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ARQUITECTURA
Júri
Resumo
A dissertação de Mestrado que se apresenta pretende aprofundar sobre as
capacidades expressivas dos eco-materiais na arquitectura.
O apelo que habitualmente surge para se utilizarem eco-materiais no projecto tem
como base a muita e variada informação técnica que os acompanham.
Dominantemente apelam ao seu uso com base valores quantitativos (a massa, a
poupança energética, poupança de CO2, etc).
Este estudo pretende valorizar as qualidades expressivas dos eco-materiais,
contribuindo para a sua utilização.
Para o efeito utilizamos os critérios adoptados por Peter Zumthor no livro “Atmosferas”.
Escolhemos esta obra pois é obra influente na actual produção arquitectónica e fala de
valores essencialmente substantivos.
A identificação destes valores qualitativos em obras de referencia que reflectem uma
consciência ecológica e utilizam eco-materiais, valorizando a sua significância e
aumentando a sua premência arquitectónica, complementará os aspectos
quantitativos que habitualmente suportam os apelos para sua divulgação.
Palavras-chave:
F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O
II
Faculdade de Arquitectura
Universidade Técnica de Lisboa
Abstract
The Master's dissertation presented here aims to discuss the expressive capacities of
eco-materials in architecture.
The appeal that usually comes to foment the use of eco-materials in the project is
based on the many and varied technical information. Normally call for its use is based
on quantitative values (mass, energy saving, saving CO2, etc.).
This study will try to highlight the expressive qualities of eco-materials, contributing to
their use.
To this end we follow the criteria adopted by Peter Zumthor in the book "Atmospheres."
We chose this work because it's very influential work in the current architectural
production and it values and speaks mainly of qualitative values. We chose it also
because it is a work with which we identify.
The visualization of qualitative values in works that reflect an ecological awareness and
use eco-materials will complement and reinforce the need to their implementation. This
posture will highlight its significance and increase its eagerness as an architectural
complement to the quantitative and bureaucratic aspects that usually support the calls
to is use in construction.
Keywords:
F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O
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Agradecimentos
F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O
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ÍNDICE
Índice de ilustrações: ............................................................................................. VII
Prefácio ...................................................................................................................... 1
1-Introdução .............................................................................................................. 3
Introdução.................................................................................................................. 4
2- O estado dos conhecimentos ........................................................................ 15
2.1- O processo de consciencialização ambiental: ............................................. 16
2.2- A arquitectura como resposta a habitats insatisfatórios: ........................... 29
2.3-A responsabilidade social do arquitecto: ....................................................... 33
2.4- Construção sustentável: ................................................................................. 38
2.5 – Entendimento do eco material. ..................................................................... 42
2.6 – Os eco-materiais vernaculares. .................................................................... 46
2.6 – Os eco-materiais reciclados. ........................................................................ 51
2.7 – Os materiais de nova tecnologia. ................................................................. 57
2.8 – Os materiais bio-construidos. ...................................................................... 62
3- Desenvolvimento ................................................................................................ 65
3.1- A expressividade ............................................................................................. 66
3.2- O corpo da Arquitectura.................................................................................. 72
3.3- A consonância dos Materiais ......................................................................... 75
3.4- O som do espaço ............................................................................................. 79
3.5- A temperatura do espaço ................................................................................ 82
3.6- As coisas que me rodeiam.............................................................................. 86
3.8- Tensão entre o interior e o exterior................................................................ 93
3.9- Degraus da intimidade .................................................................................... 96
4- Conclusão.......................................................................................................... 103
4.1- Da expressividade. ........................................................................................ 104
4.2- Da sustentabilidade. ...................................................................................... 108
4.3- Dos limites da investigação. ......................................................................... 111
4.4- Dos desenvolvimentos futuros. ................................................................... 112
Bibliografia: ........................................................................................................... 114
Declaração ............................................................................................................. 119
Anexos: .................................................................................................................. 120
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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES:
Fig.- 11 Peter Zumthor, Capela do Irmão Klaus, em Wachendorf, Eifel, Alemanha ................. 13
Fig.- 25- Pavilhão da Finlândia na Feira Mundial de Nova York, 1938/39, de Alvar Aalto ......... 30
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Fig.- 30- Pavilhão de Espanha, 2008, Francisco Mangado ........................................................ 35
Fig.- 53 Institut for Forest na Nature Research, Wageningen, Holanda, Günther Behnisch, ..... 64
Fig.- 57- Loblolly House, Chesapeake Bay, Maryland Kieran Timberlake, .............................. 69
Fig.- 59- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer ................................... 72
Fig.- 60- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer, .................................. 73
Fig.- 61- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer. .................................. 74
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Fig.- 63- The Trufle, Costa da Morte, Galiza, Espanha .............................................................. 76
Fig.- 67- Restaurante Yellow Tree House, Workworth, Pacific Environment Architects,............ 80
Fig.- 68- Papertainer Museum, Seoul, Korea do Sul, Shigeru Ban ............................................ 81
Fig.- 69- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia....................................... 82
Fig.- 72- Dragspelhuset, Lago Ovre Gla, Suécia, 24h Architecture, ........................................... 85
Fig.- 73- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia....................................... 86
Fig.- 75- Casa Manifesto, Curacavi, Chile, James & Mau for Infiniski ........................................ 88
Fig.- 76- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia,...................................... 90
Fig.- 83- Instalação, Victoria & Abert Museum, Londres, Rintala Eggertsson Architects .......... 97
Fig.- 85- Mapungubwe visitors Centre, Africa do Sul, Peter Rich ............................................... 99
Fig.- 86- Rauch House, Schlins, Austria, Boltshauser Architekten, .......................................... 100
Fig.- 87- Nk’Mip Desert Cultural Centre, Osoyoos, Canada, HBBH Architecs ......................... 101
Fig.- 88- I’m lost in Paris, Paris, França, R&S(ien) ................................................................... 102
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IX
PREFÁCIO
Desde tempos imemoriais que a humanidade edificou abrigos e desde esses tempos
que utilizou recursos para a sua construção e para o seu conforto. Durante milénios a
humanidade alterou os habitats existentes adaptando-os para as suas necessidades,
quer elas resultassem de uma exploração agrícola, quer fosse para a extracção de
matérias-primas.
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É nossa vontade que esta investigação evidencie as qualidades expressivas dos eco-
materiais, e que desse modo possamos demonstrar que a sua utilização no projecto,
para além dos óbvios ganho ambientais, potencia tanto a riqueza expressiva como a
complexidade do projecto arquitectónico.
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1-INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a chamada crise do carbono saltou da agenda de alguns grupos
ecologistas e investigadores para palco do discurso político dos dirigentes das
principais nações. A importância desta temática é consequência da progressiva
pressão que os cidadãos e as suas organizações representativas têm exercido sobre
os poderes políticos.
Fig.- 1 Gráfico da variação dos teores de CO2 no gelo da Antárctida, das temperaturas e nível do mar, de 400 mil anos
até ao presente. Fonte Instituto Goddard Estudos Espaciais – NASA; na National Geographic, Outubro 2008
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Essas mudanças, começam a ser implementadas devido a uma série de factores: em
primeiro lugar a sensibilização das questões ecológicas tem motivado a uma maior
consciencialização ambiental por parte dos consumidores, o que por sua vez leva as
empresas a procurem adaptar os seus produtos a essa exigência. A abundância de
produtos e serviços ditos verdes no nosso quotidiano é reflexo desse processo.
Fig.- 2 Toyota Prius, carro híbrido, com propulsão mista a combustão e motor eléctrico, utiliza um conjunto de baterias
para reutilizar a energia despendida com as travagens. Lançado em 1997 pela Toyota, e visto na altura pelas outras
marcas como uma experiencia fútil. Contudo a existência de um crescente numero de clientes ecologicamente
responsáveis, fez disparar a sua venda, tendo-se tornado num ícone de um estilo de vida sustentável. Fonte:
www.toyota. com
Podemos hoje afirmar que a maior parte das estratégias de mitigação dos processos
industriais e energéticos têm sido implementadas pela via regulamentar e legal. Dou
um exemplo, hoje todos os carros produzidos são recicláveis a 90%. No início dos
anos 90 a percentagem de reciclagem dos veículos em fim de vida situava-se nos
30%. Foi a introdução da Directiva 200/53/CE de 18 de Setembro de 2000 que alterou
a postura da indústria.
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princípios de produção foram benéficas para as suas empresas e para a sua indústria
em geral. A implementação de alterações por via regulamentar é bastante eficiente,
salvaguardando que exista de facto vontade política de as implementar.
Fig.- 3 Aterro com resíduos da industria da construção, cerca de 40% dos resíduos tem como origem a industria da
construção, quer em virtude de demolições, quer como resultado das sobras e desperdícios de construção nova. Fonte:
(www.ecy.wa.gov/.../greenbuilding/AltWaste.html)
Fig.- 4 Campo de refugiados no Dafur, em contraponto ao desperdício de materiais de construção encontramos cerca
de 1/6 da população mundial, cerca de mil milhões de pessoas, a viver em habitações precárias. Fonte:
(http://jbcs.blogspot.com/2007/07/vidas-que-no-valen-nada-darfur-es.html)
É preciso ter em conta que esta é a situação actual, mas também ter em atenção que
com o desenvolvimento económico e o aumento populacional dos países em vias de
industrialização, associados ao aumento dos níveis de consumo causados por uma
urbanização progressiva, as necessidades de recursos e energia vão aumentar.
Consequentemente a edificação vai crescer exponencialmente para satisfazer as
crescente necessidades da humanidade.
Por outro lado a indústria da construção é responsável por uma enorme quantidade de
desperdícios, cerca de 40% dos desperdícios que acabam em aterro ou em lixeiras
provêm da indústria da construção (Arnal, Sauer, et al. 2008). O que não deixa de ser
um paradoxo, quando um sexto da população mundial não tem habitação condigna.
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Os actuais métodos de produção e materialização arquitectónicos continuam a
proceder como se o planeta não tivesses limites de utilização, e essa é uma
percepção que inevitavelmente irá mudar. A mudança já começou a acontecer,
conforme já tínhamos aflorado nas questões relativas à indústria automóvel, onde
verificamos que a realidade dessa indústria mudou, por um lado devido à introdução
de regulamentos impostos politicamente e por outro lado devido a um aumento de
exigência dos consumidores, na indústria da construção essa mudança começa a
acontecer.
z
Fig.- 5 Quadro explicativo do processo de classificação energética em vigor em Portugal, resultado da implementação
da directiva 2002/91/ CE. Fonte: (http://www.adene.pt/NR/rdonlyres/C2A3E54E-5B8B-46F6-ACAD-
12B42F726368/821/SCE_Geral2.pdf)
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A Directiva 2002/91/CE foi implementada em Portugal através dos Decreto-Lei n.º 78/2006 de 4 de Abril,
Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE), Decreto-
Lei n.º 79/2006 de 4 Abril, Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios
(RSECE) e Decreto-Lei n.º 80/2006 de 4 Abril, Regulamento das Características de Comportamento
Térmico dos Edifícios (RCCTE), encontrando-se os novos edifícios obrigados a elevada eficiência
energética, e sendo classificados todos os restantes na altura de nova transacção que ocorra, permitindo
deste modo que os compradores tenham uma clara noção dos seus custos energéticos.
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Esta nova realidade, a mudança de um sistema de produção e consumo lineares,
típicos da industrialização e da sociedade de consumo, para um ciclo virtuoso onde
não exista desperdício e a sustentabilidade seja palavra de ordem, começa a impor-
se, quer por via da exigência regulamentar, quer pela cada vez maior
consciencialização ambiental dos cidadãos, quer ainda pelo aumento do custo das
matérias primas, cada vez mais escassas, associado às leis do mercado.
Fig.- 6- Esquema explicativo das valências do programa LiderA, desenvolvido em parceria entre o Instituto do
Ambiente e o IST, apresenta um sistema de análise de ciclo de vida voluntário, que permite aos projectistas quantificar
o impacto ambiental dos seus projectos. Fonte: http://www.lidera.info
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Pretende-se demonstrar que uma atitude ecologicamente responsável não é
antagónica de uma prática arquitectónica significante e premente. Antes pelo contrário,
tal como Távora escreveu, “Que seja assim o arquitecto - homem entre os homens -
organizador do espaço - criador de felicidade” (Távora 1962). Uma atitude
ecologicamente responsável é consequência natural da vontade de fazer melhor, que
caracteriza a essência do acto arquitectónico.
Fig.- 7 Buckminster Fuller posa em frente ao Fly's Eye, copula geodésica, desenhada para poder responder ao desafio
de mais construção menos material, e ao Dymaxion Car, desenhado com os mesmos princípios. Foto: Roger White
Stoller
Para atingir esse propósito, iremos estruturar esta dissertação do seguinte modo.
Em primeiro lugar iremos enunciar as fases marcantes do processo de
consciencialização ambiental, que desde os anos 60 tem vindo a mudar o modo como
a humanidade percepciona o Mundo. A visão do percurso que as preocupações
ambientais e as noções de sustentabilidade realizaram até começarmos a perceber a
sua necessidade, são fundamentais para compreendermos, que, apesar de termos
uma vida efémera, os nossos actos perduram e afectam as gerações vindouras. Deste
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modo, procurar-se-á demonstrar a necessidade dos problemas ambientais passarem a
estar num primeiro plano das nossas preocupações como arquitectos.
Fig.- 8 Le Corbusier, Plano Voisin, profunda reflexão acerca do urbanismo, concretizada em plano provocador que
propunha a demolição parcial de Paris , para responder a necessidades de alojamento e de salubridade ambiental.
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sustentabilidade. Ou seja, que as nossas construções passem a integrar-se no meio,
sem esgotar os recursos e participando nos ciclos naturais da sua renovação.
Abordamos a questão dos eco-materiais por vários motivos, em primeiro lugar porque
os materiais constroem a coisa arquitectónica e são intervenientes fundamentais na
sua caracterização. É impensável dissociar o antigo Egipto com a monumentalidade
do calcário. É impossível imaginar a arquitectura moderna sem o betão e o vidro. A
materialidade das construções condiciona os seus conceitos e a sua concretização, e,
acima de tudo, condiciona a nossa relação com o habitat humano por excelência que é
o edificado.
Fig.- 9 Cidade berbere em Marrocos, Ouarzazate a leste de Marrakeshe, é exemplar no modo como os materiais
disponíveis condicionam a arquitectura, e em simultâneo, a arquitectura acrescenta novos significado à materialidade
da construção. Foto: (moroccotravelblog.wordpress.com)
A necessidade primordial de abrigo criou no ser humano uma estreita ligação com o
carácter matérico das suas construções. São os materiais com que construímos que
condicionam forma, textura, som e temperatura dos espaços. É esta relação intrínseca
que temos com a materialidade das coisas que nos permite sentir e relacionarmo-nos
com o espaço e com o modo como o concretizamos. O carácter ancestral da
materialidade é inato aos nossos sentidos. É apenas a experiência intensa de
percorrer um espaço, utilizando todos os nossos sentidos para o percepcionar, que
nos revela o verdadeiro significado do sítio.
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A sensibilidade com que encaramos estes fenómenos na caracterização do edificado,
leva-nos a acreditar, que devido à responsabilidade social e ética do arquitecto, iremos
começar a construir com estes eco-materiais de modo cada vez mais frequente. A
introdução destas novas materialidades irá trazer novos paradigmas ao modo como
fazemos Arquitectura.
É nossa tese, que essa mudança no modo como se constrói, assente na vontade dos
Arquitectos em fazer novas arquitecturas com maior exigência e maior respeito pelos
nossos recursos, irá vingar. Já existem muitos Arquitectos de referência que começam
a utilizar esta postura na elaboração dos seus projectos. Na última parte da
dissertação irei abordar a significância e a expressividade que a utilização destes eco-
materiais traz ao projecto de arquitectura.
Para realizar esta interpretação procurar-se-ão seguir os critérios adoptados por Peter
Zumthor no livro “Atmosferas”. Escolhemos esta obra, pois é obra influente na actual
produção arquitectónica e fala de valores essencialmente substantivos. Na sua obra a
materialidade dos espaços é o fio condutor do discurso. A relevância do discurso de
Zumthor provem do modo como encara a prática da arquitectura. O método cuidado
com que projecta o conceito da obra é complementado pelo rigor com que os materiais
que a constroem são seleccionados. O resultado final ganha significados e
significâncias complementares que criam a poesia das suas obras, transformando-as
em paradigmas arquitectónicos. Por via da sua prática de excelência arquitectónica e
do seu discurso complexo e sedutor, Peter Zumthor, tornou-se numa das vozes mais
respeitadas e influentes no actual panorama da arquitectura.
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Logo tornou-se evidente para nós, que o seu modo de ver e praticar a arquitectura,
seria particularmente adequado para enquadrar a significância dos eco-materiais e
apelar à sua utilização, pois para além do seu discurso, muito ligado à significância da
materialidade das coisas, a sua notoriedade enquanto autor respeitado possibilitará
que o nosso discurso nesta dissertação seja enquadrado por uma obra que influencia
alguma da actual produção arquitectónica. É desse modo que nos propomos persuadir
os futuros leitores desta dissertação a participarem na solução deste grave problema,
que nós e os nossos filhos temos pela frente. Demonstraremos que para além dos
óbvios ganhos, quer eles sejam ambientais e económicos, quer residam num
cumprimento mais efectivo da responsabilidade social e ética do arquitecto, a principal
vantagem da sua utilização reside na capacidade de edificarmos arquitecturas
originais para o nosso tempo.
Fig.- 11 Peter Zumthor, 2007, Capela do Irmão Klaus, em Wachendorf, Eifel, Alemanha.
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Esperamos que esta dissertação possa contribuir para esta mudança pois:
Em suma será deste modo que esta dissertação discorrerá acerca das
expressividades dos eco-materiais.
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2- O ESTADO DOS CONHECIMENTOS
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2.1- O PROCESSO DE CONSCIENCIALIZAÇÃO AMBIENTAL:
Torna-se necessário saber qual tem sido a evolução das preocupações ambientais
para compreender a sua urgência. Para o efeito vamos descrever sumariamente
algumas das etapas desse processo. Este enquadramento permitirá compreender
melhor a necessidade de implementar cada vez mais critérios e pressupostos de
sustentabilidade na construção.
