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Tchê Química

Volume 08 - Número 15 - 2011 ISSN 2179-0302

Órgão de divulgação científica e informativa

www.periodico.tchequimica.com
PERIÓDICO

Tchê Química
Volume 08 – Número 15 – 2011 ISSN 2179 - 0302

Órgão de divulgação científica e informativa.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Periódico Tchê Química: órgão de divulgação científica e informativa [recurso


eletrônico] / Grupo Tchê Química – Vol. 1, n. 1 (Jan. 2004)- . – Porto Alegre: Grupo
Tchê Química, 2005 - Semestral.
Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader.
Modo de acesso: World Wide Web:
<http://www.tchequimica.com>
<http://www.tchequimica.tk>
Descrição baseada em: Vol. 5, n. 10 (ago. 2008).
ISSN 1806-0374
ISSN 1806-9827 (CD-ROM)
1. Química. I. Grupo Tchê Química.

CDD 540

Bibliotecário Responsável
Ednei de Freitas Silveira
CRB 10/1262

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 1
PERIÓDICO

Volume 08 – Número 15 – 2011


Tchê Química ISSN 2179 - 0302

Órgão de divulgação científica e informativa.

Comissão Editorial ● Me. Aline Maria dos Santos ,


● Luis Alcides Brandini De Boni, santos@tchequimica.com, SP.
deboni@tchequimica.com ● Me. Gabriel Rubensam,
● Eduardo Goldani, grubensam@tchequimica.com, Brasil, UFRGS.
goldani@tchequimica.com ● Me. Élcio Jeronimo de Oliveira,
● Ednei de Freitas Silveira elcio@tchequimica.com, Brasil, CTA.
– Bibliotecário Responsável ● Me. Moisés Rômolos Cesário,
● Dr. Francisco José Santos Lima, romolos@tchequimica.com, Brasil, UFRN.
lima@tchequimica.com , Brasil, UFRN. ● Me. Danyelle Medeiros de Araújo Moura,
● Dr. Carlos Eduardo Cardoso, moura@tchequimica.com, Brasil, UFRN.
cardoso@tchequimica.com, Brasil, USS.
● Dr. Sérgio Machado Corrêa,
correa@tchequimica.com, Brasil, UERJ. Periódico Tchê Química
ISSN - 1806-0374 (Print)
ISSN - 1806-9827 (CD-ROM)
ISSN - 2179-0302 (Online)
Conselho de Alto Nível Divulgação on-line em
http://www.periodico.tchequimica.com
● Dr. Lavinel G. Ionescu, http://www.journal.tchequimica.com
lavinel@tchequimica.com , Brasil, RS. http://www.tchequimica.com
● Dra. Mônica Regina da Costa Marques,
aguiar@tchequimica.com, Brasil, UERJ. Esta revista é indexada e resumida pelo CAS, DOAJ e
● Dr. José Carlos Oliveira Santos, Sumários.org.
zecarlosufcg@tchequimica.com, Brasil, UFCG. This journal is indexed and summarized by CAS, DOAJ and
Sumarios.org.
● Dr. Alcides Wagner Serpa Guarino,
guarino@tchequimica.com ,Brasil, UNIRIO.
* CAS (Chemical Abstracts Service, a division of the
● Dr. João Guilherme Casagrande Jr, American Chemical Society.)
casagrande@tchequimica.com, Brasil, EMBRAPA.
● Dr. Murilo Sérgio da Silva Julião, * DOAJ (Directory of Open Access Journals)
juliao@tchequimica.com, Brasil, UVA
● Me. César Luiz da Silva Guimarães, Missão
guimaraes@tchequimica.com, Brasil, FIMCA. Publicar artigos de pesquisa científica que versem sobre a
● Me. Daniel Ricardo Arsand, Química e ciências afins.
arsand@tchequimica.com , Brasil, UNICRUZ.
● Me. Walmilson de Oliveira Santana, A responsabilidade sobre os artigos é de exclusividade dos
santana@tchequimica.com , Brasil, UFAL. autores.
● Me. Marcello Garcia Trevisan,
trevisan@tchequimica.com, Brasil, UNICAMP. Solicitam-se alterações, quando necessário.
● Dra. Roseli Fernandes Gennari,
gennari@tchequimica.com, Brasil, USP. Correspondências
● Dra. Denise Alves Fungaro, Rua Coronel Corte Real, 992/23.
fungaro@tchequimica.com, Brasil, IPEN. Porto Alegre – RS. Brasil.
● Me. Márcio von Mühlen, Bairro Petrópolis. CEP: 90630-080
vonmuhlen@tchequimica.com, EUA, MIT. Telefone: (0-xx-51) 9154-2489.
● Me. Rodrigo Brambilla, www.periodico.tchequimica.com
brambilla@tchequimica.com, Brasil, UFRGS. tchequimica@tchequimica.com
● Masurquede de Azevedo Coimbra,
coimbra@tchequimica.com, Brasil, UFRGS.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 2
Índice
Agenda - 5

Instruções para publicação / Instructions for publications - 6

Notas rápidas – 6

Artigo / Article Artigo / Article


MARTINS, D. F. F.; MOURA, M. F. SILVA, L. G.
V.; SOUZA, L.; CAMACHO, R. G.
V.; SILVA, A. G.; ROCHA, L. N. G.. PADRÃO DE COLORAÇÃO E
CARACTERES
DETERMINAÇÃO DE MORFOLÓGICOS EXTERNOS
NITROGÊNIO TOTAL E DA FAMÍLIA
PROTEÍNA BRUTA EM DENDROBATIDAE (POISON
EICHHORNIA CRASSIPES FROGS) COMO FERRAMENTA
PRESENTES NO RIO APODI / DE INFERÊNCIA
MOSSORÓ - RN. FILOGENÉTICA

UFRN PUCRS

Página – 7 Página - 14

Artigo / Article Artigo / Article


VIDAL, C. M. C.; CORRÊA, S. M. DE BONI, L. A. B.; SILVA, I. N. L.

CONTRIBUIÇÕES DA
ESTUDO DE DISPERSÃO DE
GEOMETRIA NÃO EUCLIDIANA
PLUMAS EM UM COMPLEXO
NA PRODUÇÃO DE FLUIDOS
INDUSTRIAL
COMBUSTÍVEIS SINTÉTICOS

UERJ PUCRS

Página – 34
Página – 21

Artigo / Article Artigo / Article


CESÁRIO, M. R.; MOURA, D. M. NOGUEIRA, J. P. A.;
A.; MACEDO, D. A.; LIMA, C. B. CARVALHO, A. D.; MARTINEZ-
A. HUITLE, C. A.; FERNANDES, N.
S.
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DA
ENZIMA POLIFENOLOXIDASE AVALIAÇÃO DA ADSORÇÃO
E INTERCALAÇÃO DO DE ÍONS COBRE NA PERLITA
FOSFATO DE CÁLCIO COM EMPREGANDO A
HIDRÓXIDO DE VOLTAMETRIA DE PULSO
TETRABUTILAMÔNIO DIFERENCIAL COM
ELETRODO DE CARBONO
UFRN VÍTREO MODIFICADO COM
QUITOSANA

Página – 41
UFRN

Página – 47

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 3
Artigo / Article Artigo / Article

LIMA, F. J. S.; SILVA, A. O.; SILVA, A. L.; MARTINS, G. S.


BRITO, Y. L.; SOUZA, F. L. V.; BARBOSA, R. C. A.;
C. MENDES, A. M. B.; COELHO,
L. F. O.
ESTUDO DE PARÂMETROS
DE REATIVIDADE A PRESENÇA DO BIODIESEL
MOLECULAR EM REAÇÕES NOS LIVROS DIDÁTICOS DE
DE ADIÇÃO DE QUÍMICA DO ENSINO MÉDIO
HALOGENIDRETOS AO
ETENO
UFCG
UFRN
Página - 65
Página - 54

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 4
Agenda
4º Simpósio Nacional de Biocombustíveis Local: Poços de Caldas/MG – BRASIL
Data: 11 e 12 de abril de 2011 Informações:http://www.meioambientepocos.com.br/pr
Local: Rio de Janeiro/RJ – BRASIL ograma.asp
Realização: Associação Brasileira de Química
Informações: http://www.abq.org.br/cbq/ Seminário Internacional de Manutenção
E-mail: abqeventos@abq.org.br Data: 29 a 30 de junho de 2011
Telefone: (0XX21) 2224-4480 Local: São Paulo/SP – BRASIL
Fax: (0XX21) 2224-6881 Informações: http://www.abraman.org.br/

9° Simpósio Brasileiro de Educação 11ª COTEQ (Conferência sobre


Química Tecnologia de Equipamentos)
Data: 17 a 19 de julho de 2011 Data: 10 a 13 de maio de 2011
Local: Natal/RN – BRASIL Local: Enotel Resort&Spa Porto de Galinhas
Realização: Associação Brasileira de Química Rodovia PE-09 Gleba 6 BA
Informações: http://www.abq.org.br/cbq/ Porto de Galinhas – Ipojuca/PE – BRASIL
E-mail: abqeventos@abq.org.br Realização: IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e
Telefone: (0XX21) 2224-4480 Gás)
Fax: (0XX21) 2224-6881 Informações: http://www.ibp.org.br/main.asp

34ª Reunião Anual da Sociedade 1° Congresso Brasileiro de CO 2 na


Brasileira de Química Indústria do Petróleo, Gás e
Data: 23 a 26 de maio de 2011 Biocombustíveis
Local: Florianópolis/SC – BRASIL Data: 18 a 20 de abril de 2011
Realização: Sociedade Brasileira de Química Local: Rio de Janeiro/RJ – BRASIL
Informações: http://www.sbq.org.br/34ra/ Hotel Sofitel Rio de Janeiro Copacabana
Telefone: +55(11)3032-2299 Avenida Atlântica 4240 - Copacabana
Fax: +55(11)3814-3602 Telefone.: (55 21) 2525-1235
Realização: IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e
Gás)
International Workshop on Genomics of Informações: http://www.ibp.org.br/main.asp
Health and Diseases
Data: 12 a 15 de março de 2011 IV Seminário sobre Tecnologias Limpas
Local: Natal/RN – BRASIL Data: 08 e 09 de junho de 2011
Informações: Local: Porto Alegre/RS – BRASIL
http://www.sbg.org.br/Eventos/MeetingGenomics/inde Salão de Atos 2 UFRGS
x.htm Telefone.: (55 21) 2277-3900
Realização: ABES (Associação Brasileira de
IV Conferência Regional sobre Mudanças Engenharia Sanitária e Ambiental)
Informações: http://www.abes-
Globais: o Plano Brasileiro para um rs.org.br/tecnologias2011/
Futuro Sustentável
Data: 04 a 07 de abril de 2011 3º Seminário Regional Sudeste de
Local: São Paulo/SP – BRASIL
Informações:http://www.acquaviva.com.br/sisconev/in Resíduos Sólidos & IX Sesma- Seminário
dex.asp?Codigo=103,5 Estadual sobre Saneamento e Meio
Ambiente
11º COTEQ – Conferência sobre
Tecnologia de Equipamentos Data: 04 a 06 de maio de 2011
Data: 10 a 13 de maio de 2011 Local: Vila Velha/ES – BRASIL
Local: Porto de Galinhas – Ipojuca/PE – BRASIL Centro de Convenções
Informações:http://www.abende.org.br/FrmEventoMan Telefone.: (55 21) 2277-3900
.php?evt_codigo=380 Realização: ABES (Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental)
VIII Congresso Nacional de Meio Informações: http://www.abes-
Ambiente de Poços de Caldas rs.org.br/tecnologias2011/
Data: 25 a 27 de maio de 2011

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 5
Instruções para publicação Instructions for publications
Artigos originais devem ser enviados por meio Original papers should be sent electronically
eletrônico para o endereço disponibilizado no site da to the address provided on the journal's website. The
revista. Deve ser utilizado o template disponibilizado template available on the site should be used (.DOC;
no site (.DOC; .ODT; DOCX). .ODT; DOCX).

Notas rápidas
MOVIE REVIEW

Tropa de Elite 2 possui uma história muito bem elaborada, a


trama conquista corações e mentes ao longo do filme. A ficção se
confunde com a realidade e parece impossível separar o que faz
parte da história daquilo que é fato. A qualidade do som e das
imagens é espetacular. Quem assistiu provavelmente torce pela
continuação do filme, e é complicado decidir qual dos filmes é mais
bem elaborado, T.E. 1 ou T.E. 2.

Tropa de Elite 2 (Elite Squad 2) has a very well thought out story,
the plot won hearts and minds throughout the movie. The fiction
merges with reality and it seems impossible to separate what is part of
the history of what is fact. The quality of sound and images is
spectacular. Anyone who watched is probably waiting for the
continuation of the movie, and it's difficult to decide which movie is
better T.E. 1 or T.E. 2.

Luis De Boni

BOOK REVIEW

Após algum tempo de procura encontrei uma tradução em Português do clássico livro “Os
Elementos” de Euclides, traduzido para o Português Brasileiro por Irineu Bicudo. Já tinha tido o
prazer de ler a tradução para o Inglês moderno, a partir do Grego, disponibilizada por Richard
Fitzpatrick. Tendo em vista a importante contribuição deste livro para a estrutura da moderna
civilização Brasileira, o mesmo é leitura obrigatória. No inicio, a leitura pode parecer um pouco
estranha ou desconfortável, ler em Português este clássico é ótimo. A qualidade da obra não permite
que o livro não seja apreciado. Este livro é presença fundamental em qualquer biblioteca do Brasil.

Luis De Boni.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 6
DETERMINAÇÃO DE NITROGÊNIO TOTAL E PROTEÍNA BRUTA EM
EICHHORNIA CRASSIPES PRESENTES NO RIO APODI / MOSSORÓ - RN.

DETERMINATION OF TOTAL NITROGEN AND CRUDE PROTEIN IN EICHHORNIA CRASSIPES


PRESENTS IN RIVER APODI / MOSSORÓ - RN.

MARTINS, Daniel Freitas Freire1; MOURA, Maria de Fátima Vitória2; SOUZA, Luiz Di3; CAMACHO,
Ramiro Gustavo Valera4; SILVA, Alriberto Germano5; ROCHA, Lamarck do Nascimento Galdino6.
1,2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Campus Universitário Lagoa Nova, CEP 59072-970 -
Caixa Postal - 1524, Natal - RN - Brasil
* e-mail: dffmquimica@hotmail.com
3, 4, 5, 6
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, BR 110 – Km 46 – Rua Prof. Antônio Campos,
s/n – Bairro Costa e Silva, CEP: 59.633.010 – Caixa Postal 70 – Mossoró – RN – Brasil.

Received 06 January 2010; received in revised form 08 April 2010; accepted 14 June 2010

RESUMO

As macrófitas aquáticas absorvem do meio grande quantidade de nutrientes essenciais ou não ao seu
desenvolvimento. O objetivo deste trabalho foi determinar a quantidade de nitrogênio total [EMBRAPA, 1999] e
o teor de proteína bruta [Boyd, 1970] presente em macrófitas aquáticas da espécie Eichhornia crassipes,
relacionando os valores obtidos com a variabilidade temporal. A partir dos resultados de área foliar (23,17;
67,21; 88,59 e 100,29 cm2), nitrogênio total (4,4088; 3,1649; 2,1241 e 1,5256 g/100g) e proteína bruta
(27,5549; 19,7805; 13,2755 e 9,5351 g/100g), pode-se concluir que os níveis de nitrogênio total e proteína
bruta diminuem ou mantêm-se constantes com o crescimento da planta. Desta forma, as plantas menores são
as que apresentam maiores concentrações destes nutrientes.

Palavras-chave: Absorção de nutrientes; Plantas aquáticas; Variabilidade temporal.

ABSTRACT

The aquatic macrophytes absorbs from the environment a large amount of nutrients, whether essential
or not to its development. The objective of this study was to determine the amount of total nitrogen [EMBRAPA,
1999] and crude protein [Boyd, 1970] present in aquatic macrophytes of species Eichhornia crassipes linking
the values obtained with the temporal variability. According to the results of leaf area (23.17; 67.21; 88.59 e
100.29 cm2), total nitrogen (4.4088; 3.1649; 2.1241 e 1.5256 g/100g) and crude protein (27.5549; 19.7805;
13.2755 e 9.5351 g/100g), can be concluded that the total nitrogen levels and crude protein decrease or remain
constant with the growing of the plant. Thus, the smaller plants have higher concentrations of these nutrients.

Keywords: Absorption of nutrients; Aquatic plant; Temporal variability.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 7
Introdução se obter resultados positivos com outros métodos
[Lin et al., 2002].
A estimativa mundial para os gastos com
Água limpa e de boa qualidade é um pro­
tratamento para despoluição ambiental gira em
duto precioso, em especial, no semi-árido brasi­
torno de 25 a 30 bilhões de dólares ao ano [Di­
leiro onde este recurso é escasso. No estado do
nardi et al., 2003] com métodos convencionais.
Rio Grande do Norte, a Bacia Hidrográfica do Rio
Já o tratamento de ambientes aquáticos poluídos
Apodi/Mossoró tem um curso de 210 km de ex­
por meio de macrófitas aquáticas apresenta bai­
tensão, ocupa aproximadamente 14.276 km2
xo custo e deixa a possibilidade de reciclagem da
(26,8% do Estado), possui vazão de cerca de
biomassa produzida, que pode ser utilizada como
360 milhões de m3/ano, e destaca-se como o
ração animal, fertilizante, na geração de energia,
mais importante recurso hídrico superficial de
fabricação de papel, produção de concentrado
toda a região oeste-potiguar [Martins et al.,
protéico para alimentação humana, artesanato,
2008a].
etc. [Henry-Silva et al., 2006; Verma et al., 2007;
Este rio desempenha papel chave no de­
Barbieri et al., 2004; Bortolotto & Guarim Neto,
senvolvimento econômico da região, fato que
2007].
pode ser constatado pelas atividades agrícolas
Para se ter idéia, o teor de proteína bruta
em suas margens, pelas micro-empresas ribeiri­
presente na espécie Eichhornia crassipes varia,
nhas, pela pesca e outras atividades econômi­
em média, de 12,45% [Henry-Silva & Camargo,
cas, sendo todas elas comuns em locais onde há
2006] a 24,13% [Medeiros et al., 2009] nas folhas
o descarte de efluentes sem tratamento adequa­
e pecíolos, variando de acordo com as caracte­
do [Martins et al., 2008b].
rísticas do ambiente e condições em que é culti­
Há algum tempo vem se tentando desen­
vada.
volver métodos mais eficazes de despoluição de
O conhecimento desses valores torna-se
ambientes aquáticos. As macrófitas aquáticas,
ainda mais relevante considerando-se as ques­
por necessitarem de altas concentrações de nu­
tões sociais da região, pois o Rio Apodi/Mossoró
trientes para seu desenvolvimento, são estuda­
compreende uma área em que a população sofre
das para recuperação de rios e lagos poluídos,
constantemente com a seca. Sendo assim, de­
efluentes provenientes de indústrias têxteis, car­
pendendo de sua composição, as macrófitas
cinicultura e diversos outros materiais poluentes
aquáticas poderiam ser utilizadas para a alimen­
[Mauro et al., 1999; Lin et al., 2002; Dinardi et al.,
tação de seus animais e até mesmo para a ali­
2003; Henry-Silva & Camargo, 2008].
mentação humana.
No entanto, a utilização destas plantas
Portanto, este trabalho teve como objetivo
em ambientes muito contaminados e sem a apli­
determinar a influência temporal na quantidade
cação de um manejo adequado, pode trazer di­
de nitrogênio total e proteína bruta em macrófitas
versos prejuízos aos usos múltiplos de rios, lagos
aquáticas da espécie Eichhornia crassipes
e represas, dificultando a navegação e a capta­
presentes no Rio Apodi/Mossoró e verificar a
ção de água, prejudicando a geração de energia
viabilidade do uso da biomassa produzida.
elétrica, comprometendo as atividades de lazer,
bloqueando o fluxo de água em canais de irriga­
ção e contribuindo para a diminuição de oxigênio Material e Métodos
dissolvido na água, podendo causar a eutrofiza­
ção do corpo aquático [Velini et al., 2005; Carva­ Foram realizadas colheitas a cada 2
lho et al. 2005; Negrisoli et al., 2006; Henry-Silva meses em um trecho do Rio Apodi/Mossoró que
et al., 2008]. corta a cidade de Mossoró (Leito principal) com
Estudos das absorções de nitrato, por cin­ início em agosto de 2008 e término em fevereiro
co espécies de macrófitas (Pharagmites austra­ de 2009, num total de 4 colheitas. Após as
lis, Commelina communis, Penniserum purpu­ mesmas, as amostras foram armazenadas em
reum, Ipomoea aquática, Pistia stratiotes) em sacos plásticos com um pouco de água dos
ambientes aquáticos deixaram bastante claro os próprios locais e levadas ao laboratório de físico-
bons resultados obtidos com o uso dessas plan­ química da Universidade do Estado do Rio
tas na retirada de poluentes, como também a ne­ Grande do Norte – UERN, onde foram separadas
cessidade de métodos alternativos como este em folhas (limbo + pecíolo) e raízes (Figura 1),
para a resolução de problemas de contaminação ambas lavadas com água da torneia e
devido, especialmente, ao custo necessário para enxaguadas exaustivamente com água destilada.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 8
Um espécime foi colhido aleatoriamente e Henry-Silva & Camargo (2006) e Medeiros et al.
levado ao laboratório de Biologia da UERN onde (2009), os mesmos encontraram resultados da
foi identificado como pertencente à família mesma ordem no tecido vegetal da Eichhornia
Pontederiaceae Kunth, espécie Eichhornia crassipes.
crassipes, e armazenado em local específico Tal comportamento pode ser explicado
[Souza & Lorenzi, 2008; Gonçalves & Lorenzi, pelas alterações fisiológicas que ocorrem com o
2007]. desenvolvimento das plantas onde, com a matu­
Para a medida da área foliar média de ridade das mesmas, os níveis de nutrientes ten­
uma planta (AF), considerando área foliar como dem a diminuir. Além disso, pode também ser
sendo apenas a área do limbo, utilizou-se o decorrente da competição existente entre as ma­
equipamento de medição de área foliar de crófitas, pois, como falta espaço lateral para o
bancada LI-COR 3100 AREA METER. seu crescimento devido ao grande número de
A massa foliar úmida média de uma plantas, as mesmas tendem a crescer vertical­
planta (MFU) foi determinada através da mente, fato visualmente comprovado pelo au­
pesagem em balança analítica. As folhas e mento do tamanho do pecíolo. Sendo assim,
raízes úmidas foram então colocadas em sacos como o pecíolo desenvolve-se notoriamente mais
de papel e secas em estufa com circulação que o limbo, e como o teor de proteína no primei­
forçada de ar a 60°C até peso constante ro é bem menor que no segundo, ocorre um efei­
(aproximadamente 6 dias) [EMBRAPA, 1999]. to de diluição, ou seja, quanto maiores forem as
Após a desidratação, as folhas foram pesadas plantas, menores serão os teores de proteína
para a obtenção da massa foliar seca (MFS), e [Rosa & Silva, 1997]. Ainda, o que também pode
em seguida trituradas e acondicionadas em ter influenciado nesse comportamento, são os ní­
frascos de plástico até a realização das medidas. veis de nitrogênio presentes na água, já que os
Os teores de nitrogênio total (NT) foram nutrientes absorvidos pelas macrófitas são pro­
determinados segundo o método de Kjeldahl venientes do meio em que as mesmas estavam
[EMBRAPA, 1999]. Os teores de proteína bruta inseridas. Aspectos estes que estão sendo inves­
(PB) foram calculados multiplicando-se os tigados e serão objetos de publicações posterio­
valores de nitrogênio por 6,25 [Boyd, 1970]. res.
Para o tratamento estatístico foi feito o Para as raízes, o mesmo comportamento
teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade foi observado. A única exceção ocorreu para o
utilizando o programa ASSISTAT Versão 7.5 mês de dezembro de 2008 (3ª colheita), onde há
beta (2008). um pequeno aumento da quantidade de nitrogê­
nio total quando comparada com a colheita ante­
Resultados e Conclusões rior. Isto se deve ao aumento da concentração
deste nutriente na própria água, causado pela di­
De acordo com os resultados obtidos (Ta­ minuição do volume desta. Como o mês de de­
bela 1 e Figura 2) constatou-se que os valores de zembro é o período mais seco da região, esta
área foliar, massa foliar úmida e massa foliar deve, provavelmente, ser a causa desse compor­
seca aumentam com o tempo de crescimento tamento adverso.
das plantas mantendo-se constante na última co­ Comparando os valores de nitrogênio
lheita devido, provavelmente, as mesmas terem total e proteína bruta presentes nas folhas com
atingido o estágio de maturidade. Vale destacar os valores encontrados nas raízes, pôde-se
que estes parâmetros foram medidos com o ob­ constatar que estas apresentaram níveis bem
jetivo de se ter um acompanhamento do tamanho menores que as folhas. Tal comportamento
da planta, e assim, verificar a influência temporal ocorreu pelo fato do nitrogênio ser essencial para
nos teores de nitrogênio total e proteína bruta. o desenvolvimento da planta. Sendo assim, o
Quanto aos valores de nitrogênio total nas transporte deste nutriente das raízes para as
folhas (limbo + pecíolo) da Eichhornia crassipes folhas é facilitado, fazendo com que estas
pôde-se observar o comportamento inverso, ou apresentem maiores concentrações de nitrogênio
seja, a quantidade desse nutriente diminuiu com e, consequentemente, de proteína bruta [Alves et
o tempo de crescimento da planta. O mesmo al., 2003].
comportamento se seguiu para os níveis de pro­ Pode-se ainda utilizar estes dados para
teína bruta, já que este parâmetro é diretamente fazer um comparativo do teor de proteína bruta
proporcional aos valores de nitrogênio total (Ta­ presente nessa espécie de macrófita aquática
bela 1 e Figura 3). Em trabalhos realizados por com a quantidade presente em alguns alimentos,

