Professional Documents
Culture Documents
Como já escrevi em meu artigo "Os Filhos da Natureza estão órfãos e não sabem",
o Culto Omolocô surgiu (década de 40 em diante) como uma resposta, do Tata Ti
Inkice Tancredo da Silva Pinto, a tentativa de alguns umbandistas, em realizar
uma aproximação com o Espiritismo e de afastamento das origens africanas, dos
seus cultos e religiosidade. Para isso, Tancredo radicalizou em um caminho
inverso, ou seja, aproximação com o Candomblé e os Cultos Afro-brasileiros e a
origem africana da Umbanda, organizando o que vulgarmente se denominou de
Umbandomblé, e que eu denomino de processo de Candomblelização da
Umbanda. O Tata Tancredo defendeu, de forma veemente, que essa seria a
Umbanda verdadeira.
Assim, o Culto Omolocô adotou de forma semelhante, mas não idêntica todos os
processos e iniciação do Candomblé, ou pelo menos, se baseou em seus
fundamentos para tal fim. Como uma religião que congrega em suas diversas
nações a herança legítima dos cultos africanos, o Candomblé serviu de
fundamentação para organização de ritos e liturgias do Culto Omolocô. Isso é bem
visível, na forma pelo qual, o Omolocô trata tudo o que se refere a Orixá em seu
culto. Utilizamos as mesmas comidas-de-santo do Candomblé, as mesmas ervas,
fazemos o bori frio, respeitamos o xiré, temos o roncó, realizamos feituras-de-
santo, utilizamo-nos do sacrifício de animais, as vestimentas e armas dos Orixás
são quase idênticas, bolamos com o santo, o fardamento dos filhos-de-santo são
semelhantes, os níveis hierárquicos são equivalentes, os símbolos e objetos
consagrados são os mesmos (ex. o otá, a quartinha, a louça do santo etc.),
cantamos rezas em dialeto, temos saídas de santo e entregamos o deká, entre
tantas coisas em comum.
Com relação ao processo de iniciação as semelhanças continuam, embora, como já
disse, a forma não seja idêntica.Temos então, no processo de iniciação do
Omolocô ou feitura de santo em comparação com o Candomblé e suas nações, a
seguinte tabela-resumo:
ENSINAMENTOS:
A Iniciação somente pode ser através da feitura de santo. O filho-de-santo pode
fazer um Orixá, preferencialmente dois e idealmente quatro, mas para chegar a
condição sacerdotal de Pai/Mãe-de-Santo no Omolocô deve fazer nove Orixás.
O primeiro Orixá ou Santo, como se diz, a ser feito é sempre o principal ou da
frente (se for Orixá masculino é chamado de Pai e se feminino de Mãe).
No caso de dois Orixás serão feitos o principal + um segundo. Nesse caso será um
Orixá masculino, se o principal for Orixá feminino ou feminino, se o Orixá
principal for masculino. Na feitura de quatro Orixás são feitos o principal + o
segundo + outros dois.
Nove são os Orixás cultuados pelo Omolocô (Nanã, Omulu, Ogum, Oxum, Iansã,
Xangô, Oxossi, Yemanjá e Oxalá).
O Orixá da frente ou principal é o Orixá correspondente ao dia da semana, da data
de nascimento do iniciante, segundo o calendário do culto, ele determina o que
você é nessa reencarnação, e é o Orixá que predomina na sua existência atual.
O segundo Orixá é o correspondente direto ao Orixá principal (formam um par),
chamado de Orixá ascendente, ele determina o que você aparenta ser ou sua
imagem. Esse Orixá sempre visa o nosso equilíbrio íntimo e crescimento interno
permanente. É por isso, que preferencialmente, o iniciante deve procurar fazer os
dois primeiros Orixás. É o par que proporciona ou busca o equilíbrio do filho-de-
santo.
No caso da feitura de quatro Orixás a explicação é porque esse número representa
a estabilidade (ex: uma cadeira fica firme no chão porque tem quatro pernas, e
assim por diante), nesta visão, por exemplo, a feitura de três Orixás deixa o filho-
de-santo sem estabilidade.
Já a necessidade de se fazer os nove Orixás, para poder ser sacerdote, parte do
princípio que não se pode fazer o Orixá de alguém sem ter esse Orixá feito.
