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Verônica Feder Mayer


Sandra R.H. Mariano
Linguagem corporal
e não-verbal
110 :: Técnicas de Comunicação e Negociação :: Verônica Feder Mayer / Sandra R.H. Mariano

Meta
Apresentar conceitos básicos relativos a linguagem
corporal e a linguagem de sinais.

Objetivos
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

1. Identificar os principais componentes da linguagem


corporal.

2. Desenvolver habilidade para observar o comportamento


não-verbal.

Guia da Aula

1. Comunicação não-verbal: 2. Exemplos de


A linguagem corporal linguagem corporal

2.1. Autoconfiança
1.1. Corpo e postura 3. Como melhorar
2.2. Atitude defensiva
1.2. Rosto e olhos sua comunicação
2.3. Desmotivação
1.3. Voz corporal em ambientes
2.4. Reflexão
1.4. Toque profissionais
2.5. Raiva
2.6. Mentira
2.7. Medo, ansiedade,
nervosismo
Aula 5 – Linguagem corporal e não-verbal :: 111

A poetisa traz-nos seu primeiro livro, porém não o entrega logo.


Fica estudando nossa expressão fisionômica antes de confiar-
nos a suma de tantas vivências. Fala de coisas vagas, que se tornam mais
vagas ainda pela indecisão da palavra. Certa amiga comum nos manda
lembranças. Podemos fornecer o endereço de mestre Fulano? Parece que
é difícil encontrá-lo em casa, qual a melhor hora? As informações são
prestadas, enquanto, por nossa humilde vez, inspecionamos a poetisa. Usa
vestido elegante, sob a capa elegante. É alta, morena, jovem. Um adjetivo
clareia, com espontaneidade de espelho: bonita. Parece que clareou em
nosso olhar, pois ela baixa a cabeça e contempla uma formiguinha no linóleo,
onde - é claro - não passa nenhuma formiguinha. O livro continua preso na
mão esquerda, sem que possamos desvendar-lhe o título: pudicamente, só
aparece a brancura da contracapa. Não que haja figura ou dizeres obscenos
a ocultar. A poetisa oculta sua poesia, nesse primeiro contato com o exterior.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, 1994.

Tu não avisou que vinha – ela resmungou no seu velho jeito azedo, que
antigamente ele não compreendia. Mas agora, tantos anos depois,
aprendera a traduzir como que-saudade, seja-benvindo, que-bom-ver-você
ou qualquer coisa assim. Mais carinhosa, embora inábil.
Abraçou-a, desajeitado. Não era um hábito, contatos, afagos. Afundou tonto,
rápido, naquele cheiro conhecido - cigarro, cebola, cachorro, sabonete, creme de
beleza e carne velha, sozinha há anos. Segurando-o pelas duas orelhas, como de
costume, ela o beijou na testa. Depois foi puxando-o pela mão, para dentro.
CAIO FERNANDO ABREU, 2000.
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1. Comunicação não-verbal: A linguagem


corporal

O conhecimento de sinais corporais nos ajuda a aprimorar


a comunicação interpessoal – tanto na emissão como na
recepção de mensagens. A linguagem corporal transmite muitas informações
sobre pessoas e relacionamentos. Ela tem grande impacto na forma como
nos comunicamos e pode refletir com alto grau de acurácia pensamentos e
sentimentos não pronunciados verbalmente – além de sentimentos e desejos
inconscientes.

Há momentos em que as palavras dizem uma coisa, mas a linguagem


corporal diz outra bem diferente. Como na loja em que a vendedora olha
distraidamente para as unhas enquanto pergunta se pode lhe ser útil – seu
desinteresse é mais do que claro apesar das palavras educadas.

A linguagem corporal inclui:

• expressão facial;

• movimentos do corpo e gestos (pernas, braços, mãos, cabeça e torso);

• postura;

• contato visual;

• tom de voz e velocidade da fala;

• aparência.

