiores (GCA) (n=30)
PEmáx inicial, final e após um mês, do
GSA e GCA, foi realizada utilizando-se Característica GC (n=10) GSA (n=10) GCA (n=10)
a análise de variância unidirecional Idade (anos) 21± 1,2 20±1,2 20±1,6
Anova para medidas repetidas, seguido Altura (m) 1,64±0,07 1,66±0,06 1,65±0.06
do teste post-hoc de Newman-Keulls.
Peso (kg) 58±6 55±6 52±6
Para a comparação intergrupos de PImáx
e PEmáx inicial e final dos três grupos foi IMC (kg/m2) 22±2 20±1,4 19±3
utilizado o teste bivariado Anova. As PImáx(i) (cm H2O) -73±16 -75±10 -77±17
diferenças de PImáx e PEmáx entre o PEmáx(i) (cm H2O) 95±13 86±14 99±16
GSA e o GCA após um mês foram PImáx(i) (% predito) 73±16 75±10 76±18
analisadas utilizando o teste t de Student
PEmáx(i) (% predito) 92±13 83±14 96±16
não-pareado. Para todas as análises, a
significância estatística foi determinada IMC = Índice de massa corporal; PImáx(i) = Pressão inspiratória máxima inicial;
como p<0,05. PEmáx(i) = Pressão expiratória máxima inicial

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :367-73 369


Tabela 2 Valores (média ± desvio padrão e valor de p) das pressões respiratórias to de duas vezes de 15 minutos por dia
máximas nos três grupos: controle (GC), GSA, que treinou sem apoio de durante quatro semanas. Esses resultados
membros superiores, e GCA, que treinou com apoio de membros diferem um pouco daqueles encontrados
superiores (n=30) por Sasaki e colaboradores4 e Volianitis
PImáx PEmáx e colaboradores 7, que encontraram
Grupo Após um Após um incremento de 16% e 45% na PImáx após
Inicial Final p Inicial Final p o treinamento, respectivamente. Esses
mês mês
resultados discrepantes possivelmente se
GC(n=10) -73±16 -74±16 - p=0,18 95±13 96±13 - p=0,24
devem a diferenças nos protocolos de
GSA(n=10) -75±10 -97±14 -99±14 p<0,001 86±14 96±17 90±11 p=0,10 TMI e por variações entre as caracterís-
GCA(n=10) -77±17 -96±20 -96±23 p<0,0001 99±16 112±16 101±19 p<0,0001 ticas dos grupos incluídos nesses estudos.
PImáx = Pressão inspiratória máxima; PEmáx = Pressão expiratória máxima Documento de consenso do American
College of Chest Physicians sobre reabili-
que esse incremento se mantém até um A postura ortostática foi adotada para tação pulmonar1 indicou intensidades
mês após o término do treinamento. A o treinamento, pois promove maior maiores ou iguais a 30% da PImáx no TMI
eficácia do TMI foi testada com a descarga de peso nos membros superio- para que haja ganho de força. De acordo
presença do GC, que realizou treina- res do que a postura sentada, visto que com Faulkner18, sobrecarga, especifici-
mento considerado placebo. O aumento a descarga de peso era um fator metodo- dade e reversibilidade são três princípios
da PI máx não foi diferente nas duas lógico importante no presente estudo. dos regimes de treinamento para se obter
posturas analisadas; entretanto, o GCA Além disso, é semelhante ao posiciona- resposta desejada em músculos perifé-
obteve também um incremento da PEmáx mento utilizado nos estudos de Probst e ricos. Leith e Bradely19 concluíram que
após o TMI, que não se manteve após colaboradores11 e Banzett e colaborado-
esses princípios são importantes também
um mês do término do treinamento. res 12 com auxiliares para marcha
no treinamento muscular respiratório. O
(rollators) em pacientes com DPOC.
A duração escolhida para o treina- presente estudo utilizou 75% da PImáx
mento muscular inspiratório neste estu- Todos os grupos apresentaram como como carga do TMI e obteve um incre-
do pode ser de grande relevância para característica inicial PImáx maior que 70% mento de PImáx pouco menor que o de-
sujeitos que necessitem ser submetidos do predito (Tabela 1), o que significa que monstrado por Huang e colaboradores20
a cirurgias torácicas e/ou abdominais. os sujeitos não tinham fraqueza mus- (aumento de 36% na PImáx) num ensaio
Segundo Siafakas e colaboradores16, a cular inspiratória ao início do estudo. clínico que adotou a mesma carga de
função da musculatura respiratória pode TMI. No entanto, o estudo de Huang e
A magnitude do incremento da PImáx
ser gravemente afetada por procedimen- colaboradores20 teve uma duração maior
dos sujeitos deste estudo (GSA, 29% e
tos cirúrgicos, e o treinamento muscular (quatro semanas), com quatro séries de
GCA, 27%) está de acordo com os
respiratório pré-operatório pode prevenir seis inspirações por dia, o que pode
resultados de Susuki e colaboradores17
complicações pulmonares pós-operatórias (aproximadamente 30%) em um estudo explicar as diferenças nos resultados.
por meio do aumento da força muscular realizado também com mulheres sau- Diferentes mecanismos podem ex-
respiratória. dáveis, com um protocolo de treinamen- plicar o aumento da PImáx. Um deles é a
hipertrofia muscular. Contudo, mesmo
que os dois grupos (GSA e GCA) tenham
50 * apresentado ganho de força muscular
inspiratória com o TMI e mantido os
40 valores de PImáx após um mês do término
do TMI, provavelmente a hipertrofia
muscular ou a distribuição de tipos de
ǻPEmáx (cmH2O)

30
fibras não foram responsáveis pelas mu-
danças significantes. Isso porque um
20
estudo com ratos21 demonstrou que a
hipertrofia das fibras tipo II do diafragma
10 era induzida somente após 8 semanas
de TMI. Enright e colaboradores22 com-
0 provaram esse resultado em sujeitos
saudáveis, encontrando um aumento das
dimensões diafragmáticas após oito
-10 semanas de TMI com 80% da PImáx e
GSA GCA GC com freqüência de três vezes por sema-
Figura 2 Variação da PEmáx final sobre a inicial (∆PEmáx) entre os três grupos: na. Por outro lado, adaptações neurais
controle (GC); que treinou sem apoio de membros superiores (GSA); e podem ocorrer nas fases iniciais dos
que treinou com apoio de membros superiores (GCA); *p<0,05 treinamentos de força, causando

370 Fisioter
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Cavalheri et al. Treinamento muscular inspiratório

diferenças mensuráveis e significantes21. Após um mês do fim do treinamento, os já possuem força normal. Como mencio-
Pode haver aumento de força sem valores de PEmáx do GCA diminuíram em nado acima, acredita-se que tal proto-
mudanças na morfologia muscular, mas relação aos valores finais do TMI, não colo pode destinar-se a sujeitos que
não sem adaptações neurais23. Três dias sendo encontrada diferença de PEmáx serão submetidos a cirurgias tóraco-
de TMI, mesmo que com alta intensi- inicial após um mês. Isso sugere que, abdominais, procedimento que sabida-
dade, possivelmente aumentaram a força mesmo que a musculatura expiratória mente diminui as pressões respiratórias
muscular inspiratória por esse mecanis- tenha obtido ganho de força com o TMI máximas no período pós-operatório.
mo não-morfológico; esta também foi a com apoio de membros superiores, esse Apesar de o presente estudo não dispor
hipótese de estudo prévio24, em que se efeito é de curta duração; e o principal de dados quanto a isso, os autores acre-
obteve incremento significante da PImáx efeito desse treinamento é sobre a mus- ditam que o protocolo utilizado pode trazer
na segunda semana de um treinamento culatura inspiratória, que não teve perda benefícios clínicos no pós-operatório de
que durou quatro semanas. de força após um mês, como visto.
cirurgias tóraco-abdominais, como di-
Quanto às mudanças de força mus- No conhecimento dos autores, o minuição da incidência de complica-
cular expiratória com o TMI, Sato e presente estudo é uma primeira iniciativa ções e redução do tempo de internação
colaboradores25 encontraram um aumen- de estudo de um protocolo de TMI com hospitalar, especialmente em grupos de
to significante de PE máx em sujeitos curta duração e alta intensidade. Apesar pacientes com problemas respiratórios
saudáveis após treinamento inspiratório de não ser possível no momento extra- crônicos. Futuros estudos devem ser
com carga de 40% da PImáx e com du- polar diretamente seus resultados com focalizados nessa questão.
ração de três semanas. Por outro lado, implicações clínicas em pacientes com
problemas respiratórios, trata-se de um Este estudo fez o acompanhamento
Akiyoshi e colaboradores26 não obser-
estudo preliminar que demonstrou a de um mês (curto prazo). O prazo foi
varam incremento de força muscular
segurança, a aplicabilidade e os efeitos escolhido por ser o tempo em que,
expiratória, também em indivíduos
do protocolo, constituindo uma ex- segundo Siafakas e colaboradores15, as
saudáveis, após TMI de duas semanas,
periência inicial positiva e promissora. pressões respiratórias máximas ainda
em duas vezes de 15 minutos por dia,
Uma limitação deste estudo é ter apenas permanecem diminuídas após cirurgias
utilizando-se a carga de 30% da PImáx.
jovens do sexo feminino. Esse critério foi torácicas e abdominais, período esse em
Alguns estudos com pacientes com
utilizado como uma alternativa segura que os indivíduos ficam mais suscetíveis
DPOC 27-29, da mesma maneira, não
para que os grupos ficassem homo- a complicações pós-operatórias.
encontraram diferenças na PEmáx após
TMI. No presente estudo, somente o gêneos, pois há diferenças marcantes Os resultados obtidos mostram que o
GCA obteve melhora significante de entre homens e mulheres com relação à TMI de curta duração e alta intensidade
força muscular expiratória. Esse resul- força muscular inspiratória e expiratória, proporcionou um incremento significan-
tado pode ser explicado pelos achados como demonstrado por Neder e colabo- te de PImáx, não havendo diferença entre
de Kera e Maruyama10 que, num estudo radores 14. Em outro estudo4, Sasaki e as duas posturas analisadas (com e sem
com análise eletromiográfica, concluí- colaboradores também optaram por
apoio de membros superiores). A PEmáx
ram que a inclinação de tronco com utilizar apenas um gênero em sua amos-
aumentou após o TMI apenas no grupo
apoio de membros superiores promove tra. Os resultados do presente estudo
que treinou com apoio de membros
uma maior atividade da musculatura devem ser ainda confirmados em grupos
superiores. A aplicabilidade e os efeitos
expiratória, tanto no esforço expiratório do sexo masculino e mistos e, posterior-
positivos do presente protocolo servem
quanto no inspiratório. Essa atividade mente, em grupos de pacientes com
como uma experiência inicial promis-
diferentes diagnósticos.
aumentada dos músculos expiratórios sora, abrindo possibilidades para estudos
durante o apoio dos membros superio- Pode-se questionar qual a aplicabili- futuros utilizando-se protocolos de TMI
res pode ter gerado um treinamento dade clínica de se aumentar a força de curta duração e alta intensidade em
também desses músculos durante o TMI. muscular respiratória em indivíduos que outros grupos de indivíduos.

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :367-73 371


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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.374-9, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Efeito da realização simultânea de tarefas cognitivas e motoras no desempenho


funcional de idosos da comunidade
Dual task effects on functional performance in community-dwelling elderly
Juliana Magalhães Machado Barbosa1, Brenda de Sá Senna Prates2,
Camila Ferreira Gonçalves2, Alexandre Roberto Aquino2, Adriana Netto Parentoni3

Estudo desenvolvido no Curso RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de seis diferentes tarefas duplas
de Fisioterapia do Depto. de no desempenho funcional de idosos da comunidade. Em 35 idosos com idade
Ciências Biológicas, Ambientais média de 69,6±7,1 anos foi aplicado o teste de levantar e caminhar cronometrado
e da Saúde do Uni-BH – Centro (TLCC, Timed up and go ou TUG) simples (TLCCS) e associado a duas tarefas
Universitário de Belo motoras – carregar um copo com água (TLCCM1) e transferir moedas de um bolso
Horizonte, Belo Horizonte, para o outro (TLCCM2) – e duas cognitivas, repetir uma frase (TLCCC1) e falar os
MG, Brasil dias da semana em ordem inversa (TLCCC2), sendo aferidos os acertos e erros
1 nessas tarefas. Houve piora significativa da média do tempo em segundos no TLCC
Profa. Ms. do Curso de
Fisioterapia do Uni-BH nas tarefas duplas, independente da tarefa, e correlação significativa, de moderada
(r=0,676) a quase perfeita (r=0,953), entre os tempos de cada tipo de TLCC. O
2
Graduandos do Curso de número de moedas transferidas no TLCCM2 e o número de dias na semana dito em
Fisioterapia do Uni-BH ordem inversa no TLCCC2 apresentaram correlação com o tempo gasto para realizar
todas as outras tarefas. Essas duas tarefas foram as que mais afetaram o tempo do
3
Profa. Dra. do Curso de TLCC (p<0,001). Os idosos estudados apresentaram pois pior desempenho no TLCC
Fisioterapia do Uni-BH associado à realização de tarefas duplas. As tarefas com pior desempenho funcional
verificados foram os de passar moedas de um bolso para outro e falar os dias da
ENDEREÇO PARA semana em ordem inversa. A complexidade da tarefa foi mais importante que sua
CORRESPONDÊNCIA natureza motora ou cognitiva.
Juliana M. M. Barbosa DESCRITORES: Análise e desempenho de tarefas; Atividade motora; Idoso; Manifestações
R. Tuiuti 1121 apto. 802 Padre neurocomportamentais
Eustáquio
30720-440 Belo Horizonte ABSTRACT: The purpose was to assess the effect of six different dual tasks in community
MG dwelling elderly. Thirty-five volunteers (aged 69.6±7.1 years) were submitted to
e-mail: jummb@terra.com.br the Timed Up and Go test (TUG) and to further five tasks wherein TUG was associated
to two motor tasks – carrying a glass of water (TUGM1) and transferring coins from
Um resumo deste estudo foi one pocket to another (TUGM2); to two cognitive tasks – repeating a sentence
apresentado ao XV Congresso (TUGC1) and saying weekdays backwards (TUGC2); and to a motor-cognitive task,
Brasileiro de Geriatria e of carrying a glass of water while repeating a sentence (TUGMC). Time spent, failure
Gerontologia e ao 18th and success in each task were counted. Results showed a significant decrease in
Congress of the International average time (in seconds) spent in TUG when associated with all tasks; and a
Association of Gerontology significant correlation from moderate (r=0.676) to almost perfect (r=0.953) between
the times of each association with TUG. The number of transferred coins in TUGM2
and the number of days of the week correctly said in TUGC2 showed a correlation
with the time spent in all the other tasks. These two tasks most affected the time
spent to accomplish TUG (p<0.001). Hence, dwelling community elderly showed
a decrease in performance at all dual tasks associated to TUG. The worst functional
performances were transferring coins from one pocket to another and saying
APRESENTAÇÃO weekdays backwards, showing that task complexity, rather than task nature, had
ago. 2008 greater impact on the time spent to perform TUG.
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO KEY WORDS: Aged; Motor activity; Neurobehavioral manifestation; Task
nov. 2008 performance and analysis

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Fisioter Pesq.
Pesq. 2008;15(4):374-9
2008;15(4)
Barbosa et al. Tarefas duplas em idosos

INTRODUÇÃO do utilizada para avaliar o desempenho


funcional de idosos. São citadas tarefas
te independentes e residentes na comu-
nidade. Os sujeitos recrutados deveriam
O envelhecimento populacional motoras tais como transferir moedas22, ser capazes de andar 36 metros, levantar-
brasileiro é uma realidade crescente e carregar um copo com água23, apenas se e sentar-se em uma cadeira com bra-
prevê-se que, em 2020, 1 em cada 13 uma bandeja ou a mesma com quatro ços sem qualquer tipo de assistência hu-
brasileiros terá mais de 60 anos 1. O copos de plástico24, e tarefas cognitivas mana ou mecânica. Foram excluídos os
envelhecimento pode alterar o controle como repetir sentenças21, repetir os dias indivíduos que apresentaram: diabetes
postural, definido como o controle da da semana em ordem inversa21, formar e hipertensão arterial descompensadas;
posição do corpo no espaço para ma- palavras e sentenças após ouvir um doenças cardiorrespiratórias agudas; dor
nutenção do equilíbrio e orientação avaliador soletrando-as19, contar regres- em membros inferiores, superiores ou
corporal2-6. Postura e equilíbrio normais sivamente de 3 em 323,25 ou de 7 em 7 tronco na data da coleta de dados; dis-
requerem interação dos sistemas visual, números10, somar de 2 em 210, responder túrbios vestibulares, sensório-motores,
somatossensorial e vestibular e sofrem a estímulos auditivos diferenciando tons musculoesqueléticos ou neurológicos
influências ambientais, da idade, do tipo altos dos baixos (stroop test)7 e stroop que afetassem a marcha; claudicação;
de atividade postural e das habilidades test modificado8. vertigem; deficiência auditiva não
para a manutenção do equilíbrio6-8. corrigida com órtese (detectada por meio
Vários estudos têm demonstrado uma
Associadas ao envelhecimento, ocorrem da incapacidade de ouvir uma frase
redução do desempenho na tarefa pri-
alterações nos sistemas musculoesquelético, padronizada e pronunciada em tom
mária, secundária ou em ambas em
nervoso, somatossensorial, visual, vestibular normal a 1 m de distância do idoso)27;
idosos. Hauer et al.8 observaram que os
e cardiorrespiratório, além de mudanças uso de benzodiazepínicos e antidepres-
idosos tiveram piora na força do qua-
cognitivas. Essas alterações podem ser sivos; uso de auxílios para a marcha;
dríceps e nas tarefas secundárias simples
agravadas pela presença de doenças hipotensão postural; história de quedas
e complexas. Rankin et al.23 observaram
crônicas e de medicamentos9-16 e reduzir nos últimos 12 meses; ter sido submetido
uma menor atividade muscular nos
a funcionalidade e independência, a cirurgias nos últimos três meses e alte-
idosos em plataforma instável quando
aumentando o risco de quedas7,15. ração cognitiva detectada por escores
realizavam cálculos. Chen et al. 26
incompatíveis com a escolaridade no
No Brasil, a incidência de quedas na observaram que os idosos pioraram seu
Mini-Exame do Estado Mental28.
população idosa residente na co- desempenho em saltar obstáculos quan-
munidade atinge 25% até os 70 anos e do tiveram que dar uma resposta verbal A amostra, selecionada por con-
35% após essa idade. A queda é incluída associada. Shumway-Cook et al. 20 veniência, foi recrutada na Clínica-
entre as síndromes geriátricas e suas con- mostraram um aumento no tempo gasto Escola do Centro Universitário de Belo
seqüências incluem diminuição da para completar o teste de levantar e Horizonte. O estudo foi aprovado pelo
funcionalidade, imobilidade, institucio- caminhar cronometrado (TLCC, Timed Comitê de Ética em Pesquisa do Uni-BH
nalização e óbito7,10. up and go) em idosos realizando uma e os sujeitos assinaram um termo de
tarefa de subtração e carregando um consentimento.
Para identificar idosos com risco de
copo com água. Aplicou-se um questionário com da-
quedas, testes funcionais ou laboratoriais
têm sido utilizados. Recentemente, Contrariamente, Melzer et al.6 obser- dos pessoais e clínicos visando carac-
estudos indicam que a avaliação do varam maior oscilação postural sem a terizar os participantes quanto a sexo,
equilíbrio deve incluir a capacidade de tarefa dual e menor oscilação ao realizar escolaridade, peso, altura, sedentarismo,
realização de tarefas duplas2,6,8,17-21. A uma tarefa secundária em idosos que em número de medicamentos, doenças
tarefa dupla é definida pela realização jovens. A adição de tarefas duplas cogni- associadas e mão dominante.
simultânea de uma tarefa primária, tivas também não teve efeito significativo O teste de levantar e caminhar
geralmente postural, em associação com no TLCC em idosos no estudo de cronometrado (TLCC ou TUG, na sigla
outras tarefas, chamadas secundárias, Campbell et al.19. em inglês), descrito por Podsiadlo e
que podem ser cognitivas, motoras ou Richardson27, foi utilizado para avaliar
motoras-cognitivas 2 . A maioria das O objetivo desse estudo foi avaliar o
efeito da adição de seis diferentes tarefas o desempenho funcional motor dos
quedas em idosos ocorre quando andan- participantes. A versão original apre-
do e realizando uma tarefa secundária duplas (cognitivas, motoras e motora-
cognitiva) no desempenho funcional no sentou propriedades psicométricas
porque a tarefa dupla aumenta a deman- adequadas para idosos da comuni-
da motora necessária para manter o TLCC de idosos residentes na comuni-
dade. dade20,27. Foi solicitado que o indivíduo
equilíbrio. Tanto o controle postural se levantasse de uma cadeira padro-
quanto as tarefas cognitivas ou motoras nizada (altura do assento 43 cm; altura
ocorrem no nível cortical, possibilitando
que uma atividade interfira na outra ou METODOLOGIA do braço 61 cm; altura do encosto 43
cm; profundidade 42 cm; largura 40 cm)
acarrete uma redução do automatis-
Este foi um estudo experimental trans- e, após o comando “vai”, andasse 3
mo6,8,19.
versal, em que participaram 35 indi- metros, se virasse, andasse de volta à
Uma série de tarefas motoras e cogni- víduos com idade igual ou superior a 60 cadeira e se sentasse. O cronômetro foi
tivas de variada complexidade vem sen- anos, de ambos os sexos, funcionalmen- disparado ao primeiro movimento

