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UM ENVOLVIMENTO PARENTAL

PARA O CRESCIMENTO

Características de um envolvimento parental (assegurado pelos pais ou seus substitutos)


que responda às necessidades de desenvolvimento da criança e do jovem.

Uma criança precisa que os pais (ou quem exerce as funções parentais):

Cresçam com ela, percebendo e respondendo às suas diferentes necessidades


(físicas, emocionais, sociais) à medida que ela vai crescendo.

Se deixem modificar, que sejam suficientemente flexíveis para permitir que os


ritmos, rotinas e necessidades da criança alterem as suas rotinas de adultos, que se
sincronizem com o tempo de crescimento da criança.

Que individualizem a atenção e os cuidados (diferenciação educativa). Cada criança é


única e tem, como ser único, necessidades específicas e um valor próprio.

Que estejam presentes, modelando gradativamente o binómio presença/ausência,


permitindo a criação de um sentimento de fiabilidade e segurança, previsibilidade,
confiança básica no mundo e um sentimento interno de continuidade de existência,
base do desenvolvimento corporal, emocional e cognitivo.

Que se ofereçam como figuras de vinculação afectiva (necessidade primária de todo


o ser humano), como base fiável e segura.

Que reconheçam as necessidades de dependência da criança (mas também do


adolescente), que não é capaz por si só de solucionar todos os dilemas que o
crescimento coloca.

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Que aceitem e estimulem de igual modo os movimentos de exploração, de
desligamento e de independência da criança e do jovem, permitindo-lhe
experimentar os sentimentos de competência, autonomia e valor.

Que aceitem e ajudem a construir um espaço físico e psíquico próprio, uma


intimidade, sem invasões nem intromissões.

Que protejam dos estímulos e situações externas potencialmente perigosas, numa


idade em que a criança ou jovem não tem ainda recursos pessoais para o fazer.

Que protejam igualmente dos estímulos internos (impulsos), ajudando a criança e o


jovem a conhecer, expressar por palavras, gerir e controlar as suas emoções e a
transformá-las (função alfabetizadora que possa conter e devolver pacificadas e
organizadas as emoções excessivas, que são por vezes descarregadas de forma
caótica ou violenta)

Que se ofereçam como figuras de identificação e aprendizagens várias, como


modelos, pelo que fazem, mais do que pelo que dizem.

Que saibam ler as emoções e os afectos (literacia emocional), as suas próprias e as da


criança ou jovem e dar atenção às formas de comunicação, reconhecendo que a
criança tem, desde o início, uma vida interior e sentimentos e que a forma como com
ela comunicam tem um impacto no seu comportamento.

Que não dependam da criança ou jovem para o seu bem-estar emocional,


permitindo-lhe que possa seguir o seu caminho no mundo, evitando o “peso” da
dívida afectiva.

Que estejam ligados ao mundo, permitindo que o mundo entre, através das relações
de vizinhança e amizade, do trabalho, dos conhecimentos e da cultura, na vida dos
filhos, contribuindo para que estes se sintam “cidadãos” do mundo, local onde, como
sujeitos, são chamados a dar o seu contributo (o contributo da criança e do jovem,
futuro adulto, é para o mundo e não para os pais.)

Que valorizem, nutrindo os filhos com um sentimento de existência e valor como


sujeitos e que confiem (confiança lúcida, não cega), alimentando a responsabilidade
e uma boa expectativa e esperança quanto ao futuro (que futurizem)

Que introduzam o princípio da realidade (limites e regras), com autoridade firme e


sem violência.

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Que saibam ouvir, escutar e negociar o que pode ser negociável, ajudando a criança
e o jovem a sentirem-se pessoas de pleno direito e capazes, eles próprios, de
aprender a negociar nas suas relações sociais e a desenvolverem uma moral
autónoma em que os valores e normas sejam compreendidos e reflectidos.

Que permitam a inscrição numa filiação, raiz de um sentimento de pertença, de


continuidade e sentido para a existência.

Que respeitem a integridade física e psicológica da criança ou jovem, não agindo


sobre eles impulsos sexuais ou agressivos, introduzindo as fronteiras geracionais,
respeitando as diferenças e o valor de cada género (homens e mulheres), permitindo
que os filhos possam conhecer e conviver com modelos de identificação
diferenciados e valorizados, fundamentais para a construção da sua identidade
pessoal e sexual.

Que assegurem uma suficiente tranquilidade e sossego no interior da família para


que a criança possa concentrar-se no seu crescimento, aprendizagens e
relacionamentos sem estar permanentemente angustiada ou preocupada com os
pais e a família e a braços com conflitos de fidelidade.

Que transmitam, na medida do possível, uma imagem positiva de si próprios, do


mundo e do crescimento.

Que para lá das marés, das rupturas e descontinuidades que compõem a existência
de cada indivíduo e da família, a criança possa sentir que não está só, que é amada,
que pode expressar os seus sentimentos e manter os laços.

Adultos que procurem gerir as suas próprias emoções e não utilizem as crianças
como receptáculos ou intermediários.

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