Você e todas as pessoas ao seu redor transmitem continuamente men-


sagens não-verbais por meio de comportamentos involuntários ou delibe-
rados. Isto significa que você possui uma fonte constante de informações a
seu respeito e a respeito dos outros. Se for capaz de observar e interpretar
parte desses sinais, você terá maior chance de saber o que os outros sentem
e pensam, além de ter a chance de conhecer-se melhor.
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Multimídia

Chaplin, um mestre da linguagem corporal


harles Chaplin nasceu em Londres no ano de 1889 e iniciou sua carreira fazendo
C excursões como mímico. Atores do cinema mudo, como Chaplin, foram os pioneiros
das técnicas de linguagem corporal. Seu personagem mais famoso foi o vagabundo
Carlitos. Um mestre da expressão corporal, Chaplin até hoje nos faz rir e chorar com suas
expressões marcantes. Assista a alguns dos grandes momentos deste artista singular
no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=xoKbDNY0Zwg
http://www.youtube.com/watch?v=IJOuoyoMhj8&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=1mYtNMDFyXQ&feature=related

Há dois fatores importantes para a compreensão da linguagem corporal:

1. Fatores externos ou socioculturais. A linguagem corporal sofre influências


culturais e sociais. Por exemplo, pessoas de países diferentes provavelmente
irão interpretar gestos e sinais de forma diferente, já que estes ganham
significado dentro de um determinado contexto cultural e social. Homens
e mulheres usam a linguagem corporal de forma adequada ao seu papel
social.

2. Fatores psicológicos e hábitos. A expressão corporal é fortemente ligada ao


estado psicológico do indivíduo e reflete sentimentos e interesses pessoais
– de forma consciente ou inconsciente. Além disso, alguns gestos estão
relacionados a hábitos pessoais.

Em ambientes de trabalho existem regras comportamentais que regem a


postura profissional; por isso, uma parte importante da linguagem corporal
é inibida. Mesmo assim, podemos aprender muito e melhorar o processo
de comunicação, se estivermos atentos aos sinais corporais de colegas
de trabalho, de clientes e de subordinados. Da mesma forma, um bom
comunicador monitora constantemente sua própria linguagem corporal.

Corpo e postura
A orientação do corpo reflete o grau em que nos aproximamos ou afastamos
de uma pessoa. Por exemplo, virar-se diretamente para alguém sinaliza seu
interesse na pessoa, enquanto ficar de lado sinaliza um desejo de evitar o envol-
vimento ou de manter a conversa.
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A postura também pode ser bastante reveladora; percebemos isso anali-


sando algumas expressões coloquiais que ligam os estados emocionais a
posturas do corpo, como:

• Você vai ficar de braços cruzados?

• Pare de carregar o mundo sobre os ombros!

• Mantenha a cabeça erguida!

• Encare o medo de frente.

• Fique de olhos bem abertos.

• Ela estava de queixo caído.

• A secretária empurrava o trabalho com a barriga.

• Que nariz empinado!

• O homem babava por aquela mulher.

• Não seja tão cara-de-pau.

Estudiosos afirmam que mantemos uma postura relaxada quando nos


sentimos à vontade e não ameaçados, mas nossa postura se torna mais tensa
quando sentimos algum tipo de ameaça. Por exemplo, pessoas que estão
em posição hierárquica superior tendem a se mostrar mais relaxadas do que
pessoas em posição hierárquica inferior.

Gestos
Alguns gestos transmitem mensagens intencionais, como um polegar
erguido em aprovação a uma idéia. Mas há casos em que os gestos são
inconscientes. Alguns indicam desconhecimento (dar de ombros); vaidade
(ajeitar os cabelos, olhar-se no espelho, ajeitar as roupas); apertar ou manipular
freqüentemente alguma parte do corpo (desconforto). Mas muitos gestos são
ambíguos e podem assumir diferentes significados.

