Professional Documents
Culture Documents
1º Semestre 2005/06
1 JF
1. Contabilidade Geral
Activo (A) representa o que a empresa tem, os seus direitos sobre terceiros. As
contas do Activo registam movimentos que afectem directamente o que a empresa
tem ou os seus direitos sobre terceiros. Passivo (P) representa o que a empresa deve,
as suas obrigações para com terceiros. As contas do Passivo registam os factos
patrimoniais que afectam directamente as obrigações da empresa perante terceiros. O
Capital Próprio (CP) representa uma realidade dependente das duas anteriores, isto
é, representa a diferença entre o que a empresa tem (e os seus direitos sobre terceiros)
1º Semestre 2005/06
2 JF
e aquilo que a empresa deve (as obrigações para com terceiros). Assim sendo, tem-se
sempre que CP = A - P, ou que A = CP + P. Esta equação tem que estar sempre
equilibrada, pelo que cada transacção tem que ser sempre registada em mais do que
uma conta, único modo de garantir a homogeneidade da referida equação. Por
exemplo, uma transacção pode implicar o acréscimo de uma conta do Activo, mas,
esse será apenas um dos movimentos a registar. De facto, para que a transacção seja
completamente registada, implica que se proceda também a um movimento de
decréscimo de outra conta do Activo, ou que se acresça uma conta do Capital Próprio
ou do Passivo, em qualquer dos casos em iguais valores, garantindo a referida
homogeneidade. Isto é, uma das seguintes quatro situações tem de ocorrer caso se
movimentem apenas duas contas, se bem que possa haver, e há normalmente,
situações nas quais uma transacção se regista por movimentos em mais do que duas
contas, como se vê na Figura 2:
Balanço em XX/XX/XX
A CP + P
H1 +X +X
H2 +X (X)
H3 (X) (X)
H4 +X (X)
Ora, se cada registo de uma transacção tem necessariamente que cumprir a referida
equação, implica que o registo de todas as transacções de um período de actividade
tem necessariamente que cumprir, no seu conjunto, em termos do somatório dos
saldos finais de cada conta movimentada, a referida equação. Assim, o somatório dos
saldos de final de exercício das contas do Activo tem sempre que ser igual ao
somatório dos saldos finais das contas do Capital Próprio + o somatório dos saldos
finais das contas do Passivo.
1º Semestre 2005/06
3 JF
A Demonstração de Resultados é um documento contabilístico que pretende
retratar os Proveitos e Custos de um período de exercício. Ao somatório da
facturação do período, isto é, ao valor total das vendas do período, e de outros
eventuais proveitos, relativos ao mesmo período, subtraem-se todos os custos
imputáveis ao mesmo período. Assim, o saldo final desta aritmética contabilística é o
Resultado Líquido do Exercício, no caso de se terem também deduzido os custos
com os impostos. Haverá, nesta aritmética, saldos intermédios que são resultado da
subtracção de determinados custos a determinados proveitos, pelo que,
intercaladamente, se obtêm por exemplo o Resultado Bruto, ou Margem Bruta de
Exploração (Vendas menos custos dos produtos vendidos) e o Resultado
Operacional. Normalmente os custos operacionais incluem os CPV - custo dos
produtos vendidos, FSE - fornecimentos ou serviços externos, DP - despesas com
pessoal, e Am - amortizações. Para além dos custos operacionais há ainda os custos
financeiros e os impostos. As contas de custos e proveitos são contas transitórias que
no fim de cada exercício são saldadas (faz-se o reset):
Como exemplo de uma das ferramentas simples que o gestor pode usar para perceber
a elaboração de um Balanço e de uma Demonstração de Resultados, ambos
documentos oficiais e normalizados, tem-se o Mapa de Registo de Transacções
(MRT). Este quadro, sob a forma de tabela, representa uma ferramenta simples,
intuitiva, que permite “desmontar” o que está para além do registo efectuado nos
documentos oficiais referidos.
1º Semestre 2005/06
4 JF
Balanço 31-12-2003 Demonstração de Resultados 2003
ACTIVO Capital Próprio Vendas 120.000
Capital 30.000 (90.000)
Custo das Mercadorias
Imobilizado 60.000 Resultados 500
Vendidas
Transitados Resultado Bruto 30.000
Amortizações (18.000) Resultado Liquido 6.500 (5.070)
Custo das Vendas
Acum. Custos Administrativos (6.500)
37.000 Amortizações (6.000)
Existências 20.500 PASSIVO Encargos Financeiros (2.430)
Clientes 16.000 Empréstimo Longo 27.000 10.000
Resultado Antes de
Prazo Imposto
Disponibilidades 3.500 Empréstimo Curto 10.800 (3.500)
Imposto
Prazo Resultado Liquido 6.500
Fornecedores 7.200
45.000
Total 82.000 Total 82.000
Amortizações
Amortizações, reintegrações e provisões são contas de regularização do activo, que
permitem efectuar correcções contabilísticas de modo a manter a fiabilidade do
património da empresa. A amortização é uma conta que regista a perda de valor
(depreciação) de um bem do imobilizado. Se o bem é corpóreo devia referir-se como
reintegração e se o bem é incorpóreo, amortização. As provisões são contas que
registam valores estimados para fazer face a factos incertos (depreciação de
existências, cobranças duvidosas, impostos) que afectem o património da empresa.
1º Semestre 2005/06
5 JF
Acréscimos e diferimentos
Tratam-se de contas onde se registam obrigações decorrentes de factos que só se
completam em exercícios seguintes.
Resultados transitados
Conta na qual se acumulam resultados que transitam de exercícios anteriores.
