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Zeila Chittolina Piotto

Eco-eficiência na Indústria de Celulose e Papel - Estudo de Caso

Tese apresentada à Escola


Politécnica da Universidade de São
Paulo para obtenção do Título de
Doutor em Engenharia, junto ao
Departamento de Engenharia
Hidráulica e Sanitária.

(Volumes 1 e 2)

São Paulo
2003
Zeila Chittolina Piotto

Eco-eficiência na Indústria de Celulose e Papel - Estudo de Caso

Tese apresentada à Escola


Politécnica da Universidade de São
Paulo para obtenção do Título de
Doutor em Engenharia.

Área de Concentração:
Engenharia Hidráulica e Sanitária.

Orientadora:
Dra. Dione Mari Morita

São Paulo
2003
Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, sob
responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador.

São Paulo, 30 de abril 2003.

Assinatura do autor ____________________________

Assinatura do orientador _______________________

FICHA CATALOGRÁFICA

Piotto, Zeila Chittolina


Eco-eficiência na indústria de celulose e papel – estudo de
caso / Zeila Chittolina Piotto. – São Paulo, 2003.
379 p.

Tese (Doutorado) – Escola Politécnica da Universidade de


São Paulo. Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária.

1.Eco-eficiência 2.Indústrias de celulose e papel 3.Estudo de


caso I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica.
Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária II.t.
FICHA CATALOGRÁFICA
A minha família pelo carinho, estímulo e compreensão pelos momentos
de ausência.
AGRADECIMENTOS

A professora Dione pelo incansável apoio, incentivo e competente orientação


durante a execução deste trabalho.

A Votorantim Celulose e Papel -VCP pelo patrocínio, em especial à Francisco


Valério, José Arno Schappo, Marcelo Castelli, José Eduardo Patelli e Carlos R. Paiva
Monteiro.

Ao colega Luiz Alberto Banci pela competente revisão do texto.

A todos os colegas da VCP que contribuiram com informações, dados e suporte


técnico, em especial a José Carlos Kling, Paulo Gaia, David Meissner, Marcelo
Rodrigues e Alessandro Bolsoni.

Aos colegas Ernesto Lima, Celso Foekel e Ricardo Mastroti pela valiosa
contribuição com dados e informações do setor de celulose e papel.
RESUMO

O presente trabalho apresenta, discute e avalia as principais ferramentas


viabilizadoras da eco-eficiência no segmento industrial, com destaque para o setor de
celulose e papel. São apresentados os conceitos de eco-eficiência, de produção mais
limpa, de contabilização ambiental, de avaliação de desempenho ambiental, de
indicadores de desempenho, de análise de ciclo de vida e de melhores tecnologias
disponíveis para a produção de celulose e papel. No estudo de caso, é apresentada e
discutida a implementação de tais ferramentas na Votorantim Celulose e Papel -
Unidade Jacareí, realizada no período de 1992 a 2002. Da análise dos resultados
obtidos, pode-se concluir que o uso destas ferramentas foi decisivo para a melhoria
ambiental da indústria e para a sua competitividade no mercado mundial de celulose.
ABSTRACT

The following paper presents, discusses and evaluates the main eco-efficiency
enabling tools, on the industry segment, emphasizing the paper and cellulose field. It
presents the concepts for eco-efficiency, cleaner production, environmental
accounting, environmental performance evaluation, performance indicators, life
cycle assessment and the best available technology for the production of paper and
cellulose. In the case study, the implementation of these tools at Votorantim Celulose
e Papel – Jacareí Facility, made between 1992 and 2002, is presented and discussed.
From the analysis of the results obtained, we may conclude that that the use of these
tools was decisive for the industry’s environmental improvement, and for its
competition at the worldwide cellulose market.
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1
2 OBJETIVOS....................................................................................................... 3
3 A QUESTÃO AMBIENTAL............................................................................. 4
3.1 HISTÓRICO RECENTE ............................................................................................ 4
3.2 MEIO AMBIENTE – VISÃO GERAL SOBRE A GOVERNANÇA INTERNACIONAL....... 10
3.3 A INDÚSTRIA; GOVERNO, MERCADO, SOCIEDADE E O MEIO AMBIENTE.............. 11
3.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ECO-EFICIÊNCIA ...................................... 18
3.4.1 Evolução histórica .......................................................................................... 18
3.4.2 Elementos–chave para viabilizar a eco-eficiência.......................................... 20
3.4.3 Dimensões da eco-eficiência.......................................................................... 21
3.4.4 Ferramentas da eco-eficiência ........................................................................ 24
3.4.4.1 Produção mais limpa/prevenção à poluição ............................................... 25
3.4.4.1.1 Visão histórica .......................................................................................... 27
3.4.4.1.2 Produção mais limpa e as melhores técnicas disponíveis (BAT - Best
Avaliable Technologies)........................................................................... 30
3.4.4.1.3 Implementação da produção mais limpa .................................................. 31
3.4.4.1.4 Barreiras para implementação da produção mais limpa na perspectiva da
indústria .................................................................................................... 38
3.4.4.1.5 Experiências e programas de implementação de produção mais limpa ... 39
3.4.4.2 Análise do ciclo de vida - ACV.................................................................. 42
3.4.4.2.1 Metodologia da ACV................................................................................ 44
3.4.4.2.2 Principais aplicações da Análise de Ciclo de Vida (ACV) ...................... 58
3.4.4.2.3 Limitações e perspectivas para a ACV..................................................... 68
3.4.4.3 Avaliação de desempenho ambiental ......................................................... 69
3.4.4.3.1 Indicadores de eco-eficiência ................................................................... 70
3.4.4.3.2 Indicadores ambientais segundo as normas IS0 14031 e EMAS ............. 78
3.4.4.3.3 Considerações relativas à implementação de um sistema de avaliação de
desempenho ambiental ............................................................................. 82
3.4.4.3.4 Tendências ................................................................................................ 84
3.4.4.4 Relatórios de desempenho ambiental ......................................................... 84
3.4.4.4.1 Definições e principais tipos de relatórios de desempenho ambiental e de
sustentabilidade. ....................................................................................... 87
3.4.4.4.2 Elaboração do relatório............................................................................. 89
3.4.4.4.3 Principais iniciativas................................................................................. 90
3.4.4.4.4 Tendências ................................................................................................ 95
3.4.4.5 Sistemas de gestão ambiental ..................................................................... 97
3.4.4.5.1 Normas da série ISO 14000................................................................... 102
3.4.4.5.2 Sistema Europeu de Certificação – EMAS (European Eco-Management
and Audit Scheme) ................................................................................. 109
3.4.4.5.3 Especificação para um sistema de gestão ambiental - norma BS 7750. 110
3.4.4.5.4 Programa "Atuação Responsável®" (Responsible Care) ....................... 111
3.4.4.5.5 Integração dos sistemas de gestão (meio ambiente, segurança e qualidade)
................................................................................................................ 114
3.4.4.6 Contabilidade ambiental........................................................................... 115
3.4.4.6.1 Contabilidade ambiental como ferramenta de gestão nas empresas....... 117
3.4.4.6.2 Custos ambientais ................................................................................... 118
3.4.4.6.3 Análise financeira dos investimentos ..................................................... 123
3.4.4.6.4 Contabilidade ambiental financeira - relatórios de prestação de contas. 126
3.4.4.6.5 Publicação das informações financeiras ................................................. 134
4 PRODUÇÃO DE CELULOSE E PAPEL ................................................... 139
4.1 CELULOSE........................................................................................................ 139
4.2 FLORESTAS ...................................................................................................... 141
4.2.1 FSC - Forest Stewardship Council ............................................................... 142
4.2.2 Pan European Forest Certification – PEFC.................................................. 143
4.2.3 Programa nacional de certificação florestal -CERFLOR ............................. 143
4.3 PROCESSOS PARA PREPARAÇÃO DA CELULOSE ................................................. 144
4.3.1 Processo Mecânico – MP ............................................................................. 144
4.3.2 Processo Termomecânico – TMP ................................................................ 145
4.3.3 Processo Semiquímico ................................................................................. 145
4.3.4 Processo Químico – Kraft ............................................................................ 146
4.3.5 Processo Químico – Sulfito.......................................................................... 146
4.3.6 Processo Químico – Sulfato ......................................................................... 147
4.4 BRANQUEAMENTO DA POLPA CELULÓSICA ...................................................... 147
4.5 FABRICAÇÃO DE PAPEL .................................................................................... 148
4.5.1 Matérias-primas não fibrosas ....................................................................... 148
4.5.2 Descritivo da produção de papel .................................................................. 151
4.5.2.1 Preparação de massa................................................................................. 151
4.5.2.2 Máquina de papel ..................................................................................... 152
4.6 A INDÚSTRIA DE CELULOSE E PAPEL NO BRASIL E NO MUNDO. ........................ 155
4.6.1 Dados gerais sobre produção de papel e de polpa........................................ 155
4.6.2 Produção de celulose branqueada ................................................................ 158
5 PREVENÇÃO À POLUIÇÃO EM INDÚSTRIAS DE CELULOSE E
PAPEL - USO DAS MELHORES TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS
(BATS)............................................................................................................. 161
5.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO KRAFT .................................................................... 161
5.1.1 Estocagem e preparação da madeira ........................................................... 163
5.1.2 Cozimento e deslignificação ........................................................................ 163
5.1.3 Lavagem e depuração................................................................................... 165
5.1.4 Deslignificação com oxigênio...................................................................... 166
5.1.5 Branqueamento............................................................................................. 167
5.1.6 Depuração da polpa branqueada e secagem (extração)................................ 170
5.1.7 Sistema de recuperação química .................................................................. 170
5.2 PRINCIPAIS CONSUMOS E EMISSÕES DO PROCESSO KRAFT ............................... 173
5.2.1. Consumo de madeira...................................................................................... 174
5.2.2 Consumo de água e geração de águas residuárias........................................ 175
5.2.3 Emissões atmosféricas.................................................................................. 183
5.2.4 Geração de resíduos sólidos ......................................................................... 190
5.2.5 Consumo de produtos químicos ................................................................... 191
5.2.6 Consumo de energia ..................................................................................... 192
5.2.7 Geração de ruído .......................................................................................... 194
5.3 BAT PARA O PROCESSO KRAFT ........................................................................ 194
5.3.1 Descascamento a seco .................................................................................. 199
5.3.2 Cozimento modificado estendido para obter celulose com baixo número
kappa (em batelada ou contínuo) ................................................................. 200
5.3.3 Fechamento do circuito de filtrados na lavagem e depuração marrom........ 203
5.3.4 Deslignificação com oxigênio...................................................................... 203
5.3.5 Branqueamento com ozônio......................................................................... 205
5.3.6 Branqueamento ECF .................................................................................... 206
5.3.7 Branqueamento TCF .................................................................................... 208
5.3.8 Fechamento parcial da unidade de branqueamento...................................... 209
5.3.9 Coleta de derrames ....................................................................................... 212
5.3.10 Controle de processo e lavagem eficiente .................................................... 213
5.3.11 Arraste com vapor (“stripping”) e reúso dos condensados .......................... 214
5.3.12 Utilização de tanques com capacidade suficiente para armazenar fluidos de
processo quentes ou concentrados................................................................ 215
5.3.13 Tratamento aeróbio das águas residuárias.................................................... 216
5.3.14 Tratamento terciário ..................................................................................... 219
5.3.15 Aumento do teor de sólidos no licor negro .................................................. 220
5.3.16 Instalação de lavador de gases na caldeira de recuperação.......................... 221
5.3.17 Coleta de gases não condensáveis diluídos para incineração na caldeira de
recuperação................................................................................................... 222
5.3.18 Coleta de GNC concentrados e diluídos para incineração no forno de cal .. 223
5.3.19 Incineração de gases de enxofre reduzido em queimador específico equipado
com lavador para SO2 ................................................................................. 224
5.3.20 Instalação de tecnologia de baixa emissão de NOx em caldeiras auxiliares e
forno de cal................................................................................................... 224
5.3.21 Tecnologia SNCR (Selective Non Catalytic Reduction) em caldeiras de
biomassa ....................................................................................................... 225
5.3.22 Tecnologia OFA (Over Fire Air Technique) em caldeiras de recuperação . 227
5.3.23 Instalação de lavadores de lama mais eficientes na caustificação ............... 227
5.3.24 Precipitadores eletrostáticos para reduzir emissões de particulados na caldeira
de biomassa e no forno de cal ...................................................................... 228
5.4 BAT PARA CALDEIRAS AUXILIARES ................................................................ 229
5.5 TECNOLOGIAS EMERGENTES ............................................................................ 231
5.5.1 Gaseificação do licor negro.......................................................................... 231
5.5.2 Uso de SNCR na caldeira de recuperação.................................................... 232
5.5.3 Remoção dos agentes de quelação presentes em águas residuárias de
indústrias kraft por tratamento biológico e sistemas avançados - “kidneys”234
5.5.4 Aumento do fechamento do circuito combinado com a recuperação de
quelantes....................................................................................................... 235
5.5.5 Polpas produzidas com solventes orgânicos como álcool e formaldeído –
“Organosolv Pulping” .................................................................................. 235
5.6 BAT PARA PROCESSOS DE FABRICAÇÃO DE PAPEL........................................... 237
6 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 243
6.1 A INDÚSTRIA ESTUDADA: VOTORANTIM CELULOSE E PAPEL-VCP ................. 243
6.2 EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO E DA PREVENÇÃO E

CONTROLE DA POLUIÇÃO NA UNIDADE JACAREÍ ............................................ 244

6.2.1 Projeto P-600................................................................................................ 245


6.2.1.1 Descrição do processo produtivo antes da implementação do Projeto P600
.................................................................................................................. 246
6.2.1.2 Descrição do projeto P-600 ...................................................................... 250
6.2.1.3 Investimentos............................................................................................ 250
6.2.2 Projeto ECF .................................................................................................. 251
6.2.2.1 Descrição do projeto ECF ........................................................................ 252
6.2.2.2 Investimentos do Projeto ECF................................................................. 263
6.2.3 Projeto P 1.200 ............................................................................................. 265
6.2.3.1 Descrição do Projeto P 1.200 ................................................................... 265
6.2.3.1.1 Linha de fibras A .................................................................................... 266
6.2.3.1.2 Linha de fibras B .................................................................................... 266
6.2.3.1.3 Evaporação ............................................................................................. 267
6.2.3.1.4 Caldeira de biomassa .............................................................................. 267
6.2.3.1.5 Nova estação de tratamento de águas residuárias (ESTAR) .................. 268
6.2.3.1.6 Fechamento de circuitos ......................................................................... 272
6.2.3.2 Investimentos do P 1.200 ......................................................................... 289
6.3 EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL NA UNIDADE JACAREÍ ............................. 290
6.4 CONTABILIADE AMBIENTAL ............................................................................. 292
7 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................ 293
7.1 RESULTADOS DO PROJETO P 600 ..................................................................... 293
7.1.1 Emissões hídricas ......................................................................................... 293
7.1.2 Emissões atmosféricas.................................................................................. 297
7.2 RESULTADOS DO PROJETO ECF....................................................................... 299
7.2.1 Rendimento do cozimento............................................................................ 300
7.2.2 Carreamento de matéria orgânica nos filtrados e eficiência do branqueamento
...................................................................................................................... 302
7.2.3 Consumo de água ......................................................................................... 308
7.2.4 Geração de águas residuárias. ...................................................................... 309
7.2.5 Emissões atmosféricas.................................................................................. 315
7.2.6 Geração de resíduos sólidos ......................................................................... 316
7.2.7 Consumo e cogeração de energia ................................................................ 317
7.3 RESULTADOS DO PROJETO P 1.200 .................................................................. 318
7.3.1 Emissões hídricas e captação de água .......................................................... 318
7.3.2 Emissões atmosféricas.................................................................................. 322
7.3.3 Matriz energética.......................................................................................... 323
7.4 ESTIMATIVA DE REDUÇÃO DO CUSTO DE PRODUÇÃO DEVIDO ÀS MUDANÇAS

TECNOLÓGICAS ................................................................................................ 324

7.5 RESULTADOS DOS PROJETOS RELACIONADOS À GESTÃO .................................. 325


7.5.1 Gestão ambiental na Unidade....................................................................... 325
7.5.2 Elaboração de relatórios de desempenho ambiental do Grupo VCP............ 325
8 PROJETOS FUTUROS ................................................................................ 327
9 CONCLUSÕES .............................................................................................. 329
10 ANEXOS ......................................................................................................... 332
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 348
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Novo modelo de regulação e controle ambiental ...................................... 13