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 9
podendo-se assim, propor uma forma de Avaliações fisiológicas e bioquímicas de
aproveitamento da biomassa produzida em plantas de aguapé (Eichhornia crassipes)
relação a variável analisada. cultivadas com níveis excessivos de
Comparando-se os valores de proteína nutrientes. Planta Daninha, v. 21, p. 27-
bruta presente nas amostras de Eichhornia 35, 2003. Ed. Especial.
crassipes colhidas no Rio Apodi/Mossoró com a 2. BARBIERI, R.; CARIDADE, E. O.;
quantidade de proteína bruta presente em alguns ALMEIDA, I. C. S.; BEZERRA, D. S.;
alimentos destinados ao consumo humano, de DINIZ, S. C. C. S. Conteúdo de proteína,
acordo com a Tabela brasileira de composição cinzas e sais minerais de plantas
de alimentos (TACO) pode-se observar que a herbáceas utilizadas como forrageiras em
planta em questão apresenta níveis muito tanques de piscicultura (Vitória do
maiores ou próximos aos alimentos considerados Mearim, MA). Boletim do Laboratório de
ricos em proteína. Segundo a TACO, os valores Hidrobiologia, v. 17, p. 43 – 47, 2004.
encontrados em alguns alimentos vegetais são: 3. BORTOLOTTO, I. M.; GUARIM NETO, G.
para arroz integral cru (7,3 g/100g), farinha de Uso do camalote, Eichhornia crassipes
trigo (9,8 g/100 g), alface crespa crua (1,3 g/100 (mart.) Solms, Pontederiaceae, para
g), e feijão broto cru (4,2 g/100 g), por exemplo. confecção de artesanato no Distrito de
Portanto, tomando como base apenas os Albuquerque, Corumbá, MS, Brasil. Acta
valores de proteína presentes na macrófita Bot. Bras, v.39, n. 2, abr./jun, 2005.
aquática, conclui-se que: 4. BOYD, C. E. Aminoacids protein and
1) Os parâmetros analisados são bastante influ­ caloric content of aquatic
enciados pela variabilidade temporal; macrophytes, Ecology 51 (1970) 902 –
2) As macrófitas aquáticas da espécie Eichhor­ 906.
nia crassipes presentes no Rio Apodi/Mosso­ 5. CARVALHO, F. T.; VELINI, E. D.;
ró poderiam ser utilizadas para diversos fins, NEGRISOLI, E.; ROSSI, C. V. S. Eficácia
como por exemplo, na alimentação animal, ou do Carfentrazone-Ethyl no controle de
mesmo, na obtenção de um concentrado pro­ plantas aquáticas latifoliadas em caixas
téico destinado a alimentação humana. d’água. Planta Daninha, v. 32, n. 2, p.
A grande disponibilidade de biomassa 305 – 310, 2005.
aliada a sua alta velocidade de crescimento e o 6. DINARDI, A. L.; FORMAGI, V. M.;
pequeno período de cultivo necessário para se CONEGLIAN, C. M. R.; BRITO, N. N.;
obter o máximo de proteína, tornaria esta uma DRAGONI SOBRINHO, G.; TONSO, S.;
alternativa viável de aproveitamento da biomassa PELEGRINI, R. Fitorremediação. In:
produzida. No entanto, para que isto seja Fórum de Estudos Contábeis, 3, 2003.
possível é necessário estudar os teores de Rio Claro – SP. Anais...Rio Claro:
outros nutrientes e elementos tóxicos no tecido Faculdades Interligadas Claretianas,
vegetal. 2003.
Desta forma, a constatação do alto teor 7. EMBRAPA – Empresa Brasileira de
de proteína nas macrófitas pequenas é de Pesquisa Agropecuária. Manual de
grande importância, tendo em vista a análises químicas de solos, plantas e
necessidade da população em fazer uso, fertilizantes. Brasília: Embrapa, 1999.
principalmente, na alimentação de animais que 8. GONÇALVES, C. V. Alometria foliar,
em período de seca acabam morrendo por falta biomassa e fitoacumulação de cromo
de alimentação adequada. Além disso, vale em Eichhornia crassipes (Mart.) Solms.
ressaltar que a mesma não teria custo com a 2006. 76f. Dissertação (Mestrado em
produção, já que as plantas nascem e crescem o Ecologia) – Instituto de Biociência,
ano todo, naturalmente, em vários pontos do rio. Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre – RS.
9. GONÇALVES, E. G. & LORENZI, H.
Morfologia vegetal: organografia e
Referências dicionário ilustrado de morfologia das
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Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 10
aquáticas flutuantes utilizadas no PINTO, C. L. R. Estudo da biomassa de
tratamento de efluentes de aqüicultura. aguapé, para a produção do seu
Planta Daninha, v. 24, n. 1, p. 21-28, concentrado protéico. Ciência e
2006. Tecnologia de Alimentos, v. 19, n. 2,
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tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) e 20. ROSA, B.; SILVA, S. R. C. Produção e
qualidade da água em relação às características químicas do capim-
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Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 11
Figura 1 – Divisão estrutural da Eichhornia crassipes. 1 – Flor. 2 – Limbo. 3 – Pecíolo. 4 – Rizoma. 5
– Raiz. Fonte: Gonçalves, 2006.

Figura 2 – Valores de área foliar em função do tempo de crescimento das plantas.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 12
Figura 3 – Teores de proteína bruta nas folhas e raízes em função do tempo de crescimento das
plantas.

Tabela 1: Médias e desvios padrões das medidas.

Local Leito principal

Agosto/08 Outubro/08 Dezembro/08 Fevereiro/09


Período
(0 mês) (2 meses) (4 meses) (6 meses)

AF (cm2) 23,17 ± 2,79 (a) 67,21 ± 6,01 (b) 88,59 ± 9,87 (c) 100,29 ± 14,00 (c)

MFU (g) 0,6578 ± 0,1030 (a) 1,9984 ± 0,2000 (b) 2,6484 ± 0,4601 (c) 3,0906 ± 0,6151 (c)

MFS (g) 0,0913 ± 0,0187 (a) 0,2745 ± 0,0221 (b) 0,4448 ± 0,0667 (c) 0,5034 ± 0,1099 (c)

NT (folha)
4,4088 ± 0,0747 (a) 3,1649 ± 0,0117 (b) 2,1241 ± 0,0348 (c) 1,5256 ± 0,0177 (d)
(g/100g)

PB (folha)
27,5549 ± 0,4666 (a) 19,7805 ± 0,0730 (b) 13,2755 ± 0,2176 (c) 9,5351 ± 0,1106 (d)
(g/100g)

NT (raiz)
2,0306 ± 0,0124 (a) 1,8522 ± 0,0153 (b) 1,9761 ± 0,0372 (a) 1,4595 ± 0,0238 (c)
(g/100g)

PB (raiz)
12,6911 ± 0,0777 (a) 11,5761 ± 0,0953 (b) 12,3507 ± 0,2328 (a) 9,1218 ± 0,1488 (c)
(g/100g)

As médias seguidas pela mesma letra nas linhas não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de
Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 13
PADRÃO DE COLORAÇÃO E CARACTERES MORFOLÓGICOS
EXTERNOS DA FAMÍLIA DENDROBATIDAE (POISON FROGS) COMO
FERRAMENTA DE INFERÊNCIA FILOGENÉTICA

COLOR PATTERN AND EXTERNAL MORPHOLOGY CHARACTERS OF THE DENDROBATIDAE


FAMILY (POISON FROGS) AS A TOOL TO PHYLOGENETIC INFERENCE

SILVA, Lucas Gonçalves1


1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Departamento de Biodiversidade e Ecologia
Av. Ipiranga, 6681, Campus Central da PUCRS, Prédio 12C, Sala 173
e-mail: lucas.silva@pucrs.br
Received 20 July 2010; received in revised form 13 September 2010; accepted 06 October 2010.

RESUMO

Os “poison frogs” (família Dendrobatidae) formam um grupo de espécies com extensa distribuição nos
ecossistemas da Terra. Através do levantamento de caracteres morfológicos e do padrão de coloração das
mais conhecidas espécies de Dendrobatidae e de rotinas filogenéticas de softwares especializados em
sistemática, foi inferida uma filogenia para o grupo, tendo como objetivo esclarecer relações filogenéticas ainda
desconhecidas. Algumas relações filogenéticas são novas comparadas com trabalhos já publicados como de
Summers & Clough (2001) e Grant et al. (2006), que utilizaram bases moleculares, mas outras são
corroboradas pelo presente estudo. O cladograma de consenso obtido é sustentado por altos valores de
suporte Bootstrap em quase todos os ramos. Com altos índices de consistência e retenção da árvore de
consenso (0,68 e 0,62, respectivamente), a metodologia consolida o potencial da morfologia externa das
espécies como ferramenta de inferência filogenética.

Palavras-chave: Dendrobatidae, filogenia, morfologia, conservação.

ABSTRACT

The “poison frogs” (Dendrobatidae family) are a group of species widely distributed on Earth’s
ecosystems. Through the analysis of morphological characters and color pattern of the best known species of
Dendrobatidae and specialized software routines of phylogenetic systematics, it was inferred a phylogeny for
that group aiming to find unknown phylogenetic relations. Some phylogenetic relationships are new compared
with published studies as Summers & Clough (2001) and Grant et al. (2006), who used molecular basis, but
others are now supported by this study. The consensus cladogram is supported by high bootstrap support
values in almost all the branches. With high consistency and retention of the consensus tree (0.68 and 0.62,
respectively), the methodology reinforces the potential of the species external morphology as a tool for
phylogenetic inference.

Keywords: Dendrobatidae, phylogeny, morphology, conservation.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 14
Introdução trabalho de Summers & Clough (2001),
apresentando 21 espécies (terminais) de 5
A família Dendrobatidae, composta pelos gêneros diferentes (Allobates, Colostethus,
chamados “poison frogs”, é um grupo de anuros Minyobates, Dendrobates e Phyllobates). O
terrestres que possuem uma extensa gama de “outgroup” foi definido a partir do trabalho de
coloração e toxicidade (Summers & Clough, Grant et al. (2006) e identificado como o clado
2001). Estes anuros estão presentes composto pelas famílias Bufonidae e Hylodinae,
principalmente em regiões tropicais, com maior grupo-irmão dos Dendrobatidae na filogenia
representação nas Américas, África e Ásia proposta pelos autores. Foram utilizados 5
(Meegaskumbura et al., 2002) e tendem a gêneros diferentes (7 espécies no total) das
adquirir características e padrões morfológicos duas famílias citadas anteriormente para
por conta desses isolamentos geográficos polarização dos caracteres levantados no
(Baum et al., 2005). Estão seriamente “ingroup” (Figura 1). As relações filogenéticas do
ameaçados de extinção principalmente pela “outgroup” foram modeladas durante o processo
perda de habitats, sobre-exploração e fatores de construção da filogenia, porém foram
enigmáticos, como doenças e perda de relações omitidas no cladograma final de consenso para
ecológicas importantes (Stuart et al. 2004). melhor visualização das relações entre os
terminais no “ingroup”.
A família possui cerca de 260 espécies
no total, considerando-se algumas sub-espécies Foram definidos 20 caracteres para
dentro desse número e, por conta disso, sua análise, tanto de morfologia externa dos
filogenia não é totalmente conhecida (Grant et exemplares, quanto do padrão de coloração do
al., 2006). Já foram publicados trabalhos com corpo. A polarização dos caracteres foi feita
relações filogenéticas da família Dendrobatidae. assumindo-se a característica mais frequente no
Grant et al. (2006) e Summers & Clough (2001) grupo externo como mais primitiva. Foram
publicaram artigos no qual trazem filogenias a definidos como caracteres e seus respectivos
partir de bases moleculares e análise da estados: (A) Cor do olho: (0) preto e (1) azul; (B)
toxicidade dos representantes do grupo Comprimento do dedo médio posterior em
taxonômico, mas trabalhos com filogenias relação aos demais dedos: (0) longo, (1) médio
levando em consideração padrões de coloração e (2) curto; (C) Número de cores do corpo: (0)
e morfologia externa do corpo ainda não foram duas cores, (1) uma cor e (2) mais de duas
publicados por pesquisadores. cores; (D) Faixa colorida lateral antero-posterior
acima do olho: (0) ausente e (1) presente; (E)
O objetivo do presente trabalho é definir
Padrão de coloração do corpo: (0) manchado,
caracteres morfológicos e do padrão de
(1) cores uniformes dispostas em linhas e (2)
coloração das espécies como ferramentas
coloração única sem linhas nem manchas; (F)
filogenéticas do grupo e inferir uma filogenia das
Padrão de coloração do ventre: (0) uma cor e (1)
principais espécies da família Dendrobatidae,
manchado; (G) Tamanho das manchas no
comparando com trabalhos já publicados. A
dorso: (0) presentes-pequenas, (1) presentes-
importância se dá pelo fato desse grupo estar
grandes e (2) ausentes; (H) Formato do nariz:
seriamente ameaçado em diversos
(0) arredondado e (1) bicudo; (I) Tamanho dos
ecossistemas do mundo (Becker et al., 2007).
olhos em relação ao tamanho da cabeça: (0)
médios, (1) pequenos e (2) grandes; (J)
Material e Métodos Coloração predominante nas pernas anteriores:
(0) uma cor e (1) duas cores; (L) Forma do
Para inferir a filogenia dos Dendrobatidae dorso na posição antero-posterior: (0) reto e (1)
foram utilizadas as mesmas espécies que curvado; (M) Textura do dorso: (0) liso, (1)
compõem a filogenia proposta por Summers & pouco rugoso e (2) muito rugoso; (N) Tamanho
Clough (2001) e por eles analisadas a partir da da coxa em relação ao tamanho da perna
composição das toxinas presentes nas espécies. posterior: (0) fina e (1) grossa; (O) Glândula
As informações referentes à morfologia e padrão atrás do olho na posição dorsal: (0) presente e
de coloração do grupo de interesse estão (1) ausente; (P) Tamanho da ponta adesiva do
disponíveis nos portais Amphibia Web dedo em relação ao tamanho do dedo: (0)
(www.amphibiaweb.org) e All About Frogs presente-pequena, (1) presente-grande e (2)
(www.allaboutfrogs.org). ausente; (Q) Linha lateral antero-posterior
O “ingroup” foi definido a partir do colorida abaixo do olho: (0) ausente, (1)

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 15
presente-contínua e (2) presente-não-contínua; Resultados e Discussão
(R) Padrão de coloração das pernas posteriores:
Para a análise heurística foram obtidas 7
(0) padrão semelhante ao dorso, (1) padrão
árvores com 66 passos cada. Na metodologia
semelhante ao ventre e (2) padrão diferente do
Ratchet foram obtidas 25 árvores com os
dorso e do ventre; (S) Mimetismo: (0) padrão
mesmos 66 passos. Foi gerada uma árvore de
escuro e (1) cor chamativa; (T) Anel colorido
consenso com índice de consistência 0,68 e
acima da narina: (0) presente e (1) ausente. A
índice de retenção de 0,62 (Figura 3).
partir dos caracteres e respectivos estados
presentes nas espécies foi gerada uma matriz Comparando os dados obtidos no
descritiva que serviu de base para a construção presente estudo através da análise filogenética
de uma matriz numérica utilizando-se do embasada em caracteres morfológicos e padrão
software Mesquite 2.01 (Maddison & Maddison, de coloração das espécies com o trabalho de
2009). A matriz numérica foi gerada com os Summers & Clough (2001), que utilizou análises
caracteres A-T anteriormente descritos. Os moleculares, existem algumas diferenças. As
mesmos foram numerados de 1 a 20 na matriz espécies Colostethus marchesianus e
numérica (Figura 2). Colostethus talamancae tinham uma relação
filogenética desconhecida. Agora C.
A matriz gerada no software Mesquite
machesianus está mais basal na filogenia
2.01 (Figura 2) foi exportada para o software
obtida, com padrão de coloração bastante
WinClada 1.00.08 (Cladistics, 2009). Para as
semelhante com elementos do “outgroup”.
análises filogenéticas, foi utilizado o software
Epipedobates tricolor e Epipedobates trivttatus
NONA 2.0 (Goloboff, 2005), inserido dentro do
formam um grupo-irmão com 57% de suporte de
Winclada. A matriz foi analisada preliminarmente
Bootstrap, grupo esse que não aparece na
pelo método clássico de parcimônia e análise
filogenia de Summers & Clough (2001), onde E.
heurística (tentativa e erro), utilizando-se
tricolor se relacionava mais proximamente com
múltiplo TBR+TBR (Tree Bissection
Epipedobates anthonyi. O gênero Minyobates
Reconnection), o qual recorta sub-árvores e
está mais relacionado com o gênero
insere em pontos aleatórios da filogenia. Para
Epipedobates do que Dendrobates. A espécie
esse método foram utilizadas 100.000
Phyllobates bicolor apresenta relação direta de
replicações, mantendo 1000 árvores (hold).
ancestralidade com Dendrobates speciosus e,
Após, foi utilizado o método Ratchet para
apesar de estarem classificadas em diferentes
analisar a mesma matriz, mantendo-se as
gêneros, possuem um padrão de coloração do
árvores encontradas na análise heurística, mas,
corpo muito semelhante, o que pode ter
com esse método, perturbando-se os caracteres
interferido diretamente na analise dessas duas
e realizando um rearranjo das árvores
espécies (caracter E, 100% de suporte
encontradas e atribuindo peso aos caracteres
Bootstrap). As relações entre as espécies
(Nixon, 1999). Para Ratchet foram utilizadas
Dendrobates pumilio, Dendrobates granuliferus
1000 iterações, 500 árvores foram retidas e 5
e Dendrobates histrionicus mantêm-se,
caracteres presentes na matriz foram
formando este um grupo monofilético em ambas
perturbados durante o processo de análise
filogenias. O grupo formado pelas espécies
(25%).
Phyllobates vittatus e Phyllobates lugubris é
Para obtenção de valores de suporte foi corroborado, inferindo relação filogenética
utilizada a metodologia de Bootstrap (Seo, próxima dessas duas espécies.
2008), onde uma re-amostragem randômica de
Na filogenia obtida, a relação entre as
caracteres gera uma estatística de frequência,
espécies Allobates femoralis, E. anthonyi e
que atribui valores de confiabilidade aos ramos
Epipedobates boulengeri não se mostrou bem
da filogenia conforme a freqüência com que o
resolvida, assim como Epipedobates bilinguis e
ramo ocorre nas árvores obtidas. A função
Minyobates minutus, pois apresenta politomia
Bootstrap está incluída dentro do software
nos ramos. Da mesma forma, dentro do clado
WinClada e, para o processo, foram utilizadas
formado quase que exclusivamente por espécies
500 replicações, 500 interações, com 50 árvores
do gênero Dendrobates, a relação entre
iniciais e análise por TBR. Após todas as
Dendrobates ventrimaculatus e Dendrobates
análises filogenéticas, foi gerada uma árvore de
tinctorius não foi resolvida pelo mesmo motivo.
consenso.
O presente estudo evidencia o potencial
dos caracteres morfológicos e o padrão de

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 16
coloração das espécies de anuros como 4. MEEGASKUMBURA, M., BOSSUYT, F.,
ferramenta filogenética, complementando PETHYAGODA, R., MANAMENDRA-
lacunas das filogenias moleculares publicadas. ARACHCHI, K., BAHIR, M.,
Porém, vale ressaltar, essas filogenias MILINKOVITCH, M. C., SCHNEIDER, C.
moleculares são muito bem embasadas e J. 2002. Sri Lanka: An Amphibian Hot
consolidadas, e o presente trabalho mostra uma Spot. Science 298, 379.
nova ferramenta potencial de inferência. Esse 5. MENDELSON, J. R., et al. 2006.
potencial ajuda na compreensão de relações Confronting Amphibian Declines and
filogenéticas dos grupos e essas relações são Extictions. Science 313, 48.
extremamente importantes para a conservação 6. MITTERMEIER, R. A., MITTERMEIER,
das espécies em questão, já que diversos C. G., BROOKS, T. M., PILGRIM, J. D.,
trabalhos como Stuart et al. (2004), Becker et al. KONSTANT, W. R., FONSECA, G. A. B.
(2007), Meegaskumbura et al. (2002), 2003. Wilderness and biodiversity
Mendelson et al. (2006) e Silvano & Segalla conservation. PNAS 100:18, 10309-
(2005) trazem como principal tema o declínio no 10313.
número de espécies de anfíbios no mundo, bem 7. NIXON, K. C. 1999. The Parsimony
como a depleção de populações. A ameaça à Ratchet, a New Method for Rapid
conservação das espécies se dá por conta da Parsimony Analysis. Cladistics 15,
fragmentação e descaracterização de habitats, 407–414.
sobre-exploração e perda de relações 8. SEO, T. K. 2008. Calculating Bootstrap
ecológicas naturais das espécies (Mittermeier et Probabilities of Phylogeny Using
al., 2003). Mendelson et al. (2006) sugerem a Multilocus Sequence Data. MBE 14, 2-
criação de políticas voltadas para conservação, 37.
bem como ações de pesquisa com relação às 9. SILVANO, D. L, SEGALLA, M. V. 2005.
espécies de anfíbios, sejam elas de ecologia ou Conservação de Anfíbios no Brasil.
sistemática. Megadiversidade 01, 79-86.
10. STUART, S. N., CHANSON, J. S., COX,
N. A., YOUNG B. E., RODRIGUES, A. S.,
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KOK, P. J., MEANS, D. B., NOONAN, B.
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Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 17
Figura 1 – O “ingroup” (branco) e o “outgroup” (vermelho) utilizados para a inferência filogenética.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 18
Figura 2 - Matriz numérica (codificada) gerada a partir dos caracteres e respectivos estados.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 19
Figura 3 - Filogenia da família Dendrobatidae obtida nas análises (consenso). Os valores sobre os
ramos indicam o suporte de Bootstrap, ilustrando a freqüência da ocorrência do ramo no conjunto de
dados analisados durante a construção da filogenia.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 20
ESTUDO DE DISPERSÃO DE PLUMAS EM UM COMPLEXO INDUSTRIAL

PLUME DISPERSION STUDY IN A INDUSTRIAL COMPLEX

VIDAL, César Marcelo Cajazeira, CORRÊA, Sérgio Machado

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Tecnologia, Departamento de Química e Ambiental,


Rod. Presidente Dutra km 298, Pólo Industrial, Resende, RJ, Brasil, 27537-000
sergiomc@uerj.br

Received 13 December 2010; received in revised form 22 December 2010; accepted 28 December 2010

RESUMO

A modelagem de dispersão de plumas é usada para estimar a distribuição dos poluentes nas
vizinhanças das chaminés. É baseado no modelo Gaussiano, onde os dados de entrada são as taxas de
emissão, dados físicos da chaminé, dados meteorológicos e topográficos. Como é uma técnica recente no
Brasil, este trabalho descreve a metodologia e seus passos, indicando os parâmetros mais relevantes, as
possíveis simplificações e detalhamentos necessários. O estudo de caso foi realizado nas Indústrias Nucleares
do Brasil, e os resultados indicaram que as edificações são o parâmetro mais importante, seguido da
topografia. Uma comparação foi realizada entre dois softwares comerciais, o SCREEN e o ISCST3. Os
resultados indicam que o SCREEN pode ser usado como uma ferramenta de avaliação inicial, quando nem
todos os dados de entrada para processar o ISCST3 estão disponíveis.