1. Uma empresa comercial de produtos químicos iniciou a sua actividade no dia 1 de Março.
Nesse mesmo mês ocorreram os seguintes factos patrimoniais (transacções):
1. constituição da empresa, com uma participação de 1000 cs de cada um dos seus oito
accionistas;
2. compra de mercadoria, a pronto pagamento, no valor de 5000 c.;
3. compra de mercadoria, a crédito, no valor de 1000 c.;
4. venda de mercadoria pelo valor de 8000 contos, recebendo 2000 c. a pronto pagamento,
e ficando os restantes 6000 c. a crédito. O custo da mercadoria vendida foi de 3500 c.
5. recebimento de clientes no montante de 1200 c.;
6. pagamento de dívidas a fornecedores no montante de 600 c.;
7. aquisição de equipamento, no início do mês, por 2100 c. A vida útil desse equipamento é
de 21 meses, ao fim dos quais não tem valor de mercado. As amortizações são calculadas
linearmente. O equipamento foi pago com 500 c. a pronto, ficando o restante a crédito;
8. pagamento de rendas, no início do mês, (três meses em adiantado), no valor de 300 c. por
mês;
9. pagamento de encargos com manutenção, limpeza, electricidade, segurança no montante
de 800 c.;
10. pagamento de salários no valor de 3200 c.;
11. são reconhecidas, no final de cada mês, as amortizações referentes a esse período;
12. são reconhecidas, no final de cada mês, as rendas referentes a esse período.
Elabore o Mapa de Registo destas Transacções e, a partir dele, determine o Balanço no fim
do mês de Março, e a Demonstração de Resultados referentes ao mês de Março.
1º Semestre 2005/06
6 JF
Demonstração
de Resultados
R1.
T Imob Am(Ac) Exist Client Disp. PD Cap RL FI Fcc
1 8000 8000
2 5000 (5000)
3 1000 1000
4 (3500) 6000 2000 4500
5 (1200) 1200
6 (600) (600)
7 2100 (500) 1600
8 (900) 900
9 (800) (800)
10 (3200) (3200)
11 (100) (100)
12 (300) (300)
Balanço
∑ 2100 (100) 2500 4800 200 600 8000 100 1600 400
1º Semestre 2005/06
7 JF
11. São reconhecidas as amortizações do exercício no valor de 10% do imobilizado bruto.
R2.
T Imob Am(Ac) Exist Clientes Disp. Cap RT RL Flp Fcc EB
0 50000 (5000) 15000 20000 5000 30000 3000 0 25000 17000 10000
1 (12000) 24000 12000
2 5000 (5000)
3 (7000) 11000 4000
4 (15000) 15000
5 (3000) (3000)
6 (12000) (12000)
7 (4200) (4200)
8 (1200) (1200)
9 (2250) (2250)
10 (2500) (2500)
11 (5000) (5000)
∑ 50000 (10000) 1000 5000 24850 30000 3000 3350 22000 5000 7500
70850 70850
Distribuição de Resultados
O PMR pode-nos dar uma ideia do crédito sobre terceiros (Clientes), isto é, facilitar
uma estimativa sobre o saldo da conta Dívida de Terceiros (Clientes), no final do
exercício em curso [PMR = Clientes/Vendas * 12]. Por seu lado o PMP pode-nos dar
uma ideia sobre a nossa dívida a terceiros (Fornecedores), permitindo uma estimativa
sobre o saldo da conta Dívida a Terceiros (Fornecedores conta corrente), no final do
1º Semestre 2005/06
8 JF
exercício [PMP = Fornecedores/Compras * 12]. Ambos os indicadores têm que ser
avaliados comedidamente, com alguma parcimónia e cautela, nunca se lhes exigindo
nem grande rigor, nem precisão. De facto estes indicadores só podem ser tratados
como meros indicadores de comportamento genérico pois a sua própria razão de ser
assenta em pressupostos teóricos, de difícil cumprimento em termos práticos.
O PMR, por exemplo, assenta no pressuposto de que o ritmo de compras dos clientes
da empresa é linear e uniforme ao longo do período de exercício. Também o ritmo de
pagamento dos clientes, isto é, o ritmo de subtracção na conta de Clientes, é suposto
uniforme ao longo do período. Como facilmente se depreende este pressuposto é
simplista e utópico pois as compras tendem a seguir padrões de comportamento cuja
variação é, na maioria das vezes, imprevisível. A análise dos padrões de compra é,
em si, uma disciplina da gestão.
Também o PMP padece do mesmo tipo de simplismo. Aqui supõe-se que o ritmo de
compras da empresa aos seus fornecedores, assim como o ritmo de eliminação da
dívida da empresa para com estes terceiros, é uniforme. Ora, se a procura é não
linear, as compras da empresa aos seus fornecedores também não pode ser linear,
nem uniformemente distribuída ao longo do período de exercício.
Assim, chegamos ao aspecto que queríamos sublinhar. Estes indicadores não de
devem desprezar, pois podem ser úteis numa análise algo ligeira, mas também não
devem ser levados demasiado a sério. O mesmo se passa com outros indicadores a
que nos vamos referir em seguida.
1º Semestre 2005/06
9 JF
PASSIVO DE FINANCIAMENTO
PASSIVO DE FUNCIONAMENTO
Balanço em XX/XX/XX
- A CP -
E
L Activo Imobilizado X
I
I
P G
Q Passivo Exigível de I
U M/L Prazo B
I Activo Circulante I
D L
E Passivo Exigível de C I
Z Prazo D
A
D
+ E
+
“Nenhum activo deve ser financiado por um meio cujo prazo de exigibilidade seja
inferior ao seu respectivo grau de liquidez (do activo).”
De facto, é de puro bom senso entender que, como negócio, não devemos comprar,
por exemplo copos, para depois revender, obrigando-nos perante o nosso fornecedor
a um prazo de pagamento inferior ao que depois damos aos nossos clientes para nos
pagarem a nós! O normal, e proveitoso, é justamente o contrário, comprar com um
prazo de pagamento que nos permita vender e receber o pagamento dos bens
comprados de modo que se possam pagar justamente com o fruto da sua venda.