A ausência de gestos também pode significar algo, como tristeza, desin-


teresse, desânimo ou tédio.
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Explicativo

Sinais: A linguagem dos gestos


língua de sinais ou língua gestual se refere ao uso de gestos e sinais em vez de sons
A na comunicação. É muito utilizada como forma de entendimento entre pessoas
surdas, mudas e com problemas auditivos. Mas é usada também para a comunicação
nos esportes e em algumas atividades profissionais. A língua de sinais é tão natural e
tão complexa quanto as línguas orais, dispondo de recursos expressivos suficientes para
permitir aos seus usuários expressar-se sobre qualquer assunto, em qualquer situação,
domínio do conhecimento e esfera de atividade.
Não se sabe quando as línguas de sinais foram criadas, mas sua origem remonta possivel-
mente à mesma época ou a épocas anteriores àquelas em que foram sendo desenvolvidas
as línguas orais. Especialistas consideram esta possibilidade devido ao fato de que o bebê
humano desenvolve a coordenação motora dos membros antes de falar.

Língua Brasileira dos Sinais

Esqui aquático Motociclista

Segurança no trabalho
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Rosto e olhos
O rosto e os olhos são as partes mais notadas do nosso corpo, mas a
interpretação das expressões faciais e dos movimentos dos olhos é uma
tarefa muito complicada. Segundo Adler e Towne (2002), emoções diferentes
aparecem mais claramente em partes diferentes do rosto. Por exemplo,
felicidade e surpresa aparecem mais nos olhos e na parte inferior do rosto;
a raiva manifesta-se mais na parte inferior, nas sobrancelhas e na testa;
o medo e a tristeza, nos olhos; a repugnância, na parte inferior da face.
Pesquisas identificaram seis emoções básicas que as expressões faciais
refletem: surpresa, medo, raiva, repulsa, felicidade e tristeza – sentimentos
que parecem estar presentes em todas as culturas.

Geralmente, as pessoas são bastante hábeis no julgamento das expressões


faciais dessas emoções. Esta habilidade aumenta quando se conhece o alvo ou
o contexto em que a expressão ocorre. Segundos pesquisadores do assunto,
uma pessoa é capaz de fazer e reconhecer cerca de 250 mil expressões faciais
por dia (PEASE; PEASE, 2005).

Apesar da maneira complexa pela qual o rosto mostra emoções, é possível


captar as mensagens ao observá-lo.

• Quando alguém tenta enganar outra pessoa, pode exagerar em uma


“máscara” de dissimulação que não parece verdadeira.

• Quando uma pessoa está em situações em que não esteja pensando em


sua aparência (no trânsito, por exemplo), pode usar expressões faciais que
jamais usaria em outras ocasiões.
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• Há também expressões contraditórias, por exemplo, quando os olhos


dizem uma coisa, mas a expressão da boca ou das sobrancelhas envia uma
mensagem diferente.

Os olhos podem enviar vários tipos de mensagens. Por exemplo, fitar alguém
nos olhos é, em geral, um sinal de envolvimento, mas desviar os olhos sinaliza,
com freqüência, o desejo de evitar o contato.

Os olhos também comunicam dominação ou submissão. Por exemplo,


baixar os olhos significa que a pessoa cedeu. Em algumas ordens religiosas,
por exemplo, os membros subordinados devem manter os olhos baixos
quando falam com um superior. As pupilas dos olhos também comunicam.
Pesquisadores descobriram que os olhos de uma pessoa se tornam maiores
na proporção do seu grau de interesse por um objeto.

Explicativo

O sorriso misterioso da Mona Lisa


ona Lisa é a mais notável e conhecida
M obra do pintor italiano Leonardo da
Vinci. O quadro apresenta uma mulher com
uma expressão tímida e introspectiva. Seu
olhar cria uma empatia quase irresistível
e nos segue pelo recinto. Dizem que seu
sorriso misterioso pode mudar de acordo
com o humor de quem o observa: triste,
sedutor, entediado ou satisfeito.
Este quadro é, provavelmente, o retrato
mais famoso de todo o mundo. Leonardo Da
Vinci começou a pintar o retrato em 1503 e
terminou-o três ou quatro anos mais tarde.
A pintura a óleo sobre madeira de álamo
encontra-se exposta no Museu do Louvre,
em Paris.
Leonardo Da Vinci. Retrato de Mona Lisa, La
Gioconda.
Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/.
Acesso em 15 de janeiro de 2008.
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Voz
A voz é um importante canal de comunicação não-verbal. A forma como
uma mensagem é enunciada pode dar à mesma palavra ou palavras vários
significados. Veja no exemplo abaixo como a ênfase dada a uma palavra
pode mudar o sentido da frase (adaptado de ADLER; TOWNE, 2002):

Este é um fantástico filme de ação. (Não apenas qualquer filme, mas este
em particular.)