Palavras-chave: plumas, dispersão, modelagem

ABSTRACT

The plume dispersion modeling is used to estimate the pollutants distribution in the v icinities of a
chimney. It is based on a Gaussian model where input data are the emissions rate, physical data from the stack,
meteorological data, and topographical characteristics. As this technique is new in Brazil, this work proposes to
describe the methodology and its steps, indicating the most relevant parameters, the possible simplifications,
and necessary details. The case study was done at the site of Brazilian Nuclear Industries and the results
indicated that the edifications are the most relevant parameter, followed by the topographical characteristics. A
comparison was also done between the two commercial softwares available, the ISCST3 and SCREEN. The
results indicated that the SCREEN software can be used as an initial evaluation tool, whenever all input data
necessary to process ISCST3 are not available.

Keywords: plume, dispersion, modelling

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Introdução Este trabalho se propõe a descrever a
metodologia de abordagem para decisão de
A poluição do ar causada pela emissão
escolha dos softwares (SCREEN e ISCST3) a
de fontes fixas (chaminés) pode resultar em
ser empregado no cálculo de dispersão de
problemas que variam desde os arredores até
plumas atmosféricas, ou seja, decidir sobre quais
quilômetros de distância. O controle das
simplificações podem ser feitas e quais
emissões requer uma avaliação dos poluentes
detalhamentos não podem ser desprezados.
nos níveis qualitativo e quantitativo. Para estimar
os impactos da emissão dos poluentes e a Para entendimento da equação geral de
aplicabilidade de medidas de controle é preciso o plumas gaussianas, foi levado em consideração
uso de ferramentas matemáticas e dados o desenvolvimento da expressão Lagrangiana
experimentais. Um dos métodos utilizados é o básica para concentração média de um poluente
cálculo de dispersão de plumas atmosféricas, no tempo e no espaço, segundo a Equação 1.
que pode prever com quais concentrações os
O primeiro termo do lado direito
poluentes emitidos por uma chaminé irão atingir
representa as partículas presentes em t0, e o
o nível do solo e em que localidade será atingida
segundo termo do lado direito se refere às
a concentração máxima, assim como as suas
partículas acrescentadas das fontes entre t0 e t.
vizinhanças.
A Equação 1 é a relação Lagrangiana
Existem diversos modelos para o cálculo
fundamental para a concentração média de uma
de dispersão de plumas atmosféricas. Com base
espécie em fluxo turbulento. A determinação de
no algoritmo de cálculo, existem os modelos
〈c(x, t)〉, dado que 〈c(x0, t0)〉 e S(x’, t), depende da
Gaussianos, Numéricos, Estatísticos e Físicos,
sendo os Gaussianos mais empregados por sua avaliação da probabilidade de transição Q(x, tx’,
simplicidade, por já terem sido testados t’). Se Q fosse conhecido por x, x’, t, a
exaustivamente e por serem de ampla aceitação concentração média 〈c(x, t)〉 poderia ser
pelas agências ambientais. computada simplesmente avaliando a Equação
1. No entanto, existem dois problemas
No modelo apresentado neste estudo, o substanciais ao se utilizar a Equação 1.
algoritmo de cálculo empregado é integrante dos Primeiramente, a equação se mantém apenas
softwares SCREEN e ISCST3, de livre quando as partículas não sofrem reações
distribuição, pela Agência de Proteção Ambiental químicas. Em segundo lugar, o conhecimento
Norte Americana (US-EPA). O algoritmo usado completo das propriedades da turbulência,
pelo software SCREEN baseia-se em um cálculo necessário para se conhecer Q geralmente não
gaussiano de uma fonte fixa, podendo ser está disponível, exceto nas circunstâncias mais
estendido para múltiplas fontes de acordo com simples.
uma metodologia para agrupamento de fontes. O
cálculo também pode ser efetuado para fontes de O cálculo envolvendo o modelo de pluma
áreas como emissões de aterros ou incêndios e gaussiana possui uma aplicação mais prática e
de fontes volumétricas como um bloco. Já o avalia a concentração dos poluentes emitidos por
software ISCST3, também da US-EPA, é uma fonte fixa através da Equação 2.
empregado para avaliações de fontes individuais A densidade de probabilidade de
múltiplas e de grande complexidade, como transição Q expressa fisicamente a probabilidade
múltiplos prédios e terrenos assimétricos como é de uma partícula traçadora, que está em x’, y’, z’,
o caso de uma refinaria (Vidal, 2008). num tempo t’, estar em x, y, z, num tempo t. Sob
Vários são os parâmetros que devem ser condições estacionárias, a turbulência
monitorados e requeridos para o cálculo de homogênea Q tem a forma Gaussiana.
dispersão de plumas atmosféricas, portanto, as Nas condições usuais para se estimar o
informações sobre fonte de emissão, impacto de fontes estacionárias nas vizinhanças,
meteorologia, poluentes, edificações e topografia algumas simplificações para as Equações 1 e 2
merecem destaque. podem ser realizadas, como por exemplo:
Com base nas informações das • A estabilidade da atmosfera é uniforme
condições de contorno, é possível realizar uma na região de estudo;
simulação através do cálculo de dispersão de
plumas para a avaliação dos poluentes emitidos • A diluição vertical e horizontal pode ser
para a atmosfera. descrita por uma curva gaussiana;

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• A liberação dos poluentes é feita a uma tipo de movimento vertical é chamada atmosfera
altura equivalente a altura da chaminé neutra. Através do perfil de temperatura potencial
mais a elevação da pluma; (θ) na vertical, pode-se determinar o grau de
• O grau de diluição do poluente é inversa­ estabilidade da atmosfera, e cada tipo de
mente proporcional a velocidade do ven­ estabilidade atmosférica irá proporcionar uma
to; melhor ou pior dispersão dos poluentes. A
temperatura potencial pode ser definida como a
• O poluente ao atingir o solo é refletido de temperatura que uma parcela de ar teria, se
volta para a atmosfera, não sofrendo inte­ fosse trazida adiabaticamente de um
ração; determinado nível até o nível de 1000 mbar. O
• Não há reação química entre as espécies conceito de temperatura potencial está
emitidas nem entre estas e os demais intimamente relacionado com o conceito de
constituintes da atmosfera em estudo. estabilidade estática, ou seja, um arranjo do
fluido em que a porção mais leve fica acima da
Empregando-se estas simplificações as porção mais pesada. Assim, de duas parcelas
Equações 1 e 2 podem ser reduzidas a Equação com θ diferentes, aquela com maior θ será a
3. mais leve (Moreira e Tirabassi, 2004).
Onde: Portanto, o perfil vertical de temperatura
c = Concentração do poluente nas coordenadas próximo ao solo é um dos fatores que mais influ­
em x, y e z, g m-3 enciam a dispersão dos poluentes na atmosfera,
até mais importante que a intensidade dos ven­
x = distância horizontal da emissão ao receptor tos. Condições neutras são caracterizadas pela
(m) ocorrência de um perfil vertical de temperatura
y = distância horizontal do ponto de medição a adiabático (aproximadamente constante com a
uma distância y da linha central da pluma (m) altura). Essas condições ocorrem geralmente du­
rante as transições do dia para noite e vice-ver­
z = altura do receptor (m) sa, em dias nublados, ou com fortes ventos (com
q = taxa de emissão do poluente (g s-1) velocidades maiores do que 6 m s-1).
σy, σz = Coeficientes de dispersão vertical e Os parâmetros meteorológicos são
horizontal (m) fundamentais para a dispersão dos poluentes. É
um fator primário que determina o efeito de
u = velocidade média do vento na altura da diluição da atmosfera. Normalmente, é
chaminé (m s-1) necessário o levantamento da distribuição
h = Altura efetiva de lançamento (m) conjunta de classes de velocidade dos ventos e
categorias de estabilidade atmosféricas para as
As correlações σy e σz, mais amplamente diversas direções do vento. Essa matriz é
usadas, com base nas classes de estabilidade de utilizada como dado de entrada de diversos
Pasquill, foram àquelas desenvolvidas por Gifford modelos (Derisio, 2000).
(Seinfeld e Pandis, 1998). Significam a abertura
da pluma conforme se afasta da fonte, é O movimento dos poluentes na atmosfera
fortemente dependente da estabilidade da é determinado pelos seguintes fatores:
atmosfera, que é função dos ventos que irão • Turbulência mecânica provocada pelo
transportar a pluma horizontalmente e a radiação vento na instabilidade direcional e de ve­
solar que irá ampliar a pluma verticalmente ao locidade;
solo. A estabilidade da atmosfera é amplamente
aceita pela proposta de Pasquill-Gifford está • Turbulência térmica resultante de parce­
apresentada na Tabela 1. las de ar superaquecido que ascendem
da superfície terrestre, sendo substituídas
A estabilidade da atmosfera pode ser pelo ar mais frio em sentido descendente;
definida como sendo a sua capacidade de resistir
ou intensificar os movimentos verticais. Quando • Topografia da região.
ela resiste aos movimentos verticais é chamada A concentração resultante na atmosfera
de atmosfera estável, quando intensifica os varia de acordo com o ponto no espaço em
movimentos verticais é dita atmosfera instável ou consideração, a quantidade e as condições de
convectiva, e quando é indiferente a qualquer emissão e nos fatores citados anteriormente,

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somados aos fatores de chuva e condições de contínuas de poluentes tóxicos e perigo­
inversão térmica. Resumindo, a concentração do sos;
poluente na atmosfera é função da quantidade e
• O modelo ISCST3 pode lidar com fontes
das condições de emissão, das condições
múltiplas, incluindo os tipos ponto, volu­
meteorológicas e da topografia (Uehara, 2003).
me, área e cavidades abertas. Fontes li­
Moreira & Tirabassi (2004) descrevem neares também podem ser modeladas
que a gestão e a proteção da qualidade do ar como fontes de corrente de volume ou
pressupõem o conhecimento do estado do áreas alongadas;
ambiente. Tal conhecimento envolve um aspecto
• As taxas de emissão das fontes podem
propriamente cognitivo e um interpretativo. A
ser tratadas como constantes ou podem
rede de pesquisa, juntamente com o inventário
variar por mês, estação, horário ou outros
das fontes de emissão, é de fundamental
períodos opcionais, tanto para uma única
importância para a construção do quadro
fonte ou para um grupo de fontes;
cognitivo, mas não do interpretativo. Na
realidade, o controle da qualidade do ar requer • O modelo pode considerar os efeitos de
instrumento interpretativo capaz de extrapolar no downwash aerodinâmicos devido à proxi­
espaço e no tempo os valores medidos na midade de edifícios com as emissões da
posição dos analisadores. Enquanto a melhoria fonte pontual;
da atmosfera pode ser obtida somente com • O modelo contém algoritmos para mode­
planos que reduzam as emissões e, então, com lar os efeitos de deposição e remoção
instrumentos (como o modelo matemático de (através da deposição seca) de particula­
dispersão na atmosfera) capazes de ligar a dos grandes, bem como modelar os efei­
causa (a fonte) de poluição com o efeito (a tos das remoções por precipitação para
concentração. do poluente). gases ou particulados;
• A localização de receptores pode ser es­
Parte Experimental pecificada tanto em receptores em grade
e/ou discretos, num sistema de coordena­
das polares ou cartesianos;
Modelo ISCST3
• O ISCST3 incorpora os algoritmos de mo­
O modelo de dispersão ISCST3 (USEPA, delos de visualização de dispersão COM­
1995) (Industrial Source Complex - Short Term PLEX 1 para receptores em terrenos
Version 3) é um modelo de pluma Gaussiana de complexos.
estado estacionário que pode ser utilizado na
• O modelo ISCTS3 utiliza dados meteoro­
avaliação de concentrações de poluentes e/ou
lógicos em tempo real para considerar as
nos fluxos de deposição a partir de uma grande
condições atmosféricas que afetam a dis­
variedade de fontes associadas a uma fonte
tribuição dos impactos da poluição do ar
industrial complexa.
na área modelada;
Nos Estados Unidos, o ISCST3 foi
• Resultados de saída (output) para Con­
substituído pelo AERMOD; no Brasil, o mesmo
centração, deposição total, e fluxo de de­
ainda é recomendado especificamente com
posição seca e/ou úmida.
relação a estudos de qualidade do ar, e
prognóstico da área de influência. Segundo Negri (2002), o modelo ISCST3
permite associar cenários climáticos próximos da
O modelo de dispersão ISCST3 da
realidade física, sendo utilizado tanto pela
Agência de Meio Ambiente Norte Americana
comunidade acadêmica como pelas agências
(EPA) foi projetado para suportar as opções de
nacionais e internacionais de controle ambiental.
regulamentação dos modelos, conforme
O cálculo de concentração de poluentes permite
especificado nas diretrizes sobre os modelos de
a obtenção de resultados nas escalas espacial e
qualidade do ar. Algumas das habilidades da
temporal, os quais são comparados
modelagem com o ISCST3 incluem:
posteriormente aos padrões vigentes no país
• O modelo ISCST3 pode ser utilizado para (CONAMA, 1990). O modelo aceita dados de
modelar poluentes primários e emissões entrada de mais de 500 fontes simultâneas tipo
pontual e área e gera cerca de mais de 1.500

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receptores na superfície. Os receptores são virtual;
distribuídos dentro de uma grade cartesiana,
• Cálculo da Concentração máxima, a
cujas quadrículas aceitam áreas variáveis. Esse
qualquer distância especificada pelo
modelo permite incorporação das fontes pontuais
usuário em terreno plano ou elevado
equivalentes e as fontes áreas estabelecidas
simples, incluindo distâncias até 100 km
para as fontes móveis (veiculares) e agrícolas
para transportes de longo alcance.
(queima de cana), por exemplo.
• Exame de uma ampla faixa de condições
meteorológicas, incluindo todos os tipos
Modelo SCREEN de classes de estabilidade e velocidade
eólica para calcular os impactos
De acordo com a USEPA, o modelo máximos;
SCREEN3 (USEPA, 1995) foi desenvolvido para
fornecer um método de simples manuseio para a • Inclusão dos efeitos da dispersão
obtenção de estimativas da concentração de induzida pela força ascencional
poluentes. Essas estimativas se baseiam no (buoyancy-induced dispersion (BID);
documento “Procedimentos de Visualização para • Cálculo explícito dos efeitos de reflexões
Estimativas do Impacto da Qualidade do Ar de múltiplas da pluma tanto fora da inversão
Fontes Estacionarias”. elevada como acima do solo;
A versão SCREEN3 3.0 do modelo • Quando calcula concentrações abaixo
SCREEN pode fornecer todos os cálculos em das condições limites da mistura;
curto prazo de uma única fonte, no documento
de procedimentos de visualização da EPA, O modelo SCREEN3 não será capaz de
incluindo: realizar o seguinte:

• Estimativa de concentrações máximas ao • Determinar explicitamente os impactos


nível do solo e a distância até o valor máximos a partir de múltiplas fontes,
máximo; excetuando-se os procedimentos de
manipulação de múltiplas fontes
• Incorporação dos efeitos de “building próximas, pela fusão das emissões em
downwash” nas concentrações máximas uma única chaminé “representativa”.
tanto nas laterais próximas como nas
mais distantes regiões; Nota: À exceção da estimativa de 24 horas para
impactos em terrenos complexos, os resultados
• Estimativa de concentrações na zona de do SCREEN3 são estimados para concentrações
recirculação de cavidade; máximas de 1 hora.
• Estimativa de concentrações devido à O modelo SCREEN foi desenvolvido para
quebra de inversão e fumigação no litoral; se obter a concentração de poluentes no nível do
• Determinação da elevação da pluma para solo em regiões onde não existam dados
liberação dos gases de queimadores; meteorológicos disponíveis. Portanto, é de
grande utilidade para a estimativa da
• Incorporação dos efeitos da simples concentração de poluentes em regiões carentes
elevação do terreno nas concentrações de informações. Apresenta resultados de
máximas; concentração de poluentes superestimados,
• Estimativa de concentrações médias de vinculados à classe de estabilidade atmosférica
24 horas devido ao impacto da pluma em mais crítica. Contudo, no caso de disponibilidade
terreno complexo, por meio da utilização de dados meteorológicos locais, o modelo
do procedimento de visualização de 24 SCREEN possibilita diretamente a entrada
horas, usando o modelo VALLEY; dessas informações. Tem como principal
limitação a incorporação de apenas uma fonte
• Modelagem de fontes de área simples pontual, não tendo a representação de fontes
utilizando uma abordagem de integração tipo área. Neste caso, as fontes móveis e
numérica; agrícolas devem ser distribuídas na área típica.
• Pode ser usado para modelagem dos Com o advento e multiplicação dos
efeitos de fontes de volume simples computadores pessoais, muitos modelos foram
usando um procedimento de fonte pontual desenvolvidos utilizando os métodos de

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diferenças finitas ou métodos de elementos unidades rurais fronteiriças ao imóvel, incluindo 2
finitos. hotéis na localidade de Engenheiro Passos e
respectiva vila da COHAB (Resende). O
Os modelos são desenvolvidos em
município de Resende, com área de 1.155 km 2,
parceria com Universidades e Instituições de
limita-se ao Norte com o Estado de Minas
Pesquisas Atmosféricas na linguagem de
Gerais, ao Sul e a Oeste com o Estado de São
programação Fortran e divulgados no sistema
Paulo. Nesta região, o tráfego de veículos na
Disk Operating System (DOS). Todos os
Rodovia Presidente Dutra (BR-116) apresenta
modelos da USEPA são gratuitos e
um fluxo diário de aproximadamente 145.000
disponibilizados em seu site, após vários testes
veículos pedagiados, dos quais 57% veículos de
de laboratório, campo e computacional. Não
passeio e 43% caminhões e ônibus. Itatiaia,
estão disponibilizados para o sistema
antigo distrito de Resende, com área de 248 km2,
operacional Windows.
limita-se ao Norte com Minas Gerais, ao Sul com
À medida que uma empresa se interessa São Paulo, a Leste com Resende e a Oeste com
em comercializar um modelo com interface Minas Gerais e São Paulo. No Vale do Paraíba
gráfica para o sistema operacional Windows, é Paulista, o município de Queluz, com 243 km2,
necessário que haja autorização da USEPA, limita-se a Oeste com o Estado do Rio de Janeiro
porque ela é detentora dos direitos do programa (Resende) e ao Norte com Minas Gerais. Com
fonte. A interface gráfica possibilita a utilização 316 km2, o município de Areias limita-se com o
integrada, linguagem acessível, fácil entrada e Estado do Rio de Janeiro (Resende) e Queluz ao
modificação de dados, assim como visualização Norte, com Silveiras a Leste, a Oeste com São
gráfica dos resultados. José do Barreiro e ao Sul com Cunha. O
município de São José do Barreiro, com 710 km 2,
limita-se ao Norte com o município de Resende
Dados de Entrada dos Modelos (RJ), a Leste com Bananal (SP), ao Sul com
Os dados de entrada para o Cunha, a Oeste com Areias (SP) e a Sudeste
processamento do modelo foram cedidos pelas com Paraty e Angra dos Reis (INB, 1998).
Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Resende - A partir da caracterização técnica
RJ. preliminar do empreendimento, a área de
O levantamento topográfico, em torno da influência está definida em dois níveis: uma área
INB cujo raio foi de 1,7 km, a partir da base de de influência indireta que cobre os municípios de
cartas topográficas digitais terrestres da Missão Resende, Itatiaia, São José do Barreiro, Areias e
SRTM - Shuttle Radar Topography Mission Queluz, analisada do ponto de vista geobiofísico
(2007). Embora esse raio seja inferior a área de em escala 1:100.000 e no contexto ecológico e
influência da empresa, os resultados obtidos sócio-econômico da região do médio Paraíba; e
evidenciaram valores baixos no limite desta área. uma área de influência direta, ou área de
interesse especial, definida como o entorno
As informações das edificações (altura, imediato do empreendimento nos municípios de
comprimento e largura) e das chaminés Itatiaia, Resende e Queluz, analisada em escalas
(diâmetro, altura, taxa de emissão, velocidade e de 1:50.000 e mais e objeto de pesquisas diretas
temperatura de saída dos gases), Tabela 2, de campo (INB, 1998).
foram disponibilizadas através dos desenhos de
projeto e relatório de amostragem das chaminés. A topografia influencia a dispersão dos
poluentes por ocasionar variação na
Foi pré-processado um arquivo direção/velocidade do vento.
meteorológico para uso no ISCST3 com base de
dados meteorológicos médios horários coletados A área da INB possui, na sua parte leste,
pela torre meteorológica, no período de 2006, uma topografia essencialmente pouco
conforme apresentado na Tabela 2. acidentada, constituída por terrenos aplainados,
em virtude de terem sido utilizados como áreas
de empréstimo, quando da construção da
Descrição do local de estudo barragem auxiliar de Nhangapi da represa do
Funil. Na sua porção leste e sul, a área
Abrangendo um raio de até 4 km do local apresenta uma topografia ondulada, com
de instalação da INB no município de Resende, a altitudes variando de 450 a pouco mais de 600
Área de Interesse Especial contempla cerca de 5 m. A porção extremo leste da área está numa