1º Semestre 2005/06
10 JF
Se bem repararmos, o que a regra nos diz, em termos da estrutura do Balanço, é que
o Activo Circulante deverá ser sempre superior ao Passivo de Funcionamento.
O que implica que seja boa prática manter o FUNDO DE MANEIO positivo! Daqui
decorrem alguns considerandos sobre a LIQUIDEZ, a SOLVABILIDADE e a
RENDIBILIDADE FINANCEIRA da empresa, que, por sua vez, nos levam a
adoptar alguns ratios para referenciação rápida.
A bem dizer, com este raciocínio básico, de mero bom senso, seríamos capazes de
inventar agora alguns indicadores úteis, isto é, alguns ratios. Os que vamos referir,
porém, são os mais normalmente adoptados e aqueles sobre os quais se teorizou.
Veja-se, por exemplo, que a Liquidez de uma empresa pode ser boa, mas a sua
Solvabilidade traduzir uma situação de risco, e vice-versa, uma empresa pode
1º Semestre 2005/06
11 JF
apresentar uma má Liquidez, mas uma Solvabilidade reconfortante. Exemplo do
Airbus - em perfeito equilíbrio e controlo, em plena rota de colisão.
Liquidez
Disponibilidades
Imediata =
Passivo _ de_ Curto _ prazo
Solvabilidade
Activo
Solvabilidade Total =
Passivo
Capitais_ Pr oprios
Autonomia dos Capitais Próprios =
Capitais_ Alheios
Capitais_ Pr oprios
Autonomia Financeira =
Activo
Capitais _ Permanentes
Cobertura do Imobilizado =
Im obilizado _ Liquido
Rendibilidade
Re sultado _ Liquido
do Investimento Total = (*)
Activo
1º Semestre 2005/06
12 JF
Re sultado _ Liquido
do Capital Próprio = (*)
Capital _ Pr oprio
Re sultado _ Liquido
das Vendas = (*)
Vendas
Vendas
Rotação dos stocks = (para o nível de vendas quantas vezes se renovaram os stocks)
Existencias
Vendas
Rotação de Clientes = (nível de superação da dívida de clientes pelas vendas)
Clientes
Compras
Rotação de Fornecedores = (quantas vezes as nossas compras superam a
Fornecedores
dívida a fornecedores)
1º Semestre 2005/06
13 JF
Prazo Médio de Pagamentos
Indicador do prazo médio dos nossos pagamentos a terceiros. Pressupõe compras
uniformes ao longo do exercício.
Fornecedores
PMP = x 12, dá-nos o prazo médio de pagamentos em meses
Compras
Fornecedores
PMP = x 365, dá-nos o prazo médio de pagamentos em dias
Compras
Liquidez
Capacidade de fazer face aos compromissos e encargos de curto prazo. Grau de
Liquidez - facilidade da conversão do bem em dinheiro, sem afectar o normal
funcionamento da empresa.
Se Liquidez Geral <1, o Fundo de Maneio é negativo, pelo que pode indiciar
dificuldades de tesouraria.
Se Liquidez Geral = 1, o Fundo de Maneio é nulo, logo todos os capitais circulantes
são financiados pelo Passivo de Curto Prazo, isto é, pelo Passivo de Funcionamento,
situação que pode ser excessiva.
Se Liquidez Geral > 1, o Fundo de Maneio é positivo, e a situação apenas deverá ser
controlada para não haver excesso de liquidez, o que representaria liquidez
disponível e não aplicada.
Um valor próximo de um, ligeiramente superior, será o ideal.
Uma Liquidez Reduzida em redor de 1, ou ligeiramente superior ou inferior, será o
ideal.
Na Liquidez Imediata estão-se a comparar meios de pagamento já líquidos com
responsabilidades que só parcialmente podem ser imediatamente exigíveis, pelo que
será conveniente um valor razoavelmente inferior a 1. Um valor próximo de 1 é aqui
claramente exagerado.
Solvabilidade
Capacidade de fazer face aos compromissos e encargos de médio e longo prazo, isto
é, até que ponto a empresa se financiou com capitais próprios ou alheios, dando-nos
uma ideia do risco de insolvência a médio/longo prazo.
1º Semestre 2005/06
14 JF
Se a Autonomia do Capitais Próprios é >= 1/2, há independência da empresa face aos
seus credores.
Rendibilidade
A rendibilidade do investimento total e a do capital próprio dão-nos taxas de
remuneração dos capitais de que a empresa dispôs, isto é, respectivamente, a
rendibilidade líquida de todo os bens do activo, e a remuneração dos capitais
próprios.
A rendibilidade do investimento total só tem sentido como indicador de curto prazo,
nos outros casos é um indicador que pode ser artificialmente melhorado à custa da
depreciação dos activos (envelhecimento do equipamento, falta de modernização, ...)
A rendibilidade das vendas dá-nos uma ideia de quanto a empresa ganha por unidade
monetária de venda, é uma espécie de margem de lucro.
Por outro lado, e porque evocamos alguns destes termos, convém aqui referir a
diferença entre rigor e precisão e, num outro contexto, entre eficiência e eficácia.
Por exemplo, não será eficiente ter uma carreira de autocarro às três da manhã entre o
Campo Grande e a Amadora, mas pode ser que seja eficaz, na medida em que se
verifique haver sempre ocupação da mesma, isto é que se verifique esta carreira
representa uma necessidade social.
2. Contabilidade de Gestão
1º Semestre 2005/06
15 JF
2.1 Custo / Volume (Ponto Crítico)
A estrutura de custos pode ser apresentada de diversas maneiras (DR por funções e
por natureza). Diremos agora que os custos se classificam e esta classificação não é
completamente indiscutível. Desde logo os dois grandes tipos de custos, variáveis e
fixos, têm alguma margem para interpretação.