Figura 2 - Matriz de sustentabilidade para empresas do setor florestal e celulose e
papel. ....................................................................................................... 14
Figura 3 - Indicadores ambientais de empresas de celulose e papel segundo
levantamento do Banco Sarasin. ............................................................. 15
Figura 4 - Perfil ambiental de empresas produtoras de celulose e papel, segundo
critérios do WBCSD. .............................................................................. 16
Figura 5 - Perfil social de empresas produtoras de celulose e papel, segundo critérios
do WBCSD.............................................................................................. 17
Figura 6 - Síntese da sustentabilidade segundo o WBCSD. ...................................... 23
Figura 7 - Métodos e ferramentas para melhoria de desempenho ambiental............. 25
Figura 8 - Visão geral de produção mais limpa ou prevenção à poluição. ................ 26
Figura 9 - O balanço entre o efeito econômico e ambiental. ..................................... 29
Figura 10 - Evolução da abordagem tecnológica....................................................... 29
Figura 11 - Etapas para implementação de um programa de produção mais limpa. . 32
Figura 12 - Avaliação do processo –principais alternativas....................................... 34
Figura 13 - Ciclo de vida de um produto. .................................................................. 43
Figura 14 - Protocolo da ACV. .................................................................................. 45
Figura 15 - Duas formas de limites do sistema, considerando-se fronteiras estreitas
(a) e amplas (b)........................................................................................ 47
Figura 16 - Principais categorias dos dados do inventário......................................... 48
Figura 17 - Procedimento para cálculo dos ecoindicadores....................................... 55
Figura 18 - Exemplo de apresentação dos resultados de um estudo comparativo
hipotético, após estabelecimento de pesos para os impactos avaliados. . 56
Figura 19 - Representação gráfica de uma análise de ciclo de vida utilizando-se a
metodologia “Ecoindicador 99”. ............................................................. 57
Figura 20 - Fases do desenvolvimento de um produto. ............................................. 62
Figura 21 - Estratégias relacionadas ao desempenho ambiental e ao potencial de
mercado. .................................................................................................. 67
Figura 22 - Aspectos relevantes para as diferentes categorias de indicadores de eco-
eficiência. ................................................................................................ 71
Figura 23 - Indicadores ambientais segundo a OECD. .............................................. 73
Figura 24 - Escolha dos indicadores-chave segundo metodologia OECD. ............... 74
Figura 25 - Avaliação de desempenho ambiental e seus indicadores segundo a norma
ISO 14031. .............................................................................................. 79
Figura 26 - Indicadores de desempenho ambiental operacional – indústria. ............. 80
Figura 27 - Indicadores de desempenho ambiental operacional – serviços. .............. 80
Figura 28 - Indicadores de desempenho de gestão ambiental.................................... 81
Figura 29 - Implementação da avaliação de desempenho ambiental segundo GEMI.
................................................................................................................. 83
Figura 30 - O papel das instituições financeiras na gestão dos recursos com relação à
eco-eficiência. ......................................................................................... 86
Figura 31 - Principais etapas para elaboração de um relatório .................................. 89
Figura 32 - Resumo geral de avaliação do desempenho ambiental, social e
econômico segundo GRI ......................................................................... 92
Figura 33 - Abordagem das empresas para a questão ambiental. ............................ 101
Figura 34 - Número de certificados ISO 14001 emitidos no mundo até 2001. ...... 104
Figura 35 - Distribuição dos certificados ISO 14001 emitidos até 2001. ................ 104
Figura 36 - Classificação dos custos e sua mensuração........................................... 121
Figura 37 - Custos privados e sociais....................................................................... 122
Figura 38 - Etapas para avaliação financeira de investimentos. ............................. 125
Figura 39 - Componentes da madeira. ..................................................................... 139
Figura 40 - Produção de polpa no mundo. ............................................................... 156
Figura 41 - Produção de polpa no Brasil em 2001................................................... 157
Figura 42 - Produção de papel no Brasil em 2001. .................................................. 157
Figura 43 - Evolução da produção de polpa branqueada no mundo. ....................... 159
Figura 44 - Evolução da produção de polpa branqueada no mundo. ....................... 160
Figura 45 - Visão geral do processo kraft de produção de celulose........................ 162
Figura 46 - Representação esquemática de um digestor contínuo utilizado para o
cozimento da madeira. .......................................................................... 164
Figura 47 - Representação esquemática do ciclo de recuperação de álcalis ............ 171
Figura 48 - Representação esquemática do ciclo de licor e circuito de sólidos....... 172
Figura 49 - Representação esquemática do processo kraft – matérias-primas,
insumos e resíduos gerados ................................................................... 174
Figura 50 - Águas residuárias típicas geradas no processo kraft. ............................ 176
Figura 51 - Principais reações que ocorrem na caldeira de recuperação. ............... 184
Figura 52 – Processos de tratamento de águas residuárias normalmente empregados
em indústrias de celulose e papel. ......................................................... 217
Figura 53 – Evolução da produção anual de celulose e papel e período de
implantação dos projetos na Unidade Jacareí da VCP.......................... 245
Figura 54 – Representação esquemática da linha de fibras...................................... 247
Figura 55 – Representação esquemática do sistema de recuperação de produtos
químicos. ............................................................................................... 248
Figura 56 – Representação do sistema de caustificação. ......................................... 248
Figura 57 – Representação esquemática da fabricação de papel. ............................ 249
Figura 58 – Novo sistema de evaporação (P-600). .................................................. 250
Figura 59 – Linhas de produção de celulose e Projeto ECF. .................................. 252
Figura 60 – Fluxograma do branqueamento - Linhas A (existente) e B (nova). .... 252
Figura 61 – Representação esquemática do digestor Lo-solids®. ........................... 255
Figura 62 – Representação esquemática da linha de fibras ECF e TCF (linha B).. 258
Figura 63 – Representação esquemática do sistema de lavagem de massa – Linha B.
............................................................................................................... 258
Figura 64 – Máquina extratora de celulose – JE2. ................................................... 260
Figura 65 – Representação esquemática do sistema de caustificação do licor. ....... 261
Figura 66 – Análise da competitividade da Unidade Jacareí no mercado mundial. 265
Figura 67 – Representação esquemática da linha de fibras A.................................. 266
Figura 68 – Representação esquemática da modificação do branqueamento B..... 267
Figura 69 – Representação esquemática da nova estação de tratamento de águas
residuárias. ............................................................................................ 271
Figura 70 – Principais consumos e geração de águas residuárias da máquina de papel
(J1)......................................................................................................... 276
Figura 71 – Proposta para otimização do consumo de água e da geração de águas
resísuárias na máquina de papel (J1)..................................................... 277
Figura 72 – Balanço do consumo de água – valores reais e projetados (em litros por
minuto). ................................................................................................. 287
Figura 73 – Balanço da geração de águas residuárias – valores reais e projetados (em
litros por minuto)................................................................................... 288
Figura 74 – Evolução da vazão específica de águas residuárias ao longo do tempo.
............................................................................................................... 295
Figura 75 – Evolução da DQO específica nos afluentes e efluentes da ESTAR. .... 295
Figura 76 – Evolução da carga específica de DBO5,20 nos afluentes e efluentes a
ESTAR. ................................................................................................. 296
Figura 77 – Evolução da cor específica do efluente industrial. ............................... 296
Figura 78 – Evolução da emissão específica de MP. .............................................. 298
Figura 79 – Evolução da emissão de TRS. .............................................................. 298
Figura 80 – Evolução da emissão específica de SO2. .............................................. 298
Figura 81 – Evolução tecnológica da produção de celulose versus o número kappa.
............................................................................................................... 301
Figura 82 – Principais tecnologias e sua correlação com os aspectos ambientais. . 303
Figura 83 – Produção diária de celulose. ................................................................. 304
Figura 84 – Representação esquemática do branqueamento após modificações..... 305
Figura 85 – Número kappa na linha B do processo ECF com e sem modificações. 306
Figura 86 – Consumo de produtos químicos na linha B, projetado, obtido no processo
ECF sem e com as modificações........................................................... 306
Figura 87 – Representação esquemática do branqueamento a partir de setembro de
2000....................................................................................................... 307
Figura 88 - Evolução da vazão específica de água captada ao longo do tempo. ... 308
Figura 89 - Evolução da vazão de águas residuárias................................................ 309
Figura 90 - Evolução temporal da carga específica de DBO5,20 no afluente e no
efluente da ESTAR. .............................................................................. 311
Figura 91 - Evolução temporal da DQO no afluente e efluente da ESTAR. ........... 311
Figura 92 - Comparação da evolução da vazão e da DBO antes e depois do projeto
ECF com os valores de projeto. ............................................................ 312
Figura 93 - Evolução da cor específica da água residuária ao longo do tempo. ...... 313
Figura 94 - Evolução emissão específica de AOX durante o projeto ECF............. 314
Figura 95 - Evolução da cogeração de energia em relação ao consumo de energia
elétrica total. .......................................................................................... 317
Figura 96 - Evolução do consumo total de energia.................................................. 317
Figura 97 - Evolução temporal da vazão de água captada no rio Paraíba do Sul. .. 318
Figura 98 - Evolução da vazão do efluente industrial ao longo do tempo.............. 319
Figura 99 - Evolução da carga específica de DBO no efluente industrial na entrada e
saída da ESTAR. ................................................................................... 319
Figura 100- Evolução da DQO específica no afluente e efluente da ESTAR. ........ 320
Figura 101 - Evolução da DQO solúvel no afluente e efluente da ESTAR............. 321
Figura 102 - Evolução remoção da DBO na ESTAR. ............................................. 321
Figura 103 - Evolução da emissão de material particulado. ................................... 322
Figura 104 - Evolução da emissão de dióxido de enxofre (incluindo caldeira
auxiliar). ................................................................................................ 323
Figura 105 - Evolução da emissão de TRS. ............................................................. 323
Figura 106 - Matriz energética ao longo do tempo. ................................................. 324
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Cronologia dos eventos relevantes relacionados às questões ambientais... 4


Tabela 2 - Setores nos quais foram implementados programas de Produção Mais
Limpa. ..................................................................................................... 40
Tabela 3 - Categorias de impacto ambiental segundo diferentes organismos. .......... 52
Tabela 4 - Nível de detalhamento. ............................................................................. 59
Tabela 5 - Fases do desenvolvimento de um produto. ............................................... 65
Tabela 6 - Indicadores para diferentes categorias e aspectos..................................... 75
Tabela 7 - Normas da série ISO e sua abrangência.................................................. 102
Tabela 8 - Comparação entre contabilidade ambiental gerencial e financeira........ 117
Tabela 9 - Uso das ferramentas de gestão ambiental pelas empresas. ..................... 118
Tabela 10 - Custos ambientais. ................................................................................ 120
Tabela 11 - Quadro comparativo dos métodos de análise de investimentos............ 124
Tabela 12 - Tipos de fibras....................................................................................... 141
Tabela 13 - Produção de papel no mundo................................................................ 155
Tabela 14 - Produção de celulose no mundo. .......................................................... 156
Tabela 15 - Número kappa para diferentes tipos de cozimento e madeira. ............ 167
Tabela 16 - Características típicas das águas residuárias geradas no descascamentoda
madeira. ................................................................................................. 177
Tabela 17 - Quadro comparativo entre os tipos de cozimento e o número kappa e a
DQO. ..................................................................................................... 180
Tabela 18 - Valores de AOX em função do tipo de cozimento, deslignificação,
branqueamento e carga de dióxido de cloro aplicada. .......................... 181
Tabela 19 - DQO nas águas residuárias em diferentes etapas do processo. ............ 182
Tabela 20 - Emissões hídricas de metais na produção de polpa branqueada e não
branqueada. ........................................................................................... 182
Tabela 21 - Emissões atmosféricas típicas da caldeira de recuperação e forno de cal.
............................................................................................................... 186
Tabela 22 - Geração de resíduos sólidos em industrias de papel e celulose-processo
kraft. ...................................................................................................... 191
Tabela 23 - Consumo de produtos químicos para a produção de polpa kraft. ......... 192
Tabela 24 - Características das águas residuárias. ................................................... 196
Tabela 25 - Emissões atmosféricas típicas do processo kraft. ................................. 198
Tabela 26 - Consumos de energia térmica e elétrica em fábricas kraft eficientes. .. 199
Tabela 27 - Características das águas residuárias oriundas de indústrias que utilizam
descascamento úmido e a seco. ............................................................. 200
Tabela 28 - Numero kappa e estimativa de DQO filtrada utilizando-se diferentes
tecnologias de deslignificação............................................................... 205
Tabela 29 - Características típicas dos efluentes de sistemas de lodos ativados
tratando águas residuárias de indústrias de papel e celulose (processo
kraft)...................................................................................................... 219
Tabela 30 - Níveis de emissões BAT para caldeiras auxiliares. .............................. 230
Tabela 31 - Tecnologias alternativas para a produção de polpa. ............................. 236
Tabela 32 - Emissões hídricas provenientes da fabricação de papel utilizando as
BATs ..................................................................................................... 238
Tabela 33 - Emissões hídricas de fábricas européias de celulose e papel que utilizam
as BATs. ................................................................................................ 240
Tabela 34 - Emissões atmosféricas de fábricas de celulose e papel européiais que
utilizam as BATs................................................................................... 241
Tabela 35 - Geração de resíduos sólidos em fábricas européias.............................. 242
Tabela 36 - Resumo das alternativas propostas para redução do consumo de água e
da geração de águas residuárias. ........................................................... 283
Tabela 37 - Evolução da produção de celulose e papel e dos indicadores das emissões
hídricas. ................................................................................................. 293
Tabela 38 - Emissões atmosféricas e produção........................................................ 297
Tabela 39 - Comparação entre as emissões hídricas geradas antes e depois dos
projetos com valores de referência BAT ou Nordic Swan................... 314
Tabela 40 - Comparação das emissões atmosféricas antes de após a implantação do
Projeto ECF em comparação com valores de referência BAT e Nordic
Swan. ..................................................................................................... 316
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas


ABTCP - Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel
ACV - Análise de Ciclo de Vida
ADT -Air dry ton
AOX - Compostos orgânicos halogenados adsorvíveis
BAT - Best Available Technology (Melhores tecnologias disponíveis)
Bracelpa - Associação Brasileira de Celulose Papel
CERES - Coalition for Environmentally Responsible Economies
CERFLOR - Programa Nacional de Certificação Florestal
CETESB - Companhia de Tecnologia de SaneamentoAmbiental
CFC - Cloro fluor carbono
CNTL - Centro Nacional de Tecnologias mais Limpas
COD -Chemical Oxygen Demand (demanda química de oxigênio)
CP - Cleaner Production (produção mais limpa)
DBO5,20 - Demanda Bioquímica de Oxigênio
DEFRA - Department For Environment, Food and Rural Affairs-UK
DfE - Design for Environment (Design ambiental)
DQO - Demanda Química de Oxigênio
Eac - Environmental Accounting (Contabilidade ambiental)
ECF - Elementary Chlorine Free (Celulose isenta de cloro elementar)
EEA - Agência Ambiental Européia
EMAS - Eco-management Audit Scheme
EMS - Environmental Management System (Sistema de gestão ambiental)
EPE - Environmental Performance Evaluation (Avaliação de desempenho
ambiental)
FSC - Forest Stewardship Council
GEMI - Global Environmental Management Initiative
GNC - Gases não condensáveis concentrados
GRI - Global Reporting Initiative
INEM - International Environmental Management
IPPC - Integrated Pollution Prevention and Control
ISO - International Standardization Organization
LCA - Life Cycle Assessment (Análise de ciclo de vida)
NBR - Normas Brasileiras
OECD - Organization for Economics Co-operation and Development
OX - Compostos orgânicos halogenados totais
P2 - Pollution Prevention (Prevenção à poluição)
PCB - Bifenilas policloradas
PERI - Public Environmental Reporting Initiative
SGA - Sistema de gestão ambiental
TCF - Totally Chlorine Free (Celulose isenta de cloro)
TRS -Total Reduced Sulphur (enxofre total reduzido)
UNEP - United Nations Environmental Program
USEPA - United States Environmental Protection Agency (Agência de proteção
ambiental americana)
VCP - Votorantim Celulose e Papel
WSCSD - World Business Council for Sustainable Development
1

1 INTRODUÇÃO

Uma das citações da Carta da Terra apresenta as novas relações na sociedade


moderna de forma contundente:
(....) “A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode
significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para
harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem
comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família,
organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências,
as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as
organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma
liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial
para uma governabilidade efetiva” (Earth Council, 2000).

É nesse contexto que emergem conceitos extremamente importantes como o da


sustentabilidade e o da eco-eficiência - termo criado pelo World Business Council
For Sustainable Development (WBCSD) em 1992 e definido como a produção e
entrega de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades
humanas, promovendo qualidade de vida, ao mesmo tempo que progressivamente,
são reduzidos os impactos ambientais e a intensidade do consumo de recursos
naturais em todo o ciclo de vida, em consonância com a capacidade estimada da terra
em prover estes recursos e absorver os impactos (UNEP-DTIE, 2001).

A eco-eficiência pode servir de base para as empresas desenvolverem e


implementarem estratégias voltadas à sustentabilidade. Essas estratégias terão o foco
em inovações tecnológicas e sociais, na transparência, na contabilização ambiental e
na cooperação com os demais segmentos da sociedade.
Eco-eficiência é um conceito de negócios, que pode ser aplicado amplamente nas
empresas, desde o desenvolvimento de produtos e serviços até a sua distribuição. A
eco-eficiência envolve três objetivos principais: (a) redução do consumo de recursos
naturais, incluindo-se a redução do uso de energia, insumos, água e solo por meio do
aumento da reciclabilidade e durabilidade dos produtos e da otimização dos
2

processos produtivos (reúso); (b) redução dos impactos ao meio ambiente por
intermédio da minimização das emissões; redução do uso de produtos perigosos e
uso sustentável de recursos renováveis; (c) valorização de produtos ou serviços
perante aos consumidores por meio do aumento da sua funcionalidade e
flexibilidade, de modo a atender às suas expectativas, permitindo, assim, que o
mesmo serviço ou produto possa ser entregue utilizando-se menos recursos naturais.

As empresas, por sua vez, podem acrescentar um quarto objetivo: embutir a gestão
da sustentabilidade na gestão do negócio, integrando-a com as demais de forma a
fomentar a eco-eficiência. O sistema de gestão ambiental – SGA deve, portanto,
permitir a identificação dos riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade,
assim como garantir que os mesmos sejam corretamente avaliados e gerenciados.
Implementar a eco-eficiência na gestão dos negócios é basicamente buscar as
oportunidades de ser mais ecoeficiente em quatro áreas: no projeto e design de
produtos; no processo produtivo; na cooperação com as demais empresas e na forma
de atender a demanda dos consumidores.

A eco-eficiência também pode ser empregada pelos governantes como estratégia


para o desenvolvimento sustentável, fomentando e dando condições para a inovação,
estabelecimento de parcerias e difusão de conhecimento para diversos segmentos da
sociedade, visando o progresso, o crescimento da economia e à melhoria da
qualidade de vida (WBCSD, 2000a).
Na esfera governamental, destacam-se como elementos viabilizadores da
sustentabilidade: (a) eliminação de subsídios danosos ao meio ambiente; (b)
substituição de taxas sobre o lucro por taxas relacionadas ao uso de recursos naturais
e a poluição; (c) implementação de instrumentos econômicos que incentivem a
proteção ao meio ambiente e (d) promoção de iniciativas ambientais voluntárias -
acordos com múltiplos segmentos.

Este trabalho abordará resumidamente a evolução histórica das questões ambientais


na sociedade contemporânea, destacando-se a implementação da eco-eficiência sob a
ótica empresarial e suas ferramentas.
3

2 OBJETIVOS

Os objetivos deste trabalho são:

• Discutir o conceito de desenvolvimento sustentável e de eco-eficiência;


• Aplicar as seguintes ferramentas da eco-eficiência na indústria Votorantim
Celulose e Papel – Unidade Jacareí: produção mais limpa, contabilidade
ambiental, indicadores de eco-eficiência e de desempenho ambiental, relatórios
de desempenho ambiental e sistema de gestão ambiental;
• Avaliar e quantificar os ganhos ambientais e financeiros decorrentes desta
aplicação.
4

3 A QUESTÃO AMBIENTAL

3.1 HISTÓRICO RECENTE

Desde os primórdios do desenvolvimento da civilização humana na Terra, a busca


por alimentos, abrigo e bem-estar, causa impactos ao meio ambiente.
No entanto, somente com o crescimento da população é que esses efeitos tornaram-se
significativos e com uma abrangência local ou regional. O final do século XX foi
marcado pela globalização dos impactos ambientais e pela percepção do seu efeito: a
degradação ambiental.
Esta percepção desencadeou uma série de medidas reguladoras, inicialmente, em
escala regional, como, por exemplo, legislação ambiental voltada para meios
específicos (ar, água e solo), licenciamento de indústrias e mecanismos de controle,
entre outros.

No final da década de 60 do século XX, no entanto, ficou clara a necessidade de uma


visão integrativa entre diversos segmentos da sociedade e de ações em escala global
voltadas para a preservação ambiental.

Na Tabela 1 estão indicados os principais eventos que de certa forma, instigaram


uma nova ordem mundial, com reflexos já perceptíveis em vários setores da
economia, da sociedade e dos governos.

Tabela 1 - Cronologia dos eventos relevantes relacionados às questões ambientais.


Evento Ano
Convenção sobre Pesca no Atlântico Norte e NE - Conservação e uso
1959
racional dos estoques de peixes.
Protocolo 91 – Tratado Antártico: Utilização da Antártica para fins
1959
pacíficos
Convênio sobre Proteção dos Trabalhadores contra Radiações Ionizantes:
1960
Proteção da saúde e segurança dos trabalhadores.
5

Evento Ano
Convenção sobre Responsabilidade de Terceiros no Uso da Energia
Nuclear – Compensação sobre danos causados e garantia do uso pacífico 1960
da energia nuclear.
Convenção sobre Proteção de Novas Qualidades de Plantas:
Reconhecimento e proteção dos cultivadores de novas variedades de 1961
plantas.
Publicação do livro: “Silent Spring”– Rachel Carson – Pesquisa em
toxicologia, ecologia e epidemiologia mostrando que a presença de
1962
pesticidas estava crescendo e causando problemas em animais e seres
humanos.
Convenção de Viena sobre Responsabilidade Civil por Danos Nucleares
– Provisão de recursos contra danos resultantes do uso pacífico da 1963
energia nuclear.
Tratado proibindo ensaios nucleares na atmosfera, espaço ultraterrestre
1963
(Lua,etc.) – Desincentivar a produção e testes de armas nucleares.

Acordo sobre Poluição do Rio Reno - Cooperação entre países para


1963
prevenir a poluição e manter a qualidade da água.