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cota inferior a da crista da barragem, que é de topografia.
469,5 m.
A Figura 5 apresenta os resultados do
O local está situado na parte meridional processamento levando em consideração a
da região geologicamente denominada Bacia de ausência das edificações e da topografia.
Resende. Ao norte, situa-se o maciço do Itatiaia,
A distribuição da concentração, do
que constitui as grandes altitudes da região,
processamento com a ausência da topografia e
atingindo cotas superiores a 2.500 m. Ao sul,
das edificações, está diretamente condicionada à
ocorre uma faixa acidentada de terreno, com
distribuição do campo de ventos em torno da
altitudes máximas variando entre 530 e 615 m.
INB.
Também foram processados os cálculos
Meteorologia removendo-se a chaminé da FPP e do SS
alternadamente para verificar a influência de
A partir dos eventos médios horários cada fonte isoladamente. Com base nos
analisados e considerados válidos no período do resultados de concentração máxima da Tabela 3,
ano de 2006 (total de 8760 horas), originam-se a a concentração integrada das chaminés é
rosa-dos-ventos observada no sítio da INB no resultante da superposição das duas plumas a
período de 2006, analisado por velocidade do uma determinada distância das chaminés. No
vento e classe de estabilidade, respectivamente, entanto, isso não representa o somatório da
segundo a Figura 1. concentração das duas chaminés.
Os resultados evidenciam que o relevo e
Resultados e Conclusões principalmente os prédios influenciam
diretamente no aumento da concentração.
Com o objetivo de estimar concentrações Conseqüentemente, a ausência do relevo e em
de particulados totais em suspensão, levando em especial dos prédios evidenciam a redução da
consideração dados de topografia e edificações concentração. A distância de deposição da
no processamento do cálculo de dispersão de concentração máxima ratifica que o relevo e
plumas em um tempo de exposição de 1 hora preponderante os prédios influenciam na
(cenário mais crítico - Caso Base) para emissão distância de deposição do poluente próximo as
das chaminés da Fábrica de Pó e Pastilha (FPP) instalações.
e Secador Spray (SS), foram processados no
ISCST3 as médias aritméticas das No cenário sem relevo e com prédios,
concentrações horárias (isoconcentrações ou observa-se também, que os prédios influenciam
isopletas) deste período com diferentes cenários na distância de deposição do efluente gasoso do
apresentados nas Figuras 2, 3, 4 e 5. Secador Spray, depositando-se próximo da fonte
devido a direção predominante do vento na saída
A Figura 2 apresenta os resultados da chaminé e de encontro com os prédios da
levando-se em consideração a influência das fábrica de Pó e Pastilha.
edificações, relevo e das duas chaminés em
estudo, para material particulado, com resultados Os demais cenários confirmam que a
mais conservadores de 1 hora. distância de deposição da concentração de
máxima da chaminé da fábrica de Pó e Pastilha é
A Figura 3 apresenta os resultados do menor que a do Secador Spray, sendo a vazão
processamento levando em consideração a de saída dos gases, o principal fator que
presença das edificações e a ausência da contribui para esse acontecimento.
topografia.
A concentração máxima está diretamente
Os perfis das concentrações, do proporcional a configuração da fonte e observa-
processamento com a ausência da topografia e se também que os prédios não influenciam na
presença das edificações, indicaram circulações concentração máxima do efluente da fábrica de
locais em torno dos prédios o que propicia o Pó e Pastilha.
aumento das concentrações em áreas mais
próximas dos prédios. A distância onde é observada a
concentração máxima é inversamente
A Figura 4 apresenta os resultados do proporcional à própria concentração. Ou seja,
processamento levando em consideração a quanto maior a distância que a pluma percorre,
ausência das edificações e a presença da maior será seu espalhamento nas direções y e z

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(vertical e horizontal), e com isso os poluentes Conclusões
serão diluídos. Conclui-se que um estudo
O cálculo de dispersão de plumas
preliminar antes da implantação de um
atmosféricas a partir de modelos gaussianos é
empreendimento, que fará uso de uma chaminé
um instrumento de estudo simplificado da
para a dispersão de poluentes, é de grande
realidade e passível de uma série de críticas,
importância. Este estudo possibilitará indicar que,
segundo os pontos de vista teórico e de
na direção predominante do vento, não deve
aplicação prática. Todavia, tal modelo tem sido
haver obstáculos, como edificações e relevo
aceito como uma ‘ferramenta de trabalho’ em
acidentado, para a pluma poder percorrer um
estudos de avaliação para a emissão de fontes
caminho livre e não formar regiões de
fixas, pois serve para ilustrar comparativamente
estagnações, possibilitando assim a diluição dos
diferentes cenários de emissão de poluentes.
poluentes.
Além disso, não existe um ganho significativo de
Levando em consideração o cenário informação gerado pela aplicação de modelos
completo de emissões, foram avaliados cenários mais sofisticados se não existirem dados
para períodos de exposição 1, 3, 12, 24 horas e adequados para o uso de tais modelos. Portanto,
anual. Consequentemente, quanto maior o aplicação do modelo de ‘pluma gaussiana’ deve
período menor é a concentração, por isso o ser considerada em função dos objetivos da
período de 1 hora é o caso mais crítico e deve análise em questão, dos recursos disponíveis e
ser levado em consideração em estudos de das condições locais existentes.
impacto ambiental. Estes resultados estão
No caso específico da INB, observou-se
apresentados na Tabela 4.
uma grande influencia das edificações e do
O ISCST3 é um software de alta relevo no resultado final dos cálculos, tanto no
complexidade, para sua utilização, muitos dados alcance da pluma como nas concentrações
são necessários e nem sempre estão máximas obtidas.
disponíveis, requer treinamento adequado e
Uma comparação entre o ISCST3 e o
algumas simplificações podem ser feitas pelo o
SCREEN indicou que é possível usar esta
uso do software SCREEN.
ferramenta simplificada para estimar os efeitos
A comparação entre os softwares de uma fonte fixa na INB.
(ISCST3 e SCREEN), foi realizada indicando se
Neste trabalho não foram consideradas
realmente existe a possibilidade de substituir o
as influências dos corpos de água no entorno da
ISCST3 pelo SCREEN. Foi realizado o
INB, que certamente tem relativa influência no
processamento do SCREEN, com base no
cálculo.
cenário que evidenciou melhor similaridade (sem
relevo e sem edificações). Por questão de sigilo, as taxas de
emissões dos poluentes foram usadas
O processamento no SCREEN, em
parametrizadas, mas que não influenciam na
função de sua limitação, foi realizado
forma da pluma e de seu alcance, bastando
individualmente para cada chaminé.
multiplicar a taxa de emissão pelo respectivo
Os resultados de concentração máxima fator de correção e conseqüentemente as
de material particulado e distância de deposição concentrações obtidas.
são apresentados na Tabela 5, confrontando os
softwares ISCST3 e SCREEN.
Referências
As diferenças não são tão grandes
quando se deixa de considerar as edificações e o
relevo. O erro foi de 13,8 % para concentração 1. VIDAL, C. M. C.. Descrição da
da chaminé da fábrica de pó e pastilha e 29,2 % metodologia de calculo de dispersão de
para chaminé do secador spray. plumas aplicada a um complexo industrial.
Rio de Janeiro: UERJ, 2008. Dissertação de
Espereva-se que o resultado do SCREEN
Mestrado. Programa de Pós Graduação em
fosse realmente maior devido sua característica
Química, Universidade do Estado do Rio de
mais conservativa em relação ao ISCST3. No
Janeiro, 2008.
entanto, menos preciso comparado ao ISCST3,
2. SEINFELD, J. H.; PANDIS, S.N.;
pois o mesmo é um modelo mais sofisticado.
Atmospheric Chemistry and Physics, USA:
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∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ t
c ( x, t ) = ∫∫ ∫ Q( x, t x0 , t0 ) c( x0 , t0 ) dx0 + ∫ ∫ ∫ ∫ Q( x, t x , t ) S ( x , t )dt dx
' ' ' ' ' '
(1)
−∞−∞−∞ − ∞ − ∞ − ∞ to

∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ t
c ( x, y , z , t ) = ∫ ∫ ∫ Q( x, y, z, t x , y , z , t ) c( x , y , z , t ) xdx dy dz + ∫ ∫ ∫ ∫ Q( x, y, z, t x' , y' , z' , t ' ) xS ( x' , y ' , z' , t ' )dt ' dx' dy' dz '
−∞ −∞ −∞
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
− ∞ − ∞ − ∞ t0
(2)

 y2      
 x  exp − ( z − h)  − exp − ( z + h)  
2 2
q
c ( x, y , z ) = exp −     (3)
2π u.σ yσ z  2σ 2  2σ 2
2σ 2
 y    z   Z 

Figura 1 - Rosa dos ventos dos valores de 2006 obtidos pela estação meteorológica da INB.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 29
Figura 2 - Concentração Máxima de MP para as chaminés FPP e SS, 470,9 µg m-3, Média 1 hora -
Caso Base

Figura 3 - Concentração. Máxima de MP para as chaminés FPP e SS, 537,7 µg m-3, Média 1 hora
(com edificações e sem relevo)

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 30
Figura 4 - Concentração Máxima de MP para as chaminés FPP e SS, 225,1 µg m-3, Média 1 hora
(sem edificações e com relevo)

Figura 5 - Concentração Máxima de MP para as chaminés FPP e SS, 153,4 µg m-3, Média 1 hora
(sem edificações e sem relevo)

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 31
Tabela 1 - Definição da Estabilidade Atmosférica segundo Pasquill-Gifford (Seinfeld e Pandis,
1998)
Dia
Velocidade do Noite
Radiação solar incidente
vento
Levemente Claro ou pouco
m s-1 (a 10 m) Forte Moderada Leve
Nublado ≥ 4/8 Nublado ≤ 3/8
0à2 A A-B B --- ---
2à3 A-B B C E F
3à5 B B-C C D E
5à6 C C-D D D D
>6 C D D D D
Onde: A: muito instável D: neutra
B: moderadamente instável E: moderadamente estável
C: levemente instável F: muito estável

Tabela 2 - Dados de Entrada do Modelo ISCST3.

LOCALIZAÇÃO DA FONTE E CHAMINÉS

PARÂMETROS DE LIBERAÇÃO Pó e Pastilha Secador Spray


Coordenada UTM X [m] 536983,16 537159,84
Coordenada UTM Y [m] 7511316,69 7511314,63
Altura de liberação dos gases [m] 35 20
Taxa de emissão [g/s] 1,0 1,0
Temperatura de saída dos gases [K] 292,1 323
Diâmetro interno da chaminé [m] 1,6 0,48
Velocidade de saída dos gases [m/s] 18,1 8,5
Vazão de saída dos gases [m3/s] 36,39 1,54
Coordenadas da Torre Meteorológica em UTM
Zona: 23 (W 48 para W 42) (Sul)
Coordenada X [m] 536412,15 Coordenada Y [m] 7511464,40
121 Receptores
1º GRADE CARTESIANA
Eixo X Eixo Y
Coordenada SW [m] 536000 7510800
Numero de pontos 45 45
Espaço [m] 200 200
Extensão [m] 8800 8800
2025 Receptores
2º GRADE CARTESIANA
Eixo X Eixo Y
Coordenada SW [m] 532000 7507000
Numero de pontos 11 11
Espaço [m] 100 100
Extensão [m] 1000 1000

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 32
Tabela 3 - Concentração Máxima de Material Particulado, Média de 1 hora - ISCST3
Identificação Concentração *Localização **Distância
Figuras Cenário
das Chaminés [µg m-3] UTM x e y [m] [m]
FFP e SS Com relevo e com
Figura 2 537000 e 7511200
470,9 128,5 184,0 prédios
FFP e SS Sem relevo e com
Figura 3 537200 e 7511400
537,7 251,3 100,1 prédios
FFP e SS Com relevo e sem
Figura 4 536200 e 7511700
225,1 849,5 1012,4 prédios
FFP e SS Sem relevo e sem
Figura 5 536500 e 7510900
153,4 625,3 764,9 prédios

Tabela 4 – Concentração Máxima de Material Particulado, Média de 1, 3, 12, 24 horas e Anual

Identificação Concentração Localização Distância Cenário


Período
das Chaminés [µg m-3] UTM x e y [m] [m]
1 470,9 537000 e 7511200 128,5 e 184,0
3 236,0 536900 e 7511400 98,6 e 251,5
Com relevo e com
12 FFP e SS 96,1 536900 e 7511200 136,8 e 267,6
prédios
24 72,5 536800 e 7511200 202,3 e 359,6
Anual 16,4 537000 e 7511300 45,0 e 140,3

Tabela 5 - Comparação dos resultados obtidos com o ISCST3 e SCREEN (sem relevo e prédio)

Conc. (µg m-3) Distância (m)


Chaminé
ISCST3 SCREEN ISCST3 SCREEN
FPP 16,7 19,0 1344,7 1340
SS 148,4 191,7 764,9 780

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 33
CONTRIBUIÇÕES DA GEOMETRIA NÃO EUCLIDIANA NA PRODUÇÃO
DE FLUIDOS COMBUSTÍVEIS SINTÉTICOS

CONTRIBUTIONS OF THE NON-EUCLIDEAN GEOMETRY ON THE PRODUCTION OF


SYNTHETIC LIQUID FUELS

DE BONI, Luis Alcides Brandini¹; SILVA, Isaac Newton Lima da¹.


1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia de
Materiais. Av. Ipiranga, 6681 - Partenon - Porto Alegre/RS - CEP: 90619-900, Brasil
* Autor correspondente e-mail: labdeboni@gmail.com

Received 13 December 2010; received in revised form 22 December 2010; accepted 28 December 2010

RESUMO

As necessidades de produzirem combustíveis a partir de fontes menos poluentes, a partir de matérias-


primas renováveis, consumindo menos energia e gerando menos resíduos são algumas das prioridades para
garantir o futuro sustentável da nação. Neste contexto determinar adequadamente quando a reação química
que produz o combustível atingiu o seu fim é importante para elevar a eficiência energética do processo. A
técnica utilizada para monitorar a reação de produção do combustível consistiu em emitir um feixe de laser no
meio reacional, produzindo um holograma. A medida da taxa de variação de tal holograma em função da
cinética da reação permite determinar quando a reação química entrou em equilíbrio químico. Como resultado,
é possível correlacionar a variação do espalhamento da luz com a cinética da reação.

Palavras-chave: Transesterificação, Geometria não Euclidiana, Equilíbrio Químico, Matemática Aplicada.

ABSTRACT

The requirements for producing fuels from less polluting sources, from renewable raw materials,
consuming less power and to generate a smaller amount of waste are some of the priorities to ensure the
sustainable future of the nation. In this context, correctly determine when the chemical reaction that produces
the renewable fuel has reached the chemical balance is important to increase the energetic efficiency. The
technique used to monitor the reaction that produces the fuel consisted in to deliver a laser beam in the reaction
medium, producing a hologram. The measure of the rate of change of the hologram surface as a function of the
reaction kinetics, allows to determine when the chemical reaction came to chemical equilibrium. As result it is
possible to correlate the light scattering variation with the reaction kinetics.

Key-words: Transesterification, non-Euclidean geometry, Chemical Equilibrium, Applied Mathematics

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 34
INTRODUÇÃO

A produção de fluídos combustíveis


sintéticos, de origem renovável, é tida como
prioridade estratégica para o desenvolvimento
nacional (MCT, 2008; MD, 2010; 4ªCNCTI,
2010). Um dos combustíveis geralmente
apresentados como portador de futuro é o
biodiesel.
Neste trabalho serão exploradas questões
fundamentais para o desenvolvimento da
tecnologia de produção do biodiesel, como por
exemplo, a determinação acurada do momento
que a reação de transesterificação atingiu o
estado de equilíbrio químico. Em geral as
técnicas de acompanhamento são dispendiosas,
como por exemplo, a cromatografia. É
fundamental a procura por técnicas de baixo
custo e de rápida resposta.
Quando pensamos na produção de um
combustível renovável, associamos a esta idéia
conceitos intrinsecamente provindos da química
verde (LENARDÃO, 2002), como o uso de fontes Figura 2. Tempo de reação em função da tempe­
renováveis de matérias-primas, busca pela ratura.
eficiência energética, economia de átomos e Fonte: TchêQuímica (2008),
análise em tempo real para a prevenção da adaptado de Van Gerpen (2007)
poluição. Há o desafio de como prover estas
soluções da melhor forma possível.
O biodiesel é um combustível produzido Ao refletir sobre isto, naturalmente
com o uso de fontes renováveis de matérias- surgem as questões: “o que a geometria tem
primas, geralmente através da reação de haver com isto?” e “o que é geometria não
transesterificação, conforme a Figura 1. Nesta Euclidiana?”.
reação química uma molécula de um triglicerídio Para responder a estas questões
qualquer é convertida no respectivo monoalquil- analisaremos inicialmente o que é a geometria
éster. Euclidiana. A geometria Euclidiana, de forma
De acordo com Van Gerpen (2002) a simplista, pode ser resumida pela matemática
transesterificação utilizando óleo de soja, ensinada na escola. Esta geometria baseia-se
metanol e NaOH, demora um período de tempo em 5 postulados (FITZPATRICK, 2010):
para a reação ser concluída. Este tempo varia 1. Uma linha reta pode ser traçada entre
em função da temperatura reacional. A 20°C, por dois pontos quaisquer;
exemplo, a reação será concluída entre 4 e 8
horas e a 60°C a reação será concluída entre 1 e 2. Uma reta pode ser estendida
2 horas. A diferença, além do tempo de reação, é indefinidamente para os dois lados;
o custo energético da reação. A Figura 2 3. Dado um centro e um raio, é sempre
apresenta a influência da temperatura sobre o possível traçar um círculo;
tempo de reação.
4. Todos os ângulos retos são iguais entre
O intervalo de tempo, entre 1 e 2 horas, si;
apresenta um consumo energético diferente.
5. Se duas retas (A e B) em um plano são
Desta forma, determinar rapidamente quando a
interceptadas por outra reta C tal que os
reação entrou em equilíbrio químico, ou foi
ângulos (a e b) de um mesmo lado de C
concluída, é importante para melhorar a
somam um valor menor que 180°, então
eficiência energética da reação.
as retas A e B, quando prolongadas do
lado dos ângulos a e b, irão se encontrar

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 35
em algum ponto. Euclidiano, onde a curvatura gaussiana (K) é
igual a zero. O sólido de revolução desta reta
Não é dubitável a veracidade dos 4
gera um cone. E a imagem mais a direita, da
primeiros postulados, porém o 5 postulado nem
Figura 4, utiliza a visão de reta proposta por
sempre é verdadeiro.
Riemann, o sólido de revolução desta reta gera
De acordo com os livros didáticos de uma figura conhecida como pseudo-esfera
matemática tradicionalmente utilizados no ensino (Figura 5), tal figura também é referida como
escolar Brasileiro, tem-se que a soma dos tractróide, tractricóide, tractrizóide ou antiesfera,
ângulos internos de um triângulo é sempre igual (Steinhaus, 1999). A pseudo-esfera é uma
a 180°, todavia isto não é real. A soma dos superfície de revolução, de curvatura gaussiana
ângulos internos de um triângulo só será igual se negativa constante (K<0), gerada através da
a curvatura Gaussiana da superfície (K), onde o rotação de uma tractriz sobre sua assíntota.
triângulo esta exposto for igual a zero (Bonola,
1912).
Neste trabalho será utilizado o conceito
de linha reta definido por Georg Friedrich
Bernhard Riemann (1826 – 1866). “Uma linha
reta entre dois pontos é apenas a curva de
menor comprimento, sobre a superfície, entre os
dois pontos.” (Gray, 1988).
No mundo natural, K pode ser maior,
menor ou até igual a zero. Isto implica dizer que
a soma dos ângulos internos de um triângulo
pode ser maior, menor ou igual a 180°.
Figura 5. Pseudo-esfera
Neste contexto será analisado o resultado
Fonte: wikimidia (2010)
de imagens digitalizadas da reação de
transesterificação monitoradas por
espectroscopia de correlação de fótons em Durante o andamento da reação de
tempo real. transesterificação, a superfície ou o volume do
Para comentar os efeitos da digitalização holograma da Figura 4 variou de magnitude. Esta
do experimento, gostaria de fazer minhas as superfície parou de variar seu tamanho quando a
palavras de Klügel (1763) (Volkert, 2006) apud reação supostamente entrou em equilíbrio
O’Shea 2009, “Evidentemente, talvez seja químico, conforme a seqüência de imagens da
possível que retas que não se cruzem, talvez Figura 6.
divirjam uma da outra. Sabemos que isto é O monitoramento da reação de
absurdo, não por inferência rigorosa ou por transesterificação foi dividido em quatro
conceitos claros de linhas retas e curvas, mas conjuntos de instantes específicos A, B, C e D.
pela experiência e julgamento de nossos olhos”. Estes instantes possuíam características bem
distintas, e podiam ser observados à olho nu,
todavia o uso do equipamento de proteção
DESENVOLVIMENTO individual foi realizado, para evitar danos à visão.
Uma reação de transesterificação foi Os instantes são descritos a seguir:
montada conforme a Figura 3. Onde um feixe de Instante A: antes do início da reação.
laser foi emitido a partir de uma fonte luminosa Antes de a reação iniciar foi capturado o valor da
(1), atravessou um meio reacional (3) e intensidade luminosa impressa pelo laser sobre o
impressionou um sensor (4), conforme sensor LDR. Desta forma foi possível determinar
apresentado por Silva e De Boni (2010). a absorvância que uma camada de óleo de soja
A Figura 4 é uma montagem de uma de 10cm de espessura, à 60°C ofereceu a
imagem que foi capturada do experimento, onde passagem do feixe de laser. Este valor foi
se observa o holograma original e duas cópias arbitrado como T = 0s. O efeito visual de T = 0s
da imagem com as bordas destacadas. pode ser analisado na Figura 6, sob o índice de
Considerando-se a imagem central, o destaque número 1, da série de fotografias.
da borda é feito com uma reta no sentido