Para melhor definir a distinção entre custos Fixos e Variáveis situamo-nos numa
óptica da empresa no seu todo. Neste contexto, os Custos Variáveis (CV) são aqueles
que (ao nível da empresa no seu todo) variam consoante o nível de actividade
(produção, vendas, quantidades, …), e Custos Fixos (CF) serão aqueles que se
mantêm constantes independentemente do nível da actividade. Isto é, CV são aqueles
custos que se relacionam, ou mais razoavelmente se podem relacionar, com a
actividade da empresa, enquanto que CF representam os outros custos, que mais
razoavelmente se podem entender como independentes do nível de actividade da
empresa. Vejamos, por exemplo, o consumo de energia eléctrica da sede de uma
empresa de produção. Este custo é um CF, embora a conta de energia varie de mês
para mês. Os CF resultam muitas vezes de contratos estabelecidos, pelo que são
custos nos quais se incorre mesmo que não haja “actividade” na empresa (quando
não haja nem produção nem vendas). No entanto, e desde já se aproveita para
clarificar este aspecto, aquilo que se passa em termos da empresa no seu todo
“inverte-se” quando se projecta para o nível unitário (custos e receitas imputadas a
cada produto). Repare-se no que se passa, em termos de representação gráfica:
$ CT
CV
CF CF
$/Q
1º Semestre 2005/06
16 JF
CV CV
CF
Q
Custos Fixos e Variáveis unitários
De facto, numa análise com base unitária, o que é fixo (e constante para um
determinado patamar de actividade e num determinado intervalo de tempo) é o custo
“variável” de cada unidade. Já os custos fixos da empresa ao distribuírem-se por mais
ou menos unidades, resultarão num custo “fixo” unitário que decresce com o nível da
actividade (tendendo para zero para um nível de actividade infinito).
Entendendo por margem de contribuição unitária (mcu) a parcela de receita com que
cada unidade (de produto) contribui para o “bolo” da empresa (primeiro para cobrir
os custos e, a partir de certa quantidade, para gerar lucro), por preço de venda
unitário (pu) o preço de venda de cada unidade e por custo variável unitário (cvu) a
quantia constante e fixa que apurámos como custo de cada unidade que vendemos
(para os ditos níveis de actividade e intervalos temporal) tem-se que:
mcu = pu - cvu
Assim, a Margem de Contribuição da Empresa (MCE) será obtida pelo conjunto das
mcu para o nível de actividade conseguido, isto é:
Receitas = pu x Q
pelo que, no ponto crítico (break even) se têm receitas totais iguais a custos totais.
Assim, no ponto crítico, receita crítica (R*) é igual a custo total crítico (C*), isto é,
R* = C*, pois não há lucro, e tem-se então:
1º Semestre 2005/06
17 JF
pu x Q* = CF + cvu x Q* Î Q* = CF / mcu
R* = pu x Q* = CF / (mcu/pvu)
CF / (mcu x Q / pu x Q) =
= CF / (MCE / Vendas)
Por outro lado, como modelo que é, só resulta eficaz se: os pressupostos (tendências,
consumos, vendas, preços, …) forem bem estimados (o que exige conhecimento do
mercado e experiência, logo maturidade por parte de quem estima); se o intervalo de
tempo considerado não for tão grande que haja alterações significativas nalgumas das
variáveis, havendo perda de homogeneidade nas relações usadas; e se o “patamar”
de actividade for tal que não haja também alterações significativas (economias de
escala, de sinergias, …)
Vimos os problemas relacionados com os custos, mas também a utilidade e
potencialidade que, para um gestor, pode representer a utilização de modelos. Isto é,
a utilização de modelos como ferramentas de gestão tem grandes potencialidades. E
lembrem-se que os modelos e as ferramentas de gestão podem ser muito simples
(check list). Na modelação deve simplificar-se a realidade para níveis em que o
modelo continue a dar-nos informação relevante sobre essa mesma realidade. Nunca
se poderá ser simplista, pois nesse caso o modelo deixa de traduzir a realidade de
forma relevante, perdendo eficácia e tornando-se inútil ou mesmo perigoso
(estimativas com alguma precisão, mas sem qualquer rigor).
1º Semestre 2005/06
18 JF
pessoa) e da venda de bebidas no bar (cerveja 150 escudos e refrigerantes 100
escudos, por garrafa). A organização da festa conseguiu que as bebidas sejam
fornecidas à consignação, custando 60 escudos cada cerveja e 40 escudos cada
refrigerante. Dada a experiência com as duas festas anteriores, a organização
estima que o consumo médio por pessoa deve rondar 1,5 cervejas e 2 refrigerantes.
R3.
Custos fixos , Total = 35000 Esc
Limpeza - 10000 Esc
Musica - 25000 Esc
Admitindo igual consumo para as pessoas que chegam antes e depois da 1:00h.
1º Semestre 2005/06
19 JF
LL = mcu* Q - CF ; LL >= 100000 Esc, Q = ?
655 * Q - 35000 >= 100000; Q >= 207 pessoas; R = pu* Q =825 * 207 =
170775 Esc
Graficamente:
Esc
170775 R
100000
CF + CV = CF + cvu * Q
44550
CF = 35000
54 207 Q
Para 100000 esc de lucro são necessárias 1.44 * 207 = 299 pessoas
4. Uma barbearia, em Lisboa, tem cinco empregados. Cada barbeiro tem um salário
de 600$00 por hora e trabalha 40 horas por semana, 50 semanas por ano. Os gastos
correntes da barbearia são de 500 c. por ano e as amortizações do equipamento são
de 1.000 c. por ano. A renda paga mensalmente pelo aluguer do espaço ocupado
pela barbearia é de 500 c. por mês.