Fig.- 12 Mina de carvão, bairro de mineiros, País de Gales, circa 1910, fonte Library of Congress
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Em 1798 e 1803, Thomas Malthus, escreve dois ensaios sobre o princípio da
população, onde constata a insustentabilidade da manutenção de um crescimento
geométrico da população. Simultaneamente o Romantismo começa a disseminar uma
visão edílica da natureza, quase em contraponto com a sua leitura da
degenerescência da vida em cidade. O campo e a natureza começam a ser encarados
como um paraíso perdido. Subconscientemente começam a existir na sociedade
proto-sinais de alerta para a situação ambiental, contudo, apesar do contributo de
Malthus, este era sentimento geral sem base científica.
Apenas com a publicação de “A origem das espécies”, por Charles Darwin, em 1859, é
que começa a existir uma base científica que explique a evolução das espécies como
resultado de uma progressiva adaptação das mesmas a um ambiente específico. Em
simultâneo com as descobertas paleontológicas da época constatou-se que súbitas
extinções de espécies faziam parte da historia do mundo. Essa compreensão acabou
com um mito enraizado no subconsciente da espécie humana, o mito da imutabilidade
da natureza.
Fig.- 13 Explosão atómica em Hiroshima, 6 de Agosto 1945, 08,15h. Neste preciso momento, o mundo conhece o
alcance que a tecnologia humana adquiriu em termos de capacidade destrutiva, foto A P
Entre a segunda metade do Sec. XIX e meados do Sec. XX, o mundo viveu tempos
conturbados. Proliferaram os impérios coloniais, destinados a alimentarem a sua
industrialização com mais recursos e novos mercados. A industrialização desenvolveu
tensões sociais que fomentaram o aparecimento e desenvolvimento de teorias
políticas revolucionárias. Simultaneamente guerras eclodem em intervalos temporais
não muito distantes: ocorre a Guerra da Secessão nos EUA, as guerras europeias do
Sec XIX, a guerra Rússia Japão, o colapso do sistema imperial na China culminado
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pelas duas Guerras Mundiais, já para não referir a Revolução Soviética pelo meio, e a
entrada na era Nuclear, tudo isto até á primeira metade de Sec. XX.
Fig.- 14- Thomas Edison, 1857-1931- Inventor genial, representa o optimismo e a fé nas descobertas científicas e
tecnológicas como meio de responder às necessidades humanas. Parte desse optimismo impediu que a generalidade
das pessoas percepcionasse o alcance das alterações que a industrialização provocava no seu habitat.
Foto: William Eugene Smith, 1972
Contudo não podemos deixar de referir que durante o mesmo período, existiu um
progresso notável no desenvolvimento civilizacional, com a industrialização a atingir
níveis sem precedentes e simultaneamente a verificarem-se descobertas cientificas
revolucionárias em todas as áreas do conhecimento. Este desenvolvimento
civilizacional foi profundamente influenciado por descobertas científicas e tecnológicas
marcantes. As melhorias significativas no campo da medicina passaram pela
compreensão do papel das bactérias e micro organismos na doença, com o
consequente aparecimento das vacinas e desenvolvimento de novas técnicas
cirúrgicas. Na área dos transportes começa uma nova era de mobilidade, o comboio e
o aparecimento do automóvel e do avião abrem novos mundo. Na física assistimos a
uma autêntica revolução com a teoria da relatividade e as experiencias do casal Curie.
Nas cidades e no campo este período é marcado por profundas alterações, da
implementação das redes eléctricas, à massificação dos meios de comunicação, como
os jornais e a rádio, a vida das pessoas sofre uma alteração profundíssima. Em todas
as áreas do saber e da produção, quer seja ela agrícola ou industrial, as descobertas e
as novidades marcam o quotidiano.
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A esperança numa era de bem-estar baseada nas soluções da ciência e nos
benefícios da industrialização, aliada às conturbações históricas deste período tolda a
capacidade de se percepcionarem as alterações que o planeta sofria a nível
ambiental.
Com esta percepção no seu subconsciente, a humanidade foi pela primeira realmente
confrontada com as consequências da industrialização em Minamata, no Japão, pois
entre 1958 e 1971 morreram cerca de 3 mil pessoas em virtude da contaminação da
cadeia alimentar. Essa contaminação foi originada pela poluição da Baia por uma
fábrica de PVC. Desse modo, o peixe e moluscos que faziam parte da alimentação
desta população adquiram altos níveis de mercúrio e outros metais pesados,
envenenando as populações vizinhas. Face ao aumento do número de mortes na zona
a Universidade de Kumamoto realizou uma investigação que concluiu que as pessoas
morriam de envenenamento por metais pesados. O envenenamento causava também
degenerações genéticas, afectando deste modo as gerações futuras.
Fig.- 15- Foto de Mãe a dar banho a filho de 16 anos, nascido com a doença de Minamata. Com este desastre,
percepcionamos de modo inequívoco, que os danos ambientais afectam-nos a nós e às gerações seguintes
Foto: William Eugene Smith, 1972
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Chisso Corporation. Posteriormente com apresentação de uma acção judicial, a
fábrica foi reconvertida e a população indemnizada. Este é momento crucial na tomada
de consciência das populações nos processos ambientais. A partir deste momento as
populações verificam que tem capacidade, com esforço, de alterar e combater focos
de poluição. Com este acontecimento, os cidadãos apercebem-se que as questões
ambientais podem mudar radicalmente o curso expectável da sua vida. E como tal têm
o direito moral de entrevir.
Fig.- 16- Protestos de cidadãos, a revolução cultural dos anos 60, altera a postura dos cidadãos perante o mundo, o
movimento ecologista começa a ganhar vigor e presença na sociedade, Foto: Bernie Boston, 1967
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desta época tumultuosa, assistimos a uma profunda mudança social e política. O Maio
de 1968, os protestos contra a guerra do Vietname, a luta contra as tiranias, as lutas
pela independência, a revolução sexual e a música revolucionam o modo como
encaramos o mundo. No seio dessas movimentações, aparecem no meio académico
da Costa Leste dos E.U.A. determinados grupos que começaram a teorizar acerca da
componente política da defesa do meio ambiente. Estes grupos de estudantes aliam à
sua acção ambiental uma forte componente política. Dessa reflexão saem dois grupos
distintos.
Por outro lado, a discussão política destas problemáticas motivou uma outra corrente
de pensamento. Esta defendia que se deveria sensibilizar as populações, pois caso as
populações tivessem conhecimento das consequências da crise ambiental, elas
constituiriam uma força política para poder alterar a situação. É desse modo que
assistimos nascimento dos primeiros organizações de carácter ecologista como a
Greenpeace e a WWF.
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consciência colectiva começa a perceber o significado de sustentabilidade, o mundo
dá uma prova da sua finitude.
Outra ocasião importante para aumentar esta crescente noção de finitude foi a celebre
fotografia tirada pela Apollo VII em que se vê o nascer da Terra visto da lua, em 1968.
A visão clara que o nosso planeta era um minúsculo círculo colorido na infinitude do
espaço, despertou consciências. Passámos a conceptualizar o local onde vivemos
como raro e precioso. Este é um momento importante na consciência colectiva da
humanidade.
Fig.- 18- Fotografia do nascer da Terra, tirada na Lua pela missão Apollo VIII. Nesta fotografia, a intensidade de cor e
vida da Terra contrastam com a aridez do espaço e da Lua. A nossa casa é coisa rara e valiosa. Foto: Nasa
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dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e
incontrolável, tanto da população como da capacidade industrial.
2. É possível modificar estas tendências de crescimento e formar uma condição de
estabilidade ecológica e económica que se possa manter até um futuro remoto. O
estado de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as necessidades
materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, e que cada pessoa tenha
igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual.
3. Se a população do mundo decidir empenhar-se em obter este segundo resultado,
em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela começar a trabalhar para alcançá-
lo, maiores serão suas possibilidades de êxito.
Fig.- 19- Com a fundação da UNEP, as Nações Unidas, passam a dispor de um organismo que coordena os
programas de protecção ambiental numa perspectiva integrada, relacionando-os sempre com a componente do
desenvolvimento humano. Foto: UNEP
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fomentar a realização de tratados internacionais, fomentar os programas e
instrumentos de desenvolvimento económico e ambiental sustentável. A criação deste
organismo foi de vital importância, pois pela primeira vez começaram a existir meios
para relacionar as visões e estudos nacionais, de modo a começar a ter uma imagem
global do estado ambiental do planeta. Foi através da UNEP que começou a
monitorização dos dados que permitiram começar a percepcionar o verdadeiro
problema da emissão de poluentes para a atmosfera com uma visão global do
problema. A primeira noção da gravidade da crise ambiental proveio da chamada crise
do Ozono. As medições dos níveis de ozono atmosférico sobre as calotes polares, em
especial na Antárctida, revelaram uma súbita diminuição dos seus níveis. De acordo
com os dados científicos e com modelos então disponíveis alertaram o mundo para
um possível derretimento dos gelos polares e relacionaram a rarefacção do ozono com
a poluição causada por aerossóis de uso industrial, nomeadamente os CFC (Cloro
flúor carbonetos)
Fig.- 20- Evolução do buraco de ozono desde 1980 até 2004, onde se verifica uma ligeiro decréscimo da sua dimensão
desde 2002, o que vem confirmar as previsões dos modelos adoptados na conferencia de Montreal. Com a aferição
dos resultados da conferência de Montreal podemos concluir que a humanidade pode reverter situações perigosas,
tendo o conhecimento cientifico do caso, basta vontade politica para agir. Foto: Nasa
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globais é a única resposta. Desde 2008 que o buraco de ozono tem vindo
progressivamente a diminuir, esperando-se, de acordo com os modelos científicos
empregues na sua monitorização, que a ordem natural das coisas esta restabelecida
em 2050.
Fig.- 21- Documento fundamental na compreensão das relações entre meio ambiente, desenvolvimento e
sustentabilidade. Fruto de um trabalho de 15 anos desenvolvido pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, nele o conhecimento científico é sistematizado e as medidas para alterar a situação são
preconizadas, mas falta ainda a vontade política. Foto: UNEP
No seu relatório final, publicado em 1987, conclui-se que se terá de substituir o actual
modelo de desenvolvimento por um novo modelo. O modelo de desenvolvimento
sustentável é apresentado como solução e é concebido pela seguinte premissa “ele é
o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (Brundtland
1987). Esta definição de sustentabilidade é marco fundamental no processo de
consciencialização ambiental, pois até esse momento, as preocupações estavam
centradas em duas situações tipo. Por um lado existia uma grande preocupação com
os problemas ambientais mais locais, o que motivava os cidadãos e as instituições a
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começar a agir. Por outro lado, em relação à situação global, a noção de falência do
modelo começava a estar enraizada nas consciências, mas ainda não existia um plano
alternativo que permitisse à humanidade sair desta situação. Só depois do relatório
Brundtland, e face às suas conclusões, é que as nações começaram a procurar as
primeiras tentativas exequíveis para projectar um caminho sustentável para o
problema. A cidadania começa a ganhar peso no quotidiano das nações, são os
cidadãos a pressionar os governos para intervirem cada vez mais nas questões
ambientais. O mesmo se passa em relação às empresas, a consciencialização
ambiental é cada vez mais um fenómeno global.
Em 1992 realiza-se a Conferencia do Rio que culmina com o tratado que cria a
Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Este tratado
tem como objectivo a estabilização da concentração de gases do efeito estufa na
atmosfera em níveis tais que evitem a sua interferência perigosa com o sistema
climático. É esta convenção que lança as bases para o protocolo de Quioto, onde
finalmente em 1997, se chega a acordo para a redução progressiva de emissões de
CO2 para níveis de 1990. O acordo prevê sistemas de monitorização, de cotas de
carbono e de mecanismos de compensação aos países em vias de desenvolvimento.
O Protocolo foi muito criticado pela comunidade científica e pelas ONG ecologistas,
pois nos seus modelos consideram que a redução proposta, reduzir os níveis de
emissões para o patamar de 1990, não será suficiente para mitigar a situação. Por
outro lado, apenas em 2005 é que foi concluído o processo de ratificação do protocolo,
que deveria ter estado em vigor entre 2000 até 2012. Não deixa apesar de ser tudo de
ser mais um momento marcante neste processo contínuo de consciencialização
ambiental em que ainda nos encontramos.
Fig.- 22- Manifestante em durante a realização do COP 15 em Copenhaga em Dezembro de 2009. Com o aumento da
consciência ambiental dos cidadãos, as acções de protesto para incrementar os níveis de resposta à crise ambiental
tem aumentado exponencialmente. Esperemos que com a proliferação de democracias a nível mundial esta pressão
seja efectiva em tempo útil. Foto: sorenbosteendahl.wordpress.com
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Em 2006, Al Gore lança o documentário “Uma Verdade Inconveniente”, uma
adaptação das suas conferências sobre as alterações climáticas, que foi largamente
difundido e discutido e marca um ponto crucial na democratização de uma realidade
nem sempre acessível aos menos bem informados. Este é um momento importante
neste processo de consciencialização ambiental em que nos encontramos. Graças a
este filme, e devido ao seu êxito, muitos milhões de cidadãos perceberam um pouco
melhor de qual o verdadeiro problema que enfrentamos.
Fig.- 23- Al Gore, antigo Vice-presidente dos E.U.A. durante o mandato Clinton, lança o documentário “Uma Verdade
Inconveniente”, baseado nas suas conferências sobre o aquecimento global e a sua relação com crise ambiental. Êxito
de bilheteiro em 2006 e ganhador de dois Óscares, este documentário teve a vicissitude de alertar os mais distraídos
para a gravidade da situação. Foto: www.algore.com
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Esta é uma esperança e um dever para o futuro, sendo que cada vez mais, na nossa
qualidade de cidadãos, iremos pesar a consequência dos nossos actos em termos
ambientais. O significado ético do conceito de sustentabilidade pesa no nosso
quotidiano e isso é o princípio de uma mudança, uma mudança, que passo a passo,
nos permitirá alterar as perspectivas mais sombrias que neste momento nos são
apresentadas.
A grande esperança para o futuro alicerça-se no nosso passado como espécie. O ser
humano sempre conseguiu adaptar-se a novas realidades e é dado histórico que
quase sempre se saiu bem e prosperou após a adaptação.
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2.2- A ARQUITECTURA COMO RESPOSTA A HABITATS
INSATISFATÓRIOS:
Cada vez que a arquitectura se viu confrontada com temas de urgência civilizacional,
criou novos paradigmas e soluções de modo a dar resposta aos mesmos. A
concretização desta resposta teve uma concretização alicerçada nas materialidades
do seu tempo.
Assistimos a este tipo de actuação desde o séc. XIX, como resposta aos problemas
sociais e de salubridade causados pela urbanização originada pela revolução
industrial. Situação esta que deu origem a uma serie de conceitos, que começaram
com Charles Fourrier e acabaram por culminar em Le Corbusier e a Carta de Atenas,
passando pelas cidades jardim, pelo modernismo, pelo racionalismo, entre outros.
Fig.- 24- Karl Marx Hof, de Karl Ehn, Viena 1932. Conjunto habitacional para operários, incluía espaços verdes,
infantários e lavandarias, de modo a melhorar as suas condições de vida. Numerosos avanços na arquitectura foram
marcados pela vontade dos arquitectos em resolverem problemas reais.
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reformulando a sua linguagem e adquirindo novas expressividades como parte da
resposta ao problema da falência do modelo da cidade medieval.
Fig.- 25- Pavilhão da Finlândia na Feira Mundial de Nova York, 1938/39, de Alvar Aalto. A utilização de materiais
tradicionais, utilizando-os de um modo novo e surpreendente permitiu a Alvar Aalto um percurso de carreira influente e
marcante.
Estas respostas fazem parte de um processo contínuo iniciado no inicio do Sec. XIX,
tendo todas estas correntes e movimentos uma premissa comum: a crença num
crescimento contínuo. Essa premissa não é exclusiva das correntes e pensamento
arquitectónico, ela é uma premissa transversal à génese política, económica e social
da sociedade capitalista.
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nenhuma outra teve na história da humanidade, ela tem o potencial de poder alterar
definitivamente o equilíbrio planetário, podendo em última análise acabar com o
processo civilizacional tal como o conhecemos. Contudo esta situação não é uma
inevitabilidade. Encontramo-nos numa altura onde mais uma vez o engenho e a
capacidade de adaptação da espécie humana se preparam para reagir à adversidade.
Fig.- 26- Pavilhão Vasarely, Aix-en-provence, 2006, de Shigeru Ban. A utilização de materiais reciclados marca a obra
de Shigeru Ban de modo notável, neste caso vemos o aproveitamento de tubos de cartão, resíduos de cartão da
indústria têxtil.
Por outro lado, o actual estado das cidades, autênticos sorvedouros de recursos e
produtoras em massa de resíduos, tem proporcionado uma incessante investigação
por parte de urbanistas e arquitectos para reformular este paradigma. A realidade das
cidades actuais, expoentes máximos da sociedade liberal de consumo, tem criado
numerosos conflitos sociais e ambientais. Boa parte da população urbana, apesar de
ter beneficiado enormemente em termos materiais e civilizacionais com o
desenvolvimento da cidade pós industrial, encontra-se num estado de insatisfação
generalizado. A visão materialista de que o acesso a bens e serviços de um modo fácil
e generalizado compensaria a perda de partes significantes que integravam parte da
vida das pessoas, começa a ser questionada.
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A recente crise financeira que afecta o mundo desde final de 2008 é resultado desta
visão do mundo. Richards Meadows, o coordenador do estudo "Os Limites do
Crescimento", na conferência de atribuição do Japan Prize, afirma que as piores
consequências da crise da falta de recursos que o mundo atravessa, não se
verificarão quando os recursos começarem a diminuir drasticamente, mas sim quando
nos aproximarmos do pico da sua utilização. Ou seja é antes do decréscimo que as
piores convulsões se vão sentir na vida das pessoas, pois é nessa altura que as
principais tensões do esgotamento dos actuais modelos económico e de
desenvolvimento se vão manifestar. Segundo Meadows é esse o momento em que
vivemos.
Fig.- 27- Malmo's Western Harbour, 2004. Começam a ser numerosos os exemplos de cidades que se lançam em
experiencias de sustentabilidade, aqui em Malmo, nesta antiga e poluída zona portuária cresce agora uma nova porção
de cidade, sustentável, com um impacto mínimo na emissão de resíduos e fomentadora da bio-diversidade.