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anterior do tronco e cessado quando o O cálculo amostral foi efetuado Tabela 1 Características demográficas e
mesmo encostou na cadeira. Os sujei- considerando dois estudos anteriores, clínicas dos participantes
tos foram instruídos a andar em ritmo com desvio padrão de 1,35 segundos, (n=35)
confortável e seguro, usando seus sapa- erro tolerável de 0,5 segundo e intervalo Característica %
tos usuais, sem qualquer assistência de confiança de 95%, indicando a
Idade (anos) 60-70 58
física. Todos os testes foram filmados e, necessidade de inclusão de 28 ido- 71-80 31
antes das medidas, os indivíduos fize- sos30,31. Considerando a rigidez dos cri- + de 80 11
ram o percurso uma vez para familia- térios de seleção e a possibilidade de Sexo Masculino 43
rização. não-concordância em participar do Feminino 57
estudo, foram recrutados 35 indivíduos. Estado civil Solteiro/a 9
Foram selecionadas duas tarefas
motoras e duas tarefas cognitivas de di- Foi feito um estudo piloto com outros Casado/a 62
Divorciado/a 9
ferente complexidade, além da associação cinco idosos, verificando-se a confia- Viúvo/a 20
das tarefas menos complexas motora e bilidade, medida pelo índice de corre-
Escolaridade (anos) Analfabeto/a 9
cognitiva, sendo propostas ao todo seis lação intra-classe (ICC), que variou de 1a4 53
tarefas: a tarefa simples, que consistiu na alta (0,72) a muito alta (0,99), com 4a8 9
realização do TLCC conforme descrito média de 0,88 para os tempos do TLCC. + de 8 29
acima (TLCC simples – TLCCS). O TLCC Para o número de acertos e erros nas Medicamentos 1 23
associado à tarefa motora mais simples, tarefas duplas, o ICC variou de discreto 2 14
de carregar um copo de acrílico cheio (0,15) a bom (0,69), com escore total + de 3 29
d’água com 5 cm de diferença da classificado como moderado (0,40). Nenhum 34
borda 21 , constituiu o TLCC motor 1 Atividade física Praticante 86
Para verificar as associações entre as Sedentário/a 14
(TLCCM1). O TLCC associado à tarefa
variáveis clínicas e demográficas e o Doenças associadas 1 34
motora mais complexa, de transferir 12
TLCC, foi utilizado o teste de Kruskal 2 23
moedas de 50 centavos de real do bolso
Wallis. Para analisar se houve correla- + de 3 26
direito para o esquerdo o mais rápido Nenhuma 17
ção entre os valores de cada TLCC, foi
possível, foi chamado de TLCC motor 2
utilizado o coeficiente de correlação de IMC <21H/<24M 11,4
(TLCCM2). Os bolsos foram confeccio- >21<27,9H/>24<33,9M 71,4
Pearson. Para verificar a diferença entre
nados em tecido, medindo 19x20 cm, e >28H/>34M 17,1
cada TLCC, foi aplicado o teste t de
foram acoplados a um cinto de com- IMC = Índice de massa corporal (kg/m2);
Student pareado. O nível de signifi-
primento ajustável17. A tarefa dupla do H = homem; M = mulher
cância adotado foi de p=0,05.
TLCC associado à tarefa cognitiva
simples, de repetir a sentença “Onde TLCCM2 e TLCCC2 foram mais lentos
está a criança?”29, foi denominada TLCC
cognitivo 1 – TLCCC1; o TLCC associa-
RESULTADOS em relação ao TLCCS, TLCCM1, TLCCC1
e TLCCMC. Não houve diferença
do à tarefa cognitiva complexa, de A Tabela 1 resume a caracterização significativa ao comparar-se TLCCM1
repetir os dias da semana em ordem dos participantes: 57% eram mulheres; com TLCCC1 E TLCCM2 com TLCCC2.
inversa começando do domingo21, foi de- a média de idade foi de 69,6±7,1 anos;
nominado TLCC cognitivo 2 – TLCCC2. O 62% eram casados. Cerca de um terço
TLCC associado às tarefas de carregar deles não tomavam medicamentos; entre Tabela 2 Tempo médio (em segundos)
um copo com água e repetir a frase os demais, o número médio de medica- de realização dos testes –
“Onde está a criança?” foi chamado de mentos usados foi 1,5±1,5. O número TLCC simples e associado a
TLCC motor-cognitivo – TLCCMC. médio de doenças associadas foi 1,62 tarefas duplas
Durante a realização das tarefas cogni- ±1,19; 86% praticavam atividade física
tivas, caso o idoso errasse, o mesmo Teste Média Desvio padrão
e 71,4% apresentaram índice de massa
deveria reiniciar a tarefa cognitiva. corporal (IMC) dentro dos limites de TLCCS 12,251 3,165
normalidade, com valor médio de TLCCM1 12,799 3,763
As variáveis de desfecho foram o
tempo gasto para completar o TLCC e 26,6±4 kg/m2. TLCCM2 16,710 6,681
os acertos e erros: a diferença em cm da Na Tabela 2 encontram-se os valores TLCCC1 13,154 4,626
altura da coluna de água no copo, o médios de tempo dos testes. A Tabela 3 TLCCC2 16,097 5,654
número de moedas transferidas, quantas apresenta as comparações entre as TLCCMC 13,533 4,664
vezes a frase foi repetida corretamente médias dos tempos nos testes. Todas as
e quantas vezes a ordem inversa dos dias tarefas duplas, simples ou complexas, TLCCS = TLCC simples; TLCCM1= TLCCS +
da semana foi dita. Cada uma dessas carregar um copo com água; TLCCM2 =
motoras, cognitivas ou motora-cognitiva,
TLCCS + transferir moedas de um bolso
variáveis foi avaliada por examinadores demandaram um tempo significativa- para o outro; TLCCC1 = TLCCS + repetir
independentes. Todas as medidas foram mente maior para sua realização que o uma sentença; TLCCC2 = TLCCS + falar os
realizadas no mesmo local e dia e a TLCC simples. O tempo para a realização dias da semana em ordem inversa;
ordem dos testes foi aleatória com do TLCCMC foi significativamente maior TLCCMC = TLCCS + carregar um copo
intervalo de 2 minutos entre os mesmos. quando comparado ao TLCCM1. Os com água + repetir uma sentença

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Tabela 3 Comparação entre as médias dos tempos (em segundos) de realização de ocorrer prejuízo de uma ou ambas quan-
cada tipo de teste pelos idosos; coeficiente de correlação (r) e valor de p do a capacidade do indivíduo vai além
de sua reserva34,35.
Testes TLCCS TLCCM1 TLCCM2 TLCCC1 TLCCC2
r =-0,548 Em contrapartida, outros estudos não
TLCCM1 demonstram piora do desempenho pri-
p = 0,011 mário associado à tarefa dupla19,35,36.
r = -4,456 r = -3,908 Possíveis justificativas podem ser o
TLCCM2
p <0,001 p <0,001 tamanho da amostra, o tipo de tarefa
r = -0,903 r = -0,355 r = 3,553 primária e secundária e os critérios de
TLCCC1 seleção.
p = 0,016 p = 0,264 p <0,001
r = -3,846 r = -3,298 r = 0,61 r = -2,943 Na realização do TLCCM2 e o
TLCCC2 TLCCC2 os idosos levaram um tempo
p <0,001 p <0,001 p = 0,44 p <0,001 significativamente maior em relação ao
r = -1,282 r = -0,734 r = 3,17 r = -0,379 r = 2,564 TLCCS, TLCCM1, TLCCC1 e TLCCMC. As
TLCCMC
p = 0,001 p = 0,02 p <0,001 p = 0,165 p <0,001 tarefas de transferir moedas e repetir os
dias da semana em ordem inversa foram
TLCCS = TLCC simples; TLCCM1= TLCCS + carregar um copo com água; TLCCM2 = TLCCS
+ transferir moedas de um bolso para o outro; TLCCC1 = TLCCS + repetir uma sentença; consideradas de maior dificuldade,
TLCCC2 = TLCCS + falar os dias da semana em ordem inversa; TLCCMC = TLCCS + carregar quando comparadas às tarefas mais
um copo com água + repetir uma sentença simples (carregar um copo com água e
repetir uma frase), realizadas isola-
Na análise das associações entre as A média do tempo gasto para realizar damente ou associadas (TLCCMC).
variáveis de caracterização da amostra o TLCCM1 foi de 12,8 segundos. Contrariamente, Campbell et al.19 e Bond
e cada TLCC, verificou-se associação Shumway-Cook et al.20 obtiveram média e Morris36 não encontraram diferença
significativa apenas do sexo com o de 9,7 segundos na mesma tarefa, em significativa no desempenho com tarefas
TLCCM1 (p=0,017) e com o TLCCMC velocidade rápida. No TLCCM2, a média de variada complexidade. Mas, em
(p=0,006). O sexo feminino apresentou obtida foi de 16,7 segundos. O estudo acordo com os achados do presente
um tempo médio de 2,539 e 3,414 encontrado que também usou essa tarefa estudo, Spirduso37 defende que, quanto
segundos maior que o sexo masculino tem como tarefa primária caminhar em maior a complexidade da tarefa, maior
no TLCCM1 e no TLCCMC, respectiva- “oito”, dificultando a comparação dos a latência da resposta dos indivíduos,
mente. resultados22. No TLCCC1 e no TLCCC2, principalmente se forem idosos.
as médias encontradas foram 13,2 e 16,1
O desempenho nas tarefas motoras e
DISCUSSÃO segundos, superiores às obtidas por
Campbell et al.19 nas mesmas tarefas: cognitivas mais simples e mais complexas
10,8 e 11,6 segundos, respectivamente. não diferiu de forma significativa entre si,
Nesta pesquisa, o tempo médio para sugerindo que a complexidade da tarefa
a realização do TLCC simples foi de 12,3 Este estudo demonstrou piora do de- parece ser mais importante no seu efeito
segundos. Embora não haja consenso sempenho funcional no TLCC associa- sobre a tarefa primária do que sua natu-
sobre o tempo médio do TLCC na do à tarefa dupla, em comparação com reza motora ou cognitiva.
população idosa da comunidade, com o TLCC simples, independente da tarefa
a média variando de 8,4 a 14 segun- O sexo foi a única variável que apre-
realizada. Shumway-Cook et al. 20
dos20,21,32-34, Bohannon29, em uma meta- sentou associação com os valores médios
observaram aumento do tempo no TLCC
análise, propôs os seguintes pontos de de tempo no TLCCM1 e TLCCMC, ou seja,
quando carregando um copo com água,
corte, considerando a faixa etária: 8,1 as mulheres necessitaram de mais tempo
em idosos da comunidade. Shkuratova
segundos entre 60 e 69 anos; 9,2 para andar e carregar um copo com água
et al.14 verificaram menor comprimento
segundos entre 70 e 79 anos e 11,3 ou carregá-lo e repetir uma sentença. Na
do passo, maior cadência e aumento do
segundos entre 80 e 99 anos de idade. ausência de outros fatores explicativos,
duplo apoio quando a transferência de
Como o tamanho da amostra no presente pode-se considerar que motivação
moedas de um bolso para o outro foi
estudo é relativamente pequeno e os intrínseca e auto-eficácia podem ter
associada a andar em “oito”. Chen et
subgrupos teriam um número muito re- influenciado o desempenho das mu-
al.26 demonstraram pior desempenho ao
duzido de sujeitos, não foi possível lheres, sendo possível que as idosas não
saltar um obstáculo quando ao mesmo
comparar os tempos médios por faixa tenham se sentido tão motivadas quanto
tempo era exigida uma resposta verbal.
etária com os sugeridos por Bohannon29. os homens na realização da tarefa mo-
Uma possível explicação para a interfe-
No entanto, como esta é a única meta- tora de carregar um copo com água37.
rência da tarefa dupla no controle
análise que sugere pontos de corte para Outras associações podem não ter sido
postural é a competição da tarefa secun-
significativas pelo fato de o tamanho da
o teste, sua citação é importante para dária com a efetividade da resposta
amostra neste estudo não ter tido poder
indicar que pode haver efeito da faixa motora e da aferência sensorial para
suficiente para essa análise estatística.
etária e não só do uso de acessório, manter o equilíbrio. Tanto tarefas pri-
como se pensava até então na interpre- márias quanto secundárias ocorrem por A população deste estudo constituiu-
tação dos dados do TLCC. processos neuronais similares, podendo se principalmente de mulheres, de baixa

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escolaridade, fisicamente ativas, sem obe- participante. Outras variáveis, além das nada de acordo com o nível de funcio-
sidade, com poucas doenças associadas avaliadas, poderiam afetar o desempenho nalidade do indivíduo.
e baixo uso de medicamentos. Novas funcional dos idosos durante a reali-
pesquisas devem ser realizadas para de- zação de tarefas duplas.
finir o efeito da adição de tarefas duplas
O TLCC é um teste funcional ampla-
CONCLUSÃO
ao desempenho funcional de idosos
mente utilizado para predizer o risco de Quando uma tarefa dupla foi associa-
institucionalizados, que necessitam de
quedas em idosos 19,20,29,31. Contudo, da ao TLCC houve aumento do tempo
auxílio para a marcha, sedentários, cai-
devido ao fenômeno do iceberg, os para realizá-lo. As tarefas de transferir
dores e com alteração cognitiva. O estu-
idosos podem apresentar resultados moedas e repetir os dias da semana em
do do efeito de outras tarefas duplas e o
falsamente negativos. O TLCC associado ordem inversa foram as que mais afeta-
efeito do treinamento sobre o desempe-
a tarefas duplas poderia identificar de ram o desempenho no TLCC. A comple-
nho funcional com tarefas duplas po-
forma mais adequada os idosos com xidade da tarefa foi mais importante no
deria fornecer informações adicionais.
deficit de equilíbrio não-identificado pelo seu efeito sobre a tarefa primária do que
Esta pesquisa possui limitações. A TLCC simples. O efeito das tarefas duplas sua natureza motora ou cognitiva. Por-
seleção da amostra por conveniência deve ser considerado na avaliação e tanto, deve-se levar em consideração a
pode dificultar a generalização dos resul- reabilitação do idoso e a complexidade inclusão da tarefa dupla na avaliação e
tados e indicar tendências no grupo das tarefas secundárias deve ser selecio- prática clínica.

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Estudo comparativo entre exercícios com dinamômetro isocinético e bola


terapêutica na lombalgia crônica de origem mecânica
Comparison between isokinetic dynamometer and therapeutic ball exercises
in chronic low-back pain of mechanical origin
Cíntia Domingues de Freitas1, Júlia Maria D’Andrea Greve2

Estudo desenvolvido na FMUSP RESUMO: O objetivo foi avaliar os efeitos dos exercícios de fortalecimento de tronco
– Faculdade de Medicina da sobre a dor lombar crônica de origem mecânica e comparar o uso do dinamômetro
Universidade de São Paulo, São isocinético e da bola terapêutica. Dezenove pacientes com dor lombar crônica
Paulo, SP, Brasil foram distribuidos randomicamente em dois grupos, para fortalecimento do tronco:
1
grupo bola (5 homens e 5 mulheres, idade média 31,2±8,2) e grupo dinamômetro
Fisioterapeuta Ms. do IOT – (2 homens e 7 mulheres, idade média 37,9±11,2). Os grupos foram tratados em
Instituto de Ortopedia e duas sessões semanais, por três meses, e avaliados antes e após o tratamento, quanto
Traumatologia da FMUSP à dor (escala visual analógica), incapacidades funcionais (Questionário de Roland-
2
Profa. Livre-Docente do IOT / Morris), mobilidade do tronco (teste de Schöber e distância do 3o dedo ao solo) e
FMUSP força concêntrica dos flexores e extensores de tronco, no dinamômetro isocinético
Cybex 6000. Os parâmetros avaliados foram: pico de torque, ângulo de pico de
ENDEREÇO PARA torque, potência, trabalho, tempo de aceleração e a relação flexores/extensores.
CORRESPONDÊNCIA Os dados foram tratados estatisticamente, sendo adotado um nível de significância
de 5%. Foi observada uma melhora significante (p<0,05) da dor, da mobilidade,
Cíntia D. de Freitas das incapacidades funcionais e da força dos músculos extensores em ambos os
R. José Arnoni 274 casa 20 grupos. Os exercícios de fortalecimento melhoraram a dor, as incapacidades
Vila Marieta funcionais, a mobilidade e a força extensora. Ambas as técnicas foram igualmente
02375-120 São Paulo SP efetivas.
e-mail:
cintiadfreitas@ig.com.br DESCRITORES: Dor lombar/reabilitação; Modalidades de fisioterapia; Terapia por
exercício

ABSTRACT: This study aimed at assessing the effects of trunk strengthening exercises on
chronic, mechanical low-back pain and compare the use of isokinetic dynamometer
and therapeutic ball. Nineteen patients with chronic low back pain were randomly
divided into two groups of trunk muscle strengthening, namely the ball group (5
men and 5 women, mean age 31,2±8,2) and the dynamometer group (2 men and 7
women, mean age 37.9±11.2). Patients attended two weekly sessions during three
months and were evaluated before and after treatment as to pain (visual analog
scale), functional disability (Roland Morris questionnaire), mobility (Schöber and
fingertip-to-floor tests), and trunk concentric extensor and flexor muscles force (by
the isokinetic dynamometer). The parameters selected to evaluate muscular
performance were: peak torque, peak torque angle, power, work, acceleration time,
and flexor/extensor ratio. Data were statistically analysed and the significance level
set at 5%. A significant (p<0,05) pain relief and improvement in mobility, functional
disabilities and extensor force was found in both groups. The strengthening exercises
APRESENTAÇÃO relieved pain and improved functional disabilities, mobility and extensor force.
set. 2008 Both techniques are equally effective.
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO KEY WORDS: Exercise therapy; Low-back pain/rehabilitation; Physical therapy
nov. 2008 modalities

380 Fisioter
Fisioter Pesq.
Pesq. 2008;15(4):380-6
2008;15(4)
Feeitas & Greve Lombalgia: comparação entre dinamômetro e bola

INTRODUÇÃO movimentos do tronco, em exercícios com


diferentes posições e recursos, como
exercícios de estabilização para pacientes
com dor lombar crônica, o objetivo do pre-
O principal fator de risco para o sur- pranchas de equilíbrio e bolas 25,28,29. sente estudo é avaliar os efeitos de exer-
gimento da dor lombar é a fraqueza dos Exercícios sobre superfícies instáveis cícios de fortalecimento dos músculos do
músculos do tronco. Em pacientes com aumentam a atividade eletromiográfica tronco sobre a dor e as incapacidades
dor lombar crônica, os músculos exten- e o sinergismo muscular do tronco, funcionais em pacientes com dor lombar
sores do tronco normalmente são mais comparados às superfícies estáveis22,28-33. O crônica de origem mecânica, compa-
fracos do que os flexores1-7. A fraqueza maior nível de dificuldade das posturas rando as técnicas de fortalecimento com
muscular é associada ao sedentarismo, à durante os exercícios, a maior distância dinamômetro isocinético e com bola
hipotrofia dos músculos paravertebrais3,5,7 da bola e dos membros em relação ao terapêutica.
e às alterações do controle motor6,8-11, corpo geram diferentes padrões de ativa-
como atrasos nos ajustes antecipatórios ção muscular22-25,27-29,33-37 e aumentam a
dos músculos paravertebrais e do trans- solicitação muscular do tronco em METODOLOGIA
verso abdominal6-8,12,13, além de défices indivíduos saudáveis, tanto em superfícies
estáveis como instáveis29,34,37. Contrapondo- Este ensaio clínico foi realizado no
de propriocepção e equilíbrio7,13. Altera-
se a esses dados, há estudos que não Instituto de Ortopedia e Traumatologia
ções posturais, redução da mobilidade da
identificam diferenças significantes da Universidade de São Paulo. Após a
coluna, obesidade e encurtamento da
quanto à atividade eletromiográfica, tan- avaliação clínica e radiográfica e preen-
cadeia posterior também estão associa-
chimento dos critérios de inclusão, os
dos com a dor lombar crônica1. to para os extensores do tronco38 como
pacientes foram orientados sobre os
para os flexores30, ao comparar exer-
Entre os protocolos encontrados na procedimentos da pesquisa e assinaram
cícios de tronco com bola e em uma
literatura para o tratamento da dor lom- o Termo de Consentimento Livre e Escla-
superfície estável, embora a carga im-
bar crônica, predominam os exercícios recido. O estudo foi aprovado pelo
posta sobre a coluna tenha sido menor
de fortalecimento do tronco visando a Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital
com a bola, o que poderia ser vantajoso
estabilização lombar14-21. Há evidências de das Clínicas da Faculdade de Medicina
na presença de dor38,10.
que o fortalecimento do tronco reduz as da Universidade de São Paulo.
incapacidades funcionais e a dor lombar Na literatura, os resultados obtidos
crônica19-21. Os critérios de inclusão consideraram:
com exercícios de estabilização com a
indivíduos com queixa de dor lombar por
Para estabilização da coluna propõe- bola também são controversos no que
mais de três meses, não praticantes de
se o treinamento global e local da região concerne aos indivíduos portadores de
atividade esportiva, sem história pregressa
lombo-pélvica e abdominal 13,22,23. A dor lombar crônica. Estudos afirmam
de mielopatias, cirurgias, instabilidades
estabilização global refere-se ao treina- que os exercícios de estabilização em
ou deformidades na coluna, sem sintomas
mento dos músculos superficiais (reto sujeitos com dor lombar crônica não me-
de radiculopatias e hipertensão arterial.
abdominal, oblíquo externo e paraver- lhoram de forma significante a dor e as
Também foram excluídos indivíduos que
tebrais), enquanto a estabilização local incapacidades39 e não recrutam os mús-
estivessem participando de outro proces-
foca os músculos profundos (transverso culos do tronco em intensidades apropria-
so de reabilitação ou sob a administra-
abdominal e multífidus)13,22,23. Exercícios das para aumentar a força24,39. Em contra-
ção de medicamentos. Ainda, o paciente
que reeducam o controle motor também partida, outros estudos demonstram
seria excluído por excesso de faltas às
são chamados exercícios de estabiliza- significante redução da dor e incapaci-
sessões de terapia (>40%), desistência,
ção. Eles estimulam a força muscular dades após o tratamento de pacientes
ou se, durante o tratamento, manifestas-
funcional, a propriocepção e reforçam com dor lombar crônica com a bola26,35
se sintomas de radiculopatias.
o sinergismo muscular10,24,25. e em exercícios supervisionados com
bola após terapia manipulativa40,41. A amostra final contou com 19
Ainda não há evidências sobre qual é o pacientes com dor lombar crônica de
tipo de exercício mais efetivo7,19-21,26. Alguns Além dos recursos acima citados, o
origem mecânica, randomicamente dis-
protocolos propõem fortalecer sepa- dinamômetro isocinético também é
tribuídos em dois grupos: grupo que fez
radamente os músculos extensores15,16, sugerido como instrumento de treina-
exercícios com a bola, GB (5 homens e
enquanto outros trabalham flexores e mento, uma vez que a velocidade e am-
5 mulheres, idade média 31,2±8,2) e o
extensores do tronco14,17,18. A abordagem plitude de movimento podem ser
grupo dinamômetro, GD (2 homens e 7
ideal para o treinamento de estabiliza- controladas42,43. Entretanto, um estudo
mulheres, idade média 37,9±11,2).
ção do tronco é aquela que visa o siner- que comparou o uso desse instrumento
gismo entre os sistemas de estabilização com a cinesioterapia clássica para o for-
local e global13,22,27 e o treino de equi- talecimento do tronco de pacientes com Procedimentos
líbrio27, pois o treino isolado dos exten- dor lombar crônica não demonstrou dife-
Os pacientes foram avaliados antes e
sores pode alterar a estabilidade pos- rença significante entre as duas técnicas
após o tratamento. As incapacidades
tural27. em relação à melhora da força, dor, inca-
funcionais e a dor foram avaliadas por
pacidades nem mobilidade17.
O treino de estabilização da coluna meio do Questionário de Incapacidades
associa movimentos dos membros Devido às controvérsias e à ausência Funcionais de Roland e Morris (RM)44 e
superiores e inferiores a posturas e de evidência na literatura pertinente aos por uma escala visual analógica (EVA)

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :380-6 381


de dor. No questionário RM, os escores Tabela 1 Idade e índice de massa corporal (IMC) (média ± desvio padrão) dos
variam de 0 a 24, sendo escores acima integrantes dos grupos bola (GB) e dinamômetro (GD), e valores da
de 14 indicadores de incapacidade comparação entre os grupos
significativa 44. Na EVA, o voluntário
marca sobre um desenho semelhante a GB (n=10) GD (n=9) Mann Whitney p
um termômetro o ponto que melhor Idade 31,2±8,2 37,9±11,2 zcalc=-1,390 0,164
define sua dor no momento da entrevista IMC 23,8±3,0 27,0±5,1 zcalc=-1,470 0,142
(de 0, ausência de dor, a 10, dor quase
insuportável. A flexibilidade da cadeia
exercícios eram constituídos por 10 significância de 5%. Para a avaliação de
muscular posterior foi avaliada pelo teste
repetições, sendo os exercícios isomé- uma possível associação entre a
da distância do terceiro dedo ao solo45;
tricos mantidos por 5 segundos cada. O ausência ou presença de dor nos grupos
e a mobilidade lombar, pelo teste de
protocolo era composto por três fases foi usado o teste do Qui-quadrado (X2)
Schöber45, no qual valores crescentes
com seis modalidades de exercícios. obedecendo-se às restrições de Cochran
indicam aumento da mobilidade (e
Esses exercícios eram modificados a ca- e, quando estas estavam presentes, o
abaixo de 5 cm, muito baixa mobili-
da mês de acordo com os seguintes cri- teste do Qui-quadrado foi substituído
dade). A força concêntrica dos flexores
e extensores de tronco foi avaliada no térios: distanciando-se a bola do centro pelo teste exato de Fisher.
dinamômetro isocinético (Cybex 6000) de massa corporal, passando de movi-
mentos analíticos evoluídos a movimen-
a uma velocidade de 120º/seg em duas
séries de quatro repetições. Os parâme- tos combinados, exercícios com a bola RESULTADOS
tros selecionados para a avaliação do estática evoluindo para exercícios com a
Os grupos foram considerados ho-
desempenho muscular foram: pico de bola em movimento; e aumentavam-se
mogêneos e comparáveis quanto à idade
torque (Nm), ângulo de pico de torque as alavancas dos membros superiores e
e índice de massa corporal (Tabela 1).
(º), potência (W), trabalho (J), tempo de inferiores associadas aos movimentos do
aceleração (seg) e a relação flexores/ tronco. Em relação às incapacidades funcio-
extensores (%). A avaliação foi realizada nais (Tabela 2), ambos os grupos
O GD realizou exercícios concêntri-
de acordo com o guia de normas apresentaram melhora significante (GB
cos e excêntricos para flexores e
técnicas Cybex 6000. p=0,005; GD p=0,007), o que foi
extensores de tronco nas velocidades de
observado pela redução dos escores no
O tratamento transcorreu por três 90º e 120º/seg no dinamômetro isoci-
questionário RM após o tratamento. Ao
meses com uma freqüência de duas nético, na amplitude de 90º de flexão e
comparar os grupos, ambos os trata-
sessões semanais de uma hora. O 10º de extensão. O protocolo foi cons-
mentos produziram efeitos similares em
primeiro grupo (GB, n=10) realizou tituído por três fases que evoluíram a
exercícios de fortalecimento com a bola termos de escores do questionário
cada mês aumentando-se o número de
e o segundo grupo (GD, n=9) com o (p=0,306). A dor, medida pela EVA,
repetições: 10 séries de 8 repetições, 10
dinamômetro isocinético. Previamente reduziu-se de forma significante em
séries de 10 repetições e 10 séries de 12
a cada sessão de fortalecimento, ambos ambos os grupos (p<0,05).
repetições.
os grupos foram submetidos a alonga- Quanto à mobilidade, os resultados
mentos passivos dos músculos iliopsoas,
isquiotibiais, glúteo máximo e tríceps
Análise estatística do teste 3 o dedo-solo apresentaram
redução da distância medida após o
sural e alongamentos ativos dos paraver- Para a avaliação das possíveis diferen- tratamento, ou seja, melhora significan-
tebrais. Os alongamentos foram realiza- ças entre os resultados antes e após a te em ambos os grupos (GB p=0,005;
dos com três repetições mantidas por 20 aplicação dos exercícios para cada gru- GD p=0,008) (Tabela 2). Os valores no
segundos cada. po de tratamento foi utilizado o teste de teste de Schöber após o tratamento
O GB realizou exercícios concêntri- Wilcoxon. Para a avaliação da diferença aumentaram de forma significante
cos, excêntricos e isométricos para os entre os grupos foi utilizado o teste apenas no grupo dinamômetro (GB
flexores e extensores do tronco. Os Mann-Whitney. Foi adotado um nível de p=0,180; GD p=0,05).