1º Semestre 2005/06
20 JF
c) Qual será o lucro, se se fizerem 30.000 cortes por ano?
d) Supondo que o senhorio decide alterar a renda mensal da barbearia para 100 c.
por mês, acrescido com 10% do preço recebido por cada corte de cabelo, qual é a
nova margem de contribuição, e qual o novo ponto crítico de vendas (anual)?
e) Voltando à situação inicial, e supondo que os empregados deixam de ser pagos à
hora e começam a receber uma comissão de 50% por cada corte efectuado, qual
é a nova margem de contribuição, por corte, e o novo ponto crítico de vendas
(anual)?
f) Ainda com os dados referidos em e), qual o lucro, se forem prestados 20.000
cortes por ano?
R4.
Custo fixos anuais: 13 500 contos
1º Semestre 2005/06
21 JF
mcu1 = 500 - 50 = 450 esc/ corte
e) situação inicial, mas agora com empregados a receberem 50% por corte
mcu2 = ? Qc2 = ?
1º Semestre 2005/06
22 JF
2.2 Custos numa óptica industrial
Uma empresa industrial produz os bens que vende, pelo que tem, desde logo, uma
estrutura de existências mais complexa. Numa empresa industrial há existências de
material directo (matérias primas e componentes), de produtos acabados e de
produtos em vias de fabrico (isto é, já semi-transformados). Também a estrutura de
custos pretende alocar os custos de uma forma mais detalhada, recolhendo
informação a níveis mais exigentes.
Cabe aqui referir que a noção de custo, em si, não existe. Um custo só ganha sentido
num contexto. Por exemplo no contexto do seu comportamento em relação aos níveis
de actividade, os custos podem ser fixos ou variáveis, como vimos.
Como exemplo, indicamos na matriz que se segue alguns custos e definimos uma sua
possível classificação em termos de comportamento (fixos e variáveis) e em termos
do seu objecto de produção:
Directos Indirectos
- matéria prima; - energia de uma linha de
Variáveis - energia de uma linha de montagem de + de 1 produto
montagem de 1 só produto
- salário de um supervisor de - salário de um supervisor de
Fixos produção numa linha de produção numa linha de
montagem de 1 só produto montagem de + de 1 produto
1º Semestre 2005/06
23 JF
Neste contexto, a classificação de certos custos pode não ser categórica. Até porque a
alocação de um custo para além de determinados níveis de rigor pode ficar mais cara
(exigir uma maior recolha e tratamento de informação) do que o benefício que se
obtém com a sua alocação. De facto também neste aspecto se exige bom senso. É
precisos saber parar e saber ter alguma tolerância.
Por exemplo, numa fábrica muito automatizada, com robots, a mão de obra directa
pode representar uma parcela tão ínfima no contexto dos custos directos de produção
que a sua alocação como custo indirecto de produção se afigure mais razoável.
1º Semestre 2005/06
24 JF
Repare-se que já nos referimos a uma identidade interessante ao nível do
comportamento das existências:
“Entradas” “Saídas”
Ei Ef
|______________|
Tem-se sempre “o que existe mais o que entra, é igual ao que se pode utilizar, ou que
sai, mais o que fica”, isto é:
Do mesmo modo, para uma empresa industrial, atendendo à sua estrutura de custos
e ao modelo representado em (2), se tem uma dedução em cascata de expressões,
começando pela expressão que é equivalente a (3) (mas para uma empresa
industrial):
1º Semestre 2005/06
25 JF
Veja-se também que atendendo à estrutura da DR em (1), se tem também um modo
alternativo para, através de outras informações se calcular os Custos Produção dos
Produtos Vendidos:
Tudo expressões que se usam para resolver situações do tipo das expostas nos
problemas que se seguem 3, 4 e 5.
5. Uma empresa industrial foi criada em 21.12.94 com um Capital de 80.000 contos
totalmente realizados.
Um acordo com um banco permitia-lhe o acesso a um empréstimo à taxa de juro de
20%. O empréstimo, a tomar no dia 1 de Janeiro de 1995, seria fixo durante todo o
ano e múltiplo de 1.000 contos. Os juros seriam pagos em 31 de Dezembro de 1995.
O montante máximo do empréstimo era de 25.000 contos para 1995, valor a
renegociar para cada ano durante o mês de Dezembro do ano anterior.
Durante 1995 a empresa propunha-se produzir e comercializar um único artigo,
sendo as seguintes as suas previsões:
• Aquisição no início do ano, de equipamentos por 50.000 contos a pronto
pagamento.
• Deste valor, 75% referem-se a equipamento produtivo, os restantes 25% a
equipamento administrativo. Ficará assim com capacidade de produção anual de
25.000 unidades. Amortização linear à taxa anual de 20%.
• Venda de 12.000 unidades ao preço unitário de 10.000$00.
• Custos Indirectos de produção fixos, excluídas amortizações, de 32.500 contos.
• Custos variáveis de produção por unidade:
• Material directo • 1.200 $00
• Mão de Obra • 1.750 $00
directa
• Custos Indirectos • 1.050 $00
var
• Custos Administrativos e de Vendas fixos, excluídas amortizações, de 17.500
contos.
1º Semestre 2005/06
26 JF
• Custos variáveis de vendas: 1.000$00 por unidade.
• Prazo médio de recebimentos: 60 dias.
• Prazo médio de pagamentos de material directo: 30 dias.
• pagamento a pronto de todas as restantes despesas.
A empresa pretende dispor no final do ano de 3.000 unidades para venda e material
directo suficiente para produzir outras 3.000 unidades. Não se prevê a existência de
produtos em vias de fabrico no final do ano. A empresa usa o sistema de custeio total
(custeio fixo) e pretende obviamente reduzir ao mínimo indispensável os seus
encargos financeiros. As disponibilidades no final do ano não deverão ser inferiores
a 10% do volume de vendas do ano. Sobre eventuais lucros pagará impostos à taxa
de 50%
a) Faça os cálculos previsionais para 1995:
(A1)- do Orçamento de Vendas; (A2)- do Orçamento de Compras;
b) Calcule o Resultado Operacional Previsional. Apresente-o sob a forma de uma
Demonstração de Resultados.
c) Calcule o valor do empréstimo a contrair e apresente o Balanço previsional em
31.12.95 e o Resultado Líquido Previsional para o ano de 1995.