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 36
Instante B: após a adição da solução de volume interno desta figura pode ser calculado
alcoólica de catalisador. Ocorreram uma série de pela expressão 1/3·π·h·r².
eventos muito velozes, iniciados no momento em
Também, → K = 0, a cinética da reação
que foi adicionado ao reator a mistura de álcool e
não pode ser monitorada pela variação da soma
catalisador. Estes eventos causaram grande
perturbação ou dispersão na trajetória do laser. dos ângulos internos do triângulo, pois ∠ A +
Na Figura 6, estes eventos estão sob os índices ∠ B + ∠ C = π = cte.
de 2 à 10. Dentro do reator, o feixe de laser Porém, → K ≠ 0. A figura não pode ser
disperso tomava a forma de um cone ou de uma descrita como um cone, devendo ser descrita
pseudo-esfera, e ao sair do reator, a forma como uma pseudo-esfera. Assim sendo:
parecia se alterar para um cilindro. Tal ∠ A + ∠ B +∠ C ≠ π. E o volume interno desta
fenômeno, curiosamente, lembrou de forma figura pode ser calculado pela expressão 2/3·
distante a difração cônica interna da luz em um π·r³, se o limite de r tender ao infinito.
prisma com simetria biaxial, conforme o descrito
por Hamilton (1837) em Third supplement to an Então, → K ≠ 0, a cinética da reação pode
essay on the theory of systems of rays. ser monitorada através variação da soma dos
ângulos internos de um triângulo, pois ∠ A + ∠ B
Instante C: após os instantes de grande
+ ∠ C ≠ π ≠ cte.
dispersão do feixe de laser. A mistura de óleo de
soja, metanol e catalisador tornou-se Determinar a curvatura da superfície
homogênea, e foi monitorado um fenômeno de obtida experimentalmente é importante para ir
aumento de intensidade luminosa sobre o sensor além da análise em tempo real da reação de
LDR (Light Dependent Resistor), caracterizado transesterificação para a prevenção da poluição,
pela redução da dispersão (ou absorção) do feixe isto permitirá a predição com maior precisão do
de laser. Estes instantes estão representados na momento em que a reação irá entrar em
Figura 6, sob os índices de 11 a 21. O aumento equilíbrio químico, uma vez que serão utilizadas
da intensidade luminosa sobre o sensor LDR foi as equações que melhor descrevem o holograma
registrado através da redução da resistência contido na Figura 4.
elétrica do sensor, até um instante em que a
resistência e a dispersão do feixe de laser se
tornaram mínimas e a passagem do feixe foi a CONCLUSÕES:
mais elevada durante o andamento da reação Através deste trabalho conclui-se que é
(Figura 6, índice 21). possível determinar em tempo real o momento
Instante D: Após a dispersão mínima do aproximado em que a reação de
feixe de laser e menor quantidade de resistência transesterificação do óleo de soja com metanol
elétrica obtida através do sensor LDR. Após este atinge o estado de equilíbrio químico, através de
Instante (C), voltou a ser observado e registrado técnicas de geometria e/ou trigonometria.
a elevação da resistência elétrica no sensor LDR Apesar de incomum, e ainda em estágios
e um novo aumento da dispersão do feixe de de desenvolvimento, a técnica produz resultados
laser, porém menos intenso que a dispersão adequados e com boa reprodutibilidade. Esta
provocada pela adição do álcool e do catalisador. metodologia tende a elevar a sustentabilidade
Na Figura 6, estes eventos estão registrados sob dos processos químicos.
os índices de 22 à 25.

AGRADECIMENTOS:
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O autor agradece a PETROBRAS e ao
Tendo em vista a dificuldade de se CNPq pelo suporte financeiro fornecido a esta
determinar experimentalmente a curvatura pesquisa.
gaussiana (K) da superfície observada, tem-se
que:
REFERÊNCIAS:
→ K = 0. A figura pode ser descrita como
um cone. Desta forma, a soma dos ângulos (∠) 1. MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia.
internos do triângulo formado pela superfície Prioridade Estratégica III - Pesquisa,
contida na Figura 4 será: ∠ A + ∠ B + ∠ C = π. O Desenvolvimento e Inovação em Áreas

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Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 38
Figura 1. Reação de transesterificação

Figura 3. Montagem da reação de transesterificação

Figura 4. Imagem capturada de um experimento.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 39
Figura 61. Variação da superfície do holograma formado no interior do reator ao longo da reação de
transesterificação até o momento do equilíbrio químico. Fonte: Eidt, 2010

1 A Figura 6 foi originalmente cedida à C. Eidt, para publicação na Revista Ciência Hoje, n. 277, Dez. 2010. Para ver esta
imagem em cores, favor consultar a revista CH.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 40
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DA ENZIMA POLIFENOLOXIDASE E
INTERCALAÇÃO DO FOSFATO DE CÁLCIO COM HIDRÓXIDO DE
TETRABUTILAMÔNIO

EVALUATION OF ACTIVITY OF POLYPHENOLOXIDASE ENZYME AND


INTERCALATION OF THE CALCIUM PHOSPHATE WITH TETRABUTYLAMMONIUM
HYDROXIDE

CESÁRIO, Moisés Rômolos1; MOURA, Danyelle Medeiros de Araújo1, MACEDO, Daniel Araújo de2;
LIMA, Cícero Bosco Alves de3.
1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Química, Av. Senador Salgado Filho, s/n,
CEP 59072-970, Campus Universitário – Lagoa Nova, Natal – RN, Brasil
* e-mail: romolosquimica@hotmail.com
2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Engenharia de Materiais
3
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Departamento de Química, Rua Almino Afonso, 478, CEP
59610-210, Centro, Mossoró – RN, Brasil

Received 30 March 2010; received in revised form 04 October 2010; accepted 10 October 2010

RESUMO

Os biossensores são dispositivos digitais compostos por semicondutores intimamente ligados a um


componente biológico, geralmente uma enzima imobilizada, que são utilizados para medir a concentração de
um substrato específico. O presente trabalho teve como objetivos obter e purificar a enzima polifenoloxidase
(PFO) obtida a partir do extrato bruto de inhame (Alocasia macrorhiza), e estudar a reação de esfoliação do
fosfato de cálcio (CaP) com o hidróxido de tetrabutilamônio (TBA +OH-). O estudo termogravimétrico indicou a
formação da fase pirofostato acima de 400ºC não apenas no CaP (branco), mas também no CaP intercalado
com TBA+OH-. Além disso, o CaP intercalado também apresentou perdas de massa entre 350 e 400°C
relativas à eliminação do composto orgânico tetrabutilamônio. O valor de atividade enzimática igual a
860,00U/mL (solução tampão 0,10mol.dm-3, pH 7) sugere que a enzima extraída do inhame tem afinidade para
com o substrato (pirogalol) utilizado neste trabalho, estando apta a ser incorporada nas lamelas no fosfato de
cálcio.

Palavras-chave: Polifenoloxidase, atividade, fosfato de cálcio

ABSTRACT

Biosensors are digital devices composed of semiconductors connected to a biological component,


usually an immobilized enzyme, which are used to measure the concentration of a specific substrate. This study
aimed to obtain and purify the polyphenol oxidase enzyme (PPO) obtained from the crude extract of yam
(Alocasia macrorhiza), and study the exfoliation reaction of calcium phosphate (CaP) with tetrabutylammonium
hydroxide (TBA+OH-). The thermogravimetric study indicated the formation of the pyrophosphate phase above
400°C not only in CaP (white), but also in intercalated CaP with TBA+OH-. In addition, the intercalated CaP also
presented mass losses between 350 and 400°C related to the elimination of the tetrabutylammonium. The value
of enzymatic activity (860.00U / mL, buffer solution 0.10mol.dm -3, pH 7) suggests that the extracted enzyme
from the yam has affinity towards the substrate (pyrogallol) used in this work. According to this result, it may be
incorporated into the lamellae in the calcium phosphate.

Keywords: Polyphenoloxidase, activity, calcium phosphate

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 41
Introdução consenso universal a respeito da necessidade de
monitorar continuamente o teor de
contaminantes químicos nos cursos de águas
O aumento inadvertido na produção e
naturais e nos inúmeros efluentes industriais
utilização de produtos químicos observado nas
descarregados nestes recursos hídricos (Fendler,
últimas décadas tem causado problemas de 1996, Freire et al., 2000).
poluição ambiental de maneira generalizada
As análises tanto de fenol como de
praticamente em todas as partes do mundo. A
espécies fenólicas podem ser realizadas,
proteção ambiental vem adquirindo grande
principalmente, por meio de métodos
importância na sociedade contemporânea, que
espectrofotométricos e cromatográficos.
tem cobrado mecanismos rápidos e eficientes de
Entretanto, estas técnicas não permitem o
controle dos processos de contaminação
monitoramento contínuo “in situ”, pois são de alto
ambiental. Neste contexto, o desenvolvimento de
custo, lentas, necessitam de operadores bem
biossensores tem sido de fundamental
treinados, e em alguns casos, requerem etapas
importância para a determinação e quantificação
de extração ou pré-concentração, que aumentam
de poluentes de forma rápida e seletiva
o risco de perda da amostra (Rossato et al.,
(Macholan, 1990, Signori et al., 1994).
2001).
Os biossensores são dispositivos digitais
A necessidade de métodos analíticos
compostos por semicondutores intimamente
mais versáteis para o monitoramento ambiental
ligados a um componente biológico, geralmente
tem estimulado a produção de uma variedade de
uma enzima imobilizada, que são utilizados para
métodos. Os biossensores revelam grandes
medir a concentração de um substrato
perspectivas quanto a sua utilização no
específico. O sinal gerado pelo dispositivo é
monitoramento “in situ”. Fosfatos inorgânicos
diretamente proporcional à concentração do
lamelares são excelentes materiais hospedeiros
metabólito no fluido biológico. Um analito, ao
para imobilização de proteínas e enzimas, são
entrar em contato com o transdutor (composto de
ótimos trocadores iônicos e são capazes de ligar-
um eletrodo de trabalho, uma matriz orgânica ou
se a uma variedade de íons metálicos e a cátions
inorgânica contendo uma enzima imobilizada
orgânicos nas regiões lamelares. O composto
sobre o eletrodo de trabalho), desencadeia uma
fosfato de zircônio, Zr(HPO4)2.nH2O (ZrP) tem
reação química gerando um sinal digitalizado
sido bastante estudado e as proteínas redox-
pelo transdutor. A digitalização converte a reação
ativas citocromo c (cyt c) e horseradish – HRP
química em um sinal elétrico.
(raiz-forte) são transportadores de elétrons que
Um número considerável de poluentes contêm heme como grupo prostético. O heme é
orgânicos, que se encontram largamente uma molécula de porfirina contendo um átomo de
distribuídos no meio ambiente, possui estrutura ferro, que na mioglobina ena hemoglobina,
fenólica. Fenóis e seus derivados, como permanece no estado ferroso Fe2+. O íon ferro é
clorofenois e compostos aromáticos responsável pela capacidade de transferência de
relacionados, são conhecidos devido a sua elétrons dessas proteínas (Kim et al.,1997,
elevada toxidade e por serem compostos Durford, 1991, Lima et al., 2004, Lima et al.,
comuns em efluentes industriais oriundos das 2002).
atividades de produção de plásticos, corantes,
As enzimas são, em sua maioria,
tintas, detergentes, desinfetantes, refinaria de
proteínas que catalisam com grande eficiência as
petróleo e principalmente de papel e celulose.
reações metabólicas sob diversas condições, tais
Muitos destes compostos possuem efeitos
como, pH, temperatura, concentração e meio
tóxicos em animais e plantas, pois facilmente
iônico. A enzima polifenol oxidase (PFO),
penetram pela pele e membranas celulares,
presente em grande quantidade de vegetais
determinando um amplo espectro de
como inhame, feijão, batata doce, banana, etc,
genotoxidade, mutagenicidade, a antraquinona
catalisa a oxidação tanto de monofenóis (tirosina
por exemplo, (11th Report on Carcinogens,
e fenol) e difenóis (categol) como de trifenóis
2005), e efeitos hepatóxicos, além de afetarem
(pirogalol). Atualmente, vários procedimentos
as velocidades das reações biocatalizadas nos
para determinação de fenóis usando métodos
processos de respiração e fotossíntese (Signori
enzimáticos vêm sendo empregados e um deles
et al., 1994, Rossato et al., 2001).
é a construção de biossensores utilizando a
Deste modo, atualmente existe um enzima PFO (Lima et al., 2001, Vieira et al.,

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 42
2003, Perone et al., 2009). colocada dentro de um saco de material
semipermeável, como o celofane (acetato de
Este trabalho teve como objetivo principal
celulose). Quando o saco de diálise é imerso em
extrair a enzima PFO com alta atividade e
tampão, as moléculas protéicas ficam retidas,
estudar a intercalação do CaP com o TBA+OH-.
enquanto as moléculas pequenas ou íons
atravessam a membrana de diálise.
Material e Métodos
O CaP foi sintetizado adicionando-se
lentamente uma solução diluída de cloreto de
O inhame (alocassia macrorhiza) utilizado
cálcio dihidratado a uma solução de fosfato de
para preparar o extrato bruto foi proveniente da
amônio dibásico seguido de aquecimento a 90°C.
cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte.
A suspensão formada permaneceu reagindo
Para preparar o extrato bruto de PFO, durante 1h e, em seguida, o precipitado formado
100g de inhame foi homogeneizado em foi filtrado e aquecido acima de 150°C por 12h a
liquidificador com 200mL de tampão fosfato fim de se obter o CaP livre de amônia.
0,1M, pH entre 6 e 8, contendo 10g de ácido
Uma reação de esfoliação consiste na
ascórbico. Utilizou-se ácido ascórbico para
separação das lamelas do composto através de
diminuir a oxidação da enzima PFO durante o
um reagente químico. Uma suspensão coloidal
processo. A seguir, o material foi filtrado e
foi preparada por titulação lenta do fosfato de
centrifugado a 600rpm, durante 60min. As
cálcio com uma solução 0,5M de TBA+OH-, em
soluções sobrenadantes foram armazenadas em
água, para um pH constante igual a 8,0. A
refrigerador e poderão ser utilizadas como fonte
completa esfoliação ocorreu após vários dias
enzimática na construção de membranas para
com excesso de solução de TBA+OH-.
biossensor (Lima et al., 2001, Vieira et al., 2003).
Todos os reagentes foram de grau analítico. As análises termogravimétricas das
amostras de CaP e CaP intercalado com
A atividade enzimática foi determinada
TBA+OH- foram conduzidas em uma termo-
pela medida de absorbância em λ= 450nm, da
balança TGA-50 SHIMADZU, com uma razão de
melanina resultante da polimerização da
aquecimento de 10°C min-1 e em fluxo de ar de
quinona, formada após reação entre 0,2mL da
50ml min-1.
solução sobrenadante e 2,8mL de solução 0,05M
de pirogalol em tampão fosfato 0,1M (pH entre 6
e 8), à temperatura de 25°C. A atividade Resultados e Discussão
enzimática (At, U/mL) foi calculada a partir da
curva de absorbância versus o tempo de reação A atividade enzimática calculada a partir
usando a equação 1: da curva de absorbância versus o tempo de
reação foi de aproximadamente 860U/mL. Esse
valor sugere que a enzima extraída do inhame
At = 1000 Δabs (1) tem afinidade para com o substrato (pirogalol)
V x Δt utilizado neste trabalho. Alguns valores
encontrados na literatura para outros vegetais,
tais como, abobrinha, pêssego, mandioca,
Onde V é o volume da solução resultante respectivamente 262, 360, 1568U/mL, também
(enzima mais pirogalol) 3,0; Δt é a variação do indicam essa particularidade.
tempo da reação enzimática e Δabs é a variação Os valores do pH versus a atividade são
da absorbância da solução da reação observada. apresentados na Figura 1. Apenas um máximo
Uma unidade de polifenoloxidade (U) é definida no pH 7,0 foi observado. Em geral a PFO mostra
como a quantidade de enzima que causa um atividade próxima a este valor.
aumento de 0,001 na absorbância por minuto
dentro das condições descritas (Cestari et al., O CaP é um sólido lamelar que se
2002). As medidas da atividade da enzima foram comporta como um ácido, podendo ser ativado
conduzidas usando um espectrofotômetro UV através da reação com uma base como o
modelo mini 1240 da marca SHIMADZU. TBA+OH- (Malloouk et al., 1998, Kim et al., 1997).
O mecanismo é iniciado quando os cátions TBA+
O processo utilizado para purificação da são forçados a intercalar através da reação de
enzima foi o da diálise. Neste processo, a neutralização do ácido fraco matriz, com a base
solução sobrenadante contendo a PFO foi forte. O átomo de oxigênio ligado ao hidrogênio

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 43
do ligante O2P(OH)2- é destacado do átomo de do CaP com TBA+OH- foi efetivada e este
cálcio, devido à hidrólise provocada pela entrada material é apto a receber a enzima PFO a fim de
dos grupos OH- do hidróxido, deixando deste se obter uma membrana enzimática para ser
modo as lamelas com cargas negativas. Neste utilizada como eletrodo em biossesores de
processo, o sólido deve ter uma composição poluição.
aproximada Ca(H2PO4)[(TBA+)2PO4] H2O, sendo
disperso em água. A completa esfoliação Agradecimentos
observa-se após alguns dias com a permanência
de uma suspensão coloidal esbranquiçada. Os autores agradecem a CAPES e ao
CNPQ pelo suporte financeiro necessário para a
Dentro do espaço lamelar, devido à
realização deste trabalho.
presença dos cátions, ocorrerá uma maior
separação das lamelas, provocada, portanto,
pelas repulsões eletrostáticas cátion-cátion. Este Referências
colóide é unilamelar e contêm, em ambos os
lados da lamela, os cátions TBA+. A intercalação 1. CESTARI, A. R., VIEIRA, E. F. S.,
é feita para separar as camadas do CaP e torná- NASCIMENTO, A. J. P., FILHA, M. M. S.,
lo apto a receber a enzima. AIROLDI, C., Factorial Design
Evaluation of Some Experimental
A Figura 2 apresenta as curvas
Factors for Phenols Oxidation using
termogravimétricas das amostras de CaP e CaP
Crude Extracts from Jackfruit
intercalado com TBA+OH-. Na Figura 2(a)
(Artocarpus integrifolia). Journal of the
observa-se uma perda de massa no intervalo de
Brazilian Chemical Society 13:2 (2002)
100 a 350°C relativa à saída das moléculas de
260-265;
água e uma perda de massa devido à saída de
2. DURFORD, H. B., Horseradish
P2O5 e Ca2P2O7 acima de 400°C. Baseando-se
Peroxidase: Struture and Kinetics
nestes dados, pode-se propor o seguinte
Properties. In Peroxidases in chemistry
mecanismo para o processo de decomposição:
and Biology vol. 2 (1991) 1-24 (eds
Everse, J., Everse, K. E., Grishan, M. B.
Publisher: CRC, Boca Raton, Fla.
CODEN:57BIA7. English);
3. FENDLER, J. H., Self-assembled
nanostructured materials, Chemistry
A curva termogravimétrica do CaP Materials 8:8 (1996) 1616-1624.
intercalado com TBA+OH-, Figura 2(b), apresenta 4. FREIRE, R. S., PELEGRINI, R.,
perda de massa no intervalo de 350 à 400 oC, KUBOTA, L. T., DURÁN, N., PERALTA-
indicando saída do composto tetrabutilamônio e ZAMORA, P., Novas tendências para o
acima de 400oC inicia-se a formação do tratamento de resíduos industriais
pirofosfato de cálcio, Ca2P2O7. contendo espécies organocloradas,
Química Nova 23 (2000) 504-511;
A incorporação da enzima no CaP
5. KIM, H–N., KELLER, S. W., MALLOUK,
intercalado com TBA+OH- será investigada em
T. E., SCHMITT, J., DECHER, G.,
trabalhos futuros.
Characterization of zirconium
phosphate/polycation thin films grown
by sequential adsorption reactions,
Conclusões
Chemistry of Materials 9:6 (1997) 1414-
1421;
Os resultados deste trabalho indicam que a 6. LIMA, C. B. A., AIROLDI, C., Topotactic
enzima PFO extraída do inhame está presente exchange and intercalation of calcium
na solução sobrenadante, pois o comprimento de phosphate, Solid State Sciences 6
onda da quinona, referente à absorbância (2004) 1245-1250;
máxima, apresenta uma atividade 7. LIMA, C. B. A., AIROLDI, C., Solid State
aproximadamente a 860U/mL em solução Sciences Layered crystalline calcium
tampão 0,1M, pH 7. Observou-se a formação de phenylphosphonate-synthesis,
uma solução coloidal esbranquiçada após characterization and n-
intercalação do TBA+OH- no CaP. A intercalação alkylmonoamine intercalation, 4 (2002)

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 44
1321-1329. 27 (2009) 28-34.
8. LIMA, E. D. P. A., PASTORE, G. M., 12. 11th Report on Carcinogens, Eleventh
LIMA, C. A. A. Purificação da enzima Edition on January 31(2005), 1-4.
polifenoloxidase (PFO) de polpa de 13. ROSSATO, S. S., FREIRE, R. S.,
pinha (Annona squamosa L.) madura, DURÁN, N., KUBOTA, l. T.,
Ciência e Tecnologia de Alimentos 21:1 Biossensores amperométricos para
(2001) 98-104; determinação de compostos fenólicos
9. MACHOLAN, L. BiocatalYtic Membrane em amostras de interesse ambiental,
Eletrodes. In: "Bioinstrumetation and Química Nova 24 (2001) 77-86.
Biossensores". Ed. by D. L. Wise, Marcel 14. SIGNORI, C. A., FILHO, O. F.,
Dekker, N. Y. (1990) cap 12; Biossensor amperométrico para
10. MALLOOUK, T. E., GAVIN, J. A., determinação de fenóis usando um
Molecular recognition in lamellar extrato bruto de Inhame (Alocasia
solids and thin films, Accounts macrorhiza), Química Nova 17:1 (1994)
Chemical Research 31:5 (1998) 209-217. 38-42;
11. PERONE, C. A. S., CAPOBIANCO, M. P., 15. VIEIRA, I. C., LUPETTI, K. O.,
JUNIOR, S. P., Determinação de FATIBELLO-FILHO, O., Determinação
polifenóis (taninos) em produtos de paracetamol em produtos
alimentícios (chás) usando biossensor farmacêuticos usando um biossensor
de (Polifenol oxidase), obtida de de pasta de carbono modificado com
extrato bruto da casca de banana extrato bruto de abobrinha (Cucurbina
nanica (Musa acuminata) e pepo) Química Nova 26:1 (2003) 39-43;
caracterização desse biossensor,
Revista do Instituto de Ciências da Saúde

900

800

700

600
Atividade (U/mL)

500

400

300

200

100

0
6 6,4 7 7,2 7,5
pH

Figura 1 – Efeito do pH na atividade específica de PFO em extrato de inhame. Substrato: Piragalol


0,05M.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 45
Figura 2 – Curvas termogravimétricas do (a) fosfato de cálcio e do (b) fosfato de cálcio intercalado com
hidróxido de tetrabutilamônio.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 46
AVALIAÇÃO DA ADSORÇÃO DE ÍONS COBRE NA PERLITA
EMPREGANDO A VOLTAMETRIA DE PULSO DIFERENCIAL COM
ELETRODO DE CARBONO VÍTREO MODIFICADO COM QUITOSANA

EVALUATION OF ADSORPTION OF COPPER IONS IN THE PERLITE USING DIFFERENTIAL


PULSE VOLTAMMETRY EMPLOYING A CHITOSAN MODIFIED GLASSY CARBON ELECTRODE

NOGUEIRA, James Pyetro do Amaral1; CARVALHO, Araújo Daniel1, MARTINEZ-HUITLE, Carlos


Alberto 2; FERNANDES, Nedja Suely2
1,2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN - Departamento de Química Analítica
Av. Senador Salgado Filho s/n – Campus Universitário – Lagoa Nova, CEP 59078-970
Natal-RN, Brasil
e-mail: nedja@ufrnet.br

Received 09 September 2010; received in revised form 06 January 2011; accepted 11 January 2011

RESUMO

Neste trabalho a perlita, um aluminossilicato constituído por 72,1% de SiO 2 e 18,5% de Al2O3 foi
avaliada como adsorvente de íons cobre em solução aquosa utilizando a voltametria de pulso diferencial a
partir da utilização de um eletrodo de carbono vítreo modificado com quitosana (EMQ). Os testes de adsorção
realizados no intervalo de 5 a 30 minutos indicaram que 73% dos íons cobre foram adsorvidos em até 30
minutos.