Logo verificamos que a produção arquitectónica, tal como o tem repetidamente feito
nos últimos duzentos anos, encontra-se num momento de charneira e mudança de
paradigmas. Para os arquitectos esta é uma altura única de poder contribuir para a
resolução dos problemas com que nos defrontamos. Reflectindo sobre as reais
necessidades das pessoas, das edificações e das cidades e com a criatividade que
historicamente temos tido, criando novos paradigmas arquitectónicos. Cumprindo
desse modo a função ética e primordial do arquitecto, ser “criador de felicidade”.
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2.3-A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO ARQUITECTO:
Existe a nível global uma grande parte da população que ainda não dispõe de
habitação salubre e digna. Por outro lado, o desenvolvimento económico de algumas
nações, nomeadamente as designadas nações BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China),
irá aumentar o nível de consumo das respectivas populações.
A isto ainda teremos de somar a resposta que irá ser dada às necessidades dos fluxos
migratórios. Com este quadro futuro, podemos deduzir que uma enorme quantidade
de recursos naturais e energia serão consumidos na resposta a esta situação.
Fig.- 28- Gráfico da evolução da população humana desde 1750 com previsão de crescimento até 2150. Fonte: World
Populations Propects, United Nations Population Division
Boa parte destes recursos será dispendida nas construções indispensáveis para
responder a esta necessidade. Falamos de construção, a um nível sem precedentes,
de novas cidades e partes de cidade, com a sua panóplia de infra-estruturas,
habitações e equipamentos. Falamos também de um enorme fluxo de energia que
alimentará esta nova realidade.
Como intervenientes neste processo, os arquitectos devem ter a consciência clara que
a sua prática irá ter consequências globais. O somatório das diferentes opções de
projecto irá pesar de um modo claro no resultado final. Tem de existir uma clara
percepção de que todas as obras, das mais insignificantes às mais notórias, têm de
ser tratadas com a mesma preocupação. Cada projecto que realizarmos deve encarar
a sustentabilidade como parte fundamental da sua génese.
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Claro que a Arquitectura, como actividade humana imprescindível, reflecte os
condicionalismos da História, não sendo de estranhar que numa época de excessos,
boa parte da história recente da arquitectura tenha sido marcada pelo chamado Star
System. Durante as últimas décadas, o papel e a responsabilidade social do arquitecto
perderam notoriedade face às questões de autoria. Numa altura de mudanças globais
e de uma grave crise ambiental é de esperar que a ética e a responsabilidade social
do arquitecto voltem à da prática.
Fig.- 29- Vista de do centro de Xangai, 2009. A pressão populacional e desenvolvimento económico das cidades dos
países em via de desenvolvimento vão criar enormes necessidades de construção nas cidades, o processo de
urbanização ainda não estabilizou e os recursos necessários para o concluir serão imensos. Foto: Planet Shanghai
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que um prolongamento da sua responsabilidade enquanto cidadão. Nesta urgência em
que procuramos encontrar um equilíbrio sustentável entre o ser humano e o seu
planeta, cada cidadão tem a sua cota parte de responsabilidade e o arquitecto tem
responsabilidades acrescidas, pois no edificado está uma grossa fatia do nosso
consumo de recursos.
Fig.- 30- Pavilhão de Espanha, 2008, Francisco Mangado. Reinventando a cerâmica, Francisco Mangado, cria um bio
mimetismo com o bambu, utilizando os elementos cerâmicos como depuradores de águas, climatizando o edifício e
minimizando o consumo de recursos. Foto: http://www.fmangado.com
Cada vez menos se pode encarar o fenómeno da construção como algo distinto do
ecossistema do planeta. A visão da criação arquitectónica como um mero objecto
técnico e criativo, separado do meio onde se encontra e desligado das consequências
que provoca é uma ideia ultrapassada e perigosa. Hoje em dia não chega cumprir o
triunvirato vitruviano da Fermitas, Utilitas e Venustas pois a complexidade da
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crescente exigência de solicitações a que o projecto arquitectónico deve responder
não para de aumentar. Entre essas novas solicitações destacamos a capacidade do
edificado em produzir e economizar energia, ser eficiente na utilização de recursos,
salvaguardar o solo, ter a possibilidade de alojar várias funções, constituir-se para
regenerar o ambiente, quer do ponto de vista da biodiversidade, quer do ponto de vista
da regeneração social e económica, entre outras e cada vez mais complexas
solicitações. Estas são tarefas que se impõem atendendo à responsabilidade social e
a ética da profissão actual. E esta deverá utilizar as técnicas e os saberes que a
humanidade vem desenvolvendo para desvendar novas arquitecturas.
Fig.- 31- Pavilhão Médico em Khartoun, Sudão , 2008, TAMassociati. As arquitecturas da emergência concretizam
plenamente a responsabilidade social que se espera dos arquitectos. Estas resposta não invalidam que se obtenham
resultados de grande valia arquitectónica com orçamentos mínimos e respeitando exigentes critérios de
sustentabilidade. Neste centro médico a construção utiliza contentores reciclados e materiais locais e sustentáveis.
Foto: http://www. tamassociati.org
Cada vez mais as opções do projecto deverão incluir uma análise dos custos
energéticos e ambientais das nossas escolhas. Obviamente que esta obrigação ética e
social, não se deverá sobrepor a todas as outras obrigações da praxis, devendo o
carácter artístico, estético e autoral da prática continuar a ser valor fundamental. Tal
como o deverão ser a integração urbana, o respeito pelo património cultural, a
adaptação do projecto aos hábitos sociais e culturais das populações, a acessibilidade
dos espaços, a economia da construção, etc.
A componente ambiental das opções de projecto será mais uma das diversas
solicitações a que um projecto deverá responder. A resposta ambiental do projecto
deverá ser alicerçada em duas componentes. Em primeiro lugar deverá minimizar os
custos ambientais da vida útil do edificado, em segundo lugar deverá minimizar a
utilização de recursos no acto da construção. Ou seja, a necessidade de resposta a
estes novos desafios, irá aumentar a complexidade e a exigência da prática
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arquitectónica. Esse aumento de solicitações irá com certeza provocar novos
paradigmas no fenómeno arquitectónico. Esses novos paradigmas irão sem dúvida
enriquecer a história da arquitectura pois são motivados por novas respostas a novas
necessidades, e sempre que tal aconteceu, tivemos revoluções no modo em como se
pensa e executa a prática arquitectónica.
Fig.- 32- Pavilhão de Oração no Darfur, Sudão , 2007, TAMassociati. Programa complexo e significante, um centro de
oração inter-religioso para um campo de refugiados. Construído apenas com materiais locais, taipa e madeira,
edificado pela população refugiada. Foto: http://www. tamassociati.org
O Arq. João Belo Rodeia, Presidente da Ordem dos Arquitectos escreve a esse
respeito o seguinte “ Num planeta cada vez mais pequeno, morada definitiva da
aventura humana, a finitude abre novas oportunidades a uma Arquitectura com
responsabilidade ética, relevância social e significado físico.” (Rodeia 2006) e
Fernando Távora, na sua teoria geral da organização do espaço, dissertando acerca
do papel do arquitecto, afirma “ Para além da sua formação especializada e porque ele
é homem antes de arquitecto que ele procure conhecer não apenas os problemas dos
seus mais directos colaboradores, mas os do homem em geral. Que a par de um
intenso e necessário especialismo ele coloque um profundo e necessário humanismo.
Que seja assim o arquitecto - homem entre os homens - organizador do espaço -
criador de felicidade” (Távora 1962). Em suma, apesar de proferidas em tempos
diferentes, ambos apontam o caminho seguir. Caminho esse que na prática, nada
mais é do que sempre foi ser Arquitecto, praticando a arquitectura de um modo
consciente e responsável. Utilizando o ofício engenhosamente em favor do bem
comum, seja “ criador de felicidade”.
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2.4- CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL:
O modo como temos construído nos últimos 100 anos contribui muito para o actual
estado do planeta. A indústria da construção, com todas as suas exigências
energéticas, de recursos e de resíduos esgotou e danificou seriamente a
sustentabilidade dos mesmos. Por outro lado as exigências do edificado vão aumentar
brutalmente nas próximas décadas.
O mesmo se passou com a energia, o que permitiu uma enorme melhoria na vida de
milhões de seres humanos, melhorando os sistemas de produção, permitindo
armazenamento de víveres em melhores condições, alterando por completo os modos
de distribuição dos produtos e climatizando o edificado, entre outros inúmeros
benefícios civilizacionais.
Fig.- 33- A epidemia de obesidade que a nossa sociedade presencia é consequência do consumo desregrado, ela é
mais um sinal em como devemos mudar os nossos comportamentos
Fonte: http://www.abc.net
Fig.- 34- Boa parte das nossas cidades estão edificadas para fomentar um consumo desenfreado de recursos, tanto
elas como a epidemia de obesidade são consequência da sociedade de consumo.
Fonte: http:// www.intelligenteconomy.com
Face ao seu baixo custo, a eficácia na utilização dos recursos e da energia não era
critério a ter em conta na altura de construir. Se era necessário climatizar um edifício,
o ar condicionado ou o aquecimento resolviam, o custo da energia dispendida para o
efeito era negligenciável. O mesmo se passava em relação aos desperdícios e aos
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materiais empregues. O emprego destes critérios, ao contrário do que seria lógico,
valorizava o edificado.
Contudo apesar do custo dos recursos e da energia ser baixo, isso não implica que
como espécie, não tenhamos de o pagar. Hoje estamos no início de um processo
onde o verdadeiro custo das coisas tende para a verdade. Logo cada vez mais vamos
pagar o preço da insustentabilidade.
Para atingir esse objectivo, o projecto deverá ser objecto de uma análise de ciclo de
vida, (ACV). Esta metodologia permite aferir as opções de projecto em termos
energéticos e ambientais. Para entender o que é uma análise de ciclo de vida temos
de considerar em primeiro lugar a vida expectável do edifício. De seguida
consideraremos os custos energéticos dispendidos com a sua execução, designado
de energia incorporada. A estes custos teremos de realizar o somatório dos custos
energéticos do edificado relativamente às suas necessidades de iluminação,
climatização, ventilação e manutenção.
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irão clarificar esta situação. Existem contudo numerosos programas implantados, ou
em vias de serem implantados em vários países: método Viiki na Noruega, Breeam no
Reino Unido, o LiderA desenvolvido pelo Instituto Superior Técnico, o sistema Cradle
to Cradle desenvolvido pelo Hamburger Umweltinstitut (Instituto do Ambiente de
Hamburgo), LEED (U.S. Green Building Council), a norma ISO 14000 entre outros.
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isso, e na ausência de instrumentos intuitivos de projecto que permitam realizar essa
avaliação, ele precisa de princípios óbvios que lhe apresentem estratégias viáveis e
intuitivas. Estratégias que não colidam com o acto criador do projecto, mas que o
complementem, sem constituir uma interrupção burocrática no processo criativo.
Nesse sentido, os seis pressupostos que Ignaci Perez Arnal enunciou, são uma boa
base de partida para caminhar para a sustentabilidade de qualquer projecto.
Convêm acima de tudo encarar a construção como um organismo vivo. O ser humano,
e em especial os arquitectos, deverão compreender, que tal como um organismo vivo,
o edificado deverá subsistir com os recurso de que dispõe à sua volta. Deverão ainda
compreender, que tal como as folhas das árvores quando morrem, caem ao solo e vão
passar a alimentar as gerações futuras, num magistral ciclo biológico, igual ao que a
natureza pratica desde tempos imemoriais.
Claro que não depende apenas do Arquitecto esta mudança, depende dos extractores
de matérias-primas, depende dos fabricantes, depende dos consumidores, dos
políticos, das famílias, enfim depende de todos nós. Mas imperativamente o faremos,
podemos faze-lo à posteriori, e nesse caso não controlando o paradigma e não
acautelando as consequências. Ou podemos realiza-lo acautelando o futuro, e nesse
caso, alterando estruturas e métodos de construir e acima de tudo mudando modos de
vida, mudando o paradigma civilizacional onde nos encontramos. Caso tal não
aconteça, podemos correr o risco de interromper este ciclo virtuoso que permitiu o
florescimento do Homem a da civilização na Terra. Essa é a urgência de nos
tornarmos sustentáveis.
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2.5 – ENTENDIMENTO DO ECO MATERIAL.
Temos a noção que estas visões mais extremadas podem ter sido úteis a determinada
altura da tomada de consciência da problemática ecológica. Contudo, acreditamos que
a fase panfletária desta questão está ultrapassada. A tomada de consciência para os
problemas ambientais já se encontra numa fase onde as questões pragmáticas
impõem a sua lógica. E essa lógica não se atinge com mudanças instantâneas de
modelo, elas serão conquistadas gradualmente, sendo obvio que essa conquista é
coisa de muita urgência.
A certificação ambiental dos materiais que dispomos ainda se encontra numa fase de
implementação. Existem, tal como nas Analises de Ciclo de Vida, numerosos sistemas
de avaliação, de certificação ambiental dos materiais de construção, a exemplo a ISO
14020, ISO 21930, Cradle to Cradle, CEN BT 14/2005, PEFC (Programme for the
Endorsement of Forest Certification), entre outros, que estabelecem critérios e
abordagens distintas para emitir declarações de impacto ambiental. Estas declarações
devem ser formuladas pelos fabricantes dos diversos materiais de construção de
modo a servirem de instrumento na escolha dos que elegemos para os nossos
projectos. Existem organizações de produtores que certificam a sustentabilidade dos
seus produtos. Em boa parte dos catálogos de materiais que habitualmente
acompanham o acto do projecto, o arquitecto deve começar a encarar os indicadores
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ambientais, do mesmo modo que encara a categoria de resistência ao desgaste de um
pavimento. Estas declarações são um dos instrumentos mais eficazes de que
dispomos na aferição da sustentabilidade das nossas escolhas.
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5- A pureza compositiva: Quanto mais matérias-primas sejam necessárias para obter
um material, mais complicada se torna a sua separação e a sua reciclagem.
6- Energia incorporada: Para além de dos custos energéticos iniciais (extracção,
transporte, fabricação…), é importante compreender a dependência energética do
material ao longo do seu ciclo de vida (inércia térmica, manutenção, rupturas e
desgaste, possibilidade de ser reciclado ou reutilizado).
7-Grau de industrialização: Apenas para projectos de muito pequena escala se justifica
a utilização de um material artesanal que exija muita mão-de-obra e a utilização
intensiva de recursos em obra (água e energia). Em todos os restantes projectos
deveria-se utilizar materiais industriais onde existe um consumo controlado de
recursos e energia.
8- Materiais saudáveis: Evitar o uso de produtos que possam afectar a saúde do
fabricante, do utilizador e do trabalhador no processo de reciclagem. Principalmente
no que se refere a partículas tóxicas ou cancerígenas.
9- Exigências de manutenção: Materiais com baixa manutenção favorecem o conforto
do utilizador e diminuem a utilização de pinturas, lubrificantes e vernizes.
10- Materiais com certificação ecológica: Poucos materiais tem certificação que
garanta uma boa utilização dos recursos, os que a têm merecem um tratamento
privilegiado (Sauer 2008)”.
Para além de uma noção estratégica inicial da problemática dos eco-materiais, deverá
o arquitecto com o desenvolvimento do projecto, investigar mais profundamente as
suas características, quer em termos de extracção/fabrico, quer em termos de
desempenho e reciclagem no final da sua vida útil. Esta é uma postura que em certa
medida pode ser encarada como um regresso ao passado. Na altura dos mestres
construtores, a materialidade da edificação era escolhida com um rigor extremo.
Hoje em dia parte dessa metodologia saiu da alçada do arquitecto. Os materiais são
escolhidos por catálogo durante o projecto, sendo escrutinados pelas exigências
regulamentares que constroem os cadernos de encargos. Posteriormente é a
fiscalização da obra que afere se realmente os materiais apresentados cumprem as
exigências técnicas descritas nos cadernos de encargos. Por via dessa repartição de
trabalho a relação entre o arquitecto e a materialidade da coisa construída perdeu
profundidade. O arquitecto prima mais a pele do edificado do que a sua essência e
essa é uma tendência que urge combater.
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Com as novas solicitações que a sustentabilidade levanta em relação à materialidade
da obra, o arquitecto enquanto autor do projecto, deverá recuperar um pouco desse
espírito de mestre construtor. A elaboração de um projecto sustentável não se
coaduna com um conhecimento superficial das matérias que o edificam. Esse
conhecimento acrescido, pode e deve contribuir para a elaboração de obras mais
complexas, pois a consonância entre as matérias e os conceitos do projecto, são
questões primordiais para atingir a excelência de uma obra. E essa é procura
essencial que o arquitecto deve ter em todos os projectos em que participa.
Por outro lado, a procura de sustentabilidade levada a cabo sem critérios de qualidade
arquitectónica é contraproducente. Verificamos nesta investigação que existem
numerosas obras que atingem critérios óptimos de sustentabilidade, mas como são
resultado de um conjunto de situações óptimas, agregadas sem critério ou conceito
arquitectónico, elas resultam num retrocesso, pois em numerosas ocasiões, elas são
publicitadas como sendo exemplo a seguir. Ora o arquitecto que se inicie nas
questões da sustentabilidade e as encontre no seu caminho, verifica imediatamente,
que se trata de arquitectura pouco apelativa, de desenho sofrível e pouca relevância
arquitectónica, logo, coisa a evitar. Mais, estas situações, obras sem qualidade, pois
nada mais se trata do que uma colecção de técnicas agrupadas sem critério
arquitectónico, contribuem para a associação negativa da imagem de arquitectura
sustentável, não só pelos arquitectos, como pelo publico em geral. E essa é uma
questão fundamental: urge cativar público, arquitectos, produtores de materiais,
promotores e demais intervenientes nas questões da edificação para a necessidade
de edificar sustentavelmente. Tal não se atinge sem a sedução da boa obra.
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2.6 – OS ECO-MATERIAIS VERNACULARES.
Estes materiais foram descobertos e utilizados pelo homem durante milénios. Durante
esses milénios o homem viveu num ambiente de escassos recursos energéticos. A
construção tradicional tem na sua génese uma utilização muito cuidada desses
recursos. Exceptuando para algumas edificações simbólicas, a construção apenas
podia concretizar-se com os meios que o homem tinha na sua proximidade. Isso
desenvolveu nas culturas humanas respostas eficazes para as suas necessidades de
edificação.