Tabela 2 Escores (média ± desvio padrão) nos testes de incapacidade, flexibilidade e mobilidade dos grupos bola e
dinamômetro, e comparação entre antes e depois do tratamento
Característica Escores do Grupo bola (n=10) Escores do Grupo dinamômetro (n=9) Mann Whitney-Delta %
avaliada Antes Depois Delta % Antes Depois Delta % z calculado p
Incapacidade1 8,5 ±5,1 2,6 ±3,0 -66,0 ±22,9 8,3 ±3,0 1,9 ±1,4 -78,7 ±14,5 -1,024 0,306
Flexibilidade2 19,6 ±9,5 14,8 ±8,5 -29,3 ±19,3 14,8 ±7,1 9,7 ±8,0 -44,1 ±34,4 -0,572 0,568
Mobilidade3 5,3 ±0,8 5,5 ±0,4 6,8 14,9 5,3 ±0,6 5,7 ±0,4 8,7 ±16,1 -2,476* 0,013*
1 2 o 3
medida pelo questionário RM; medida pelo teste 3 dedo-solo; medida pelo teste de Schöber

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Fisioter Pesq.
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Feeitas & Greve Lombalgia: comparação entre dinamômetro e bola

Tabela 3 Desempenho dos músculos extensores (média ± desvio padrão) dos grupos bola e dinamômetro antes e depois do
tratamento e comparação entre os grupos
Grupo bola (n=10) Grupo dinamômetro (n=9) Mann Whitney
Parâmetro avaliado
Antes Depois Delta % Antes Depois Delta % z calc p
Pico de torque (N/m) 173 ±46,7 224 ±75,1 28,1 ±15,7 142 ±29,5 197 ±93,1 33,6 ±34,2 -0,245 0,806
Trabalho total (J) 157 ±54,4 214 ±66,2 38,8 ±21,3 130 ±32,6 160 ±71,6 21,6 ±30,6 -1,551 0,121
Potência média (W) 168 ±65,4 238 ±74,2 46,1 ±25,3 136 ±40,7 175 ±86,8 25,4 ±32,7 -1,470 0,142
Tempo de aceleração (seg) 0,13 ±0,04 0,08 ±0,03 -37,7 ±25,1 0,11 ±0,05 0,08 ±0,05 -17,3 ±40 -1,103 0,270
Ângulo pico de torque (º) 41,1 ±14 42,1 ±14,8 18,2 ±63,7 29,4 ±16,3 39,1 ±21,3 39,7 ±74,9 -0,490 0,624
Pico torque flex/ext 165 ±24,8 132 ±18,2 -19,5 ±7,5 182 ±23,3 132 ±33,6 -26,7 ±20,3 -0,653 0,513
Potência flex/ext 211 ±58,1 156 ±24,5 -16,4 ±43,2 237 ±39,9 187 ±44 -19,4 ±22,1 -0,572 0,568
Trabalho flex/ext 200 ±27 148 ±19,6 -25,3 ±11,2 225 ±43 178 ±41,5 -19,2 ±22 -0,653 0,514
Flex/ext = relação dos flexores sobre os extensores

O pico de torque (GB p=0,005; GD optou-se por comparar o fortalecimento do por uma limitação metodológica do
p=0,008),o trabalho total (GB p=0,007; obtido usando o dinamômetro isociné- próprio dinamômetro isocinético, já que,
GD p=0,021) e a potência (GB p=0,005; tico e a bola terapêutica. em relação ao tronco, o equipamento
GD p=0,028) melhoraram somente para não faz a correção da força da gravidade;
Ambos os protocolos geraram me-
os extensores (Tabela 3) em ambos os além disso, o movimento de flexão
lhora significante da dor e das incapaci-
grupos, e não houve diferença signifi- durante a avaliação é realizado a favor
dades, tal como encontrado em outros
cante entre os grupos (p>0,05). O tempo da gravidade.
estudos que utilizaram o fortalecimento
de aceleração (Tabela 3) melhorou so-
para esse tipo de paciente14-18. No grupo A melhora do equilíbrio entre os
mente para os extensores do grupo bola
bola, houve melhora significante da dor músculos flexores e extensores foi re-
(GB p=0,005; GD p=0,095), também e das incapacidades, corroborando cuperada pelo ganho de força extensora.
sem diferença significante entre os outros estudos que utilizaram o método. Uma comparação entre os dois proto-
grupos (p=0,270). O ângulo do pico de Ao comparar esses protocolos com o colos mostrou que ambos produziram
torque dos extensores (Tabela 3) presente estudo, observam-se diferenças efeitos similares em termos de ganho de
apresentou diferença significante após o quanto ao tempo de tratamento, freqüência força.
tratamento somente no grupo dinamô- semanal, quantidade e tipos de exer-
metro (GB p=0,515; GD p=0,05). Os exercícios elaborados com a bola
cícios26,35,40,41. Não houve diferença
Nenhuma diferença significante foi geraram um aumento significante da
significante entre os protocolos, tal como
encontrada entre os grupos (p=0,624). força extensora (demonstrado pela
no estudo que comparou a dinamome-
dinamometria isocinética), opondo-se a
A relação flexão/extensão (Tabela 3) tria isocinética com a cinesioterapia
outros estudos que não encontraram
para o pico de torque (GB p=0,005;GD clássica17.
atividade eletromiográfica suficiente
p=0,011), trabalho total (GB p=0,005; Houve uma melhora significante na para desenvolver força24,39. Estudos an-
GD p=0,051) e potência (GB p=0,028; flexibilidade da cadeia posterior no tes- teriores que utilizaram a bola para o
GD p=0,05) demonstrou melhora te do terceiro dedo ao solo em ambos tratamento da dor lombar crônica não
significante após o tratamento em ambos os grupos, conforme esperado, já que avaliaram a força do tronco 26,35,40,41.
os grupos, sem diferença significante foram submetidos ao mesmo protocolo Apenas um estudo demonstrou que o
entre os grupos (p>0,05). de alongamento. O ganho da mobilida- treinamento com exercícios de ponte na
de lombar (Schöber) foi maior no grupo bola é capaz de aumentar a resistência
dinamômetro, o que pode ser explicado muscular e a estabilização do tronco,
DISCUSSÃO pelos exercícios realizados no equipa- mas para uma população saudável; além
A escolha de dois protocolos de mento, com maior flexão do tronco. disso, para tal avaliação não foi utilizada
fortalecimento deveu-se ao fato de a a dinamometria, apenas testes de
O pico de torque, trabalho total e po-
literatura relatar a fraqueza dos músculos resistência37. No presente estudo, os
tência dos flexores não mostraram
do tronco como o principal fator de risco exercícios de ponte fizeram parte do
diferenças significantes após o tratamen-
para o desenvolvimento da dor lombar treinamento do grupo bola e o ganho
to, enquanto os extensores mostraram um
de força foi demonstrado por dinamo-
crônica1-3,5-7, além de ser uma evidência ganho relevante. Não houve maior ênfase
metria.
a indicação do fortalecimento para no treinamento dos extensores em ambos
pacientes com dor lombar crônica19-21. os protocolos propostos. O fato de os O tempo de aceleração foi significan-
Como não há evidência sobre qual é o flexores não apresentarem ganho de força temente reduzido após o tratamento
tipo de exercício mais efetivo7,19-21,26, após o tratamento pode ter sido influencia- somente para os extensores dos volun-

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :380-6 383


tários do grupo bola, o que pode ser capacidade do indivíduo de produzir reduziria o custo em relação ao número
explicado pelos rápidos ajustes posturais força durante o exercício mas, por outro de profissionais e disponibilizaria mais
que são exigidos continuamente sobre lado, apresenta um único padrão de vagas nos setores de reabilitação. Além
a superfície instável da bola. movimento, com uma grande amplitude disso, dependendo da técnica empre-
Por outro lado, o ângulo do pico de de flexão do tronco. Devido a sua versa- gada, fatores como a motivação dos
torque mostrou melhora significante tilidade, a bola terapêutica permite tra- pacientes e a interação terapeuta-
somente para os extensores dos volun- balhar uma grande variedade de movi- paciente podem colaborar para uma
tários do grupo dinamômetro, represen- mentos e posturas, ativando diferentes maior adesão e uma recuperação mais
tando um melhor recrutamento das padrões de contração muscular27,28,32,34, rápida dos pacientes. A bola pode tornar-
fibras extensoras, o que pode ser expli- que seriam mais funcionais para a vida se uma técnica mais lúdica e motivante
cado pela especificidade do movimen- diária. Além disso,os exercícios realiza- para os pacientes na fisioterapia.
to, já que esse grupo foi treinado no dos sobre a bola geram menor compres-
são sobre a coluna, o que poderia
próprio equipamento.
justificar sua indicação para pacientes CONCLUSÃO
Embora ambas as técnicas tenham com dor10,38.
obtido resultados similares, algumas Os exercícios de fortalecimento e
vantagens e desvantagens podem ser No que concerne à prática clínica, a alongamentos propostos melhoraram a
atribuídas a cada uma delas. O dinamô- bola é um recurso mais acessível, dor, as incapacidades funcionais e a for-
metro isocinético promove segu- quando comparada ao dinamômetro. ça extensora do tronco. Ambas as
rança42,43, já que mantém uma veloci- Além do mais, em estágios mais avan- técnicas foram igualmente eficientes no
dade constante durante o movimento e çados do tratamento, a bola pode ser tratamento dos pacientes com dor
ajusta a resistência de acordo com a usada para tratamentos em grupo, o que lombar crônica da amostra estudada.

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Avaliação da flexibilidade muscular entre meninos e meninas de 7 e 8 anos


Muscle flexibility assessment among boys and girls aged 7 and 8 years old
Patrícia Jundi Penha1, Sílvia Maria Amado João2

Estudo desenvolvido no RESUMO: A flexibilidade muscular tem importante papel na prevenção de algumas
Laboratório de Avaliação patologias musculoesqueléticas, além de influenciar a postura. A criança em
Musculoesquelética do Fofito/ desenvolvimento apresenta maior flexibilidade. O objetivo deste foi avaliar a
FMUSP – Depto. de flexibilidade de crianças de 7 e 8 anos e a existência de diferença entre sexo e
Fisioterapia, Fonoaudiologia e idade para essa variável. Foram avaliadas 230 crianças das escolas municipais da
Terapia Ocupacional da cidade de Amparo, SP. A amostra constituiu-se de 130 meninas e 100 meninos
Faculdade de Medicina da saudáveis, com índice de massa corporal menor que o 85o percentil, que não
Universidade de São Paulo, São praticavam esporte institucionalizado ou exercício físico em freqüência maior que
Paulo, SP, Brasil duas vezes e/ou 3 horas por semana. A flexibilidade foi medida pelo teste da
1
Fisioterapeuta; Profa. Ms. do distância do 3o dedo ao solo. Os dados foram tratados estatisticamente para verificar
Curso de Fisioterapia da a existência de diferenças de sexo e idade, adotando-se o nível de significância de
Pontifícia Universidade 5%. Foi encontrada diferença significante de sexo (p=0,05), tendo as meninas
Católica de São Paulo apresentado maior distância (29,15±8,80 cm) 3o dedo-solo que os meninos
(27,41±10,01 cm). Não houve diferenças entre as idades (p=0,725). As meninas
2
Fisioterapeuta; Profa. Dra. do apresentaram menor flexibilidade que os meninos.
Curso de Fisioterapia do Fofito/ DESCRITORES: Avaliação; Criança; Maleabilidade
FMUSP
ENDEREÇO PARA ABSTRACT: Muscle flexibility has an important role in preventing musculoskeletal
CORRESPONDÊNCIA
pathologies, besides influencing posture. Developing children present more
flexibility. The purpose was to assess flexibility in 7- and 8-year olds, inquiring
Patrícia Jundi Penha whether there are age or sex differences. Two hundred and thirty public schools
Av. Pref. Raul de Oliveira students (from Amparo, SP) aged 7 to 8 years old were assessed. The sample was
Fagundes 141 apto. 42 made up of healthy 130 girls and 100 boys, with body mass index below the 85th
13900-560 Amparo SP percentile, who did not take part in institutionally organized sports or did not practice
e-mail: regular, physical exercise over twice and/or three hours a week. Flexibility was
ft.patriciapenha@gmail.com measured by the fingertip-to-floor test. Data were statistically analysed to verify
sex and/or age differences, significance level being set at 5%. A significant sex
Este estudo recebeu apoio da difference was found (p=0.05): girls showed higher distance (29.15±8.80 cm) in
Fapesp – Fundação de Amparo the fingertip-to-floor test than boys (27.41±10.01 cm). There were no age differences
à Pesquisa do Estado de São (p=0.725). Girls presented less flexibility than boys.
Paulo
KEY WORDS: Child; Evaluation; Pliability
APRESENTAÇÃO
set. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
nov. 2008

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :387-91 387


INTRODUÇÃO flexibilidade dos isquiotibiais, porém
validade baixa para avaliar a flexi-
correspondem à faixa de 7 a 8 anos –
dessas escolas era 869. Para o cálculo
A flexibilidade é uma das caracterís- bilidade da musculatura da coluna11,16,17. do tamanho mínimo da amostra,
ticas do sistema muscular que promove utilizou-se um intervalo de confiança de
Entretanto, o teste que mede a dis-
melhor eficiência de movimento, me- 95% e um valor de precisão (α) de 5%.
tância do 3o dedo ao solo avalia a mo-
lhora o desempenho muscular, influencia Com base nesses dados, aplicou-se a
bilidade de toda a coluna e da pelve, além
a postura do indivíduo e previne algumas fórmula n´= [(zα)2pq]/α2 – onde zα é um
de ser um teste validado, reprodutível e
patologias musculoesqueléticas 1-3 . índice estatístico para α de 5%, p e q
com excelente confiabilidade intra e
Estudo longitudinal realizado por são valores fixos para um intervalo de
interavaliador (coeficiente de correlação
Mikkelson et al.3 mostrou que indivíduos confiança de 95% e α é o valor de
intraclasse = 0,99)12. Não há na literatura
com boa flexibilidade muscular na ado- precisão adotado – obtendo n´=384.
estudos que avaliem a flexibilidade
lescência apresentaram menor inci- Posteriormente, aplicou-se a fórmula
muscular de crianças pelo teste do 3o
dência de dor cervical na fase adulta. n=(Nn´)/(N+n´) – onde N=869 é o
dedo-solo. Dessa forma, o objetivo deste
Alguns autores também afirmam que a número total de crianças matriculadas
estudo foi avaliar a flexibilidade de crianças
flexibilidade dos tecidos ao redor das nas 1a e 2a séries da rede – e encontrou-
de 7 e 8 anos e verificar a existência de
articulações influencia a amplitude do se um resultado de n=267 (tamanho
diferenças de sexo e/ou idade.
movimento articular, que é necessária mínimo da amostra) 18 . Esse valor,
para uma boa execução dos movimentos acrescido de 10% para eventuais perdas
realizados durante as atividades
diárias2,4.
METODOLOGIA amostrais, resultou num total de 294
crianças a serem avaliadas18.
Este estudo é do tipo transversal e O número de alunos selecionados por
Estudos mostram que a flexibilidade
descritivo, realizado com crianças da escola foi previamente definido, pro-
muscular relaciona-se com fatores ge-
rede municipal de Amparo, SP. Após a porcionalmente ao número total de
néticos, estilo de vida, sexo e idade3,5,6.
explicação do procedimento, o repre- alunos em cada escola, utilizando para
A flexibilidade muscular tende a di-
sentante legal de cada criança assinou o o cálculo a fórmula n1=n(N1/N) – onde
minuir com o aumento da idade6,7. Des-
termo de consentimento livre e es- n é o tamanho mínimo calculado da
sa forma, o indivíduo em desen-
clarecido. O Comitê de Ética da Facul- amostra, N1 é o número de crianças
volvimento exibe maior flexibilidade que
dade de Medicina da Universidade de matriculadas em uma determinada
o adulto 8,9 , permitindo desvios mo-
São Paulo aprovou este estudo. escola e N é o número total de crianças
mentâneos em sua postura que auxiliam
a criança em sua adaptação às novas A amostragem neste estudo foi do tipo matriculadas nas 1as e 2as séries da rede18.
proporções corporais ocasionadas pelo estratificada. A amostra constituiu-se de A perda amostral (14%) foi maior do
crescimento10. 230 crianças – 66 meninas de 7 anos, que a prevista devido ao número de
64 meninas de 8 anos, 49 meninos de 7 crianças excluídas por um ou mais cri-
Alguns estudos na literatura também
anos e 51 meninos de 8 anos – das térios desta pesquisa, por não perten-
demonstraram a existência de diferença
escolas primárias da rede municipal. A cerem à faixa etária determinada, por
de flexibilidade muscular entre os sexos
cidade de Amparo tem seis regiões terem sido transferidas de escola ou por
em adultos, sendo a mulher mais flexível
urbanas e cada uma comporta apenas não terem sido autorizadas a participar
que o homem 7,11,12. No entanto, em
uma escola primária da rede municipal. da pesquisa pelos pais ou responsáveis.
relação às crianças, não existe um
As seis escolas constituíram pois o Desse modo, este trabalho analisou 230
consenso na literatura sobre qual sexo é
universo da pesquisa. crianças de 7 e 8 anos das escolas
mais flexível3,13. Apesar da preocupação
em se identificar a existência de Em janeiro de 2005, o total de crian- primárias da rede municipal de Amparo
diferenças biomecânicas entre os sexos ças matriculadas nas 1a e 2a séries – que (Tabela 1).
antes da puberdade14, poucos são os
estudos com metodologia padronizada
que verificam se essa possível diferença Tabela 1 Crianças avaliadas, por idade e sexo, em cada uma das seis escolas da
também ocorre em relação à flexibilidade rede
muscular13,15. Escola
Sexo Idade Total
Na literatura, a flexibilidade muscular 1 2 3 4 5 6
é verificada pelo teste de sentar e alcan- F 7 2 5 16 10 16 17 66
çar e pelo teste do 3o dedo-solo3,12,13. O
F 8 2 5 12 12 15 18 64
teste de sentar-e-alcançar mede a
flexibilidade dos isquiotibiais, mas é Total meninas 4 10 28 22 31 35 130
dependente da mobilidade do quadril e M 7 0 2 8 16 8 15 49
da coluna3; não existe um consenso na M 8 5 2 9 9 16 10 51
literatura sobre sua validade. Alguns Total meninos 5 4 17 25 24 25 100
estudos demonstram que o teste tem
validade moderada para avaliar a Total crianças 9 14 45 47 55 60 230