Palavras-chave: perlita, eletrodo de carbono vítreo, quitosana, metais pesados

ABSTRACT

In this work the perlite, an aluminosilicate constituted by 72.1% of SiO 2 and 18.5% of Al2O3 was
evaluated as an adsorbent of copper ions in aqueous solution using the differential pulse voltammetry technique
employing a chitosan modified glassy carbon electrode (EMQ). The adsorption tests performed in the range
from 5 to 30 min indicated that an adsorption of copper ions around 73% at time of 30 min was achivied.

Keywords: perlite; glassy carbon electrode, chitosan, heavy metals

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 47
Introdução A legislação Brasileira, através da
resolução CONAMA (Conselho Nacional do meio
O descarte por afluentes industriais Ambiente) n° 357 de 17/03/2005, estabelece
contaminados por metais pesados vem como limite máximo para emissão de cobre
reduzindo a pureza de rios e solos no meio dissolvido em efluentes o valor de 1 mg/L.
ambiente. Esses metais, em sua maioria,
As principais técnicas de tratamento
possuem uma elevada ação tóxica, gerando
disponíveis para remoção de metais envolvem
diversos problemas ambientais, afetando de
processos de precipitação, degradação química,
maneira direta a saúde do homem. O
fotoquímica e adsorção (OLIVEIRA, 1992).
aparecimento de problemas ambientais ligados
Dentro desses processos destaca-se a adsorção,
aos recursos hídricos forçou as autoridades a
por ser um método químico rápido e de baixo
elaborar leis, programas, políticas públicas e
custo e com grande eficiência para remoção de
planos para a conservação dos recursos
metais pesados em baixa concentração.
naturais. Aliado a uma constituição de leis
ambientais rígidas a respeito dos descartes Legaly (1994) estudou a capacidade de
desses afluentes industriais, tem sido remoção de Cu2+ e Mn2+ em diferentes argilas e
desenvolvidas novas tecnologias com a foi observado que a preferência da argila pelos
finalidade de diminuir ou eliminar traços de íons Cu2+ diminuiu com o aumento da fração
metais como o cobre, zinco, manganês, cádmio, molar dos íons Cu2+ na solução.
chumbo, mercúrio, entre outros. A adsorção simultânea de Cu2+, Cd2+ e Ni2+
Dentre esses metais, o cobre é um dos me soluções aquosas foi investigada por Sousa
poucos que pode ser encontrado em forma et al.(2001) utilizando alumina Al-55. Neste
nativa na natureza. Devido à sua propriedade de estudo, observou-se que o Cu2+ foi mais
ductilidade, maleabilidade e resistência à adsorvido que o Cd2+ e o Ni2+.
corrosão, este vem sendo aplicado na área da A argila em geral é um mineral natural, de
construção civil e indústria automobilística, sendo granulação fina, terroso e que apresenta em sua
os equipamentos elétricos responsáveis pelo estrutura silicatos hidratados formando tetraedros
consumo de mais de 60% deste metal utilizado de silício e oxigênio e octaedros de alumínio,
na indústria. Nesta classe, devem ser incluídos oxigênio e hidroxila. Dentro do grupo das sílicas
transformadores, equipamentos eletrônicos, a perlita se destaca por apresentar um baixo
transmissão de energia e geradores (HOMEM, custo e um alto potencial de adsorção (ALMEIDA
2001). NETO, 2007). A perlita é um argilomineral de
Concentrações anormais de íons cobre origem vulcânica vitrificada, um silicato de
no organismo humano podem ser atribuídas a alumínio amorfo metaestável. O tamanho deste
distúrbios metabólicos, patológicos e absorção aluminossilicato é aumentado de 8 a 20 vezes
excessiva. A deficiência ou acúmulo de cobre na quando é submetido a uma faixa de temperatura
dieta alimentar tem gerado mal funcionamento de 760 a 2000 oC. O processo de expansão da
dos órgãos humanos. As crianças são os mais perlita é comparado com a formação da pipoca.
afetados a respeito dos efeitos da desproporção A água presente na estrutura molecular da perlita
da concentração desse metal de transição d, quando submetida ao rápido aquecimento é
causando síndromes clínicas como anemia, vaporizada formando bolhas, causando um
diarréia e hipocupremia. (FAQUIM,1994) inchaço e aumento do volume inicial (SOUZA,
2010). Quase toda a perlita é consumida na
O efeito biológico causado pelo cobre no
forma expandida, apesar da forma não
meio ambiente tem despertado grande
expandida ter algumas aplicações. A Turquia
preocupação, uma vez que, dependendo da
possui a maior reserva de perlita, do mundo com
concentração, este apresenta propriedades
cerca de 70% e produção total de 70x109 de
ecotoxicológicas. Na vida marinha, os peixes são
toneladas ao ano. Ela pode ser encontrada em
os seres vivos mais afetados pelo descarte de
diferentes formas, tais como: granular, pó e
metais pesados por afluentes industriais. Para
esfoliante (ALKAN, 2005).
esses animais, o cobre é o elemento mais tóxico
depois do mercúrio, sendo que para os de água A perlita expandida pode ser aplicada em
salgada esta toxicidade é amenizada devido à diversas áreas, como na construção civil,
alta capacidade de complexação deste meio isolantes (térmico e acústico), horticultura, filtro e
(NETO ALMEIDA, 2007). blocos refratários. A perlita pode ser também

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 48
utilizada em tintas, vidro, plásticos, resinas e e ambientais (KUMAR,2000). A quitosana é
esmaltes. Esse tipo de argila é utilizado como solúvel em ácidos orgânicos levemente fracos
catalisador em reação química, inibidor de como por exemplo, os ácidos acético, fórmico e o
oxidação e como abrasivo (ALKAN,1998; lático. A solução de quitosana apresenta uma
SOUZA, 2010). alta viscosidade devido ao seu alto peso
molecular. Dependendo do grau de
Na área ambiental, diversos trabalhos
desacetilação pode variar de 50 e 1000 Da.
têm sido publicados utilizando a perlita como
agente adsorvente de inseticidas, pesticidas, Nas últimas duas décadas, tem sido
matérias têxteis, resíduos radioativos e de intensificada o número de publicações em
metais pesados. A capacidade de adsorção diversas áreas (biomédica, farmacêutica,
desse mineral é aumentada após um tratamento alimentícia, agricultura, tratamento de água)
com reagentes orgânicos tornando o hidrofóbico relacionadas á potencialidade da quitosana e a
(BASTANI, 2006). As propriedades da perlita sua modificação química, devido ao seu baixo
expandida fazem com que o mineral seja útil em custo e propriedades químicas (SHAHIDI,1999).
muitas aplicações industriais inclusive na Na área ambiental, esse polímero vem sendo
remoção de metais pesados nos afluentes como aplicado devido sua alta potencialidade de
cádmio, cobre, chumbo, manganês, mercúrio e adsorção de metais pesados (cobre, cádmio,
entre outros (SOUZA, 2010). A perlita expandida zinco e entre outros) em processos de
tem interessantes propriedades físico-químicas purificação de água. A elevada capacidade
por ser termicamente inerte, ter alta porosidade, adsortiva está relacionada ao grau de
baixo peso molecular, não corrosivo, não desacetilação e a massa molecular relativa
absorve água, facilidade de encontrar e de ser (MELO,2007).
um adsorvente ambientalmente correto.
O desenvolvimento e aplicação de
A quitosana (Figura 1) é um biopolímero eletrodos modificados com quitosana tem
obtido a partir da desacetilização dos grupos apresentado crescente interesse nas áreas de
amina da quitina, um dos mais abundantes ciência e tecnologia, devido a quitosana ser uma
polissacarídeos encontrados na natureza. A espécie quimicamente ativa e ter boas
quitosana é um polieletrólito catiônico (em meio características físico-químicas (reatividade,
ácido) que possui diversos grupos reativos seletividade, etc.) possibilitando assim uma
(hidroxila, acetamido, amino). Este polímero resposta adequada para diversos propósitos e
natural vem despertando diversas áreas devido aplicações nas eletroanálises e sensores
as suas características e propriedades químicas químicos (JANEGITZ, 2007).
favoráveis a aplicações diversas. Entre suas
Janegitz (2007) estudou a determinação de
propriedades destacam-se atoxicidade,
íons Cu(II) utilizando o eletrodo de pasta de
biocompatibilidade e biodegrabilidade. Os
carbono modificado com quitosana por
polímeros, em forma geral, possuem um caráter
voltametria de redissolução anódica,
neutro ou ácido, já a quitosana é um
conseguindo um intervalo de concentração de
polissacarídeo básico, mostrando uma
cobre de 2,0x10-7 a 7,4x10-6 mol L-1.
característica particular em relação aos outros
polissacarídeos (SIGNINI,1998). Este trabalho tem como objetivo avaliar a
potencialidade da perlita expandida na adsorção
Na cadeia molecular da quitosana, os
de íons cobre utilizando um eletrodo de carbono
átomos de nitrogênios estão na forma de amino
vítreo modificado com quitosana (EMQ).
alifáticos primários e, assim, sofrem reações
peculiares de aminas. As cargas positivas da
quitosana vem dos grupos amino desacetilizado, Material e Métodos
quando protonados em pH<6.0. Para as
poliaminas, quanto maior o número de grupos A perlita expandida (fornecida pela
protonados maior será a dissociação do ácido Schumacher Insumos para Indústria) foi
conjugado (R-NH3+), devido à repulsão submetida à secagem numa estufa por 5h a uma
eletrostática entre eles (MELO, 2007). temperatura de 150 °C. Posteriormente foi
A quitosana pode ser obtida por diversas peneirada, para obtenção de uma fração
formas, como gel, fibras ocas, esferas, cápsulas, granulométrica de 100 mesh.
membranas, entre outras, oferecendo vantagens A solução de quitosana foi preparada pela
nas aplicações comerciais, biomédica, indústrias

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 49
dissolução de 8,2 mg em 5 mL de ácido acético modificado com quitosana, eletrodo de Ag/AgCl
(2%) sob agitação por 2 horas. como referência e como o auxiliar o eletrodo de
platina (Figura 2). Todos os parâmetros foram
Um eletrodo de carbono vítreo, com área
avaliados a fim de se obter o melhor
geométrica de 2,0 mm2, foi usado para a
desempenho do sensor na determinação de íons
construção do eletrodo modificado de quitosana
Cu(II).
(EMQ).
Para a modificação do eletrodo, foi
adicionada uma alíquota de 25 µL da solução de Resultados e conclusões
quitosana cobrindo a superfície do eletrodo
vítreo. Em seguida foi seca a temperatura Foi avaliado o potencial ideal para o pré-
ambiente por 30 minutos. Posteriormente o EMQ tratamento de Cu2+ no EMQ com quitosana no
foi mergulhado em 20 mL de ácido sulfúrico (3%) potencial de -0,3 V em um intervalo de 0 a 60 s,
para a obtenção do branco. adicionando diferentes alíquotas de solução de
íons cobre 1,0 x 10-2 molL-1. O tempo de pré-
A solução contendo os íons cobre foi
tratamento que proporcionou um melhor perfil
preparada a partir do Cu(SO)4.5H2O em água
voltamétrico, foi o de 2 s, sendo este tempo
ultra-pura, na concentração de 1x10-2 molL-1 de
adotado para as medidas eletroquímicas.
íons cobre. Esta solução foi posteriormente
diluída para uma concentração de 500 mgL-1 de O método utilizado para obtenção da curva de
Cu2+. calibração foi à adição padrão. A curva analítica
foi obtida com o eletrodo de carbono vítreo
As análises foram realizadas em um
modificado com quitosana. Realizaram-se
potenciostato/galvanostato Autolab PGSTAT 12
medidas voltamétricas de pulso diferencial no
(Eco Chemie) gerenciado pelo software GPES
intervalo de potencial de -0,3 a 0,5 V (vs
4.9. A análise foi realizada numa célula
Ag/AgCl), velocidade de varredura de 20 mVs-1,
eletroquímica convencional com capacidade para
tempo de pulso de 60s em H 2SO4 3%(v/v) como
50 mL de solução, utilizando-se um sistema de
eletrólito de suporte, intervalo de concentração
três eletrodos: eletrodo de trabalho de carbono
vítreo (diâmetro 2,0 mm), eletrodo de referência de cobre de 7,94x 10-5 a 4,76x10-4 molL-1, a fim
de Ag/AgCl com KCl 3,0 molL-1 e um eletrodo de de se obter a curva analítica. A Figura 3
platina como auxiliar. apresenta os voltamogramas de pulso diferencial
obtidos nas condições experimentais descritas,
Foram realizados, inicialmente, estudos mostrando pico anódico na região de 0,05V. Na
de otimização dos parâmetros operacionais da Figura 4, é mostrado curva analítica,
técnica de voltametria de pulso diferencial, como: representada pela equação y = 6,22.10-4x - 3,61
Tempo de eletrodeposição (ted), potencial inicial 10-8, R2= 0,963 (n=19) para a concentração de
(Ei), potencial final (Ef), Potencial de degrau (Ed), Cu(II), com o limite de detecção de 1,7 x 10-7
velocidade de varrredura(v) e amplitude de molL-1.
potencial de pulso aplicado(DEp). As melhores
condições obtidas para estes parâmetros foram: O efeito da adsorção foi verificado em função da
ted= 60s, Ei = -0,3V, Ef = 0,5V, Ed = -0,006V, v = 20 massa e do tempo de contato da perlita. No
mVs-1 e DEp = 0,05V. A perlita foi utilizada como voltamograma de pulso diferencial do cobre em
adsorvente de íons cobres. Foi pesada 0,50 e eletrodo modificado com quitosana os picos de
1,00 g de perlita expandida e submetida à oxidação apresentam intensidades de potenciais
agitação magnética variando o tempo de 5 a 30 fixos (Epc= 0,05V ).
minutos, em intervalos de 5 minutos para A Figura 5, representa o voltamograma
avaliação. A concentração da solução de íons após o tempo de contato de 5 a 30 min em 500
cobre foi de 500 mgL-1. Após o tempo da mg/L de íons cobre com 1,00 g de perlita, no
adsorção, foram retiradas alíquotas, no volume qual é observado dois picos na região anódica
de 3 mL e submetidas a centrifugação, com a caracterizando a presença de íons cobre. Com
finalidade de remover a perlita. Dessa alíquota, aumento do tempo de contato da perlita com a
retira-se 1 mL que foi adicionado a célula solução deste íon metálico, diminui a área dos
eletroquímica juntamente com 20 mL de ácido picos indicando a adsorção de íons cobre pela
sulfúrico 3% (v/v). Em seguida, essa célula foi perlita.
submetida às medidas voltamétricas com o
Pelos resultados observou-se uma rápida
eletrodo de trabalho de carbono vítreo
remoção de cobre pela perlita expandida. Nos

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 50
primeiros 5 min alcançou eficiência média de Agradecimentos
adsorção de 67,02%. No tempo de 20 min, a
Os autores agradecem à PETROBRAS
diferença entre a média de adsorção de 0,50g e
pelo apoio financeiro.
1,00g é de 2,79 mg/L, observando um equilíbrio
de adsorção do cobre até o tempo final de 30
min. Referências
No tempo de 30min com 0,50g de perlita
foi observado o maior percentual de adsorção
com 77,00% de eficiência com o desvio padrão 1. ALKAN, Mahir. et al. Adsorption of CTAB
de 2,83 entre os experimentos realizados com onto perlite samples from aqueous
esta massa neste tempo de contato. Pode-se solutions. Journal of Colloid and
observar que para as duas massas de perlita a Interface Science, v. 291, p. 309-318,
adsorção atingiu a eficiência máxima no tempo 2005.
de 30 e 15 minutos para 0,50 e 1,00 g de perlita, 2. ALKAN, Mahir. Surface titrations of
respectivamente. perlite suspensions. Journal of Colloid
and Interface Science. v. 207, p. 90-96,
A perlita expandida mostrou ser um 1998.
rápido adsorvente de íons cobre em solução. No 3. ALMEIDA NETO, Ambrósio Florêncio.
tempo de 1h, a adsorção foi tão eficaz que não Desempenho da argilas bentoníticas na
foi possível quantificar o percentual de adsorção remoção de cátions de cádmio e cobre
através da análise eletroquímica. Para o estudo em colunas de leito fixo. Campina
do efeito de massa da perlita, observou-se que Grande (Tese de Mestrado,
as quantidades de 0,50 g e 1,00 g não interferem Universidade Federal de Campina
no processo de adsorção, na qual no tempo de Grande), 2007.
30 min o desvio padrão para a adsorção as 4. BASTANI, Dariush et al. Study of oil
diferentes massas foi de 9,14. soption by expanded perlite at 298,15 k.
Na técnica eletroanalítica, o eletrodo de Separation and Purification Technology,
carbono vítreo modificado com quitosana pode v. 52, p. 295-300, 2006.
ser empregado para a determinação de íons no 5. CONAMA. Resolução nº 357, de 17 de
intervalo de 7,94 x 10-5 a 4,16 x 10-4 mol L-1, março de 2005.
empregando a voltametria de pulso diferencial. 6. FAQUIM, Elaine de Souza. Estudo da
Esta espécie apresenta um comportamento determinação de cobre por análise por
voltamétrico de - 0,3 a 0,5 V (vs. Ag/AgCl), em diluição isotópica subestequiométrica.
um eletrólito de H2SO4. (Dissertação de Mestrado em ciências
na área tecnologia nuclear, São Paulo),
Todas as técnicas utilizadas neste 1994.
trabalho têm a característica de ser rápida, não 7. HOMEM, Eduardo Machado. remoção
destrutiva, apresentando alta sensibilidade e de de chumbo, niquel e zinco em zeólita
baixo custo. utilizando sistemas de leito fluidizado.
Considerando os resultados obtidos para Dissertação de Mestrado, Faculdade de
a massa de 0,50 g de perlita, observou-se que a Engenharia Química, UNICAMP, 2001.
adsorção atingiu a eficiência máxima no tempo 8. JANEGITZ, Bruno Campos;
de 30 minutos, correspondendo a um percentual MARCOLINO JUNIOR, Luis Humberto;
de 77,00% de cobre, enquanto para a massa de FATIBELLO FILHO, Orlando.
1,00 g, o máximo de adsorção ocorreu em 15 Determinação voltamétrica por
minutos com 75,41%. No entanto, utilizando a redissolução anódica de Cu(II) em águas
média do percentual de adsorção para todos os residuárias empregando um eletrodo de
tempos avaliados, foi verificado para 0,50 e 1,00 pasta de carbono modificado com
g a porcentagem de adsorção de 73,60% e quitosana. Química Nova v. 30, N. 7, p
72,03%, respectivamente. Esse fato demonstra 1673-1676, 2007.
que a massa da perlita não alterou 9. KUMAR, Ravi. A review of chitin and
significativamente o processo de adsorção. chitosan applications. React.Funct.
Polym., v.46, p. 1-27, 2000.
10. LAGALY, Gehard. Prog. Colloid Polym.
Sci.,97,341, 1994. Em AGQUIAR,

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 51
Mônica Regina Marques. Palermo de; 16. SOUZA, Hiale Yane Silva de.
NOVAES, Amanda Cardoso; GUARINO, Hidrofobização da perlita para uso na
Alcides Wagner Serpa. Remoção de adsorção de compostos orgânicos
metais pesados de efluentes industriais presentes nas águas produzidas de
por aluminosilicatos. Química Nova,v.25, petróleo (Tese de Mestrado,
n 6B, p 1145-154, 2002. Universidade Federal do Rio Grande do
11. MELO, Acácia Maria Santos. Estudo Norte-UFRN), 2010.
eletroquímico da trifluralina adsorção em 17. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos
quitosana, interação com o biossensor físico-químicos para análise de
dsDNA e toxidade frente ao caramujo alimentos. 4. ed. Brasília, 2005.
biomphalaria glabatra. Alagoas (Tese de 18. JANSON LT, kling S, Dallman PR.
Doutorado, Universidade Federal da Anemia in children with acute infections
Alagoas), 2007. seen in a primary care pediatric
12. OLIVEIRA, Sérgio de Souza; JORDÃO, outpatient clinic. Pediatry Infect Dis
Cláudio Pereira; BRUNE Walter. 1986; 4:424-7.
Ambiente, 6,41, 1992. 19. Manual de fortificação de fubá e flocos
13. SHAHIDI, Fereidoon; ARACHCHI, Janak de milho com ferro, Rio de Janeiro.
Kamil Vidana; JEON, You-Jim. Food Embrapa Agroindustria de Alimentos,
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Trends in Food Sci. Tecnhol., v. 10, p. 20. OMS. Série Informe Técnicos. Anemia
37-51, 1999. nutricionales: informe de um grupo de
14. SIGNINI, Roberto. Estudos de obtenção, expertos em nuticion de La OMS; 1972.
purificação e caracterização de 21. OMS. Série Informes Técnicos, 182.
quitosana (Dissertação de Mestrado, Anemia nutricionales: informe de um
Instituto de Química de São Carlos, grupo de expertos em nutricion de La
Universidade de São Paulo), 1998. OMS> Ginebra: OMS; 1959.
15. SOUZA SANTOS, Persio. Ciência e 22. VORA, A.; Thermal stability of folic and
Tecnologia de Argilas. 2ª ed., São Paulo: associated excipients, M.Sc. thesis, The
Ed. Edgard Blücher Ltda., v. 1-3, 1992. University of Toledo, December 2001.