Para além da eficiência, esses materiais, a pedra, o adobe, a palha, o tijolo de terra
seca, a madeira, o têxtil, as peles etc., faziam parte do meio onde eram edificados, de
igual modo, as soluções arquitectónicas adoptadas também se encontravam em
simbiose com o habitat, adquirindo assim uma linguagem muito vincada na sua
relação com a mãe natureza. Por esse motivo encontramos nestes materiais,
características tectónicas na sua expressividade, dado que nascem da terra, e
normalmente se encontram em harmonia com o território.
Fig.- 35 Tijolos de cânhamo. Elaborado á base de cânhamo, cal hidráulica e inertes seleccionados, apresentam
excelentes características térmicas e acústicas, permitem a transpiração das paredes, dispõem de grande resistência
ao fogo, não emitem nenhum gás tóxico para o ambiente interior e respondem a grandes solicitações mecânicas, eles
são um exemplo de como técnicas ancestrais foram adaptadas com recurso a investigação científica.
Fonte: www.cannabric.com
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Parte desses métodos construtivos tendeu a desaparecer com a massificação da
construção. Em parte porque limitavam a rapidez da construção e tinham na sua
origem processos de manufactura que eram incompatíveis com a produção industrial,
por outro lado, a génese da arquitectura industrial e moderna adoptou linguagens
distintas das que eram concretizadas pela construção tradicional.
Contudo, com a urgência da crise ambiental com que nos confrontamos, começaram a
encontrar virtudes na sua utilização. A atitude vernacular de habitar apenas com os
recursos do habitat, proporcionou lições valiosas. Hoje em dia muitos materiais
tradicionais estão a ser encarados como possíveis respostas a este nosso habitat
esgotado. E estas respostas têm-se desenvolvido com a recuperação e melhoramento
de numerosas técnicas e tecnologias inspiradas nas materialidades ancestrais de
construir.
Fig.- 36 Blocos de terra compactada, vulgarmente conhecidos por BTC. Resultam da compactação de terra não
vegetal com argamassas pozolânicas (compósitos de cal ou cimento com pozolana), apesar da sua eficiência
ambiental, necessitam de pouca energia incorporada no seu fabrico. São um material adequado para situações de
pequena escala ou de autoconstrução. Fonte: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/7584
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Estas qualidades permitem, com investigação e criatividade, se adapte esses produtos
eficazmente para o mercado da construção. Elas são especialmente notórias que
pelas suas baixas emissões de carbono, quer com a consequente diminuição de
custos motivados pelas cotas de carbono, quer pela capacidade que têm de apelar a
um grupo cada vez maior de consumidores com consciência ecológica que querem
diminuir a sua pegada ecológica, e finalmente, porque, com o desenvolvimento de
processos normativos e de certificação do edificado, as construções que os utilizarem
terão mais facilidade em responder a estas solicitações
Fig.- 37 Isolamentos térmicos em lã. Uma boa alternativa aos tradicionais isolamentos térmicos, com a vatangem de
provir de um recurso renovável, não depender dos hidrocarbonetos e não necessitar de Hidrofluorcarbonetos (Hfc)
como agente expansivo. Os Hfc’s são um potente gás de efeito de estufa.
Fonte: http://www.domus-materiaux.fr/DOSSIER_DAEMWOOL.pdf
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tempo, transformando o carbono atmosférico em carbonato de cálcio devido à reacção
do hidróxido de cálcio presente na argamassa.
Esta reutilização de métodos e materiais tradicionais tem sido caracterizado por duas
estratégias de acção: se por um lado se tem recuperado as tecnologias tradicionais,
como o adobe, a construção em madeira sustentável, as argamassas e ligantes
tradicionais, como a cal aérea e as argamassas de terra com fibras vegetais, a
construção em palha entre outros; por outro lado alguns destes materiais tradicionais
sofreram updates tecnológicos. Encontramos nesta situação o super adobe, os blocos
de terra compactada, as coberturas em terra vegetal, os derivados do bambu entre
muitos outros. Esta actualização tecnológica veio suprir algumas das desvantagens
dos materiais tradicionais, como o risco sísmico, a propensão para incêndios, a
resistência à água, a facilidade de construção e a durabilidade (Studio 2010).
Fig.- 38 Bambu na primeira etapa de processamento. As novas tecnologias revolucionaram a utilização de materiais
tradicionais. Deste modo o bambu passou a ser utilizado como elemento laminado, permitindo a sua utilização como
pavimento, caixilharias e elementos estruturais, em vigas, pilares e paredes portantes. Fonte: www. Lamboo.us
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Um outro factor determinante no ressurgimento destes materiais vernaculares, deve-
se ao facto de eles passarem a estar inseridos em estratégias de mitigação dos efeitos
da crise ambiental. Por esse motivo, para além da tradicional utilização destes
materiais, passaram a existir novas reinterpretações, a investigação dá-nos novos
usos e formas de utilização este recursos.
Fig.- 39 Pavilhão de Portugal, Expo 2010, Xangai, Carlos Couto. A utilização da cortiça como elemento de
revestimento exterior, só se tornou possível devido aos avanços tecnológicos da indústria. Apesar de ter uma
expressão inovadora na nossa tradição arquitectónica, a cortiça, tal como os outros materiais ancestrais, quando
sujeitos a inovações tecnológicas, ainda mantém parte da sua expressividade vernacular. Fonte: Archdaily.com
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2.6 – OS ECO-MATERIAIS RECICLADOS.
Fig.- 40 Muralha Bizantina de Selçuk, Tuquia, Sec. VI. A muralha Bizantina, apresenta o reaproveitamento de
elementos romanos, criando uma textura sui generis neste pano da muralha da cidadela de Selçuk. A tradição de
reaproveitamento de elementos construtivos em desuso ou em ruína foi uma constante durante séculos. Só após a
industrialização é que este hábito se perdeu. Foto: Maria Fremlin
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construção como elementos pouco competitivos na paleta de materiais que utiliza.
Apesar deste grande desprezo com que os materiais resultantes das demolições eram
encarados pela indústria, ainda existia uma tradição residual de reciclagem,
nomeadamente ao nível dos materiais com valor comercial mais elevado, como o
ferro, o alumínio, o cobre e o chumbo.
Hoje em dia essa postura de encarar os desperdícios como uma consequência normal
dos métodos de produção está a desaparecer. Por um lado, devido ao aumento dos
custos de matérias-primas e energia ligados à transformação, armazenagem e
transporte dos materiais utilizados e, por outro lado, devido à exaustão dos recursos
naturais e energéticos. Este aumento de custos de produção leva a que muitos
materiais que não tinham valor económico passem a ser apelativos de um ponto de
vista económico.
Fig.- 41 Parede de Polly-brics, sistema de encaixe translúcido, realizado a partir da reciclagem de garrafas de plástico
(PET), graças ao seu funcionamento, inspirado no Lego, este material permite a sua remontagem múltiplas vezes.
Neste caso, construiu o Pavilhão da Moda para a Taipei International Expo. Um edifício provisório de 130 m.
Fonte: http://inhabitat.com/
Outro factor determinante nesta alteração é a aplicação, cada vez mais intensa, por
partes dos governos do princípio do poluidor e da política dos RRR (Reduzir,
Reutilizar, Reciclar). Deste modo a criação de resíduos tem sido fortemente
penalizada. Para além das desvantagens económicas e operacionais que a
penalização regulamentar impõe, a existência de resíduos é encarada como indicador
do grau de eficiência e competitividade das indústrias e isso tem forte reflexo na sua
capacidade de atrair investidores e clientes. Quando forçosamente existem resíduos
resultantes de um qualquer processo de fabrico, as indústrias começam a estudar
processos de reutilizar e valorizar esses resíduos num produto que possam
comercializar. Basta lembrar que actualmente parte das cinzas das centrais
energéticas a carvão já são utilizadas no fabrico de betão armado, reduzindo
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consideravelmente a utilização de cimento Portland, e tornando a aplicação de betão
armado num processo menos agressivo para o ambiente e mais económico.
Fig.- 42 Sucata de Ferro. Cerca de 80% do aço consumido na construção civil provém da reciclagem de sucata. Esta
taxa de reaproveitamento deste recurso deve-se à eficácia económica do processo. O aço reciclado consome cerca de
20% da energia que a fundição do aço requereria a partir do processamento do minério de ferro. Foto: Filipe Borges de
Macedo
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materiais. Um pavimento de tábuas de Riga com 200 anos, tem uma qualidade
expressiva excepcional, e hoje em dia é impossível encontrar pavimentos novos com
essas características, o que numa recuperação de edifício com história e carácter
pode ser factor de valorização do património, para além do mais, com a utilização
desses produtos estamos a evitar a exploração dos nossos recursos.
Fig.- 43, Atelier, Quito, Equador, Arq. David Moreno. O aproveitamento das madeiras provenientes de demolição traz
as complexidades expressivas do tempo à obra. O contraste entre o novo e o antigo constrói riqueza expressiva. Fonte:
www.archdaily.com
Um segundo grupo de materiais reciclados que tem vindo a crescer no nosso mercado
de materiais de construção são os materiais derivados de resíduos de produtos de
grande consumo. Este conjunto de materiais é resultado da separação e recolha
desses resíduos, que posteriormente são transformados em novos produtos. Esses
materiais resultantes da transformação dos resíduos do papel, das embalagens (Tetra
Pack, PET etc.), dos resíduos da indústria de madeira, de têxteis fora de uso, de
resíduos sobrantes das pedreiras e das indústrias exploradoras, etc., e que hoje em
dia são hoje em dia utilizados como matéria-prima de novos materiais de construção,
originam toda uma recente panóplia de soluções que responde às mais diversas
solicitações da construção.
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Desde materiais de isolamento térmico que diminuem a utilização de produtos
petrolíferos e requerem menos recursos energéticos (papel e têxteis projectados, lã de
vidro vinda da reciclagem do vidro, etc.), a pavimentos técnicos (aproveitamentos da
borracha de pneus para parques infantis, decks e pavimentos sobrelevados derivados
da reciclagem de plásticos, numerosos inertes com as mais diversas origens, etc.),
passando por elementos de mobiliário urbano, blocos de construção, tijolos e painéis
que aproveitam resíduos de madeira e da industria agrícola entre outras numerosas
aplicações. Dentro deste tipo de materiais destacamos os plásticos, pois a sua
versatilidade e capacidade de reaproveitamento é enorme, onde do mobiliário urbano,
às coberturas, à exploração das suas capacidades como elemento portatante,
passando pela sua utilização como película em estruturas geodésicas, ou pelo seu uso
como enquanto inerte. Umas das grandes vantagens dos plásticos reciclados reside
na sua durabilidade. A outra vantagem dos plásticos reciclados deve-se ao facto de
necessitarem de pouca manutenção ao longo da sua vida útil tornando o seu ciclo de
vida muito concorrencial. Veja-se o caso dos decks ou do mobiliário urbano: se forem
realizados em madeiras exóticas, vão contribuir para a destruição de florestas e
habitats tropicais que se encontram muito delapidados e em grande perigo, para além
do mais, estas madeiras necessitam de manutenção, habitualmente realizada através
da utilização de óleos e vernizes, cujos processos de fabrico são fortemente
poluidores. Utilizando decks e mobiliário urbano de plástico reciclado, tem-se um
material que reduz o problema dos resíduos, não destrói floresta tropical, e tem um
ciclo de vida muito eficiente, pois não necessita de manutenção.
Fig.- 44 The Ricyclops, Utrech, Holanda, 2012 Architeten. Aproveitamento de cubas de cozinha provenientes de
demolição para a construção de depósito de aproveitamento de águas pluviais. Fonte: http://www.2012architecten.nl
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mais-valia enorme, pois diminui o nosso grau de desperdício substancialmente e
permite que estes materiais possam ser reutilizados múltiplas vezes sem esgotar as
nossas reservas de recursos naturais.
Existe ainda um terceiro grupo destes materiais reciclados que prima pela
experimentação e pela busca de novas soluções. Este grupo de materiais tem como
principal particularidade o facto de utilizar os resíduos directamente sem nenhuma
transformação industrial. Vamos passar a designá-los com materiais directamente
reciclados. Neste grupo de materiais podemos encontrar algumas das soluções mais
imaginativas e surpreendentes com que os arquitectos e construtores nos têm
brindado. A reutilização de contentores marítimos, a utilização de tubos de cartão, a
construção em papel e utilização de garrafas de plástico são alguns dos modos como
que se tem marcado a procura de aproveitamento para os resíduos que a sociedade
actual produz. Esta reutilização e adaptação, sem a intervenção de processos
industriais de transformação, tem especial relevância, pois na maioria dos casos ela
revela uma grande capacidade de reformulação dos princípios de construção. Estas
construções constituem casos emblemáticos na capacidade de redesenhar um
material conferindo-lhe novos usos e significados expressivos. Mais, com estas
estratégias de reutilização de materiais provenientes directamente de reciclagem, a
obra ganha uma vantagem inédita, a surpresa das coisas novas, pois no seu
reaproveitamento, este materiais ganham materialidades surpreendentes.
Fig.- 45 Platoon Kunsthalle, Seul, Coreia do Sul, 2009 Platoon+ Graft Architects. Passada uma vida útil de 20 anos, os
contentores marítimos normalmente são desactivados. Hoje em dia encontramos cerca de 20 milhoes de contentores
desactivados à espera de uso. Este centro cultural, construído recorrendo a 28 contentores ISO High Cube
devidamente recuperados, demonstra como o desenho arquitectónico consegue trazer novos significados e usos aos
desperdícios da sociedade de consumo. Este é apenas um dos muitos exemplos de arquitectura que recorre a estes
elementos, que constroem arquitecturas de emergência, residências de estudantes, habitações e muitos outros usos
com as mais variadas expressões. http://www.archdaily.com/27386/platoon-kunsthalle-graft-architects/
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2.7 – OS MATERIAIS DE NOVA TECNOLOGIA.
Fig.- 46 Solar Ivy, Smit- Sustainable Design, 2009. A Solar Ivy é um novo modo de produção de energia solar por
através de elementos foto voltaicos. Composto por numerosas células individuais, com os elementos foto voltaicos e
circuitos eléctricos impressos em folhas de Polietileno reciclado, com um baixo custo económico e um impacto
ambiental mínimo. Este material comporta-se de um modo flexível, mimetizando as folhas de uma hera, pode ser
disponibilizado com vários graus de transparência e em várias cores. Tem ainda como vantagem adicional o seu baixo
custo e a possibilidade de se substituir as folhas que se danificam. Expressivamente, este material reage às correntes
de ar, provocando efeitos cinéticos surpreendentes. Fonte: http://solarivy.com/#
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de CO2 por tonelada de cimento, para passar a ser um material com carbono neutro.
Com a vantagem de utilizar cinzas provenientes de centrais energéticas de carvão,
diminuir a quantidade de calcário e simultaneamente tornar um dos materiais
primordiais da construção mundial e que actualmente causa cerca 9% das emissões
de Gases de efeito de Estufa no mundo, num material muito menos agressivo para o
meio ambiente (Calera 2010).
Esta estratégia passa na maior parte dos casos pela alteração de processos de
produção, reduzindo os gastos energético e diminuindo a utilização de matérias-
primas e tornando-os mais eficientes, quer mecânica quer termicamente. Caso
paradigmático destas estratégias são as alvenarias cerâmicas, o vulgar tijolo, existindo
numerosas investigações que tentam melhorar a sua eficiência. Desde a produção e
tijolo utilizando gás natural, menos poluente que os fornos eléctricos, muito
dependentes das centrais térmicas, pois o gás natural emite muito menos gases de
efeitos de estufa (Ceranor 2010), passando pelo redesenho da sua estrutura de modo
a melhorar a sua eficiência térmica e mecânica, até ao fabrico de tijolos utilizando
cinzas provenientes de centrais térmicas, o que aumenta a suas características físicas
e térmicas, sequestrando carbono e evitando as explorações de barro que destoem a
camada superior do solo fértil. (Kayali 2008).
Fig.- 47 Flash Bricks, na foto o Dr. Obada Kayali, da University of New South Wales que desenvolveu este tijolo a
partir das cinzas de carvão das centrais térmicas, tornando um desperdício tóxico das centrais energéticas, num
recurso construtivo. Este tijolo substitui as alvenarias cerâmicas habituais, criando um produto com mais 24% de
resistência mecânica, quando comparado com o tijolo cerâmico, poupando emissões de CO2 e transformando um
resíduo tóxico num material sem emissões tóxicas. Fonte: http://www.unsw.edu.au/research/res/resm/Turning_ash.pdf
Uma outra tendência nos materiais de nova tecnologia provém da nano tecnologia, a
manipulação a nível molecular permite o desenho de produtos de modo inovador. Esta
tecnologia permite o desenho de materiais de acordo com a utilização final que lhe
desejamos dar. O desenho da materialidade adquire assim novo significado, nunca
antes na história da humanidade tivemos tecnologia que nos permitisse criar produtos
tão eficientes. Habitualmente a noção que temos de nano tecnologia não entra no
léxico habitual do fenómeno arquitectónico. Contudo o controle de materiais a nível
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molecular não é coisa nova no âmbito da arquitectura, basta lembrarmo-nos dos vitrais
das catedrais europeias, a diferenciação da cor era controlada pela intensidade da
cozedura do vidro. Esse controle da temperatura permitia que os cristais dos
pigmentos adquirissem a sua cor final, ou seja, o controle de temperatura interagia
com a disposição molecular dos pigmentos e foi um dos primeiros modos de utilizar a
nano tecnologia de um modo consistente. Claro que os artífices medievais não sabiam
o que utilizavam nano tecnologia, mas sabiam executá-la (KQED 2008).
