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ACORDOS DE CONTRAPARTIDAS: UMA PRÁTICA COMERCIAL GLOBAL

Diógenes Lima Neto


Mestrando em Administração Pública
Universidade do Minho
Braga – Portugal
Dez 2010

1. INTRODUÇÃO

A prática de Acordos de Contrapartidas, do termo em inglês Offset Agreements, é vista


por muitos organismos internacionais como uma forma de contracomércio (countertrade) e,
por esta razão, há muito vem sendo contra-indicada ou mesmo combatida por diversos
governos, especialmente de países mais desenvolvidos, além de diversos organismos
multilaterais.

Apesar de ser, de fato, uma forma primitiva de comércio, posto que não impõe o uso
de moeda, e de não possuir “vida própria”, uma vez que depende da existência prévia de um
contrato comercial de fornecimento ao qual se vincula, o fato é que diversos países,
independentemente de sua localização ou nível de desenvolvimento econômico, usam
regularmente esta abordagem de negócio internacional.

As razões históricas, comerciais e estratégicas são diversas, porém, em geral, todas


decorrem da necessidade de os Estados proverem aos seus cidadãos as melhores condições de
competir no mercado global, bem como garantir-lhes a integridade e projeção internacional de
seus países. Os governos nacionais perceberam, pragmaticamente, que os Acordos de
Contrapartidas, se bem operacionalizados, podem perfeitamente ajudar a cumprir objetivos
econômicos, sociais e geopolíticos.

O uso de Acordos de Contrapartidas, em que pese ser fortemente criticado em alguns


fóruns, como veremos mais à frente, não é uma “dança solo”, posto que se trata de uma
relação contratual em que as partes vêem vantagens claras nesta forma de ajuste. Neste
sentido, se, por um lado, os governos usam seu poder de compra para impor contratos
comerciais com Contrapartidas a seus fornecedores internacionais, por outro lado, estes
últimos, atuando de forma estratégica, também obtêm vantagens como diminuição de riscos,
alívio da carga fiscal e expansão global, entre outras.

No entanto, como se pode antever, não será qualquer contratação internacional que
colocará um país em posição de impor um pedido de contrapartida a um determinado
fornecedor estrangeiro. Este último só assumirá tal compromisso, obviamente, se o contrato
comercial vinculante lhe for extremamente vantajoso em termos financeiros e se, ainda, o
objeto e/ou serviço a ser transferido ao contratante (e seu país) não implicar nenhuma perda
de competitividade e liderança. Não por acaso, uma das grandes forças-motrizes e fontes de
diversos Acordos de Contrapartidas é a área de Defesa, posto que seus contratos, via de regra,
referem-se a bens e serviços extremamente complexos, de alto valor agregado e
extremamente caros, principalmente em função da tecnologia envolvida.

Neste contexto, surge uma questão: afinal, o uso de contrapartidas é um fenômeno


localizado ou globalizado? Em outras palavras, seria o uso de contrapartidas uma prática
generalizada, apesar de renegada, ou, de fato, apenas alguns poucos países as utilizam?

Em linhas gerais, nossa hipótese de trabalho é que, em realidade, a prática de os


governos nacionais requererem Acordos de Contrapartidas de fornecedores estrangeiros é, de
fato, um fenômeno global.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO
2.1 EVOLUÇÃO DAS NAÇÕES E A COMPETITIVIDADE GLOBAL

Antes de avançar-se no mérito do que vem a ser entendido como Acordos de


Contrapartidas (Offsets Agreements) e suas formas de implementação e, subseqüentemente,
nas considerações sobre seu uso em nível global, faz-se necessário compreendermos o que
leva os países a utilizar esta forma de acordo internacional.

Os governos de todas as nações, em maior ou menor grau, buscam o bem estar de


seus cidadãos e, no nível geopolítico, tratam dos assuntos que visam manter suas integridade
física, unidade nacional e inserção internacional. Neste contexto, a Administração Pública
sempre necessitou buscar maneiras de viabilizar o cumprimento de suas obrigações,
permitindo-se arranjos produtivos os mais variados, uma vez que sua negligência, neste
sentido, implicaria em sua própria dissolução, ou, no mínimo, em severa perda de
competitividade no mercado global.

Nesse sentido, Michael Porter (1990), em artigo que deu origem ao seu livro
homônimo, The Competitive Advantage of Nations, apresenta uma série de atributos que,
“individualmente e como um sistema, constituem o diamante da vantagem nacional”, a saber:

1. Condições dos fatores (de produção), como, por exemplo, trabalhadores especializados
e infraestrutura;
2. Condições de demanda, que diz respeito às demandas do mercado interno;
3. Indústrias relacionadas e que dêem suporte ao produto/serviço em foco; e
4. Rivalidade, estrutura e estratégia das empresas, ou seja, como as empresas são
criadas, organizadas e geridas.

Neste mesmo artigo, mais adiante, o referido autor destaca alguns princípios básicos
que os governos deveriam adotar a fim de tornar suas nações mais competitivas, sendo o
primeiro, sintomaticamente, o “Foco na criação de fatores especializados”. Ensina ele:

“Focus on specialized factor creation. Government has critical responsibilities for


fundamentals like the primary and secondary education systems, basic national
infrastructure and research in areas of broad national concerns such as health care. Yet
these kinds of generalized efforts at factor creation rarely produce competitive advantage.
Rather, the factors that translate into competitive advantage are advanced, specialized
and tied to specific industries or industry groups. Mechanisms such as specialized
apprenticeship programs, research efforts in universities connected with an industry, trade
association activities, and, most important, the private investments of companies
ultimately create the factors that will yield competitive advantage.” (idem: 87-88)

Conforme se observa, Porter (1990) destaca a relevância do ensino básico e da


existência de uma infraestrutura a fim de tornar um país competitivo, porém entende que o
verdadeiro diferencial se obtém ao se focar numa formação altamente especializada e
fortemente conectada a indústrias ou grupos industriais.

Em realidade, seu artigo explicita a necessidade de sinergia entre o trinômio


inteligência-produção-investimento, fisicamente viabilizados por uma abordagem de
clusterização. Este, por sua vez, pode ocorrer de maneira absolutamente natural, ou seja, a
partir das necessidades das partes envolvidas, cujo exemplo mais eloqüente é a região do Vale
do Silício, nos EUA, ou decorrer de ações pró-ativas dos governos centrais, criando verdadeiros
eixos de desenvolvimento, como no caso de São José dos Campos, no Estado de São Paulo,
Brasil, em que a sinergia entre a EMBRAER e o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
possibilitou que aquela empresa se tornasse uma das gigantes mundiais no ramo da aviação.

Tais estratégias, longe de buscarem conhecimentos em quantidade, visam a obtenção


de qualidade e evolução, ou, em outras palavras, inovação. Como bem argumenta Viotti
(citado em Guimarães e Ivo 2004), “a inovação tecnológica é chave para o crescimento, a
competitividade e o desenvolvimento das empresas, indústrias, regiões e países.” Ou,
conforme exposto de forma mais dramática por Staub (2001), “deter o conhecimento
tecnológico conduz à dominação econômica e política.”

Como se observa, na busca do desenvolvimento e da melhoria da competitividade de


um país, é inegável a vantagem de se ter uma abordagem que sintetize inovação, sinergia e
clusterização, porém uma pergunta permanece: como fazer isto de forma ágil e com baixo
custo? Os Acordos de Contrapartidas parecem ter sido uma as respostas.

2.2 ORIGENS DO USO DE ACORDOS DE CONTRAPARTIDAS

Os Acordos de Contrapartidas, também chamados Offset Agreements, ou Acordos de


Compensação, ou simplesmente Contrapartidas, apesar de não serem uma novidade como
conceito, tornaram-se uma inovação enquanto abordagem governamental vinculada a
aquisições de grande vulto de produtos ou serviços de alto valor agregado, especialmente pela
diversidade de formas que tais acordos podem assumir, implicando em grande flexibilidade
para atender às necessidades do contratante.

Segundo Ivo (2004), a prática de Contrapartidas vem desde meados do século XX,
quando os EUA trocaram produtos agrícolas por bens e serviços, amparados pelo Commodity
Credit Corporation Act, de 1949. A lógica por trás dessa abordagem foi a necessidade de
reconstrução dos Estados europeus no pós-guerra, quando havia uma total falta de recursos
financeiros para a obtenção de toda sorte de bens e serviços.
Já na década de 60, essa forma de ajuste internacional expandiu-se como prática, haja
vista o fato de que diversos países passaram a usar esta estratégia para “criar uma base
industrial de Defesa, adquirir tecnologias e técnicas modernas de gerenciamento e resolver
problemas de balança de pagamentos” (Guimarães e Ivo 2004). Num processo evolucionário
típico, durante as décadas de 70 e 80 essa abordagem não só migrou para outros setores, em
especial da esfera civil, como aviação, indústria nuclear, grãos e maquinário pesado, como
“passou a alcançar valores extremamente altos, na casa das centenas de milhões de dólares”
(idem).

No que diz respeito à esfera civil, em particular, o uso de Offsets parece estar mais
vinculado a questões de mudanças no ambiente competitivo industrial a partir da década de
1970, onde governos centrais promoveram explicitamente este tipo de abordagem, acrescido
de outros fatores como compartilhamento de risco e necessidade de suporte financeiro. Além
disso, como atestou-se em uma oficina norte-americana sobre o tema: “houve um aumento de
incentivos por parte dos grandes contratantes para suportar a entrada de novos fornecedores,
a fim de reforçar a base de fornecedores [própria] e criar concorrência adicional” (NRC 1997:
5).

Dos anos 90 para os dias atuais, tal prática tem sido largamente empregada como
forma de aproveitamento do imenso poder de compra dos governos nacionais, os quais
passaram a utilizá-la com diversos propósitos. De qualquer forma, diversos autores,
pesquisadores e praticantes têm listado diversos benefícios e malefícios no uso desta forma de
negócio, conforme será explicitado mais adiante.

3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 DEFINIÇÕES CORRENTES PARA O TERMO OFFSET

No que diz respeito à terminologia, o termo Offset tem sido usado tanto para
referenciar as formas de contrapartidas (ou compensações), quanto para os Acordos de
Contrapartidas, propriamente ditos. Para tornar este entendimento mais claro, são
apresentadas, a seguir, algumas das definições mais usuais para o termo Offset
(contrapartidas) aplicáveis ao contexto deste trabalho, posto que a própria palavra possui
diversos outros significados na língua inglesa. Neste sentido, apresentamos, a seguir, alguns
entendimentos colhidos junto a importantes atores no contexto do tema em apreço.

3.1.1 CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA NORTE-AMERICANO – EUA

Em junho de 1997, o National Research Council – NRC, dos EUA, promoveu uma oficina
com o tema “Policy Issues in Aerospace Offsets”, na qual participaram representantes de
diversas entidades do mundo acadêmico, empresarial, político e governamental norte-
americanos, dentre as quais cumpre destacar: a Academia Nacional de Ciências, a Agência
Espacial Norte-Americana (NASA), o Departamento de Defesa e o Departamento de Comércio,
entre outros. O relatório final produzido pelos organizadores do evento apresentou a seguinte
definição para Offset, a saber:
“When a government intervenes in the terms of a commercial transaction to require
an additional transfer of goods, services, or other commitments by a vendor which are not
required to support the original sale, this is often referred to as an offset.” (NRC 1997: 41)

3.1.2 DEPARTAMENTO DE COMÉRCIO DOS EUA – BUREAU OF INDUSTRY AND


SECURITY (BIS)

Para o U.S. Bureau of Industry and Security - BIS, do Departamento de Comércio dos
Estados Unidos, Offset diz respeito às

“Industrial compensation practices required as a condition of purchase in either


government-to-government or commercial sales of defense articles and/or defense
services as defined by the Arms Export Control Act and the International Traffic in Arms
Regulations.” (BIS 2010)

Relativamente a Offset Agreement (Acordo de Contrapartida), o BIS utiliza a seguinte


definição:

“A counter contract to a military export sale negotiated separately between the


foreign purchaser, usually a foreign government, and the U.S. exporter as a condition of
the export sale. The offset agreement requires the U.S. exporter to compensate the foreign
purchaser with various types of offsets. The statutory reporting threshold for an offset
agreement is $5 million.” (idem)

Conforme se observa, segundo o Departamento de Comércio dos EUA, os termos


Offset e Offset Agreement parecem ser aplicáveis apenas à esfera das aquisições militares.
Adicionalmente, fica clara a questão de que os Acordos de Contrapartidas são um contra-
contrato, ou seja, um instrumento contratual que só existe vinculado a um contrato de compra
estrangeira.

3.1.3 COMISSÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE LEIS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL –


UNCITRAL

A Comissão das Nações Unidas sobre Leis de Comércio Internacional (United Nations
Commission on International Trade Law – UNCITRAL), é um órgão das Nações Unidas criado em
1966 para “reduzir e/ou remover obstáculos ao fluxo de comércio internacional”, decorrente
das “disparidades nas leis nacionais” que tratam do tema (UNCITRAL 2010).

Aquela Comissão elaborou e passou a adotar, desde 12 de maio de 1992, um Guia para
seus trabalhos sob o título “Legal Guide on International Countertrade Transactions”
(UNCITRAL 1992). Este Guia apresenta uma série de definições ligadas a contracomércio
(countertrade), da qual Offset é uma de suas variantes, além de outras como barter, counter-
purchase e buy-back. Neste contexto, este guia declara que Offsets,

“[…] involve the supply of goods of high value or technological sophistication and may
include the transfer of technology and know-how, promotion of investments and
facilitating access to a particular market.” (idem: 8-9)
Conforme se observa, a UNCITRAL relaciona os Acordos de Contrapartidas ao
fornecimento de bens (e serviços) de alto valor financeiro ou tecnológico, podendo envolver
questões de transferência de tecnologia, de know-how ou, ainda, investimentos e facilitação
de acesso a outros mercados.

3.2 NATUREZA DAS TRANSAÇÕES ENVOLVIDAS EM ACORDOS DE CONTRAPARTIDAS

Conforme apresentado até o momento, os Acordos de Contrapartidas são


instrumentos formais, com força de contrato, originados de contratos de fornecimento
extremamente dispendiosos aos quais se vinculam de maneira completa.

No entanto, faz-se necessário discorrer sobre a natureza das transações a serem


cumpridas no âmbito de um Acordo de Contrapartida, uma vez que este é seu aspecto mais
atraente para os países contratantes, já que possibilita, de maneira objetiva, sensíveis
melhorias em seu parque industrial. Neste sentido, as naturezas mais aceitas atualmente
apresentam a seguinte estrutura (Khan 2010): 1) Co-produção; 2) Produção sob licença; 3)
Produção subcontratada; 4) Investimento externo; 5) Transferência de Tecnologia; e 6)
Contracomércio (ou countertrade), podendo esta assumir as formas de troca de bens (barter),
contra-compra (counter-purchase) ou compra de produção (buy-back).

Aqui, como se pode observar, há uma inversão do conceito de contracomércio em


relação àquele utilizado pelo Guia da UNCITRAL, uma vez que este último considera as
contrapartidas (Offsets) um das variedades de contracomércio, ao passo que o mercado e o
Governo dos EUA (idem), parecem entender que contracomércio é que é uma variedade de
Offset.

3.3 MOTIVAÇÕES PARA A SOLICITAÇÃO DE CONTRAPARTIDAS PELOS GOVERNOS

Do exposto até o momento, nota-se que o uso de contrapartidas é uma prática comercial
(ou contra-comercial, dependendo dos interesses envolvidos) que apresenta grande
flexibilidade de implementação, dadas as diversas naturezas de contrapartidas possíveis e
aceitas pelo mercado.

No entanto, nas aquisições internacionais efetuadas pelos governos, estes têm


interesses econômicos, sociais e políticos muito específicos, os quais são fortes motivadores
desta abordagem, entre os quais se destacam o equilíbrio da balança de pagamentos (Ivo
2004: 18), a necessidade de apoio público a projetos extremamente caros, complexos e de
longa duração (FAB 2009), a capacitação de Recursos Humanos, a inserção e fortalecimento de
setores específicos da indústria nacional, a redução de riscos (Lecraw 2002), o estabelecimento
de uma boa rede de contatos (ou networking) (Salzmann 2004) e, não menos importante, o
potencial de alternativas em tempos de crise (Howse 2010).

Pelo lado do setor privado, ou seja, dos fornecedores internacionais, estes também
apresentam seus interesses e percepções. Liesch e Palia (1999), por exemplo, conduziram uma
pesquisa junto a fornecedores australianos, praticantes e não-praticantes de contra-comércio,
onde foram levantados os principais fatores de motivação para o uso da abordagem em
questão, destacando-se: as necessidades de desenvolvimento de novos mercados e de
aumentar o potencial de vendas e de lucros, a busca no atendimento das necessidades do
cliente e, talvez a mais relevante, o fortalecimento da posição competitiva, apenas para citar
os fatores mais bem posicionados.

3.4 POSICIONAMENTOS ACERCA DO USO DE ACORDOS DE CONTRAPARTIDAS


3.4.1 UNIÃO EUROPÉIA - UE

A União Européia, por meio de sua Agência Européia de Defesa (European Defense
Agency – EDA), aprovou, em outubro de 2008, um “Código de Conduta sobre Contrapartidas”
(EDA 2008). Declara aquele código, textualmente, que

“The pMS [Participating Member States] share the ultimate aim to create the market
conditions, and develop a European DTIB [Defence Technological and Industrial Base] in
which offsets may no longer be needed.” (idem: 1)

Há que se notar, pela declaração supra, que o objetivo final deste Código é que
Contrapartidas não sejam mais necessárias. Em realidade, este entendimento é reforçado um
pouco mais à frente neste mesmo documento, quando se afirma que “num mercado
perfeitamente funcional, as contrapartidas não existiriam”. No entanto, reconhece-se que o
mercado não é perfeito e que, no caso especial de bens e serviços de defesa, tal é “fortemente
influenciado por considerações políticas” que afetam as decisões (idem: 2).

Assim, o Código alinha diretivas para transparência quanto aos Acordos de


Contrapartidas firmados, bem como orientações gerais para desenvolvimento e uso de
contrapartidas em prol da União Européia e sua capacidade de defesa como um todo.

Ao todo, 26 (vinte e seis) nações européias subscreveram o citado código, a saber:


Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, República Tcheca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha,
Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Holanda, Polônia,
Portugal, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Suécia, Reino Unido e Noruega.

3.4.2 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA - EUA

Em 1999, o Congresso dos EUA emitiu o “Defense Offsets Disclosure Act”, no qual
apresentava suas conclusões sobre o tema, posicionando-se de forma contrária ao mesmo.

No referido documento legal, os senadores norte-americanos explicitaram seu


entendimento de que as contrapartidas poderiam gerar “distorções econômicas no comércio
internacional de defesa ao minar a isonomia e competitividade”, além de causar “danos a
empresas de pequeno e médio porte”(EUA 1999).

Em realidade, de maneira inusitada, o Congresso dos EUA reconheceu, neste mesmo


documento, dois aspectos deveras interessantes: a) que seus próprios aliados estavam a
requisitar-lhes esta forma de ajuste; e b) que ações unilaterais de sua parte eram inócuas
numa era de globalização e, caso tomadas, obstruiriam a competitividade de sua indústria de
defesa (idem).

O BIS, como organismo pertencente à estrutura do Poder Executivo do governo dos


EUA, dentro do Departamento de Comércio, naturalmente endossa as determinações do
Congresso norte-americano, de sorte que replicou exatamente as mesmas orientações em seu
sítio oficial (BIS 1999).

A despeito desta posição aparentemente rígida e contrária, o pragmatismo norte-


americano se faz presente e Acordos de Contrapartidas perfeitamente legais são possíveis. O
Departamento de Defesa dos EUA, por meio de seu Escritório de Política de Procuras e
Aquisições de Defesa – DPAP, informa, taxativamente, que nenhum órgão ou agência
governamental daquele país se envolverá de forma alguma em negociações de contrapartidas.
No entanto, atesta aquele mesmo órgão que “a decisão de aceitar contrapartidas, e a
responsabilidade por negociar e implementar acordos de contrapartidas reside nas [próprias]
companhias envolvidas” (DPAP 2010).

Conforme se observa, pode-se resumir a posição norte-americana da seguinte forma:


o Governo jamais se envolverá ou promoverá Acordos de Contrapartida, porém o setor
privado pode assinar tais acordos sem maiores problemas.

4. DESENVOLVIMENTO DA HIPÓTESE DE TRABALHO

Até este ponto, procurou-se evidenciar o facto de que, se por um lado, alguns países
têm utilizado seu poder de compra nacional para impor Acordos de Contrapartidas a seus
fornecedores internacionais, por outro lado, importantes organismos internacionais
oficialmente renegam tal prática.

Diante deste cenário, surge nossa pergunta de partida: As solicitações de


compensações comerciais por meio de Acordos de Contrapartidas, feitas pelos países a seus
fornecedores estrangeiros, são um fenômeno global?

A hipótese de trabalho considerada (H1) é de que, de facto, as solicitações de


compensações por meio de Acordos de Contrapartidas feitas pelos países a seus
fornecedores estrangeiros, quando consideradas por Continentes e por Regiões de
Desenvolvimento Econômico (RDE), demonstram que esta prática é um fenômeno global.

5. RESEARCH DESIGN

5.1 TIPIFICAÇÃO DA PESQUISA

O research design para se proceder à validação (ou refutação) da hipótese de trabalho H1 é


do tipo não-experimental, baseado em dados estatísticos a partir de séries temporais relativas
ao período entre os anos de 1993 a 2004, tendo em vista a disponibilidade de dados.
Em termos geográficos, serão considerados todos os países membros da Organização
das Nações Unidas - ONU, agrupados conforme detalhado mais adiante.

5.2 OPERACIONALIZAÇÃO DA HIPÓTESE E INDICADORES

A fim de se operacionalizar a hipótese de trabalho (H1), os dados colhidos serão


agrupados e testados considerando-se duas abordagens: Continentes e Regiões de
Desenvolvimento Econômico (RDE).

A fim de se pacificar o entendimento do que seria um Continente, será utilizada a


divisão política internacional aceita pela Organização das Nações Unidas (ONU), a qual,
atualmente, possui 192 (cento e noventa e dois) Estados-membros, distribuídos em 05 (cinco)
continentes, a saber (UN 2010): África, Ásia, Europa, América e Oceania.

Da mesma forma, para se estabelecer quais seriam as citadas Regiões de


Desenvolvimento Econômico - RDE, serão utilizadas aquelas já em uso pela United Nations
Statistics Division – UNSD, assim definidas (UNSD 2010):

• Regiões em Desenvolvimento, contendo África, Américas (excluída a América


do Norte), Caribe, América Central, América do Sul, Ásia (excluído o Japão) e
Oceania (excluídas Austrália e Nova Zelândia); e

• Regiões Desenvolvidas, envolvendo América do Norte (EUA, Canadá,


Groenlândia, Bermuda e Saint Pierre e Miquelon), Europa e Japão.