388 Fisioter
Fisioter Pesq.
Pesq. 2008;15(4):387-91
2008;15(4)
Penha & João Avaliação da flexibilidade em crianças

Foram excluídas crianças com pato-


logias neuromusculares, musculoesque-
Anova dois fatores foi utilizado para
verificar a existência de diferença entre
DISCUSSÃO
léticas ou cardiorrespiratórias, com IMC sexo e idade para a variável da flexi- A flexibilidade é a combinação da
(índice de massa corporal) superior ao bilidade e, com base nos resultados da amplitude de movimento articular e da
85o percentil19 e que praticavam alguma influência dos fatores, pôde-se reagrupar flexibilidade muscular22. A flexibilidade
modalidade esportiva institucionalizada as observações de uma forma mais muscular sofre influência de fatores
ou exercício físico, além daquele pro- adequada, para finalmente estabelecer genéticos e ambientais, apresentando
posto pela escola, numa freqüência os intervalos de confiança (95%). diferenças entre os sexos e idades3,5,6.
maior que duas vezes por semana e/ou Adotou-se nível de significância de 5%.
que três horas por semana20. Sabe-se que Neste estudo, as meninas, tanto aos 7
a prática esportiva contribui para o quanto aos 8 anos, apresentaram menor
desenvolvimento de força, flexibilidade, RESULTADOS flexibilidade muscular (29,15±8,80 cm)
que os meninos (27,41±10,01 cm) da
equilíbrio e coordenação motora, além
de atuar diretamente no crescimento As crianças estudadas foram caracteri- mesma faixa etária. Apesar de alguns
ósseo. Segundo Rodrigues e Barbanti21, zadas conforme descrito na Tabela 2. estudos terem encontrado diferença na
o treinamento físico induz mudanças na Não houve diferença significativa de flexibilidade muscular quanto à faixa
mesma magnitude daquelas decorrentes massa, estatura ou IMC entre os grupos etária6,7, neste trabalho o mesmo não
do crescimento, podendo causar (p>0,05). ocorreu, provavelmente devido às idades
adaptações do sistema musculoesque- serem bastante próximas (7 e 8 anos).
Os valores encontrados de flexibili-
lético que se tornam permanentes. dade muscular apresentaram diferença Alguns autores afirmam que o indi-
significativa apenas entre os sexos víduo em desenvolvimento é mais
Procedimento (p=0,05) e, portanto, formaram-se dois flexível8,23 que o adulto e que a flexibili-
grupos: um composto apenas de meni- dade diminui com o aumento da ida-
Durante a realização do teste, as nas e outro de meninos, de ambas as de6,7. Perret et al.12 realizaram um estudo
crianças permaneceram sobre uma base faixas etárias (Tabela 3). As meninas com adultos lombálgicos e os valores
de madeira de 19 cm de altura, 37 cm de apresentaram maior distância do 3o de- encontrados foram maiores do que
largura e 44 cm de comprimento, sendo a do ao solo do que os meninos, tanto aos aqueles apresentados pelas crianças
altura da base considerada durante a 7 quanto aos 8 anos. Os valores encon- deste estudo (ao desconsiderarmos a
análise dos resultados. trados levam em consideração a altura altura da base de madeira – 19 cm). No
da base de madeira onde o teste foi entanto, o fato de os sujeitos avaliados
A flexibilidade foi avaliada pelo teste
realizado. Não houve diferença esta- por Perret et al.12 apresentarem episódios
validado do 3o dedo-solo12, solicitando
tisticamente significante entre as idades de dor lombar pode sugerir que tenham
às crianças que permanecessem sobre a
(p=0,725). menor flexibilidade muscular do que
base com os calcanhares sobre a linha
indivíduos saudáveis da mesma faixa
horizontal traçada na própria base e que
etária. Contudo, não foram encontrados
mantivessem os pés juntos e os joelhos Tabela 3 Flexibilidade das crianças
na literatura estudos que tenham
estendidos durante a flexão anterior do (em cm) obtida no teste do 3o
avaliado a flexibilidade muscular em
tronco. dedo-solo (média, desvio
adultos saudáveis utilizando o teste do
padrão e intervalo de
3o dedo-solo.
Análise estatística confiança -95%), por sexo
Alguns estudos avaliaram a flexibili-
Sexo Média (cm) dp IC
Os dados apresentaram distribuição dade de crianças, porém utilizaram
normal, verificada pelo teste de Meninas 29,15 8,80 [28,00;30,29] outros testes, como sentar-e-alcançar e
Anderson-Darling. Para as análises des- Meninos 27,41 10,01 [26,11;28,71] o índice de Schöber3,9,13. Penha et al.9
critivas, foram utilizados as médias e dp = desvio padrão; IC = intervalo de avaliaram 132 meninas de 7 a 10 anos e
desvios padrões das variáveis. O teste confiança encontraram maior valor do índice de
Schöber (7,4 cm aos 7 e 9 anos e 7 cm
aos 8 e 10 anos) do que o descrito para
Tabela 2 Massa, estatura e IMC (média ± desvio padrão) das crianças, por faixa adultos (5 cm). Esses mesmos autores, em
etária e sexo outro trabalho, obtiveram maior valor do
índice de Schöber entre meninas (7,19±9
Meninas 7 anos Meninas 8 anos Meninos 7 anos Meninos 8 anos cm) do que meninos (5,21±7 cm)24.
(n=66) (n=64) (n=49) (n=51)
Massa (kg) 23,54r3,35 26,07r3,62 23,80r3,08 26,62r3,45 Para Mikkelson et al. 3, os valores
médios encontrados no teste de sentar-
Estatura (m) 1,23r0,06 1,29r0,05 1,24r0,05 1,28r0,05 e-alcançar foram 56,8±7,5 cm de
2
IMC (kg/m ) 15,44r1,35 15,69r1,55 15,42r1,21 16,12r1,34 meninos e 60,9±6,1 cm de meninas com
IMC = Índice de massa corporal idades entre 12 e 17 anos, demonstrando

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :387-91 389


maior flexibilidade dos meninos do que diferença da morfologia muscular entre Dessa forma, observa-se que não há
das meninas, o que concorda com os os sexos26. Esse estudo verificou, por um consenso na literatura sobre qual
resultados deste trabalho. Segundo ultra-sonografia, que as mulheres têm grupo é mais flexível: meninos ou me-
Cornbleet e Woolsey13, também pelo teste maior comprimento de fibra muscular ninas. Esse fato possivelmente ocorre
de sentar-e-alcançar, os meninos apre- que os homens nos músculos gas- devido à diversidade de metodologias
sentaram menor comprimento de trocnêmio e sóleo26. utilizadas e diferentes faixas etárias
isquiotibiais que as meninas. Esses dados estudadas. Sugerem-se, então, estudos
Inúmeros estudos falam da impor-
concordam com outros estudos que afir-
tância da medida clínica da flexibilida- comparativos entre as metodologias de
mam que, dos 5 aos 10 anos, as meninas
de muscular e da força dos músculos das avaliação da flexibilidade muscular, a
são mais flexíveis que os meninos13,15.
Segundo alguns autores13,25, o teste de costas e dos abdominais como fatores fim de verificar qual metodologia é mais
sentar-e-alcançar não distingue as con- preditivos para dor lombar27-29. Alguns confiável para avaliar crianças. Com
tribuições dos músculos da lombar e dos autores relatam que a prevalência de dor base nisso, pode-se realizar uma melhor
isquiotibiais para a atividade de alcançar, lombar é maior no sexo feminino do que investigação da diferença da flexibi-
além do fato de que fatores antro- no masculino30,31. Burton et al.23 realizou lidade muscular entre os sexos no
pométricos e posturais – como despro- estudo longitudinal, com 216 crianças primeiro estirão de crescimento (5,5 a 7
porção do comprimento dos membros de 11 anos de idade acompanhadas anos) e sua relação com a diferença da
em relação ao tronco e abdução esca- durante 5 anos, para determinar a flexibilidade muscular encontrada em
pular – podem influenciar os resultados influência da participação em esportes
faixas etárias mais tardias.
do teste. e da flexibilidade lombar na história de
dor lombar durante a adolescência.
O teste do 3o dedo-solo avalia a mo- Segundo esses autores, a dor lombar
bilidade de toda a coluna e da pelve no aumenta enquanto a flexibilidade diminui CONCLUSÃO
movimento de inclinação anterior do com a idade23. Avaliaram a flexibilidade
tronco. Usando esse teste, Perret et al.12 com régua flexível e observaram que, ao As meninas apresentaram menor
também encontraram valores diferentes longo dos cinco anos, a flexibilidade das flexibilidade muscular que os meninos
entre homens (21,5±21,7 cm) e meninas diminuiu em proporção maior no teste do 3o dedo-solo nas idades de 7
mulheres (19,6±22 cm) com idade que a dos meninos23. Esses mesmos au- e 8 anos. São necessários estudos com-
média de 42 anos e com dor lombar tores afirmam que o uso da avaliação parativos sobre a confiabilidade e va-
crônica. da flexibilidade como fator preditivo de lidade das diferentes metodologias
Foi encontrado apenas um trabalho dor lombar em crianças ainda precisa utilizadas clinicamente para avaliar a
na literatura que avaliou, em adultos, a ser bastante explorado23. flexibilidade em crianças.

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Comparison of three different sit-and-reach tests for 27 Jones MA, Stratton G, Reilly T, Unnithan VB.
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students. Br J Sports Med. 2003;37:59-61. back pain in adolescents. Br J Sports Med.
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test to criterion measures of hamstring and back flexibility in 28 Sjölie AN, Ljunggren AE. The significance of high
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Fisioter Pesq. 2008;15(4) :387-91 391


Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.392-7, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Sinais e sintomas da disfunção temporomandibular nas diferentes regiões brasileiras


Signs and symptoms of temporomandibular disorders across Brazilian regions
Anamaria Siriani de Oliveira1, Débora Bevilaqua-Grossi2, Elton Matias Dias3

Estudo desenvolvido no RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência da severidade de sinais e
Programa de Pós-Graduação – sintomas de disfunção temporomandibular (DTM) em não-pacientes nas diferentes
Mestrado em Fisioterapia – do regiões do país. Questionários foram aplicados a 2.396 universitários, dos quais
Unitri – Centro Universitário do 73,7% mulheres (21±5 anos) e 26,3% homens (22±4 anos). Determinado o nível
Triângulo, Uberlândia, MG, de severidade dos sinais e sintomas da DTM, os dados foram tratados
Brasil estatisticamente, com nível de significância de 5%. Maior prevalência de sinais e
1 sintomas de DTM foi constatada para o sexo feminino (73,03%). Na região Centro-
Profa. Dra. do Curso de Oeste não foi observada diferença significante entre estudantes com sinais e sintomas
Fisioterapia da FMRP/USP –
Faculdade de Medicina de de DTM moderada e severa; mas aí há mais probabilidade de encontrar universitários
Ribeirão Preto da Universidade com sinais e sintomas severos do que nas demais regiões. A região Sul apresentou
de SãoPaulo, Ribeirão Preto, SP maior porcentagem de estudantes com sinais e sintomas, porém com menor
severidade que nas demais regiões. No Nordeste e no Sul, é mais provável encontrar
2
Profa. Livre-Docente do Curso universitários sem sinais e sintomas que universitárias. Pode-se concluir que a
de Fisioterapia da FMRP/USP porcentagem de universitários não-pacientes portadores de algum nível de
severidade de sinais e sintomas da DTM foi maior que a de não-portadores, em
3
Fisioterapeuta Ms. do Curso de todas as regiões. Diferentes regiões apresentam diferentes probabilidades de se
Especialização em Acupuntura encontrarem universitários com algum sinal ou sintoma de DTM.
do Centro de Estudos Firval
DESCRITORES: Avaliação; Índice de gravidade de doença; Transtornos da articulação
ENDEREÇO PARA temporomandibular
CORRESPONDÊNCIA
ABSTRACT: The aim of this study was to assess prevalence of temporomandibular
Profa. Dra. Anamaria Siriani de disorders (TMD) signs and symptoms in non-patients from different Brazilian
Oliveira geographic areas. Questionnaires were applied to 2,396 college students, of which
FMRP/USP 73.7% were women (aged 21±5) and 26.3% men (aged 22±4). Once severity levels
Av. Bandeirantes 3900 Prédio were classified, data were statistically treated, and significance level set at 5%.
Central Greater percentage of TMD signs and symptoms was found in women (73.03%)
14049-900 Ribeirão Preto SP than among men. No significant differences between percentages of students with
e-mail: siriani@fmrp.usp.br moderate and severe signs and symptoms were found in Central-West region –
where chances of finding male students with severe TMD signs and symptoms are
Este estudo contou com bolsa higher than in any other region. In the South was found the greatest percentage of
Prosup da Capes – Coordenação students with some TMD signs and symptoms, but with lesser severity than in other
de Aperfeiçoamento de Pessoal regions. In the Northeast and the South there are higher chances of finding male
de Nível Superior – para o autor
3 rather than female students without TMD signs and symptoms. In all Brazilian regions
e apresenta parte dos dados da
dissertação de mestrado desse there were more non-patient students with some severity level of TMD signs and
autor. symptoms than without them. Different regions present different probabilities of
finding students with TMD signs and symptoms.
APRESENTAÇÃO KEY WORDS: Evaluation; Temporomandibular joint disorders; Severity of illness index
set. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
nov. 2008

392 Fisioter
Fisioter Pesq.
Pesq. 2008;15(4):392-6
2008;15(4)
Oliveira et al. Disfunção temporomandibular no Brasil

INTRODUÇÃO Conti et al. 6 utilizaram o Índice


Anamnésico de Fonseca para avaliar a
METODOLOGIA
Trabalhos relacionados à prevalência prevalência dos sinais e sintomas de Foram aplicados questionários em
da disfunção temporomandibular (DTM) DTM em 310 estudantes de ensino universitários residentes em 15 cidades
mostram que uma grande parcela da médio e universitários; 58,7% dos indi- distribuídas nas cinco grandes regiões
população apresenta sinais e sintomas víduos foram classificados como assinto- geográficas brasileiras; a coleta foi con-
da disfunção em níveis subclínicos e máticos ou sem DTM, 34,8% apresen- duzida no período de novembro de 2002
clínicos. Assim, encontra-se alta preva- taram sintomas leves, 5,8% sintomas a outubro de 2003. Para a escolha da
lência de sinais e sintomas de DTM em moderados e apenas 0,7% sintomas con- cidade foi considerada a existência de
indivíduos considerados não-pacientes, siderados severos, com maior preva- instituição de ensino superior com curso
isto é, aqueles que não recorrem a tra- lência dos sintomas no sexo feminino. de graduação na região, acessibilidade
tamento1. No estudo realizado por Pedroni et al.7, para treinamento dos aplicadores do
A classificação das amostras de não utilizando o mesmo questionário apli- questionário e acordo dos responsáveis
pacientes estudadas quanto à severida- cado a uma amostra de estudantes pelas instituições de ensino em partici-
de da DTM pode indicar indivíduos com universitários com idades entre 19 e 25 par do projeto.
reais necessidades de tratamento. anos, foi demonstrado que cerca de 68% Todos os voluntários foram informa-
Fonseca2 e Kuttila et al.3 afirmam que os dos indivíduos apresentaram algum grau dos dos objetivos do estudo e todos assi-
voluntários com DTM moderada e de severidade de sinais e sintomas de naram o termo de participação aprovado
severa deveriam ser conduzidos a trata- DTM, sendo também as mulheres as pelo Comitê de Ética do Centro Univer-
mentos específicos. No entanto, Kuttila mais afetadas. Oliveira et al.8, em um sitário do Triângulo. Os voluntários com
et al.3 observaram que apenas 7% desses estudo similar, porém mais abrangente, diagnóstico clínico de DTM, com ou
indivíduos são indicados corretamente avaliaram 2.396 universitários brasileiros sem tratamento, e sujeitos que faziam
para um tratamento especializado. e relataram uma prevalência de sinais e tratamento ortodôntico no momento da
Na busca de processos avaliativos sintomas da disfunção similar aos relatados coleta foram excluídos do estudo. Um
mais simples e que pudessem atingir na literatura internacional para amostras total de 4.337 questionários tiveram
uma grande área de aplicabilidade, para de não-pacientes. todas as perguntas respondidas e foram
uso em estudos epidemiológicos e pa- considerados adequadamente preen-
O Brasil, no entanto, é um país de
dronização das amostras da pesquisa, chidos pelos voluntários.
proporções continentais e inerentes dife-
alguns autores procuraram elaborar
renças socioculturais, o que poderia alte- No entanto, para assegurar a pro-
questionários que abrangessem os
rar a prevalência dos sinais e sintomas porcionalidade regional, após análise
principais achados clínicos da DTM. A
de DTM se esta fosse analisada segundo dos dados da população universitária
atribuição de índices clínicos e anamné-
as diferentes regiões. Tendo em vista que brasileira, de acordo com o censo de-
sicos permitiram identificar os sinais e
na literatura revisada não foram encon- mográfico de 2000 do IBGE9, foram se-
sintomas de DTM e classificá-los em
trados estudos de dimensão nacional e lecionados aleatoriamente 2.396
diferentes níveis de severidade2,4,5.
que não se sabe se há diferenças entre questionários – previamente numerados
Os índices anamnésico e clínico e agrupados por região geográfica –
as prevalências de sinais e sintomas de
propostos por Helkimo5 foram obtidos correspondendo a aproximadamente
voluntários não-pacientes entre as
por um conjunto de observações clíni- 0,09% do total da população universi-
regiões do país, o objetivo do estudo foi
cas e permitiram classificar os indivíduos tária brasileira (Tabela 1).
avaliar a prevalência dos níveis de
em níveis de severidade: sem DTM,
portadores de sinais e sintomas de DTM severidade de sinais e sintomas da DTM O questionário de Fonseca2 foi usa-
leve, moderada e severa. Fonseca 2 em universitários não-pacientes das dife- do para avaliar os voluntários deste estu-
elaborou um questionário nacional se- rentes regiões do Brasil. do. Esse questionário gera um índice que
melhante, apresentando confiabilidade
de 95% e uma boa correlação com os
Tabela 1 Distribuição dos universitários brasileiros por regiões (conforme o censo
índices de Helkimo5 (r=0,6169, p<0,05).
demográfico de 2000) e dos questionários selecionados aleatoriamente
Esse questionário teria a vantagem de ser
para compor a amostra
auto-administrável, exigir curto tempo
de aplicação, menor custo, auxílio na Região N univ. Freqüência relativa (%) N univ. da amostra
triagem de pacientes, podendo ser utili- Norte 123.034 4,29 103
zado em serviços públicos por pessoal
Centro- Oeste 253.413 8,85 212
de nível técnico, aplicado em levanta-
mentos epidemiológicos e de acompa- Nordeste 464.989 16,23 389
nhamento do tratamento instituído. Sul 580.937 20,28 486
Outra vantagem é a obtenção do índice Sudeste 1.441.474 50,33 1.206
de severidade baseado em relatos subje-
Total 2.863.847 100,00 2.396
tivos do paciente em questionário auto-
administrável. univ. = universitários/as

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :392-6 393


permite classificar os voluntários em qua- Tabela 2 Distribuição (%) da amostra de universitários pelas regiões do país
tro categorias de severidade dos sinais e segundo a classificação do grau de severidade de seus sinais e sintomas
sintomas de DTM: sem estes, com DTM de DTM – disfunção temporomandibular (n=2.396)
leve, moderada e severa. O questionário DTM (%)
Sem DTM Com DTM
consiste em dez perguntas para as quais Região (%) (%) Leve Moderada Severa
são possíveis as respostas “às vezes”,
“sim” ou “não”; para cada pergunta, o Norte 31,0 69,0 48,0 17,0‡ 4,0
voluntário deve assinalar somente uma Centro-Oeste 34,0 66,0 46,0 12,0 8,0
resposta. Nordeste 35,0 65,0 43,0 16,0‡ 6,0
Os resultados foram analisados usan- Sul 26,0 74,0* 59,0*† 11,0‡ 4,0
do a distribuição da freqüência das res- Sudeste 32,0 68,0 50,0† 14,0‡ 4,0
postas das questões de acordo com o ín- Total 31,4 68,6* 50,4† 13,9‡ 4,3
dice anamnésico proposto por Fonseca2. * p<0,05; maior, comparada à das demais regiões; † p<0,05; maior, comparada à de sujeitos
Os dados foram convertidos em porcen- sem DTM; ‡ p<0,05; maior, comparada à de sujeitos com DTM severa
tagem e comparados por categoria de
severidade e por sexo, usando o teste Tabela 3 Distribuição (%) das universitárias (sexo feminino) pelas regiões do país
Qui-quadrado, com nível de signifi- segundo a classificação do grau de severidade de seus sinais e sintomas
cância de 5% (p<0,05). de DTM – disfunção temporomandibular (n=1.765)
Sem DTM Com DTM DTM (%)
Região
RESULTADOS Norte (n=83)
(%)
28,9
(%)
71,1*
Leve
48,2
Moderada
18,1
Severa
4,8
Do total de 2.396 voluntários partici- Centro-Oeste (n=166) 31,3 68,7* 48,2 13,3 7,2
pantes deste estudo, 1.765 (73,7%) indi-
Nordeste (n=286) 29,4 70,6* 45,8 18,5 6,3
víduos pertenciam ao sexo feminino,
com média de idade de 21,9±5,0 anos, Sul (n=358) 22,1 77,9* 61,2 13,9 2,8
e 631 (26,3%) ao sexo masculino, com Sudeste (n=872) 27,2 72,8* 52,3 15,6 4,9
média de idade de 22,4±4,8 anos. * p<0,05; maior, comparada à de sujeitos sem DTM
Nessa amostra, a porcentagem de
Tabela 4 Distribuição (%) dos universitários (sexo masculino) pelas regiões do país
voluntários sem sinais e sintomas de
segundo a classificação do grau de severidade de seus sinais e sintomas
DTM (31,4%) foi significativamente
de DTM – disfunção temporomandibular (n=631)
menor (p<0,05) que a daqueles com
algum grau de severidade de sinais e Sem DTM Com DTM DTM (%)
Região
sintomas (68,6%). A Tabela 2 apresenta (%) (%) Leve Moderada Severa
as freqüências relativas de indivíduos Norte (n=20) 45,0† 55,0 45,0† 10,0 0,0
não-portadores e portadores de sinas e Centro-Oeste (n=46) 43,5† 56,5 39,1† 8,7 8,7*
sintomas de DTM distribuídos pelas Nordeste (n=103) 52,4*† 47,6 34,0† 9,7 3,9
regiões brasileiras. A região Sul apre-
sentou maior porcentagem de univer- Sul (n=128) 42,2† 57,8 53,9† 3,1 0,8
sitários com sinais e sintomas de DTM Sudeste (n=334) 41,6† 58,4 44,9 11,4 2,1
(p<0,05), porém a maioria tem severi- * p<0,05; maior, comparada à das demais regiões; † p<0,05; maior, comparada à de sujeitos
dade considerada leve. Apenas na região com DTM moderada e severa
Centro-Oeste não foram observadas dife-
renças estatisticamente significativas en-
tre as porcentagens de portadores de
No grupo dos universitários homens,
de todas as regiões, a porcentagem de
DISCUSSÃO
sinais e sintomas de DTM moderada e não-portadores de sinais e sintomas de No presente estudo, a prevalência dos
severa. DTM é significativamente maior (p<0,05) sinais e sintomas de DTM em estudantes
Em todas as regiões foi observado que a que as de portadores de algum nível de universitários foi de 73,7% nos indi-
porcentagem de mulheres não-portadoras severidade (Tabela 4). Entre os univer- víduos do sexo feminino (com 21 anos
de sinais e sintomas de DTM foi estatisti- sitários, há maior prevalência de porta- em média) e de 26,3% nos indivíduos
camente menor (p<0,05) que a de classi- dores de sinais e sintomas de DTM se- do sexo masculino (média de idade 22
ficadas com algum sinal ou sintoma vera na região Centro-Oeste que nas anos). Parker10 e Solberg et al.11 indica-
(Tabela 3). Não houve diferenças signifi- demais regiões do país (Tabela 4). Existe ram em seus trabalhos que, nessa faixa
cativas entre as porcentagens de mulheres maior prevalência de universitários sem etária, os indivíduos estariam mais sus-
com um mesmo nível de severidade de sinais e sintomas de DTM que de ceptíveis a sinais e sintomas da DTM.
sinais e sintomas de DTM (p>0,05) entre universitárias (p<0,05) nas regiões O número de indivíduos, de ambos
as regiões estudadas (Tabela 3). Nordeste e Sul. os sexos, não-portadores de DTM (31,4%)