Convenção sobre Conselho Internacional para Exploração do Mar -


1964
Nova constituição para conselho criado em 1902.
Convenção Fitossanitária Africana - Controle e eliminação de pragas das
1967
plantas.
Conferência intergovernamental para o uso racional e conservação da
biosfera (UNESCO) – primeiras discussões sobre o conceito de 1968
desenvolvimento sustentável
Publicação do livro: “Population Bomb” – Paul Ehrlich - Faz conexão
1968
entre exploração dos recursos naturais e o meio ambiente
Convenção sobre Conservação dos Recursos Vivos do Atlântico SE:
1969
Cooperação e uso racional de recursos.
Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos
1969
Causados por Poluição por Óleo -Visa compensação de danos causados
6

Evento Ano
por derramamento de óleo.
Convênio Relativo à Intervenção em Alto Mar em caso de acidentes com
Óleo: Para tomada de providências em acidentes que afetem o mar e a
costa.
Criação do Centro Internacional de pesquisa do desenvolvimento
1969
(IDRC) a partir do relatório “Partners in Development”, coordenado
1970
pelo primeiro ministro do Canadá, Lester B. Pearson.
Convenção Relativa às Áreas Úmidas de Importância Internacional
(RAMSAR) – Proteção das áreas úmidas, reconhecendo seu valor 1971
econômico, cultural, científico e recreativo.
Convênio sobre Proteção contra Riscos de Contaminação por Benzeno -
1971
Proteção de trabalhadores na produção, manuseio e uso do benzeno.
Convênio sobre Responsabilidade Civil na Esfera do Transporte
Marítimo de Materiais Nucleares - Responsabiliza o operador da
1971
instalação nuclear por danos causados em incidente nuclear no
transporte marítimo de material nuclear.
Princípio do poluidor pagador – no qual a Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OECD) determina que aqueles que 1971
causam poluição devem pagar por isso.
O Clube de Roma publica: “Limites do crescimento” – Relatório
controverso e pessimista, prevendo sérias conseqüências caso o 1972
crescimento não fosse reduzido.
Conferência das Nações Unidas para o meio ambiente, em Estocolmo,
com foco em chuva ácida e outros temas relativos à poluição nos países
nórdicos. Esta conferência deu origem à formação de uma série de 1972
agências nacionais de controle e a UNEP - Programa de Meio Ambiente
das Nações Unidas.
Nasce o movimento: “Chipko” na Índia, em resposta à devastação das
florestas e degradação ambiental, engajando as mulheres em questões 1973
ambientais.
Crise do petróleo – tem início a discussão sobre seu limite de exploração 1973
7

Evento Ano
Publicação do estatuto para proteção de espécies ameaçadas nos Estados
1973
Unidos, visando à preservação da fauna e flora.
Publicação na Revista técnica “Nature” do trabalho de Rowland and
1974
Molina, sobre CFCs, alertando para a destruição da camada de ozônio
Apresentação do Modelo Latino-americano para desenvolvimento,
elaborado pela Fundação Bariloche, em resposta à proposta “Limites do
1974
Crescimento”. Ressalta para o crescimento e desigualdade no terceiro
mundo
Primeiro Encontro Internacional sobre Habitação e sua interligação com o
1976
meio ambiente
Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação 1977
Inicia-se o Movimento “Cinturão Verde” no Quênia para evitar a
1977
desertificação, com envolvimento da comunidade para o plantio de árvores.
È adotada a convenção sobre poluição atmosférica transfronteiriça 1979
Acidente na usina nuclear ”Three Mile Island” – USA 1979
Publicado o relatório das Nações Unidas sobre a natureza no qual é adotado
o princípio de que cada ser vivo é único e deve ser respeitado e ressalta a
1982
interdependência humana dos recursos naturais e a necessidade de controle
da sua exploração
Convenção sobre Direito do Mar - Estabelece o regime jurídico para os
mares e oceanos, bem como padrões de proteção e sanções contra a 1982
poluição.
Vazamento tóxico em Bhopal na Índia deixa 10.000 mortos e 300.000
1984
feridos
Mais de 250.000 pessoas morrem de fome na Etiópia 1984
È criado o programa “Responsible Care” - atuação responsável, por
iniciativa da indústria química do Canadá. Estabelece um código de 1985
conduta para as indústrias químicas, que é expandido para outros países
È descoberto por cientistas britânicos e americanos o buraco na camada de
1985
ozônio na Antártida
Encontro da Sociedade Mundial de Meteorologia e UNEP – reporta o 1985
8

Evento Ano
aumento da concentração de CO2 e outros gases estufa e prevê o
aquecimento global
Acidente nuclear de Chernobyl gerando uma grande contaminação
1986
radioativa
Publicado o Relatório “Brundtland Report”, Nosso Futuro Comum, no qual
são abordados, de forma integrada, aspectos econômicos, sociais e 1987
ambientais para uma nova ordem global.
Adotado o Protocolo de Montreal - voltado para a restrição do uso e da
1987
fabricação de substâncias que causam depleção da camada de ozônio
É criado o painel intergovernamental de mudanças climáticas como um
1988
fórum de discussão técnico, econômico e científico.
O acidente com o navio Exxon Valdez resulta no vazamento de cerca de
1989
385.000 m3 de óleo na costa do Alasca
Convenção sobre Controle de Movimentos Transfronteiços de Resíduos
Perigosos (Convenção da Basiléia) - Comercialização internacional e 1989
depósitos de substâncias tóxicas.
Convenção Africana sobre o Banimento da Importação e Controle do
Movimento e Gerenciamento de Perigosos Transfronteiriços (Bamako) - 1991
Proibição da importação para a África de Resíduos Perigosos.
Convenção sobre Cooperação Pesqueira entre Países Africanos beirando o
Oceano Atântico: Cooperação nas atividades pesqueiras visando auto-
1991
suficiência alimentícia através do uso racional e integrado dos recursos
pesqueiros.
Protocolo ao Tratado Antártico sobre Proteção Ambiental - Designa a
Antártica como Reserva Natural, destinada à paz e à ciência; determina
1991
princípios de proteção ambiental da região; estabelece a cooperação no
planejamento e condução das atividades na região.
Convenção sobre Avaliação de Impacto Ambiental em Contextos
Transfronteiriços - Assegurar a execução de AIA antes da tomada de
1991
decisão sobre uma dada atividade que pode causar significativo impacto
ambiental.
9

Evento Ano
Conferência denominada Cúpula da Terra promovida pelas Nações Unidas
no Rio de Janeiro, deu origem à carta de intenções denominada Agenda 21,
1992
a Convenção sobre diversidade biológica e as bases para a Convenção das
Mudanças Climáticas.
Convenção para Proteção do Meio Ambiente do Atlântico Nordeste -
Prevenção e eliminação de poluição por fontes terrestres; eliminação e
prevenção de poluição por despejo ou incineração; proibição de despejos 1992
por fontes extra-costeiras. Inclui os princípios da precaução do poluidor-
pagador.
Convenção para Proteção do Mar Negro contra Poluição - Prevenir,reduzir
e controlar a poluição para proteção e preservação do meio ambiente do 1992
Mar Negro.
Convenção para Proteção do Mar Báltico - Prevenção e eliminação de
poluição; inclui os princípios do poluidor-pagador e da precaução e exige o 1992
uso da melhor tecnologia prática disponível.
Convenção sobre os Efeitos Transfronteiriços de Acidentes Industriais -
1992
Prevenção de acidentes industriais e mitigação de seus efeitos.
Convenção sobre Responsabilidade Civil por Danos Resultantes de
Atividades Perigosas ao Meio Ambiente (Conselho da Europa, CEE,
outros países) – Assegurar compensação adequada por danos resultantes de 1993
atividades perigosas ao meio ambiente e meios de prevenção e
recuperação.
Primeiro encontro da Comissão de desenvolvimento sustentável das
Nações Unidas para acompanhar o que foi preconizado na Agenda 21, 1993
estimular a cooperação internacional e racionalizar as tomadas de decisão.
Convenção de Londres sobre Banimento de Despejo de Resíduos de Baixo
Índice de Radiação nos Oceanos: Impõe banimento permanente do despejo 1993
de resíduos de baixo índice de radiação nos oceanos.
Convenção Internacional de Combate à Desertificação nos Países afetados
por Desertificação e/ou Seca - Reconhece a importância do combate à 1994
pobreza, da melhor distribuição dos benefícios do desenvolvimento e do
10

Evento Ano
atendimento às necessidades de saúde e bem-estar das populações afetadas
pela desertificação.
Cúpula das Américas sobre o desenvolvimento sustentável – Santa Cruz,
Bolívia: reforça a necessidade de esforços conjuntos para o 1996
desenvolvimento sustentável.
Sistema voluntário de certificação ambiental – ISO 14001 é formalmente
1996
adotado para sistemas de gestão ambiental
Têm início as discussões sobre organismos geneticamente modificados 1998
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10): avaliação
dos progressos conseguidos desde a Rio 92 e definição de metas para
acesso ao saneamento, restauração de pesqueiros para produção
2002
sustentável, eliminação de práticas pesqueiras destrutivas, estabelecimento
de rede representativa de áreas de proteção marinha, redução de perda de
biodiversidade e uso de produtos químicos ambientalmente adequados.

3.2 MEIO AMBIENTE – VISÃO GERAL SOBRE A GOVERNANÇA


INTERNACIONAL

A busca pelo desenvolvimento sustentável em uma escala global é o desafio deste


novo século.

Embora muito esforço já tenha sido feito com inúmeros tratados e acordos
internacionais a partir do consenso de que a questão ambiental não pode estar
dissociada das questões econômicas e sociais, os mecanismos institucionais criados
são fragmentados e não estão suficientemente coordenados, segundo os
interlocutores do United Nations Environmental Program (UNEP, 2001a).

O novo modelo de governança internacional deve ser instituído de forma a


possibilitar a obtenção do desenvolvimento sustentável considerando-se a sua estreita
interdependência de inúmeros fatores como demanda social, pressões demográficas e
11

pobreza nos países em desenvolvimento, contrapondo-se com o consumo excessivo e


o desperdício nos países desenvolvidos.

O relatório executivo do encontro internacional sobre governança e meio ambiente,


promovido pela UNEP em abril de 2001, apresenta uma visão geral desta questão,
analisando de forma abrangente os acordos existentes, discutindo, inclusive, a
complexa questão do financiamento para a implementação e viabilização dos acordos
assumidos (UNEP, 2001a).

Com o objetivo de estabelecer um organismo de coordenação para estas questões, foi


recomendada a criação do Global Ministerial Environment Forum (GMEF). Este
fórum se reuniu pela primeira vez em maio de 2001 em Malmo-Suécia.

Parte destas considerações sobre governança ambiental faz parte da “Declaração de


Malmo”; na qual são abordados os principais desafios ambientais para o século XXI
(UNEP, 2001b).

Segundo essa declaração, o setor privado emerge como um importante ator no


cenário de preservação ambiental, especialmente com relação ao uso da tecnologia e
investimentos, incorporando a variável ambiental na tomada de decisões. Nesse
aspecto, as ações do governo são fundamentais para induzir mudanças na criação de
uma nova cultura no setor privado. Princípios como o do “poluidor-pagador” e o da
precaução, associados ao uso de ferramentas de gestão como: contabilidade
ambiental, indicadores e relatórios de desempenho ambientais, eco-eficiência devem
ser estimulados pelos governos e agências reguladoras.

3.3 A INDÚSTRIA; GOVERNO, MERCADO, SOCIEDADE E O MEIO


AMBIENTE.

A percepção atual das questões ambientais em países de terceiro mundo pode ser
associada com idéias pre-concebidas, como por exemplo, de que é difícil reverter a
12

poluição ambiental nestes países uma vez que não foi atingido um patamar de
riqueza e desenvolvimento similar ao existente no primeiro mundo e que a
globalização tem tendência a encorajar o deslocamento de indústrias poluidoras para
países do terceiro mundo. O Banco Mundial, em um recente trabalho denominado:
“Greening Industry - New Roles for Communities, Markets and Goverments” (World
Bank, 1999), reporta que essa visão está equivocada e apresenta experiências de
sucesso em diversos países do terceiro mundo para controle e prevenção da poluição.

As agências e órgãos de controle ambiental dos países em desenvolvimento


perceberam que a abordagem regulatória tradicional, importada do primeiro mundo,
era inapropriada para países do terceiro mundo, e a partir desta percepção,
desenvolveram sistemas eficientes e flexíveis que estimulam os poluidores a reduzir
e a prevenir a poluição. Incentivos econômicos, como, por exemplo, as taxações de
emissões, proporcionaram estímulo às empresas para reduzir seus níveis de emissão,
como foi observado nos programas adotados na Colômbia, China e Filipinas. A
taxação, ao mesmo tempo em que induz a redução das emissões, permite a geração
de recursos que podem ser utilizados pelos governos locais para controle da poluição
(World Bank, 1999).

Outra experiência de sucesso foi o programa de redução de poluição adotado pela


Indonésia, denominado “PROPER” - Programa para Controle, Classificação e
Avaliação da Poluição; conduzido pela agência ambiental da Indonésia (BADEPAL).
Este programa inovador teve início em 1995 e fundamentou-se basicamente na
melhora do desempenho ambiental e redução das emissões a partir do levantamento e
classificação das principais indústrias poluidoras. As empresas analisadas tiveram
um prazo de seis meses para reverter a sua classificação, adotando medidas de
controle de poluição, antes da divulgação dos resultados para a sociedade. O
desempenho ambiental foi classificado em 05 categorias, identificadas por cores:
preto (pior desempenho), vermelho, azul, verde e dourado (melhor desempenho).
Este programa mostrou ser eficaz onde os instrumentos reguladores não obtiveram
sucesso, quer seja por sua inexistência, quer seja por falta de recursos para
monitoramento e controle.
13

Este é um excelente exemplo da mudança no perfil das forças indutoras que estão
atuando sobre as empresas, em que, por um lado, o papel regulador do Estado está
mais voltado para mediação, estímulo à prevenção e à redução da poluição do que
simplesmente para a fiscalização e autuação. Por outro lado, emergem nesse cenário
duas outras forças indutoras: o mercado e a comunidade.
Esse novo modelo está amostrado na figura a seguir:
Políticas públicas de incentivos a prevenção à poluição

Taxas e subsídios

Governo
Me

e
ad
rca

ni d

A questão do crédito e
do

mu

financiamento Acordos
Co

Fundos de investimentos Pressão por informações


e transparência
Passivos e sustentabilidade

Figura 1 - Novo modelo de regulação e controle ambiental

Fonte: World Bank (1999)

Em uma economia globalizada, a influência do mercado pode ser decisiva para


estimular as empresas a adotar padrões mais rigorosos de desempenho ambiental e
social. Despontam iniciativas como as dos Fundos de Investimentos Socialmente
Responsáveis, SRI (Socially Responsible Investment), nos quais os aspectos sociais,
ambientais e financeiros são considerados nos investimentos. Estima-se que em 1999
cerca de US$ 2 trilhões de ativos foram geridos seguindo critérios sociais e
ambientais nos Estados Unidos (Ecofinanças, 2001).

Um dos exemplos de elaboração de perfis de grandes empresas com vistas a


recomendação para esses fundos foi publicada em julho/00, pelo banco europeu -
14

Bank Sarasin & Co., no relatório: “Are the founders of sustainability true to their
roots? – An overview of the forestry and paper industry”.
Neste trabalho, são avaliadas do ponto de vista ambiental e social as doze mais
importantes empresas do setor florestal e de celulose e papel do mundo. A
metodologia utilizada para a dimensão ambiental segue critérios do World Business
For Sustainable Development (WBCSD) para as principais etapas da cadeia
produtiva.

Os aspectos ambientais analisados estão alinhados com as sete dimensões da eco-


eficiência (ver item 4.2 deste trabalho).
É apresentada também, uma matriz na qual a sustentabilidade do setor é comparada
com a dos demais, ao mesmo tempo em que é feita uma comparação entre as
empresas, conforme apresentado na Figura 2.
Su st en t a bilida de da in dú st r ia (in t r a )

Alta
Stora Enso
SCA
Acima AssiDoman
da média
Holmen Korsnas
Metsa Serla UPM-Kymmene
Média Weyerhauser
Aracruz
Norske Skog
Abaixo
da média International
Paper Abitibi-Consolidated

Baixa

Baixa Abaixo Média Acima Alta


da média da média

Su st en t a bilida de da in dú st r ia
(ext r a set or ia l)

Figura 2 - Matriz de sustentabilidade para empresas do setor florestal e celulose e


papel.
Fonte: Sarasin (2000)
15

Os indicadores do consumo de energia e emissões, por exemplo, são apresentados


por unidade de valor adicionado (VA) - diferença entre o custo de produção e o valor
de venda do produto, que é uma forma inovadora e ainda não muito utilizada pelas
empresas, mas que está alinhada com o conceito de eco-eficiência. Esta forma de
apresentação dos indicadores ambientais está representada na Figura 3.

Emissões
80

70 SO2 (t/ US$ milhões VA)


COD (t/ US$ milhões VA)
60
AOX (t/ US$ milhões VA)
50

40

30

20

10

0
A

z
en

so
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an
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er

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St
As

or
tio

M
ey

Ab

PM

N
na

U
r
te
In

Figura 3 - Indicadores ambientais de empresas de celulose e papel segundo


levantamento do Banco Sarasin.
Fonte: Sarasin (2000)

SO2 – dióxido de enxofre


COD – Chemical Oxygen Demand (demanda química de oxigênio)
AOX – compostos orgânicos halogenados adsorvíveis

O perfil ambiental de cada empresa com relação à estratégia, gestão e aos aspectos
ambientais relacionados aos insumos, fabricação, produtos e serviços são
comparados com a média do universo amostrado. Do mesmo modo, são comparados
16

os indicadores de desempenho social, conforme mostrado nas Figuras 4 e 5. (Sarasin,


2000)
SGA – Sistema de Gestão Ambiental

Perfil ambiental -Abitibi-Cons. (%)


0 20 40 60 80 100

Estratégia

SGA

Insumos

Produção

Média da indústria
Média da empresa
Produtos e serviços

Figura 4 - Perfil ambiental de empresas produtoras de celulose e papel, segundo


critérios do WBCSD.
Fonte: Modificado do relatório do Banco Sarasin-Sarasin (2000)
17

Perfil Social - Abitidi-Cons.(%)


0 20 40 60 80 100

Estratégia

Gestão Saúde e
Segurança

Governo e
sociedade

Investidores

Fornecedores

Média da indústria
Empregados
Média da empresa

Clientes

Competidores

Figura 5 - Perfil social de empresas produtoras de celulose e papel, segundo


critérios do WBCSD.
Fonte: Modificado do relatório do Banco Sarasin. Sarasin (2000)

Uma das conclusões deste trabalho, segundo a metodologia utilizada pelos


pesquisadores, é que as representantes nórdicas apresentaram desempenho ambiental
superior às demais, destacando-se nos itens relativos à estratégia e gestão ambiental.

No Brasil, uma das iniciativas pioneiras foi a do Unibanco, por meio de sua carteira
de investimentos, que elaborou o perfil de algumas empresas brasileiras, afim de
orientar aqueles que desejam investir naquelas com responsabilidade social e
ambiental (Ethos, 2001).
18

Em países como o Japão, Reino Unido e Alemanha crescem as pressões para que os
fundos de pensão incluam, além de critérios financeiros, critérios ambientais e
sociais para a escolha dos investimentos (Ecofinanças, 2001).

A sociedade civil também desponta como um importante agente de mudanças no


comportamento das empresas, por meio de associações de bairro, organizações não-
governamentais, sindicatos, etc.

A empresa moderna não pode estar dissociada da realidade local, das comunidades
vizinhas e dos anseios da população. Há necessidade cada vez maior de transparência
das empresas, discutindo com a comunidade problemas ambientais e sociais, visando
a uma solução conjunta.

3.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ECO-EFICIÊNCIA

3.4.1 Evolução histórica

O desenvolvimento sustentável, segundo definição do Dr. John R. Ehrenfeld, criador


do conceito “Industrial Ecology” da Universidade da Noruega é:
“O desenvolvimento conduzido responsavelmente por indivíduos, empresas,
governos e outras instituições, cuidando do futuro como se ele lhes pertencesse,
dividindo e partilhando eqüitativamente os recursos naturais dos quais os seres
humanos e as demais espécies dependem, de forma a garantir que aqueles que hoje
existem estejam presentes também no futuro para satisfazer as necessidades e
aspirações humanas” (Ehrenfeld, 2001).

A sustentabilidade traz no seu bojo o confronto com o paradigma da modernidade,


que norteou a sociedade até bem pouco tempo atrás.
Tornar real esse conceito é um colossal desafio para o novo século que se inicia.
Muito esforço está sendo feito por diversos países e organismos internacionais para
estabelecer indicadores que permitam tornar mensurável a sustentabilidade, para
19

então, estabelecer estratégias adequadas (EEA,1998). Vários fóruns internacionais


têm discutido a questão da contabilidade ambiental, como, por exemplo, European
Environmental Agency (EEA).

Um exemplo interessante é o modelo desenvolvido pelo Prof. Mathis Warckrnagel,


coordenador do Centro de Estudos para a Sustentabilidade da Universidade Anáhuac
de Xalapa no México, denominado “Ecological Footprints” - pegadas ecológicas- no
qual a “quantidade” de recursos naturais utilizados para manter os hábitos de
consumo do Homem é “medida” em equivalentes de área produtiva. Em 1996, esse
modelo foi utilizado para estimar as “pegadas ecológicas” de 140 países e os
resultados indicaram que países industrializados apresentam um déficit de recursos
naturais - conforme era de se esperar. Cada cidadão americano, por exemplo, precisa,
em média, do equivalente a 9,6 ha (96.000 m2) para manter seus hábitos de consumo.
Segundo esse modelo, atualmente, a quantidade de recursos naturais disponíveis é o
equivalente a 1,8 ha por habitante, considerando-se que 12% das áreas produtivas e
oceanos sejam mantidos para preservação. A média dos 140 países analisados foi 2,9
ha por habitante, indicando, portanto, que a capacidade da terra estaria sendo
ultrapassada em cerca de 38% (Wackernagel et al. 1996).

A sustentabilidade requer o uso mais eficiente dos recursos naturais, menor geração
de resíduos, fontes alternativas de energia, mudanças dos hábitos de consumo,
reutilização e reciclagem de produtos, entre outros. Há que se dissociar a relação
quase que direta de crescimento econômico com uso de recursos naturais, e uma das
ferramentas para isso é a eco-eficiência, termo criado pelo World Business Council
For Sustainable Development (WBCSD) em 1992 e definido como a produção e
entrega de bens e serviços a preços competitivos, que satisfaçam as necessidades
humanas, promovendo qualidade de vida, enquanto que, progressivamente, são
reduzidos os impactos ambientais e a intensidade do consumo de recursos naturais
em todo o ciclo de vida, em consonância com a capacidade estimada da terra em
prover estes recursos e absorver os impactos (UNEP-DTIE, 2001a).
20

3.4.2 Elementos–chave para viabilizar a eco-eficiência

Segundo o World Business For Sustainable Development – WBCSD, todos os


segmentos da sociedade são responsáveis pelo progresso. As empresas exercem um
papel fundamental incorporando as mudanças e aceitando os desafios. Da mesma
forma, os governos e a sociedade civil também têm um importante papel a
representar. Essa composição de atores e seus papéis rumo a sustentabilidade, está
mostrada a seguir, como os 12 elementos-chave para um futuro sustentável
(WBCSD, 2000a).