Fig.- 48 Thermeleon. Um novo material de revestimento, desenvolvido pelo MIT, que pode ser aplicado em telhas ou
em vidro, permite controlar os ganhos solares térmicos alterando a sua coloração. Na fotografia temos o exemplo da
telha. No caso do vidro, a baixas temperaturas o material fica transparente, permitindo ganhos térmicos no interior,
tornando-se opalino quando a temperatura aumenta, reflectindo o calor desse modo. Fonte:
http://www.guiadastecnologias.com/index/2009/12/04/telhas-thermeleon-mudam-de-cor-para-regular-a-temperatura-no-
interior-da-casa/
Hoje em dia não é a natureza do divino que interessa à nano tecnologia, mas esta
interessa-se em realizar tintas e vernizes que nos permitam utilizar madeiras sem que
a sua manutenção dependa de produtos tóxicos derivados do petróleo, que têm um
pequeno ciclo de vida. Hoje com a nano tecnologia podemos ter tintas e vernizes
ecológicos, com especificações únicas, e com ciclos de vida mais prolongados
(rubiomonocoat 2010). Interessa também aos materiais que possam alterar as suas
materialidades de acordo com as condições climáticas, por exemplo as tecnologia
Thermeleon, desenvolvida no MIT, que permite a alteração cromática de um gel. Essa
alteração caracteriza-se pelo facto de a altas temperaturas exteriores a cor do material
ser branca, consequentemente reduzindo a sua capacidade de acumular calor,
quando a situação se inverte, e as temperaturas exteriores ficam frias, o material
passa a cor negra, acumulando energia e calor (MADMEC, et al. 2009), estando
vocacionada para ser aplicada em coberturas, nomeadamente em telhas, ou em
vidros, regulando trocas térmicas que os envidraçados efectuam com o interior das
construções.
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As nano tecnologias têm como grande virtude uma outra característica, a partir do
momento em que podemos manipular as moléculas para criar materiais, podemos
estudar os materiais naturais e observar o modo como eles respondem às diversas
solicitações. Olhemos para o osso humano, a sua largura e geometria não são
uniformes, onde é necessária mais rigidez o osso é mais espesso, onde a flexibilidade
é precisa, o cálcio organiza-se de outro modo. Qualquer estrutura ou material natural
responde a especificações exactas, nunca desperdiçando recursos ou energia. Com a
nano tecnologia e atitudes de desenho bio miméticas, podemos tentar replicar essa
eficiência para materiais e estruturas desenhadas pelo homem. Estas linhas de
investigação prometem materiais revolucionários, materiais que vão alterar o desenho
arquitectónico das coisas.
Fig.- 49 PORO, Arq. Miguel Veríssimo. Estudo de material bio mimético, utilizando nano tecnologia, de modo a
comportar-se como a pele humana, reagindo às necessidades energéticas da edificação. Poderá vir a ser utilizado na
câmara-de-ar dos vidros duplos ou como revestimento. Fonte: http://www.revarqa.com/uploads/docs/dossier/78-79-
Dossier.pdf
Esta tendência de ir procurar respostas nas soluções que a natureza gera na sua
infinita criatividade, tem permitido a abertura de múltiplas linhas de investigação, não
só no desenvolvimento de novas materialidades, mas também na procura de novas
soluções arquitectónicas. As possibilidades que estas estratégias abrem já estão a ser
exploradas pelos arquitectos: podemos referir as investigações do Arq. Miguel
Veríssimo (Premio BES Inovação 2007) que procura desenvolver uma parede
inspirada na pele humana, PORO (Verrissimo 2010), onde os poros serão substituídos
por células reguladoras de ventilação e de ganhos solares. Outros arquitectos levam o
desenvolvimento destas noções ao nível dos próprios conceitos da matéria,
procurando atingir novos paradigmas arquitectónicos, como a arquitecta Nery Oxman,
que explora a hiper-modernidade do fenómeno arquitectónico, criando novos
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materiais, que resultam da adaptação do desenho de materiais naturais ao nível do
seu desenho estrutural. (Oxman, http://www.materialecology.com/ 2010).
Fig.- 50 Monocoque, Arq.Neri Oxman. Bio mimetismo. O principio na esquerda, o osso humano, e o protótipo na
direita. O osso humano distribui a sua densidade e flexibilidade à medida das solicitações, Neri Oxman propõe replicar
a mesma performance utilizando dois materiais distintos, a negro o material rígido e a branco o material flexível. Esta
Arquitecta lidera projectos de investigação para a criação de materiais de nova tecnologia, socorrendo-se de algoritmos
e tecnologias de ponta. Através destas investigações procura uma hiper-modernidade que replique a sofisticação com
que natureza responde às mais diversas solicitações. Fonte: http://www.materialecology.com/
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2.8 – OS MATERIAIS BIO-CONSTRUIDOS.
Uma das facetas mais interessantes que tem surgido nas últimas décadas da
arquitectura mundial tem a ver com a utilização de elementos biológicos na
construção. A presença de elemento naturais na construção de edifícios tem vindo a
aumentar progressivamente.
Fig.- 51 Ford Rouge Centre, Dearborn, Michigan, William McDonough, 1998. Projecto de reconversão da Ford Motor
Company, onde, por proposta do Arq, William McDonough, a cobertura do principal edifício fabril, foi ajardinada com
plantas autóctones. Para além dos enormes ganhos económicos decorrentes das poupanças energéticas, verificaram-
se ganhos consideráveis na qualidade do ar e das aguas pluviais e culminando essa experiência, verificou-se que a
cobertura passou a ser utilizada por numerosas espécies para nidificação. Aqui temos um ninho de ave que nidificou,
apenas 5 dias após a conclusão da obra. Fonte: www.mcdonoughpartners.com
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Existe ainda um valor intrínseco à utilização destes elementos biológicos no exterior
dos edifícios, e esse valor reside no facto que estas estratégias estarem a devolver
espaço à natureza. Estas coberturas ajardinadas e as fachadas verdes criam
condições para nelas habitarem insectos, aves e outros pequenos animais, criando
assim circunstâncias para a natureza florescer em ambientes, que sem estas
estratégias, nada mais seriam do que espaços estéreis de vida.
Fig.- 52 La Caixa, Madrid, Herzog de Meuron, 2007. A utilização de elementos bio-construídos, neste caso um jardim
fachada, para além de aumentar as capacidades bioclimáticas do imóvel, e acrescentar biomassa às zonas urbanas,
contribui significativamente para expressividade deste projecto. Os contrastes entre o aço Corten, a alvenaria de tijolo e
a fachada verde alteram a lógica habitual do objecto arquitectónico. Fonte: www.swissmade-architecture.com
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e a Erva do diabo (Epipremnum Aureum)) (Meattle 2009) e mantendo a qualidade do
ar interior com os mesmos parâmetros exigidos nas nações desenvolvidas.
Fig.- 53 Institut for Forest na Nature Research, Wageningen, Holanda, Günther Behnisch, 1998. A utilização de
elementos vegetais no interior do edifício contribui para melhorar significativamente a qualidade do ar, o que, aliado ao
grande pátio central arquitectónico, contribui para optimizar a performance bio climática do projecto.
Fonte: www. www.behnisch.com
A bio-construção tem em si um paradigma novo, ao longo dos séculos cada vez que o
ser humano urbanizava uma zona, esta deixava de albergar habitats naturais. Hoje em
dia, com a utilização de elementos bio construídos, sejam coberturas ou fachadas,
podemos começar a devolver à natureza espaços que lhe eram interditos. Deste modo
com e através destas técnicas podemos contribuir para uma regeneração dos habitats.
Basta lembrarmo-nos que a vida está assente no ciclo do carbono. Cada ser vivo, ou
habitat funcional é um reservatório de carbono. A implementação de sistemas que
multipliquem a proliferação de seres vivos retira carbono da atmosfera e contribui para
a sustentabilidade trazendo uma nova expressividade no fenómeno arquitectónico, e
essa nova expressividade é o retorno da natureza à coisa construída.
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3- DESENVOLVIMENTO
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3.1- A EXPRESSIVIDADE
Fig.- 54- Material sustentável por excelência, o bambu, quando cultivado em floresta sustentável, constitui um material
com inúmeras possibilidades, do pavimento, à estrutura, passando pelo mobiliário. Traz-nos uma multiplicidade de
expressividades fabulosas. Aqui empregue como estrutura de uma escola, mostra como os sistemas tradicionais
podem ter um update com a introdução de elementos industriais ou de nova tecnologia. Foto: Boris Zeisser
Aqui, nesta dissertação, e porque falamos de materiais que nos vão permitir construir
um futuro melhor, corrigindo erros passados, queremos mostrar como eles podem dar
origem a projectos inovadores. Queremos atingir esse propósito mostrando como uma
consciência ética do projecto aporta novas significâncias ao edificado, como a
utilização destes materiais vai alterar linguagens, por vezes repescando significâncias
do passado, outras vezes construindo significâncias futuras.
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O relacionamento entre os materiais e a arquitectura não se confina às condicionantes
físicas que estes impõem aos limites da construção. Mais significativamente, os
materiais condicionam e moldam a expressividade da forma arquitectónica. A
utilização de eco-materiais e de uma arquitectura bioclimática enriquecem o projecto,
pois permitem que a construção complemente e melhore o habitat. Simultaneamente
os eco-materiais conseguem responder aos mesmos desafios que os materiais
habituais da construção concretizam. É desígnio de uma postura ética responsável
construir de um modo a não esgotar ou destruir o habitat.
Fig.- 55- Centro Cultural Tjibaou, Renzo Piano, 1998. Neste projecto Renzo Piano materializa uma homenagem à
cultura Karnak da Nova Guiné, reinterpretando a construção tradicional, adicionando-lhe a eficiência tecnológica e
energética que o caracteriza. Este projecto reinventa a atmosfera da comunidade que pretende celebrar. O projecto,
com sua a utilização dos materiais tradicionais, enaltece a significância do modo de vida sustentável característico da
cultura Karnak. A atmosfera, tal como Zumthor a descreve, está enfatizada pela harmonia entre o construído e a
natureza circundante. Foto: Archenova
Peter Zumthor define muito bem essa essência quase intangível do fenómeno
arquitectónico. Ele estabelece um nexo entre a qualidade da obra arquitectónica e a
sua capacidade se relacionar com o utente, transmitindo significados por via da
atmosfera que cria. Este conceito quase etéreo, a atmosfera de uma obra, é resultado
da nossa percepção intuitiva do espaço. Esta percepção está intrinsecamente
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relacionada com o instinto emocional embutido na nossa formatação genética. Foi
através desse instinto que nos relacionámos intuitivamente com a natureza, e é esse
instinto que nos leva a ter uma empatia com um local ou espaço que acabamos de
percepcionar. Segundo Zumthor, é também a qualidade da atmosfera para qual o
espaço nos remete, que constitui factor qualificador do mesmo.
Fig.- 56- Termas de Vals, Peter Zumthor, 1996. O fenómeno arquitectónico ganha consistência estética e espiritual
quando existe uma coerência entre a matéria e os conceitos. Neste caso o projecto utiliza a pedra de uma pedreira das
proximidades, e reinventa o modo como ela era tradicionalmente utilizada. A ligação do conceito à realidade do sítio,
constrói uma atmosfera significante e ecologicamente correcta. Foto: Pablo Echávarri
Através deste discurso Zumthor consegue enunciar uma série de qualidades, que no
seu todo, definem a sua visão do fenómeno arquitectónico. Esta visão está muito
ligada a uma visão poética e introspectiva do mundo, que não dispensa a sedução.
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fenómenos não sensoriais” (Arnhein 1954). Refere ainda Arnhein que “as nossas
sensações não são dispositivos de registo autónomo, operando para si próprias. Elas
foram desenvolvidas como um auxiliar para reagir ao meio, e o organismo está
interessado prioritariamente em forças activas circundantes, seu lugar, sua força, sua
direcção. Hostilidade e amabilidade são atributos das forças. E a percepção dos
impactos das forças conduz ao que chamamos de expressão.” (Arnhein 1954).
A expressão das coisas é um elemento crucial na nossa relação com o meio físico que
nos rodeia. Esta capacidade humana de complementar a informação que os nossos
órgãos sensoriais nos transmitem do entorno, adicionando-lhe significados
expressivos, é um processo primordial da nossa conceptualização do meio. A
capacidade de nos seduzirmos, de nos repugnarmos, de sentirmos o sagrado, ou o
sublime no entorno onde vivemos, resultam da nossa aptidão de percepcionarmos a
expressividade e com ela formularmos emoções, que fazem parte da nossa
formatação biológica enquanto espécie, e é esta capacidade que nos torna a única
espécie produtora e consumidora do fenómeno artístico.
Fig.- 57- Loblolly House, Chesapeake Bay, Maryland Kieran Timberlake, 2007. Casa pré fabricada, a integração do
projecto encontra inspiração na floresta que circunda a baía de Chesapeake, A utilização de madeira mimetiza o ritmo
vertical da floresta, esta simbiose de ritmos transmite uma vontade de integração e respeito pela natureza. A
contemporaneidade convive e inspira-se no meio, ganhando expressividades telúricas e proporcionando um ambiente
crítico à artificialidade da cidade consumista. Fonte: http://kierantimberlake.com
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de felicidade, que Zumthor enaltece, criam um enquadramento físico reconfortante por
onde o percurso da vida possa decorrer de modo mais harmonioso.
Esta visão, de valorizar esses elementos significantes, essas relações íntimas que
Zumthor estabelece da experiência do objecto arquitectónico, encontra-se
profundamente dissociada da fruição imediata que a artificialidade da sociedade de
consumo apregoa. A lógica deste discurso remete-nos para uma fruição e concepção
do objecto arquitectónico ligada a significados intemporais. Estes significados
intemporais que se enaltecem neste discurso, não pretendem renunciar a uma
contemporaneidade. A contemporaneidade que aqui se apregoa é consequência de
uma reflexão mais profunda. Ela é resposta à massificação que a sociedade de
consumo impõe. Em suma, Zumthor retoma a individualização das emoções como
resposta à massificação.
Fig.- 58- Plastic House, Tokio, Kenso Kuma, 2005. A paleta que os eco-materiais nos fornecem é enorme, isso permite
desenvolver numerosas e diversas respostas na sua utilização. Neste caso Kenso Kuma constrói um ensombramento e
recobre a cobertura com granulado de plástico reciclado. O plástico reciclado é um dos muitos eco-materiais que temos
ao nosso dispor. Fonte: http://www.kkaa.co.jp
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arquitectura individualizada nas suas respostas, significante para o utilizador e para a
praxis, respeitadora do homem e do mundo e que transmita a expressividade das suas
matérias.
Iremos seleccionar obras que utilizem eco-materiais e que cumpram esse desejo de
sustentabilidade, demonstrando a eficiência expressiva da utilização de eco-materiais.
Obviamente, a selecção será realizada de acordo com a significância da obra. Esta
significância está estruturada em dois pressupostos de igual importância. Em primeiro
lugar temos que todas as obras seleccionadas são obras sustentáveis onde a
utilização dos eco-materiais marca profundamente a sua concretização. O segundo
pressuposto, é que estas obras apresentem, na medida da sua especificidade e
salvaguardando a individualidade do autor, espaços enquadráveis na leitura que
fazemos da reflexão de Zumthor. Deste modo iremos tentar encontrar características
próprias na materialidade dos eco-materiais, características essas que os notabilizem
na sua expressividade e demonstrando que a sua utilização pode trazer significados
enriquecedores ao projecto.
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3.2- O CORPO DA ARQUITECTURA
Fig.- 59- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer, 2006. A construção é a necessidade de
complementar o meio, criando cultura e reforçando os laços da comunidade. As necessidades em países e
comunidades necessitadas implicam muitas vezes um esforço comum na construção. Aqui a comunidade constrói uma
escola contemporânea, utilizando tecnologias ancestrais: a roda de bois mistura a terra e a palha para as paredes de
taipa. Fonte: http:// http://www.anna-heringer.com
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arquitectura, por sua vez, está adaptado a essas vicissitudes que são a satisfação das
necessidades individuais dos cidadãos e da sociedade. A construção reflecte e
conceptualiza esse entorno social e civilizacional. Se uma sociedade reflecte
insatisfação e entra num processo de crise, o corpo da arquitectura reflecte essas
idiossincrasias e procura dar novas respostas a esse habitat insatisfatório.
Fig.- 60- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer, 2006. O resultado final, apresenta uma
linguagem de fusão, se por um lado temos valores da arquitectura tradicional, por outro lado, a contemporaneidade
acrescenta-lhe um carácter distinto. A harmonia do conjunto resulta dessa fusão, acrescida por dois factores
qualitativos, a sustentabilidade da construção e o esforço colectivo da comunidade em erguê-la. Fonte: http://
http://www.anna-heringer.com
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mais um elemento de transformação que, em conjunto com os esforços que as outras
áreas de conhecimento e da sociedade estão a realizar, procurará atingir um novo
modo de alcançar uma sustentabilidade perdida.
Do mesmo modo que o nosso corpo procura responder aos problemas com que se
confronta, o projecto arquitectónico será tanto mais válido quanto melhores respostas
concretizar na edificação. Não se limitando a responder quantitativamente aos
problemas, mas qualificando as suas respostas com significados prementes. A
resposta arquitectónica à crise ambiental, não se pode resumir ao desenho
bioclimático eficiente, nem à utilização inteligente dos eco-materiais. Ela deverá incluir
também uma reflexão sobre os modos de vida e sobre a sua importância na felicidade
das pessoas.
No centro desta procura pela felicidade das gentes, o corpo da arquitectura, deverá
adicionar significados qualitativos à coisa construída. A responsabilidade social, a
reflexão humanista sobre as respostas arquitectónicas, o respeito pelo ambiente,
natural e edificado, a poupança de recursos e a significância poética do edificado,
devem consubstanciar a qualidade da resposta desenhada pelo arquitecto. O corpo da
arquitectura é o resultado equilibrado destas premissas, pois só assim se atinge o
equilíbrio delicado entre o artifício e a natureza, sendo que a edificação deve ser
complemento da natureza. A edificação como substituição artificial da natureza é um
erro que não devemos repetir.
Fig.- 61- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer, 2006. O objecto arquitectónico torna-se corpo,
corpo da arquitectura, fundação da sociedade, preparando o seu futuro e garantindo a sua sustentabilidade. A
materialidade da construção personifica todas essas intenções, elevando a expressividade da obra e construindo uma
poesia concreta e significante.
Fonte: http:// http://www.anna-heringer.com
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3.3- A CONSONÂNCIA DOS MATERIAIS
“Existe uma proximidade crítica entre os materiais que depende dos próprios materiais
e do seu peso. Ao conciliar materiais numa obra existe um ponto em que estão
demasiado próximos, e outro ainda em que estão mortos.” (Zumthor, Atmosferas
2006).