394 Fisioter
Fisioter Pesq.
Pesq. 2008;15(4):392-6
2008;15(4)
Oliveira et al. Disfunção temporomandibular no Brasil

foi significativamente menor que o de de indivíduos com sinais e sintomas As universitárias apresentaram maior
indivíduos portadores de algum grau de moderados e severos. Nessa região há uma porcentagem de sinais e sintomas seve-
severidade dos sinais e sintomas da DTM distribuição mais eqüitativa entre univer- ros que os universitários do sexo mas-
(68,6%). Resultados semelhantes quanto sitários com sintomas moderados e severos culino em quase todas as regiões, sendo
à prevalência de não-portadores de DTM e, de forma geral, a região Centro-Oeste essa diferença significante apenas na
de ambos os sexos foram encontrados apresentou maior porcentagem, embora região Norte. A região Centro-Oeste foi
por Pedroni et al.7 (32%), Schiffman12, não significativa, de indivíduos com sinais a única em que os estudantes do sexo
(25%), Locker e Slade 13 , (33%) e e sintomas severos que as demais regiões. masculino apresentaram uma porcenta-
Grosfeld et al.14 (28%). gem de indivíduos com sinais e sintomas
Com exceção da região Sul, as demais
No presente estudo, 27,0% das mulhe- apresentaram de 65 a 69% de universi- de DTM severa maior que as mulheres.
res e 43,7% dos homens foram classificados tários portadores de sinais e sintomas de Esses dados permitem concluir que
como não-portadores de sinais e sintomas DTM. Entretanto, observa-se que nas regionalmente, nesta amostra, as univer-
da DTM. Entretanto, os trabalhos de Conti6 regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste sitárias apresentaram maior prevalência
e Shiau e Chang15, também utilizando encontrou-se maior porcentagem de e severidade de sinais e sintomas de
questionários auto-administráveis, encon- indivíduos com DTM moderada e DTM que a encontrada entre os homens.
traram maiores porcentagens de indi- severa, 21%, 20% e 22%, respectiva- Os resultados deste estudo indicam
víduos não-portadores, 58% e 59%, mente (Tabela 2). Segundo Fonseca4, os ainda que há maior probabilidade de en-
respectivamente. voluntários com sinais e sintomas contrar universitárias com sinais e sinto-
moderados e severos de DTM deveriam mas de DTM moderada na região Sul e
Neste estudo, foi observada uma por- severa na região Nordeste que univer-
ser conduzidos a tratamentos específi-
centagem de universitários com sinais e sitários homens com esses mesmos grau
cos. Assim, de acordo com os dados
sintomas leves de DTM maior que a de de severidade.
obtidos neste estudo, nessas regiões
indivíduos sem sinais em todas as re-
estão os mais elevados números de indi- Não foram encontrados na literatura,
giões, embora sendo significante apenas
víduos com maior necessidade de enca- estrangeira e nacional, estudos de abran-
nas regiões Sudeste e Sul. Esses resulta-
minhamento ao tratamento da DTM. gência populacional semelhante à do
dos podem estar relacionados a dois
fatores: a maior parte dos indivíduos Em relação ao sexo, foi observado presente estudo, que possibilitasse um
avaliados (70,6%) pertencia a essas que entre as mulheres ocorreu o mes- melhor confronto entre os achados e dis-
regiões (Sul e Sudeste); essas regiões são mo padrão de distribuição que na amos- cussão. A utilização de um questionário
as mais industrializadas e de maior tra geral, tendo em vista que compõem anamnésico não confirma o diagnóstico
densidade populacional, o que aumenta a maior parte da amostra. Entre os da DTM, mas serve para o levantamento
a competitividade entre os indivíduos no homens, foram encontradas maiores dos sinais e sintomas em estudo de
mercado de trabalho, podendo ocasio- porcentagens de portadores de algum grande abrangência, como o proposto
nar alterações na qualidade de vida e nível de severidade de sinais e sintomas neste estudo2. Considerando a possibi-
desencadear estresse16. Regiões mais in- de DTM na região Sudeste (58,4%), lidade de progressão da disfunção1,19 e
dustrializadas também podem apresentar ati- embora essa diferença não tenha sido a futura necessidade de atendimento
vidade produtiva que exija alterações físi- significativa. Na região Centro-Oeste foi especializado19 – cabendo ressaltar que
cas, decorrentes das funções ocupacionais, encontrada a maior porcentagem de uni- o tratamento da DTM deve ser multipro-
que alterem constantemente o posicio- versitários que deveriam ser encaminha- fissional e interdisciplinar9 –, chama a
namento da mandíbula, cabeça, pes- dos para tratamento específico de DTM atenção o grande número de não-
coço, coluna e ombros, podendo atuar por apresentarem maior número de clas- pacientes portadores de algum nível de
como agente etiológico predisponente sificados como portadores de sinais e severidade de sinais e sintomas de DTM.
e perpetuante da DTM17. Outros estudos sintomas de DTM moderada e severa Os resultados aqui apresentados indicam
indicam que esses fatores, na vida diária (17,4%) que nas outras regiões do país. a necessidade de mais estudos regionais,
dos indivíduos, podem gerar transtornos especialmente os longitudinais, para
Ao comparar regionalmente os
psicológicos e somatizações como elo acompanhar a progressão desses sinais e
universitários dos sexos masculino e fe-
entre as formas mais comuns de estresse sintomas, e a implantação e credencia-
minino, em relação à severidade do re-
(ansiedade, depressão, desordem de pâ- mento de serviços especializados para
lato de sinais e sintomas, observa-se que
nico), associado aos sintomas mais espe- o tratamento da DTM, a fim de contribuir
a porcentagem de homens classificados
cíficos de DTM18. para a redução do impacto da disfunção
como não-portadores foi maior em todas
nos portadores, bem como para os
O número de universitários portado- as regiões, embora esses valores tenham
estudos epidemiológicos.
res de sinais e sintomas severos de DTM sido estatisticamente significantes
foi significativamente menor que aqueles apenas nas regiões Nordeste e Sul. Esses
com sintomas moderados em quase
todas as regiões, embora na região
dados indicam que nessas regiões há
maior probabilidade de encontrar
CONCLUSÃO
Centro-Oeste não fosse observada universitários sem sinais e sintomas de Pode-se concluir que a porcentagem
diferença estatística entre a porcentagem DTM que universitárias. de universitários (não-pacientes) porta-

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :392-6 395


dores de algum nível de sinais e sintomas ferentes regiões apresentam diferentes estudos longitudinais são necessários
de DTM foi significantemente maior que prevalências de sinais e sintomas de para o adequado acompanhamento da
a de não- portadores em todas as regiões. DTM. O credenciamento de centros evolução desses sinais e sintomas e da
Os resultados também indicam que di- especializados no tratamento da DTM e procura por serviços especializados.

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396 Fisioter
Fisioter Pesq.
Pesq. 2008;15(4):392-6
2008;15(4)
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.397-401, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Efeitos de um protocolo de reeducação sensorial da mão: estudo de caso


Effects of a hand sensory reeducation program: case report
Raquel Metzker Mendes1, Amanda Carla Arnaut1, Rafael Inácio Barbosa2,
Valeria Meirelles Carril Elui3, Marisa de Cássia Registro Fonseca4

Estudo desenvolvido no Centro RESUMO: Uma paciente em pós-operatório de reparo das lesões dos tendões flexores
de Reabilitação do HCFMRP/ e nervo digital do 5o dedo da mão direita foi estudada com o objetivo de avaliar os
USP – Hospital das Clínicas da efeitos da aplicação de um protocolo de reeducação sensorial da mão. A paciente
Faculdade de Medicina de foi avaliada antes e após três meses da aplicação do protocolo. Nessas avaliações
Ribeirão Preto da Universidade foram aplicados: teste de limiar de sensibilidade com monofilamentos, teste de
de São Paulo, Ribeirão Preto, discriminação de dois pontos estático e dinâmico, o questionário Dash (sigla em
SP, Brasil inglês de incapacidades de ombro, braço e mão) e testes de força de preensão
1 palmar e de pinça. Os exercícios propostos envolveram: discriminação de toque
Fisioterapeutas do Programa de
Aprimoramento Profissional em estático e dinâmico e de objetos de diferentes formas, tamanhos e texturas. A
Fisioterapia em Ortopedia e paciente também foi orientada a executar programa domiciliar. Foi realizada a
Traumatologia do HCFMRP/ análise descritiva dos dados. Ao final dos três meses, verificou-se redução do limiar
USP sensitivo na região volar do 5o dedo, bem como desenvolvimento de discriminação
estática de dois pontos nessa região. Além disso, verificou-se aumento das forças
2
Fisioterapeuta do Centro de de preensão palmar e de pinça e menor pontuação no questionário Dash. Os
Reabilitação do HCFMRP/USP resultados sugerem que a aplicação de programas de reeducação da sensibilidade
3
pode contribuir para a recuperação da função sensorial da mão, trazendo benefícios
Terapeuta ocupacional; Profa. reais ao paciente.
Dra. da FMRP/USP
DESCRITORES: Privação sensorial; Traumatismos dos dedos/reabilitação
4
Fisioterapeuta; Profa. Dra. da
FMRP/USP ABSTRACT: A patient who had undergone nerve injury repair surgery of the right-hand
5th-finger flexor tendons and digital nerve was studied in order to assess the effects
ENDEREÇO PARA of a hand sensory reeducation program. The patient was evaluated before and after
CORRESPONDÊNCIA the three-month program application, as to: touch pressure threshold (by
monofilaments); static and moving two-point discrimination; pinch strength; and
Raquel M. Mendes answered the Dash – Disabilities of the arm, shoulder and hand – questionnaire.
R. Raul Peixoto 554 ap.12 The proposed exercises involved static and moving touch discrimination, and
Jardim Califórnia recognition of different shapes, sizes and textures. The patient was also guided to
14026-220 Ribeirão Preto SP do the exercises at home. After the three-month program, a pressure threshold
e-mail: reduction was noticed in the 5th-finger volar region, as well as a static two-point
raquelmetzker@bol.com.br
discrimination improvement in the same area. Also, an increase of grip and pitch
Este estudo contou com apoio strength and a minor score in the Dash questionnaire were found. Results thus
da Fundap – Fundação do suggest that the sensorial reeducation program proposed may contribute to
Desenvolvimento improving hand sensory function, bringing real benefits to the patient.
Administrativo. KEY WORDS: Finger injuries/rehabilitation; Sensory deprivation
Foi apresentado em formato de
resumo ao 28o Congresso
Brasileiro de Cirurgia da Mão,
Ribeirão Preto, SP, maio 2008.
APRESENTAÇÃO
jul. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
nov. 2008

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INTRODUÇÃO zados com animais, mas achados seme-
lhantes também têm sido encontrados em
A paciente, 42 anos, branca, destra,
foi encaminhada à fisioterapia após re-
As lesões de nervos periféricos trazem estudos com humanos, utilizando imagens paro cirúrgico das lesões do nervo digital
importantes conseqüências ao individuo de ressonância nuclear magnética6. medial, da artéria digital medial e dos
acometido que, além da redução das tendões flexores superficial e profundo
É nesse contexto que se destacam os
funções motora e sensitiva, poderá en- do 5o dedo da mão direita (zona II fle-
programas de reeducação sensorial, defi-
frentar também problemas como a hipe- xora), devido a ferimento corto-contuso
nidos por Dellon8 como um conjunto de
restesia e intolerância a baixas tempe- por vidro. Os reparos cirúrgicos foram
técnicas que auxiliam o paciente a lidar
raturas1,2. De forma geral, essas lesões realizados um dia após a lesão, sendo
com alterações sensoriais após reparo
são mais freqüentes nos membros su- as tenorrafias realizadas com ponto de
nervoso, a reinterpretar os impulsos
periores e em homens jovens3. Kessler modificado, utilizando-se fios de
neurais alterados que alcançam o nível
nylon de espessuras 4-0 e 6-0, e a neuro-
A regeneração de nervos periféricos consciente, quando a mão lesada é esti-
e arteriorrafias realizadas com prolene
após uma lesão é influenciada por uma mulada5,8. Dellon relata também que, ao
de espessuras 10-0 e 8-0, respectivamen-
série de fatores como a idade do indi- serem instituídos em tempo apropriado,
te. A tala gessada confeccionada ao final
víduo, o nível e a extensão da lesão, o os exercícios podem melhorar significa-
da cirurgia foi do tipo ulnar, abrangendo
tempo transcorrido antes do reparo ner- tivamente os resultados funcionais após
apenas as faces volar e dorsal do 5o dedo,
voso e a presença de lesões associadas4,5. reparo nervoso8.
sendo substituída posteriormente por
Após o reparo nervoso, outros fatores re- Por meio de estudos com animais, tem-se tala dorsal, abrangendo todos os dedos,
lacionados tanto ao sistema nervoso verificado que os programas de reedu- imobilizando o punho e articulações
central quanto ao periférico parecem de- cação sensorial podem resultar em refi- metacarpofalangianas em flexão, para
terminar a recuperação da sensibilidade namento dos receptores corticais, me- que a paciente pudesse ser inserida em
e da função no local afetado, dependen- lhorando a acuidade tátil, podendo gerar protocolo de mobilização passiva pre-
do, por exemplo, da quantidade de te- também uma tendência de normalização coce (protocolo de Duran modificado).
cido cicatricial formado, da ocorrência do distorcido mapa cortical da mão após
de reinervação cruzada e atrofia dos ór- Dessa forma, o tratamento fisioterapêu-
uma lesão nervosa periférica, ainda que o
gãos terminais1,5. tico teve início ainda durante a internação,
mapa original não seja completamente
no primeiro dia do pós-operatório, tendo
Acredita-se que o deficit de recupe- restaurado3.
a alta hospitalar ocorrido no terceiro dia.
ração da sensibilidade encontrado após Os protocolos de reeducação sen- O reinício do tratamento ocorreu no
o reparo de um nervo periférico se deva sorial empregados atualmente não dife- Centro de Reabilitação do Hospital das
principalmente à reinervação cruzada rem muito daqueles descritos nas déca- Clínicas da FMRP/USP, sete dias após a
ocorrida durante a regeneração. Durante das de 1970 e 1980, mas novas técnicas cirurgia. Durante cinco meses a pacien-
esse processo, axônios motores podem têm sido incorporadas, integrando te compareceu à reabilitação para me-
reinervar áreas sensoriais e vice-versa; diferentes estímulos nas fases precoces lhora da função da mão direita e ganho
além disso, os axônios podem acabar após o reparo nervoso. Dentre esses estí- de força muscular e amplitude de mo-
reinervando áreas diferentes das que iner- mulos encontram-se os auditivos e vimento (ADM) do 5o dedo. Ao final dos
vavam anteriormente à lesão6. Verifica-se gustativos, os provenientes do membro cinco meses, a paciente apresentava
ainda que, mesmo empregando-se as me- não-afetado, bem como os estímulos recuperação completa da força muscular
lhores técnicas cirúrgicas e mesmo nas táteis no membro lesado; o objetivo é e ADM de flexão desse dedo, com leve
melhores circunstâncias, muitos axônios manter a maior integridade possível do deficit de extensão, porém sem compro-
não seguem suas rotas originais, fazendo mapa cortical da mão, facilitando assim metimento da função; foi instruída a
com que um estímulo dado em uma de- a recuperação sensorial3. continuar fazendo os exercícios propos-
terminada área da região afetada seja tos em casa, bem como a utilizar a órtese
interpretado de forma incorreta pelo in- Este estudo teve como objetivo avaliar fornecida para o ganho completo da
divíduo7. os efeitos da aplicação de um protocolo extensão.
de reeducação sensorial da mão em uma
A mão possui uma área de represen- paciente submetida a reparo tendíneo e A diminuição da função sensitiva no
tação expressiva no córtex cerebral e, nervoso. dermátomo correspondente era queixa
tal como ocorre com outros segmentos importante da paciente; dessa forma, foi
corporais, após uma lesão nervosa essa realizada uma avaliação para verificar a
área poderá ser reorganizada ou remo-
delada. Assim, uma área desnervada na
METODOLOGIA possibilidade de aplicação de um pro-
tocolo de reeducação sensorial na mão
pele irá gerar incorporação de áreas de O estudo foi aprovado pelo Comitê acometida. A avaliação (inicial) foi feita
representação cortical adjacentes a ela de Ética em Pesquisa da FMRP/USP – por meio da ficha de avaliação de lesões
no córtex somatossensorial, o que natu- Faculdade de Medicina de Ribeirão de nervos periféricos do setor de Fisiote-
ralmente acarretará alterações sensoriais Preto da Universidade de São Paulo, e a rapia, na qual constam, além dos dados
para o individuo5. Esses resultados foram paciente assinou termo de consenti- relevantes referentes à paciente, ao trau-
descritos inicialmente em estudos reali- mento livre e esclarecido. ma e ao tratamento adotado, testes de

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2008;15(4)
Mendes et al. Reeducação sensorial da mão

limiar de sensibilidade com monofila- Tabela 1 Resultados nos testes de discriminação de dois pontos, estático e
mentos (Sorri), de detecção da densidade dinâmico, antes e após aplicação do protocolo
de inervação e/ou gnosia tátil (discrimi- Discriminação de Avaliação inicial Avaliação final
nação de dois pontos, estática e dinâ- ponto 4o dedo 5o dedo 4o dedo 5o dedo
mica), realizados com o disco descrito
Estático 5 mm * 3 mm 5 mm
por Weber9, e testes para a verificação
da força de preensão palmar e de pinça Dinâmico NT 10 mm NT NT
(lateral, polpa-a-polpa e trípode) aplica- * Paciente não foi capaz de discriminar o toque estático de dois pontos; NT = Não testado
dos utilizando-se os dinamômetros
hidráulicos Jamar e Pinch Gauge, res- disfunção) até 100 (disfunção severa). vadas. Os exercícios foram aplicados
pectivamente. É importante destacar que apenas no território de inervação sensitiva
Para o desenvolvimento do programa
os testes de discriminação de dois pontos do nervo ulnar na mão direita da pacien-
de reeducação sensorial, foi aplicado o
foram aplicados apenas nas falanges te, local com sensibilidade (inclusive
protocolo descrito por Dellon11 e desen-
distais do 4o e 5o dedos da mão direita, protetora) diminuída e dificuldades para
volvido por Curtis11,12. Os instrumentos
sendo o teste dinâmico realizado apenas discriminação fina e/ou de forma e tem-
utilizados durante os exercícios foram:
no 5o dedo, onde a paciente não con- lápis e/ou canetas emborrachados; um peratura. A dificuldade dos exercícios
seguiu discriminar o toque estático. A conjunto de reeducação sensorial desen- aumentava gradualmente, à medida que
paciente apresentava teste de Tínel volvido e utilizado pelos setores de Fisio- a paciente melhorava seu desempenho
positivo na falange distal do 5o dedo. terapia e Terapia Ocupacional do Centro para executá-los, sendo que o exercício
Para a avaliação funcional, foi aplicado de Reabilitação, contendo pequenos de maior dificuldade realizado foi a dis-
o questionário Dash (Disabilities of the bastões revestidos por materiais de criminação de pequenos objetos de tex-
arm, shoulder and hand, Incapacidades texturas diversas, luvas de procedimento, turas semelhantes (metal), mas formas e
de ombro, braço e mão), traduzido para pequenos objetos como parafusos, clipe tamanhos diferentes. Para tanto, a mão
a língua portuguesa e validado para a de papel, moedas, além de grãos de ar- da paciente foi recoberta com luva de
população brasileira10. Esse questionário roz, feijão, dentre outros (Figura 1). procedimento, estando livre apenas o
é composto por 30 questões auto-apli- quinto dedo. A paciente também foi ins-
cáveis sobre função e sintomas físicos e O protocolo foi aplicado por três truída e recebeu alguns materiais para
dois módulos opcionais (um referente a meses, num total de 13 sessões, com realização de programa domiciliar.
atividades esportivas e musicais, outro cerca de 20 minutos de duração, reali-
sobre atividades de trabalho); pode-se zadas em média duas vezes por semana. Após os três meses do programa, a
pontuar até cinco pontos em cada As salas utilizadas durante os atendi- paciente foi reavaliada da mesma forma
questão e seu escore total varia de 0 (sem mentos eram sempre silenciosas e reser- descrita para a avaliação inicial; além
disso, recebeu orientações para dar con-
tinuidade aos exercícios mesmo após o
término do atendimento.
A análise dos dados foi descritiva, de-
vido ao fato de este ser um estudo de
caso, o que impossibilita a aplicação de
testes estatísticos.

RESULTADOS
Os resultados obtidos pela paciente
nas avaliações inicial e final são os se-
guintes. Na avaliação inicial, a paciente
apresentou no 5o dedo limiar de sensi-
bilidade ao filamento de cor violeta (2,0
g), no 4o dedo e restante do território de
inervação ulnar de cor azul (0,2 g), e
verde (0,05 g) nas demais regiões da mão
acometida. Na avaliação final, verificou-
se limiar de sensibilidade ao filamento
azul no 4o e 5o dedos e no restante do
território de inervação do nervo ulnar.
Figura 1 Conjunto de objetos de reeducação sensorial utilizados para a aplicação As Tabelas 1 e 2 apresentam os resul-
do protocolo tados iniciais e finais obtidos nos testes

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :397-401 399


Tabela 2 Média dos resultados (em kgf) nos testes de preensão palmar e de pinças toriamente selecionados para grupos
lateral, polpa-a-polpa e trípode, antes e após aplicação do protocolo controle13,15.
Avaliação inicial Avaliação final Neste estudo, foi verificada melhora
Teste
Mão D Mão E Mão D Mão E dos parâmetros avaliados após a apli-
Preensão palmar 21,33 26,17 23,50 24,50 cação do protocolo de reeducação da
sensibilidade. Observou-se, dentre
Pinça lateral 5,67 5,59 8,00 8,50
outras alterações, que o limiar sensitivo
Pinça polpa-a-polpa 3,50 4,17 5,00 3,50 na região volar do 5o dedo diminuiu, e
Pinça trípode 6,17 6,00 7,08 8,08 que se desenvolveu a discriminação
D = direita; E = esquerda estática de dois pontos; além disso, a
própria paciente relatou melhora nas
Tabela 3 Escores no questionário Dash, antes e após aplicação do protocolo atividades funcionais, o que se reflete
na redução da pontuação obtida no
Questões Avaliação inicial Avaliação final
questionário Dash. A identificação de
Módulos função e sintomas físicos 42,5 37,5 objetos tem sido descrita como uma das
Módulo trabalho 37,5 37,5 formas de avaliar a recuperação da fun-
ção sensorial da mão, e tem sido forte-
de discriminação de dois pontos estático causando prejuízo ainda maior à re- mente correlacionada à discriminação
e dinâmico e nos testes de preensão cuperação da função sensitiva. Assim, os de dois pontos que, por sua vez, tornou-
palmar e de pinça, respectivamente. programas de reeducação da sensibili- se um importante preditor de recupera-
ção funcional16. A discriminação estática
A Tabela 3 traz as pontuações obti- dade após reparo de lesões nervosas vêm
de dois pontos indica a densidade de
das pela paciente no questionário Dash se tornando estratégias de reabilitação
inervação das fibras de adaptação len-
nas questões relacionadas à função e sin- cada vez mais populares, permitindo ao ta, responsáveis pela manutenção da
tomas físicos e no módulo correspon- paciente reaprender a interpretar corre- força de preensão e da pressão estática
dente ao trabalho. tamente os estímulos recebidos nas sobre objetos; assim, indivíduos com di-
regiões acometidas13,14. minuição da capacidade de discrimi-
nação estática de dois pontos apresen-
DISCUSSÃO Alguns estudos utilizando diferentes
protocolos obtiveram resultados favo- tarão dificuldades em manter a preensão
ráveis à aplicação dos programas de de um objeto quando estiverem de olhos
Os nervos digitais são apenas sen- fechados, por exemplo15.
soriais. No entanto, diversos estudos de- reeducação da sensibilidade da mão em
monstraram pobres resultados funcionais situações diversas, como enxertia de
e reduzida recuperação da sensibilidade
após reparo cirúrgico desses nervos13.
nervos, transplantes, reimplantes após
amputação, dentre outros. Os resultados
CONCLUSÃO
Como já mencionado, os distúrbios sen- apontam para diferenças significativas na Os dados apresentados sugerem que
soriais que ocorrem durante a regene- recuperação da sensibilidade e da fun- o programa proposto, de reeducação da
ração nervosa podem levar o indivíduo ção sensitiva da mão entre os indivíduos sensibilidade após o reparo da lesão ner-
a reduzir gradativamente o uso da mão que participaram dos programas de vosa, contribuiu para a recuperação
acometida nas atividades de vida diária, reeducação sensorial e aqueles alea- funcional e sensorial da mão acometida.

