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Ao sentir suas pernas latejando, a mulher tenta se lembrar de quando foi que

passou a se cansar tã o facilmente, mas nã o consegue. Sua memó ria desobediente


lhe oferece a imagem de uma cidade meio desfocada, vista por uma menina
correndo. Ela... se lembra de como adorava correr quando menina, cada fase de
aceleraçã o seguida por uma de êxtase inocente. Subia devagar a ladeira que
ficava atrá s da escola, só para depois poder descer correndo, a saia do uniforme
voando, um sorriso escondido da inspetora. Ao chegar na praia sempre corria
para o mar e se lançava sem medo num voô curto. Splash! Ondas furadas pela
agulha que era seu corpo. A menina, que a mulher um dia foi, parecia nã o ter
medo de se cansar. A mulher, que a menina hoje é, talvez tenha esquecido que o
latejar das pernas acompanha o do coraçã o num ritmo que anuncia: estou viva.

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