Os nove Orixás formam o círculo ou coroa do nosso Orí em que cada Orixá possui
uma respectiva casa astral (posicionamento cabalístico no alto da nossa cabeça).
ESTUDO:
A bem da verdade, todos nós possuímos três Orixás principais. Juntos eles
formam um triângulo de forças regentes e predominantes no nosso Orí (cabeça).
Por que um triângulo e não um círculo ou coroa como nos foi ensinado?
O círculo surge no Omolocô, com base nos estudos cabalísticos desenvolvidos pelo
Tata Ti Inkice Tancredo para alicerçar a doutrina do culto.
Nesses brilhantes estudos para a época, o Tata Tancredo buscava através da
numerologia, da cabala dos nomes e dos símbolos formatar todas as teorias do
Omolocô para a origem e genealogia dos Orixás,a origem do universo, e a gênese e
evolução humana e espiritual.
O círculo ou 360 graus (cuja a numerologia 3+6+0=9), foi a base geométrica e
aritmética para construção dessa cabala.
Em termos de Teogonia (Estudo dos Orixás), Cosmogonia (Estudo do Universo) e
do processo evolutivo do espírito essa base circular funciona perfeitamente para
argumentação, já na questão da regência dos Orixás não.
O triângulo é a representação correta para a principal lei que rege todo o processo
evolutivo do nosso Universo. Essa Lei se chama Lei de Manifestação.
Todos nós e tudo o que existe no Universo, surgiu, se mantém e sobrevive graças a
essa Lei.
A Lei de Manifestação é um arcano (mistério) divino que determina, que nesse
nosso universo algo, somente se manifesta ou existe, se houver a ação conjunta de
dois pontos (base do triângulo). Assim a ação de dois pontos gera a manifestação
de um terceiro (ponta do triângulo).
Assim, a regência dos Orixás é triangular e não circular, e não envolve os nove
Orixás.
No caso do Candomblé, se faz, tão somente, o santo principal exatamente por ser
ele a ponta do triângulo ou a resultante da ação da base (adjuntó + cabalístico). Ou
como explica a Doutrina Pitagórica, a manifestação do 1 (Orixá principal) é o 3
(triângulo de forças regentes), onde está contido o 2 (adjuntó + cabalístico). Para o
Candomblé o Orixá Principal, que recebe a ação conjunta dos Orixás adjuntó e
cabalístico (o 2 contido no 3), representa por si só o próprio triângulo
(manifestação do 1 é o 3). Então eles (adjuntó+cabalístico) precisam ser apenas
conhecidos, cultuados e/ou louvados.
Em outras palavras, a feitura do Orixá principal carrega em si a feitura dos outros
dois, sem que seja necessário fazê-los.
Esclarecendo ainda mais, a existência do Orixá principal e sua feitura somente
ocorre, por conta da ação direta do outros dois Orixás regentes, o adjuntó e o
cabalístico estão implícitos (contidos) na manifestação do Orixá principal.
No Omolocô, um passo a frente, já se trabalha o triângulo, pois sempre quando se
faz o par (Orixá Principal + o Adjuntó), o Cabalístico se apresenta ou grita, como
se diz.
ENSINAMENTOS:
É necessário se fazer 7 feituras para cada Orixá afirmado no Orí do iniciado (A
primeira feitura + seis renovações).
O motivo para realização das 7 feituras por Orixá afirmado no Orí, é para que o
ciclo de afirmação de cada Orixá seja completado.
ESTUDOS:
A iniciação no culto Omolocô tem seu seu ponto alto no tarimbamento do Orixá,
no Orí do iniciado. Tarimbar o Santo, como se diz, é marcar o Orí do iniciado com
o signo cabalístico do Orixá, ou seja, é riscar no Orí do iniciado o ponto ou sinal do
Orixá.
Isso é feito com a ponta de um punhal ritualístico. No momento que isso é feito,
pronto, está feito. A marca ritualística fica para sempre, a conjunção de forças ou
energias já estão definitivamente firmadas, pois a sua concretização já ocorreu no
riscado do ponto, representando assim, um pacto sagrado de sangue (lembrar que
o ponto é feito com a ponta de um punhal).
A consagração do Orí do inicado para com seu Orixá, somente faz sentido ser
realizado uma única vez. Depois de imantando, consagrado e harmonizado uma
vez, não é mais necessário se repetir isso.