Este é um fantástico filme de ação. (Este filme é superior, extraordinário.)

Este é um fantástico filme de ação. (O filme é ótimo como uma obra de


ação; pode não ser tão bom quanto um musical ou um filme artístico.)

Este é um fantástico filme de ação. (Não é um livro ou um CD; é um


filme.)

O tom de voz, o ritmo, a altura, as pausas, entre outros aspectos da voz são
importantes para reforçar ou contradizer a mensagem que nossas palavras
transmitem.

Toque
O toque é uma das mais poderosas formas de comunicação não-verbal,
mas precisa ser usado com cuidado.

O ritual de toque mais comum através de culturas é o cumprimento de


chegada e saída. Dependendo do local ou país, isto pode incluir apertar
mãos, abraçar, beijar, esfregar narizes ou outra forma de toque. Se você
pretende relacionar-se com pessoas de diferentes locais, deve informar-se
sobre os rituais de cumprimento, assim terá a chance de apresentar-se
melhor e evitar gafes e situações desagradáveis.

O toque é normalmente usado para demonstrar empatia, especialmente


entre as mulheres. Para mostrar empatia quando não se é muito chegado
a outra pessoa, são usados toques mais rápidos e distantes, nas costas,
ombros ou no braço. Mesmo um pequeno toque pode ser muito confortante
e incentivador. Abraçar demoradamente ou tocar o braço por um período
mais longo são formas de toque apropriadas quando existe maior grau de
intimidade entre as pessoas.
Aula 5 – Linguagem corporal e não-verbal :: 119

Aperto de mãos
O aperto de mãos é um ritual básico de cumprimento que pode conter
muitos significados. Para começar bem um relacionamento ou uma reunião,
precisamos que este toque transmita uma mensagem firme e positiva. Veja
a seguir alguns erros que transformam seu aperto de mãos em um cartão de
visitas desagradável:

• Apertar a mão do outro usando força exagerada.

• Ter as mãos suadas e pegajosas.

• Oferecer a mão com a palma para baixo com objetivo de “ficar por cima”,
colocando o interlocutor em posição de inferioridade.

• Estender o dedo indicador e tocar o punho do interlocutor.

• Usar apenas as pontas dos dedos.

• Não tocar a palma da mão do interlocutor.

• Manter o braço muito esticado.

• “Puxar” a pessoa durante o aperto de mãos, desequilibrando-a.

• Sacudir demasiadamente a mão do interlocutor.

Pesquisas indicam que um aperto de mãos pode ser muito mais eficaz
quando é acompanhado por um leve toque no cotovelo ou na mão da outra
pessoa.

ATIVIDADE

1. Filme NELL
No filme Nell,l lançado em 1994, uma jovem, interpretada p
atriz Jodie Foster, é encontrada numa casa em meio a um
floresta. Nell cresceu isolada do mundo, tendo contato
apenas com sua mãe doente. Depois do falecimento de seu
único laço de contato com a humanidade, Nell passou a
viver sozinha aproximando-se dos animais.
O médico, que encontra a jovem, constata que ela se expressa em um
dialeto próprio. Intrigado com a descoberta e, ao mesmo tempo, encantado com
a inocência e a pureza da moça, ele tenta ajudá-la a se integrar na sociedade.
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Muitas cenas do filme mostram situações importantes para a comunicação


interpessoal: a dificuldade de compreensão da linguagem do outro;
emoções comuns; preconceitos sociais; linguagem corporal; entre outros.
Assista ao filme Nell e responda:
Identifique cenas em que Nell demonstra por meio de sua linguagem
corporal as emoções abaixo. Para cada uma dessas emoções, compare os
diferentes tipos de toques e mudanças ocorridas nos gestos, na voz, na
expressão facial e no movimento dos olhos.
1. Medo.
2. Confiança.
3. Surpresa.
4. Raiva.
5. Repulsa.
6. Felicidade.
7. Tristeza.