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Fisioter Pesq. 2008;15(4) :397-401 401


Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.402-7, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Bioética e pesquisa na Fisioterapia: aproximação e vínculos


Bioethics and research in physical therapy: approximation and bonds
Ana Fátima Viero Badaró1, Dirce Guilhem2

Estudo desenvolvido no RESUMO: A Bioética, como campo disciplinar, teve um avanço significativo nas últimas
Programa de Pós-Graduação décadas. A América Latina e principalmente o Brasil seguiram essa tendência
em Ciências da Saúde da UnB mundial, com edição expressiva de publicações na área da saúde. Este estudo tem
– Universidade de Brasília, DF, por objetivo verificar como questões éticas e bioéticas foram incorporadas à prática
Brasil e à pesquisa na área da Fisioterapia. Este estudo exploratório procedeu à revisão
sistemática das bases de dados MedLine/PubMed, SciELO, ProQuest, Scopus, Lilacs,
1 Profa. Dra. do Curso de Biblioteca Virtual de Saúde e Google acadêmico, sites de periódicos de Fisioterapia,
Fisioterapia da Universidade recorrendo a uma bibliografia bioética brasileira editada em 2002 e a contato com
Federal de Santa Maria, Santa
Maria, RS, Brasil autores, em busca de artigos publicados a partir de 2000 que abordassem temas
relacionados às questões éticas e bioéticas na fisioterapia. Excluíram-se livros,
2 Profa. Dra. do Programa de comentários e/ou resenhas de livros, artigos em revistas não-indexadas e textos
Pós-Graduação em Ciências da com enfoque comercial ou de divulgação. Foram selecionados 23 artigos, 2
Saúde da UnB editoriais e uma seção de revista. Verificou-se que a evolução da pesquisa bioética
na fisioterapia é crescente no cenário internacional, mas há carência desses estudos
ENDEREÇO PARA no âmbito nacional. Isso demonstra a necessidade premente de incluir essa temática
CORRESPONDÊNCIA na formação e nas discussões dos fisioterapeutas, como forma de contribuir para o
fortalecimento da identidade profissional.
Ana Fátima V. Badaró
Av. Borges de Medeiros 1699 DESCRITORES: Bioética; Ética; Fisioterapia; Literatura de revisão como assunto
apto. 404
97015 090 Santa Maria RS ABSTRACT: The bioethics discipline has had a significant advancement in the last
e-mail: badaroana@uol.com.br decades. Latin America, and mainly Brazil, have followed this world trend, showing
a good number of publications by health care professionals. This study aims at
verifying how the themes of bioethics and ethics were incorporated into practice
and research in the physical therapy field. This systematic literature review has
drawn on MedLine/PubMed, SciELO, ProQuest, Scopus, Lilacs, Biblioteca Virtual
de Saúde and Scholar Google databases, on physical therapy journal websites,
also resorting to a Brazilian bioethics bibliography published in 2002 and to contact
with authors, searching for articles published from 2000 on that addressed ethics
and bioethics issues related to physical therapy. Books, comments on and/or book
reviews, articles in non-indexed journals as well as texts having a commercial or
advertising focus were excluded. Twenty-three articles, two editorials and a magazine
section have been selected. Results show that the evolution of bioethics research
in physical therapy is ever-increasing in the international scenario, but there is a
APRESENTAÇÃO lack of such studies in the national scope. This points to the urgent need to include
fev. 2008 this theme in physical therapists education and debate, in order to contribute to
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO the development of professional identity.
nov. 2008 KEY WORDS: Bioethics; Ethics; Physical therapy; Review literature as topic

402 Fisioter
Fisioter Pesq.
Pesq. 2008;15(4):402-7
2008;15(4)
Badaró & Guilhem Bioética e Fisioterapia

INTRODUÇÃO “Bioética” para designar uma nova área


de atuação também foi instituído por
privilegiar a discussão dessa temática e seu
delineamento e questionar se o conhe-
A Bioética e a Fisioterapia são conhe- André Hellegers, em 1971, no The cimento ético na fisioterapia acompanhou
cimentos recentes, desenvolvidos na Kennedy Institute of Ethics5,6. A impor- a evolução da autonomia profissional da
segunda metade do século passado, que tância da proposta inovadora de Potter categoria4.
se consolidaram rapidamente. Na atua- estava na constituição de uma ética
Diante do exposto, os objetivos deste
lidade, são áreas de conhecimento aplicada às situações de vida como ca-
estudo foram identificar como os temas
reconhecidas e consagradas nos meios minho para a sobrevivência da espécie
relativos a Ética e Bioética são discutidos
clínicos, científicos e sociais. Ambas in- humana 5-7 ; esse autor atribuía um
no campo da Fisioterapia, aferir a impor-
corporam saberes multidisciplinares e sentido marcadamente ecológico ao ter-
tância da temática na atualidade e com-
interdisciplinares, em um contínuo e cres- mo “Bioética”, que designaria a “ciência
parar a evolução dessas reflexões nos
cente processo de evolução de suas da sobrevivência”, enquanto para
cenários internacional e nacional.
concepções, fundamentadas em conhe- Hellegers a Bioética se restringia a uma
cimentos da Antigüidade adaptados aos “ética das ciências da vida” particular-
contextos atuais. No entanto, é recente
a inserção da reflexão bioética sobre a
mente em nível humano7, com foco no
indivíduo – modelo que se tornou co-
METODOLOGIA
práxis da fisioterapia, ou seja, a apropriação nhecido como Bioética clínica. Este é um estudo exploratório de
da fundamentação bioética pela Fisio- Desse modo, a Bioética desenvolveu- revisão sistemática da literatura,
terapia. se rapidamente e mudou a forma de ver realizada de julho de 2006 a setembro
e manejar a realidade, ao envolver muitos de 2007 em bases de dados eletrônicos,
No decorrer do século XX, a fisiote-
campos de interesse para refletir a contem- em sites de periódicos de Fisioterapia e
rapia teve suas práticas intuitivas e
poraneidade. A interdisciplinaridade e a na Bibliografia bioética brasileira: 1990-
empíricas aperfeiçoadas e transforma-
pluralidade são pressupostos fundamentais 200210, além de contato pessoal com
das, em virtude do aumento da comple-
xidade em ciência e tecnologia e das que permeiam a complexidade da sua autores, buscando artigos publicados no
demandas em saúde. Foi reconhecida construção e discussão, fundamentados período de 2000 a 2007. O critério de
como profissão em muitos países e na historicidade da Ética. Vários são os inclusão dos estudos foi a abordagem
grandes lutas de classe foram assumidas modelos de reflexão e de análise aplica- de temas relacionados às questões éticas
em prol da legitimidade dessa nova área dos na prática bioética, mas existe con- e bioéticas na Fisioterapia. Foram excluí-
de atuação na saúde. A fisioterapia senso de que o modelo principialista é dos os títulos referentes a livros, comen-
passou de uma profissão da saúde, que o mais divulgado, por ter larga aplicação tários e/ou resenhas de livros, artigos em
nasceu da intenção de auxiliar médicos, na prática clínica5,7. revistas não-indexadas, temas com enfo-
com atuação limitada à reabilitação que comercial ou de divulgação e tam-
Na América Latina8, o primeiro es- bém textos que, apesar de referirem
motora, para uma profissão autônoma,
tágio da Bioética ocorreu entre os anos alguma questão ética nos resultados, não
com espaços ampliados em todas as
1980 e 1990, quando o modelo esta- apresentavam o tema como objeto
áreas e com possibilidades de atuação
dunidense foi adotado em alguns países central de reflexão.
nos diversos níveis de atenção da saúde1-3.
do continente. Ainda na década de
No Brasil, seu fortalecimento cientí- 1990, desenvolveu-se um segundo es- A busca eletrônica foi efetuada nas
fico e profissional ocorreu a partir dos tágio, com intensa inserção em todos os bases de dados MedLine/PubMed,
anos 19703; desde então, foi construído países latino-americanos e caribenhos. O SciELO, ProQuest, Scopus, Lilacs, BVS
um referencial profissional no país, com desenvolvimento da Bioética no Brasil9 – Biblioteca Virtual de Saúde e Google
inovação em áreas já consagradas ou es- iniciou-se nos anos 1990, agregou dis- acadêmico. Utilizaram-se as seguintes
quecidas e tem ampliado significativamente tintas áreas do conhecimento em torno associações de descritores em português
seu campo de atuação, pautando-se na dessa nova abordagem da Ética em e seus equivalentes em inglês: ética e
cientificidade e em sua especificidade, sem saúde e acumulou, nos primeiros dez fisioterapia; moral e fisioterapia; bioética
necessitar de apropriar-se do fazer de anos, impressionante volume de estudos e fisioterapia; ética e reabilitação; e
outros profissionais. Nessa mesma déca- e publicações. Siqueira9 considera que, bioética e reabilitação. Esses temas
da, os fisioterapeutas estadunidenses al- na atualidade, a Bioética brasileira al- foram pesquisados nos títulos e/ou nos
cançaram sua autonomia profissional, cançou identidade própria e contribui resumos dos estudos e examinados de
participaram da tomada de decisões na significativamente para a construção do acordo com os critérios de inclusão e
saúde e trouxeram para si a problemá- pensamento bioético mundial. exclusão.
tica dos dilemas e das responsabilidades
Nos Estados Unidos, as implicações Aproximadamente 90% dos artigos
éticas mais complexas no exercício da
éticas em fisioterapia são estudadas e selecionados foram obtidos na íntegra e
profissão4.
trabalhos são publicados há mais de três examinados, verificando-se sua abran-
O marco inicial da Bioética foi a obra décadas, mas seus autores ainda consi- gência. Os artigos selecionados foram
de Van R. Potter, Uma ponte para o deram essa produção relativamente organizados inicialmente de acordo com
futuro, de 1971, precedida por publica- pequena 4 . Alguns, como Magistro, o ano de publicação, o título, o(s)
ção de artigo em 1970. O uso do termo Guccione e Purtilo, destacam-se por autor(es), a fonte e o tipo de pesquisa.

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :402-7 403


Em seguida, procedeu-se à análise des- intuito de demonstrar como essa reflexão, Quadro 1 é apresentada a relação desses
critiva e à categorização de cada estudo, mesmo muito tímida, vem se inserindo artigos e sua categorização.
de acordo com o tipo de pesquisa e com no discurso da Fisioterapia em âmbito
A variedade de publicações encon-
o tipo de abordagem ética. nacional. Esses temas foram caracteri-
tradas no campo da fisioterapia que
zados de acordo com o tipo de apresen-
Os estudos foram classificados de tratam das questões éticas relacionadas
tação em: painel, ensaio, pôster, comu- com a profissão é, de certa forma, rele-
acordo com o tipo de pesquisa nas se-
nicação coordenada, palestra, capítulo de vante no que se refere ao cenário esta-
guintes categorias: a) revisão histórica,
livro e conferência. dunidense. Verificou-se que houve forte
que compreende a análise retrospectiva
de dados, como documentos históricos, predominância das publicações pro-
artigos publicados, legislação, entre
outros; b) pesquisa de campo, que en-
RESULTADOS venientes dos EUA (21), seguidas por
nacionais (3) e francesas (2).
volve o levantamento de dados por meio A partir de 2000 foram identificados Quanto ao tipo de estudo, houve pre-
de entrevistas e/ou questionários reali- 35 textos que co-relacionam Ética e/ou domínio das pesquisas de campo (8), rea-
zados com fisioterapeutas ou estudantes Bioética e Fisioterapia. Após a análise dos lizadas com fisioterapeutas, terapeutas
de fisioterapia; c) reflexão ética, em que títulos e de seus respectivos resumos, de ocupacionais, estudantes de fisioterapia
o autor apresenta uma análise baseada acordo com os critérios de inclusão e de ou de análise documental. Encontraram-
em conceitos teóricos da ética filosófica exclusão, excluíram-se nove textos e se também artigos que contêm reflexões
e/ou deontológica; e d) estudo de caso, utilizaram-se 26 para análise4,13-37. Entre éticas (7), revisão histórica (3), estudos
quando se apresentaram casos para estes, apenas três são nacionais, dos de caso (3), modelos de ensino (2) e,
análise e considerações éticas. Os tex- quais dois são artigos científicos e um finalmente, editoriais (2) e seção de
tos que não puderam ser incluídos nes- incluiu-se na categoria editorial. No revista (1).
sas categorias foram editoriais ou seção
de revista. Quadro 1 Classificação dos artigos publicados a partir de 2000 que relacionam
Ética e Fisioterapia (n=26)
Quanto à abordagem do estudo,
Autoria, ano Tipo de estudo, categorias
utilizou-se a seguinte categorização: a)
Ética Filosófica, quando havia aborda- Purtilo 2000 13 reflexão ética; ética profissional; formação/ educação
gem conceitual e definição de termos Mostron 2000 14 editorial; ética profissional
referentes à ética, à moral e à deonto- 15
Purtillo 2000 reflexão ética; ética profissional; ética filosófica
logia, entre outros; b) Ética Profissional,
ou Ética do Cuidado, quando o estudo Stiller 2000 16 pesquisa de campo; desenvolvimento ético; formação/educação
envolvia ação profissional, como a to- Scott 2000 17 reflexão ética; ética profissional
mada de decisão ou enfrentamento de Romanello & Knight-
reflexão ética; ética filosófica; ética profissional
dilemas éticos, o que exige do pro- Abowitz 2000 18
fissional competência, responsabilidade Sisola 2000 19 pesquisa de campo; formação/educação; ética em pesquisa
e comportamento ético na relação 20
Barnit & Roberts 2000 modelo de ensino; ética profissional; formação/ educação
terapeuta-paciente; c) Desenvolvimento
Ético, quando o estudo se reportava a Jensen & Paschal 2000 21 pesquisa de campo; formação/educação
uma revisão da história da ética na Triezenberg & Davis 2000 22 modelo de ensino; formação/educação
profissão, ao código de ética e/ou a prin- Swisher 2002 4 revisão histórica; desenvolvimento ético
cípios de valores morais e éticos; d) João 2002 23 editorial; formação/educação
Formação e Educação, quando a discus-
são se referia à ética ou aos dilemas Renner et al. 2002 24 pesquisa de campo; ética profissional
éticos, para avaliar currículos, propor Araújo & Neves 2003 25 pesquisa de campo; ética profissional
modelos ou exemplificar ações educa- Dronberger 2003 26 estudo de caso; ética profissional
tivas à transformação da formação ética Dieruf 2004 27 pesquisa de campo; formação/educação
dos fisioterapeutas; e, por último, e) Ética
Geddes et al. 2004 28 pesquisa de campo; ética profissional
em Pesquisa, para aqueles estudos rela-
tivos aos cuidados éticos que se devem Finch et al. 2005 29 pesquisa de campo; ética profissional
observar quando há envolvimento de Linker 2005 30 revisão histórica; ética profissional
pacientes em pesquisas. Kirsch 2006 31 seção de revista; ética profissional
Relacionaram-se, também, os temas Johnston 2006 32 reflexão ética; ética em pesquisa
nacionais encontrados em outras fontes Henley & Frank 2006 33 revisão histórica; ética em pesquisa
de busca, como os sites dos Conselhos Greenfield 2006 34 pesquisa de campo; ética profissional
Federal e Regionais de Fisioterapia11, o
Mourey 2006 35 reflexão ética; ética filosófica
site de Terapia Manual12, capítulos de
Marec 2007 36 reflexão ética; desenvolvimento ético; ética profissional
livros e também anais de eventos cien-
tíficos de fisioterapia e bioética, com o Scheirton et al. 2007 37 estudo de casos; ética profissional

404 Fisioter
Fisioter Pesq.
Pesq. 2008;15(4):402-7
2008;15(4)
Badaró & Guilhem Bioética e Fisioterapia

Quanto às categorias de abordagem, que, ao estudar o conhecimento ético volvem os fisioterapeutas em relação ao
em 16 artigos são discutidas questões na Fisioterapia, analisou mais de 90 desenvolvimento ético e ao processo de
que envolvem o código de ética ou com- artigos publicados em revistas científi- tomada de decisão. Cabe lembrar que
portamentos éticos (Ética profissional); cas estadunidenses, entre 1970 e 2000, um desses artigos é nacional e investigou
9 analisam a formação ética e propõem para estabelecer uma comparação entre a concepção ética dos fisioterapeutas,
modelos para uma educação ética no os textos com as fases da Bioética descri- alertando para a ausência desses conhe-
cuidado em saúde (Formação/ Edu- tas por Pellegrino, em 1999, e as fases cimentos na formação e profissional e
cação); 3 envolvem conceituação de da ética profissional na fisioterapia pro- no debate da categoria (Quadro 1).
ética e moral (Ética filosófica); 3 discor- postas por Purtilo, em 200013. A autora
categorizou essas publicações em filo- Em 2006 verificou-se uma retomada
rem sobre a história da ética na profissão,
sóficas e sociais, verificando que a abor- mais significativa desses temas, com qua-
os princípios morais e o código de ética
dagem filosófica foi a mais comum nas tro artigos publicados. As abordagens
(Desenvolvimento ético), e 3 abordam
décadas de 1970 e 1980, enquanto a dos estudos foram mais diversificadas,
questões sobre o respeito e os cuidados
abordagem social foi crescendo a cada variando entre a preocupação dos fisio-
com os pacientes em pesquisa (Ética em
década. Observou também que, dentre os terapeutas, o desenvolvimento do ensino
pesquisa). Cabe observar que alguns arti-
estudos que utilizaram a abordagem filo- da ética na prática da fisioterapia e a
gos se incluíram em mais de uma dessas
sófica, a maioria adotou como referência investigação do consentimento informa-
categorias (Quadro 1).
a teoria principialista. No Brasil, nesse do (que, na nomenclatura oficial bra-
Quanto ao número desses estudos, mesmo ano, a Fisioterapia iniciou sua sileira, tornou-se “consentimento livre e
cabe destacar, em 2000, a conferência inserção histórica no debate bioético, esclarecido”). Ocorreu ainda a inserção
de Ruth Purtilo13 que preconizava, para com a publicação de um artigo e um da coluna “Ethics in action” na Physical
o novo milênio, o direcionamento do editorial de autoria de fisioterapeutas Therapy Magazine (periódico mensal sob
foco dos estudos para a ética pro- brasileiros. a responsabilidade da fisioterapeuta
fissional. Deve-se mencionar ainda a Nancy Kirsch31), que visa possibilitar a
contribuição do Journal of Physical De 2003 a 2005, constata-se uma re- reflexão interativa acerca da ética e
dução no número de publicações. Dos
Therapy Education que, em edição es- desenvolver habilidades para a tomada
seis artigos publicados nesse período,
pecial, pôs em discussão as questões éticas de decisões éticas.
cinco investigaram o comportamento
que envolvem a Fisioterapia14-22, ligadas
ético na prática profissional e o outro Em 2007, até setembro (limite do
ao desenvolvimento moral na profissão.
analisou a questão dos conteúdos de período de busca desta pesquisa), foram
Em 2001 nenhum artigo foi encon- Ética na formação profissional. Todos os encontrados apenas dois artigos: um
trado mas, em 2002, destaca-se a im- trabalhos chamavam a atenção para os abordou os valores éticos dos fisioterapeu-
portante publicação de Laura Swisher4 problemas de consciência ética que en- tas; e o outro, os erros cometidos por

Quadro 2 Títulos nacionais sobre Ética e/ou Bioética e Fisioterapia (n=10)


Ano Autoria Título Categoria Fonte / Evento
Conferência e I Congresso Internacional de
2003 Petrone N. É hora de ética e respeito profissional
artigo Fisioterapia, CE; Revista Coffito
Bonatti R, João S,
2005 Ética e Bioética na Fisioterapia Painel XVI Cobraf, SP
Forcella H, Souza S.
Bioética, exercício profissional e a história da IV Jornada de Fisioterapia do
2006 (não informado) Palestra
Fisioterapia Unipe, PB
Ser fisioterapeuta na atualidade: um
2006 Arruda L. Ensaio Site do Crefito 5, RS
compromisso ético
Capítulo de
2006 Marques AP, João S. Aspectos bioéticos e legais da Fisioterapia Cap. 12 da ref. 38
livro
Osteopatia visceral e craniossacral: qual o
Artigo Site da revista Terapia
2006 Ladeira C. limite ético entre especialização profissional e
(comentário) Manual
a prática baseada em ficção ou mito?
Conhecimento dos fisioterapeutas de Santa VII CBB – Congresso Brasileiro
2007 Badaró A, Guilhem D. Pôster
Maria sobre Ética e Bioética de Bioética, SP
Conhecimentos sobre Ética e verificação da
2007 Badaró A, Zanchet A. sensibilidade ética dos formandos do curso de Pôster VII CBB,
Fisioterapia da UFSM
Problemas bioéticos em fisioterapia respiratória
2007 Lima W, Gazola M. Pôster VII CBB,
na fase final da esclerose lateral amiotrófica
Gomes D, Pessini L, A atuação da fisioterapia em cuidados Comunicação
2007 VII CBB,
Guerra G. paliativos: reflexões bioéticas coordenada

Fisioter Pesq. 2008;15(4) :402-7 405


fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, os desafios e as mudanças que iria en- de forma empírica, baseada nas ex-
analisando-se os conflitos éticos gerados frentar13. Esses aspectos também foram periências provenientes da prática em
por fraude e negligência. reforçados por diversos autores em fisioterapia.
outros estudos.
Devido à escassez de artigos nacionais,
optou-se por mencionar outros dez títu- No Brasil, as questões que envolvem CONCLUSÃO
los nacionais sobre a temática, que não as discussões sobre a relação entre ética
se encontravam em revistas indexadas. e fisioterapia estiveram, ao longo da No cenário nacional, as discussões
Estes são apresentados no Quadro 2, or- evolução da profissão, limitadas aos sobre as questões éticas e a sua relação
ganizados de acordo com o ano de publi- aspectos legais e deontológicos. Os com a fisioterapia emergem apenas a
cação e/ou apresentação, indicando-se a temas encontrados são muito recentes e partir de 2002, enquanto no cenário
fonte ou o evento. Estão classificados demonstram a tímida inserção da bioética estadunidense é crescente sua evolução
conforme a forma de apresentação: arti- na fisioterapia e a ausência da discussão desde os anos 1970. Mesmo assim, os
go, capítulo de livro, comentário em re- sobre essa temática entre os fisioterapeutas. autores daquele país consideram sua
vista, conferência, ensaio, mesa redon- produção muito pequena.
Por outro lado, apesar da escassez desses
da, painel, palestra, pôster ou comuni- estudos, eles são relevantes por seu pionei- Independentemente da complexidade
cação coordenada. rismo e por iniciarem essa reflexão. e do tipo dos estudos, há unanimidade
entre os autores quanto à necessidade de
Acredita-se que outros trabalhos re-
DISCUSSÃO lacionados à Ética e à Fisioterapia foram
se prepararem os fisioterapeutas para
enfrentar os conflitos éticos que as mu-
apresentados em eventos da categoria
Os resultados encontrados demons- danças no perfil epidemiológico da saúde
mas, como não foram publicados, aca- estão provocando. As reflexões remetem
tram que, no cenário estadunidense, o baram por se perder. Isso poderia
ano 2000 marcou a intensificação da ao questionamento sobre o desenvolvi-
justificar a escassa inclusão dessa temá- mento moral dos fisioterapeutas, que
reflexão bioética na fisioterapia, com a tica nas conferências e palestras dos
publicação de um número expressivo de deve ser estimulado durante o processo
eventos da área. De modo geral, a pro- de sua formação, por meio da inclusão
textos que abordavam questões de ética dução da Fisioterapia nacional na área
filosófica e ética clínica. Purtilo13, com de situações concretas encontradas na
da Ética e Bioética ainda é muito incipien- prática clínica.
base na evolução histórica da fisiote- te, o que se reflete na pouca discussão entre
rapia, antevia um futuro em que a com- os profissionais. Nota-se alguma sensibili- Para se alcançar esse objetivo, é indis-
plexidade das mudanças sociais, políti- pensável adequarem-se os programas
dade a essa abordagem, com repercussão
cas e culturais, refletidas na saúde, exi- curriculares de graduação, com vistas a
no VII Congresso Nacional de Bioética
giriam um fisioterapeuta mais preparado proporcionar conhecimento e reflexão
(2007), quando, pela primeira vez,
do ponto de vista ético – um aspecto sobre a Bioética de forma contínua.
houve a participação da Fisioterapia em
ainda pouco valorizado pela profissão. Diante disso, os educadores precisam se
eventos de Bioética.
A autora enfatizava que o momento era preparar para enfrentar esse desafio. Para
de projeção para a profissão e que, para Grande parte dos conteúdos dos estu- a aproximação da Bioética com a fisio-
se iniciar essa transformação, devia-se dos publicados direciona a atenção para terapia, necessita-se ainda de uma ampla
partir da formação profissional, ou seja, as questões éticas da responsabilidade discussão para se identificarem os con-
dos currículos de Fisioterapia. Argumen- profissional, da unidade da categoria e flitos éticos presentes na profissão, a fim
tava que a profissão requeria desenvol- do respeito aos princípios éticos. Essa de desencadear reflexões multidiscipli-
vimento moral consistente para encarar preocupação é reiterada, muitas vezes, nares, abrangentes e inclusivas.