Se o tarimbamento é uma tatuagem como dizem, onde já se viu ficar renovando
tatuagem, pelo que eu sei uma tatuagem depois de feita, fica como está pelo resto
da vida, tanto que às vezes, nem por cirurgia a laser consegue se apagar.
No caso específico, o tarimbamento é uma concretização de uma harmonização
astral e definitiva para existência do iniciado.
Para que, então, em nome do bom senso, é necessário se fazer isso por mais seis
vezes?
Para que mexer sete vezes na cabeça do iniciado? Tarimbar o Orixá sete vezes?
Se a resposta é pela necessidade de se renovar essa energia, estamos falando de
Axé e Axé é movimentado por diversos meios sem a obrigação de ser
necessariamente, através do tarimbamento e todo o complexo ritual que o
envolve.
Tarimbar o Orixá, mais de uma vez, é realizar uma consagração em cima de outra,
é fazer o mesmo pacto, mais de uma vez. Isso não tem lógica. O que foi
consagrado, já está consagrado, se fizemos um pacto, esse pacto já está feito.
Se você entregou a cabeça para o Orixá uma vez, como dizemos, já entregou, para
que entregar novamente? Para que repetir tudo isso de novo, por mais 6 vezes?
O processo iniciático no Omolocô, tem sim um sentido, os recolhimentos anuais e
as camarinhas, sem a renovação do tarimbamento do Orixá, tem seu objetivo, mas
por outros motivos.
As maiores autoridades do culto, o Tata Ti Inkice Tancredo da Silva Pinto e
N'Ginja Delfina de Oxalá, se manifestaram sobre esse assunto da seguinte forma:
a) O Tata Ti Inkice, no seu livro Tecnologia Ocultista da Umbanda no Brasil, deixa
claro nas pág. 66 e 67, que a quantidade de obrigações para se receber o Deká são
4 anos. Que em cada ano o Ioboré (iniciado) come uma das quatro partes do Obi
(que na feitura de santo é cortado em quatro partes), recebe por ano 3 guias,
completando no final de 4 anos 12 guias, sendo então essas substituída pelo Deká.
Cada ano de obrigação, na cabala do Omolocô, que é baseada nos ciclos lunares de
28 dias, correspondem a sete anos. Assim ao se completar os 4 anos de obrigação o
Ioboré completou o fechamento de 28 anos de ciclos lunares.
Nas palavras do próprio Tata Ti Inkice "Confirmada a última obrigação (4o. ano)
o iniciante receberá em substituição as guias (total de 12), correspondente ao seu
Eledá e ao seu adjuntó, o Deká que é a confirmação de cargo hierárquico dentro
do culto que lhe pertence: daí por diante ele poderá confirmar um Ioboré". Em
outras palavras poderá fazer o santo de outra pessoa independente de qual seja
esse Orixá.
b) A N'Ginja Delfina de Oxalá em resposta a pergunta, "Por que devemos dar
obrigações de sete anos?" nos ensina o seguinte: "Para aprimorarmos os
conhecimentos sacerdotais e responsabilidades, conhecimentos de Erós
(segredos), para adquirir posições superiores dentro da hierarquia a seguir:
1a. Obrigação - Iniciação;
2a. Obrigação - Passa a ser Iaô (Filho-de-Santo);
3a. Obrigação - Livre-arbítrio (a escolha da vocação);
4a. Obrigação - Confirmação da vocação (iniciado tem o direito a receber uma
comenda que representa seus quatro anos de santo);
5a. Obrigação - Especialização dentro do grau adquirido;
6a. Obrigação - Complementos sacerdotais, preparos definitivos e ajustes
necessários mediante ao estudo e análise das condições do iniciado dentro do
Santé. Conhecimento do Deká;
7a. Obrigação - Recebimento do Deká, ficando definida a situação do iniciado
como Sacerdote do Culto.
OBSERVAÇÃO: Poderá montar a sua própria Casa de Santo, passando então a
Babalorixá ou Ialorixá, dependendo do caso, com direito de continuar as suas
obrigações anuais (se quiser)".