R5.
a1) Orçamento de Vendas
Vendas = 12.000 x 10 c = 120.000 c
a2) Orçamento de Compras (compras de MP)
Compras de MP = Consumo de MP + Ef (MP) - Ei (MP)
b) Resultados e DR
DR Cálculo de CPPV:
CPPV= CPPA + Ei (PA) - Ef (PA)
Vendas ___________ 120.000 CPPA= CPPeríodo + Ei (PVF) - Ef (PVF)
CPPV ___________ 80.000 CPPeríodo = Cons. MP + MOD + GGF
_______________________ = 18.000 + 1,75 * 15.000 +
1º Semestre 2005/06
27 JF
Res. Bruto _________ 40.000 + 1,05 * 15.000 + 32,500 + 7.500 =
Custos Adm e (17.500) = 18.000 + 26.250 + 15.750 + 32.500 + 7.500 =
Vendas __________ (12.000) = 100.000
Amortizações_______ ( 2.500) =====> CPPA = 100.000 (Ei e Ef PVF =0)
_______________________ =====> CPPV = 100.000 + 0 - 3.000*
(100.000/15.000)
Res. Operacional ____ 8.000 = 80.000
Encargos Fin. ______ E*0,2
______________________________
R.Antes Impostos ___ 8.000 - E*0,2
Impostos __________ 4.000 - E*0,1
______________________________
Res. Líquido _______ 4.000 - E*0,1
1º Semestre 2005/06
28 JF
Acaba-se a sublinhar que se utilizou o custeio total (ou fixo) e quais as diferenças
entre custeio total (ou fixo) e custeio variável, servindo-nos do diagrama que se
segue (*).
Custeio Total
Custos do Periodo Imputáveis ao Produto Custos do Período Custo do Período não
imputáveis ao Produto
Mat. Directos
Produtos
Mão de Obra Directa CPV
em vias Produtos
DR C. Administ.. e Vendas
de Acabados
C. Indirectos Variaveis fabrico
C. Indirectos Fixos
Custeio Variável
Custos do Periodo Imputáveis ao Produto Custos do Período Custo do Período não
imputáveis ao Produto
Mat. Directos
C. Indirectos Fixos
Produtos
Mão de Obra Directa CPV
em vias Produtos
DR
de Acabados
C. Indirectos Variaveis fabrico
C. Administ.. e Vendas
6. Classifique os custos que se seguem, supondo que dizem respeito a uma empresa
industrial, dentro de cada uma das categorias a), b), c), d), e), f), ou g).
1 - Materiais;
2 - Ordenado dos supervisores de controlo de produção;
3 - Ordenado dos supervisores do departamento de planeamento;
4 - Custos da festa anual da empresa;
5 - Horas extra dos operários da montagem;
6 - Fretes de expedição;
7 - Energia das máquinas da fábrica;
8 - Energia eléctrica dos escritórios;
9 - Comissões de vendedores;
10 - Amortização das máquinas da fábrica;
11 - Amortização dos automóveis dos administradores;
1º Semestre 2005/06
29 JF
12 - Seguros dos operários fabris.
a) Custo variável;
b) Custo fixo;
c) Custo de Vendas;
d) Custo Administrativo;
e) Custo indirecto de produção;
f) Custo directo de produção;
g) Outros custos.
R6.
1 – materiais directos a), f);
– materiais de escritório b), d)
2 – b), e ou f;
3 – b), d);
4 – b), g);
5 – a), f);
6 – a ou b, c);
7 – a ou b, e ou f;
8 – b), d);
9 – a), c);
10 – b), e ou f (consoante o tipo de custeio);
11 – b), d);
12 –a ou b, e ou f.
7. Uma empresa industrial iniciou a sua actividade em 1.1.2002, data em que foi
constituída, com um Capital de 100.000 contos, totalmente realizado.
• adquiriu instalações fabris por 60.000 contos. Destes, 30.000 foram pagos em
2002 e os restantes serão pagos em 2003. A taxa de amortização aplicável é de
20%;
• produziu 200.000 unidades do artigo X, das quais vendeu 150.000 ao preço
unitário de 500$00. Para essa produção gastou (em milhares de contos):
material directo 20
mão-de-obra directa 30
custos indirectos fixos 20
custos indirectos variáveis 10
• os custos administrativos e de vendas representaram, em termos de custos fixos,
5.000 c. e, em termos de custos variáveis, 50$00 por unidade vendida.
1º Semestre 2005/06
30 JF
Sabendo que em 31.12.2002 não havia produtos em curso de fabrico, que,
exceptuando o material directo e as instalações, todas as restantes despesas foram
pagas durante o ano, que o material directo foi adquirido uniformemente ao longo
do ano, com pagamento a 60 dias, que o prazo médio de cobrança da empresa é de
30 dias, que sobre eventuais lucros a empresa pagará, em Junho de 2003, impostos
à taxa de 50% e, finalmente, que a empresa usa o sistema de custeio total:
R7.
a) Custeio Total Imob. Amort. Existências Clientes Disponib Capital RLE Forn.Im Forn.c/c
. o.