2. Exemplos de linguagem corporal


A linguagem corporal é responsável pela “primeira impressão” que temos
de uma pessoa – a impressão que fica registrada na memória e que tem
grande influência em nossas atitudes posteriores. Vamos ver a seguir alguns
exemplos de linguagem corporal.

Autoconfiança
Tente lembrar a primeira vez que você conheceu alguém no trabalho ou na
faculdade. Ou a última vez em que assistiu a uma aula, palestra, apresentação.
Quais foram as suas impressões? A pessoa conseguiu te convencer? Você
sentiu confiança? Você teve vontade de aproximar-se da pessoa, conhecê-la
melhor ou preferiu afastar-se dela?

Ao observar outras pessoas, você pode perceber sinais que demonstram


se elas estão sentindo-se confiantes ou inseguras. Coisas típicas para se
observar em pessoas confiantes são:
Aula 5 – Linguagem corporal e não-verbal :: 121

• Postura – esguia; ombros para trás.

• Contato visual – sólido e com um rosto “sorridente”.

• Gestos abertos e determinados, com o uso dos braços e mãos.

• Velocidade da fala – devagar e clara.

• Tom de voz – moderado ou baixo.

Atitude defensiva
Em algumas situações importantes, como o fechamento de um negócio
ou a assinatura de um contrato, seu interlocutor pode adotar uma atitude
defensiva, fechando-se para seus argumentos e informações, parando de
ouvir o que você tem a dizer. É claro que isso pode colocar tudo a perder.

Mas como saber se isto está acontecendo? Alguns sinais comuns de que
uma pessoa está na defensiva são:

• Os gestos são curtos (tímidos), mãos e braços próximos ao corpo.

• Expressões faciais são mínimas.

• O corpo mantém-se distante de você.

• Braços estão cruzados na frente do corpo.

• Os olhos evitam contato, a cabeça está baixa.

Desmotivação
Há momentos em que desejamos a atenção total de uma audiência, além do
seu engajamento e entusiasmo. A apresentação de um plano de negócios para
um conjunto de investidores é um bom exemplo. Mas nem sempre conseguimos
que todos fiquem atentos em uma apresentação. Como identificar os sinais da
desmotivação e do desinteresse?

• A cabeça está baixa.

• O olhar está vidrado ou voltado em outra direção.

• As mãos provavelmente estão mexendo em algum objeto ou nas roupas.

• A pessoa está tombada ou “escorregando” na cadeira.

Se perceber que alguém demonstra esses sinais, você pode tentar fazer
algo para trazer de volta sua atenção, como fazer uma pergunta direta ou
mudar o foco do assunto.
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Reflexão
Em entrevistas ou negociações, é necessário saber quando uma pergunta
feita é muito importante para seu interlocutor. Da mesma forma, você pode
indicar a importância de um assunto demonstrando que precisa refletir
melhor antes de responder. Os sinais da reflexão são:

• Os olhos desviam-se por um momento, mas o contato visual firme é retomado


na hora da resposta.

• O dedo acaricia o queixo.

• A cabeça inclina-se, com os olhos fixando o alto.

Raiva
A raiva é um sentimento forte, que pode dominar uma pessoa e criar muitos
problemas em situações da vida cotidiana e em situações profissionais. Uma
pessoa com raiva tem dificuldade para ouvir e uma tendência maior a perceber
apenas os aspectos negativos de uma situação ou de uma mensagem.
Os sinais mais comuns da raiva são:

• Pescoço e/ou face vermelho ou corado.

• Mostrar e ranger os dentes.

• Mãos cerradas.

• Inclinar-se para frente ou invadir o espaço corporal do interlocutor.

• Gestos agressivos.

O poder dos videntes


egundo os especialistas Allan e Bárbara Pease (2005), videntes se utilizam de uma
S técnica conhecida como “leitura a frio”, que consiste na observação atenta dos sinais
da linguagem corporal. Pesquisas indicam que esta técnica, aliada ao entendimento da
natureza humana e ao conhecimento de probabilidades, é capaz de proporcionar uma
precisão de cerca de 80% quando se “lê” uma pessoa desconhecida.
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Medo, ansiedade, nervosismo


O medo ocorre quando as necessidades básicas de um indivíduo são
ameaçadas. Existem vários níveis de medo, desde uma fraca ansiedade até o
terror cego. As mudanças corporais são as seguintes:

• Suor frio

• Palidez

• Boca seca (pessoa molha os lábios constantemente ou tosse, limpando a


garganta)

• Falta de contato visual

• Olhos úmidos

• Lábios trêmulos

• Variações na velocidade da fala

• Erros na fala

• Tremor na voz

• Alta pulsação (visível por tremor nas veias do pescoço ou nos membros)

• Tensão muscular

• Respiração profunda ou entrecortada

Mentira
Perceber que uma pessoa está mentindo pode nos ajudar a enfrentar e
solucionar uma situação difícil. Os sinais típicos da mentira são:

• A pessoa evita o contato visual, ou faz muitos movimentos rápidos com os


olhos (piscar com maior freqüência ou piscar muito rapidamente).

• Geralmente mãos ou dedos estão na frente da boca, ou a pessoa coça o


nariz quando fala.

• O corpo inclina-se para trás, ou há movimentos corporais incomuns; corpo


tende a se retrair ao contar uma mentira, encolhendo braços, pernas –
ocupando “pouco espaço”.

• A respiração é mais rápida – pequenas e rápidas golfadas de ar, alternadas


com suspiros longos e profundos.

• A aparência geral da pessoa é diferente de alguma forma, por exemplo:


aparecimento de áreas vermelhas na face ou no pescoço.
124 :: Técnicas de Comunicação e Negociação :: Verônica Feder Mayer / Sandra R.H. Mariano

• A transpiração aumenta.

• Há mudanças na voz, alterações no tom, gaguejos, travas no diálogo com o


uso excessivo de pausas e comentários como “hmmm”, “hã” ou “você sabe”;
limpeza da garganta ou engolir em seco.

• Pode haver mudança brusca de humor.

• A pessoa, em geral, tenta ganhar mais tempo na elaboração de uma


resposta, por exemplo, pedindo que o interlocutor repita a pergunta feita.

• A pessoa usa humor ou sarcasmo para mascarar o assunto incômodo.

• As pupilas de quem está mentindo podem dilatar.

• Quando alguém está mentindo, sorri menos que o habitual.

Estes sinais podem ser muito úteis em entrevistas de contratação e em


situações de negociação. Mas lembre-se de que a linguagem corporal pode
mudar de pessoa para pessoa. Não tire conclusões apressadas quando
identificar alguns sinais de mentira. Muitos desses sinais podem indicar um
simples nervosismo. Faça mais perguntas e explore mais a situação antes de
acusar alguém.

Receitas não se aplicam a todos


Cada pessoa é única, por isso seus sinais corporais podem ter outros signi-
ficados. Na verdade, pessoas que viveram experiências diferentes das nossas,
particularmente aquelas que têm outras origens culturais, apresentarão
sinais corporais diferentes. Por isso, é importante verificar se você interpretou
corretamente a linguagem corporal de uma pessoa. Faça isso se informando
mais, trocando idéias com outras pessoas ou apenas dando um tempo para
conhecer melhor seu interlocutor.

Dica

Observar a linguagem corporal


ara praticar a “leitura” da linguagem corporal, observe as pessoas em locais e
P situações diversas. Retire o som da TV e repare como os atores reagem uns aos
outros. Tente adivinhar o que estão dizendo e o que está acontecendo na cena.
Aula 5 – Linguagem corporal e não-verbal :: 125

Conhecer a linguagem corporal pode ser de grande ajuda quando precisamos


usá-la de forma consciente para reforçar mensagens e apresentar idéias. Tome
cuidado, porém. Há questões éticas envolvidas no uso da linguagem corporal,
por exemplo, persuadir pessoas a fazer algo que vai contra seus interesses. No
entanto, profissionais que lançam mão de artifícios como este acabam perdendo
a credibilidade e a confiança dos outros com o passar do tempo.