Nas palavras do Tata Ti Inkice Tancredo, a maior autoridade no Culto Omolocô do
Brasil, seu organizador e disseminador, vemos com claridade que ele defendia a
feitura de apenas 2 Santos ou Orixás (o principal e o adjuntó ou adjuntor como ele
mesmo chamava), por outro lado pregava apenas quatro, repito, QUATRO anos de
obrigações para o recebimento do Deká.
Já nos ensinamentos da N'Ginja Delfina de Oxalá descobrimos os verdadeiros
objetivos de cada obrigação anual e não renovação, ou seja, para que servem os
recolhimentos e camarinhas anuais.
Em estudos posteriores, sabemos que o Tata Ti Inkice fecha questão, juntamente
com o Tata Opongô Nilton Rocha Santos e a N'Ginja Delfina de Oxalá, sobre a
necessidade de se realizar sete obrigações anuais. O importante, que tanto no caso
do Tata Tancredo ou da N'Ginja Delfina, os recolhimentos e camarinhas anuais,
não significavam sete feituras, com sete tarimbamentos respectivamente, mas
cerimônias ritualísticas, em que o período da camarinha propiciava o aprendizado
nos ensinamentos e erós do culto, servia de aprimoramento para o futuro
sacerdote ou sacerdotisa.
CONCLUSÃO:
a) Não existe a mínima necessidade de sete feituras de santo (a primeira e mais
seis renovações);
b) Existe a necessidade de se ter apenas uma feitura de santo, em que são feitos,
segundo o Tata Ti Inkice, o Orixá principal e o adjuntó.
No item V.1, vimos que idealmente, devem ser feitos o triângulo de Orixás regentes
(Principal + adjuntó + cabalístico) e só;
c) Os recolhimentos anuais, com suas respectivas camarinhas e cerimônias
ritualísticas é um período de aprendizado, em que o dirigente do terreiro ministra
ensinamentos para os diversos iniciados, preparando-os para ocupar cargos na
hierarquia da casa e para os que desejam na sétima obrigação receber o deká.
V.3 - As Obrigações
ENSINAMENTOS:
É necessário, que seguindo o calendário anual de Festas dos Orixás, todos os
iniciados realizem uma matança (sacrifício de animais), no otá do seu respectivo
Orixá, caso tenha feitura do mesmo.
O motivo é que nas festas para louvar o Orixá (segundo o calendário do culto),
existem as saídas de santo, ou seja os filhos-de-santo (iniciados) que tenham
feitura do Orixá a ser comemorado, podem dar saída com ele (incorporá-lo todo
paramentado e apresentá-lo ao público presente). Para isso, devem antes do dia da
festa realizar uma matança no otá do seu Orixá. No caso de não querer dar a saída
com o seu Orixá, mesmo assim, é bom que se faça essa matança, embora que não
realizando-a, não signifique que não possa participar da festa. Nesse caso, ele
apenas não pode dar saída com o Orixá.
Em ambas situações essa matança ou sacrifício de animal é colocada como uma
oferenda necessária ao Orixá.
Outro objetivo, é que para aqueles que terminaram todas as feituras dos Orixás
que afirmou em seu Orí (primeira feitura + seis renovações), se faz necessário
realizar essa oferenda para fortalecer os otás dos seus Orixás.
ESTUDOS:
Estamos falando novamente de Axé e Axé volto a repetir pode ser movimentado de
várias formas, que não necessariamente envolva sacrifício de animais. Para uma
melhor compreensão desse assunto, leia o artigo desse blog "Sacrifício de Animais
não é tudo!".
Ora, se a questão é ofertar algo para o Orixá a ser comemorado, por que não pode
isso ser feito através da comida do santo e outros elementos ritualísticos? Toma-se
um banho com as ervas consagradas ao Orixá, se faz um belo de um ossé (limpeza)
do símbolos do Orixá, que estão no roncó, arreia-se (oferta-se) a comida do santo,
acende-se a vela, enche-se a quartinha de água e pronto a oferenda vai funcionar
da mesma forma, sem que seja necessário o envolvimento do Axé vermelho
(sangue).
Isso, tanto serve para quem deseja dar a saída com o Orixá na festa, como para
quem apenas vai participar da mesma e quer ofertar algo ao seu Orixá nessa data
festiva, bem como, para quem já encerrou suas feituras e deseja fortalecer os otás
dos Orixás, que tem afirmado no seu Orí.
Outro ponto importante, a deitada (ou recolhimento anual - camarinha) é
realizado uma vez por ano pelo iniciado, até ele terminar todo o ciclo de feituras.