Líderes de governo e de trabalhadores:


i. Estabelecer objetivos associados à macroeconomia que possam ser traduzidos
como critérios para o desenvolvimento sustentável;
ii. Integrar políticas públicas e medidas que visem o fomento da eco-eficiência,
como por exemplo, eliminando subsídios e tornando mais efetivas as taxas
para as empresas ambientalmente inadequadas ;
iii. Fortalecer e estimular os acordos, as políticas internacionais, os mercados, os
sistemas financeiros, visando a otimização no uso de recursos naturais, a
minimização das emissões e a redução nas desigualdades;
Líderes da sociedade civil e de associação de consumidores:
iv. Estimular os consumidores a escolher produtos e serviços que sejam
produzidos de forma sustentável e ecoeficiente;
v. Suportar medidas políticas que visem criar condições para privilegiar a eco-
eficiência;
Educadores:
vi. Incluir os conceitos de sustentabilidade e da eco-eficiência nas escolas
secundárias e nas universidades, fomentando a pesquisa e projetos;
Investidores a analistas de mercado:
vii. Reconhecer e estimular a sustentabilidade e a eco-eficiência por meio de
critérios específicos de financiamento;
viii. Ajudar a divulgar para o mercado financeiro as empresas líderes que se
destacam pelo seu desempenho ambiental;
21

ix. Promover o desenvolvimento de ferramentas de avaliação de sustentabilidade


visando sua disseminação no mercado financeiro, bem como promover os
benefícios da eco-eficiência;
Líderes de negócios:
x. Integrar a eco-eficiência nas suas estratégias de negócios (parte operacional,
inovação de produtos e marketing);
xi. Reportar e divulgar de forma transparente os resultados relativos à
sustentabilidade e à eco-eficiência da empresa para as partes interessadas;
xii. Suportar o estabelecimento de políticas que visem premiar e estimular a eco-
eficiência.

3.4.3 Dimensões da eco-eficiência

Considerando-se a estreita relação entre sustentabilidade e economia, as sete


dimensões da eco-eficiência aplicáveis para toda empresa que forneça produtos e
serviços, modifique processos ou qualquer outra ação que tenha correlação com o
meio ambiente são as seguintes:

a) Reduzir a intensidade do consumo de materiais em produtos e serviços;


b) Reduzir a intensidade do consumo de energia em produtos e serviços;
c) Reduzir a dispersão de compostos tóxicos;
d) Promover a reciclagem;
e) Maximizar o uso de recursos renováveis;
f) Estender a durabilidade dos produtos; e
g) Aumentar a intensidade do uso de produtos e serviços (por exemplo, como no
programa suíço de locação e compartilhamento de carros, que permitiu o uso
mais racional do transporte, aumentou o uso do transporte público e reduziu o
consumo de combustíveis).

Desta forma, assumindo que os produtos e serviços fornecidos permitam o


desenvolvimento econômico, eles serão mais eficientes do ponto de vista ambiental
22

à medida que utilizem mais dimensões da eco-eficiência e/ou sejam mais efetivos na
sua utilização individualmente (WBCSD, 2000b).

Atualmente, a forma de “fazer negócios” é profundamente diferente daquela utilizada


há cerca de 30 anos. A gestão ambiental nas empresas não pode mais enfocar
somente o controle local dos impactos ambientais associados ao processo produtivo,
mas, ser estendida a toda a cadeia produtiva, desde matérias primas até o descarte e
disposição final dos produtos.

Também passa a ser importante na gestão ambiental das empresas modernas o


relacionamento com a sociedade, que cada vez mais está envolvida nas questões
ambientais (IGC, 2001).

Empresas ecopioneiras, que se destacam dos seus competidores por meio de um


comportamento proativo, incorporando nos seus negócios os conceitos da eco-
eficiência, são ainda em número reduzido, e representam menos de 20% do total das
empresas americanas e européias (IGC, 2001).

A maior parte das empresas ainda está voltada para o atendimento às exigências
legais e à gestão reativa.

Empresas como a 3M, que a partir de 1975 utilizou ferramentas como o design
ambiental para redução de emissões, economizando cerca de US$ 750 milhões desde
então, e a empresa Proctor & Gamble, que desenvolveu em 1989 os
“ultradetergentes”, reduzindo emissões e o consumo de matérias-primas e energia,
são exemplos de empresas ecopioneiras.

Os avanços tecnológicos permitiram que a eficiência do uso da energia fosse


aumentada à razão de 2% ao ano no período de 1970-1990. No entanto, esse
crescimento praticamente estagnou nos países industrializados desde então. Acelerar
esse processo é também um dos desafios da eco-eficiência.
23

Sustentabilidade

I n s n ôm
Eco
Regu s e parce
Comando e controle

tru
Acord

m e os
Legislação

lame

nto
o

ic
Empreendimentos

s
Pegadas Responsáveis

ntaçã ias
Ecológicas
o por
r
Fator X

Eco-eficiência
Agenda
21
Desenvolvimento
sustentável
Produção Mais Limpa

Atendimento Legal

Carta EMS Estratégia


Auditorias
Auditorias
Sustentabilidade
EHS ICC Certificação Tempo

ICC- Câmara internacional de comércio


EMS – Environmental Management System (sistema de gestão ambiental)
Fator X- Estabelecimento de metas de aumento de eco-eficicência

Figura 6 - Síntese da sustentabilidade segundo o WBCSD.


Fonte: WBCSD (2000a).

A Figura 6 apresenta uma síntese da sustentabilidade e suas inter-relações temporais


com a eco-eficiência e demais mecanismos.

Atualmente, especialmente nos países europeus, existe um grande esforço dos


governantes em estabelecer novos instrumentos e políticas voltadas para a
responsabilização dos fabricantes pelos produtos, durante todo o seu ciclo de vida.
Como exemplos dessas medidas tem-se as taxas ambientais, o estabelecimento de
meta de reciclagem e as exigências para que os produtores coletem e se
responsabilizem pela destinação final de seus produtos pós-consumo – política “take-
back”.
A política “take-back” induziu fabricantes a alterar os processos produtivos e o
design dos seus produtos, visando reduzir o uso de compostos tóxicos, aumentar a
reciclagem, reduzir o tamanho e quantidade das embalagens, entre outros.
24

No Brasil, esta parece ser também uma tendência, com o surgimento de novas
legislações no ano de 2000, que obrigam os fabricantes a coletar, tratar e dispor os
produtos pós-consumo, como pilhas e baterias, e mais recentemente essa exigência
estendeu-se aos pneus.

Está em fase de elaboração a política nacional de resíduos sólidos, cuja proposta


inicial fundamenta-se em adotar um modelo de gestão semelhante ao da comunidade
européia (Kapaz, 2002). Nesse sentido, já existem intensas discussões em diversos
segmentos da sociedade questionando a sua viabilidade em um país com a extensão
territorial do Brasil, permeado por profundas diferenças socioeconômicas e culturais.

3.4.4 Ferramentas da eco-eficiência

As ferramentas da eco-eficiência que serão abordadas neste trabalho são:


• Produção mais limpa ou prevenção à poluição;
• Análise de ciclo de vida e “Design for Environment”;
• Contabilidade ambiental;
• Indicadores de eco-eficiência e de desempenho ambiental;
• Relatórios de desempenho ambiental;
• Sistemas de gestão ambiental.

A Figura 7 apresenta uma proposta de como essas ferramentas estão interligadas com
processos e produtos em uma escala espacial e temporal.
25

Ecolab- Selos verdes CP- Produção limpa


LCA- Análise de ciclo de vida DfE- Design ambiental
EAc- Contabilidade ambiental EMS- Sistema de gestão ambiental
EPE- Avaliação de performance ambiental

Sociedade 5- Políticas, protocolos e Agenda 21

N fábricas
Uma fábrica/processo
4- Eco-efciência
N produtos
Descarte/
disposição
Ciclo de vida de

5
um produto

2- LCA, DfE, Ecolab.


Uso 3-EMS, EPE
4
Fabricação
1-CP, EAc

Planejamento Fabricação Uso Disposição Duração da Vida Humana Tempo


empresa
Vida útil do produto

Figura 7 - Métodos e ferramentas para melhoria de desempenho ambiental.


[Modificado de NTNU- Norwegian University Of Science- and Technology -IndEcol
–Industrial Ecology Programme]- Fet, (2000).

3.4.4.1 Produção mais limpa/prevenção à poluição

Define-se como “produção mais limpa” a aplicação contínua de uma estratégia


integrada e preventiva em processos, produtos e serviços, visando aumentar a
eficiência global, reduzindo os riscos aos seres humanos e ao meio ambiente.

Em processos produtivos, a produção mais limpa implica na conservação de


matérias-primas e energia, eliminação de insumos tóxicos e redução da quantidade e
da toxicidade das emissões e dos resíduos (Figura 8).
26

Em produtos, ela envolve reduzir os impactos negativos durante todo o ciclo de vida
do produto, desde o consumo de matérias-primas até a sua disposição final.
Nos serviços, implica na adoção de estratégias que incorporem aspectos ambientais
na concepção e na entrega de serviços (UNEP, 2001a)

Produção
Mais Limpa

É uma estratégia
Preventiva e Instrumentos
Contínua Regulatórios
(governo)

Instrumentos
De Gestão Para modificar Instrumentos
Tecnológicos

Produtos Processos Serviços

Assegurando

Melhoria do
Desempenho
Ambiental e redução
Dos custos

Figura 8 - Visão geral de produção mais limpa ou prevenção à poluição.


Fonte: EEA (2001a)

A Prevenção à Poluição consiste no uso de processos, práticas, materiais, produtos


ou energia, de modo a minimizar a geração de poluentes e de resíduos, ao mesmo
tempo em que reduz o risco à saúde humana e ao meio ambiente (UNEP, 2001a).
27

Os conceitos de prevenção à poluição e produção mais limpa enfocam basicamente a


não geração e a abordagem preventiva com respeito aos aspectos ambientais em vez
do caráter corretivo. Entretanto, as diferenças entre eles podem ser consideradas
somente como geográficas, uma vez que o termo prevenção à poluição é mais usado
na América do Norte enquanto que produção mais limpa é mais utilizado no restante
do mundo (UNEP-DTIE, 2001b).

Segundo a UNEP - United Nations Environment Program, os conceitos de eco-


eficiência e produção mais limpa são praticamente sinônimos. A diferença seria
quanto ao conceito de eco-eficiência, que destaca primeiramente a eficiência
econômica, que por sua vez traz benefícios ambientais, enquanto que o conceito de
produção mais limpa enfoca inicialmente os aspectos relacionados com a eficiência
ambiental, que por sua vez conduz a benefícios econômicos.

3.4.4.1.1 Visão histórica

A partir da percepção da degradação ambiental e da escassez de recursos naturais,


teve início um processo lento, que instigou mudanças nas empresas e nos governos,
sobrepondo a visão imediatista baseada em políticas de curto prazo e meramente
financeira, por uma nova forma de governança.

A filosofia da abundância de recursos e da capacidade ilimitada da Terra em absorver


e diluir os impactos ambientais foi a base para o desenvolvimento industrial. Os
problemas ambientais eram evitados por meio de migrações, do uso da capacidade
dispersiva (ar e água) e da concentração e disposição no solo de resíduos (EEA,
2001a)

Todas essas alternativas mostraram-se ineficientes no longo prazo, como ficou


notório com problemas de bioacumulação, contaminação de solo e de sedimentos
com resíduos radioativos ou tóxicos como os contendo bifenilas policloradas (PCBs).
28

A etapa seguinte, com início na década de 60 do século XX, foi marcada pelo uso do
conceito da tecnologia a serviço do meio ambiente com uma visão corretiva, também
denominada “end-of-pipe” (fim de tubo). Embora esse conceito tenha permitido
minimizar impactos ambientais, não atuava sobre as causas do problema e sim, nas
conseqüências. Além disso, de certa forma, transferia-se o problema ambiental. Um
exemplo clássico é a geração de subprodutos, como lodo e/ou filtrados contaminados
resultantes do processo de tratamento de águas residuárias.

O conceito de prevenção à poluição está intimamente ligado com o conceito de


sustentabilidade, uma vez que a produção mais limpa permite o uso mais eficiente de
recursos naturais, da energia, redução do consumo e emissão de produtos tóxicos,
tendo como escala temporal a vida útil do produto e não simplesmente o processo de
fabricação.

Pode-se deduzir, portanto, que a prevenção à poluição é um dos mais importantes


caminhos para a sustentabilidade, ponderando-se aspectos econômicos e ambientais,
conforme está mostrado na Figura 9.

Como principais instrumentos viabilizadores da produção mais limpa tem-se:


• Mecanismos governamentais, por intermédio de programas, acordos, imposições
legais, etc.;
• Evolução da gestão;
• Evolução tecnológica (mostrada na Figura 10).
29

Sinergia entre

Positivo
Expansão economia e meio
econômica ambiente,
não sustentável através da inovação e
E feit o E con ôm ico
prevenção

Negativo
Situação Abordagem
desfavorável “end-of-pipe”

Negativo Positivo

E feit o a m bien t a l

Figura 9 - O balanço entre o efeito econômico e ambiental.


Fonte: EEA (2000a)

Abordagem tecnológica 1960 1970 1980 1990

Tecnologia “end-of-pipe”
Corretiva
Remediação

Otimização de processos existentes

Novos processos e tecnologias


Integrativa
Melhores tecnologias disponíveis

Racionalização do uso de energia

Seleção de insumos e matérias-primas


Orientada para
Reciclagem e reuso
Fonte ou insumos
Desenvolvimento Uso racional de insumos
sustentável
Preventiva e orientada LCA e “design” ambiental
Para produto Inovação de produtos

Figura 10 - Evolução da abordagem tecnológica.


Fonte: EEA (2000a)
30

3.4.4.1.2 Produção mais limpa e as melhores técnicas disponíveis (BAT - Best


Avaliable Technologies)

O conceito de produção mais limpa está integrado com a Diretiva do IPPC


(Integrated Pollution Prevention and Control) por intermédio do uso das melhores
técnicas disponíveis (BAT).

Define-se BAT - como as técnicas mais eficientes e avançadas disponíveis para


execução de atividades, aplicáveis a processos específicos, de forma a evitar
emissões e os impactos ambientais adversos, ou quando isso não for possível, pelo
menos reduzí-los.

Técnicas compreendem, além da tecnologia, os aspectos de projeto, construção,


manutenção e operação.

Disponíveis entende-se como aquelas que permitem sua implementação em escala


industrial em setores relevantes, levando-se em conta além dos aspectos
tecnológicos, o custo e a acessibilidade.

Melhores técnicas entende-se como aquelas que permitem maior proteção ambiental.

Na Europa, o conceito similar ao BAT é o BATNEEC; que significa (Best Available


Techniques Not Entailing Excessive Costs) - melhores técnicas disponíveis que não
acarretam custos excessivos.

Na Inglaterra, por sua vez, o aspecto de custo não é incluído no conceito de melhores
tecnologias disponíveis (BAT).

Neste trabalho, será utilizado o conceito BAT alinhado com a diretiva européia
(IPPC).
31

3.4.4.1.3 Implementação da produção mais limpa

Para ter sucesso, a implementação da produção mais limpa deve ter uma abordagem
integrativa, ser economicamente viável e, por vezes, inovadora.

Esse processo, na maioria das vezes, é iniciado por instrumentos governamentais


com objetivos claros, estimulando o desenvolvimento e a implantação de alternativas
tecnológicas, aliando a estes programas educativos e de treinamento para assegurar
resultados a longo prazo.

A metodologia proposta pela UNEP, para identificar e avaliar as oportunidades de


implementação de tecnologias limpas em indústrias em geral, pode ser dividida em
cinco etapas: planejamento e organização; pré-avaliação; avaliação; estudo de
viabilidade e implementação, conforme está demonstrado na Figura 11.

A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) do Estado de São


Paulo elaborou um manual com a metodologia para implementação de um programa
de prevenção à poluição, muito similar ao que foi proposto pela UNEP (CETESB,
2001b).
32

Identificação da necessidade de
implementar Produção mais limpa

1 - Planejamento e organização

2- Etapa de Pré avaliação

3 - Avaliação

4- Estudo de viabilidade Continuação


Do Programa

5- Implementação

Avaliação dos resultados

Figura 11 - Etapas para implementação de um programa de produção mais limpa.


Fonte: UNEP-DTIE (2001b)

a) Planejamento e organização

A partir da identificação da necessidade de se implementar um Programa de


Produção mais Limpa, os elementos-chave para seu sucesso são:

Comprometimento da alta gerência: O gerente geral da indústria deve dar início ao


processo, para obter colaboração e comprometimento de todos.

Envolvimento dos funcionários: Embora o gerente possa dar o “pontapé inicial” no


programa, a identificação das oportunidades de melhoria e de prevenção à poluição
dependem basicamente dos funcionários, principalmente daqueles envolvidos com as
atividades de processo e de manutenção no chão-de-fábrica, que normalmente detêm
o conhecimento de como e por que são geradas as emissões e os resíduos, e
principalmente o que pode ser feito para minimizá-los.
33

Controle adequado dos custos, de modo a mostrar para a alta gerência e funcionários
que prevenir a poluição reduz custos de tratamento e disposição de resíduos.

Abordagem organizada, coordenada por equipe multidisciplinar que:


• Detenha conhecimentos do processo produtivo, para avaliar as sugestões
propostas e que tenha capacidade e autonomia para implementá-las;
• Identifique as barreiras que possam existir para implementação do programa e
• Estabeleça os objetivos desafiadores para a companhia.

O planejamento sistemático que faz parte da implementação do Programa de


Produção mais Limpa permite assegurar a escolha das opções mais viáveis
economicamente; alinhar os objetivos do programa com os demais objetivos da
empresa, facilitar o planejamento dos investimentos e, por fim, pode servir como
base para financiamentos .

b) Etapas de pré-avaliação e avaliação

Durante esta fase, é feito o balanço de material de modo a identificar quais perdas
podem ser reduzidas. A equipe responsável pela implantação do programa deve
identificar quais são as alternativas para prevenção à poluição, buscando referências
em outras companhias, em literatura, em fornecedores e outras fontes. É
recomendável também fazer “brainstorming” com funcionários da empresa para
identificar as oportunidades de melhoria ambiental.

Pode-se dividir este processo em três fases:


• Balanço de massa do processo industrial, associado com o fator custo,
apresentando em um fluxograma as fontes de geração de resíduos e de emissões;
• Identificação dos fatores que influenciam o volume, a quantidade, a composição
e as propriedades das emissões e dos resíduos;
• Propositura de alternativas para controlar ou eliminar as causas da geração dos
resíduos e das emissões. As práticas genéricas de prevenção à poluição
identificadas na etapa de “brainstorming” devem ser usadas para desenvolver as
34

alternativas mais apropriadas para o resíduo ou emissão em questão. A partir daí,


as opções selecionadas devem ser submetidas à avaliação técnica e econômica,
como qualquer outra inovação. As alternativas de tecnologia mais limpa podem
ser relacionadas como indicado na Figura 12.

Mudança Boas práticas


tecnológica de operação

Mudança Mudança
nos Produtos nos insumos
Processo

Reuso e
Reúso
reciclagem interna

Figura 12 - Avaliação do processo –principais alternativas.


Fonte: UNEP-DTIE (2001b)

Mudança nos insumos ou matérias-primas


O uso de insumos mais puros ou sua substituição permite reduzir ou eliminar
compostos perigosos no processo, ou a toxicidade - periculosidade dos resíduos
gerados.
35

Mudança tecnológica
A mudança tecnológica pode estar voltada para o processo, equipamentos, mudanças
em variáveis do processo e uso de automação.

Boas práticas de operação


Boas práticas de operação incluem adequada manutenção e uma gestão
administrativa voltada para a redução das emissões e da geração de resíduos.
Compreendem as seguintes práticas:
• Treinamento e conscientização de funcionários, programas de estímulo à
redução de resíduos e emissões;
• Estocagem e programação adequada do uso de materiais, evitando perdas de
produtos por danos ou por excederem prazos de validade.
• Controles adequados das perdas, evitando e minimizando vazamentos e
transbordos;
• Segregação de resíduos para evitar a contaminação com os demais, ou mesmo
inviabilizar sua reutilização ou recuperação;
• Contabilização dos custos de tratamento das emissões e da disposição dos
resíduos, e sua apropriação nas áreas geradoras;
• Programação de produção adequada visando minimizar as perdas,
principalmente em processos produtivos intermitentes (ou batelada).

Mudança no produto
Mudança na especificação de qualidade, na composição e na durabilidade dos
produtos, ou mesmo por intermédio da sua substituição com objetivo de minimizar a
geração de resíduos, de águas residuárias e de emissões gasosas.
As mudanças feitas nos produtos podem alterar os impactos ambientais associados
nas diversas etapas do ciclo de vida dos mesmos, desde a extração da matéria-prima
até sua disposição final.

Reúso e reciclagem interna


Implica na reutilização dos resíduos no próprio processo de origem (reciclagem) ou
como insumo em outro processo (reúso).
36

c) Estudo de viabilidade

Esse estudo tem a finalidade de verificar a viabilidade técnica e econômica aliada aos
ganhos ambientais das alternativas propostas. Este processo pode ser dividido em 05
fases:

1. Avaliação preliminar
Nesta etapa as alternativas são segregadas em função da necessidade ou não de dados
complementares. Aquelas que envolvem decisões apenas gerenciais podem não
requerer avaliação técnica, assim como opções mais simples, podem não exigir
avaliação ambiental.
Similarmente, opções de baixo custo não requerem estudos econômicos tão
detalhados como aqueles exigidos nas opções mais complexas.

2. Avaliação Técnica
Consiste na verificação de dois fatores básicos.
- Existência de equipamentos disponíveis e adequados para a sua implementação;
influência na qualidade e produtividade e, por fim, mudanças na forma de
utilização e de manutenção dos equipamentos.
- Mudanças no fluxo de materiais, induzindo a necessidade de novos balanços de
massa e de energia.

3. Avaliação econômica
Requer no mínimo o levantamento de dados tais como investimentos, custos
operacionais e benefícios, retorno financeiro das alternativas tecnicamente viáveis. É
importante fazer uma análise criteriosa dos custos envolvidos, com uma visão de
longo prazo a fim de incorporar as vantagens da produção mais limpa.

4. Avaliação ambiental
Os objetivos da avaliação ambiental são os de determinar os impactos (positivos ou
negativos) das alternativas propostas ao meio ambiente, tendo em conta todo o ciclo
de vida de um produto.
37

Essa avaliação pode ser feita basicamente de duas formas: qualitativa ou quantitativa.
A avaliação quantitativa baseia-se no estabelecimento de critérios mensuráveis, que
serão comparados com os valores calculados para as alternativas propostas. Os
critérios podem ser os custos de tratamento e disposição final, energia consumida nas
diferentes fases do produto, etc.

5. A abordagem qualitativa implica em elaborar uma matriz comparativa com os


diferentes aspectos e impactos ambientais nas diferentes fases do ciclo de vida,
para as alternativas propostas.

6. Seleção das alternativas viáveis


Devem ser excluídas as alternativas que se mostraram inviáveis tecnicamente, ou
com baixa significância em ganhos ambientais. As demais devem ser analisadas de
forma a conciliar os ganhos ambientais com os custos.

d) Implementação e monitoramento

Nesta etapa devem ser estabelecidos critérios de mensuração para avaliar e monitorar
os resultados da implementação da(s) alternativa (s) selecionada(s) para o projeto de
produção mais limpa.
Para o sucesso do programa é necessário:
• Elaborar um plano de ação detalhado de todas as fases, com data,
responsabilidades e atribuições dos envolvidos;
• Para as alternativas que envolvam custos elevados ou projetos complexos, é
necessário estabelecer um planejamento adequado que inclua a necessidade de
desembolso nas diferentes fases. Também é importante o acompanhamento e
comissionamento do projeto por uma equipe técnica capacitada, para assegurar o
desempenho e a eficiência dos novos processos, sistemas ou equipamentos.
• Monitorar o progresso do projeto de produção mais limpa, informando-o às
equipes, indivíduos e departamentos envolvidos no mesmo. A escolha de como
medir o progresso é crucial e deve envolver a quantificação das emissões, do
38

consumo de energia ou insumos e o aumento da lucratividade. Mudanças na


forma e composição dos produtos também devem ser incluídas.
• A manutenção do programa pode requerer mudanças estruturais na organização
e na gestão da empresa.Os elementos-chaves neste processo são integração entre
a área de desenvolvimento com os demais setores, contabilização dos resíduos e
participação e envolvimento dos empregados.

3.4.4.1.4 Barreiras para implementação da produção mais limpa na


perspectiva da indústria

Apesar do aspecto atrativo da produção mais limpa devido a redução dos impactos
ambientais, a utilização desta ferramenta ainda é limitada. Segundo um levantamento
da UNEP (UNEP-DTIE, 2001b) as principais barreiras são:

Financeiras e econômicas
a) Custos altos para o financiamento de projetos na indústria;
b) Falta de mecanismos e incentivos apropriados para o financiamento de projetos
de produção mais limpa;
c) Percepção que investimentos em inovação, como uso de tecnologias mais
limpas, são de alto risco;
d) Normalmente este tipo de investimento não é suficientemente atrativo pois
apresenta baixo retorno financeiro;
e) Imaturidade da empresa na apropriação de custos.

Organizacionais
f) Falta de visão estratégica e de foco em tecnologia e mercados;
g) Imaturidade na gestão ambiental e nas políticas da empresa;
h) Ausência de liderança e imaturidade da função de gestor ambiental;
i) Percepção de risco de exposição para gerentes e ausência de incentivos para
adotar projetos inovadores;
j) Imaturidade da estrutura organizacional da empresa;
39

k) Pouca experiência na implantação de projetos com a participação dos


funcionários.

Técnicas e conceituais
l) Ausência de práticas operacionais estruturadas e bem estabelecidas e de planos
de manutenção;
m) Complexidade na implementação da produção mais limpa;
n) Pouco acesso às tecnologias mais limpas e às inovações tecnológicas;
o) Indiferença quanto ao papel da empresa na melhoria ambiental;
p) Falta de entendimento do conceito de produção mais limpa;
q) Resistência à mudanças.

3.4.4.1.5 Experiências e programas de implementação de produção mais limpa

Embora existam referências de programas de produção mais limpa desde 1976 nos
Estados Unidos e na Dinamarca, foi na década de noventa do século XX, que esses
programas se multiplicaram e passaram a ter relevância em diversos países.

A UNEP publicou dois livros relatando estudos de caso em cerca de 21 países


(UNEP,1993,1995). Além destes, está disponível no site UNEP-DTIE um guia com
as principais fontes de informação sobre produção mais limpa e diversos centros de
referência nos cinco continentes. O anexo A deste trabalho apresenta também uma
série de referências e sites com informações sobre produção mais limpa e eco-
eficiência.

Os setores que se destacam nestes programas são mostrados na Tabela 2. Pode-se


observar que os segmentos que mais participam dos programas de implementação da
prevenção à poluição são os relacionados ao segmento industrial, embora em alguns
países o setor público tenha sido incluído. Na Austrália, existe um programa
específico voltado para as pequenas e médias empresas e outro voltado para o setor
publico e gestão municipal (EPA-Australia,1996).
40

Tabela 2 - Setores nos quais foram implementados programas de Produção Mais


Limpa.
País Setor
Indústria de celulose e papel, automotiva, petrolífera, plásticos
Austrália e resinas, municípios, programas para pequenas e médias
empresas.
Industria química; siderurgia; programas para pequenas e
Bulgária
médias empresas.
Canadá Público, pequenas e médias empresas, hospitalar.
China Celulose e papel
Serviços de água e esgotos, transportes, alimentício e
República Tcheca
agricultura.
Dinamarca Têxtil, galvanoplastia e gráfica
Hungria Automobilístico, gráfica e indústria química.
Israel Indústria química e farmacêutica
Itália Têxtil e beneficiamento de couro
Lituânia Têxtil, eletroeletrônico e alimentício.
Setor público (água e esgotos), alimentício, agricultura e
Polônia
tratamentos superficiais .
Portugal Galvanoplastia e indústria química
Romênia Celulose e papel e têxtil
Eslovênia Público, indústria química e alimentícia, agricultura
Turquia Têxtil, galvanoplastia e indústria de alvejantes
Inglaterra Indústria química, gráfica e de impressão, galvanoplastia.
Estados Unidos Indústria química, galvanoplastia e celulose e papel
Fonte: UNEP (1993); Overcash (2000).

No Brasil, ainda existem poucas iniciativas estruturadas voltadas para produção mais
limpa.
O Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável possui
atualmente 07 Núcleos de Produção Mais Limpa (CE, PE, BA; MG; MT; SC e
CNTL-RS), com as primeiras experiências voltadas para pequenas e médias
empresas (CEBDS, 2001).
41

A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) do Estado de São


Paulo desenvolve programas voltados para a prevenção à poluição.
Já estão disponíveis as seguintes publicações :
• Manual de Implementação de um programa de prevenção à poluição;
• Manual Ambiental: projeto piloto de prevenção à poluição em indústrias de
bijuteria no Município de Limeira;
• Compilação de técnicas de prevenção à poluição para indústrias de
galvanoplastia,
• Compilação de técnicas de prevenção à poluição para o setor têxtil;
• Casos de sucesso.

Os projetos específicos são voltados para os setores de galvanoplastia, têxtil,


indústria cerâmica e público - compras verdes (CETESB, 2001b).

O website também apresenta referências bibliográficas em produção mais limpa,


prevenção à poluição e reciclagem para diversos setores produtivos.

Comparando-se os estudos de caso apresentados pela UNEP e os citados pela


CETESB, pode-se observar uma diferença de abordagem no que se refere à sua
estruturação. Os casos apresentados pela UNEP fornecem dados econômicos do
projeto, como investimentos, custos operacionais e retorno financeiro, além dos
dados relativos a redução de emissões, insumos, energia, etc. Por outro lado, os
estudos de casos apresentados pela CETESB detalham mais os ganhos ambientais, e
embora apresentem dados sobre os ganhos econômicos, não abordam de forma clara
os investimentos.

Em outubro de 2002, a CETESB promoveu o Seminário de lançamento da “Mesa


Redonda Paulista de Produção Mais Limpa”, quando foi criado um fórum
permanente para discussão do tema em São Paulo. No evento, foram apresentados
cerca de 23 casos de sucesso de implementação de produção mais limpa de empresas
atuantes no Estado.
42

3.4.4.2 Análise do ciclo de vida - ACV

O conceito de ciclo de vida é baseado na abordagem do “berço ao túmulo” (Figura


13), na qual cada etapa do ciclo de vida de um produto (extração e processamento de
matérias-primas; fabricação, transporte, distribuição, reutilização ou reciclo,
tratamento e disposição dos resíduos) apresenta impactos econômicos e ambientais
associados.

De acordo com a ISO–International Organization for Standardization, ACV é uma


técnica de avaliação de aspectos e impactos potenciais associados com um produto,
por meio da:
• Compilação de um inventário de todas as entradas e saídas do sistema;
• Avaliação dos impactos potenciais associados com essas entradas e saídas; e
• Interpretação dos resultados do inventário e dos impactos em relação aos
objetivos do estudo.

Os primeiros estudos ambientais relacionados com ciclo de vida de produtos datam


do final da década de 60 do século XX, com foco nos aspectos energia, consumo de
matérias primas e disposição de resíduos.

Em 1969, a Coca-cola elaborou em estudo para comparar o consumo de recursos


naturais e as emissões relacionadas ao tipo de embalagem do seu produto.
Similarmente, na Inglaterra em 1972, Ian Boustead desenvolveu um modelo para
determinar os consumos de energia relacionados às embalagens de alumínio, vidro,
plástico, etc (EEA, 2001b).

Neste mesmo período, foi desenvolvida uma metodologia de avaliação quantitativa


do consumo de recursos, denominada – REPA - Resource and Environmental Profile
Analysis, que pode ser considerada uma das precursoras da análise do ciclo de vida
(Environment Canada, 2001).
43

No início da década de 90 do século XX, esse tipo de abordagem evoluiu, embora


despertasse interesse somente em um grupo reduzido de países, principalmente no
meio acadêmico.
Atualmente, o conceito está sendo usado em análises quantitativas de ciclo de vida,
em projetos e desenvolvimento de novos produtos e como ferramenta de políticas
públicas para a taxação de embalagens, notadamente na União Européia
(Environment Canada, 2001).

As empresas, por sua vez, utilizam-se dessa ferramenta para a tomada de decisões,
melhoria no desempenho ambiental, desenvolvimento de novos produtos, entre
outros.
Transporte

Embalagem

Reuso
Uso

Fabricação

Extração de Reciclagem Descarte


Matérias primas de materiais Disposição final

Figura 13 - Ciclo de vida de um produto.


Fonte: EEA (2001b)
44

As principais etapas de uma análise de ciclo de vida são:


• Definição do escopo;
• Execução do inventário detalhado do ciclo de vida, compilando-se os dados
relativos ao consumo de energia, recursos naturais e emissões em cada etapa do
ciclo;
• Estimativa dos impactos ambientais associados ao uso dos recursos naturais,
processo produtivo e as emissões geradas;
• Interpretação dos resultados relacionando-se os dados obtidos com o objetivo do
trabalho.

Considerando-se que nos dias de hoje o desenvolvimento sustentável está presente


nas agendas políticas e econômicas, a análise de ciclo de vida desponta nesse cenário
como uma das mais importantes ferramentas para o desenvolvimento de novos
produtos e na gestão corporativa estratégica.

3.4.4.2.1 Metodologia da ACV

A complexidade da análise de ciclo de vida requer o estabelecimento de um


protocolo padrão, como o recomendado pela ISO (International Organization for
Standardization). Este protocolo (Figura 14) divide a análise de ciclo de vida em
quatro fases:
• Definição do objetivo e do escopo;
• Inventário;
• Avaliação dos impactos e
• Interpretação.
45

Protocolo da ACV

Objetivo e
Escopo
Aplicações:
•-Desenvolvimento
De produtos;
•-Planejamento
Inventário
Interpretação Estratégico;
•-Estabelecimento
De políticas públicas;
•-Marketing
Avaliação de •-Outras
Impacto
Ambiental

Figura 14 - Protocolo da ACV.


Fonte: ABNT (2001b)

a) Definição do objetivo e escopo


A definição do escopo da análise de ciclo de vida deve incluir os seguintes itens:
• A funcionalidade do sistema, ou, no caso de estudos comparativos, dos sistemas;
• A unidade funcional;
• Sistema a ser estudado;
• Fronteiras do sistema;
• Forma de alocação adotada;
• Tipos de impacto e metodologia usada na avaliação e interpretação dos mesmos;
• Dados necessários;
• Hipóteses e critérios adotados;
• Limitações;
• Qualidade requerida para os dados;
• Critérios empregados na revisão crítica (se houver);
• Tipo e formato do relatório necessário ao estudo.
46

A unidade funcional - um dos mais importantes balizadores da ACV pode ser


definida como a medida do desempenho das saídas funcionais do sistema de produto.
O propósito principal da unidade funcional é fornecer uma referência para assegurar
a comparabilidade dos resultados da ACV. Por exemplo, a unidade funcional para
um sistema de pintura pode ser a área protegida por um período de tempo específico
(ABNT, 2001b).

Segundo Chehebe (1998), pode-se visualizar melhor esta etapa quando se associa o
escopo às três dimensões, que devem ser definidas de forma a atender ao
estabelecido nos objetivos do estudo:
-Primeira (Extensão)- Onde iniciar e parar o estudo;
-Segunda (Largura) - Quantos e quais subsistemas incluir;
-Terceira (Profundidade) – Nível de detalhes do estudo.

É importante definir se o estudo em questão é para comparação de produtos ou


somente para o estabelecimento de uma relação com um determinado padrão, por
exemplo, selo verde. Do mesmo modo, o estudo pode visar o desenvolvimento de um
produto novo, ou simplesmente conhecer em detalhes os aspectos e impactos
ambientais de um produto já existente.

Por fim, considerando-se que se trata de um processo iterativo, deve-se revisar e


adequar o seu escopo no decorrer do estudo.
47

b) Análise do inventário
Nesta etapa, são compilados e quantificados os principais fluxos de massa e energia
que transpõem as fronteiras econômicas e ambientais do sistema, podendo ser
dividida da seguinte forma, segundo Guinée (Guinée, 2001):

Definição das fronteiras - Envolve a definição de quais fluxos relevantes do ponto de


vista ambiental, serão considerados para só então se estabelecer a fronteira. Um caso
típico é o das florestas e outros sistemas biológicos, conforme mostrado na Figura
17.

(a)

Floresta nativa

(b)

Emissões
Luz solar do aterro
CO2
Água
Minerais
Floresta plantada

Figura 15 - Duas formas de limites do sistema, considerando-se fronteiras estreitas


(a) e amplas (b).
Fonte: Guinée (2001)

Outro ponto interessante a considerar no exemplo da Figura 15 é: o aterro deve ser


incluído dentro da fronteira? Dependendo do projeto e operação do aterro, ele pode
ser considerado parte do sistema, e as emissões serão os fluxos cruzando a fronteira.
Por outro lado, no caso da disposição sem qualquer controle, ele deverá ficar fora,
assim sendo, o fluxo de material cruzando a fronteira, será o próprio resíduo
depositado no aterro.
48

Balanços de massa e diagramas – Consiste em elaborar um diagrama de blocos com


os principais componentes do sistema, tendo como elemento central a unidade
funcional. Haverá, portanto, ramificações associadas às etapas anteriores (insumos e
matérias-primas) e posteriores (gestão dos resíduos) a esta unidade funcional.

Após esse desenho, segue-se o levantamento de todos os dados relevantes associados


ao sistema, conforme sugerido na Figura 16. Também é necessário fazer um
refinamento dos dados disponíveis em relação ao escopo proposto, de forma a evitar
perda de tempo e de recursos na busca por dados que podem ser suprimidos ou
estimados.

Na seqüência, deve ser identificado se há necessidade de alocação de fluxos e das


intervenções nos processos que são comuns a mais de uma unidade funcional, como
no caso da reciclagem e do co-processamento. Deve-se considerar também na
alocação dos fluxos outras funções que o produto possa ter. O detalhamento dos
cuidados que se deve ter nestes casos foge do escopo deste trabalho e pode ser
encontrado nos sites listados no anexo A e em Chehebe(1998) e Leiden University
(2001).

Entradas Saídas

Produtos
Produtos
Produtos Unidade Serviços
Serviços
Materiais
Materiais Fluxos
Fluxos Energia do Energia

processo Resíduos
Resíduos

Emissões atmosféricas
Emissões hídricas
Consumo de recursos bióticos
Consumo de recursos abióticos Resíduos sólidos
Alteração do solo Radiação
Uso do solo Ruído
Poluição térmica
Danos aos seres vivos
Etc.
Intervenções
no meio Intervenções
ambiente no meio
ambiente

Figura 16 - Principais categorias dos dados do inventário.


Fonte: Chehebe (1998).
49

As conclusões da análise do inventário são os cálculos dos fluxos associados à


unidade funcional, como pode ser visto, por exemplo,
no processo de polimerização de 1 kg de PVC, disponível no
URL:http://service.eea.eu.int/envirowindows/lca/tab341.htm. Neste exemplo, são
calculados os fluxos de 42 componentes relacionados a insumos, combustíveis e
emissões.

O inventário pode conter também indicadores qualitativos e relevantes para o sistema


em questão, e que devem ser considerados na ACV.

c) Avaliação do impacto ambiental


A avaliação do impacto ambiental é a terceira fase da ACV, composta, segundo
“Draft” ISO Standard 14042.33 (ISO, 2002), pelos seguintes itens mandatários e não
mandatários:
Itens mandatários:
I. Seleção das categorias de impactos, indicadores e modelos;
II. Classificação das categorias de impacto ambiental;
III. Estimativa dos impactos;

Itens não mandatários:


IV. Normalização dos indicadores em relação ao valor de referência;
V. Agrupamento;
VI. Atribuição de pesos e
VII. Análise da qualidade dos dados.

O emprego de todos os itens (mandatários e não mandatários) ou parte deles


dependerá do escopo e aplicação da ACV.

I. Seleção das categorias de impactos, indicadores e modelos (EEA, 1998b)


As premissas para seleção das categorias de impacto, indicadores e modelos são:
• Ser consistentes com os objetivos e escopo do estudo;
• Ter embasamento científico e técnico;
50

• Apresentarem descrição detalhada e precisão;


• Ter consistência e relevância ambiental.

A European Environmental Agency (EEA) relaciona as seguintes categorias de


impacto:

Impacto devido ao uso de recursos abióticos – Materiais que são extraídos da


natureza para serem utilizados como insumos ou matérias primas para fabricação de
produtos.

Impacto devido ao uso de recursos bióticos - Recursos retirados ou extraídos da


natureza, como por exemplo, fauna e flora.

Impacto pelo uso do solo: - Refere-se à utilização do solo relacionada com o estudo
em questão (áreas produtivas, parque industrial, disposição de resíduos, etc.)

Efeito estufa: - Efeito de aquecimento da Terra em função do lançamento de gases


(CO2; CH4, CO, NOx, etc.) na atmosfera, causando elevação na temperatura média
dos oceanos e mudanças climáticas na Terra como um todo.