A consonância dos materiais é o equilíbrio delicado das partes que constroem a forma
do objecto arquitectónico. A materialidade consubstancia a expressão da forma
equilibrando as tensões, complementando a composição, formatando o tacto e o sentir
da edificação que construímos.
Fig.- 62- Hamadera House, Sakai, Japão, Coo Planing, 2010. Numa zona de enormes riscos sísmicos, uma casa
integralmente construída em contraplacado, contudo, apesar da espartana escolha de materiais, todo o espaço da
habitação está qualificado, criando uma atmosfera que reinterpreta a tradição nipónica de um modo contemporâneo.
Fonte: http://www.floornature.com
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complexa. São coisa ainda mais complexa pois para além da sua física, da sua
biologia, são os recursos que permitiram ao Homem criar civilização. É com essas
matérias e materiais que complementamos o nosso habitat, criamos os nossos
abrigos, albergamos as nossas actividades, e é também com elas, que construímos o
palco das nossas vidas.
Fig.- 63- The Trufle, Costa da Morte, Galiza, Espanha, 2010. Abrigo Inspirado no Cabanon de Le Coubusier, utilizando
um programa similar, desta feita explorando os limites expressivos do betão, na sua construção foram utilizados fardos
de palha que serviram de alimento a um vitelo durante um ano. Esta atitude exploratória, a utilização de fardos de
palha como cofragem e o seu consumo pelo vitelo, procurou explorar a capacidade expressiva do betão, atingindo
assim a matéria construtiva uma expressividade única, fortemente realçada pelos delicados contraste entre a textura do
betão, os tecidos e o pavimento em cortiça, Fonte: http://www.archdaily.com
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determinado pela medição desses parâmetros, levando à substituição de elementos
do projecto por outros ecologicamente mais eficientes, descorando os outros
significados do projecto.
Fig.- 64- Rauch House, Schlins, Austria, Boltshauser Architekten, 2008. Paredes estruturais em taipa aparente,
degraus de betão pré fabricados, guarda em aço e mosaicos hidráulicos no pavimento, delicadamente equilibrados
para atingir a atmosfera imaginada para a casa. Fonte: http://www.architonic.com
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impactos ecológicos e o conforto dos seus utilizadores e as outras solicitações do
projecto, concretizando uma reflexão que permita ao arquitecto conceptualizar um
conceito coerente que una a obra.
Esta não é uma postura de retorno ao passado, esta terá de ser uma postura de
reequilíbrio entre a vida imposta pela sociedade de consumo e a nossa vontade de
reconstruir um novo equilíbrio.
Fig.- 65- Casas na Areia, Comporta, Portugal, Aires Mateus, 2010. A consonância dos materiais apela a um conceito
diferente de vida, apela a um retorno ao ritmo dos ciclos natureza. Parte da sedução que este tipo de atmosferas cria
reside na insatisfação e no estado de ansiedade generalizado que a sociedade de consumo pós-industrial provoca.
Fonte: http://www.dezeen.com
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3.4- O SOM DO ESPAÇO
O espaço e o som que nele se propaga estão intimamente ligados, do som que a
matéria reflecte, ao modo como ele ressoa, passando pelas sonoridades, ou ruído,
que chega da envolvente, som e espaço condicionam-se mutuamente. Está na
natureza dos espaços que a sua caracterização sonora altere o modo como
interagimos e nos percepcionamos com ele. O contrário também é verdade, a
caracterização do espaço altera a natureza dos sons.
Fig.- 66- Great Bamboo Wall, Bejing, Kenso Kuma, 2002. A serenidade é coisa construída de maneira delicada e
complexa. Três pavimentos, duas pedras, uma polida a outra amaciada, e um pavimento em bambu, uma cortina,
também em bambo, a complexidade de sons emitidos e absorvidos pelas diferentes matérias constroem complexa
serenidade de um local de contemplação. Fonte: http://www.kkaa.co.jp
A percepção humana do som é outra componente essencial nesta relação íntima entre
som e espaço. A audição é um sentido humano crucial para a percepção espacial do
meio. Não é por acaso que a nossa audição é estereofónica, pois graças aos nossos
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dois ouvidos conseguimos identificar no espaço a origem do som. Esta configuração
biológica torna a audição no sentido mais importante de percepção espacial a seguir à
visão. Podemos então começar a compreender a importância do fenómeno acústico
nas questões do espaço.
Por norma, estas questões são colocadas em três níveis de solicitações no projecto. O
primeiro nível é a questão do conforto acústico do edificado, controlando o nível de
isolamento, ou interacção acústica dos espaços interiores face à envolvente. A
segunda questão que se coloca é a adequação do nível de reverberação do espaço,
sendo que cada espaço, de acordo com as funções e as actividades nele exercidas,
deverá ter o nível adequado de reverberação, sendo esta controlada em conjunto pela
sua geometria e pelo mix de materiais, absorventes e reflectores de som, que
constroem o espaço. A terceira preocupação que deverá ponderar o projecto
relaciona-se com o som produzido pelos materiais aplicados, sendo que os materiais
não produzem som directamente, mas a actividade exercida pelos utentes sobre os
mesmos, produz som. Contudo estas são questões técnicas a que o projecto
arquitectónico deverá responder.
Fig.- 67- Restaurante Yellow Tree House, Workworth, Nova Zelândia, Pacific Environment Architects, 2008. Situado
num parque natural, este restaurante inspirado nos casulos de insectos, agarra-se às arvores, mimetizando um
processo natural. A sua integração na natureza é complementada pela sua abertura aos sons da floresta. Apenas
deste modo a sua atmosfera fica completa, do mesmo modo que o som da natureza percorre a floresta, ele atravessa a
madeira que constrói o espaço onde nos encontramos. Fonte http://www.contemporist.com
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Fig.- 68-
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se o som não
este tipo de espaços a existência de
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o que nos ajuda a deste
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e espaço Fonte:: http://www.shig
gerubanarchiteccts.com
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edificcação.
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3.5- A TEMPERATURA DO ESPAÇO
Fig.- 69- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia, 2009. A materialidade da cultura reflecte as
condicionantes bioclimáticas, as transparências permitem a ventilação. Uma textura expressiva reforçada por uma
riqueza matérica, sombra e ventilação são parte da cultura local, aqui acentuadas pela herança da cultura islâmica de
Bali. Fonte: http://www.archdaily.com/59740/alila-villas-uluwatu-woha/
Esse tipo de solicitações não aparecem de modo anónimo no projecto, a sua resposta
implica um conhecimento profundo do sítio e do clima onde se desenvolverá a
construção. A consubstanciação deste conhecimento garante ao projecto uma
harmonia profunda com as condicionantes climáticas do sítio, consequentemente a
eficácia de resposta do projecto aumenta. A procura desta eficácia não implica só um
refinado desenho do projecto, encontrando o equilíbrio entre as solicitações
programáticas do projecto e as necessidades de respostas bioclimáticas, conjugando
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ganhos solares com ensombramento, ou equilibrando as necessidades de
aproveitamento, ou protecção, de ventos dominantes. Implica igualmente a escolha de
materiais que se adeqúem às inércias térmicas desejadas.
Fig.- 70- Maison à Marrakech, Marrocos, Guilhem Eustache, 2008. Num clima desértico, uma casa construída em
taipa, pavimento em tijoleira artesanal e a visão da piscina no seguimento da sala. A temperatura refresca-se pela
materialidade da construção, tal não é apenas fenómeno físico, é também fenómeno perceptivo. É a materialidade da
obra constrói essa temperatura psicológica que nos conforta. Fonte: http://www.amush.org
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ambas as utilizações, revela-se uma vontade de complementar a realidade ambiental,
em climas quentes cores frias, em climas frios cores quentes. Esta prática não traduz
apenas um meio de adquirir ganhos ambientais, no calor do deserto as cores frias
reflectem as radiações solares, permitindo que as superfícies expostas fiquem mais
frescas, o contrário acontecem nos países nórdico, onde as cores quentes acumulam
as radiações e aquecem as superfícies. Esta prática ganha eficácia adicional, pois a
nossa percepção psicológica da cor, permite-nos um maior conforto face aos climas
extremos.
Fig.- 71- Igreja de Kärsmäki, Finlândia, Lassila Hirvilammi, 2005. O calor da madeira não é apenas táctil, a sua cor e a
sua textura são fortemente percepcionados pelo ser humano como algo reconfortante e quente. O espaço desta igreja
reflecte essa realidade, o calor não é apenas físico. Fonte: http://www.architonic.com
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diferente dos outros materiais. Os materiais de modo genérico são instrumentos de
consubstanciação do projecto. A expressividade da temperatura do projecto é uma
questão transversal à materialidade, eco materialidade, ou materialidade de modo
genérico.
Fig.- 72- Dragspelhuset, Lago Ovre Gla, Suécia, 24h Architecture, 2001. Num clima nórdico, onde os longos invernos
marcam a vida das pessoas e dos edifícios, existe uma necessidade real de exacerbar a temperatura dos espaços.
Neste caso de um modo surpreendente, somos aconchegados por peles a revestir a nossa envolvente. Fonte:
http://www.inhabitat.com
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3.6- AS COISAS QUE ME RODEIAM.
“Esta ideia, de que entrarão necessariamente coisas num edifício que eu como
arquitecto concebo, mas nas quais não penso, dá-me de certa forma uma visão futura
dos meus edifícios. Este facto faz-me bem, ajuda-me muito imaginar este futuro dos
espaços, das casas, de como serão uma vez utilizadas ” (Zumthor, Atmosferas 2006).
Fig.- 73- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia, 2009. A utilização de materiais locais, guiados
por um desenho inteligente, constrói texturas que complementam os ritmos da floresta tropical de Bali. Um resort , tal
como qualquer edificação, deve complementar o meio que o rodeia. Fonte: http://www.archdaily.com/59740/alila-villas-
uluwatu-woha/
Quando a obra ganha autonomia e vida própria segue o seu percurso. Este percurso é
marcado pelos diferentes utilizadores e usos que se seguem ao longo da sua vida.
Cada um dos seus utilizadores vai caracterizar a obra à sua imagem, adaptando-a e
dando-lhe uma vida que transcende a criação original. Quando a construção tem um
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fim demasiado rígido com um formulação que não permite adaptações, essa
construção está destinada à demolição, Assim se passou com numerosos templos,
cuja liturgia não permitiu adaptações a novos credos religiosos, o mesmo se passará
com construções cujos programas são de tal modo rígidos que não permitem outro
uso.
Fig.- 74- Vista de Nova Iorque, 2010. Num edifício anónimo da grande metrópole, os seus habitantes marcam uma
posição, querem contribuir para salvar o planeta, A capacidade do clássico prédio nova-iorquino em se adaptar aos
seus habitantes, é notável. Nem sempre tal acontece nos edifícios com grande individualidade. Fonte:
http://www.inhabitat.com
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dos espaços serem profundamente marcados pelo carácter dos seus habitantes, que
Zumthor considera que os espaços por ele desenhados devem ter flexibilidade de
abraçar.
Esta questão de adequar o projecto aos seus tempos, e em simultâneo, garantir uma
certa aura de intemporalidade é problema significativo no uso expressivo com que
utilizamos a expressividade dos materiais na composição arquitectónica. Uma dose
necessária de expressividade é fundamental para afirmar a qualidade da obra,
contudo o seu excesso pode ditar-lhe uma curta vida.
Fig.- 75- Casa Manifesto, Curacavi, Chile, James & Mau for Infiniski, 2009. Apesar de integralmente construída com
elementos reciclados, contentores, paletes usadas, etc., esta habitação não dispensa um desenho forte, que apesar
disso, permite aos seus habitantes personalizar o espaço à medida das suas individualidades. Fonte:
http://www.archdaily.com
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sustentabilidade, quer em termos de expressividade, por outro lado a enfatização
excessiva das suas expressividades pode ser contraproducente, pois pode datar as
obras e comprometer o seu uso prolongado.
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3.7- Entre serenidade e sedução
“É também o que tento fazer nos meus edifícios. De forma que eu goste e que vocês
gostem, e sobretudo, que corresponda à utilização do edifício. Conduzir, preparar,
iniciar, alegre surpresa, descontracção, mas sempre de forma que, já nada tem de
didáctico, mas sim de parecer natural ” (Zumthor, Atmosferas 2006).
Fig.- 76- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia, 2009. Serenidade e sedução, um equilíbrio
delicado, entre a vontade de sugerir um percurso e um convite para ficar, cada espaço deverá construir o seu carácter,
aqui fica-se, observando o que nos espera no exterior. Fonte: http://www.archdaily.com/59740/alila-villas-uluwatu-woha/
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Essas expressividades motivam no utilizador dos espaços diversas emoções que
complementam a sua percepção da realidade tridimensional do espaço. A percepção
destas emoções permite ao utilizador apreender o carácter do espaço, seja ele um
sereno espaço de estar, ou uma circulação vibrante, ou a introspecção de um local de
culto. São as expressividades da resposta arquitectónica que permitem clarificar o
sentido de orientação do espaço, caracterizando os espaços de acordo com as
funções e o conceito, anunciando acontecimentos, conjugando as realidades
exteriores com as necessidades do programa.
Fig.- 77- Capela em Tarnow, Polónia, Beton Architekt, 2009. Cada espaço deve adquirir a sua atmosfera de acordo
com a função. Neste caso um conhecido escritor polaco decidiu financiar uma capela na sua propriedade para os seus
vizinhos. Construída com madeira local e executada pela população. A atmosfera de recolhimento e introspecção é
reforçada pelo desenho da estrutura da capela e pelo modo como dialoga com a paisagem. Fonte:
http://www.archdaily.com
É esta relação psicológica, que permite aos edifícios dialogarem com o homem,
transmitindo os seus conceitos e, quando a obra se destaca, propagar a poesia com
que a edificação nos pode brindar. Quando Zumthor nos alicia a utilizar essas
capacidades expressivas dos espaços, de modo a proporcionar as diferentes emoções
que complementam a resposta funcional do projecto, ele apela a que essas respostas
surjam com naturalidade.
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na materialidade da construção e na ligação ao sítio. As matérias utilizadas na
construção, de forte carácter tectónico, aliando as tradições locais a uma profunda
reflexão da vida contemporânea, que concretizam o apelo a uma nova vontade de ver
o mundo, mais humana, mais ligada ao sitio e aos rituais naturais, menos consumista
e mais poética.
Tal como na poesia escrita, são os sentimentos de acolher, esperar, correr, ansiar,
amar, sugerir, descansar, compartilhar, solidão, comunhão, reflexão entre outros que
nos permitem construir uma narrativa poética. No caso da obra, essa narrativa poética
é concretizada através da implantação, da orientação, do desenho e hierarquização
dos espaços, das significâncias culturais, do sítio, que nos permitem, como
arquitectos, transmitir os conceitos da obra, na esperança de criar espaços onde a
vida possa florescer em felicidade. Sempre na esperança, desse modo podermos
contribuir para um mundo onde um homem melhor possa crescer e ser feliz.
“Belief in the significance of architecture is premised on the notion that we are, for
better or for worse, different people in different places- and on the conviction that is
architecture’s task to render vivid to us who we might ideally be” (Botton 2006)
Fig.- 78- Bamboo House, Osaka, Japão, Katsuhiro Miyamoto, 2009. Por entre o ritmo vertical do bambo que marca o
espaço da habitação, aparece um vislumbre da rua, a luz atravessa a verticalidade do bambo, a escada realça a
horizontalidade dos seus degraus. A serenidade preenche a atmosfera interior, contudo a sedução do exterior e do
resto da habitação são serenamente anunciadas. Fonte: http://www.archdaily.com
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3.8- TENSÃO ENTRE O INTERIOR E O EXTERIOR
O gesto de retirar um pedaço do globo terrestre e com ele construir uma nova
realidade inexistente, é uma analogia poderosa e assertiva. A poesia da analogia,
reflecte uma profunda reflexão acerca do acto de construir e essa analogia
corresponde a uma realidade inquestionável. Construir implica sempre retirar algo
matérico de algum lugar, utilizando essa matéria para edificar. Esse aparentemente
gesto simples de retirar, transformar e construir é coisa complexa. Em primeiro lugar,
para construir retiramos sempre algo, extraímos e destruímos uma realidade natural,
seja uma montanha para retirarmos a sua pedra, seja uma floresta onde abatemos as
suas árvores, ou uma praia de onde extraímos a sua areia, enfim, quer seja para
materiais de construção, quer para recursos energéticos, existe sempre uma
destruição do meio natural. A destruição continua para além da extracção dos
recursos, o sítio onde construímos, provavelmente um campo, floresta, sapal, estuário,
etc., deixa de ser um local naturalmente produtivo, e transforma-se num sítio onde a
natureza tem dificuldade em persistir.
Fig.- 79- Plasticamente, Riccardo Giovaneti, 2009. Discos e pratos em plástico reciclado, constroem uma cúpula quase
fechada. Contudo as transparências que restam entre os elementos, criam uma tensão que convida ao usufruto do
espaço. Fonte: http://www.contemporist.com
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Quando Zumthor apela a uma sensibilidade incrível para o lugar, está a dar-nos pistas
sobre a sua importância. Sobre a importância de construir respeitando e colaborando
com a terra, procurando que a construção seja um complemento da natureza. Zumthor
faz esse apelo maximizando a importância arquitectónica das tensões entre o interior e
o exterior do construído. Tensões essas que alargam o limite do projecto. Tensões que
poética e simbolicamente, representam a interacção que o edificado tem com o meio.
O exterior e o interior do construído são partes complementares de uma mesma
realidade, a essa realidade podemos referir o ecossistema onde a espécie humana
vive e floresce.
Fig.- 80- Centro médico, Khartoum, TAMassociati, 2009. Centro médico para refugiados, paradigma de inserção e
respeito pelo local, pois apesar de ter sido construído reaproveitando contentores marítimos, consegue reinventar o
sítio, adoptando materiais locais no ensombramento. Parte da reconstrução do sítio resulta da forte ambiguidade entre
o seu espaço interior e a adjacência. A estrutura de ensombramento reforça essa ambiguidade e complementa essa
diluição de fronteiras. Fonte: http://www.tamassociati.org
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Terá de existir na procura destes momentos uma reflexão e conhecimento profundo do
meio onde edificamos, principalmente a um nível bioclimático, pois sem esse
conhecimento a interacção torna-se inútil. Expor uma varanda aos ventos dominantes
num clima frio, torna-se num desperdício inútil, pois a sua fruição não é possível. O
mesmo acontece com um grande envidraçado voltado ao sol num clima desértico. A
eficácia destes momentos está profundamente interligada no meio e na relação que a
obra estabelece com ele.