Assim nessa feitura (renovação) ele já realiza a matança para o Orixá, o qual ele
está reafirmando em seu Orí. Pergunta: Por que então, ele tem que fazer
novamente essa matança na data comemorativa do Orixá, se no ano ainda em
questão ou ele já se recolheu, ou ainda vai se recolher para esse mesmo Orixá? Tá,
podem me responder com outra pergunta: Qual é o problema dele matar duas
vezes para o santo? Nenhum problema, no entanto, essa deve ser uma via de duas
mãos. Se o iniciado pode fazer a matança, mais de uma vez, também deve poder
decidir a realizar essa matança no seu recolhimento anual. Acontece, que se o
iniciado não fizer a matança na época da festa, isso é contado como obrigação não
realizada, sendo considerado como um filho-de-santo devedor dessa obrigação. Se
ele quiser dar a saída com o santo na respectiva festividade, não poderá fazê-lo.
CONCLUSÃO:
a) A matança ou sacrifício de animais é totalmente dispensável para se realizar
oferendas aos Orixás;
b) O Axé pode ser movimentado de várias formas, sem o envolvimento do axé
vermelho.
ENSINAMENTOS:
O filho-de-santo que encerra todo o ciclo de feituras dos nove Orixás, chega a
condição necessária para receber o Deká e se desejar, realiza mais algumas
obrigações, recebe essa comenda e é então considerado Pai/Mãe-de-Santo.
Como ensinamentos para o exercício de sua condição sacerdotal, recebe uma
apostila em que 80% do seu conteúdo consiste em ensinar com se realiza uma
feitura de santo no Omolocô.
Com relação a hierarquia, não existe nenhum procedimento para determinar os
diversos cargos hierárquicos dentro do culto (veja quais seriam esses cargos no
meu livro pag. 176-182). O filho-de-santo pode ser escolhido para exercer um
determinado cargo ou função dentro do terreiro por indicação do dirigente ou
porque decidiu por vontade própria exercer essa função e conseguiu espaço para
isso etc.
Já o Deká, como vimos, é uma comenda, insígnia, que é concedida ao iniciado, se
assim ele desejar e que corresponde a última e difinitiva consagração, agora como
Babalorixá (Pai-de-Santo) ou Yalorixá (Mãe-de-Santo).
No caso, de ao final dessas sete feituras, se desejar receber o deká, é realizado
mais 1 feitura ou renovação dos nove Orixás.
Essa obrigação é denominada de fechamento de círculo, ou seja, mais uma feitura
dos 9 orixás com o objetivo de se posicionar corretamente esses Orixás nas casa
astrais (posições no Orí do iniciado) correspondentes.
Geralmente a entrega do Deká é através da realização de uma cerimônia festiva,
em que, o agora Sacerdote ou Sacerdotisa é apresentado a coletividade. O fato é
registrado em ata, assinado pelo oficiante da cerimônia e testemunhas. Na ocasião
é também entregue o diploma de Sacerdote ou Sacerdotisa dentro do Culto
Omolocô do Brasil.
ESTUDOS:
Nos ensinamentos da N'Ginja Delfina de Oxalá, compreendemos facilmente que os
recolhimentos anuais, servem de períodos, para se aprender sobre a religião.
Essas obrigações, num total de sete, visam a cumprir um objetivo básico no Culto
Omolocô, semelhante ao que se realiza no Candomblé e nos demais Cultos Afro-
brasileiros, que seja a ordenação sacerdotal do iniciado, ou a descoberta e o
desenvolvimento de conhecimentos dos filhos-de-santo para se constuir a
hierarquia na casa.
Ao final das sete obrigações, o iniciado deve estar de posse de todos os
conhecimentos necessários, para que ele possa abrir o seu terreiro e gerar a sua
filiação dentro dos fundamentos do culto.
