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e.m.

tronconi

*
Malditos e.m.tronconi

Malditos
&
A Conquista do Mal

Malditos
somos todos nós
que nos lançamos
à conquista do mal,
para fazermos de tal sedução
o sedativo para esta dor
da total falta de sentido
de toda existência;

Só nós,
os Malditos
iremos destronar a banalidade
& suas desditas belezas nulas
fazendo de tal tirana uma escrava
da maravilhosa amplidão
da Alteridade;

Nós, os Malditos
pela acuidade apreendida
de tanto enxergar dentro do escuro
pudemos vir à conhecer a verdade,
& descobrimos que ela é
um mal-estar,
A verdade
é como um dente infeccionado
nos imputando incomodamente
à confrontar & permanecer numa tal realidade;

E nós, os Malditos
mexendo & remexendo
nessa ferida aberta,
tencionamos & distendemos tal nefralgia
acionando a imaginação,
pois sabemos que os sonhos
são também uma extensão
que na soma ao real
intera a Completude
Soma-zero universal;
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Malditos e.m.tronconi

Duas vezes deserdados então


Duas vezes afortunados, nós,
somos novamente & constantemente
amaldiçoados
como infantes ou sátiros
que brincam nos jardins eclipsados
da coluna vertebral abismal
que sustenta ereto
o símio que em pé enxerga além do horizonte
a aurora do Sol Negro;

Evoluídos
volvemos em tal posição
os olhos do espírito
para as manhãs brumosas & frias
onde os mitos
ainda revolucionam titanicamente
dentro de nós;

E no cansaço
deste fluir & refluir æternum
repousamos enfim
na monção,
Não mais enganados
pelas ilusões da memória ávida por enganos,
mas dentro deste dito mal
de toda nossa parca consciência
que engajada está na revitalização
da recordação
& da liberação do subconsciente,
Então, só assim
nos reconhecemos
deuses entre animais
Deuses amaldiçoados & escarnecidos por bestas feras;

Que maldigam,
As bocas que não mitigam
são as mesmas que ruminam
a rama remoída & seca
dos restos da cegueira brutalizante
das rezas imprecadas
nas resmas de páginas rasuradas e censuradas
do que é a história oficial;

Que maldigam
seus grunhidos rotos & arrotos toscos
ruídos ruins,
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barulhos para esconder


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as ordens & malogros dos senhores das bestas


& o chiado ríspido de suas chibatas;
Malditos e.m.tronconi

Que maldigam,
Enquanto engolem seco
a poeira do estrupo das eras
& as violações deste teatro de guerras
encenadas em novelas banais
nas latrinas dos lares
nos escombros das escolas
& no alto dos altares;

Que maldigam,
As bestas o fazem
na mesma proporção
que suas vidas prosperam
na simétrica oscilação oposta
que o mundo empobrece & enfeia
em espírito e matéria,
no engasgo dos enganos;

Que maldigam,
Seus ditos são provas
que nós, os Malditos
somos os sãos,
E nossos ditirambos
atestam a iluminação
de nossas conquistas & sedução;

Amaldiçoados somos
pelos arcontes & pelos anjos,
Somos benditos
na maçã & na serpente,
Amaldiçoados somos
pela cultura & pela indústria,
Somos benditos
na vida & na morte,
Amaldiçoados somos
pelo Demiurgo & por sua Criação,
Somos benditos
na irmandade & na solidariedade
Amaldiçoados somos
pela forma & pela carne,
Somos benditos
na poesia & no amor;
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Malditos e.m.tronconi

Nós, os Malditos
conquistamos assim
nosso quinhão de beleza & prazer,
ainda que seja pouco menos de quase nada
mesmo que seja pouco mais de quase tudo,
Assumimos dignamente nossa pecha
sem os temores & o desespero
da vitória & da derrota
sem a vilania & os rancores
da alegria & da tristeza;

Serenamente vamos
consumindo nosso fogo próprio
emitindo nossa própria luz,
Na senda autêntica
de nossa maldição original:
Estar despreconceituosamente
buscando a completude
& corajosamente
Ser!

e.m.tronconi

Uberlândia,
fim do inverno de 2010. 4

A Textura desse Abismo chamado Consciência


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www.texturadoabismo.blogspot.com.br

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