MD PVF PA
1 Criação empresa 100.000 100.000
2 Compra Imob 60.000 (30.000) 30.000
3 Amortizações (12.000) (12.000)
4 C. Adm e Vendas (12.500) (12.500)
5 Compra MD (1) 20.000 (16.667) 3.333
6 PVF (Consumo MP) (20.000) 20.000
7 PA (Consumo PVF) (20.000) 20.000
8 Produção PA 60.000 (60.000)
9 Venda (60.000) 6.250 68.750 15000
∑ Total 60.000 (12.000) 0 0 20.000 6.250 49.583 100.000 (9.500) 30.000 3.333
(1) - Assume-se que Ef(MP) = 0, pelo que Compras de MP = Consumo de MP + Ef (MP) - Ei (MP)
1º Semestre 2005/06
31 JF
Sublinha-se o facto de os diferentes custeios só afectarem as contas de existências e
o RLE. Não podem afectar mais nenhuma conta, pois não implicam diferentes fluxos
de disponibilidades, mas sim, e tão só, diferentes alocações dos custos. As
existências são afectadas, pois há uma diferente valorização dos PVF e dos PA.
Juros Compostos
1º Semestre 2005/06
32 JF
VAL - Valor Actualizado Líquido (Net Present Value)
C1 C2 Cn
VAL = C0 + 1
+ 2
+ .... + n
(1+ r) (1+ r) (1+ r)
com r, taxa de custo do capital, ou custo de oportunidade (rendimento do melhor
projecto alternativo). Em termos práticos, a estimativa ou definição de um valor para
a taxa r representa uma das mais aliciantes tomadas de decisão neste modelo do
VAL. De facto em r devem estar consideradas todas as componentes efectivas, como
inflação, risco do negócio, etc.
O Critério do VAL indica que o projecto é de aceitar, e como tal deve ser
implementado, se apresentar um VAL positivo. Em caso de projectos alternativos,
será de investir no projecto que apresentar um maior VAL.
Cj
∑ (1 + r )
n
VA = 1 j
, pura actualização dos cash-flow das receitas líquidas.
Cj
∑ (1 + r )
n
VAL = -C0 + 1 j
, actualização dos cash-flow das receitas líquidas,
confrontadas com o investimento inicial.
TIR - Taxa Interna de Rendibilidade (Internal Rate of Return)
1º Semestre 2005/06
33 JF
TIR é o valor da taxa de rendibilidade para a qual o VAL é nulo.
O Critério da TIR indica que o projecto é tanto melhor quanto maior for a sua TIR.
Para se aceitar o projecto, a TIR deve ser superior à do projecto alternativo.
1º Semestre 2005/06
34 JF
seria de preferir o projecto B. Mais ainda se nota que, pelo critério do VAL, com
taxas de c.o. entre 0 e 13% se preferiria o projecto A, taxas de c.o. entre 13 e cerca
de 18% se preferiria o projecto B, altura em que o projecto A deixa de ser viável, e
mantendo-se viável o investimento em B até valores de r até 20% :
50
40
A
B
30
VALs
20
10 A B
0
10% 13% 15% 20%
-10
taxas
Nota-se, através do exemplo dado, até que ponto os critérios “ditam razões” que têm
necessariamente que ser ponderadas. De facto, para taxas de c.o. inferiores a 13% os
dois critérios até ditam conclusões antagónicas. Razão pela qual a utilização
adequada de qualquer destes critérios serve de indicação e nunca como factor
decisivo. Sublinha-se mesmo o facto de que o critério financeiro, seja baseado em
que modelo for, pode não representar um critério decisivo. De facto há
investimentos, por exemplo investimentos de ordem social, nos quais a rendibilidade
do investimento não é um objectivo. Por outro lado, um projecto financeiramente
atractivo pode não ser viável por não cumprimento de legislação ambiental, ou
laboral, para apenas darmos dois exemplos óbvios.
A TIR e o VAL, quais as aplicações de cada um dos métodos
1º Semestre 2005/06
35 JF
operar com essa informação. Já o valor da TIR não é susceptível de ser operado
algebricamente. Por outro lado, o VAL permite modelar situações nas quais a taxa de
actualização seja diferente de período para período, permitindo acomodar com
alguma objectividade adaptações a mudanças estimadas na envolvente conjuntural.
Tal não é possível com a TIR. Em suma, no caso de se estar a analisar um só projecto
é praticamente indiferente usar a TIR ou o VAL, no caso de se ter que escolher entre
dois ou mais projectos, a TIR é muito falível, pelo que se deve sempre preferir a
informação proveniente do VAL. A TIR, por outro lado, representa a taxa mais
elevada a que um investidor pode contrair um empréstimo para financiar um
investimento. Como vemos, representando ambos métodos baseados na actualização
de cash-flows, acabam por representar aspectos conceptualmente diferentes, com
“perigos” diferentes e com uma visualização diferente do respectivo significado
(normalmente a TIR, sendo uma taxa, tem uma visualização mais imediata, mas
como vimos pode ser uma visualização que induz em erro).
Nos problemas “académicos” sobre a avaliação de projectos há, desde logo, uma
dificuldade que se perde face à realidade, que é o cálculo do r de referência. De
facto, esse valor, em vez de ter de se estimar, assumindo o risco de o fazer, é
geralmente um dado. Depois, o “framework” que se utiliza é sempre basicamente o
mesmo. Faz-se um quadro com uma estrutura de demonstração de resultados, com os
elementos disponíveis e que represente os valores dos cash flows de cada período. O
ano zero representa um ano virtual no qual se decide o investimento e no qual se
procede ao investimento inicial, representa o momento antes da entrada em operação
devida à efectivação do projecto. Depois representam-se os cash flows que ocorrem
nos diversos anos da vida útil considerada para o projecto. Note-se que a vida útil
para o projecto e a vida útil de possíveis investimentos não têm qualquer
dependência, podendo ser diferentes. Normalmente os valores que se consideram são
diferenciais, isto é ∆s, isto é, representam a diferença dos valores associados à
situação nova MENOS os valores da situação antiga, ou então a diferença entre as
duas situações A e B em análise. Sublinhamos cinco aspectos que não devem deixar
de se considerar:
1. deve sempre incluir-se a compensação do efeito das amortizações, pois as
amortizações, não representando fluxos financeiros, não devem ter o seu efeito
reflectido nos cash flows de exploração;
1º Semestre 2005/06
36 JF
4. devem separar-se os fluxos (custos, receitas) referentes à exploração do projecto,
obtendo por um lado um somatório que representa os cash flows de exploração do
projecto, e toda a parte referente ao investimento ou aos investimentos (incluindo
investimento inicial, possíveis investimentos parciais diferidos ao longo dos
diversos anos e valores residuais de equipamento vendido), obtendo um somatório
final que inclua exploração e investimento, isto é, que represente os cash flows
líquidos totais. Os impostos apenas afectam a parte relacionada com a exploração,
pois a parte relacionada com o investimento não implica uma transacção com
efeitos na DR, correspondendo apenas a uma troca em contas do activo;
0 1 2 3 4
∆ Vendas
∆ CPV
∆ R.Bruto
∆ Custos Op.
∆ Amortizações (x)
∆ RAI
∆ Imposto
∆ RLE
Compensação do efeito
da amortização +X
∆ Cash Flow Expl.
Investimento
Valor Residual
∆ Cash Flow Total C0 C1 C2 C3 C4
C1 C2 C3 C4
VAL = C0 + 1
+ 2
+ 2 + 4
(1+ r) (1+ r) (1+ r) (1 + r)
1º Semestre 2005/06
37 JF
Esta matéria, análise de projectos e investimentos, faculta a possibilidade de se
abordarem alguns problemas de gestão operacional, como política de stocks (stock de
segurança, just in time,...), outsorcing, ...
A AEIST realizou um inquérito aos alunos, cujo custo ascenderá a 200 contos, através do
qual estimou a quantidade e o preço de venda das fotocópias para os próximos quatro anos:
20 milhões de unidades anuais e 5 escudos por fotocópia.
Os custos variáveis serão de 3,75 esc. por fotocópia, dos quais uma parte se destina ao custo
de manutenção e a outra ao custo dos consumíveis, papel e toner.
A SF prevê aumentar, com esta nova área de cópias, o custo de pessoal e de fornecimentos e
serviços externos em 7000 e 5000 contos por ano, respectivamente.
a) Considerando que a AEIST paga imposto sobre lucros com uma taxa de 40% e que
possui um custo de oportunidade do capital de 12%, determine o valor actual líquido do
projecto e indique que decisão tomaria relativamente à realização do projecto.
b) Existe o risco de no terceiro ano do projecto uma das fotocopiadoras necessitar de uma
manutenção não incluída nos custos anteriormente definidos. Qual será o custo máximo
aceitável para tal reparação, sabendo que não é aceitável que o VAL varie mais de 50%.
1º Semestre 2005/06
38 JF
R8
Alínea a)
Rubricas Anos 1 … 4
Vendas 100000 20.000.000 x 5 esc.
CMV (75000) 20.000.000 x 3.75 esc.
C.Pessoal (7000)
FSE (5000)
Amt (3000) 30000 x 10%
RAI 10000
Imp (4000)
RL 6000
CF Exploração 9000 6000 + 3000
CF investimento
Alínea b)
1º Semestre 2005/06
39 JF
9. Uma empresa decidiu instalar um sistema de aquecimento de modo a melhorar o
conforto dos seus empregados e clientes durante os meses mais frios do ano. Dois
sistemas alternativos de aquecimento, um eléctrico e outro a gás, permitem resolver
a situação. O sistema eléctrico implica apenas a compra de cinco aquecedores a
óleo, por 20 contos a unidade. Cada aquecedor seria colocado em cada uma das
cinco salas da empresa. Este investimento é amortizável linearmente ao longo de 5
anos, e tem um valor de mercado nulo ao fim de 10 anos. No entanto, a sobrecarga
eléctrica resultante do funcionamento destes aparelhos impõe que o actual contador
eléctrico seja substituído por um de potência superior. A taxa fixa referente ao novo
contador é superior à do contador menos potente em 2,5 contos mensais. Os custos
de electricidade estimados resultantes deste sistema de aquecimento são os seguintes
(em contos) :
O sistema a gás consiste na instalação de uma caldeira mural que aquece água e a
faz circular por 5 radiadores colocados nas várias salas da empresa. O custo de
aquisição e instalação deste sistema é de 700 contos. Este sistema necessita de
manutenção em cada 5 anos, no valor de 50 contos. O valor de mercado deste
equipamento daqui a 10 anos estima-se em 100 contos. Este investimento é
amortizável linearmente ao longo de 7 anos. O consumo de gás estimado é o
seguinte (em contos):
a) Admitindo que a empresa está isenta de impostos nos próximos 10 anos, e que o
custo de oportunidade de capital aplicável é de 5%, diga qual dos sistemas de
aquecimento a empresa deverá instalar.
1º Semestre 2005/06
40 JF
R9.
Resolução:
a)
Electrico
-100 30 contador
190 electricidade
-100 -220 -220 -220 -220 -220 -220 -220 -220 -220 -220
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
-100 -209,5 -199,5 -190 -181 -172,4 -164,2 -156,3 -148,9 -141,8 -135,1
-1798,7817 Val (5%)
Gas
-700 -105 -105 -105 -105 -105 -105 -105 -105 -105-105
-50 -50
100
-700 -105 -105 -105 -105 -155 -105 -105 -105 -105 -55
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
-700 -100 -95,24 -90,7 -86,38 -121,4 -78,35 -74,62 -71,07 -67,68 -33,77
-1519,2628 Val (5%)
b) Pay back
Cahs flows de (Gas -electrico)
-600 115 115 115 115 65 115 115 115 115 165
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
-600 109,52 104,31 99,341 94,611 50,929 85,815 81,728 77,837 74,13 101,3
-490,5 -386,2 -286,8 -192,2 -141,3 -55,47 26,257 104,09 178,22
1º Semestre 2005/06
41 JF
4. Conclusões
1º Semestre 2005/06
42 JF