Se reunirmos os estudos realizados nos itens V.1, V.2 e V.4, podemos visualizar
que o caminho para se alcançar o sacerdócio do Culto Omolocô passa pelos
seguintes passos:
1) A feitura de santo (Triângulo dos Orixás Regentes)
2) As Obrigações Anuais (Aprendizado)
3) O Deká (Confirmação)
A feitura de santo através do triângulo dos Orixás Regentes, já colocou por terra a
necessidade das constantes renovações e por consequência, também acaba com a
necessidade do fechamento de círculo. Mesmo que as renovações fossem uma
realidade, e vimos que não existe base sólida para a sua existência, para que se
reposicionar os Orixás nas casas astrais com o fechamento de círculo? Será que
nas sete feituras, antes do fechamento de círculo, esses Orixás já não deveriam
estar posicionados corretamente? Caso não, por que deixar para posicioná-los
corretamente apenas no fechamento de círculo (feitura final)?
Para o Culto Omolocô, na palavra de suas principais autoridades, após a feitura do
santo, existem sete obrigações anuais, que permitem ao iniciado, o tempo
necessário para descobrir a sua vocação dentro do culto (sacerdócio ou
hieráquico). Durante esses recolhimentos anuais, são ministrados ensinamentos e
realizados estudos que possibilitem tal descoberta e aprendizado completo.
Se o Tata Ti Inkice Tancredo falava em quatro anos, e posteriormente fechou em
sete anos esse período de aprendizado, juntamente com o que a N'Ginja Delfina
ensinou aos seus iniciados encontramos o seguinte quadro de formação
sacerdotal:
1a. Obrigação - Iniciação (Feitura do Triângulo de Orixás Regentes).
2a. Obrigação - Passa a ser Iaô (Filho-de-Santo).
3a. Obrigação - Livre-arbítrio (a escolha da vocação - Sacerdócio ou ocupar um
cargo hierárquico no culto).
4a. Obrigação - Confirmação da vocação (iniciado tem o direito a receber uma
comenda que representa seus quatro anos de santo).
Nesse ano específico, o Iniciado completou as 12 guias das entidades, foi-lhe
entregue 3 guias por ano, segundo os ensinamentos do culto. As 12 entidades a
saber são: Exú, Pomba-gira, Nanã, Omulu, Ogum, Oxum, Iansã, Xangô, Oxossi,
Ibeiji, Iemanjá e Oxalá. A Comenda que lhe é entregue, foi nomeada pela N'Ginja
Delfina de Oxalá de Contra-Egun, representando a estabilidade alcançada pelo
iniciado no culto.
A partir daí o iniciado escolhe um dos dois caminhos possíveis dentro da religião,
conforme a definição de sua vocação (sacerdócio ou hieráquico). Se a vocação é
para ocupar um cargo hieráquico, ele ainda participa da quinta obrigação, quando
aí se especializa na função que vai ocupar. Se a sua vocação for o sacerdócio, ele
continua as obrigações, realizando a duas últimas (sexta e sétima obrigação).
5a. Obrigação - Especialização dentro do grau adquirido (Cargo hieráquico e início
dos ensinamentos sacerdotais para quem vai continuar as obrigações).
6a. Obrigação - Complementos sacerdotais, preparos definitivos e ajustes
necessários, mediante ao estudo e a análise das condições do iniciado dentro do
Santé. Conhecimento do Deká.
7a. Obrigação - Recebimento do Deká, ficando definida a situação do iniciado
como Sacerdote do Culto. Nesse ponto, é bom esclarecer que as guias (total de 12)
são substituídas integralmente pelo uso do Deká, que no caso passa a ser a guia
definitiva do Sacerdote.
CONCLUSÃO:
a) O fechamento de círculo é totalmente desnecessário;
b) O caminho do aprendizado existe dentro do culto, através das obrigações
anuais;
c) As obrigações anuais, são sim camarinhas e recolhimentos, sem a necessidade
de renovações de santo, tarimbamentos etc., para os que já foram iniciados. O que
se procura fazer, nessas ocasiões, é realizar ritos apropriados e reuniões de
ensinamentos e orientações, em que os fundamentos do Omolocô são passados
para a futura hierarquia e os que exercerão o sacerdócio.
d) Nas quatro primeiras obrigações o iniciado define a sua vocação (Cargo
hierárquico ou Sacerdócio), na quinta, se a vocação for cargo hierárquico, o
iniciado se especializa, se for sacerdócio, começa os estudos voltados para esse
fim.
e) Na sétima obrigação recebe o seu Deká.
f) O Deká passa a ser a única guia do Babalorixá/Yalorixá. Devendo ser usado em
todas as reuniões, cerimônias e festividades do culto.