Figura 1: Estrutura química da quitosana

Figura 2 - Procedimento experimental realizado na remoção dos íons cobre e quantificação


eletroanalítica.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 52
Figura 3 – Voltamogramas de pulso diferencial para íons Cu2+, obtidos mediante o método de adição
de padrão.

Figura 4 – Curva analítica da concentração de íons Cu2+ em função do sinal elétrico (ou área do pico)
obtido na voltametria de pulso diferencial.

Figura 5 – Voltamogramas de pulso diferencial para íons Cu2+ em função do tempo, utilizando 1,00 g
de perlita como adsorvente.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 53
ESTUDO DE PARÂMETROS DE REATIVIDADE MOLECULAR
EM REAÇÕES DE ADIÇÃO DE HALOGENIDRETOS AO ETENO

STUDY OF PARAMETERS OF REACTIVITY MOLECULAR IN


ADDITION REACTIONS OF HYDROHALIC ACIDS WITH ETHYLENE

LIMA¹, Francisco José Santos; SILVA, Ademir Oliveira da;


BRITO, Yuri Lima de; SOUSA, Fernanda Louise Cardoso de

¹Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Departamento de Química


Natal, RN – CEP. 59072-970, Campus Universitário
e-mail*: limafjs@yahoo.com

Received 01 January 2011; received in revised form 06 January 2011; accepted 10 January 2011

RESUMO

Os parâmetros de reatividade molecular (PRM´s) têm sido usados para quantificar propriedades
atômicas que influenciam nas interações entre as moléculas. É possível, através da análise de suas
magnitudes e do arranjo estereoquímico do sistema, prever e/ou explicar determinados eventos experimentais.
O objetivo do presente trabalho foi estabelecer paralelos entre os parâmetros termodinâmicos (entalpia,
entropia e energia livre), e os resultados das simulações de modelagem molecular teórica através de dados
geométricos qualitativos e semi-quantitativos (densidades de potencial eletrostático coulômbico e cargas
parciais), gerados por um software comercial (WebLab ViewerPro) para a obtenção de PRM´s nas reações de
halogenidretos com o eteno. Observa-se que existe uma dependência claramente observável dos parâmetros
de reatividade com o comportamento termodinâmico e cinético destas reações.

Palavras-Chave: Parâmetros de reatividade, halogenidretos, haloalcanos.

ABSTRACT

The molecular reactivity parameters (PRM´s) have been used to quantify atomic properties that
influence in the interactions among the molecules. It is possible throughout the analysis of its magnitudes and
stereochemistry arrangement of the system, to foresee and/or to explain certain experimental events. The aim
of this work was to establish parallel among the thermodynamic parameters (enthalpy, entropy and free energy),
and the results of the simulations of theoretical molecular modelling through the geometric qualitative and semi-
quantitative data (densities of coulomb of electrostatic potential and partial charge), generated by a commercial
software (WebLab ViewerPro) for the obtaining of PRM´s, in the hydrohalic acids reactions with the ethylene. It
can be notice that there is clearly dependence of the reactivity parameters with the thermodynamic and kinetic
behavior of these reactions.

Keywords – Reactivity parameters, hydrohalic acids, haloalkanes

Introdução químicas. Neste trabalho, foram avaliadas alguns


tipos de reações orgânicas que ocorrem em
Parâmetros de reatividade têm sido alcenos e calculados os parâmetros de
usados por diversos autores [CHANDRA, 1981; reatividade molecular na tentativa de
GEORGE, 1972], [LIMA et al, 2007; MELO et al, compreender o fato de suas ocorrências. Ainda,
2006] para avaliar a predisponibilidade de buscaram-se explicações para a não-efetividade
interação de moléculas em possíveis reações de algumas ocorrências que não resultam na

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 54
formação de produtos. Para isso, foi selecionada Parâmetros Termodinâmicos:
uma reação de adição que ocorre em alcenos,
comumente denominada de hidro-halogenação, Os parâmetros termodinâmicos obtidos
através de um ataque eletrofílico à dupla ligação. da literatura [LIDE, 1991], possibilitaram efetuar
Tal reação consiste na adição eletrofílica que uma correlação com os PRM´s gerados neste
ocorre entre um halogenidreto (HX) e uma trabalho.
olefina, já bem conhecida da literatura
[ALLINGER et al., 1978; REUSCH, W. H., 1980], HF(g) + H2C=CH2(g) → C2H5F(g)
porém, não tão bem explicada através de ∆Ho = ND
aspectos quantitativos. Partindo deste o
∆S = - 30,758 Cal/deg.mol
pressuposto, foram estudadas correlações entre ∆Go = ND
parâmetros termodinâmicos e parâmetros de
reatividade molecular para avaliar a HCl(g) + H2C=CH2(g) → C2H5Cl(g)
aplicabilidade dos PRM´s. ∆Ho = -17,238 kCal/mol;
∆So = - 31,156 Cal/deg.mol;
Desenvolvimento ∆Go = -7,949kCal

Inicialmente foram investigadas as HBr(g) + H2C=CH2(g) → C2H5Br(g)


reatividades preliminares dos ácidos inorgânicos ∆Ho = - 19,21 kCal/mol;
HX (onde X = F, Br, Cl e I), do etileno e dos ∆So = - 31,65 Cal/deg.mol;
halogenidretos obtidos na reação H2C=CH2 + HX ∆Go = - 9,778 kCal
→ H3C-CH2X, através de parâmetros de HI(g) + H2C=CH2(g) → C2H5I(l)
reatividade molecular (PRM), definidos ∆Ho = - 28,42 kCal/mol;
genericamente através da distribuição de carga ∆So = - 51,201 Cal/deg.mol;
parcial, δi = ∫qidτ [CHANDRA, 1981; GEORGE, ∆Go = - 13,15 kCal
1972] e pela expressão abaixo [LIMA et al, 2007;
MELO et al, 2006]: ND – Não disponível; deg – degree (grau)

ℜ =
∫ q dτi
(Eq. 01) Para a reação do fluoreto de hidrogênio
n
com o eteno, alguns dados termodinâmicos não
∑ ∫ q dτ
i= 1
i
foram obtidos da literatura e foi empregada uma
estimativa para o cálculo do ∆Hfo do HF a partir
A ∫qidτ é a carga parcial do elemento na das entalpias médias de ligação, também
molécula e o Σ∫qidτ ,o módulo da soma das conhecida como energia de ligação (EL), e das
cargas parciais na molécula. A modelagem entalpias padrão de atomização de elementos,
molecular, ângulos e distância de ligação e o também definida como entalpias de atomização
cálculo de carga parcial foram obtidos através do (EAtm), tabelados na literatura [MOORE, 1976].
programa WebLab ViewerPro [WEBLAB Em seguida, foram obtidos o ∆Ho e o ∆Go da
VIEWERPRO, 1988]. reação de hidro-halogenação e, por conseguinte,
Em seguida, foram pesquisados e o ∆Gfo do HF, todos estes citados indisponíveis
calculados alguns parâmetros termodinâmicos na literatura. Salienta-se que estas estimativas
como variação de entalpia, entropia e energia estão com um grau de concordância bastante
livre das reações de formação dos haloalcanos satisfatório (Tabelas 6 e 7 e Figura 3) quando
através de valores fornecidos na literatura [LIDE, comparados com os valores experimentais
1991; MOORE, 1976]. presentes na literatura. A Tabela 8 mostra os
parâmetros termodinâmicos completos da
literatura e calculados neste trabalho.
Resultados
A Figura 4 ilustra o mecanismo da reação
As modelagens obtidas pelo programa de hidro-halogenação, na formação dos
supracitado são mostradas nas Figuras 1 e 2. Já haloalcanos. Na Figura 5, temos uma correlação
os valores de distâncias e ângulos de ligação entre as cargas parciais e a energia de ligação
para cada geometria, cargas parciais e dos halogenidretos, ao passo que, na Figura 6,
parâmetros de reatividade, obtidos pela equação tem-se uma estimativa da carga parcial limite
1, são mostrados nas Tabelas 1-5. para a ocorrência da reação de modo
espontâneo.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 55
As Figuras 7-9 ilustram a correlação entre formação do haloalcano. A primeira etapa dessa
cargas parciais dos halogenidretos e haloalcanos reação, que consiste no ataque eletrófilo do H δ+ a
e os parâmetros termodinâmicos de dupla ligação à olefina, é lenta e é determinante
espontaneidade experimental. da velocidade da reação. Já a segunda etapa,
que consiste na formação do carbocátion é
rápida, e isto se deve claramente a elevação das
Discussões
cargas parciais nas espécies iônicas H3CCH2+ e
X-, geradas pela primeira etapa.
As reações descritas, definidas como
reações de halogenidretação, ocorrem quando A partir da correlação entre a carga
há adição de halogenidretos HX (onde X = F, Cl, parcial do HCl e do HF e a energia livre da
Br e I) em um reagente orgânico, em geral uma reação de hidro-halogenação, mostrado na
olefina, segundo o mecanismo indicado na Figura 6, observamos por interpolação gráfica,
Figura 4. que o valor limite para a carga parcial do
halogênio no H-X, para a ocorrência do ataque
O interessante desse mecanismo é o fato
de não ocorrer reação com o HF para produzir o eletrófilo do Hδ+ a nuvem eletrônica da dupla
fluoretano, mas ocorre com os demais ligação no eteno, centralizada no nucleófilo Cδ-,
halogenidretos, HCl, HBr e HI, segundo a ordem não pode ultrapassar o valor calculado de
de reatividade; HI > HBr > HCl. Percebe-se que o -0,2493, que é um valor limite para que a hidro-
ataque do HF ao eteno não surte efeito, nas halogenação ocorra, onde teoricamente a
condições experimentais levada à prova nos energia livre padrão seria zero. Por isso, a
experimentos citados na literatura, e isso se deve reação para a formação do fluoretano não
provavelmente pelo maior valor de carga parcial ocorre, já que o valor da carga parcial do flúor no
(Tabela 3), apresentado pelo hidrogênio e flúor H-F é de -0,2687. Assim, para que a reação de
no HF, o que contribui significativamente para a hidro-halogenação do eteno apresente ∆G<0
sua maior estabilidade como molécula, onde (reação espontânea), a carga parcial do
também verifica-se que sua energia de ligação halogênio deve ser menor que -0,2493, ao passo
dentre as demais (Tabela 09), é a maior, da que para a reação apresentar ∆G>0 (reação não
ordem de 563 kJ mol-1 [MOORE, 1976]. Outro espontânea) a carga parcial do halogênio deve
fator que contribui também para isto é a ligação ser igual ou maior que esse valor.
de hidrogênio que existe entre as moléculas do As correlações mostradas nas Figuras 7,
HF que, de certa forma, tende a favorecer as 8 e 9 mostram a semelhança entre os valores de
interações entre as moléculas vizinhas do próprio cargas parciais nos halogenidretos e nos
halogenidreto. A Figura 5 mostra a correlação haloalcanos quando compara-se com a energia
entre as cargas parciais do halogênio no H-X livre padrão. Quando comparados a carga parcial
(Tabela 3) e a energia média de ligação do halogênio no halogenidreto e no haloalcano,
experimental (Tabela 9), mostrando a grande observa-se que ocorre uma diminuição em sua
separação que existe entre o HCl e HF, o que já magnitude e visualiza-se isso na Figura 9,
é uma evidência da mudança nos processos através do deslocamento do gráfico para a
energéticos da reação. direita, região que ocorre também o sentido da
Observando o mecanismo mostrado na reação para a maior espontaneidade nas
Figura 4 e os valores de cargas parciais reações, onde estão os valores mais baixos de
mostrados nas Tabelas 3 e 4, podemos inferir carga parcial para o halogênio. De certa forma
que para haver uma interação do H-X com a pode-se associar a maior espontaneidade da
dupla C2=C1 (Figuras 2 e 4), e a conseqüente reação quando ocorre também a maior
quebra da ligação dupla seguida da adição de H, diminuição da carga parcial sobre o halogênio,
é preciso que as cargas parciais de ambos quando comparados o halogenidreto e o
possuam valores próximos (Tabelas 3 e 4), para haloalcano correspondente, visto que, relativo a
que o ataque eletrófilo do Hδ+ na nuvem cada elemento, do H-F para o C2H5-F diminuiu de
eletrônica do nucleófilo Cδ- na molécula da 6,4%, do H-Cl para o C2H5-Cl 13,3%; do H-Br
olefina, ocasione a clivagem da ligação de uma para o C2H5-Br 18,0% e do H-I para o C2H5-I
forma energeticamente favorável e adequada, 19,4%.
para em seguida, com a formação do carbocátion Observando os dados termodinâmicos
intermediário H3CCH2+ bastante reativo, ocorra a para a reação do fluoreto de hidrogênio com o
halogenação posterior, na etapa final da eteno, que é a única que não ocorre nas

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 56
condições relatadas pela literatura a 298 K (25 D. C., JOHNSON, C. R., LEBEL, N. A., e
o
C), pode-se estimar a temperatura para o qual o STEVENS, C., L., 1978 – Química
processo pode se tornar possível. Uma análise Inorgânica, Cap 14, 2ª. Ed., Ed.
teórica breve dos resultados obtidos neste Guanabra Koogan S.A., Rio de Janeiro.
trabalho permite concluir que em baixas 2. CHANDRA, A. K., 1981 – Introductory
temperaturas a reação passaria a ter uma Quantum Chemistry, 2nd Ed. – Tata
energia livre favorável a formação de produtos e McGraw-Hill Publishing Co. Ltd., New
o processo passaria a ser espontâneo. Para isso, Delhi.
a temperatura deveria atingir valores abaixo de 3. GEORGE, D. V. 1972 – Principles Of
250,3 K ou abaixo de -23,8 oC. Quantum Chemistry – Pergamon Press
Inc., printed in USA.
Conclusões 4. LIDE, D. R., 1991 – Handbook of
Chemistry and Physics, CRC Press, Inc.,
Concluí-se que existe uma dependência Ed. 72., Printed In U.S.A.
claramente observável dos parâmetros de 5. LIMA, F. J. S.; MELO, R. M.; SILVA, A. O.
reatividade com o comportamento termodinâmico e BRAGA, C. C. M., 2007 - Parâmetros
e cinético destas reações. Observa-se que a De Reatividade Molecular – Tchêquímica,
reação que apresenta a maior reatividade é 4(7), 7-15.
inversamente proporcional às cargas parciais do 6. MELO, R. M.; LIMA, F. J. S.; SILVA, A. O.
hidrogênio e/ou do halogênio nos halogenidretos, e BRAGA, C. C. M., 2005 - Parâmetros
bem como inversamente proporcional às De Reatividade Molecular – Trabalho
energias de ligação nos respectivos compostos. apresentando no XVI Congresso de
Como esperado, a facilidade de ocorrência da Iniciação Científica da UFRN (CIENTEC),
reação obedece regularmente ao critério outubro.
termodinâmico de espontaneidade ∆Go e a 7. MICROCAL™ ORIGIN®, Version 6.0,
acidez crescente dos halogenidretos. Copyright© 1991-1999, Microcal
Software, Inc.
Agradecimentos 8. MOORE, W. J., 1976 – Físico-Química 1,
Ed. Edgard Blücher Ltda, São Paulo.
Ao PIBIC/UFRN/PROPESQ/CNPq, pelo 9. REUSCH, W. H., 1980 – Química
incentivo à pesquisa fundamental. Orgânica, V.1, Cap 5, Ed. Mc.Graw-Hill
do Brasil Ltda, São Paulo, SP.
Referências 10. WEBLAB VIEWERPRO, Copyright © 1998,
Molecular Simulations, Inc., Web Lab and
ViewerPro are trademarks of Molecular
1. ALLINGER, N. L., CAVA, M. P., JONGH, Simulation Inc.

HI
HF HCl HBr

Figura 1 – Modelagem para as moléculas HX. Os elementos halogênios estão coloridos pelo
programa WebLab ViewerPro.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 57
Figura 2 – Modelagem obtida para o eteno, mostrando a nuvem de potencial eletrostático, distância
(Å) e ângulos de ligação, e cargas parciais.

Correlação ∆ Hfcal x ∆ Hfexp


-8
Reta de regressão
-10
I
Valor Experimental ∆ Hf (kCal/mol)

-12

-14 Br
C2H5-X
-16

-18

-20
∆ Hf(exp) = 0,98043 ∆ Hf(calc) - 3,77943
-22

-24

-26
Cl
-28

-24 -22 -20 -18 -16 -14 -12 -10 -8 -6 -4

Valor Calculado ∆ Hf (kCal/mol)

∆Hf (exp) = 0,98043 ∆Hf (cal) - 3,77943 (kCal/mol). r = 0,99397 sd = 1,35715


-----------------------------------------------------------
[16/11/2010 22:12 "/Graph1" (2455516)]
Regressão Linear para Data1_B:
Y=A+B*X
Parâmetro Valor Erro
------------------------------------------------------------
A -3,77943 1,68223
B 0,98043 0,10813
------------------------------------------------------------
R SD N P
------------------------------------------------------------
0,99397 1,35715 3 0,06993
------------------------------------------------------------
Figura 3 – Análise de regressão entre entalpias de ligação calculadas e experimentais dos
haloalcanos, obtidas a partir dos dados experimentais [LIDE, 1991] e calculados por EAtom – EL e
do software ORIGIN.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 58
Figura 4 – Mecanismo da reação de adição de um halogenidreto ao eteno, produzindo o haloalcano.
A doação de pares eletrônicos está mostrada pelas setas. A primeira etapa é a lenta formando o
carbocátion e a segunda etapa é rápida.

600
F
550
Energia de Ligação EL(H-X) = -∆ Hf (H-X)
o

500

450
(kJ/mol)

Cl
400
Br
350

300 I

-0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00


Carga Parcial do Halogênio no H-X

Figura 5 – Correlação entre a carga parcial do halogênio no H-X e a energia média de ligação
experimental (kJ/mol)

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 59
o
Corelação CpX versus ∆ G
o
Ponto Interpolado para ∆ G =0
Reta de Interpolação
2 H-F
o
∆ G >0, Não-espontâneo
0
o

Energia Livre Padrão ∆ Go


∆ G <0, Espontâneo
-2

kCal/mol
-4

-6

H-Cl
-8

-0,28 -0,26 -0,24 -0,22 -0,20 -0,18 -0,16 -0,14

Carga Parcial de X no H-X

∆G = -19,27697 + (-77,32406).Cp → 0 = -19,27697 + (-77,32406).Cp →


Cp = 19,27697/(-77,32406) → Cp = -0,2493 valor limite de Cp para que ∆G=0.
Abaixo desse valor ∆G<0 (reação espontânea) e acima ∆G>0 (reação não espontânea)

Figura 6 – Correlação entre a carga parcial do HCl e do HF e a energia livre da reação de hidro-
halogenação, para obtenção da carga parcial limite para ∆G=0.

o
HX(g) + C2H4(g) -> C2H5 X (∆ G )
4
F
2 Não Espontâneo ∆ G > 0
Energia Livre Padrão ∆ G (kCal/mol)

-2 Espontâneo ∆ G < 0
o

-4

-6
Cl
-8
Br
-10

-12
I
-14

-0,30 -0,28 -0,26 -0,24 -0,22 -0,20 -0,18 -0,16 -0,14 -0,12 -0,10

Carga Parcial do Halogênio (H-X)

Figura 7 – Correlação entre a carga parcial do halogênio no H-X e a Energia Livre Padrão da reação
de hidro-halogenação do eteno (kCal/mol)

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 60
o
HX(g) + C2 H4(g) -> C2 H5 X (∆ G )
2 F
Não Espontâneo ∆ G > 0
0

Energia Livre Padrão ∆ G (kCal/mol)


Espontâneo ∆ G < 0
-2

-4
o

-6

Cl
-8

Br
-10

-12
I
-14

-0,26 -0,24 -0,22 -0,20 -0,18 -0,16 -0,14 -0,12 -0,10 -0,08

Carga Parcial do Halogênio no C2H5 X

Figura 8 – Correlação entre a carga parcial do halogênio no C2H5X e a Energia Livre Padrão da
reação de hidro-halogenação do eteno.

Carga Parcial do halogênio no H-X


Carga Parcial do halogênio no C2H5-X
2
Não Espontâneo ∆ G > 0
0
Energia Livre Padrão ∆ G (kCal/mol)

Espontâneo ∆ G < 0
-2

-4
o

-6
o
HX(g) + C2H4(g) -> C2H5 X (∆ G )
-8

-10

-12

-14

-0,30 -0,28 -0,26 -0,24 -0,22 -0,20 -0,18 -0,16 -0,14 -0,12 -0,10 -0,08

Carga Parcial do Halogênio X

Figura 9 – Correlação entre a carga parcial do halogênio no H-X e no C 2H5X com a Energia Livre
Padrão da reação de hidro-halogenação do eteno.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 61
Tabela 1 – Distância de ligação no H-X

H-X Å
H-F 0,94
H-Cl 1,33
H-Br 1,50
H-I 1,66
Å – 1 Angstrom (10-10 m)

Tabela 2 – Distância de ligação e ângulos de ligação aproximados no H2C=CH2

Ligação Å Átomos Graus o


C1/C2/H3
C1-C2 1,33 C1/C2/H4 120
C2/H3/H4
C1-H1 C1/C2/H1
C1-H2 1,00 C1/C2/H2 120
C2-H3 C1/H1/H2
C2-H4

Tabela 3 – Cargas parciais obtidas para os halogenidretos estudados.


Cargas parciais - ∫qidτ
H-X X H
H-F -0,2687 +0,2687
H-Cl -0,1465 +0,1465
H-Br -0,1136 +0,1136
H -I -0,1074 +0,1074

Tabela 4 – Cargas parciais para o eteno.

Cargas parciais
C1/C2 -0,1062
H1/H2/H3/H4 +0,0531

Tabela 5 – Parâmetros de reatividade molecular (PRM´s) para os halogenidretos e o eteno


HX H2C=CH2(g)
Rp Re Rp Re
X -0,5 C1/C2 -0,25
H +0,5 H1/H2/ H3/H4 +0,125

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 62
Tabela 6 - Comparativo entre ∆Hf da literatura (experimental) e ∆Hf calculado neste trabalho, a
partir de EAtom - EL nos haloetanos para a reação geral:

2C(s) (grafite) + 5/2 H2(g) + 1/2 X2(g) → C2H5X(g) ou (l) ∆Hf

kCal/mol C2H5F C2H5Cl C2H5Br C2H5I


∆Hf (Liter exp) ND -26,81 -15,42 -9,6
∆Hf (Calc) -60,0 -23 -13 -5,3
(Liter exp) – Dados experimentais pesquisados na literatura; (Calc) Dados calculados neste trabalho; ND – Não
disponível

Tabela 7 – Comparativo entre valores de ∆Hf experimentais, calculados e estimados pela reta
de regressão para os haloalcanos.