A sua poesia está ligada a dois factores, em primeiro lugar são momentos de convite e
prolongamento do espaço, convidam-nos a perceber o interior e apropriam-se do
exterior, dependendo da nossa posição relativa face objecto arquitectónico. Em
segundo lugar, ao compreenderem o habitat, estas situações criam na coisa
arquitectónica uma magia, a coisa arquitectónica passa comportar-se como um
elemento natural, em vez de estar construída no sítio, como um objecto indiferenciado,
ela nasce da terra, passando a ganhar características expressivas que a ligam ao
meio, pois a ele está intimamente ligada. A coisa arquitectónica passa a crescer da
terra e colabora com ela do mesmo modo que uma arvore cresce adequando-se ao
local preciso onde nasce, vivendo do que a terra lhe dá e alimentando o solo.
Fig.- 81- Casas na Areia, Comporta. Portugal, Aires Mateus, 2010. Construir colaborando com a terra, a poesia da
sugestão convida a entrar e reforça o desejo de uma nova harmonia. O projecto procura sempre coisa delicada que
nos faça sonhar com um futuro melhor. Fonte: http://www.dezeen.com
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3.9- DEGRAUS DA INTIMIDADE
A intimidade, essa relação entre o nosso corpo e a obra, é factor primordial no modo
como nos relacionamos com o edificado. Essa intimidade, ou relação corporal entre
nós e a massa do edificado, constitui igualmente um dos modos principais como os
conceitos do edificado se percepcionam. A escala do edificado e dos seus espaços é
um dos factores primordiais de qualificação do edificado. É esta gradação da
intimidade que vai marcar o modo como o edifício se apresenta face ao utilizador.
Fig.- 82- Abrigo de montanha, Kamounamoto, Japão, Sou Fujimoto, 2008. A escala mínima do abrigo potencia a
construção de uma atmosfera protectora e única. A utilização de madeira compacta como módulo construtivo cria o
aconchego que nos retempera depois de uma longa caminhada. O seu uso excessivo cria expressividades únicas,
relacionando-se com a floresta envolvente e dispensando o mobiliário. A aparente brutalidade do módulo construtivo é
dissolvida pelo desenho delicado da obra. Fonte: http://www.archdaily.com
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É a capacidade do edificado se relacionar com o ser humano, através da escala, e do
modo como se ela se adapta e respeita o homem, que marca a diferença de atitude
política entre ambas as obras. Na ditadura nazi o cidadão é diminuído na sua posição,
ele é transformado num servidor/admirador do estado. Na democracia da Alemanha
Federal dos anos 70, a obra está ao serviço do cidadão.
Nos dias que correm, onde a crise ambiental e a escassez de recursos marcam o
nosso dia-a-dia, as questões de escala continuam prementes, tal como na sua
associação a ideais políticos, a escala também reflecte as condicionantes da nossa
sociedade. As catedrais do consumo, os centros comerciais, talvez os edifícios mais
representativos desta era de excessos, utilizam a escala de um modo muito particular.
Misto de templo e de arquitectura institucional, com disfarces de playground, o homem
e natureza são subjugados pela escala do edifício. Os múltiplos pés direitos com as
suas varandas sobrepostas remetem-nos para a imagética das naves centrais de uma
catedral gótica. As suas fachadas imponentes com entradas fortemente marcadas
podem ser comparadas à enormidade da arquitectura estalinista. Nestes templos o
homem é separado da natureza e da cidade. Os ciclos naturais são cortados na nossa
permanência no seu interior para prolongar os impulsos consumistas.
Fig.- 83- Instalação, Victoria & Abert Museum, Londres, Rintala Eggertsson Architects, 2010. Nesta instalação, Rintala
Eggertsson, desenha uma biblioteca controlando a sua escala e adequando-a à magnificência do espaço disponível,
sobressai a obra pelo desenho requintado. Fonte: http://www.archdaily.com
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destinam a impressionar o visitante ocasional. Esta utilização da escala na construção
é reflexo dos excessos da sociedade de consumo.
Fig.- 84- Apartamento transformável, Hong Kong, Gary Chang, 2009. Com a densidade populacional de Hong Kong, o
espaço torna-se em bem valioso, neste apartamento de 40m2, e graças a um imaginativo sistema de paredes móveis,
a divisão única vai-se transformando de acordo com as diferentes necessidades. Esta condensação de funções e de
espaço não pôs em causa qualidade da habitação, nem a qualidade de vida do habitante. Os espaços estão
qualificados sem esbanjamento de recursos. Fonte: http://www.nytimes.com
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3.10- A luz sobre as coisas.
“Uma das ideias é a seguinte: pensar o edifício como uma massa de sombras e a
seguir, como num processo de escavação, colocar luzes e deixar a luminosidade
infiltrar-se. (…). A segunda ideia preferida é colocar os materiais e superfícies,
propositadamente, à luz e observar como reflectem. É necessário, portanto, escolher
os materiais tendo presente o modo como reflectem a luz e afiná-los ” (Zumthor,
Atmosferas 2006).
A luz é responsável em última análise por toda a matéria, é das estrelas e das
constelações que toda a matéria provém. Quando os textos sagrados dizem, “fez-se
luz”, dizem-no num sentido metafórico, no sentido do inicio dos tempos e da vida, mas
o nosso actual conhecimento científico constata que na realidade existe um relação
indesmentível entre luz e matéria. A luz provém dos actos cósmicos e nucleares que
são responsáveis pela criação da matéria e da energia. É o seu reflexo ténue, que
depois de uma viagem intemporal, nos permite situarmo-nos no cosmos. A vida em
termos genéricos é indissociável da luz, a maioria da vida à face da terra assenta no
ciclo do carbono, e este ciclo está dependente da existência de luz solar.
Fig.- 85- Mapungubwe visitors Centre, Africa do Sul, Peter Rich, 2008. Esta estrutura de ensombramento, cria com a
sua sombra ritmos surpreendentes realçados pela irregularidade das matérias vernaculares que usa. A sombra
percorre os pavimentos e as paredes de taipa, com ritmos e texturas únicos a cada hora do dia. A textura rica da taipa
e a irregularidade da madeira potenciam expressões únicas que constroem uma poesia mutante, filha do ciclo natural
da luz e da textura das coisas da terra. Fonte: http://www.peterricharchitects.co.za
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determinando os ciclos da vida e da reprodução. É a sua reflexão na Lua que nos
mostra as suas fases.
A luz é coisa primordial, pois é ela que corre sobre toda a coisa construída, corre
sobre toda a coisa não construída, corre igualmente sobre a maior parte da coisa viva.
É ela que marca a sombra e que se reflecte em tudo, permitindo-nos construir uma
imagem da realidade. Na coisa arquitectónica, é a luz que nos realça a expressividade
da sua forma. Não o faz directamente, mas realiza-o pela sua ausência, é pela sombra
que a forma arquitectónica ganha os seus maiores momentos de expressividade.
É essa ausência de luz, a sombra, que determina algumas das diferenças entre as
arquitecturas das nações meridionais e as arquitecturas dos países mais próximos do
dos círculos polares. Basta um pequeno relevo, seja um friso ou uma cornija, para que
com o sol do Mediterrâneo se expresse uma sombra dramática na fachada. Tal não se
passa nos países nórdicos, onde por seu lado a uma cor forte e quente realça a luz
suave dos países sem sombra. A luz dramatiza também a matéria, quer reflectindo-se
nas superfícies espelhadas, quer dando espessura às matérias de textura vincada, ou
então mostrando a manualidade de um reboco ancestral.
Fig.- 86- Rauch House, Schlins, Austria, Boltshauser Architekten, 2008. Ao longo do dia as texturas, o brilho, a luz e as
sombras vão metamorfosear -se, revelando toda a sua riqueza expressiva. Fonte: http://www.architonic.com
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volumes, planos e espaços, vive da expressividade da matéria. Essa expressividade,
na sua textura, brilho ou forma construtiva ganha diferentes consistências ao longo do
percurso da luz. Seja ela a luz solar, ou os nossos substitutos artificiais.
Com a ligação intrínseca que existe entre a luz e a expressão da matéria a obra ganha
inúmeros significados diferentes consoante a viagem que a luz realiza sobre a coisa
construída. Textura, sombra, brilho, reflexo, penumbra e contraste variam minuto a
minuto durante o dia, variam pela posição solar, variam pelas variantes atmosféricas,
pela estação do ano e variam pela utilização que fazemos da luz artificial. A obra
ganha vida com essas interacções luminosas, as expressividades constroem emoções
diversas que fazem da vivencia arquitectónica coisa complexa. A obra relaciona-se
com a natureza de modo inequívoco, passa a ser parte de realidade superior, a
realidade da luz que comanda o cosmos.
Fig.- 87- Nk’Mip Desert Cultural Centre, Osoyoos, Canada, HBBH Architecs, 2006. A diferença entre a iluminação
natural e a luz artificial marca a entrada neste centro cultural. A primeira flui naturalmente, marcando a entrada,
contudo, e sem perca de luz, o carácter da iluminação artificial, com a sua luz quente e os seus focos mais limitados,
anunciam a entrada no espaço museológico. Fonte: http://www.archdaily.com
Os eco-materiais não são distintos dos restantes materiais, contudo a sua relação de
respeito pela sacralidade da coisa natural, dá-lhes especial significado. Com eles, o
sentido de construir colaborando com a Terra ganha um significado concreto. Com
eles, a materialidade da construção concretiza o desígnio de complementar e melhorar
o meio existente.
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expressividade construída, ganham uma expressividade diferenciada. A sua intrínseca
ligação à intemporalidade matérica da natureza, com suas texturas ainda próximas da
sua criação natural, reforça esse carácter, pois essas texturas vão expressar-se como
os elementos da natureza na sua relação com a luz que os ilumina.
Outro grupo de materiais que ganha expressividades únicas na sua relação com a
luminosidade, são alguns dos materiais de nova tecnologia, uma parede que se
comporte como um ser vivo, adaptando-se á realidade existente, alterando a sua
forma ou cor de acordo com a luz que recebe e precisa, vais sem dúvida reforçar esse
lado de ligação e aceitação da realidade natural como parte fundamental da nossa
vida.
Dado imutável na criação arquitectónica continuará a ser a realidade que as obras por
nós concebidas só ganharão todo o seu sentido quando devidamente iluminadas. É
essa luz que permite que o edificado dialogue com o homem, contando-lhe a sua
história e transmitindo-lhe as suas emoções e a sua poesia. É através da luz que a
obra nos permite, enquanto autores, consubstanciar a nossa vontade de mostrar que
podemos construir essa nova realidade que conceptualizamos para um Homem
melhor e mais feliz.
Fig.- 88- I’m lost in Paris, Paris, França, R&S(ien), 2008. Luz e natureza, entidades inseparáveis, aqui na reformulação
de um laboratório, equipamento de artificialidade intrínseca à nossa era tecnológica, o colectivo de arquitectos
R&S(ien) desenvolve a natureza, equilibrando a artificialidade do sitio, banhando-o com uma luz coada pela vegetação.
A atmosfera criada equilibra então natureza e artificialidade, quase como metáfora do que pretendemos como para o
nosso futuro. Fonte: http://www.archdaily.com
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4- CONCLUSÃO
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4.1- DA EXPRESSIVIDADE.
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da expressividade visual e da textura de tais materiais não se distinguir dos originais, a
sua utilização é elemento significante. Essa significância é atingida porque na
conceptualização da obra, a importância de projectar tendo em mente um futuro
melhor foi considerada, e isso é factor de enriquecimento da complexidade e
expressividade do projecto e da obra.
Esta classe de materiais tem uma expressividade peculiar, pois a sua proximidade
com o meio, enfatiza sua ligação ao habitat onde se inserem. Esta relação de
adjacência com o habitat envolvente, aliada a uma eficiência espartana na utilização
de recursos naturais, fornece às obras construídas com os eco-materiais vernaculares,
uma característica única, elas constroem-se colaborando com a terra.
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descobrimos imaginativas soluções construtivas. Sendo que estas adquirem um
carácter totalmente novo, pois a sua utilização é recente a sua utilização
arquitectónica, e as soluções encontradas proporcionam a surpresa das coisas quase
novas. Digo quase novas pois desde meados do Sec XX numerosos artistas plásticos
já exploravam este tipo de expressividade.
Com a utilização destes novos materiais, que devido à sua capacidade de adaptação
às necessidades, minimizam a utilização de recursos e de energia, atinge-se níveis de
expressividade singulares. Por um lado, e em simultâneo, eles afirmam a sua
sofisticação tecnológica, materializando o engenho do ser humano em resolver os
problemas e inovar, por outro lado, pela sua eficiência e respeito pelo ambiente, eles
afirmam a vontade de construir um futuro melhor.
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106
Esta característica altera o paradigma da construção, pois por norma cada vez que
edificávamos, retirávamos espaço ao entorno natural ou agrícola. E essa alteração de
modelo, é per sí, uma expressão grandiloquente, profundamente revolucionária no
modo como encaramos o fenómeno arquitectónico, sendo uma das respostas mais
expressivas e significantes que o campo dos eco-materiais nos apresenta.
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4.2- DA SUSTENTABILIDADE.
Para atingir estes objectivos, o projecto deve incorporar novas metodologias, ele deve
medir e contabilizar todos os seus custos, utilizando análises do ciclo de vida, apostar
na utilização de produtos certificados quer na construção, quer na manutenção do
edificado, quer do seu desmembramento quando o seu ciclo de vida terminar. Isto
implica que o arquitecto, e as equipas pluridisciplinares que integram o projecto,
devem aferir, medir e comparar as diversas opções que tomam para atingirem as
soluções mais sustentáveis, pois de outro modo as intenções podem não passar disso
mesmo. Devem começar a preparar o futuro pois parte destas medidas começarão a
ser implementadas progressivamente por via legislativa.
Deve acima de tudo o arquitecto encarar estas questões como parte integrante da
razão de ser da sua profissão, pois será sempre essência da arquitectura resolver
problemas do habitar, logo na equação inicial do problema que qualquer projecto
constitui, a sustentabilidade é problema maior dos nossos tempos.
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Dadas as necessidades de construção a nível mundial, motivadas pelo exponencial
aumento populacional do planeta e consequente acréscimo das pressões urbanas, as
edificações que projectarmos irão em boa parte determinar o futuro do nosso planeta.
Uma postura como tem sido a de boa parte dos arquitectos, baseada num sistema
onde as afirmações de individualismo criativo sem preocupações de sustentabilidade
alicerçam os role models da profissão, constitui claramente um sintoma da doença que
urge combater. Urge combater, pois essa situação constitui um reflexo doentio de uma
sociedade de consumo imediato, onde a satisfação imediata se sobrepõem a
considerações de ordem mais substancial. Sociedade essa, que em ultima analise é a
responsável pela vertiginosa insustentabilidade em que vivemos.
Contudo, passadas poucas décadas, e num mundo que vivia o tempo de modo mais
vagaroso, a resposta da arquitectura foi fulgurante, modificando o mundo que
conhecíamos. Esta resposta alicerçada no irromper do movimento moderno, absorveu
as conquistas que as engenharias haviam desenvolvido, aglutinando-as numa reflexão
humanista que ultrapassou a mera conquista técnica.
Tal como nos finais do Sec XIX, hoje espera-se da arquitectura uma resposta
semelhante, que construa uma resposta humanista para este difícil desafio. Esta
resposta terá, como habitualmente, de se alicerçar, por um lado no desenvolvimento
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científico e tecnológico a que se assiste, e por outro lado complementando-o com o
seu desígnio criativo por excelência, sendo esse motivado pela necessidade de
conceptualizar a visão de um futuro melhor e mais feliz nos projectos que elaboramos.
Verificamos que a adopção, quer por via voluntária, quer por via legislativa, dessas
condicionantes de projecto, não interferirá na capacidade do fenómeno arquitectónico
nos continuar surpreender com obras inovadoras de elevada qualidade.
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4.3- DOS LIMITES DA INVESTIGAÇÃO.
A parte mais complexa e de maior dificuldade nesta investigação foi a parte relativa às
questões da expressividade do fenómeno arquitectónico, pois a produção cientifica é
escassa, o que nos obrigou a construir o nosso discurso baseando-nos em poucas
fontes. Encontrámos que esta questão, profundamente relacionada com as questões
das linguagens arquitectónicas deveria merecer um maior aprofundamento, pois das
expressividades da coisa, nascem as emoções com que nos relacionamos em
primeira instância com o meio que nos circunda, quer seja ele o meio natural, ou o
edificado.
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4.4- DOS DESENVOLVIMENTOS FUTUROS.
Esta resposta está a ser dada de modo cada vez mais consistente, cada vez mais os
arquitectos desenvolvem o seu labor com essa intenção. E este fenómeno corre todos
os continentes, e atravessa arquitectos com as mais variadas formações. Nas obras
que seleccionámos para esta investigação podemos aferir isso mesmo.
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sustenaiable architecture. White Star Publishers, 2009.
Vidiella, Alex sanches. Grenn Living, Sustaineble houses. Antuerpia: Booqs, 2009.
F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O
117
.
F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O
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DECLARAÇÃO
F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O
119
ANEXOS:
F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O
120
Nota
Neste anexo estão reunidas as 50 obras que reúnem as seguintes condições:
Utilizam eco-materiais.
Cumprem critérios latos de sustentabilidade.
Contém uma qualidade arquitectónica relevante.
No decurso desta investigação foram visionadas centenas de obras de produção
recente, construídas após 2000, sendo estas as obras que encontramos com maior
relevância, tal não impede que não possam existir outras obras com igual ou maior
relevância.
A-1
Ficha de Obra: 1
Autor: Obra: Localização: Ano:
Shigeru Ban & Frei Otto Pavilhão do Japão Hanover, Alemanha 2000
Expo 2000
Breve descrição:
Obra icónica de Shigeru Ban & Frei Otto para a Expo de Hanover, caracterizada pela sua cobertura,
misto de copula geodésica e de cobertura tênsil, representa apropriadamente a capacidade do
engenho humano em encontrar novas e surpreendentes soluções.