Depleção da camada de ozônio: - Efeito de redução da camada de ozônio na


estratosfera devido à emissão de gases CFCs, tendo como conseqüência danos aos
seres humanos e ecossistemas.

Impactos ecotoxicológicos: - Relacionados aos efeitos químicos e biológicos de


substâncias nos ecossistemas. Esses efeitos podem ser expressos pela seguinte
expressão:
Sinm = Eim Finm Min; eq.(1)
Onde:
Sinm = Efeito ambiental da substância “i” no meio “n” e transferido para o meio “m”;
Eim= Efeito ambiental da substância “i” no meio “m” (ar, água, solo e cadeia
alimentar);
51

Finm= Efeito ambiental de exposição da substância “i” relacionado com


bioacumulação, degradação e toxicidade; do meio “n” para o meio “m” (ar, água,
solo e cadeia alimentar);
Min= Emissão inicial da substância “i” no meio “n” (ar, água ou solo);

Embora exista uma série de modelos para estimar os efeitos ecotoxicológicos


relacionados com a exposição a diferentes agentes químicos, até o momento não
houve consenso internacional sobre esse tema. Por esta razão, a EEA recomenda
utilizar mais de um método quando da estimativa dos impactos ecotoxicológicos
(EEA,1998b).

Impactos toxicológicos aos seres humanos: - Esta pode ser considerada a categoria
mais complexa de todas, uma vez que esses efeitos dependem das características
químicas e bioquímicas da substância, das condições intrínsecas de cada indivíduo,
da presença de outras substâncias que potencializam ou retardam o seu efeito, da
dose, da forma e do tempo de exposição. Os efeitos nos seres humanos podem ser:
• Agudos;
• Mutagênicos;
• Carcinogênicos;
• Neurotóxicos;
• Teratogênicos.

Da mesma forma como ocorre nos impactos ecotoxicológicos, foram desenvolvidos


vários métodos para estimar os efeitos tóxicos nos seres humanos. Além dos
cuidados salientados no item anterior, é interessante identificar os compostos mais
perigosos para a saúde humana antes de estimar os impactos.

Impactos devido aos oxidantes fotoquímicos: -Refere-se à formação de ozônio na


troposfera, decorrente de reações fotoquímicas dos compostos nitrogenados com os
compostos orgânicos voláteis, tendo como conseqüência danos à vegetação (afeta a
fotossíntese, superfície das folhas, etc.) e aos seres humanos (irritações nos olhos,
problemas respiratórios agudos e crônicos, entre outros).
52

Acidificação: Refere-se à deposição ácida em solos e águas, que ocorre devido à


conversão das emissões de óxidos de enxofre e de nitrogênio na atmosfera a ácidos
sulfúrico e nítrico, respectivamente. Pode ser avaliado pelo potencial de acidificação,
medido em equivalentes de SOx.

Eutrofização: - Refere-se ao lançamento de nutrientes nos corpos de água, causando


crescimento excessivo da biomassa de algas e por conseqüência, provocando
impactos aos ecossistemas como alteração da biodiversidade e danos à saúde
humana.

Impactos decorrentes das atividades produtivas: - Refere-se aos impactos


toxicológicos aos seres humanos associados às condições de trabalho. Com relação a
esta categoria de impacto, pesquisadores da Universidade de Leiden – Holanda
elaboraram um relatório detalhado – “LCANET Theme Report – Work Environment
and LCA” (Potting et al., 1997) onde é discutida a sua inclusão em análise de ciclo
de vida (Leiden University, 2001).

Na Tabela 3 são apresentadas as categorias de impacto utilizadas por diferentes


organismos internacionais envolvidos com ACV.

Tabela 3 - Categorias de impacto ambiental segundo diferentes organismos.


SETAC – SETAC – lista de Países Nórdicos Lista preliminar
Abrangência
Europa-1992 referência- 1996 1995 ISO – 1995
Uso inadequado Uso inadequado
Não
dos recursos Energia e materiais dos Recursos Global
renováveis
abióticos abióticos
Uso inadequado Uso inadequado
Pouco
dos recursos - dos Recursos Global
renováveis
bióticos bióticos
- - Impactos à água - -
Impactos no solo
Uso inadequado do Uso inadequado
- ou uso inadequado Local
solo do solo
do solo?
53

SETAC – SETAC – lista de Países Nórdicos Lista preliminar


Abrangência
Europa-1992 referência- 1996 1995 ISO – 1995
Efeito estufa/
Efeito estufa Efeito estufa Efeito estufa Mudanças Global
climáticas
Depleção da
Depleção da Depleção da
- camada de Global
camada de ozônio camada de ozônio
ozônio
Global,
Toxicidade Impactos Impactos à saúde
Toxicidade aos continental,
aos seres toxicológicos aos associados a
seres humanos regional e
humanos seres humanos agentes químicos
local
Impactos à saúde
- - associados a outros - -
agentes
Saúde Impactos à saúde
- - Local
ocupacional do trabalhador
Global,
Toxicidade Impactos Impactos continental,
Ecotoxicidade
ambiental ecotoxicológicos ecotoxicológicos regional e
local
Formação de Continental,
Formação de Formação de foto- Formação de foto-
oxidantes regional e
foto-oxidantes oxidantes oxidantes
fotoquímicos local
Continental,
Acidificação Acidificação Acidificação Acidificação regional e
local
Eutrofização Continental,
Eutrofização (Inclui DBO e Eutrofização Eutrofização regional e
aquecimento) local
DQO - - - Local
Poluição
- - - Local
térmica
Incômodo Odor - - Local
(ruído, odor) Ruído Local
54

SETAC – SETAC – lista de Países Nórdicos Lista preliminar


Abrangência
Europa-1992 referência- 1996 1995 ISO – 1995
Local e
Radiação - -
regional
Demanda de
- - - Local
espaço
Resíduos Local e
- - -
perigosos regional
Local e
Resíduos - - -
regional
- Acidentes - - Local
Mudanças no
- - Hábitat e impactos - Local
na biodiversidade
Fonte: EEA (1998b)

II. Classificação das categorias de impacto


É a etapa de análise qualitativa na qual os dados do inventário são correlacionados
com as categorias de impactos ambientais. Como pode ser observado na Tabela 3,
ainda não há consenso sobre as categorias de impacto e sobre a sua abrangência.

III. Estimativa/caracterização dos impactos


Consiste da transformação do valor estimado de um determinado indicador para um
índice relacionado com os impactos analisados. Como por exemplo: potencial de
aquecimento global, potencial de acidificação, potencial de formação fotoquímica de
ozônio, entre outros.

Os demais itens não mandatários (normalização, agrupamento, atribuição de pesos e


análise da qualidade dos dados) são ferramentas que visam ao adequado
entendimento e alocação dos dados, de forma a garantir sua integridade e pertinência
em relação ao escopo proposto. A análise estatística dos dados pode ser feita segundo
recomendações constantes na ISO/FDIS 14041 (EEA,1998b).
55

A normalização visa correlacionar os indicadores obtidos com valores conhecidos e


referenciados a um mesmo produto, região ou limites legais, de forma a associar a
contribuição dos efeitos ambientais identificados no estudo com os efeitos existentes
no meio (Pre Consultants, 2001a).

A atribuição de pesos para os indicadores normalizados permite associar outros


aspectos relevantes ao estudo. A atribuição de pesos é feita normalmente caso a caso
e, por isso, traz consigo grandes dificuldades metodológicas e de padronização. Em
vista disso, a ISO não recomenda sua utilização para análises de ciclo de vida abertas
ao público com objetivo de comparação de produtos (ABNT, 2001b).

De todas as etapas do protocolo da ACV, uma das mais discutidas e controversas é a


estimativa dos impactos, devido à inexistência de dados e de metodologias para
estimá-los (Pre Consultants, 2001a).

Um dos modelos propostos para avaliar os impactos é o modelo denominado –


“Ecoindicador 99”, no qual os dados obtidos no inventário são classificados,
normalizados e estimados segundo metodologia proposta por um grupo de
pesquisadores holandeses (Pre Consultants 2001b).

A Figura 17 apresenta a seqüência básica para obtenção do indicador proposto pelo


modelo “Ecoindicator 99”.

Resultado Impactos
do inventário nos
recursos
Inventário Recursos naturais
Aplicação Atribuição
de todos os
de de pesos
fluxos
modelos Impactos para
associados Indicador
para nos as
aos Uso do solo
estimar ecossistemas categorias
processos
os de
de um
impactos impacto
produto Impactos
Emissões nos
seres
humanos

Figura 17 - Procedimento para cálculo dos ecoindicadores


Fonte: Goedkoop et al. (2000)
56

uPt
Sacos de papel Sacos de plástico

100 94,8

80

60 49,9

40

20

Efeito estufa Ozônio


Acidificação Eutrofização
Metais Carcinogenicidade
Smog (inverno) Smog (verão)

Figura 18 - Exemplo de apresentação dos resultados de um estudo comparativo


hipotético, após estabelecimento de pesos para os impactos avaliados.
Fonte: Pré consultants (2001b).

Pode-se notar no exemplo hipotético apresentado na Figura 18, que os sacos de papel
apresentam menor impacto ambiental, uma vez que a soma dos ecoindicadores
padronizados é inferior àquela obtida para os sacos de polietileno. Neste estudo
foram adotados os seguintes pesos para as categorias analisadas:
• Impactos aos seres humanos: 40%
• Impactos ao meio ambiente: 40%
• Impactos relacionados ao uso dos recursos naturais: 20%

A unidade padrão de impacto ambiental é micropontos (µPt) e reflete a quantificação


dos impactos em todas as etapas do ciclo de vida do produto. No
site:http://www.pre.nl é possível se obter mais informações sobre a metodologia de
quantificação dos impactos, bem como ter acesso ao banco de dados dos valores
específicos estimados. Por exemplo, para energia elétrica esses valores são expressos
em µPt/kWh.
57

A Figura 19 mostra de forma gráfica os resultados da análise de ciclo de vida de uma


cafeteira, utilizando-se a metodologia denominada –“Ecoindicador 99”. O tamanho
das caixas representa a contribuição parcial dos diferentes processos na pontuação
total dos impactos avaliados. Pode-se observar que o principal impacto está
associado ao consumo de energia.

Alumínio Aço Vidro


Poliestireno
Papel

Processamento

Distribuição

Eletricidade
Uso

Disposição

Figura 19 - Representação gráfica de uma análise de ciclo de vida utilizando-se a


metodologia “Ecoindicador 99”.
Fonte: Goedkoop et al. (2000).

Maiores informações sobre a metodologia, inclusive com uma detalhada discussão


sobre a atribuição de pesos (significância) para os impactos é feita no manual: “The
Ecoindicador 99 – A Damage Oriented Method for Life Cycle Impact Assessment”,
disponível para cópia no site:http://www.pre.nl/.

d) Interpretação
A última etapa do protocolo da ACV é a interpretação dos resultados obtidos face
aos objetivos propostos. Trata-se de um processo interativo, alinhado com as três
fases do protocolo e deve considerar os seguintes itens:
• Identificação dos aspectos ambientais relevantes;
• Avaliação da metodologia e dos resultados obtidos, incluindo-se a qualidade dos
dados;
• Conclusões e recomendações.
58

Segundo especialistas, de todas as etapas do protocolo da ACV a interpretação é a


menos estudada até o momento. Guinée (2001) apresentou uma proposta de
operacionalização desta etapa na publicação: “Handbook of Life Cycle Assessment –
Operational Guide to the ISO Standards”, Universidade de Leiden, 2001.

3.4.4.2.2 Principais aplicações da Análise de Ciclo de Vida (ACV)

a) Extensões

Considerando-se os níveis de aplicação do conceito de ciclo de vida, a União


Européia considera basicamente três extensões (EEA, 1998b):

• Nível conceitual, no qual a abordagem baseia-se em inventário qualitativo. O


objetivo é responder perguntas como:
-Esse produto difere significativamente dos similares da concorrência?
-Esse produto tem vantagens inequívocas com respeito aos aspectos ambientais?
Este conceito parte do pressuposto que para algumas estratégias relativas aos
“produtos verdes” não há necessidade de um inventário detalhado para identificar
vantagens ambientais.

• Análise Simplificada, na qual é feito um inventário, que pode ser qualitativo ou


quantitativo de todas as etapas do ciclo de vida, focando-se somente os aspectos e
impactos ambientais mais significativos.

O objetivo da análise simplificada é obter os mesmos resultados da análise detalhada,


reduzindo-se custos e tempo dedicado neste trabalho. No entanto, a simplificação
confronta-se com o dilema da confiabilidade e qualidade dos resultados obtidos.
As principais etapas são:
1. Levantamento inicial - Visa identificar os principais componentes do processo, os
fluxos mais importantes e a necessidade de dados adicionais, se for o caso;
59

2. Simplificação - Usando os dados obtidos na etapa inicial, define-se quais são os


processos e fluxos mais relevantes do sistema;
3. Verificação - Avaliar se as simplificações não reduziram a significância dos
resultados obtidos.

Dependendo da aplicação, os dados podem ser qualitativos ou quantitativos.


Indicadores como consumo de energia, intensidade de material por unidade de
produto, produtos-chaves (associados a um ou mais impactos ambientais) podem ser
usados como guias para identificar os principais pontos do sistema (“hot spots”). Por
outro lado, indicadores relacionados somente a uma característica do produto, como,
por exemplo, degradabilidade, devem ser usados em combinação com os demais
indicadores. Embora os estudos simplificados possam ser reportados externamente,
eles são normalmente usados internamente pelas empresas.

Análise detalhada, segundo especialistas da União Européia, este tipo de abordagem


demanda um considerável esforço, e ainda pode ser considerada um desafio devido
às dificuldades de metodologia.

A Tabela a seguir mostra o nível de detalhamento da análise de ciclo de vida em


algumas aplicações:

Tabela 4 - Nível de detalhamento.


Nível da ACV
Aplicação Conceitual Simplificado Detalhado Observações
Design for
X X Sem ligação formal com ACV
Environment (DfE)
Desenvolvimento de.
X X X Abordagem variada
produto
Melhoria em
X Associada a produtos existentes
produtos
Selos verdes tipo II X Raramente associada a ACV
60

Nível da ACV
Aplicação Conceitual Simplificado Detalhado Observações
Critérios de desenvolvimento
Selos verdes tipo I X
usam conceitos da ACV
Inventário e/ou análises de
Selos verdes tipo III X
impacto
Inclusão da ACV em relatórios
Marketing ambiental X X
de performance
Planejamento Conhecimento e aplicação
X X
estratégico gradual do conceito da ACV
Declaração ACV não é tão detalhada como
X X
ambiental nos selos verdes
Reduzido número de parâmetros
Bônus ambientais X
na ACV
Reduzido número de parâmetros
Taxas verdes X
na ACV
Inventário detalhado
Escolha de
X X Resultados da ACV são
embalagens
abrangentes no nível de empresa
Fonte: EEA (1998b).

b) Aplicações no setor privado

As principais aplicações no setor privado são:


• Desenvolvimento de produtos;
• Marketing;
• Planejamento estratégico.

A aplicação depende bastante da posição em que a empresa está situada na cadeia


produtiva e dos mecanismos reguladores legais e de mercado. Empresas produtoras
de “commodities”, como plástico e metais, normalmente, elaboram inventários para
avaliar a geração de resíduos e oportunidades de reciclo ou reúso.
61

As empresas produtoras de componentes enfocam os aspectos relacionados ao design


e à manufatura, com objetivo de gerar informação aos consumidores e minimizar os
impactos ambientais.

Nas empresas fornecedoras de bens de mercado, na maioria das vezes, não é viável a
realização da ACV, devido à insuficiência de dados, à curta duração do
desenvolvimento dos produtos, ao tempo requerido para a análise do ciclo de vida e
sua complexidade.

• Desenvolvimento e otimização de produtos


Os principais objetivos no desenvolvimento e otimização dos produtos são: a
prevenção à poluição, a redução no uso de matérias primas e energia e o aumento da
reciclagem. A metodologia denominada – “Design for Environment - DfE” – que
agrupa um conjunto de métodos que incorporam a variável ambiental no “design” de
produtos, apresenta grande similaridade com a ACV, muito embora esses conceitos
tenham sido desenvolvidos inicialmente sem um vínculo formal.

Os principais temas enfocados no DfE são:


- Seleção de materiais; redução dos impactos durante a manufatura;
- Uso do produto,
- Reciclo e reúso de produtos e componentes,
- Extensão da vida útil de produtos e de seus componentes e
- Disposição final segura.

A Figura 20 ilustra as diversas fases de desenvolvimento de um produto e como se


pode integrar ferramentas como a ACV neste processo.

O tipo da ACV a ser utilizado (detalhado, conceitual ou simplificado) dependerá da


disponibilidade de dados, complexidade do produto, aplicação, entre outros.
Vários programas que incorporam a variável ambiental no desenvolvimento de
produtos estão sendo conduzidos no mundo. Maiores detalhes sobre esses programas
e pesquisas podem ser obtidos nos sites recomendados no anexo A.
62

Elementos ou
Etapa
Ferramentas Grupo
De
Ecoprodutos
Planejamento

Seleção do
produto
Estimativa do
Sucesso do
produto ACV

Análise do
Problema e
Definição das
prioridades

Marketing Matriz de:


Materiais
Efeitos toxicológicos
Energia
Avaliação
Conceito e
Estabelecimento
De impactos Detalhes do
De alternativas
design

Brainstorming
ACV
Checklist

Figura 20 - Fases do desenvolvimento de um produto.


Fonte: Cowell et al. (1997)

• Marketing
O marketing é uma forma já consolidada de comunicação e divulgação das
propriedades de um produto ou serviço, visando atender as necessidades e
expectativas dos consumidores. À medida que aumenta o nível de informação e de
conscientização ambiental, cresce a atenção dos consumidores para os aspectos
ambientais dos produtos.

A partir desta constatação, muitas empresas passaram a priorizar o marketing


ambiental, e houve evolução dos modelos de avaliação e divulgação de desempenho
ambiental dos produtos, com o aprimoramento dos sistemas de gestão. Notadamente:
• Selos verdes (selos tipo I);
• Manifestos ou autodeclaração (selos tipo II)
• Declarações ou rótulos ambientais - (selos tipo III);
• Marketing organizacional (ISO 14001, EMAS, BS 7750)
63

Selos Verdes
O principal objetivo dos selos verdes é estimular a produção de bens e serviços com
menor impacto ambiental, de modo que o consumidor possa identificá-los.
Existem, atualmente, um grande número de selos verdes ratificados por países ou
organizações supra-governamentais, como por exemplo: Nordic Swan (países
nórdicos), The Blue Angel (Alemanha), Green Seal (Estados Unidos da América),
etc.
Estes selos foram desenvolvidos para diferentes produtos e possuem critérios
revisados periodicamente, que nem sempre são claros e justificáveis.

Na União Européia, por exemplo, uma comissão formada por diferentes


organizações, estabeleceu seis fases para a definição dos critérios ambientais a serem
contemplados no selo verde – EU Ecolabel:
• Fase I - Estudo preliminar;
• Fase II - Estudo de mercado;
• Fases III e IV - Inventário e avaliação de impacto ambiental;
• Fase V - Escolha de critérios;
• Fase VI - Elaboração de uma proposta preliminar para validação pela comissão.
Do ponto de vista da indústria, não é preciso executar a ACV para poder ter um
produto com selo verde, basta que os integrantes da cadeia produtiva atendam os
critérios definidos para o mesmo.

A ISO (International Organization for Standardization) está desenvolvendo um


padrão de selo tipo I (ISO 14020) que utiliza a metodologia de análise de ciclo de
vida.

A publicação “Life Cycle Assessment” feita pela Agência ambiental da União


Européia, disponível no URL:http://service.eea.int/envirowindows/lca/ apresenta
mais detalhes sobre os selos verdes e estabelece “links” com vários organismos
certificadores. Além deste, a SETAC, apresenta no seu site:http://www.setac.org/, na
parte sobre ACV, um grande número de informações sobre o tema. A EPA por sua
64

vez, também fez uma extensa revisão sobre os selos verdes, na publicação de 1998,
denominada: “Environmental Labelling Issues, Policies, and Practices Worldwide”,
disponível no URL:http://www.epa.gov/greenbuildings/environmental-
labeling/report.html. Neste compêndio são apresentados 54 programas relacionados à
certificação de produtos em mais de 30 países (USEPA, 1998a).

Manifestos ou auto-declarações ambientais

São selos ou afirmações que indicam aspectos ambientais associados a produtos ou


serviços, na forma de símbolos, frases, boletins técnicos, propaganda, ou qualquer
outra forma de divulgação. Normalmente são de abordagem unidimensional do tipo:
“produto isento de CFC”; “produto biodegradável”; etc.
Este tipo de abordagem tende a decrescer devido à mudança do perfil dos
consumidores e à maior preocupação com as questões ambientais.

