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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS


Alunas: Camila Lacerda, Cibelle Amorim, Hianga Fayssa, Valéria de Siqueira
PSICOLOGIA MÉDICA – Prof.(a) Gilka Paiva

Relação Médico – Paciente na


Urgência e Emergência

INTRODUÇÃO

O atendimento em urgência e emergência é uma forma especial do atendimento


médico onde condutas são instituídas em pequeno intervalo de tempo, sob pena de insucessos
em caso de hesitação. A relação médico-paciente nesta situação sofre uma série de
modificações. Os pacientes muitas vezes não têm a possibilidade de escolher os médicos que
irão lhes atender, medidas invasivas e de risco muitas vezes são mal informadas ao paciente
ou aos familiares, e a carência de local apropriado para a troca de informações confidenciais
dificulta uma melhor aproximação entre ambos. 

A assistência em situações de urgência e emergência exibe vários aspectos desde a


carência de recursos, superlotação destes setores, má remuneração e pouca valorização dos
profissionais, até uma rotina estressante que conduz ao sofrimento pessoal e medo de
exposição a processos. Todos esses fatos tornam cada vez mais impessoais os atendimentos
nas emergências.

Relação médico-paciente na
Urgência e Emergência
Urgência e Emergência são situações clínicas que requerem atendimento médico
imediato, por implicarem risco potencial ou iminente de vida, ou sofrimento intenso. Através
da Resolução CFM 1451/95, o Conselho Federal de Medicina conceituou urgência e
emergência, da forma que se segue:

                                        "Define-se por URGÊNCIA a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou


sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata".
                                        "Define-se por EMERGÊNCIA a constatação médica de condições de agravo à
saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto,
tratamento médico imediato".

O ambiente do Pronto Atendimento é o serviço médico que deve prestar o primeiro


atendimento à maioria das ocorrências médicas, tendo caráter resolutivo para os casos de
menor gravidade – que, na prática, costumam representar um percentual significativo dos
pacientes atendidos - e presteza e eficácia para fazer o encaminhamento dos casos mais
graves ou para um Serviço de Urgência ou de Emergência, ou para internamento hospitalar
para cirurgia eletiva, ou para o atendimento pelo médico especialista indicado para aquele
paciente.

A Emergência Médica é especialidade de vastas proporções e de procedimentos muito


complexos, pelo fato de não se ater ao âmbito exclusivo de um ramo único da medicina, mas
de se constituir da soma de todas as especialidades e de se apresentar sempre diante de
situações ameaçadoras e graves. Sua importância resulta da própria gravidade e da delicadeza
das ocorrências que lhe são confiadas, por isso que a vida dos pacientes a ela submetidos
depende muito da qualidade e da presteza de suas decisões.

Apesar desse processo ocorrer bruscamente e exigir um atendimento rápido, a


confusa movimentação dos circunstantes, a troca constante de profissionais e o caráter
surpreendente do fato tornam a relação médico-paciente muito conflitante. O paciente tem
dificuldade em manter um relacionamento confidencial em um ambiente aberto no qual
médicos, enfermeiras, pacientes, segurança, polícia, socorrista e técnicos em medicina
interagem simultaneamente.

Face à iminência de morte, muitas regras deontológicas (como por exemplo o


consentimento esclarecido do paciente ou de seus familiares) nem sempre são possíveis ou
conciliadas. Mesmo assim, por maior que seja a aflição e a gravidade do caso atendido, jamais
essa forma de atividade médica pode prescindir dos princípios tradicionais da Ética Médica.

Associado a tudo isso, acrescentam-se os problemas ocasionados por um imperfeito


sistema de saúde, que acaba sendo mais bem demonstrado em um setor de emergência,
dificultado pelas más condições de trabalho, de poder dar o atendimento adequado, e
acrescentando a isso, em nosso país, a inadequada remuneração dos profissionais da área da
saúde, fazendo com que o médico busque vários empregos, trabalhe em vários locais.

MÉDICO

O médico de pronto-socorro trabalha em regime de plantões cansativos e geradores


de estresse, muitas vezes em condições materiais distantes do desejável. Normalmente estes
plantões antecedem ou sucedem atividades profissionais em outros locais, aumentando o
desgaste e se expondo à fadiga física e psicológica. É importante ainda destacar a situação das
equipes do pronto-socorro que são equipes composta por vários especialistas, imprescindíveis
para se obter uma noção mais precisa do estado do paciente. Se, por um lado, isto possibilita
uma noção mais precisa do estado do paciente, por outro favorece a diluição da
responsabilidade frente ao doente possibilitando que nenhum dos médicos efetivamente
assuma a condução do caso.

Na emergência, o trabalho é longo, duro, estressante, sem adequado repouso e


alimentação. Os médicos são solicitados a tomar conta e a coordenar o cuidado de muitos
pacientes simultaneamente. Eles têm de estar cientes de suas limitações e capacidades para
dar o melhor cuidado aos seus pacientes e mesmo assim não diminuir sua efetividade pela
fadiga ou frustração.

Os médicos que trabalham na emergência têm muito pouco tempo para ter acesso à
capacidade de raciocínio, ou à competência do paciente em tomar decisões que protejam sua
saúde, e têm que tomar decisões rápidas, sem ter o benefício de poder consultar as comissões
de ética, por exemplo.

Ainda merece destaque a falta de capacitação dos profissionais, pois não há no


ambiente acadêmico formação na área de psicologia médica. Dessa forma, há uma ausência
de capacidade de identificar e tratar problemas relativos a essa área.

PACIENTE
Na circunstância de um atendimento de urgência ou emergência, o paciente se
encontra em um momento de angústia do sofrimento, do adoecer agudamente, a ansiedade e
medo, situação incompreensível para ele e para os familiares e/ou acompanhantes. O medo da
doença tem como conseqüência o sentimento de finitude, a morte iminente, aguda ou lenta.
Surge assim um clima de ansiedade e estresse em todos os envolvidos nesse encontro:
paciente, familiares e profissionais de saúde.

Somado à instabilidade emocional, o paciente se agrava ainda mais pelas condições do


ambiente: hostil, frio e com uma sonoridade peculiar de gemidos, choros, gritos de ordens
técnicas de médicos e enfermeiros, bips de monitores, etc. Este, sentindo-se entregue a um
médico desconhecido, às vezes ríspido, autoritário, emocionalmente frio, apressado, pode
duvidar de sua competência técnica.

Muitas vezes podem estar com o seu estado mental perturbado, quer seja por um
problema psiquiátrico, por uma doença ou até por uma intoxicação. São diversos os agravos
que podem levar um paciente a uma sala de emergência, como doenças do SNC e outros
sistemas, traumas e doenças não traumáticas, doenças hematológicas, oncológicas,
metabólicas, urgências ambientais, doenças infecciosas, urgências toxicológicas distúrbios
neonatais e infantis, entre outros.

O paciente na maioria das vezes é um adulto jovem, vítima de traumatismos ou


doença clínica aguda. Alguns jamais necessitaram de cuidados médicos, outros são portadores
de enfermidade crônica que piora seu estado, ou são pacientes que já realizaram internações
anteriores e conhecem bem um pronto-socorro, porém as sensações e angústias persistem
nesse tipo de atendimento.

RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

O contato inicial do paciente em uma situação de urgência ou emergência geralmente


é efetuado por pessoal do hospital em um balcão de triagem, em uma sala de espera. Algumas
vezes o paciente pode até escolher o seu médico, mas não é o mais comum. O ideal seria que
essa primeira entrevista fosse efetuada por pessoa da área da saúde e, neste caso, uma
enfermeira especializada em atendimento de emergência que na forma de pré-consulta
pudesse levantar os dados básicos, a história, as queixas principais e os dados vitais
fundamentais. Com isso ela poderia, em um julgamento sumário, conceder a prioridade ou
não no atendimento. Nesta pré-consulta se percebe a angústia, a ansiedade, e isto pode ser
também prioritário.

A outra forma de entrada é quando o paciente chega ao serviço trazido por


ambulância, tendo sido atendido na rua, em casa pelo pessoal médico e socorrista do sistema
pré-hospitalar de atendimento, onde o primeiro contato foi efetuado, por exemplo, por um
socorrista bombeiro que foi acionado ou por um atendimento médico em uma central de
emergência. Na urgência esse atendimento rápido no local do acidente transmite uma
tranqüilidade e uma esperança de salvamento. Sendo atendida no local por socorrista, por
médico e transportada adequadamente para o hospital, convenientemente selecionado, inicia
uma relação mais fácil porque esta entrada ao hospital já é direta ao setor médico, uma vez
que já iniciou a fase de pré-consulta. Facilita também a comunicação com o hospital,
preparando para uma situação mais ou menos crítica do paciente.

No hospital, o médico, ao entrar em contato com o paciente, deverá dar o melhor de


sua competência, respeitando a dignidade de seu paciente. Deverá obrigatoriamente
comunicar, se possível, honesta e efetivamente, as decisões que deverá tomar para a proteção
da saúde. O primeiro objetivo, portanto, é dar um caminho para se obterem resultados
semelhantes, e isto existindo, deve-se respeitar o direito de autodeterminação dos pacientes
adultos que tenham capacidade de tomar uma decisão apropriada. O direito do paciente é um
princípio fundamental da nossa sociedade e, nesse sentido, para que ele possa decidir, é
necessário ser adequadamente informado. Por exemplo, em algumas áreas da medicina o
tratamento poderá ser cirúrgico ou conservador, com inconvenientes em ambos os processos.
Em princípio, quando realmente for possível, o médico é obrigado a dar um tempo suficiente
para informar honestamente e respeitosamente as informações para que o paciente possa
entender e avaliar as opções e decidir o que seria o melhor atendendo aos seus interesses. Na
informação deve estar claramente colocado os riscos e os benefícios. O tempo que o médico
dedica a esse ponto em um setor de emergência vai estar necessariamente ligado a obrigação
com os outros pacientes.

Antes do encontro com o profissional médico, o paciente vivencia a dor, ansiedade e o


medo de morrer. O médico precisa conhecer o limite de sua capacidade e ter o controle de sua
“onipotência”. Ele não pode, entretanto, esquecer-se de que está diante de um ser
humano carente de segurança e em dúvida sobre o que lhe vai acontecer. Em situações de
extrema urgência e coma, o paciente está à mercê das decisões médicas. Cabe ao médico
priorizar suas intervenções no sentido de remover qualquer fator que ameace a sobrevida do
paciente, mas também minimizar a insegurança e dúvida do mesmo. Deste modo, são muitas
vezes desconsiderados o medo, a ansiedade e as frustrações do paciente e também do próprio
médico, fazendo com que se produza um contato centrado exclusivamente na existência ou
não de uma lesão orgânica detectável.

Em resumo, as diferenças da relação médico/paciente no consultório e no


atendimento de urgência são:
- impessoalidade, ausência de vínculo e confiança, grande estresse e sensação de
urgência do paciente, estresse dos médicos recém-formados e com sobrecarga de trabalho;
- As dificuldades comuns no atendimento de urgência, como a necessidade de
atendimentos rápidos, a dificuldade em conseguir informações, a falta de privacidade e o
excesso de ruídos;
- A necessidade de um preparo formal e contínuo para a boa relação médico/paciente;
- Outros fatores que interferem na relação médico-paciente: vínculo com o hospital
e/ou corpo clínico; a mídia, excesso de oferta de pronto-atendimentos nos hospitais e má
remuneração, fazendo com que o médico trabalhe em vários locais;
- O modelo gerencial (hospital ou operadora) interfere na relação médico-paciente. Os
protocolos clínicos podem reduzir a interferência da gestão do hospital e operadora na relação
médico-paciente. A superlotação dos pronto-atendimentos deixa o paciente ansioso e
estressado quando encontra o médico.

HUMANIZAÇÃO NO PRONTO-SOCORRO

Atualmente procura-se fazer uma Medicina mais humanizada mesmo frente ao


estresse do plantão de um pronto-socorro, de forma a evitar que pacientes transformam-se
em fichas e médicos em técnicos especializados. O objetivo principal é garantir o atendimento
sem perder o sentido da convivência ética, deixando-se de lado as necessidades fundamentais
do ser humano e a solidariedade para com os semelhantes.

Segundo Balint, o médico atua constantemente como “droga”- benéfica ou maléfica -


para o doente devido ao fato de que todo paciente encontra-se ansioso, e frente ao
atendimento de urgência, o médico deveria agir como “ansiolítico”, agindo com presteza e
calma, ouvindo o indivíduo e seus acompanhantes, transmitindo segurança e controle da
situação. Assim, ele propiciaria um ambiente estável emocionalmente, o que facilitaria seu
próprio fazer médico, e com certeza, traria mais segurança para a vida do paciente.

CONCLUSÃO

As situações de emergência e urgência se caracterizam pela necessidade do paciente


de um atendimento imediato, não podendo haver uma protelação do mesmo. A rotina do
trabalho nestas condições é um fator estressante a mais e as atividades devem ser
criteriosamente planejadas. Não há vínculo prévio, o paciente geralmente não conhece o
médico, e a relação de confiança é estabelecida pela necessidade deste momento. A estrutura
e funcionalidade das emergências devem visar um atendimento rápido e eficaz, tornando-se
um desafio para a equipe médica equilibrar a velocidade e a competência com questões éticas
e legais que permeiam a relação médico-paciente.  

Uma relação médico-paciente, firmada em bases humanitárias, éticas e legais,


favorece o diagnóstico correto e abona uma boa relação interpessoal entre ambos. As
diretrizes do código de ética médica têm um valor fundamental para respaldar os possíveis
conflitos de conduta que surgem na presença de dilemas, como a delegação tácita de poderes
ao médico para fazer o necessário, ao mesmo tempo em que este tem a obrigação de
esclarecer seu paciente sobre os riscos e objetivos das medidas diagnósticas e terapêuticas,
permitindo a ele uma decisão que lhe satisfaça, ressalvado as situações de iminente perigo de
vida. 

BIBLIOGRAFIA

http://www.eppmfacime.xpg.com.br/textos/ASPECTOSETICOS.doc.
http://www.cremec.com.br/pareceres/2001/par1401.htm
http://www.portalmedico.org.br/include/biblioteca_virtual/des_etic/15.htm
ERAZO. Manual de Urgências em Pronto-Socorro. 6ª Edição. Ed. Medsi, 2006. 764p.

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