406 Fisioter
Fisioter Pesq.
Pesq. 2008;15(4):402-7
2008;15(4)
Badaró & Guilhem Bioética e Fisioterapia

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Fisioter Pesq. 2008;15(4) :402-7 407


Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.4, p.408-15, out./dez. 2008 ISSN 1809-2950

Exercícios terapêuticos nas desordens temporomandibulares:


uma revisão de literatura
Therapeutic exercises in temporomandibular disorders: a literature review
Sâmia Amire Maluf1, Bruno Gonçalves Dias Moreno2, Patrícia Pereira Alfredo3,
Amélia Pasqual Marques4, Graziela Rodrigues5

Estudo desenvolvido no Fofito/ RESUMO: A articulação temporomandibular faz parte do sistema estomatognático que,
FMUSP – Depto. de junto com os dentes, periodonto, coluna cervical, crânio e cintura escapular, é
Fisioterapia, Fonoaudiologia e responsável pela mastigação, fonação, deglutição, respiração e expressão facial.
Terapia Ocupacional da Exercícios terapêuticos têm sido empregados na reabilitação e prevenção das
Faculdade de Medicina da disfunções temporomandibulares (DTM). Este estudo teve como objetivo revisar a
Universidade de São Paulo, SP, literatura a respeito, verificando a eficácia dos exercícios terapêuticos nas DTM.
Brasil Foram examinados periódicos do período entre 1991 e agosto de 2008, nas bases
1 de dados Medline, Lilacs e Pubmed, utilizando as palavras-chave “desordem
Fisioterapeuta do Movicet –
Movimento Centro de Estudos e temporomandibular”, “terapia por exercícios” e as correspondentes em inglês. Foram
Terapia, Campinas, SP selecionados relatos de caso, artigos de revisão e ensaios clínicos com mais de 20
pacientes, num total de 53 artigos. A maioria relatou efeitos positivos na redução
2
Fisioterapeuta do Depto. de da dor, melhora da mobilidade e dos aspectos psicológicos, sugerindo que os
Fisioterapia das Faculdades exercícios podem contribuir no tratamento da DTM. Entretanto, o tipo, tempo de
Adamantinenses Integradas, duração, número de repetições, freqüência e intensidade dos exercícios não está
Adamantina, SP bem descrita. A falta de padronização das pesquisas, bem como da forma de avaliar,
3
dificultam a comparação dos resultados. Mais estudos com métodos padronizados
Fisioterapeuta Ms.; doutoranda devem ser estimulados.
no Programa de Pós-Graduação
em Fisiopatologia Experimental DESCRITORES: Literatura de revisão como assunto; Terapia por exercício; Transtornos
da FMUSP da articulação temporomandibular
4
Profa. Dra. do Fofito/FMUSP ABSTRACT: The temporomandibular joint is part of the stomatognathic system, which
comprises a complex set of orofacial structures, including teeth, cervical spine,
5
Fisioterapeuta do Movicet cranium and shoulder. The system is responsible for masticatory, phonation, and
deglutition functions, as well as for breathing and facial expression. Physical therapy
ENDEREÇO PARA exercises have been used for rehabilitation and prevention of temporomandibular
CORRESPONDÊNCIA disorders (TMD). The purpose of this study was to review studies on the subject and
assess the effectiveness of physical therapy exercises for TMD. Case reports, review
Sâmia A. Maluf
Fofito/FMUSP articles, and clinical trials with more than 20 patients, published from 1991 to
R. Cipotânea 51 Cidade mid-2008, were searched for in databases Medline, Lilacs and Pubmed, by using
Universitária keywords "exercise therapy” "temporomandibular disorders”, and the correspondent
05360-160 São Paulo SP terms in Portuguese. Fifty-three studies were selected of which most showed positive
e-mail: effects on pain reduction, improvement in joint mobility and psychological aspects,
samia_maluf@uol.com.br suggesting that physical therapy exercises may be beneficial in TMD treating.
However, the type, duration time, repetitions, frequency and intensity of the
therapeutic exercises are not well described. The lack of research and assessment
APRESENTAÇÃO method standardization hinder result comparison. More studies with standardized
ago. 2008 methods must be stimulated.
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO KEY WORDS: Exercise therapy; Review literature as topic; Temporomandibular joint
nov. 2008 disorders

408 Fisioter
Fisioter Pesq.
Pesq. 2008;15(4):408-15
2008;15(4)
Maluf et al. Exercício para disfunção temporomandibular

INTRODUÇÃO ensaios clínicos. Destes, somente três


utilizaram os exercícios terapêuticos sem
Estudos de revisão
A articulação temporomandibular associação a outros procedimentos e a Os trabalhos de revisão9,10,17-19 relatam
(ATM) é uma estrutura altamente es- maioria incluía uso de placa miorrela- que a fisioterapia no tratamento da DTM
pecializada do complexo craniomandibu- xante e outros recursos fisioterapêuticos está inserida entre as terapias de suporte,
lar que está sujeita a comprometimentos como eletroterapia, crioterapia, termote- visando reduzir ou eliminar sinais e sin-
de origem neurológica, ortopédica e rapia, reeducação postural e proprio- tomas, mantendo ou recuperando a ati-
musculoesquelética, originando as dis- ceptiva, terapia manual, mobilização e vidade funcional num menor espaço de
funções temporomandibulares (DTM)1, uso de aparelho para exercitar a mordida tempo. Há uma forte relação entre DTM
de etiologia multifatorial. Dificilmente (BAE, bite assist exerciser). Os demais e alterações posturais, sendo o tratamen-
os sinais e sintomas relacionados à ATM incluíam: orientação, relaxamento, exer- to fisioterapêutico de extrema impor-
se apresentam de forma isolada 2 e cícios domiciliares, medicação, terapia tância em tais disfunções e após inter-
incluem artromialgia facial (caracteri- comportamental cognitiva, manipula- venções cirúrgicas na ATM20. Os exer-
zada por dor pré-auricular localizada na ção, treino da respiração e acupuntura. cícios terapêuticos têm efeitos benéficos
região da ATM), ruídos articulares du- As intervenções relatadas foram apli- na melhora da dor e nas seqüelas da
rante a as funções da mandíbula, dis- cadas em DTM miogênica (11 artigos), inatividade crônica do sistema mus-
túrbios nos movimentos mandibulares, artrogênica (9), dor orofacial (4), deslo- culoesquelético21.
fraqueza ou hiperatividade da muscula- camento de disco sem redução (7), des- Fricton 22 afirma que, nos estudos
tura mastigatória3. locamento de disco com redução (1 arti- sobre DTM miogênica, os pacientes com
go). Em 21 artigos não havia informação DTM menos complexa podem ser
A DTM pode ocorrer em todas as fai-
sobre o tipo de DTM. tratados por orientações para autocui-
xas etárias, mas sua incidência maior é
entre 20 e 45 anos. Entre os 15 e 30 anos Como parâmetro de avaliação dos dado, exercícios e splints; os casos mais
as causas mais freqüentes são as de resultados, após o tratamento, a maioria complexos devem ser tratados por uma
origem muscular e, a partir de 40 anos, dos artigos utilizou questionário próprio, equipe multidisciplinar.
de origem articular. As mulheres são outros os critérios diagnósticos para DTM
McNeely et al.23 apontam a eficácia
mais acometidas que homens em uma (Research Diagnostic Criteria), alguns o
dos exercícios posturais associados a
proporção de cinco para cada homem4. inventário de ansiedade e o questionário
terapia manual e acupuntura na redução
McGill. Na avaliação da dor, além dos
Os exercícios terapêuticos têm sido da dor e melhora da função e abertura
dados clínicos, foi utilizada palpação,
muito empregados na reabilitação e bucal. Uma revisão sistemática18 ana-
escala visual analógica e dolorimetria;
prevenção da DTM, com o objetivo de lisou os estudos que avaliaram a eficácia
ainda, foi avaliada a amplitude de movi-
aliviar a dor e melhorar a função, porém de várias intervenções fisioterapêuticas
mento. Nos exames complementares
são escassos os trabalhos que comparem na DTM, concluindo que os exercícios
utilizaram-se eletromiografia, gravador de
e discutam a eficácia dos mesmos. O ativos, as mobilizações manuais, o
sons, axiografia computadorizada, resso-
objetivo deste estudo foi revisar os estu- treinamento postural em combinação
nância magnética e imagem radiográfica.
dos da literatura e examinar a eficiência com outras intervenções, a terapia a
dos exercícios terapêuticos nas disfun- Os artigos apontam efeitos positivos laser, os programas de retroalimentação
ções temporomandibulares. na redução da dor, na melhora da mo- (biofeedback), relaxamento e reeduca-
bilidade, nos aspectos psicológicos e no ção proprioceptiva podem ser mais
quadro clínico, tais como melhora do eficazes do que o tratamento placebo
METODOLOGIA sono, sintomas no ouvido, mastigação
e fala. Apenas dois trabalhos apontaram
ou que o uso de placas miorrelaxantes;
e as combinações de exercícios ativos,
O levantamento bibliográfico foi feito ausência de efeito após o tratamento5,6, terapia manual, correção postural e
nas bases de dados Medline, Lilacs e e três não relatam se houve melhora7-9. técnicas de relaxamento podem ser
Pubmed, no período entre 1991 e mea- Os ganhos com o tratamento tendem a eficazes.
dos de 2008. Foram selecionados artigos se manter longitudinalmente em curto e
em português e inglês e utilizadas as longo prazos10-16, sobretudo quando o Bessa-Nogueira et al.24 avaliaram a
palavras-chave “desordem temporoman- paciente recebe orientações de autocui- qualidade metodológica de revisões
dibular”, “terapia por exercícios” e as dado e treinamento para realizar exer- sistemáticas, comparando o tratamento
correspondentes em inglês. Os artigos que cícios no domicilio. cirúrgico e não-cirúrgico da DTM, concluin-
se referiam a outros tratamentos associados do que alguns estudos não apontam
à prática de exercícios terapêuticos diferença entre as abordagens e salientam
durante a reabilitação foram incluídos. DISCUSSÃO que o mais preocupante é o aspecto ético
dos ensaios clínicos, que não cumprem as
São comentados aqui inicialmente os normas internacionais de conduta, e os
RESULTADOS artigos de revisão. Os estudos de caso e
os ensaios clínicos serão examinados
cuidados prestados aos doentes, que não se
apoiavam em evidências científicas de alto
Foram selecionados 53 artigos sendo conforme a associação dos exercícios a nível. Mannheimer25 também conclui
12 de revisão, 5 estudos de caso e 36 outros recursos terapêuticos. que as recomendações dos estudos

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devem ser vistas com precaução, pois a Nos quadros de cefaléia associada à havendo, porém, diferença entre as
maioria não apresentam critérios claros DTM, submetidos a tratamento durante várias formas de procedimentos fisiote-
de inclusão e exclusão nem resultados dois anos com placa e exercícios, houve rapêuticos34. A combinação de várias
confiáveis. melhora na dor de cabeça: em pacientes abordagens terapêuticas é mais eficaz
com dor forte, a intensidade da dor passou que uma aplicada isoladamente 1,35 ,
a média e baixa e, mesmo, à ausência de embora Al-Ani et al.36 afirmem que o uso
Exercício em associação com dor5. Houve também diminuição da da placa miorrelaxante sozinha pode
outros recursos ou terapias sensibilidade à palpação muscular8. reduzir a dor ao repouso e à palpação.
No caso de deslocamento anterior de
disco, a associação de placa e exercícios Associado à orientação de autocuidado e
Associado ao uso de placa terapêuticos apresentou resultados mais exercício domiciliar
eficazes no reposicionamento do disco do
O exercício terapêutico associado à que o tratamento só com placa de Alguns estudos referem que o uso das
placa miorrelaxante teve efeitos estabilização ou só com exercícios31. orientações deve ser associado a outros
significantes no alívio da dor e na dis- Stiesch-Scholz et al. 32 , por sua vez, recursos 12,14,15,37 . Truelove et al. 13
função11,26; em alguns casos, somente o obtiveram melhores resultados com placa concluíram que a terapia com placa foi
exercício terapêutico foi eficaz, poden- e medicação do que com placa e fisiote- menos eficaz do que o tratamento con-
do ser recomendado como primeira rapia; e Babadag et al.33 concluíram que servador aliado a orientações de
opção de tratamento na DTM miogêni- o deslocamento anterior pode diminuir autocuidado; e Carlson et al.12 não en-
ca12,13,27-29. Grace et al.30 não observaram associando-se tratamento medicamento- contraram diferença significativa entre
diferença entre os grupos tratados com so, exercícios mandibulares e placa pacientes tratados com placa, placa mais
terapias tradicionais, terapias tradicionais miorrelaxante. orientação, e exercícios domiciliares
associadas à placa miorrelaxante e exer- A melhora dos sintomas e função é com orientação.
cícios, nem tratamento por orientações clinicamente maior nos grupos tratados A repercussão das orientações de
associadas à placa. do que nos grupos sem tratamento, não exercícios e reeducação postural nas

Quadro 1 Estudos em que se utilizou placa associada a exercícios e/ou outro procedimento
Autoria, ano, tipo de estudo N Tratamento proposto Disfunção Resultados
Felício et al (1991)26* 33 Exercícios DTMM Benéfico
Widmark et al (1994)7** 33 Placa, injeções, medicação, terapia manual DTMA Indefinido
Krogstad et al (1996)8 103 Orientações, exercícios DOF Indefinido
Krogstad et al (1996)57 103 Orientações DTM Benéfico
Krogstad et al (1998)28 16 Exercícios DTMM Benéfico
Magnusson & Syren (1999)27 *** 26 Exercícios DTMM Benéfico
Treino da respiração, relaxamento e Benéfico a curto e longo
Carlson et al (2001)12*** 44 reeducação postural, placa e autocuidado DOF prazos
Placa, orientação, medicação, exercícios
Grace et al (2002)30** 45 domiciliares, termoterapia, uso do BAE DTM Benéfico
Placa e tratamento médico, fisioterapia,
Stiesch-Scholz et al (2002)32** 72 exercícios e terapia manual DDSR Benéfico
Terapia cognitiva comportamental, gelo,
Dworkin et al (2002)44*** 117 orientações, medicação, placa DTM Benéfico
Magnusson et al (2002) 11*** 135 Placa isolada e com exercícios terapêuticos DTM Benéfico a longo prazo
Terapia comportamental, exercícios,
Dworkin et al (2002)54*** 124 alongamento, compressa quente, gelo, DOF Indefinidos
orientações, medicação, placa
Anastassaki & Magnusson (2004) Conservador: placa, medicamentos, exer- Benéfico a DDSR, DTMA e
56 *** 3194 cícios mandibulares, acupuntura, outras DTM
DTMM; pobre para DOF
Babadag et al (2004)33 25 Analgésicos, placa de oclusão na ATM DDCR Benéfico
Yoda et al (2006)31** 104 Exercício e placa DDSR Benéfico
Conservador: orientações, autocuidado e
Truelove (2006)13* 200 dispositivo intra-oral DTM Benéfico
Tipo de estudo: * randomizado; **critérios de inclusão/exclusão; ***randomizado + critérios; N = número de sujeitos no estudo; DTM =
disfunção temporomandibular; DTMM = disfunção temporomandibular miogênica; DTMA = disfunção temporomandibular artrogênica;
DDSR = disfunção de disco sem redução; DDCR = disfunção de disco com redução; DOF = dor orofacial; ATM = articulação
temporomandibular

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2008;15(4)
Maluf et al. Exercício para disfunção temporomandibular

atividades de vida diária pode auxiliar treinamento de exercícios domiciliares Sherman et al.51 analisaram o efeito
significativamente no controle da sinto- proporcionam ganhos de ordem psico- do relaxamento muscular em pacientes
matologia da DTM1,38. As orientações lógica, pois diminuem a ansiedade42-44. com dor orofacial. Os resultados indica-
associadas a exercícios terapêuticos e à ram aumento da imunoglobulina A na
terapia manual podem ser eficazes no Associado a reeducação saliva, sugerindo que este pode ser outro
tratamento de pacientes com desloca- potencial benefício do treinamento pro-
mento de disco, mesmo sem haver o postural, terapia manual e gressivo em indivíduos com dor crônica.
reposicionamento 39,40. Os exercícios relaxamento Alguns estudos relatam o benefício
domiciliares podem ser benéficos para os dos exercícios terapêuticos e terapia
que não melhoram somente com o A associação de exercícios terapêu- manual, acrescidos de eletroterapia, nas
tratamento convencional41. ticos e reeducação da postura foi mais
DTMs miogênicas e artrogênicas1,14,21,52; e
eficaz do que o relaxamento45 e orienta-
Michelotti et al.15 compararam dois Machado & Lima53 descrevem um estu-
ção de autocuidado37. Estudos12,46-49 em que
tratamentos e após três meses constata- do de caso em que, além da conduta
se associaram reeducação postural por
ram que o grupo que recebeu somente odontológica, realizou-se manobra osteo-
meio de exercícios terapêuticos, terapia
orientação obteve 57% de melhora e o pática da coluna cervical, tendo como
manual e relaxamento concluem que
que combinou exercícios domiciliares à resultado redução do quadro álgico.
esses procedimentos parecem ser úteis
orientação, 77% de melhora. Pacientes nos casos de deslocamento anterior do Apesar dos resultados favoráveis en-
que fizeram fisioterapia e praticaram disco com redução, síndrome dolorosa contrados na literatura, um fator limitante
regularmente autocuidado obtiveram miofascial e DTM miogênica. Augustine nos estudos sobre terapia manual é a falta
sucesso no relaxamento da musculatura et al.50 sugerem que a DTM pode estar de descrição minuciosa das técnicas
mastigatória, alívio da dor e melhora nos associada à anteriorização da cabeça e utilizadas, tendo em vista que os termos
sintomas da depressão e na qualidade do que alongamentos e exercícios podem terapia manual, mobilização e manipu-
sono. As orientações de autocuidado, o contribuir para correções posturais e lação são genéricos e podem incluir
esclarecimento dos fatores de risco e o redução dos sintomas. muitas formas de movimento passivo.

Quadro 2 Estudos em que se utilizaram exercícios associados a outros procedimentos


Autoria, ano, tipo de estudo N Tratamento proposto Disfunção Resultados
Carlson et al (1991)45*** 34 Reeducação postural, alongamento DTMM Benéfico
Komiyama et al (1999)39*** 60 Intervenção cognitiva e correção postural DTMM Benéfico
Roychoudhury et al (1999)16** 50 Cirurgia DTMA Benéfico
Wright et al (2000)37*** 60 Reeducação postural e orientações DTM Benéfico
Nicolakis et al (2000)46*** 30 Reeducação postural e relaxamento DTMA Benéfico
Yuasa e Kurita(2001)37*** 60 Antiinflamatório e fisioterapia DDSR Benéfico
Terapia manual, correção postural,
Nicolakis et al (2001)47*** 20 DTMA Benéfico na osteoartrose
relaxamento e orientações
Terapia manual, reeducação postural,
Nicolakis et al (2001)48*** 20 DDSR Benéfico
relaxamento e orientações
Nicolakis et al (2002)49*** 20 Reeducação postural, relaxamento, orientação DTMM Benéfico
Delaat et al (2003)14** 26 Massagem, ultra-som, alongamento,orientação DTMM Benéfico
Matta e Honorato (2003)1** 46 Orientações e correção postural DTM Benéfico
Yoda et al (2003)39*** 42 Exercícios DDSR Benéfico
Ultra-som, crioterapia, alongamento,
Rohling et al (2003)55** 30 DTMM Benéfico
acupuntura
Orientação de autocuidado e exercícios
Michelotti et al (2004)15* 70 DTMM Benéfico
domiciliares
Autocuidado, repouso, relaxamento,
Riley et al (2007)43 126 DOF Benéfico na depressão e sono
massagem, exercícios, medicamentos
Sato e Kawamura (2007)5 23 Exercícios de abertura bucal DDSR Sem melhora
Wright (2007)59 200 Fisioterapia DTM Benéfico
Augustine et al (2008)50 29 Alongamento e exercícios DTM Benéfico
Katsoulis e Richter (2008)42 27 Fisioterapia e autocuidado DTMM Benéfico
Tipo de estudo: * randomizado; **critérios de inclusão/exclusão; ***randomizado + critérios; N = número de sujeitos no estudo; DTM =
disfunção temporomandibular; DTMM = disfunção temporomandibular miogênica; DTMA = disfunção temporomandibular artrogênica;
DDSR = disfunção de disco sem redução; DDCR = disfunção de disco com redução; DOF = dor orofacial

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Quadro 3 Estudos de caso em que se utilizaram exercícios
Autoria, ano Tratamento proposto Disfunção Resultados
Waide et al (1992)52 Estimulação elétrica, TENS, compressa quente, ultra-som, mobilização, gelo DTM Benéfico
Zeno et al (2001)41 Exercícios domiciliares DTMA Benéfico
Exercícios, terapia manual, alongamento passivo, manipulação cervical,
Machado e Lima (2004)53 DOF Benéfico
manobra osteopática
Cleland e Palmer (2004)40 Terapia manual, exercício terapêutico e orientações DDSR Benéfico
Babu et al (2008)6 Ultra-som, mobilização, relaxamento, exercícios, bandagem DTM Sem melhora
DTM = disfunção temporomandibular; DTMA = disfunção temporomandibular artrogênica; DOF = dor orofacial; DDSR = disfunção de
disco sem redução

necessidade de mais estudos clínicos fisioterapia foi capaz de provocar uma


Associado a eletroterapia,
randomizados. redução nos sintomas e promover alívio
acupuntura e crioterapia nas patologias relacionadas ao sistema

A associação de exercícios terapêu- Não associado, utilizado auditivo59.

ticos e eletroterapia tem se mostrado efi- isoladamente


caz no tratamento da DTM miogêni-
ca 1,14,21,52,54-56 e no pós-cirúrgico 52 ,
CONCLUSÃO
O alongamento no tratamento da
resultando na normalização da ampli- DTM miogênica teve como resultado Nos ensaios clínicos aqui examina-
tude de movimento mandibular, elimi- redução da atividade eletromiográfica dos os exercícios terapêuticos foram em-
nação da dor e da inflamação e função dos músculos da mastigação45. Os exer- pregados de forma combinada a outros
mandibular sem restrição. O uso do gelo cícios terapêuticos podem contribuir na recursos de fisioterapia (terapia manual,
associado a outras modalidades de redução efetiva do estalo em adultos termoterapia, fototerapia, eletroterapia e
tratamento melhora a mobilidade man- com deslocamento de disco 39 e os reeducação postural), ou integrada à
dibular, elimina a dor e a inflamação52 exercícios de abertura bucal no pós- odontologia, o que impede a verificação
e, associado ao alongamento, pode di- operatório foram eficazes no tratamento clara da contribuição dos exercícios
minuir a dor à palpação, nos casos de a longo prazo16. O sucesso no tratamento terapêuticos.
dor miofascial55. Já a acupuntura associa- é representado pela redução da dor, Os ganhos obtidos com o trata-
da ao alongamento demonstrou melhora melhora funcional e da qualidade de mento tendem a se manter a curto e lon-
da remissão da dor espontânea e à pal- vida; alguns autores referem melhora dos go prazo, sobretudo quando o paciente
pação, nos casos de dor miofascial27,55. aspectos psicológicos e da mobilidade, recebe orientações de autocuidado e
No entanto, na dor orofacial inespecí- não importando o tipo de exercício treinamento de exercícios domiciliares.
fica, o resultado foi menos satisfatório57. usado. É ressaltada a importância da boa Os estudos concluem que a aplicação
Michelotti et al.58, ao verificar a efi- orientação e motivação para os exer- de exercícios terapêuticos pode con-
cácia dos exercícios domiciliares na cícios domiciliares, visto que a condição tribuir para o tratamento da DTM, porém
DTM miogênica, não chegaram a resul- crônica impõe um cuidado constan- mais estudos com metodologia mais
tados conclusivos, argumentando pela te8,12,54,57. O tratamento conservador de padronizada devem ser estimulados.

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52 Waide FL, Bade DM, Lovasko J, Montana J. Clinical temporomandibular disorders: a survey of 3194 patients
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53 Machado MR, Lima RHM. Abordagem fisioterápica no 57 Krogstad BS, Jokstad A, Dahl BL, Soboleva U. Somatic
tratamento de desordem temporomandibular associada complaints, psychologic distress, and treatment outcome
à protusão de cabeça: relato de caso clínico. Rev Serv in two groups of TMD patients, one previously subjected
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58 Michelotti A, Wijer A, Steenks M, Farella M. Home-
54 Dworkin SF, Huggins KH, Wilson L, Mancl L, Turner JA,
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Fisioter Pesq. 2008;15(4) :408-15 415


AGRADECIMENTO
Fisioterapia e Pesquisa agradece a todos os pareceristas que colaboraram no processo de revisão em 2008.

Adriana Claudia Lunardi Denise Hollanda Iunes


Adriana Maria Barsante Santos Denise Lacaze
Adriana Ribeiro de Macedo Eliane Araújo de Oliveira
Aline Arcanjo Gomes Elaine Guirro
Amélia Pasqual Marques Eliane Ferrari Chagas
Ana Assumpção Berssaneti Elizabeth Alves Gonçalves Ferreira
Ana Cláudia Mattiello-Sverzut Elza Lúcia Baracho Lotti de Souza
Ana Cláudia Violino da Cunha Emília Nozawa
Ana Lucia Almeida Eneida Yuri Suda
Anamaria Siriani de Oliveira Ercy Mara Cipulo Ramos
André Luiz Felix Rodacki Erika Mattos Santangelo
Anice Pássaro Fábio Jorge Renovato França
Anke Bergmann Fátima Aparecida Caromano
Anselmo Sigari Moriscot Gardenia Maria Holanda Ferreira
Antonio Fernando Brunetto Hugo Celso Dutra Souza
Arthur de Sá Ferreira Ismael Fernando de Carvalho Fatarelli
Audrey Borghi Jamilson Simões Brasileiro
Augusto Cesinando de Carvalho Januário Gomes Mourão e Lima
Berenice Chiarelo Jaqueline da Silva Frônio
Bergson Cabral Jefferson Rosa Cardoso
Carla Mazzitelli João Marcos Domingues Dias
Carla Sonsino Pereira José Angelo Barela
Carolina Fu José Renato de Oliveira Leite
Celisa Tiemi Nakagawa Sera Júlio Guilherme Silva
Celso Ricardo Fernandes de Carvalho Liria Akie Okai
Christina Danielli Coelho de Morais Faria Luci Fuscaldi
Cibelle Kayenne Martins Roberto Formiga Luciana Akemi Matsutani
Clarice Tanaka Luciana Maria Malosá Sampaio
Claudia Fló Luciane Valéria Sita
Cristina dos Santos Cardoso de Sá Luisa Maria Reis Pedro
Cristina Maria Nunes Cabral Luiz Carlos de Abreu
Cristine Homsi Jorge Ferreira Luiz Carlos Marques Vanderlei
Débora Bevilaqua Grossi Manoela Domingues Martins
Deise Aparecida de Almeida Pires Oliveira Márcio José dos Santos

416 Fisioter Pesq. 2008;15(4)


Marcos Duarte Renata Noce Kirkwood
Marcus Vinícius C. Baldo Ricardo Oliveira Guerra
Maria da Conceição dos Santos Rinaldo Roberto de Jesus Guirro
Maria das Graças Rodrigues de Araújo Rosana Ferreira Sampaio
Maria Ignêz Feltrim Rosângela Corrêa Dias
Maria Laura Aquino Rubens Corrêa Araújo
Maria Rita Masselli Sâmia Amire Maluf
Maria Silvia Mariani Pires de Campos
Sandra Aliberti
Maria Stella Peccin
Sandra Alouche
Mariana Callil Voos
Sara Lúcia Silveira de Menezes
Marisa de Cássia Registro Fonseca
Silvana Maria Blascovi de Assis
Marisa Cotta Mancini
Silvia Maria Amado João
Marlene Aparecida Moreno
Simone Dal Corso
Mônica Perracini
Sonia Bertolini
Patrícia Castelucci
Stela Matiello
Patrícia Jundi Penha
Tania de Fatima Salvini
Paula Hentschel Lobo da Costa
Pedro DallAgo Thais Weber de Alencar Bojadsen

Raquel Aparecida Casarotto Thomaz Nogueira Burke

Raquel Rodrigues Britto Ulysses Fernandes Ervilha

Raquel Simoni Pires Vanessa Vilela Monte-Raso


Regina Célia Turolla de Souza Vera Lúcia Israel
Reginaldo Antolin Bonatti Vitor Tessuti
Renata Hydee Hasue Vilibor Wagner Cesar Munhoz

Fisioter Pesq. 2008;15(4) 417


INSTRUÇÕES PARA AUTORES
A revista FISIOTERAPIA E PESQUISA, editada pelo Curso vir acompanhada da autorização de reprodução pelos deten-
de Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia, tores dos direitos autorais; se não acompanhados dessa indi-
Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Me- cação, tais elementos serão considerados originais do/s au-
dicina da Universidade de São Paulo, prioriza a publicação tor/es do manuscrito.
de pesquisas originais, cujos resultados possam ser replica- Autoria
dos, publicando também ensaios de revisão sistemática ou
crítica de literatura, relatos de casos e cartas ao editor. Deve ser feita explícita distinção entre autor/es e colabo-
rador/es. O crédito de autoria deve ser atribuído a quem pre-
Os manuscritos apresentados à Revista devem ser origi- encher os três requisitos: (1) deu contribuição substantiva à
nais, redigidos em português. Caso uma versão semelhante, concepção, desenho ou coleta de dados da pesquisa, ou à
em qualquer língua, já tiver sido publicada ou enviada a ou- análise e interpretação dos dados; (2) redigiu ou procedeu à
tro veículo, essa informação deve constar da folha de rosto, revisão crítica do conteúdo intelectual; e (3) deu sua aprova-
para que o Conselho Editorial possa ponderar sobre a ção final à versão a ser publicada.
pertinência de sua publicação.
No caso de trabalho realizado por um grupo ou em vários
Processo de julgamento centros, devem ser identificados os indivíduos que assumem
inteira responsabilidade pelo manuscrito (que devem preen-
Todo manuscrito enviado para FISIOTERAPIA E PESQUI-
cher os três critérios acima e serão considerados autores). Os
SA é examinado pelo Conselho Editorial, para consideração
nomes dos demais integrantes do grupo serão listados como
de sua adequação às normas e à política editorial da Revista. colaboradores. A ordem de indicação de autoria é decisão
Os manuscritos que não estiverem de acordo com estas nor- conjunta dos co-autores. Em qualquer caso, deve ser indica-
mas serão devolvidos aos autores para adequação antes de do o endereço para correspondência do autor principal. A
serem submetidos à apreciação dos pares. Em seguida, o carta que acompanha o envio dos manuscritos deve ser assi-
manuscrito é apreciado por dois pareceristas de reconhecida nada por todos os autores, tal como acima definidos.
competência na temática abordada, garantindo-se o anoni-
mato de autores e pareceristas. Dependendo dos pareceres Envio dos manuscritos
recebidos, os autores podem ser solicitados a fazer ajustes Os manuscritos devem ser submetidos por via eletrônica
(no prazo de um mês), que serão examinados para aceitação. pelo site www.mdpesquisa.com.br/FP. Ao submeter um ma-
Uma vez aceito, o manuscrito é submetido à edição de texto, nuscrito para publicação os autores devem enviar:
podendo ocorrer nova solicitação de ajustes formais – nesse
caso, os autores têm o prazo máximo de duas semanas para ƒ Declaração de responsabilidade, de conflitos de inte-
efetuá-los. O não-cumprimento dos prazos de ajuste será resse e de autoria do conteúdo do artigo. Os autores
considerado desistência, sendo o artigo retirado da pauta da devem declarar a existência ou não de eventuais confli-
Revista. Os manuscritos aprovados são publicados de acordo tos de interesse (profissionais, financeiros e benefícios
com a ordem cronológica do aceite na secretaria da Revista. diretos e indiretos) que possam influenciar os resulta-
dos da pesquisa e a responsabilidade do(s) autor(es) pelo
Responsabilidade e ética conteúdo do manuscrito. Ver modelo no site
www.mdpesquisa.com.br/FP.
O conteúdo e as opiniões expressas são de inteira responsa-
bilidade de seus autores. Artigos de pesquisa envolvendo su- ƒ Declaração de transferência de direitos autorais
jeitos humanos devem indicar, na seção Metodologia, sua ex- (copyright) para Fisioterapia e Pesquisa, assinada por to-
pressa concordância com os padrões éticos e com o devido dos os autores, com os respectivos números de CPF, caso
o artigo venha a ser aceito para publicação (modelo tam-
consentimento livre e esclarecido dos participantes (de acor-
bém no site acima).
do com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saú-
de, que trata do Código de Ética para Pesquisa em Seres Hu- ƒ No caso de ensaio clínico, informar o número de regis-
manos). As pesquisas com humanos devem trazer na folha de tro validado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
rosto o número do parecer de aprovação pela respectiva Co- e International Committee of Medical Journal Editors
(ICMJE), cujos endereços estão disponíveis no site do
missão de Ética em Pesquisa, que deve estar registrada no
ICMJE: www.icmje.org/faq.pdf.
Conselho Nacional de Saúde. Estudos envolvendo animais
devem explicitar o acordo com os princípios éticos internaci- Preparação dos manuscritos
onais e instruções nacionais (Leis 6638/79, 9605/98, Decre-
1 Apresentação – O texto deve ser digitado em
to 24665/34) que regulamentam pesquisas com animais.
processador de texto Word ou compatível, em tamanho A4,
A menção a instrumentos, materiais ou substâncias de pro- com espaçamento de linhas e tamanho de letra que permi-
priedade privada deve ser acompanhada da indicação de seus tam plena legibilidade. O texto completo, incluindo páginas
fabricantes. A reprodução de imagens ou outros elementos de rosto e de referências, tabelas e legendas de figuras, deve
de autoria de terceiros, que já tiverem sido publicados, deve conter no máximo 25 mil caracteres com espaços.

418 Fisioter Pesq. 2008;15(4)


2 A página de rosto deve conter: 5 Tabelas, gráficos, quadros, figuras, diagramas – são con-
siderados elementos gráficos. Só serão apreciados manuscri-
a) título do trabalho (preciso e conciso) e sua versão para tos contendo no máximo cinco desses elementos. Recomen-
o inglês; da-se especial cuidado em sua seleção e pertinência, bem
b) título condensado (máximo de 50 caracteres) como rigor e precisão nos títulos. Note que os gráficos só se
c) nome completo dos autores, com números sobrescritos justificam para permitir rápida apreensão do comportamento
remetendo à afiliação institucional e vínculo; de variáveis complexas, e não para ilustrar, por exemplo, di-
d) instituição que sediou, ou em que foi desenvolvido o ferença entre duas variáveis. Todos devem ser fornecidos no
estudo (curso, laboratório, departamento, hospital, clí- final do texto, mantendo-se neste marcas indicando os pontos
nica etc.), faculdade, universidade, cidade, estado e país; de sua inserção ideal. As tabelas (títulos na parte superior)
e) afiliação institucional dos autores (com respectivos nú- devem ser montadas no próprio processador de texto e nu-
meros sobrescritos); no caso de docência, informar títu- meradas (em arábicos) na ordem de menção no texto; deci-
lo; se em instituição diferente da que sediou o estudo, mais são separados por vírgula; eventuais abreviações devem
fornecer informação completa, como em “d)”; no caso ser explicitadas por extenso, em legenda.
de não-inserção institucional atual, indicar área de for- Figuras, gráficos, fotografias e diagramas trazem os títulos
mação e eventual título (a Revista não indica em quê na parte inferior, devendo ser igualmente numerados (em ará-
nem em qual instituição o título foi obtido); bicos) na ordem de inserção. Abreviações e outras informa-
d) endereços postal e eletrônico do autor principal; ções vêm em legenda, a seguir ao título.
e) indicação de órgão financiador de parte ou todo o estu-
6 Remissões e referências bibliográficas – Para as remis-
do, se for o caso;
sões no texto a obras de outros autores adota-se o sistema de
f) indicação de eventual apresentação em evento cien- numeração seqüencial, por ordem de menção no texto. Assim,
tífico; a lista de referências ao final não vem em ordem alfabética.
g) no caso de estudos com seres humanos, indicação do Visando adequar-se a padrões internacionais de indexação, para
parecer de aprovação pelo comitê de ética; no caso de apresentação das referências a Revista adota a norma conheci-
ensaio clínico, o número de registro internacional. da como de Vancouver, elaborada pelo Comitê Internacional
3 Resumo, abstract, descritores e key words – A segunda de Editores de Revistas Médicas (www.icmje.org), também dis-
página deve conter os resumos do conteúdo em português e ponível em http://www.icmje.org/index.html#references. Alguns
inglês. O resumo em português deve ocupar o máximo de exemplos:
1.500 caracteres com espaços (cerca de 220 a 230 palavras). Forattini OP. Ecologia, epidemiologia e sociedade. São
Resumo e abstract devem ser redigidos em um único pará- Paulo: Edusp; 1992.
grafo, buscando-se o máximo de precisão e concisão; seu
Laurenti R. A medida das doenças. In: Forattini OP,
conteúdo deve seguir a estrutura formal do texto, ou seja,
editor. Epidemiologia geral. São Paulo: Artes Médicas;
indicar objetivo, procedimentos básicos, resultados mais im-
1996. p.64-85.
portantes e principais conclusões. São seguidos, respectiva-
mente, da lista de até cinco descritores e key words (sugere- Simões MJS, Farache Filho A. Consumo de
se a consulta aos DeCS – Descritores em Ciências da Saúde medicamentos em região do Estado de São Paulo
da Biblioteca Virtual em Saúde do Lilacs (http://decs.bvs.br) e (Brasil), 1988. Rev Saude Publica. 1988;32:71-8.
ao MeSH – Medical Subject Headings do Medline Riera HS, Rubio TM, Ruiz FO, Ramos PC, Castillo DD,
(www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html). Hernandez TE, et al. Inspiratory muscle training in
4 Estrutura do texto – Sugere-se que os trabalhos sejam patients with COPD: effect on dyspnea and exercise
organizados mediante a seguinte estrutura formal: a) Introdu- performance. Chest. 2001;120:748–56. [nomear até seis
ção, estabelecendo o objetivo do artigo, justificando sua re- autores antes de “et al”]
levância frente ao estado atual em que se encontra o objeto Rocha JSY, Simões BJG, Guedes GLM. Assistência
investigado; b) em Metodologia, descrever em detalhe a sele- hospitalar como indicador da desigualdade social. Rev
ção da amostra, os procedimentos e materiais utilizados, de Saude Publica [periódico on-line] 1997 [citado 23 mar
modo a permitir a reprodução dos resultados, além dos mé- 1998];31(5). Disponível em: http://www.fsp.usp.br/ ~rsp.
todos usados na análise estatística – lembrando que apoiar-se
Correia FAS. Prevalência da sintomatologia nas
unicamente nos testes estatísticos (como no valor de p) pode
disfunções da articulação temporomandibular e suas
levar a negligenciar importantes informações quantitativas; relações com idade, sexo e perdas dentais [dissertação].
c) os Resultados são a sucinta exposição factual da observa- São Paulo: Faculdade de Odontologia, Universidade de
ção, em seqüência lógica, em geral com apoio em tabelas e São Paulo; 1991.
gráficos –cuidando tanto para não remeter o leitor unicamente
a estes quanto para não repetir no texto todos os dados dos Sacco ICN, Costa PHL, Denadai RC, Amadio AC.
elementos gráficos; d) na Discussão, comentar os achados Avaliação biomecânica de parâmetros antropométricos
mais importantes, discutindo os resultados alcançados com- e dinâmicos durante a marcha em crianças obesas. In:
parando-os com os de estudos anteriores; e) a Conclusão VII Congresso Brasileiro de Biomecânica, Campinas, 28-
sumariza as deduções lógicas e fundamentadas dos Resulta- 30 maio 1997. Anais. Campinas: Ed. Unicamp; 1997.
dos e Discussão. p.447-52.

Fisioter Pesq. 2008;15(4) 419


7 Agradecimentos – Quando pertinentes, dirigidos a pes- tos no Adobe Photoshop®, para figuras em escala de cin-
soas ou instituições que contribuíram para a elaboração do za, no CorelDraw®, para desenhos, ou no Excel® ou
trabalho, são apresentados ao final das referências. Origin®, para gráficos), para permitir eventuais ajustes,
Apresentação eletrônica da versão final adequação de fonte etc.;
• forneça fotografias ou outras ilustrações com resolução
Após a comunicação do aceite do artigo, o autor deverá mínima de 300 dpi, e em tamanho compatível;
proceder aos eventuais ajustes sugeridos pelos pareceristas, • em qualquer caso, forneça simultaneamente um arqui-
para o quê terá o prazo de quatro semanas (findo esse prazo, vo em TIFF do elemento gráfico, para permitir
se a versão final não tiver sido enviada à Revista, será consi- visualização e conferência.
derada desistência). A versão final será ainda editada, oca-
Envio dos arquivos
sião em que o editor poderá solicitar novos ajustes e esclare-
cimentos – e, nesse caso, o prazo para os ajustes será de ape- Os dados de texto (em Word ou compatível) e de ilustra-
nas duas semanas. ções devem ser enviados em arquivos separados. Os dados
devem ser acompanhados da informação precisa de todos os
Solicita-se que, na preparação da versão final, o autor: programas utilizados, inclusive de compressão, se for o caso;
• use fonte comum, simples; use itálico apenas para títulos sugere-se que os nomes dos arquivos sejam curtos e permi-
de obras e palavras em língua estrangeira; o negrito é re- tam rápida identificação (por exemplo, “sobrenome do autor
servado a títulos e intertítulos, claramente diferenciados; fig1....”).
• não use a barra de espaço para recuos nem a tecla “tab”, Exemplares dos autores
apenas recursos de formatação do processador de texto;
• não separe parágrafos com sinal de parágrafo adicional; Serão enviados ao autor principal dois exemplares do nú-
mero da Revista em que seu artigo for publicado, mais um
• use o próprio processador de texto (e não planilhas) para
exemplar para cada co-autor.
elaborar tabelas;
• use o próprio processador de texto (recurso “Desenho”) ***
para elaborar diagramas simples, organogramas etc. (não
insira figuras ou organogramas do Microsoft PowerPoint®); No bojo do processo de aprimoramento de FISIOTERAPIA E
• inversamente, use programa apropriado (como PESQUISA, estas normas estão em construção, podendo sofrer
Microsoft® Excel) para elaborar gráficos, e não o recur- alterações. Para informação atualizada, sugere-se a consulta ao
so “Gráficos” do processador de texto; site da Revista (http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php) ou
• no caso de gráficos ou diagramas elaborados por softwares às instruções do último número publicado. Para contato com a
secretaria da Revista, use revfisio@usp.br.
específicos, devem ser convertidos (exportados) em for-
matos que possam ser abertos por programas de uso co- O endereço completo da Revista encontra-se na terceira
mum (verifique os tipos de arquivos que podem ser aber- capa, a seguir.

Assinatura
Para assinar Fisioterapia e Pesquisa, preencha o cupom abaixo e envie-o à revista (ver endereço página 2), junto com um cheque
nominal à Fundação Faculdade de Medicina (ver endereço ao lado, na 3a capa) no valor de R$ 64,00 ou recibo de depósito no
Banespa (banco 033), agência 0201, cc 13004086-7. A ficha de assinatura está disponível no site da revista: <http://
medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php>. Números anteriores solicitar à revista. Valor unitário: R$ 16,00.

FICHA DE ASSINATURA

Assinatura anual (quatro números) de Fisioterapia e Pesquisa a contar de (data) _________________________

Nome: _______________________________________________________________________________________

Endereço: _____________________________________________________________________________________

CEP: ______________ Cidade: ___________________________________________________ Estado: _______

e-mail: _______________________________________________________________________________________

Instituição (opcional): __________________________________________________________________________

420 Fisioter Pesq. 2008;15(4)


Fisioterapia e Pesquisa Fisioterapia e Pesquisa
em continuação a Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo. Revista do Curso de Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e
Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo -
Fofito/FMUSP
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Reitora SECRETARIA
Profa. Dra. Suely Vilela Sampaio Patrícia Pereira Alfredo
Vice-Reitor
INDEXAÇÃO E NORMALIZAÇÃO BIBLIOGÁFICA
Prof. Dr. Franco Maria Lajolo
Serviço de Biblioteca e Documentação da FMUSP
Faculdade de Medicina e-mail: sbd@biblioteca.fm.usp.br

Diretor EDIÇÃO DE TEXTO, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Prof. Dr. Marcos Boulos Tina Amado, Alba A. G. Cerdeira Rodrigues e Daniel Carvalho
Pixeletra ME
Depto. Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional IMPRESSÃO
Chefe Gráfica UNINOVE
Profa. Dra. Claudia Regina Furquim de Andrade
Tiragem: 800 exemplares
Curso de Fisioterapia
Coordenadora
Profa. Dra. Silvia Maria Amado João

FISIOTERAPIA E PESQUISA
Curso de Fisioterapia
Fofito/FM/USP
R. Cipotânea 51 Cidade Universitária
05360-160 São Paulo SP
e-mail: revfisio@edu.usp.br
Fisioterapia e Pesquisa v.15, n.4, out./dez. 2008 http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php
Telefone: 55 xx 11 3091 8416
Fisioterapia e Pesquisa / (publicação do Curso de Fisioterapia
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) INSTITUIÇÕES COLABORADORAS
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS
v.1, n.1 (1994). – São Paulo, 2005.
v. : il.
Continuação a partir de v.12, n.1, 2005 de Revista de
Fisioterapia da Universidade de São Paulo.
Semestral: 1994-2004
Quadrimestral: a partir do v.12, n.1, 2005
Trimestral: a partir do v.15, n.1, 2008 ASSOCIAÇÃO DE FACULDADE DE MEDICINA
FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL DE RIBEIRÃO PRETO / USP
Sumários em português e inglês
ISSN 1809-2950 APOIO

1. FISIOTERAPIA/periódicos I. Curso de Fisioterapia da Faculdade


de Medicina da Universidade de São Paulo

Filiada à

FACULDADE DE MEDICINA
DA UNIVERSIDADE
DE SÃO PAULO
ISSN: 1809-2950

FISIOTERAPIA e
PESQUISA
REVISTA DE FISIOTERAPIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL

Volume 15 – número 4 Outubro – Dezembro 2008

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