Declarações ou rótulos ambientais


A declaração ambiental pode ser uma importante ferramenta de marketing, à medida
que fornece informações ambientais provenientes do inventário do ciclo de vida, por
meio de índices, gráficos, etc.

Basicamente, a idéia é apresentar em forma de gráfico, tabelas, ou qualquer outra


representação, os principais impactos ambientais associados a um determinado
produto.

O rótulo ambiental permite comparação dos principais impactos ambientais


associados aos produtos em questão, permitindo ao consumidor escolher aquele de
menor importância. Já por meio dos selos verdes, não é possível distinguir se um
produto é melhor ou pior do que outro.

Grande esforço está sendo feito nos comitês técnicos da ISO (ISO TC
207/SC3/WG1) para padronizar essa ferramenta, incluindo-se requisitos mínimos de
65

metodologia, transparência, revisão externa, componentes certificáveis e


procedimentos que balizam a certificação e habilitação dos órgãos certificadores.

O principal obstáculo a esse tipo de certificação é transcrever para o consumidor um


grande número de informações. Além disso, é necessário o levantamento e a
disponibilização de informações sobre produtos de diferentes fabricantes e
fornecedores e por fim, a descodificação da linguagem técnica de tal forma que o
consumidor possa compreendê-la.

A Tabela 5 apresenta as principais diferenças entre os selos verdes e a declaração


ambiental.

Tabela 5 - Fases do desenvolvimento de um produto.


Declaração ou rótulo
Parâmetro Selo verde
ambiental
Inventário detalhado ou ACV O conceito é utilizado na
Tipo da ACV
simplificado escolha de critérios
Positiva (avaliação por
Tipo de avaliação Neutra
especialistas)
Somente 10 – 30% dos
Número de produtos Todos em princípio
melhores do grupo
Revendedores, compradores
Grupo de alvo especializados, consumidores Consumidores em geral
verdes
Nível de informação Complexo Simples
Diagramas, gráficos de barras,
Forma de informação Selo
valores de referência
Sim , quando há mais de uma
Permite comparação Não
declaração
Revisão Quando mudar o produto Têm revisões periódicas
Fonte: Cowell et al. (1997)
66

De todos os selos, somente os do tipo III utilizam análise de ciclo de vida como pré-
requisito.

Os sistemas de gestão nos moldes da ISO 14001, EMAS ou BS 7750 encorajam as


empresas a implementar programas como a ACV, embora não tenham correlação
explicita com os mesmos, uma vez que são voltados para a organização e não para o
produto.

• Estratégia das empresas


A integração dos aspectos ambientais na estratégia das empresas está cada vez mais
presente nas corporações modernas. Esta mudança de comportamento foi induzida
por fatores como: pressão dos consumidores, atendimento à legislação, pressão da
sociedade por melhoria de desempenho ambiental e oportunidades de mercado.
Em muitos casos, as características ambientais de um produto passam a ser uma
propriedade intrínseca, fazendo com que a utilização de uma ferramenta como a
ACV permita as comparações com os produtos existentes, e também possibilite
identificar novos segmentos de mercado. As estratégias básicas associadas à
demanda de mercado versus desempenho ambiental dos produtos estão mostradas na
Figura 21.

A utilização nas empresas esbarra na dificuldade de entendimento da alta gerência e


dos empregados em diferentes níveis, fazendo com que sejam necessários programas
especiais de treinamento e conscientização.

Um bom exemplo dos desafios de implementação de um programa da ACV foi


apresentado no Congresso sobre Eco-eficiência em Malmo – Suécia, no trabalho:
“Ecoefficient products and services through LCA in R&D/design”. Os autores
apresentaram os resultados de uma pesquisa realizada na empresa ABB, na qual
foram avaliadas a percepção e a utilização da ACV pelos principais envolvidos no
programa.
67

Os resultados indicaram que embora a maioria dos entrevistados percebesse a ACV


como uma ferramenta útil, ela de fato não tinha sido integrada nas atividades do dia-
a-dia, como foi constatado pelo baixo tempo dedicado pelos envolvidos nas
atividades relacionadas ao projeto - em média, menor do que um mês durante todo o
ano de 2000 (Laestadius et al.,2000).

D e se m p e n h o a m b ie n t a l

Alto

Estratégia:
Focar em desempenho Estratégia:
ambiental em Vender
outro segmento

Alto
P ot e n cia l d e
Baixo
m e r ca d o
Estratégia:
Estratégia: Iniciar projeto de
Mudar o produto produtos
sustentáveis

Baixo

Figura 21 - Estratégias relacionadas ao desempenho ambiental e ao potencial de


mercado.
Fonte: EEA (1998b)

c) Aplicações no setor governamental


O conceito de desenvolvimento sustentável foi incluído nas agendas da maioria dos
países desde a Conferência de Meio Ambiente em 1992, no Rio de Janeiro. Mesmo
na ausência de uma definição precisa do que seja o desenvolvimento sustentável, fica
claro que a análise do ciclo de vida vai ao encontro do conceito de sustentabilidade.
Embora a ACV não seja a única resposta para essa questão, é sem dúvida, uma
abordagem estratégica que pode nortear ações e políticas públicas voltadas para a
sustentabilidade.
68

As principais aplicações no setor governamental são:


• Políticas orientadas para produtos;
• Políticas de gestão de resíduos,
• Subsídios e taxas;
• Políticas setoriais.
Utilizando-se do conceito de ciclo de vida de produtos, muitos países têm
desenvolvido programas que visam reduzir os impactos ambientais associados à
produção e ao consumo de produtos, como acontece com a Dinamarca. Neste país,
um comitê formado por representantes do governo, da indústria e dos consumidores
elaborou um guia com informações sobre os principais aspectos e impactos
ambientais de produtos, baseando-se na análise simplificada do ciclo de vida. Para
alguns produtos são fornecidas somente informações qualitativas, como por exemplo,
tecnologia, enquanto que para outros, são compilados dados de consumo de energia,
de água, etc. (EEA,1998b).

No entanto, pode-se dizer que até o momento o maior uso seja na gestão de resíduos
e de embalagens.

A análise de ciclo de vida tem sido utilizada como suporte para estabelecimento de
políticas de gestão de embalagens, muito embora a ACV não forneça dados
inequívocos que permitam assegurar o desempenho superior ou inferior de diferentes
produtos ou materiais. Casos como, por exemplo, os de embalagem de leite, bebidas
e refrigerantes desencadearam grandes debates, ressaltando-se que por trás de
questões puramente metodológicas, existem grandes interesses comerciais. Mais
detalhes sobre essa questão podem ser encontrados em diversas publicações
disponíveis em meio eletrônico, nos sites citados no anexo A.

3.4.4.2.3 Limitações e perspectivas para a ACV

A principal característica - sua natureza holística - é ao mesmo tempo sua maior


qualidade e sua maior limitação, segundo Guinée (2001).
69

A ACV não identifica os impactos locais relacionados à atividade ou processo, além


disso, ela não aborda os aspectos sociais e econômicos. Do mesmo modo, não é
possível relacionar os impactos a uma escala temporal.

Embora ela pressuponha uma base científica, sua execução envolve uma série de
estimativas e alocações, que podem comprometer seus resultados.

Por último, a limitação desta metodologia envolve a baixa qualidade dos dados
disponíveis, que além de não permitir comparações, muitas vezes estão obsoletos.

No entanto, mesmo com grandes desafios a vencer, principalmente metodológicos, a


sua utilização tende a aumentar como ferramenta estratégica de gestão e no
desenvolvimento de produtos, devido à maior demanda da sociedade.

Além disso, em função das discussões do que é melhor ou pior ambientalmente,


deverá haver uma grande evolução na metodologia de avaliação e mensuração dos
impactos, segundo análise dos especialistas da European Environmental Agency –
EEA (EEA, 1998b)

3.4.4.3 Avaliação de desempenho ambiental

A avaliação de desempenho ambiental envolve uma questão básica - não se pode


gerir o que não é medido. Por outro lado, requer também a seleção de indicadores
que possam enfocar os principais aspectos ambientais de uma organização de forma
vinculada aos critérios de sustentabilidade e de eco-eficiência.
70

3.4.4.3.1 Indicadores de eco-eficiência

O conceito de eco-eficiência contém dois importantes ingredientes: a economia e a


sustentabilidade. A sua implementação requer a mensuração do desempenho
ambiental considerando-se essa “mistura” de ingredientes. Transcrever isto em
números é um dos grandes desafios da sustentabilidade.

Segundo o WBCSD (World Business Council for Sustainable Development), os


indicadores ambientais devem seguir os seguintes princípios (EEA, 2000):
• Ser relevantes para a proteção do meio ambiente, para a saúde humana e para a
qualidade de vida;
• Informar e servir de base para os tomadores de decisão quanto ao desempenho
ambiental de uma organização;
• Reconhecer a diversidade de negócios;
• Promover a comparação e permitir acompanhar a evolução ao longo do tempo;
• Ser bem definidos, de fácil mensuração e verificação;
• Ser de fácil compreensão e significativos para todas as partes interessadas;
• Abranger todos os processos de uma empresa ou organização, incluindo produtos
e serviços, enfocando principalmente os processos que estão sob seu controle e
gestão direta; e
• Reconhecer outros aspectos importantes do negócio como fornecedores e o uso
dos produtos durante a sua abordagem.

Principais categorias de indicadores

Segundo o WBCSD, pode-se dividir os indicadores em três diferentes categorias


associadas a:
• Valor do produto ou serviço;
• Influência ambiental relativa à fabricação ou criação do serviço ou produto; e
• Influência ambiental associada ao uso do serviço ou produto.
71

Esse conceito também está alinhado com a terminologia adotada pelas Normas ISO
14000.

Em cada categoria são relacionados os seus aspectos significativos, como está


apresentado na Figura 22.

Valor do produto ou serviço Influência ambiental associada ao


uso do produto ou serviço
Volume ou massa
Características do produto ou serviço
Valor monetário
Geração de resíduos (embalagem)
Função
Consumo de energia
Influência ambiental associada à Emissões durante o uso e/ou disposição
criação ou fabricação do produto ou
serviço
Consumo de energia
Consumo de matérias-primas
matérias primas Valor do produto ou serviço
Indicador =
Consumo de recursos naturais Influência ambiental
Geração de sub
-produtos e rejeitos
Eventos não programados

Figura 22 - Aspectos relevantes para as diferentes categorias de indicadores de eco-


eficiência.
Fonte: WBCSD (2000b)

Os indicadores também podem ser segregados segundo sua aplicação, ou seja,


quando aplicáveis a qualquer tipologia de organização – são denominados genéricos;
ou específicos – quando forem particularizados a uma determinada tipologia ou
segmento.

• Indicadores genéricos
Esses indicadores podem ser aplicáveisa qualquer tipo de organização, embora
possam ter significância bastante diferenciada dependendo do tipo de empresa. Eles
estão associados normalmente a padrões globais de mensuração de influência
ambiental e/ou de valor.

Para o WBCSD são considerados os seguintes aspectos relacionados aos indicadores


genéricos:
72

a) Valor de serviço ou produto:


− Quantidade de produto ou serviço produzido ou criado;
− Vendas líquidas;
− Valor agregado.
b) Influência ambiental:
− Consumo de energia;
− Consumo de matéria-prima;
− Consumo de água;
− Emissões de gases relacionadas ao efeito estufa (GHG);
− Emissões de substâncias redutoras da camada de ozônio;
− Emissões atmosféricas de substâncias que causam acidificação;
− Geração de resíduos.

Cabe ressaltar o grande esforço que vem sendo desenvolvido no mundo com o
objetivo de estabelecer indicadores ambientais “globais”, como, por exemplo, o
trabalho desenvolvido pela OECD – Organisation For Economic Co-Operation and
Development, no trabalho, denominado: “Key Environmental Indicators” publicado
em 2001. Neste, são abordados de forma detalhada os indicadores ambientais
relacionados à poluição e ao consumo de recursos naturais (OECD, 2001).

O estudo realizado pela OECD apresenta, ainda, a evolução desses indicadores nos
30 países membros desta organização.

Os indicadores-chave disponíveis e os de médio prazo propostos pela OECD são


mostrados na Figura 23.
73

Poluição Indicadores disponíveis Indicadores de médio prazo

Mudanças climáticas 1 Emissão de CO2 Índice de emissões de GHG

Índices doconsumo
Índice do consumode desubs. Índices
substâncias Índice do do consumo
consumo aparente
aparente desubs.
de subs.
Camada de ozônio 1
2
depletoras
depletorasda
da camada deozônio
camada de ozônio depletoras
depletorasdadacamada
camadade de ozônio
ozônio

Geração de resíduos nos Geração de resíduos baseada nos fluxo


Geração de resíduos 1
3
municípios de materiais
Exposição à poluição atmosférica
Qualidade do ar 1
4 Emissão de SOx e NOx
dos seres humanos

Lançamento de carga orgânica nos


Qualidade das águas 1
5 Índice de esgotos tratados
Corpos de água

Recursos naturais

Recursos hídricos 1
6 Intensidade do uso Incluir condição limite

Recursos florestais 1
7 Intensidade do uso Incluir condição limite

Peixes 1
8 Intensidade da pesca Relacionar com a disponibilidade

Biodiversidade 1
9 Número de espécies ameaçadas Especificar espécies e hábitats
habitats
de extinção
Energia 1
10 Consumo de Energia Criação de um índice

Figura 23 - Indicadores ambientais segundo a OECD.


Fonte: OECD (2001)

Do mesmo modo, a Figura 24 apresenta de forma simplificada os principais aspectos


relativos ao estabelecimento dos indicadores-chave.
74

Adaptados Usados Complementados


para os países em Indicadores com
De forma a se Ambientais
adequar as Indicadores setoriais
Monitoramento
suas do desempenho Transporte
peculiaridades Ambiental 40- 50 indicadores Energia
Agricultura
Consumo doméstico
Turismo
Revisão do Aspectos ambientais Outros
Desempenho
ambiental
Contabilização ambiental
Aspectos socioeconômicos
E Indicadores gerais Gastos com meio ambiente
Medição do
Uso de recursos naturais
progresso
Usos de recursos materiais
Com vias a
sustentabilidade

Disseminação da
Conscientização
ambiental
Seleção dos
e informação
Indicadores-chave
ao público

Figura 24 - Escolha dos indicadores-chave segundo metodologia OECD.


Fonte: OEDC (2001)

Na Tabela 6, a seguir, são apresentados alguns indicadores para diferentes categorias


e aspectos (WBCSD, 2000b).
75

Tabela 6 - Indicadores para diferentes categorias e aspectos.


CATEGORIA: VALOR DE SERVIÇO OU PRODUTOS
Aspecto Indicador Exemplo
Unidades vendidas Número
Unidades indexadas Número médio
Volume Número de empregados; homem-
Mão-de-obra
hora
Área Área construída
Quantidade vendida Kg; toneladas
Massa
Quantidade produzida Kg; toneladas
Vendas líquidas $$
Lucro líquido $$
Monetário Valor adicionado $$
Custos $$
Investimentos $$
Kg de roupas lavadas; m2 de
Funcional Desempenho do produto
parede rebocadas
Número de transações bancárias
Serviço entregue
efetuadas

Toneladas, volume de madeira


Rendimento agrícola
produzido
Durabilidade Quilômetros rodados; horas
Capacidade de transporte Toneladas-km; passageiros-km
Preço do produto $$
Outros relevantes
Fração de mercado %
76

CATEGORIA: INFLUÊNCIA AMBIENTAL (Fabricação, criação e uso)

Aspecto Indicador Exemplo


GigaJoules consumidos GJoules
GJoules de carvão, GJoules de
Combustíveis fósseis
Consumo de óleo
energia GJoules de fonte renovável ou
Fonte
não-renovável
Emissões Toneladas de SO2, NOx, etc.
Toneladas consumidas Toneladas
Toneladas de insumos primários e
Tipo
Consumo de secundários
materiais Virgem – reciclada, renovável –
Fonte
não-renovável
Características especiais Tóxicas –não tóxicas
Toneladas consumidas Água, madeira, minerais
Renovável-não renovável; m3 de
Consumo de
Fonte água subterrânea ou superficial,
recursos naturais
doce ou salina
Uso da terra ha de biodiversidade/espécie
Quantidade bruta gerada Toneladas
Quantidade tratada Toneladas
Emissões Toneladas (ar- solo e água)
Geração de
Toneladas de resíduos perigosos e
resíduos
não perigosos, toneladas de
Característica
poluentes prioritários –não
prioritários
Embalagem Toneladas vendidas Toneladas
(resíduo) Fonte Reciclada - virgem
Fonte: WBCSD (2000b).
77

No evento realizado em Copenhague em outubro de 1998, denominado: “Making


Sustainability Accountable”, coordenado pela European Environmental Agency, foi
feita uma avaliação dos principais eco-indicadores propostos por diferentes
organizações, ao mesmo tempo em que foi proposta uma abordagem sistemática para
esse tema (EEA, 1998a).

Foi introduzida a expressão: eco-intensidade , que representa o quociente entre o uso


da natureza e o bem-estar.

Eco-intensidade = Uso da natureza


Bem-estar

O uso da natureza é representado pela soma do consumo de materiais e energia, além


da geração de resíduos (M+E+P).

É proposta também uma classificação dos ecoindicadores em 04 tipologias, que


visam responder as seguintes questões:
• TIPO A: - “O que está acontecendo com o meio ambiente?”
• TIPO B: - “Quais os efeitos no meio ambiente?”
• TIPO C: - “Está ocorrendo melhoria em termos ambientais?”
• TIPO D: - “Qual a situação atual em relação aos demais indicadores de qualidade
de vida (por exemplo, evolução do PIB verde)?”

Como se pode observar, há necessidade de se criar parâmetros que representem tanto


o numerador quanto o denominador; o que não é nada simples.

Pode-se constatar que em muitos aspectos há convergência na abordagem feita por


diferentes organizações (OECD, WBCSD, EEA, UNEP, etc.), enquanto que para
outros, ainda há muito a se discutir.
78

Indicadores Específicos
São aqueles indicadores relevantes para um determinado segmento ou tipologia de
organização.
Esse tipo de indicador requer o conhecimento dos principais aspectos relacionados ao
processo e/ou produto. Os indicadores específicos serão abordados em maiores
detalhes nos próximos itens.

3.4.4.3.2 Indicadores ambientais segundo as normas IS0 14031 e EMAS

De acordo com a ISO-International Organisation of Standardization, a avaliação de


desempenho ambiental – EPE (Environmental Performance Evaluation) é um
processo que facilita a gestão das decisões relativas ao desempenho ambiental das
organizações, por meio da:
• Seleção de indicadores,
• Análise de dados e comparação com os critérios de desempenho,
• Divulgação,
• Revisão periódica e melhoria contínua.

A norma ISO 14031 apresenta um guia para a EPE, enquanto que a norma ISO/DIS
14032 apresenta exemplos de indicadores. Segundo a norma, as organizações devem
selecionar indicadores que sejam relevantes para permitir a avaliação e o
acompanhamento de seu desempenho ambiental (ABNT, 2001a).

A ISO 14031 identifica 05 tipos de medidas quantitativas:


• Diretas;
• Relativas;
• Normalizadas (indexadas);
• Agregadas;
• Ponderadas (por peso).
79

Os indicadores são classificados em dois grupos: (a) Indicadores de desempenho,


contendo os de gestão e os operacionais; e (b) indicadores de condição ambiental,
conforme está indicado na Figura 25.
Pode-se observar que os indicadores pertencentes à categoria de condições
ambientais – ECIs; estão alinhados com os classificados como indicadores
genéricos pela OECD.

Avaliação de
Desempenho
Ambiental
EPE

Indicadores
de desempenho
Ambiental - EPIs Indicadores
de Condições
Ambientais – ECIs

Relativos às condições
ambientais locais, regionais e
globais.
Indicadores Por exemplo: efeito
Indicadores estufa, depleção da
De desempenho
De desempenho camada de ozônio,
De gestão –MPIs
Operacionais- OPIs diversidade, etc.

Relativos à gestão,
Relativos
treinamentos,
às condições
conformidade legal,
operacionais,
alocação de
equipamentos,
recursos, aquisição
insumos;
e desenvolvimento
produtos, etc.
de produtos

Figura 25 - Avaliação de desempenho ambiental e seus indicadores segundo a


norma ISO 14031.
Fonte: ABNT (2001a).