3. Como melhorar sua comunicação corporal


em ambientes profissionais
Você pode melhorar a sua linguagem corporal praticando regularmente
e observando a si mesmo em situações variadas. Maus hábitos podem levar
algum tempo para serem corrigidos, mas comece devagar e não desanime.
Para manter uma postura corporal adequada, demonstrando naturalidade e
autoconfiança, siga as recomendações a seguir.

Não cruze braços e pernas. Isto pode ser interpretado como uma posição
defensiva ou de cautela.

Mantenha contato visual, mas não encare. Não fazer contato visual pode
ser um sinal de insegurança. Se você está falando com várias pessoas, procure
ter contato visual com todas elas para criar um bom vínculo. No entanto,
contato visual em excesso pode causar desconforto na outra pessoa.

Não tenha medo de ocupar o seu espaço. Por exemplo, sentar-se de forma
confortável é um sinal de autoconfiança.

Relaxe seus ombros. Ombros travados e levantados expressam tensão e


nervosismo.

Ao ficar em pé, mantenha os pés apoiados de forma que o peso do corpo


seja distribuído de forma equivalente. Os joelhos nunca devem estar totalmente
travados, mas levemente flexionados.

Sente de forma ereta, mas relaxada (sem escorregar ou parecer desleixado).


Tente manter os pés inteiramente apoiados ao chão, as costas completamente
apoiadas no encosto da cadeira e joelhos em ângulo de 90°.

Acene com a cabeça. Acenar de vez em quando é um sinal de que você está
ouvindo com atenção. Mas cuidado para não exagerar – ficará parecendo um
“pica-pau”.
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Incline-se, mas não muito. Ao se apresentar, aproxime-se do interlocutor


inclinando o corpo levemente em sua direção, este é um sinal de abertura para
a comunicação. Se desejar demonstrar interesse no que alguém está dizendo,
incline-se na direção da pessoa. Mas não se incline demais ou poderá parecer
desesperado por atenção. Se desejar passar autoconfiança, incline-se um pouco
para trás. Não exagere ou dará a impressão de arrogância e distanciamento.

Não invada o espaço corporal dos outros. Deixe que a outra pessoa
mantenha seu próprio espaço. Ficar perto demais pode causar um grande
desconforto.

Sorria. Mantenha sempre uma expressão relaxada, com um leve ar de


sorriso nos olhos. Se ouvir algo engraçado, ria naturalmente. As pessoas
tenderão a ouvi-lo com mais atenção, se você mostrar-se agradável e positivo.
Mas evite os extremos – rir demais (de piadas nem sempre engraçadas) pode
passar uma impressão de nervosismo ou necessidade urgente de aceitação.

Não fique tocando o rosto e os cabelos. Isto costuma ser interpretado


como nervosismo e pode distrair os ouvintes.

Mantenha a cabeça erguida. Não fique olhando para o chão, você pare-
cerá inseguro e perdido. Mantenha a cabeça reta e os olhos na direção do
horizonte.

Vá um pouco mais devagar. Este é um bom conselho para muitas situações.


Andar ou falar sem pressa não apenas fará você parecer mais calmo e confiante,
como também o fará sentir-se menos estressado. Se alguém falar com você,
evite virar-se bruscamente.

Evite dar sinais de impaciência, como balançar a perna repetidamente,


bater os dedos rapidamente na mesa ou fazer outros movimentos que
possam ser interpretados como tiques nervosos.

Use as mãos de maneira confiante. Em vez de ficar com as mãos inquietas


ou coçar o rosto, use-as para auxiliar o processo de comunicação. Gestos
com as mãos nos auxiliam a descrever coisas e a dar maior peso a algum
argumento. Mas aqui também é bom tomar cuidado com os excessos.

Use a técnica do espelho. Quando duas pessoas estão entendendo-se


bem em uma conversa, costumam, inconscientemente, espelhar (um pouco)
a linguagem corporal uma da outra. Portanto, para estabelecer uma conexão
com outra pessoa, você pode ficar atento a isso, e fazer o “espelhamento” de
maneira consciente. Ou seja, se a pessoa recostar-se na cadeira ou segurar
Aula 5 – Linguagem corporal e não-verbal :: 127

as mãos, faça o mesmo. Mas seja sutil, não reaja instantaneamente e evite
repetir tudo que a pessoa fizer – ou você parecerá muito esquisito.