VI - Conclusão Geral
Diante do que eu exponho aqui, acredito ter oferecido um material rico para
estudo, reflexão que permitam as pessoas chegarem as suas próprias conclusões.
Evidentemente que não tenho a palavra final sobre o assunto, nem fiz isso no
intuito de convencer ninguém. O que me moveu, foi a necessidade de demonstrar
que tudo na vida deve e pode ser questionado, que devemos ter fé, mas sempre
exercitando ela de forma racional, analítica e crítica. É importante, que sempre
conquistemos as certezas daquilo que acreditamos, por si mesmos, não importa se
constatamos as suas veracidades ou não. Importante salientar, nesse instante, que
todo o processo iniciático pelo qual passei, teve a minha total aprovação e foi da
minha livre e espontânea vontade participar.
Cabia, tão somente a mim, o direito de na época ter refletido melhor sobre a
situação apresentada e chegado as conclusões, que somente visualizei um certo
tempo depois. Nesse período eu não me permitia a ter esses tipos de
questionamentos, nem me passava pela cabeça, qualquer outra possibilidade, que
não fosse da forma como me era ensinado.
A verdade é que o Omolocô, entrou na minha vida de umbandista, envolvido por
uma explicação, fornecida na época, que ele significaria uma evolução espiritual
para Umbanda que praticávamos.
Passado esses anos todos, não dá para perceber o que esta evolução significou,
mas com certeza, sou eu o culpado, em não conseguir enxergar esse salto de
qualidade, que o Omolocô nos proporcionou.
Devo estar completamente cego, para a beleza dos nossos fardamentos, que se
transformaram de roupas simples e tecidos humildes, para roupas caras e
vistosas, com tecidos de primeira qualidade; talvez eu não consiga perceber a
maravilha que é hoje, os paramentos luxuosos dos Orixás, nas saídas-de-santo; ou
quem sabe, não peso devidamente a evolução que foi para o meu bolso, o
dispêndio financeiro, que realizei nas feituras-de-santo e suas renovações, como
vimos totalmente desnecessárias; nem tão pouco, tenho capacidade de entender o
salto de qualidade que é se pagar um valor razoável para receber um deká, que
somente me dá direito a uma apostila, um diploma, e a condição de ficar no meio
do terreiro como destaque e abençoar os filhos-de-santo, no instante que louvam o
meu Orixá principal. Deká esse que somente pode ser usado, em cerimônias de
outorga dessa comenda para outras pessoas e que fora isso serve apenas para ficar
mofando dentro do guarda-roupa.
Com certeza, eu sou culpado de nas minhas obrigações anuais, não existirem
nenhum ensinamento, ou transferência de conhecimentos, como é determinado
pela Tradição no Omolocô, e que eu tenha, que procurar esses conhecimentos em
livros, internet e outros locais.
Devo com certeza, estar ficando louco, obsediado, ou quem sabe até demandado,
por não me unir ao coro, que hoje chama de catimbozinho, a Umbanda, que antes
do Omolocô reinar em nossas vidas, nós batiamos com tanta alegria e felicidade.
De não considerar como terreirinhos, as casas espirituais que insistem nesse
catimbozinho e que não aceitam o Omolocô como necessário para suas evoluções
espirituais ou salto de qualidade em seus ritos, liturgias e doutrinas.
Como não compreender, que para chegarmos a ser Sacerdotes dentro do Culto
Omolocô, temos que permitir que mexam na nossa cabeça (tarimbar o santo) 72
vezes? Sim, 72 VEZES, é que depois de 63 tarimbamentos (9 orixás X 7 feituras), se
faz necessário, mais uma feitura com nove tarimbamentos (fechamento de
círculo), para corrigir ou colocar os Orixás no posicionamento correto (casas
astrais).
Realmente, não fui capaz de captar essa evolução espiritual, nem o sentido da
coisa, devo ser um espírito muito atrasado.
Como eu já tenho 61 dos 72 tarimbamentos, faltando apenas 11 para terminar, e
diante do fato, que eu só precisava de 3 tarimbamentos (triângulo dos Orixás
regentes), concluo que tenho 58 tarimbamentos sobrando, logo tenho feitura de
santo para dar e vender.
A partir de hoje, estou vendendo as minhas feituras de santo desnecessárias.
Quem quer comprar?
Glossário: