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1. INTRODUÇÃO
Apesar de ser, de fato, uma forma primitiva de comércio, posto que não impõe o uso
de moeda, e de não possuir “vida própria”, uma vez que depende da existência prévia de um
contrato comercial de fornecimento ao qual se vincula, o fato é que diversos países,
independentemente de sua localização ou nível de desenvolvimento econômico, usam
regularmente esta abordagem de negócio internacional.
No entanto, como se pode antever, não será qualquer contratação internacional que
colocará um país em posição de impor um pedido de contrapartida a um determinado
fornecedor estrangeiro. Este último só assumirá tal compromisso, obviamente, se o contrato
comercial vinculante lhe for extremamente vantajoso em termos financeiros e se, ainda, o
objeto e/ou serviço a ser transferido ao contratante (e seu país) não implicar nenhuma perda
de competitividade e liderança. Não por acaso, uma das grandes forças-motrizes e fontes de
diversos Acordos de Contrapartidas é a área de Defesa, posto que seus contratos, via de regra,
referem-se a bens e serviços extremamente complexos, de alto valor agregado e
extremamente caros, principalmente em função da tecnologia envolvida.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO
2.1 EVOLUÇÃO DAS NAÇÕES E A COMPETITIVIDADE GLOBAL
Nesse sentido, Michael Porter (1990), em artigo que deu origem ao seu livro
homônimo, The Competitive Advantage of Nations, apresenta uma série de atributos que,
“individualmente e como um sistema, constituem o diamante da vantagem nacional”, a saber:
1. Condições dos fatores (de produção), como, por exemplo, trabalhadores especializados
e infraestrutura;
2. Condições de demanda, que diz respeito às demandas do mercado interno;
3. Indústrias relacionadas e que dêem suporte ao produto/serviço em foco; e
4. Rivalidade, estrutura e estratégia das empresas, ou seja, como as empresas são
criadas, organizadas e geridas.
Neste mesmo artigo, mais adiante, o referido autor destaca alguns princípios básicos
que os governos deveriam adotar a fim de tornar suas nações mais competitivas, sendo o
primeiro, sintomaticamente, o “Foco na criação de fatores especializados”. Ensina ele:
Segundo Ivo (2004), a prática de Contrapartidas vem desde meados do século XX,
quando os EUA trocaram produtos agrícolas por bens e serviços, amparados pelo Commodity
Credit Corporation Act, de 1949. A lógica por trás dessa abordagem foi a necessidade de
reconstrução dos Estados europeus no pós-guerra, quando havia uma total falta de recursos
financeiros para a obtenção de toda sorte de bens e serviços.
Já na década de 60, essa forma de ajuste internacional expandiu-se como prática, haja
vista o fato de que diversos países passaram a usar esta estratégia para “criar uma base
industrial de Defesa, adquirir tecnologias e técnicas modernas de gerenciamento e resolver
problemas de balança de pagamentos” (Guimarães e Ivo 2004). Num processo evolucionário
típico, durante as décadas de 70 e 80 essa abordagem não só migrou para outros setores, em
especial da esfera civil, como aviação, indústria nuclear, grãos e maquinário pesado, como
“passou a alcançar valores extremamente altos, na casa das centenas de milhões de dólares”
(idem).
No que diz respeito à esfera civil, em particular, o uso de Offsets parece estar mais
vinculado a questões de mudanças no ambiente competitivo industrial a partir da década de
1970, onde governos centrais promoveram explicitamente este tipo de abordagem, acrescido
de outros fatores como compartilhamento de risco e necessidade de suporte financeiro. Além
disso, como atestou-se em uma oficina norte-americana sobre o tema: “houve um aumento de
incentivos por parte dos grandes contratantes para suportar a entrada de novos fornecedores,
a fim de reforçar a base de fornecedores [própria] e criar concorrência adicional” (NRC 1997:
5).
Dos anos 90 para os dias atuais, tal prática tem sido largamente empregada como
forma de aproveitamento do imenso poder de compra dos governos nacionais, os quais
passaram a utilizá-la com diversos propósitos. De qualquer forma, diversos autores,
pesquisadores e praticantes têm listado diversos benefícios e malefícios no uso desta forma de
negócio, conforme será explicitado mais adiante.
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 DEFINIÇÕES CORRENTES PARA O TERMO OFFSET
No que diz respeito à terminologia, o termo Offset tem sido usado tanto para
referenciar as formas de contrapartidas (ou compensações), quanto para os Acordos de
Contrapartidas, propriamente ditos. Para tornar este entendimento mais claro, são
apresentadas, a seguir, algumas das definições mais usuais para o termo Offset
(contrapartidas) aplicáveis ao contexto deste trabalho, posto que a própria palavra possui
diversos outros significados na língua inglesa. Neste sentido, apresentamos, a seguir, alguns
entendimentos colhidos junto a importantes atores no contexto do tema em apreço.
Em junho de 1997, o National Research Council – NRC, dos EUA, promoveu uma oficina
com o tema “Policy Issues in Aerospace Offsets”, na qual participaram representantes de
diversas entidades do mundo acadêmico, empresarial, político e governamental norte-
americanos, dentre as quais cumpre destacar: a Academia Nacional de Ciências, a Agência
Espacial Norte-Americana (NASA), o Departamento de Defesa e o Departamento de Comércio,
entre outros. O relatório final produzido pelos organizadores do evento apresentou a seguinte
definição para Offset, a saber:
“When a government intervenes in the terms of a commercial transaction to require
an additional transfer of goods, services, or other commitments by a vendor which are not
required to support the original sale, this is often referred to as an offset.” (NRC 1997: 41)
Para o U.S. Bureau of Industry and Security - BIS, do Departamento de Comércio dos
Estados Unidos, Offset diz respeito às
A Comissão das Nações Unidas sobre Leis de Comércio Internacional (United Nations
Commission on International Trade Law – UNCITRAL), é um órgão das Nações Unidas criado em
1966 para “reduzir e/ou remover obstáculos ao fluxo de comércio internacional”, decorrente
das “disparidades nas leis nacionais” que tratam do tema (UNCITRAL 2010).
Aquela Comissão elaborou e passou a adotar, desde 12 de maio de 1992, um Guia para
seus trabalhos sob o título “Legal Guide on International Countertrade Transactions”
(UNCITRAL 1992). Este Guia apresenta uma série de definições ligadas a contracomércio
(countertrade), da qual Offset é uma de suas variantes, além de outras como barter, counter-
purchase e buy-back. Neste contexto, este guia declara que Offsets,
“[…] involve the supply of goods of high value or technological sophistication and may
include the transfer of technology and know-how, promotion of investments and
facilitating access to a particular market.” (idem: 8-9)
Conforme se observa, a UNCITRAL relaciona os Acordos de Contrapartidas ao
fornecimento de bens (e serviços) de alto valor financeiro ou tecnológico, podendo envolver
questões de transferência de tecnologia, de know-how ou, ainda, investimentos e facilitação
de acesso a outros mercados.
Do exposto até o momento, nota-se que o uso de contrapartidas é uma prática comercial
(ou contra-comercial, dependendo dos interesses envolvidos) que apresenta grande
flexibilidade de implementação, dadas as diversas naturezas de contrapartidas possíveis e
aceitas pelo mercado.
Pelo lado do setor privado, ou seja, dos fornecedores internacionais, estes também
apresentam seus interesses e percepções. Liesch e Palia (1999), por exemplo, conduziram uma
pesquisa junto a fornecedores australianos, praticantes e não-praticantes de contra-comércio,
onde foram levantados os principais fatores de motivação para o uso da abordagem em
questão, destacando-se: as necessidades de desenvolvimento de novos mercados e de
aumentar o potencial de vendas e de lucros, a busca no atendimento das necessidades do
cliente e, talvez a mais relevante, o fortalecimento da posição competitiva, apenas para citar
os fatores mais bem posicionados.
A União Européia, por meio de sua Agência Européia de Defesa (European Defense
Agency – EDA), aprovou, em outubro de 2008, um “Código de Conduta sobre Contrapartidas”
(EDA 2008). Declara aquele código, textualmente, que
“The pMS [Participating Member States] share the ultimate aim to create the market
conditions, and develop a European DTIB [Defence Technological and Industrial Base] in
which offsets may no longer be needed.” (idem: 1)
Há que se notar, pela declaração supra, que o objetivo final deste Código é que
Contrapartidas não sejam mais necessárias. Em realidade, este entendimento é reforçado um
pouco mais à frente neste mesmo documento, quando se afirma que “num mercado
perfeitamente funcional, as contrapartidas não existiriam”. No entanto, reconhece-se que o
mercado não é perfeito e que, no caso especial de bens e serviços de defesa, tal é “fortemente
influenciado por considerações políticas” que afetam as decisões (idem: 2).
Em 1999, o Congresso dos EUA emitiu o “Defense Offsets Disclosure Act”, no qual
apresentava suas conclusões sobre o tema, posicionando-se de forma contrária ao mesmo.
Até este ponto, procurou-se evidenciar o facto de que, se por um lado, alguns países
têm utilizado seu poder de compra nacional para impor Acordos de Contrapartidas a seus
fornecedores internacionais, por outro lado, importantes organismos internacionais
oficialmente renegam tal prática.
5. RESEARCH DESIGN
Neste sentido, será um PCONT para cada continente, num total de 5 (cinco), ou
seja, PCONT (África) , PCONT (Europa) , PCONT (Ásia) , PCONT (América) e PCONT (Oceania).
• Bureau of Industry and Security (BIS) – Offset Defense Trade Report (9th and 10th
Reports) – EUA; e
O indicador PRDE , por sua vez, indicará se este fenômeno é mais forte em regiões com
países mais ricos ou mais pobres, conforme o caso. Desta forma, evitar-se-á que se afirme
que o fenômeno é global por conta de um PCONT alto (continente a continente), quando,
em verdade, ele é mais manifesto apenas numa RDE com grande número de países. De
forma similar aos anteriores, se PRDE for maior do que 0,5 (ou seja, 50%), ter-se-á mais um
indicativo de que o fenômeno é globalizado também ao nível das RDE.
Desta forma, ao nível dos Continentes estabeleceu-se a variável lógica XCONT , definida
como:
XCONT = [PCONT (África) > 0,5] ᴧ [PCONT (Europa) > 0,5] ᴧ [PCONT (Ásia) > 0,5] ᴧ [PCONT (América) > 0,5] ᴧ
[PCONT (Oceania) > 0,5]
De maneira similar, ao nível das RDE estabeleceu-se a variável lógica XRDE , definida
como:
XRDE = [PRDE (Desenvolvidos) > 0,5] ᴧ [PRDE (Em Desenvolvimento) > 0,5]
Disto resulta que a hipótese H1 será verdadeira se, e somente se, XCONT e XRDE forem
simultaneamente verdadeiras, ou seja, (XCONT ᴧ XRDE ). Caso contrário, a hipótese H1 estará
logicamente refutada.
6. BIBLIOGRAFIA
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another look at barter and countertrade”. Em University of Toronto Law Journal: 289-314.
Khan, Asif M. 2010. “Market Trends and Analysis of Defense Offsets”. Em The Defense
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Salzmann, Brinley M. 2004. “The help available on offset and countertrade in the UK”. Em
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Acordos de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica, Zuhair Warwar, ed. Brasília:
Editora Suspensa.
Documentos oficiais:
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Novembro 09, de
http://www.bis.doc.gov/defenseindustrialbaseprograms/osies/offsets/offsetsdefinitions.h
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Comunicado feito pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Fev. 02, 2009).
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http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?mostra=2292.
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