Desta feita, os dados a serem obtidos os quais propiciarão o desenvolvimento de


nossas análises são dois, a saber:

• Número de países que solicitam Acordos de Contrapartidas, por continente


(NCONT); e
• Número de países que solicitam Acordos de Contrapartidas, por RDE (NRDE).

A fim de se analisar a hipótese de trabalho (H1), serão considerados os seguintes


indicadores:

• Percentual de países que usam Acordos de Contrapartidas, por continente, a ser


calculado pela fórmula:

PCONT = NCONT / (Nº de países no continente) .

Neste sentido, será um PCONT para cada continente, num total de 5 (cinco), ou
seja, PCONT (África) , PCONT (Europa) , PCONT (Ásia) , PCONT (América) e PCONT (Oceania).

• Percentual de países que usam Acordos de Contrapartidas, por RDE, a ser


calculado pela fórmula:

PRDE = NRDE / (Nº de países na RDE) .


De forma semelhante ao indicador anterior, teremos um PRDE para cada RDE, num total
de 2 (dois), ou seja, PRDE (Desenvolvidos) e PRDE (Em Desenvolvimento).

5.3 SOBRE OS DADOS A SE UTILIZAR

Os indicadores citados serão alimentados a partir do número de Acordos de


Contrapartidas firmados por cada país, sendo esta informação obtida junto às seguintes
fontes, disponibilizadas em sítios oficiais de governos, de publicações especializadas e de
organizações científicas, a saber:

• European Defence Agency - Offset Portal – União Européia;

• Defense Institute of Security Assistance Management Journal – EUA;

• Bureau of Industry and Security (BIS) – Offset Defense Trade Report (9th and 10th
Reports) – EUA; e

• Federation Of American Scientists – FAS – EUA.

5.4 MÉTODO DE ANÁLISE DOS DADOS

Os indicadores a serem utilizados foram escolhidos para se poder afirmar, de maneira


categórica, que, de facto, a abordagem do uso de Acordos de Contrapartidas é um
fenômeno globalizado.

O indicador PCONT indicará se este fenômeno é mais forte em determinados


continentes. Desta forma, evitar-se-á que afirmemos que o fenômeno é global quando, em
verdade, ele é mais comum num continente com grande número de países e,
eventualmente, até inexistente em outros continentes. Assim sendo, se PCONT for maior do
que 0,5 (ou seja, 50%) em cada um dos Continentes, teremos um indicativo de que o
fenômeno é globalizado ao nível dos Continentes.

O indicador PRDE , por sua vez, indicará se este fenômeno é mais forte em regiões com
países mais ricos ou mais pobres, conforme o caso. Desta forma, evitar-se-á que se afirme
que o fenômeno é global por conta de um PCONT alto (continente a continente), quando,
em verdade, ele é mais manifesto apenas numa RDE com grande número de países. De
forma similar aos anteriores, se PRDE for maior do que 0,5 (ou seja, 50%), ter-se-á mais um
indicativo de que o fenômeno é globalizado também ao nível das RDE.

No entanto, para se concluir pela veracidade da afirmação de que o fenômeno em


estudo é globalizado, estabeleceu-se que todos os indicadores deverão ser superiores a
0,5 (50%), simultaneamente.

Desta forma, ao nível dos Continentes estabeleceu-se a variável lógica XCONT , definida
como:

XCONT = [PCONT (África) > 0,5] ᴧ [PCONT (Europa) > 0,5] ᴧ [PCONT (Ásia) > 0,5] ᴧ [PCONT (América) > 0,5] ᴧ
[PCONT (Oceania) > 0,5]

De maneira similar, ao nível das RDE estabeleceu-se a variável lógica XRDE , definida
como:

XRDE = [PRDE (Desenvolvidos) > 0,5] ᴧ [PRDE (Em Desenvolvimento) > 0,5]

Disto resulta que a hipótese H1 será verdadeira se, e somente se, XCONT e XRDE forem
simultaneamente verdadeiras, ou seja, (XCONT ᴧ XRDE ). Caso contrário, a hipótese H1 estará
logicamente refutada.
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