C2H5F C2H5Cl C2H5Br C2H5I


(a) ∆Hf (Liter exp)a
ND -26,81 -15,42 -9,6
kCal/mol
(b) ∆Hf (Calc)b EAtom - EL -60,0 -23 -13 -5,3
kCal/mol
Desvio (1) - 3,81 2,42 4,3
b-a
(c) ∆Hf (Calc)c regressão -62,6 -26 -16 -9,0
kCal/mol
Desvio (2) - 0,81 -0,58 0,6
c-a
Desvio (3) -2,6 -3 -3 -3,7
c-b
(Liter exp) – Literatura experimental [LIDE, 1991]; (Calc) – Calculado; ND – Não disponível

Tabela 8 – Parâmetros termodinâmicos utilizados e calculados neste trabalho.


HF(g) + H2C=CH2(g) → C2H5F(g)

∆H (kCal/mol) ∆S (Cal/K mol) ∆G (kCal)


Literatura ND - 30,758 ND
Calculado -7,7 (*) NC +1,5 (**)

HCl(g) + H2C=CH2(g) → C2H5Cl(g)

∆H (kCal/mol) ∆S (Cal/K mol) ∆G (kCal)


Literatura -17,238 - 31,156 -7,949
Calculado -13(*) NC -4(**)

HBr(g) + H2C=CH2(g) → C2H5Br(g)

∆H (kCal/mol) ∆S (Cal/K mol) ∆G (kCal)


Literatura -19,21 -31,65 -9,778
Calculado -17(*) NC -8(**)

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 63
HI(g) + H2C=CH2(g) → C2H5I(l)

∆H (kCal/mol) ∆S (Cal/K mol) ∆G (kCal)


Literatura -28,42 -51,201 -13,15
Calculado -24,1(*) NC -8,8(**)

Literatura (experimental) [LIDE, 1991]; Calculado através de EAtom - EL


ND – não disponível; NC – não calculado
* - Estimado pela ΣEntalpia de Atomização + (-ΣEntalpia Média de Ligação)
** - Calculado a partir de ∆Go298 = ∆Ho298 (estimado) – T.∆So298

Tabela 9 – Entalpias de ligação ou Energias de ligação para halogenidretos

HX(g) HF HCl HBr HI


EL = -∆Hfo 563 432 366 299
(kJ mol-1) a 298 K
EL = -∆Hfo 135 103 87,5 71,5
(kCal mol-1) a 298 K

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 64
A PRESENÇA DO BIODIESEL NOS LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA DO
ENSINO MÉDIO

THE TOPIC BIODIESEL IN HIGH SCHOOL CHEMISTRY TEXTBOOKS

SILVA, André Leandro1; MARTINS, Geovana do Socorro Vasconcelos2; BARBOSA, Roberta Chaiene
Almeida3; MENDES, Andréa Maria Brandão4; COELHO, Luiz Fernando de Oliveira5
1, 2, 3, 4, 5,
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar, Campus de
Pombal. Rua Jairo Vieira Feitosa, S/N, Bairro dos Pereiros, CEP: 58.840-000.
* e-mail: andrels@ufcg.edu.br

Received 07 December 2010; received in revised form 02 January 2011; accepted 06 January 2011

RESUMO

O trabalho com temas transversais é uma opção para facilitar o processo de ensino-aprendizagem de
Química. O objetivo deste estudo foi verificar como a temática do biodiesel está sendo tratada nas aulas de
Química do ensino médio e sua presença nos livros didáticos adotados pelos professores. Para tanto, foi
realizada uma pesquisa com professores de Química das três séries do ensino médio de cinco escolas da rede
estadual de Campina Grande – PB que responderam a um questionário com perguntas abertas para coleta de
dados. Os livros didáticos utilizados pelos professores foram os dos autores Geraldo Camargo (1997), Usberco
e Salvador (2006), Sardella (2004) e Feltre (2005), sendo este último o de maior aceitação e o único que faz
parte do programa do governo federal de livros didáticos de Química para o ensino médio. Quanto à presença
da temática do biodiesel no livro didático adotado, alguns professores, ao serem questionados, não tinham
segurança em sua resposta ou nem sabiam responder, o que indica que alguns conhecem pouco o livro que
utilizam. A maioria dos professores alegou falta de tempo para abordar o tema e percebeu-se que muitos
seguem à risca o livro adotado. Logo, se o livro não aborda o conteúdo, o professor também não o faz.

Palavras-chave: biodiesel, tema transversal, livro didático, ensino de Química.

ABSTRACT

The approach of cross themes is an option to facilitate the teaching and learning process of Chemistry.
This study aimed to verify how the issue of biodiesel is being treated in chemistry classes in high school and its
presence in the textbooks adopted by the teachers. For this purpouse, high school Chemistry teachers of five
schools of Campina Grande-PB answered a questionnaire with open questions to collect data. The textbooks
used were of the authors Geraldo Camargo (1997), Usberco and Salvador (2006), Sardella (2004) and Feltre
(2005), where this last one was the most widely accepted and the only that is part of the federal government's
program of Chemistry textbooks for high school. Regarding the presence of the theme of biodiesel in the
textbook adopted, some teachers were unsafe in their answer or did not know how to answer, which shows that
some of them do not have an idea about the content of the book they use. Most teachers claimed lack of time to
address theme and it was showed that many of them followed the book adopted strictly. Then if the book does
not cover the content, the teacher also did not do it.

Keywords: biodiesel, cross theme, textbook, Chemistry teaching.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 65
INTRODUÇÃO conhecimentos científicos.
Os parâmetros curriculares nacionais
A maior parte de toda a energia
(PCNs, 1997) destacam a importância da
consumida no mundo provém do petróleo, do
formação para o exercício da cidadania. O
carvão e do gás natural. Essas fontes são
ensino de Química deve possibilitar ao aluno
limitadas e com previsão de esgotamento no
tanto a compreensão dos processos químicos
futuro. Portanto, a busca por fontes alternativas
em si, quanto da construção de um
de energia é de suma importância. Nesse
conhecimento científico em estreita relação com
contexto, os óleos vegetais aparecem como uma
as aplicações tecnológicas e suas implicações
alternativa do diesel em motores de ignição por
sociais, políticas e econômicas (PCN+, 2002).
compressão, sendo o seu uso testado já em fins
do século XIX, produzindo resultados É evidente a necessidade de relacionar
satisfatórios no próprio motor a diesel (TORRES, os conteúdos trabalhados com o cotidiano do
2006). aluno. Freire (1987) propõe o uso de temas
atuais para desenvolver conteúdos. Estes temas,
Atualmente, depara-se com uma possível
chamados geradores ou transversais, além de
realidade: o fim do petróleo. A partir desta
multidisciplinar, precisam despertar interesses no
possibilidade é que muitas pesquisas estão
aluno.
sendo feitas em torno dos biocombustíveis. Em
meio a estas pesquisas com combustíveis A temática do biodiesel, no caso da
alternativos, temos o biodiesel, combustível Química, pode propiciar o desenvolvimento de
renovável, mono-alquil éster de ácidos graxos conteúdos que fixem conceitos, procedimentos,
derivados de óleos vegetais e gorduras animais, oriente e reflita atitudes, previstos nos PCNs. O
geralmente obtido através da reação de tema pode trabalhar assuntos como: ligações
transesterificação, no qual ocorre a químicas, reações, misturas, separação de
transformação de triglicerídeos em moléculas misturas, entre outros. Além de complementar a
menores, de ésteres de ácidos graxos. Este formação dos alunos no que diz respeito a
biocombustível vem como uma alternativa questões econômicas, sociais e ambientais
renovável ao diesel do petróleo, com a inseridos na produção do biodiesel.
expectativa de ser menos poluente. Implantado em 2004, o PNLEM
A lei n° 11.097 (BRASIL, 2005) trata da (Programa Nacional do Livro Didático do Ensino
utilização do biodiesel, o que gera Médio) prevê a distribuição de livros didáticos
questionamentos, tais como: a população possui para os alunos do ensino médio público de todo
conhecimento mínimo suficiente para discutir e o país. Inicialmente, o programa atendeu, de
opinar sobre esta tecnologia? forma experimental, 1,3 milhões de alunos da
primeira série do ensino médio de 5.392 escolas
Sabe-se que a escola não é o único lugar
das regiões Norte e Nordeste, que receberam,
que forma cidadãos. No entanto é sabido que ela
até o início de 2005, 2,7 milhões de livros das
desempenha um importante papel nesta tarefa.
disciplinas de português e de matemática. A
Ela deve levar os indivíduos à reflexão das
Resolução nº 38 do FNDE-Fundo Nacional de
consequências futuras da tecnologia, não se
Desenvolvimento da Educação, que criou o
limitando apenas ao estudo teórico da mesma.
programa, define o atendimento de forma
Alguns educadores, influenciados por correntes
progressiva aos alunos das três séries do ensino
que discutem as inovações tecnológicas,
médio de todo o Brasil (MEC, 2005).
reformulam idéias sobre o verdadeiro papel da
escola. Segundo o MEC (2005), o acesso ao livro
didático contribui para a qualidade da educação
Entre essas correntes temos o CSTA-
básica, além de promover a inclusão social.
Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente que,
Contudo, para que essa contribuição se verifique,
segundo Auler (2003), tem por objetivo promover
é fundamental a preocupação, no processo de
a alfabetização científica dos cidadãos, refletindo
seleção, com a correção conceitual e com a
acerca das consequências da ciência e da
propagação de valores que estimulem o respeito
tecnologia. No nosso país, o que mais representa
às diferenças, à ética e à convivência solidária.
a linha teórica desse movimento é a formação de
cidadãos plenos, que através da educação e do Um dos problemas encontrados em livros
ensino, possam ter autonomia e capacidade de didáticos é o tratamento dado ao conhecimento
escolha, escolha esta baseada em químico. Ao longo dos anos, os livros didáticos

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 66
têm se caracterizado pela ausência de clara e questões voltadas para a abordagem da
experimentação, pelo não-relacionamento com o temática do Biodiesel em sala e o livro didático
cotidiano do aluno e pelo estímulo a adotado. Como é possível que mais de um livro
memorização (SCHNETZLER, 1981). didático seja utilizado para o preparo das aulas,
pediu-se que fosse indicado pelo professor o livro
Os obstáculos epistemológicos
de maior relevância no preparo de suas aulas.
encontrados nos livros didáticos e que podem
acarretar obstáculos pedagógicos representam
um outro problema: não compreendemos por
RESULTADOS E DISCUSSÃO
que o aluno compreende (LOPES, 1992).
Em 1984, foi criado o Comitê de Todos os professores consultados
Consultoria Para a Área Didático-Pedagógica – disseram adotar algum livro. Alguns preparam
extinguido em 1985 – que deixou sugestões para suas aulas a partir de vários livros didáticos. Para
a nova legislação, colocando o professor como efeitos desta pesquisa, foi solicitado ao professor
sujeito com a liberdade de escolha do livro de que citasse o principal livro utilizado no preparo
uso em suas turmas. de suas aulas.
É com essa concepção que o Ministério Na primeira questão, o professor deveria
da Educação, por meio da Secretaria de apresentar o livro didático adotado (Figura 1).
Educação Básica-SEB, e em parceria com o
Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação-FNDE, está dando continuidade ao Livros Adotados
Programa Nacional do Livro para o Ensino
Médio-PNLEM. Em continuidade à
universalização progressiva do Programa
Nacional do Livro para o Ensino Médio, em
2008, foram distribuídos 7,2 milhões de livros de
Química a todos os alunos e professores do
Ensino Médio (MEC, 2007).
Tendo em vista a grande exposição do
tema, esperava-se que professores de Química
estivessem abordando o mesmo em sala de
aula. Este trabalho visou verificar a abordagem
da temática do biodiesel em aulas de Química do
ensino médio de parte da rede estadual de Figura 1 – Livros adotados pelos professores
ensino de Campina Grande-PB, tal como saber consultados
quais os livros didáticos utilizados pelos
professores que participaram do estudo e a
presença do tema neles. É possível verificar que 63% dos
professores adotam o livro do Feltre (2005) da
editora Moderna e observa-se que este livro
METODOLOGIA apresentou uma maior aceitação, além de ser o
único dos livros citados que faz parte do PNLEM-
2007. É importante que o livro adotado faça parte
Este foi um estudo exploratório, descritivo dos propostos pelo PNLEM, já que são livros que
e com abordagem qualitativa e quantitativa. Para passaram por diversos critérios e foram
coleta de dados, aplicou-se um questionário (em escolhidos por apresentarem uma forma mais
anexo) com perguntas abertas com 23 completa e adequada dos conteúdos.
professores de Química do ensino médio das
Na segunda questão, foi perguntado
Escolas São Sebastião, Sólon de Lucena, Elpídio
sobre a abordagem do livro adotado acerca da
de Almeida, Ademar Veloso Silveira e Anésio
temática do biodiesel. A intenção era verificar o
Leão, pertencentes à rede pública de ensino de
conhecimento do professor em relação ao livro
Campina Grande-PB. Os qustionários foram
que adota no que se refere a este assunto.
aplicados nos turnos manhã, tarde e noite, entre
abril e junho de 2008. Na formulação do A Figura 2 mostra que 57% dos
questionário, priorizou-se linguagem simples, entrevistados afirmaram observar a presença do

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 67
tema no livro adotado, enquanto 18% dizem o
Tema Biodiesel nas aulas
contrário. Já 25 % dos entrevistados dizem não
saber.

Tema biodiesel nos livros adotados

Figura 3 - Abordagem do tema pelo professor

Dos 44% que disseram não ter trabalhado


o tema em sala alegaram, em sua maioria, não
Figura 2 – Tema biodiesel nos livros didáticos haver carga horária suficiente; Outros, contudo,
adotados afirmaram seguir o programa do vestibular, mas
concordam que o tema ajudaria no entendimento
de reações orgânicas, misturas, hidrocarbonetos
Os livros dos autores Usberco e Salvador e impacto ambiental. Muitos professores
(2006), que não faz parte do PNLEM, e Feltre associam a temática do biodiesel à questão do
(2005) são os únicos, entre os citados, que petróleo, por isso foi percebido que a maioria dos
fazem referência à temática do biodiesel, o que que não trabalharam o tema em suas aulas
justifica a quantidade de professores que afirmou acreditam que o mesmo poderia ser útil no
que o livro que adotam aborda o tema biodiesel. estudo da química orgânica. Porém, uma boa
Porém, tanto no Feltre (2005) quanto no Usberco parte disse que o tema poderia ser útil para
e Salvador (2006) o tema é apresentado de refletir sobre impactos ambientais, podendo ser
forma superficial, apenas para efeito informativo aplicado em qualquer série do ensino médio.
ou como simples citação e não como tema
A frase a seguir trata-se da resposta de
introdutório, gerador do conteúdo a ser
um dos professores pesquisados. Ela deixa
trabalhado.
evidente a falta de informação do educador
Nas três últimas questões os professores quanto ao trabalho com temas transversais.
falaram sobre a utilização ou não da temática do Alguns professores, pouco informados, pensam
biodiesel em suas aulas. Para os que disseram que a transversalidade é uma proposta em que
não ter trabalhado o tema, foi levantada a se trabalha os temas de forma isolada, sem
questão sobre como eles acham que o tema ligação nenhuma com os conteúdos
poderia ser útil em suas aulas. programáticos, quando na verdade ela vem
Para os que disseram já ter utilizado justamente para facilitar a apresentação e
perguntou-se o que foi feito e com que série do entendimento dos conteúdos.
ensino médio o tema foi trabalhado. — A carga horária anual é insuficiente para que
esse conteúdo seja especificamente trabalhado.
A Figura 3 mostra que 56% dos Porém, em minha didática só faço comentários
professores pesquisados afirmam já ter quando estou trabalhando com os
trabalhado a temática do biodiesel em suas hidrocarbonetos.
aulas, enquanto 44% dizem não ter abordado.
A Figura 4 mostra as atividades
realizadas a partir da temática do biodiesel pelos
56% dos professores de química que disseram já
ter trabalhado o tema em suas aulas, onde 31%
disseram ter feito citações ou comentários, 19%
realizaram trabalhos de pesquisa e 6% fizeram
seminários.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 68
Tipo de abordagem em sala Trabalho com o Tema biodiesel

Figura 4 - Atividades trabalhadas com o tema bi­ Figura 5 - Séries em que a temática do biodiesel
odiesel foi trabalhada

Percebe-se que a maioria dos Percebe-se que a maioria dos


professores fez apenas comentários ou citações professores (39%) abordou a temática do
sobre o biodiesel, simplesmente para efeito de biodiesel na 3° série. Isto se justifica pelo fato de,
demonstração. Outros realizaram pesquisas e em boa parte das escolas públicas pesquisadas,
seminários em torno do tema. o estudo de química orgânica ser realizado nesta
série. Como é na 3° série que são estudadas as
Na frase abaixo, também de um dos
funções orgânicas, entre elas os
educadores de Química consultados, vemos o
hidrocarbonetos, que inserem alguns derivados
quanto nem todos possuem a mesma concepção
do petróleo, é comum para os professores
de transversalidade, onde o tema gerador foi
pesquisados a associação com combustíveis e,
bem conduzido, tornando o conhecimento
portanto, acharem que o biodiesel deve ser
acessível, provocando reflexão, formação de
tratado junto destes conteúdos.
uma opinião própria e interligando o conteúdo ao
universo do aluno.
— Fizemos uma pesquisa sobre as sementes CONCLUSÃO
brasileiras que podem ser utilizadas na produção
do Biodiesel e refletimos sobre os fatores
positivos e negativos para o meio ambiente. Usei A temática do biodiesel pode ser muito útil
para introduzir o conceito de reações orgânicas. para introduzir conceitos químicos importantes
Trabalhei no 3° ano. como misturas, processos físicos de separação
Entre os professores pesquisados houve de misturas, funções orgânicas, reações, entre
uma predominância de aplicação das atividades outras.
para a 3° série do ensino médio. A Figura 5 A temática possibilita a compreensão de
ilustra que dos 56% dos professores consultados processos químicos do cotidiano e
que disseram já ter abordado a temática do conseqüências sociais da tecnologia, se
biodiesel, 39% o fez na 3° série do ensino médio, enquadrando no ensino por Ciência, Tecnologia,
13% na 2° série e 6% na 1° série. Sociedade, Ambiente (CTSA).
Tendo em vista que a Química é uma
ciência experimental, a temática também pode
ser útil para demonstração de processos
químicos realizados na própria sala de forma
simples e facilitando a compreensão do
conteúdo.
Além de tudo, o senso crítico, embasado
em conceitos científicos, pode ser desenvolvido
através da discussão dos impactos, benefícios,
desvantagens, etc.

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 69
Quanto à abordagem em sala de aula por 2002.
parte dos professores fizeram parte desta 5. BRASIL. Parâmetros Curriculares
pesquisa, percebeu-se que a temática do Nacionais. Brasília, MEC/SEF, 1997.
biodiesel está sendo pouco aproveitada para 6. BRASIL, Ministério da Educação. Fundo
facilitar a relação ensino-aprendizagem de Nacional de Desenvolvimento da
Química no ensino médio. Educação. Resolução n° 38 do FNDE,
Brasília, 2005.
Mesmo os professores que dizem
7. BRASIL, Ministério da Educação.
trabalhar o tema em sala, o fazem de maneira
Secretaria da Educação Média e
muito superficial, enfatizando a parte social e
Tecnológica. Parâmetros Curriculares
ambiental do tema e transmitindo os conceitos de
Nacionais: ensino médio. Brasília:
forma tradicional, com definições prontas e
MEC/SEMTEC, 1997.
acabadas.
8. BRASIL, Ministério da Educação.
Quanto ao livro didático, este deve Secretaria da Educação Média e
contribuir para a formação de cidadãos Tecnológica. Parâmetros Curriculares
autônomos, críticos e participativos. Na análise Nacionais. Brasília: MEC, 2007.
realizada, verificou-se que os livros adotados ou 9. CAMARGO, G. Química Moderna. 1 ed.,
não apresentam o tema ou não o utiliza como Vol. Único. São Paulo: Scipione, 1997.
gerador, mas simplesmente como texto 10. FELTRE, R. Química. 6 ed., Vol. 1. São
informativo. Paulo: Moderna, 2005.
Desta forma, a não-abordagem do tema 11. FELTRE, R. Química. 6 ed., Vol. 2. São
por parte dos professores pesquisados vai de Paulo: Moderna, 2005.
encontro à falta ou forma superficial de 12. FELTRE, R. Química. 6 ed., Vol. 3. São
abordagem por parte dos livros didáticos. Paulo: Moderna, 2005.
13. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17
O que se percebe é que muitos ed., Rio de janeiro: Paz e Terra, 1987.
professores seguem à risca o livro adotado. 14. LOPES, A. R. C. Livros didáticos:
Logo, se o livro não aborda o conteúdo, o Obstáculos ao aprendizado da ciência
professor também não o faz. Química. Química Nova, v. 15, n° 3, p.
254-261, 1992.
15. SANTOS, W. L.; SCHENETZLER, R. P.
REFERÊNCIAS Educação em Química-Compromisso
com a cidadania. 3. ed. Ijui, Rio Grande
1. AULER, D. Alfabetização Científico- do Sul: Unijui, 2003.
Tecnológica. ENSAIO- Pesquisa em 16. SARDELLA, A. Curso Completo de
Educação em Ciência. Belo Horizonte - Química. 3 ed., Vol. Único. São Paulo:
MG, v. 5, n. 1. 2003. Ática, 2004.
2. BRASIL, Lei n° 11.097, de 13 de Janeiro 17. SCHNETZLER, R. P. Um estudo sobre o
de 2005. tratamento do conhecimento químico em
3. BRASIL, Ministério da Educação. livros didáticos brasileiros dirigidos ao
Secretaria da Educação Básica. ensino secundário de química. Química
Orientações Curriculares para o Nova, v. 4, n° 1, p. 6-15, janeiro, 1981.
Ensino Médio: Ciências da Natureza, 18. TORRES, A. E.; et al. Biodiesel:
Matemática e suas Tecnologias, Brasília: combustível para o novo século. Bahia,
MEC, SEMTEC, 2005. 2006.
4. BRASIL, Ministério da Educação. 19. USBERCO, J.; SALVADOR, E. Química.
Secretaria da Educação Média e 7° ed., Vol. Único. São Paulo: Saraiva,
Tecnológica. PCN+ Ensino Médio: 2006
Orientações educacionais
complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionais. Ciências da
Natureza, Matemática e suas
Tecnologias. Brasília: MEC, SEMTEC,

Periódico Tchê Química. Vol. 8 - N. 15 – JAN/2011. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 70
ANEXO – Questionário aplicado com os 5) Você já trabalhou a temática do biodiesel
professores em suas aulas para o ensino médio?
6) Caso tenha trabalhado, descreva resumi­
3) Você utiliza algum livro didático como su­
damente o que foi feito e a série em que o
porte para as aulas que prepara para as
tema foi aplicado.
séries do ensino médio? Caso sim, citar
7) Caso não tenha trabalhado, como você
autor, livro e ano de publicação.
acha que a temática do biodiesel poderia
4) O livro adotado aborda o tema biodiesel?
ser útil para facilitar o ensino de Química?

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