Por fim, mantenha uma boa atitude e trabalhe internamente sua auto-
estima. O que você sente revela-se através da sua linguagem corporal.

Multimídia

o Youtube você encontra vídeos interessantes que ilustram e complementam o


N tema desta aula. Veja os links a seguir:
http://www.youtube.com/watch?v=cS1LI_ut3fs&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=BmU5MO7ZaZU&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=7GShH3pwU04&NR=1
http://www.youtube.com/watch?v=2VhnaVkC7Nc&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=S1ucmfPOBV8&feature=related

ATIVIDADE

2. Lendo a “linguagem do corpo”


O objetivo deste exercício é aumentar sua habilidade para observar o
comportamento não-verbal, além de mostrar os perigos de ter uma
certeza excessiva de que é um perfeito leitor da linguagem corporal. Em
primeiro lugar, convide um amigo ou amiga para participar do exercício.
Depois, siga as seguintes instruções:
1. Na primeira parte do exercício, observe a maneira como seu parceiro se
comporta. Note os movimentos, os maneirismos, as posturas, o estilo
de se vestir e assim por diante. Anote suas observações. Você pode fazer
esse exercício em qualquer lugar, como em uma sala de aula, em uma
lanchonete ou na sala de uma residência. Não há necessidade de deixar
que as observações interfiram com o que normalmente estaria fazendo:
sua única tarefa nessa fase é compilar uma lista dos comportamentos de
seu parceiro. Nessa etapa, você deve tomar cuidado para não interpretar
as ações do seu parceiro; apenas registre o que vê.
128 :: Técnicas de Comunicação e Negociação :: Verônica Feder Mayer / Sandra R.H. Mariano

2. Ao final do tempo marcado, partilhe o que você viu com o seu par, que
deve fazer a mesma coisa com você.
3. No período seguinte, seu trabalho é não apenas observar o comporta-
mento de seu par, mas também interpretá-lo. Dessa vez, você deve
dizer ao seu par o que pensou que suas ações revelavam. Por exemplo,
a vestimenta descuidada sugere sono em demasia, falta de interesse
na aparência ou o desejo de se sentir mais à vontade? Se notou bocejos
freqüentes, achou que isso significava tédio, fadiga depois de uma noite
acordado até tarde ou sonolência depois de uma lauta refeição?
Não se sinta frustrado se nem todos os seus palpites tiverem sido corretos.
Lembre-se de que as indicações não-verbais tendem a ser ambíguas. Você
pode se surpreender, ao verificar como as dicas não-verbais que você
observa podem ajudar a desenvolver o relacionamento com a outra pessoa.
(Adaptado de ADLER; TOWNE, 2002.)
Aula 5 – Linguagem corporal e não-verbal :: 129

Retomando...
No início desta aula, você leu trechos de dois contos criados por grandes escritores
brasileiros: o imortal Carlos Drumond de Andrade e Caio Fernando Abreu. Escritores não
são apenas mestres das palavras. São também mestras da observação. Nestes contos,
os autores descrevem gestos, posturas, olhares e toques que revelam os sentimentos
profundos de seus personagens.

Você também pode desenvolver seu potencial de observação, em relação aos outros e
em relação a si mesmo, melhorando sua capacidade de se comunicar e estabelecer bons
relacionamentos – na vida pessoal e profissional.

Referências Bibliográficas

ABREU, Caio Fernando. Linda, uma história horrível. In:. MORRICONE, Ítalo. Os cem melhores
contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

ADLER, Ronald B.; TOWNE, Neil. Comunicação interpessoal. 9.ed.. Rio de Janeiro: LTC, 2002.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Drinke. In:.______ 70 historinhas. 3.ed.. Rio de Janeiro:
Record, 1994.

BODY LANGUAGE - Understanding non-verbal communication. Disponível em: <http:


//www.mindtools.com>. Acesso em: 10 jan. 2008.

PEASE, Allan; PEASE, Bárbara. Desvendando os segredos da linguagem corporal. Rio de


Janeiro: Sextante, 2005.

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