Fotografias:
Ficha de Obra: 2
Autor: Obra: Localização: Ano:
Nicholas Lacey & Partners Container city Londres, Reino Unido 2001
Breve descrição:
Primeiro dos projectos da Container city, construídos reciclando contentores marítimos, propõem
soluções rápidas e económicas de habitação, escritórios e turismo. (05 das matérias utilizadas são de
origem sustentável e a eficiência energética é admirável.
Fotografias:
A-2
Fic
cha de Obrra: 3
Auttor: Obra: Localiza
ação: Ano:
Gulia
ani Mauri Tree Ca
athedral Bergamo, Itália 2001-?
?
Bre
eve descriç
ção:
Cateedral bio consstruída, peça de
d Land Art, onde
o o paradigma da consttrução é inverrtido, fazer cre
escer
coisa
a viva e mutávvel como méto odo construtivvo.
Fotografias:
Fic
cha de Obrra: 4
Auttor: Obra: Localiza
ação: Ano:
24h--Architecture Dragspe
elhuset Lago Ovre
e Gla, Suécia 2001
Bre
eve descriç
ção:
Interrpretação radical do desen
nho biomiméttico, uma cab
bana integralm
mente constru
uída em mateeriais
suste entáveis, inspirada no de
esenho de casulo.
c Tem a particularid
dade de serr uma constrrução
expaansível, no invverno assume
e o seu taman
nho menor, no
o verão, sem necessidadess de aquecim
mento,
cresce sobre um ribeiro
r
Fotografias:
A-3
Ficha de Obra: 5
Autor: Obra: Localização: Ano:
Kenso Kuma Plastic House Meguro-ku, Tokyo , Japão 2002
Breve descrição:
Moradia construída com utilização intensiva de plásticos reciclados, das caixilharias, passando por
revestimentos de fachadas, até ao ensombramento.
Fotografias:
Ficha de Obra: 6
Autor: Obra: Localização: Ano:
Kenso Kuma Great bamboo Wall Bejing, China 2002
Breve descrição:
Moradia para hóspedes do corpo diplomático, construída com bambu de floresta sustentável, estrutura
parcial em aço reciclado (perfis soldados) e com utilização intensa de materiais locais.
Fotografias:
A-4
Ficha de Obra: 7
Autor: Obra: Localização: Ano:
Atelier kempe Thil Pavilhão da Holanda Rostock, Alemanha 2003
Breve descrição:
Pavilhão da Holanda na International Garden Exhibition IGA 2003 explora a integração de elementos
vegetais no projecto arquitectónico.
Fotografias:
Ficha de Obra: 8
Autor: Obra: Localização: Ano:
Lassila Hirvilammi Igreja Kärsmäki, Finlândia 2004
Breve descrição:
Igreja edificada no mesmo local onde em 1841 tinha existido o local de culto da comunidade, tendo
sido construída utilizando técnicas construtivas do Sec. XIX na Finlândia. É notável a expressividade
que as diferentes técnicas utilizadas dão á madeira.
Fotografias:
A-5
Ficha de Obra: 09
Autor: Obra: Localização: Ano:
Donovan Hill, Architects F2 House Fingal, Austrália 2006
Breve descrição:
Moradia multifamiliar com forro exterior e caixilharias em madeira de floresta sustentável, estrutura
parcial em madeira de floresta sustentável e reutilização de materiais locais.
Fotografias:
Ficha de Obra: 10
Autor: Obra: Localização: Ano:
Kieran Timberlake Loblolly House Chesapeake Bay, 2006
Maryland, EUA
Breve descrição:
Casa de férias, com fundação em madeira de pinho, estrutura superior em alumínio reciclado, madeira
de floresta sustentável, casa auto-suficiente energeticamente, uma das obras paradigmáticas da
arquitectura sustentável nos E.U.A.
Fotografias:
A-6
Ficha de Obra: 11
Autor: Obra: Localização: Ano:
Anna Heringer Meti School Rodrapur, Bangladesh 2006
Breve descrição:
Parede em taipa, estrutura em bambu, tecidos e tapeçaria local, tintas artesanais, A escola foi
construída pela população local., premio de arquitectura Fundação Aga Khan 2007
Fotografias:
Ficha de Obra: 12
Autor: Obra: Localização: Ano:
Shigeru Ban Papertainer Seoul, Korea do Sul 2006
Museum
Breve descrição:
Nesta obra, como é característico no trabalho de Shigeru Ban, a edificação é sustentável pois é esse o
desígnio do arquitecto, Tubos de papel e contentores constroem, a genialidade do autor, faz o resto.
Fotografias:
A-7
Ficha de Obra: 13
Autor: Obra: Localização: Ano:
HBBH Architects Centro Cultural do Osoyoos, Canada 2006
Deserto Mk’Mip.
Breve descrição:
Este centro cultural do deserto Mk’Mip procura preservar a herança dos povos nativos, A utilização
extensiva de muros em taipa, confere uma enorme capacidade de integração, quer na paisagem, quer
pelo respeito pelas tradições que pretende preservar.
Fotografias:
Ficha de Obra: 14
Autor: Obra: Localização: Ano:
2012 Architechten The Recyclops Amsterdam, Utrecht, 2007
Vlaardinger, Holanda
Breve descrição:
Reaproveitamento de cubas de cozinha provenientes de demolição para instalações temporárias de
arte pública, depósito de aproveitamento de águas pluviais e apoios em parque público.
Fotografias:
A-8
Ficha de Obra: 15
Autor: Obra: Localização: Ano:
IwamotoScott Architecture Voussoir Cloud Los Angeles, EUA 2008
Breve descrição:
Estrutura portante em madeira laminada ultra leve, de origem certificada, explora as potencialidades de
uma construção leve, tecnologicamente avançada.
Fotografias:
Ficha de Obra: 16
Autor: Obra: Localização: Ano:
E.B. Min, J. L.Day Architects Lake Okoboji House Lake Okoboji, Iowa,, EUA 2008
Breve descrição:
Moradia unifamiliar utilizando de madeiras em forros (OSB) e pavimento de floresta sustentável,
estrutura em betão com incorporação de 30 % de cinzas de centrais térmicas de carvão.
Fotografias:
A-9
Ficha de Obra: 17
Autor: Obra: Localização: Ano:
Peter Rich Mapungubwe Mapungubwe, 2008
Interpretation Centre Africa do Sul
Breve descrição:
Totalmente construído com materiais sustentáveis, taipa, adobe e madeira
Holcim Award for Sustainable Construction
Prémio World Building of the Year 2009. Durante o World Architectural Festival de Barcelona
Fotografias:
Ficha de Obra: 18
Autor: Obra: Localização: Ano:
Peter Rich Mapungubwe visitors Mapungubwe, 2008
Centre Africa do Sul
Breve descrição:
Totalmente construído com materiais sustentáveis e técnicas tradicionais, taipa e madeira
Fotografias:
A-10
Ficha de Obra: 19
Autor: Obra: Localização: Ano:
Architects C-Laboratory Chen House Sanjhih, Taiwan 2008
Breve descrição:
Casa de apoio para trabalhadores agrícolas, construída em madeira sustentável.
Fotografias:
Ficha de Obra: 20
Autor: Obra: Localização: Ano:
Sou Fujimoto Abrigo de montanha Kamunamoto, Japão 2008
Breve descrição:
Abrigo de apoio para caminhantes, construído em madeira de proveniência certificada.
Fotografias:
A-11
Ficha de Obra: 21
Autor: Obra: Localização: Ano:
Pacific Environment Architects Yellow Tree House Workworth, 2008
Restaurante Nova Zelândia
Breve descrição:
Restaurante de inspiração biomimética, construído numa sequóia secular, utiliza madeira laminada em
toda a sua construção.
Fotografias:
Ficha de Obra: 22
Autor: Obra: Localização: Ano:
Plano B Casa Arruda dos Arruda dos Vinhos 2008
vinhos Portugal
Breve descrição:
Casa unifamiliar integralmente construída estrutura de madeira, paredes exterior em taipa, com
isolamento de cortiça, paredes interiores em tabique, rebocos de cal aérea, aproveitamento de
resíduos de construção, Apesar do recurso a tecnologias tradicionais, a linguagem é claramente
contemporânea.
Fotografias:
A-12
Ficha de Obra: 23
Autor: Obra: Localização: Ano:
Guilhem Eustache Casa em Marakesh Marrakesh, Marrocos 2008
Breve descrição:
Casa unifamiliar integralmente construída em taipa, com isolamento de cortiça, paredes interiores em
tabique, rebocos de cal aérea, tijoleiras artesanais, Mais uma vez o recurso a tecnologias tradicionais
permite linguagens contemporâneas.
Fotografias:
Ficha de Obra: 24
Autor: Obra: Localização: Ano:
Boltshauser Architekten Rauch House Schlins,Austria, 2008
Breve descrição:
Casa construída em taipa aparente, quer no exterior, quer no interior, procurando explorar toda a sua
expressividade, obra notável pela atmosfera criada.
Fotografias:
A-13
Ficha de Obra: 25
Autor: Obra: Localização: Ano:
R&S(ien) I’m lost in Paris Paris, França 2008
Breve descrição:
Reformulação de laboratório num saguão de Paris, O colectivo R&S(ien) devolve a natureza a esse
ícone do nosso desenvolvimento civilizacional, o laboratório.
Fotografias:
Ficha de Obra: 26
Autor: Obra: Localização: Ano:
Skene Catling, de La Peña, The Dairy House Somerset, Reino Unido 2009
Architects
Breve descrição:
Acrescento a casa existente, utilizando madeira de floresta sustentável não tratada e reaproveitamento
de resíduos de construção.
Fotografias:
A-14
Ficha de Obra: 27
Autor: Obra: Localização: Ano:
Make Architecs Casa Gary Neville Bolton, Reino Unido 2009
Breve descrição:
Baseado em estruturas megalíticas da vizinhança, este projecto constrói uma casa enterrada, onde
para além dos materiais locais e da eficiência energética, se constroem espaço qualificados
homenageando o património local.
Fotografias:
Ficha de Obra: 28
Autor: Obra: Localização: Ano:
Passivhaus Bessancourt, França 2009
KARAWITZ , Architects
Breve descrição:
Moradia unifamiliar em madeira de floresta sustentável, Bambu floresta sustentável para
ensombramento exterior, estrutura em madeira laminada, casa com saldo energético positivo.
Fotografias:
A-15
Ficha de Obra: 29
Autor: Obra: Localização: Ano:
TAMassociati, achitecture Centro médico Soba, Khartoum, Sudão 2009
Breve descrição:
Centro médico de apoio a refugiados, construído com contentores marítimos e materiais locais.
Fotografias:
Ficha de Obra: 30
Autor: Obra: Localização: Ano:
Coo Planing Hamadera House Sakai, Japão 2010
Breve descrição:
Casa unifamiliar integralmente construída com contraplacado de madeira, incluído estrutura,
revestimentos exteriores e interiores, pavimentos e mobiliário
Fotografias:
A-16
Ficha de Obra: 31
Autor: Obra: Localização: Ano:
Daniel Moreno, Arquitecto Atelier Quito, Equador 2009
Breve descrição:
Recuperação económica de espaço utilizando resíduos de demolições, tais como varões de aço, e
madeira usada.
Fotografias:
Ficha de Obra: 32
Autor: Obra: Localização: Ano:
James & Mau for Infiniski Casa Manifesto Curacavi, Chile 2009
Breve descrição:
Casa unifamiliar notável, integralmente construída com contentores, paletes usadas e outros elementos
reciclados, edificada em 90 dias, é prova que economia de construção, sustentabilidade e qualidade
arquitectónica são possíveis e desejáveis.
Fotografias:
A-17
Ficha de Obra: 33
Autor: Obra: Localização: Ano:
Murman Arktitekter Restaurant Tusen Ramundberget , Suécia 2009
Breve descrição:
Construído com troncos da floresta circundante, adopta a forma de um cone seccionado,.
Fotografias:
Ficha de Obra: 34
Autor: Obra: Localização: Ano:
Woha Architects Alila Villas Uluwatu Bali, Indonésia 2009
Breve descrição:
Resort com forro exterior e caixilharias em madeira de floresta sustentável, estrutura parcial em
madeira de floresta sustentável, reutilização de materiais locais.
Fotografias:
A-18
Ficha de Obra: 35
Autor: Obra: Localização: Ano:
Riccardo Giovaneti Plasticamente Varias 2009
Paviion
Breve descrição:
Estrutura portátil para promoção de filme da Disney, totalmente realizada com elementos de plástico
reciclado.
Fotografias:
Ficha de Obra: 36
Autor: Obra: Localização: Ano:
Pieta-Linda Auttila Wisa Hotel Helsínquia, Finlândia 2009
Breve descrição:
Projecto de Design Hotel integralmente construído em madeira, explorando a tradição Escandinávia da
madeira laminada. Trabalho de grande virtuosismo, que tira partido de um modo surpreendente da
possibilidades construtivas madeira laminada.
Fotografias:
A-19
Ficha de Obra: 37
Autor: Obra: Localização: Ano:
Ateliereen Arcgitecten Viewing Tower Reusel, Holanda 2009
Breve descrição:
Torre de apoio a zona de lazer numa floresta pública, realizada em estrutura de aço, e toros de
madeira de floresta sustentável, serve igualmente como torre de escalada.
Fotografias:
Ficha de Obra: 38
Autor: Obra: Localização: Ano:
Bouman Architects Expansão de centro Delft, Holanda 2009
de dia.
Breve descrição:
Ampliação de centro de dia para idosos, sendo que a ampliação reinventou a utilização do colmo.
Nesta obra ele é empregue como revestimento de paredes, isolando termicamente a ampliação e
tirando partido expressivo da sua singular textura.
Fotografias:
A-20
Ficha de Obra: 39
Autor: Obra: Localização: Ano:
Shigeru Ban Pavilhão Artek Milão, Itália 2009
Breve descrição:
Mais possibilidades expressivas para construir em papel, desta feita sem tubos, apenas com papel e
cartão, Shigeru Ban continuam a explorar os limites da leveza.
Fotografias:
Ficha de Obra: 40
Autor: Obra: Localização: Ano:
Beton Architekt Capela em Tarnow Tarnow, Polónia 2009
Breve descrição:
Neste caso um conhecido escritor polaco decidiu financiar uma capela na sua propriedade, construída
com madeira local e executada pela população. Pelo exterior a madeira não é tratada, apresentando
deste modo um expressivo cinzento.
Fotografias:
A-21
Ficha de Obra: 41
Autor: Obra: Localização: Ano:
Kutsuhiro Miyamoto Gather House Tokio, Japão 2009
Breve descrição:
Reabilitação de casa em madeira, mantendo-se os principais elementos construtivo, a casa foi
reformulada requalificando as fachadas e os interiores utilizando o bambo como elemento principal.
O Arq. procurou explorar os ritmos do bambo e das tensões que provoca na fachada
Fotografias:
Ficha de Obra: 42
Autor: Obra: Localização: Ano:
Gary Chang Apartamento Hong Kong, China 2009
Com 24 divisões
Breve descrição:
Num apartamento de 40m2 e através de um engenhoso sistema de paredes moveis, e moveis
reclináveis, o proprietário consegue todas as comodidades da vida moderna, sem consumir espaço e
recursos.
Fotografias:
A-22
Ficha de Obra: 43
Autor: Obra: Localização: Ano:
Mark Merer Welham Studios Welham, Reino Unido 2009
Breve descrição:
Neste projecto Mark Merer, procura uma simbiose entre o prado que circunda a propriedade e a
construção, para o efeito utiliza uma cobertura verde que asseguram essa continuidade, a utilização de
madeira no revestimento, reforça essa vontade de integração.
Fotografias:
Ficha de Obra: 44
Autor: Obra: Localização: Ano:
Miralles Tagliabue Pavilhão da Espanha Shangai, China 2010
Breve descrição:
Pavilhão da Holanda na Expo 2010, exploração expressiva dos ritmos do trabalho em vime.
Fotografias:
A-23
Ficha de Obra: 45
Autor: Obra: Localização: Ano:
Aires Mateus Casas da Areia Comporta, Portugal 2010
Breve descrição:
Casas de exploração turística em zona protegida, construídas socorrendo-se de técnicas e materiais
tradicionais, A utilização da areia como pavimento das zonas de estar conferem-lhe uma atmosfera
única. A utilização da cana como elemento de construção reforça-lhes a integração com a paisagem.
Fotografias:
Ficha de Obra: 46
Autor: Obra: Localização: Ano:
José Maria Chofre Qualificação de San Vicente del Raspeig , 2010
empena Espanha
Breve descrição:
Uma empenha desolada e inóspita é transformada numa parede com vida. Este tipo de intervenções
devolve a natureza à urbe.
Fotografias:
A-24
Ficha de Obra: 47
Autor: Obra: Localização: Ano:
Ensemble Studio The Trufle Costa da Morte, Galiza 2010
Anton Garcia- Abril Abrigo de montanha Espanha
Breve descrição:
Abrigo inspirado no Cabanon de Le Coubusier, ao nível do seu programa, desta feita explorando as
qualidades expressivas do betão, com adição de 30% cinzas de centrais térmicas, na sua cofragem
foram utilizados fardos de palha que depois serviram de alimento a um vitelo durante um ano.
Fotografias:
Ficha de Obra: 48
Autor: Obra: Localização: Ano:
Rintala Eggertsson Architects Victoria & Abert Londres, Reino Unido 2010
Museum
Breve descrição:
Sobre o tema, arquitectos desenham pequenos espaços, surge uma biblioteca numa escadaria,
brilhantemente integrada no Museu, totalmente construída com madeira sustentável.
Fotografias:
A-25
Ficha de Obra: 49
Autor: Obra: Localização: Ano:
Heatherwick Studio Aberystwyth Creative Aberystwyth , 2010
Units Reino Unido
Breve descrição:
Conjunto de ateliers para industrias criativas, construído em estrutura de madeira, isolamentos térmico
sem CFC, revestido com uma finíssima capa em aço inox enrugado. Este revestimento fora do vulgar
procura reflectir a floresta circundante, criando um expressivo efeito visual.
Fotografias:
Ficha de Obra: 50
Autor: Obra: Localização: Ano:
BCHO Architects Hearth House Seoul, Korea 2010
Breve descrição:
Obra de atmosfera serena, construída com muro de contenção em betão, restantes paredes em taipa,
utilizando madeiras recicladas.
Fotografias:
A-26