Segundo o sistema europeu de certificação de gestão ambiental – EMAS


(Environmental Management Auditing Scheme), os indicadores de desempenho
ambiental são divididos em (EMAS, 2000):
• Indicadores de desempenho operacional industrial (Figura 26);
• Indicadores de desempenho de serviços (Figura 27);
• Indicadores de desempenho do sistema de gestão (Figura 28).
80

INDICADORES DE DESEMPENHO OPERACIONAL - INDÚSTR IAS

Atividades Aspecto Ambiental Indicador

Consumo de energia litros combustível/tonelada entregue


Transporte
Poluição do ar % frota equipada com catalisador

Utilização de energia Consumo de energia % energia – fontes renováveis

Consumo de energia KWh/h de máquina


Utilização de recursos
Consumo de água Litros/ unidade produzida
naturais
Consumo matérias-primas Kg/por unidade produzida
Emissões atmosféricas Kg CO 2/unidade produzida
Processo produtivo Emissões hídricas Kg DQO/unidade produzida
Geração de resíduos Kg resíduos/unidade produzida

Distribuição e embalagem Geração de resíduos % embalagens reutilizadas

% se produtos armazenados em áreas


Armazenamento Riscos de vazamento
com contenção

Figura 26 - Indicadores de desempenho ambiental operacional – indústria.


Fonte: EMAS (2000)

INDICADORES DE DESEMPENHO OPERACIONAL- SERVIÇOS

Atividades Aspecto Ambiental Indicador

Aquecimento Consumo de energia litros combustível/ano/área

Km viagem/funcionário/ano
Translados Consumo de combustível % trabalhadores que utilizam transporte
público
Kg de papel/funcionário/ano
Impressões e fotocópias Consumo de papel
% papel reciclado (usado)

Restaurante Geração de resíduos Kg resíduos/refeição

% produtos biodegradáveis
Manutenção Consumo de produtos
Litros de produtos de limpeza/ano/m2

Figura 27 - Indicadores de desempenho ambiental operacional – serviços.


Fonte: EMAS (2000)
81

INDICA DORES DE DESEMPENHO DE GESTÃ O AMBIENTAL

Atividade Aspecto Ambiental Indicador

Gestão ambiental Objetivos e metas % de metas atingidas

Contabilidade ambiental Investimentos % dos investimentos em meio ambiente

Recursos humanos Treinamento Horas de treinamento/trabalhador/ano

Segurança Incidentes ambientais Número de incidentes/ano

Número de reclamações de r uído/ano


Reclamações
Número de reclamações odor/ano
Relações com a comunidade
Número de visitantes/ano
Visitas
Número de reuniões /ano

Aquisições Critérios ambientais % compras feitas com critérios ambientais

% for necedores qualificados com critérios


Fornecedores Gestão ambiental
ambientais

Figura 28 - Indicadores de desempenho de gestão ambiental.


Fonte: EMAS (2000)

Segundo a organização GEMI –Global Environmental Management Initiative - os


indicadores também podem ser classificados em (GEMI, 1998):
! Indicadores “end-of-pipe” e
! Indicadores “in process”.
Os indicadores “end-of-pipe” são quantitativos e estão freqüentemente relacionados
às emissões, enquanto que os indicadores “in process” podem ser quantitativos ou
qualitativos e estão relacionados aos aspectos de gestão e de prevenção.

Como se pode observar, os sistemas ISO e EMAS apresentam indicadores similares


em muitos casos e, alinhados com a abordagem feita pelo GEMI.

Caberá, portanto, a cada organização selecionar os indicadores relevantes ao seu


negócio, as demandas legais e as partes interessadas.
82

3.4.4.3.3 Considerações relativas à implementação de um sistema de avaliação


de desempenho ambiental

A implementação de um sistema de avaliação de desempenho ambiental pode ser


desenvolvida seguindo a abordagem do ciclo de melhoria contínua, denominado P D
C A, como indicado na Figura 29.
Onde :
P - Planejamento (planning); D - Implementação (doing);
C -Verificação (check); A - Revisão (act).
83

Planejamento (P)

P D
1. Identificar quais aspectos ambientais
são relevantes ao negócio;
2. Identificar qual é o público alvo e porque
Se está medindo o desempenho ;
3. Estabelecer objetivos;
4. Definir a inclusão ou não de dados relativos
A C
a saúde e segurança ocupacional;
5. Selecionar os indicadores que promovam a efetiva
melhoria do desempenho ambiental;
6. Verificar a sustentabilidade do programa;
7. Garantir a consistência ano a ano;
- -
8. Selecionar parâmetros que sejam disponíveis
e façam parte do sistema de informação da organização;
9. Utilizar sempre que possível indicadores e parâmetros
já utilizados para outros fins;
10. Definir a forma de divulgar os indicadores de
desempenho na organização;
11. Definir como, quando e quem serão os responsáveis
pela coleta dos dados;
12. Normalizar os dados

Imple me ntação (D)

1. Buscar apoio da alta adminis tração;


2. Buscar apoio das diversas áreas da empresa;
3. Identificar unidades ou process os que requeiram
abordagem diferencia da;
4. Evitar o uso de muitos indica dores.

Verificar a efetividade
Verificação da efetividade do sistema ( C )
do sistema

1. Identificar se os dados de desempenho


performance são
foram
disponibilizados
disponibilizados
de forma adequada, permitindo a tomada de decisões;
2. Verificar se os dados obtidos são consistentes com os demais
demais
dados divulgados;
3. Identificar se os indicadores selecionados induzem a
3. Identificar
melhoria se os indicadores selecionados induzem a
do desempenho;
melhoria do desempenho;
4. Pesquisar junto ao público alvo a efetividade do programa.
4. Pesquisar junto ao público alvo a efetividade do programa.

Revisão do sistema (A)


Com base na etapa anterior; revisar o sistema com objetivo de
corrigir as distorções e/ou aumentar sua efetividade.

Figura 29 - Implementação da avaliação de desempenho ambiental segundo GEMI.


Fonte: GEMI (1998)
84

3.4.4.3.4 Tendências

As principais tendências relacionadas à avaliação de desempenho ambiental e suas


métricas são:
• Globalização (a) devido ao desenvolvimento de indicadores genéricos
relacionados com fenômenos globais, como o efeito estufa e a destruição da
camada de ozônio, (b) tendência de mercado associada à demanda da sociedade e
dos órgãos de controle para uma atuação responsável, e, por fim, (c) o
desenvolvimento de organismos de certificação e de padrões internacionais de
gestão ambiental;
• Foco em sustentabilidade, dando continuidade ao processo desencadeado pela
Conferência Mundial de Meio Ambiente – Rio 92;
• Ênfase em sistemas de gestão ambiental como um dos principais instrumentos
viabilizadores de melhoria de desempenho ambiental;
• Integração do desempenho ambiental com o da organização, por intermédio
da correlação dos aspectos ambientais com os dados de desempenho econômicos,
visando não somente à redução dos custos, mas o aumento dos lucros devido ao
uso mais eficiente de recursos e de uma maior participação no mercado.

3.4.4.4 Relatórios de desempenho ambiental

O “slogan” usado nos negócios: “Do good and let it be known” – Faça bem e
divulgue – tem sido aplicado pelas empresas européias para divulgar o seu
desempenho ambiental (INEM, 2001).

Há mais de uma década, as empresas vêm enfrentando a pressão dos investidores,


comunidade, consumidores e órgãos de controle para divulgar informações relativas
ao seu desempenho ambiental, bem como os aspectos relacionados à saúde
ocupacional (CEFIC, 1998). Os primeiros relatórios ambientais corporativos
voluntários datam da década de 80 do século XX.
85

Já na década de 90 do século XX, a União Européia por meio da diretiva


90/313/EEC – “Freedom to access to environmental information” - tornou
compulsório o fornecimento ao público das informações mantidas pelos órgãos de
controle ambiental. Em 1996, a diretiva do IPPC - Integrated Pollution Prevention
and Control - 96/61/EC obrigou as indústrias com alto potencial poluidor a medirem
e divulgarem as emissões atmosféricas, líquidas e de resíduos sólidos. Além disso, a
cada três anos o inventário das emissões deve ser publicado (DEFRA, 2001).

Como conseqüência das demandas regulatórias, a indústria química européia, por


exemplo, publicou em 1993, o primeiro manual orientativo para divulgar o
desempenho ambiental (CEFIC, 1998).

A Dinamarca, em 1995, também estabeleceu a obrigatoriedade de fornecimento de


informações ambientais, por intermédio da iniciativa denominada: “Green Accounts
Act” (EPA-Danish, 2000).

Nos Estados Unidos surgiram demandas legais para o levantamento e a divulgação


de informações ambientais relacionadas à utilização e emissão de substâncias
químicas perigosas e as relativas aos custos para o atendimento às exigências legais
e/ou recuperação de passivos ambientais (Repetto, 2000).

Desde então, muitas iniciativas estão sendo feitas no sentido de definir formas e
padrões para estes relatórios, destacando-se os das seguintes organizações:
• UNEP- United Nations Environmental Program;
• GRI-Global Reporting Initiative;
• CERES-Coalization for Environmentally Responsible Economies;
• PERI-Public Environmental Reporting Initiative;
• WBCSD- World Business Council for Sustainable Development;
• FEE- Fédération des Experts Comptables Européens;
• DEFRA - Department for environment, food and rural affairs.
86

O site: URL:http://enviroreporting.com relaciona as principais organizações que


estão desenvolvendo trabalhos relacionados a este tema, assim como os principais
manuais disponíveis para a elaboração dos relatórios de desempenho ambiental e de
sustentabilidade.

Nos dias de hoje, um grande número de empresas está trabalhando na integração de


valores éticos, ambientais e sociais ao seu negócio como forma de atuação
responsável. Emergem iniciativas que visam assegurar tanto a gestão e melhoria do
desempenho ambiental como a demonstração de transparência, por meio da
divulgação para as partes interessadas dos principais aspectos ambientais
relacionados ao seu negócio.

As instituições financeiras também começam a perceber que este tema não pode mais
ser dissociado dos negócios. Com isso, junto com informações meramente
financeiras são requeridas informações ambientais e sociais. Graças a esta demanda,
estão sendo estabelecidos critérios para a mensuração do desempenho ambiental e
social assim como modelos de divulgação e de classificação das empresas quanto a
este parâmetro. A Figura 30 ilustra essa questão.

Fontes de capital
Fundos de pensão, bancos.

Diálogo Pressão
EPRTs
(Avaliação/benchmark)

EPIs CER
(Medição do desempenho) (Comunicação)

Usuários do capital
EPIs – Indicadores de desempenho ambiental
CER – Elaboração/divulgação dos relatórios de desempenho ambiental
EPRTs – Ferramentas de classificação de desempenho ambiental

Figura 30 - O papel das instituições financeiras na gestão dos recursos com relação
à eco-eficiência.
Fonte: EEA (2001d)
87

Relatar o desempenho ambiental, portanto, tornou-se uma necessidade que traz


consigo outras demandas importantes, como por exemplo: a definição de
indicadores, o estabelecimento de objetivos e metas, a definição de prioridades, a
coleta de dados entre outras tantas.

Nos próximos itens serão abordados, de forma sucinta, os principais conceitos


relacionados à elaboração de relatórios de desempenho ambiental e de
sustentabilidade, assim como as principais iniciativas de estabelecimento de padrões
mundiais.

3.4.4.4.1 Definições e principais tipos de relatórios de desempenho ambiental e


de sustentabilidade.

Relatório de desempenho ambiental pode ser definido como uma ferramenta que
contempla a coleta de informações relativas à gestão ambiental da empresa com a
finalidade de divulgação para as partes interessadas. Como exemplo deste tipo de
relatório, tem-se o emitido pelas empresas certificadas pela norma Européia - o
EMAS.

Por sua vez, os relatórios de sustentabilidade agregam também informações


relacionadas aos aspectos sociais e de saúde ocupacional dos trabalhadores das
empresas. Como exemplo, os relatórios que seguem modelos desenvolvidos pelo
GRI e CERES.

Pode-se dividir os relatórios em relação à demanda em: (a) relatórios compulsórios e


(b) voluntários (EEA, 2001d).

Quanto à abrangência, os relatórios podem abordar:


(a) somente questões ambientais;
(b) questões ambientais e de saúde ocupacional;
(c) questões ambientais, de saúde ocupacional e sociais;
(d) questões ambientais, de saúde ocupacional, sociais e financeiras.
88

Segundo a associação denominada “The sustainability Report” que analisou os


relatórios corporativos de sustentabilidade de 20 organizações líderes, a maioria
apresenta-se de forma híbrida, nos quais são feitas as seguintes abordagens:
• Aprendizado – no qual a empresa relata como está integrando as questões
ambientais e sociais às operações da empresa e à gestão do negócio;
• Subjetiva - Com poucos dados, apresenta projetos que envolvem poucos
membros da corporação;
• De gestão ambiental - Enfocam principalmente a gestão ambiental, apresentam
indicadores e objetivos de melhoria de desempenho;
• CERES, GRI, Triple bottom line - Apresentam dados ambientais, sociais e
econômicos de forma não-integrada;
• Integrada - A evolução das questões ambientais, sociais e de saúde ocupacional
são apresentadas no contexto das demais informações relatadas no relatório
anual;
• Inovativa - Nesta abordagem procura-se evitar seguir um padrão muito similar às
demais empresas, na tentativa de particularizar as necessidades e objetivos
específicos da corporação (MacDonald, 2001).

A publicação: “Trust Us’(UNEP, 2002) analisou e classificou os relatórios e as


informações disponibilizadas nos websites de 100 empresas, com relação a sua
estrutura, informações e forma de abordagem; em cinco diferentes tipos: reativos,
cosméticos, “nerds”, virtuosos e supersônicos. Os reativos abordam somente o que
for obrigado por lei; os cosméticos apelam por destacar a sua reputação e não seu
desempenho, já os “nerds” são os fanáticos por números, mas não tratam as questões
ambientais de forma contextualizada. Os dois últimos conseguem ter um pouco da
abordagem dos “nerds” mas, de forma mais contextualizada com a sustentabilidade.
Destes dois, os supersônicos são os que de fato, tem uma gestão dos negócios que
incorporou os conceitos do desenvolvimento sustentável (UNEP, 2002).

A estruturação e a forma de divulgação dos relatórios pode diferir em função do


publico alvo.
89

Atualmente, já existem manuais que propõem estruturas e formatos para elaboração


de relatórios “on line” na WEB, como por exemplo, o manual denominado:
“Environmental, Social and Sustainability Reporting on the World Wide Web: A
Guide to Best Practice” (ACCA, 2001).

3.4.4.4.2 Elaboração do relatório

Para elaboração do relatório é preciso definir: o público alvo; o escopo; a


abrangência, a forma de divulgação, a forma de verificação, entre outros.
Os relatórios devem ter as seguintes premissas: credibilidade, transparência,
comparabilidade e continuidade. A Figura 31 indica as principais etapas para
elaboração do relatório de desempenho.

Figura 31 - Principais etapas para elaboração de um relatório


Fonte: DEFRA (2001)
90

Conteúdo/estruturação do relatório

A estrutura dos relatórios depende do seu objetivo e do público alvo. No item


3.4.4.4.3. serão abordadas as principais formas de relatórios.

Entretanto, para os relatórios de sustentabilidade, a organização “The Sustainability


Report” recomenda três padrões (MacDonald, 2001):

• Padrão A - Impressionando positivamente;


• Padrão B - Ilustrando que sustentabilidade é um bom negócio, e
• Padrão C - Relatório padrão

Os modelos A e B são bastante similares na sua estrutura, diferindo basicamente na


forma de abordagem dos ganhos ambientais e financeiros relacionados com as
práticas e com a gestão da empresa - mais destacados no modelo B. O padrão C é
similar ao padrão recomendado pelo GRI, que será apresentado no próximo item.

3.4.4.4.3 Principais iniciativas

Como já foi dito nos parágrafos anteriores, muitas organizações já desenvolveram ou


estão desenvolvendo padrões para os relatórios de desempenho ambiental. Neste
trabalho, serão abordados os modelos propostos pelas seguintes organizações:

• GRI – CERES;
• PERI;
• EMAS;
• DEFRA;
• INEM.
91

a) GRI –CERES

A Global Reporting Initiative- GRI originou-se da Coalition For Environmentally


Responsible Economies – CERES em cooperação com a UNEP. O processo de
elaboração das diretrizes envolveu vários segmentos da sociedade, como ONGs,
universidades, empresas e associações, entre outros. A primeira reunião do grupo
aconteceu em 1997. Em junho de 2000 foram publicadas as diretrizes para a
elaboração do relatório de sustentabilidade, englobando os aspectos econômicos,
sociais e ambientais.

O texto contendo as diretrizes foi dividido em quatro partes: introdução e orientação


geral, princípios e métodos para elaboração de relatórios de sustentabilidade;
conteúdo do relatório e anexos.

As principais características qualitativas dos relatórios são: relevância; veracidade;


clareza; comparabilidade, periodicidade e verificabilidade. Como elementos de
informação sobre o desempenho tem-se:
Categorias: áreas ou agrupamentos de aspectos ou impactos (poluição atmosférica,
economia local, etc.);
Aspectos: Elementos relacionados a uma categoria específica (emissões de gases que
causam o efeito estufa, energia consumida, etc.)
Indicadores: Valores específicos associados aos aspectos considerados.

É recomendado também aos relatores que, sempre que possível, explicitem os


critérios adotados para escolha e cálculo dos indicadores, destaquem e justifiquem
escolhas relacionadas ao âmbito do relatório, mudanças na estrutura organizacional,
entre outros.

Estrutura do relatório:
1) Declaração do presidente;
2) Perfil da organização;
3) Síntese e indicadores relevantes (sociais, econômicos e ambientais);
92

4) Visão e estratégia;
5) Política, organização, sistemas de gestão e relações com as partes interessadas;
6) Desempenho (ver Figura 31).

Desempenho Social
Desempenho ambiental
Qualidade da Gestão de pessoas
RH
Indicadores gerais
Saúde e segurança ocupacional
•Energia comprada
Remuneração e Benefícios
•Total energia
•Energia total utilizada
utilizada
Formação e educação
•Emissão de gases estufa
Trabalho infantil
•Resíduos gerados
Discriminação e minorias
•Desempenho dos fornecedores
Liberdade de associação
Direitos humanos
Indicadores específicos
Desempenho dos provedores
•Energia fóssil consumida por tonelada
Niveis de satisfação de clientes
produzida
•Quantidade de resíduos reciclada ou
Desempenho Econômico reaproveitada
•Consumo de produtos químicos
Lucros •Emissões atmosféricas (MP, VOCs, etc.)
Ativos •Emissões
•Águas hídricas
residuárias
Investimentos •Requisitos ambientais
á relativos a selos
Salários verdes e outros critérios específicos
Impostos (certificação florestal, etc.)
Fornecedores •Programas de recuperação e preservação
Produtos e serviços •Exigências legais
Direitos humanos •Multas e penalidades

Políticas, sistema de gestão, relações


Desempenho Ambiental, Social e
com partes interessadas Econômico
Indicadores integrados (proposta)
Desenvolvimento e envolvimento
dos funcionários e operações da empresa Sistêmicos – Correlacionam a aatuação
atuação
nas questões ambientais da corporação comparativamente ao setor
Sistemas de incentivo e remuneração ou à
a região
com foco em desempenho ambiental
Desenvolvimento e patrocínio a pesquisas Transversais -Correlacionam a informação
Contabilização ambiental Entre dois ou mais elementos da
entre
Auditorias sustentabilidade com o desempenho da
Plano de atendimento à emergências organização (eco-eficiência, custos
Relações com fornecedores externalizados, etc.)
etc.
Relações com a comunidade

Figura 32 - Resumo geral de avaliação do desempenho ambiental, social e


econômico segundo GRI
Fonte: GRI (2000)
93

b) PERI – Public Environmental Reporting Initiative

Surgiu em 1992, a partir da iniciativa de empresas americanas em estabelecer um


relatório padrão de desempenho ambiental. Evoluiu no decorrer dos anos e passou a
ser de aplicação para qualquer empresa, organização ou setor.
Este padrão foi revisado e adaptado de forma a contemplar outras exigências ou
modelos voluntários ou compulsórios, como por exemplo, Responsible Care,
demandas legais americanas como TRI e européias CEFIC e EMAS.

Estrutura do relatório:
1) Perfil da organização;
2) Política ambiental;
3) Gestão ambiental;
4) Emissões;
5) Conservação de recursos naturais;
6) Gestão de riscos ambientais;
7) Atendimento legal;
8) Responsabilização/gestão do produto;
9) Programa de incentivo, remuneração e treinamento de funcionários;
10) Relacionamento com as partes interessadas.

c) EMAS- EcoManagement Auditing Scheme

O EMAS é um rótulo europeu ambiental de gestão de adesão voluntária, adotado em


1993 pelo Conselho da UE e aberto à participação das indústrias desde 1995.
Este sistema, entre outras exigências, preconiza a comunicação do desempenho
ambiental às partes interessadas, através da declaração ambiental.
A declaração ambiental deve ser emitida a cada três anos, atualizada anualmente e
ser validada por auditor externo.
Os indicadores de desempenho ambiental são divididos em: indicadores de
desempenho operacional e indicadores de gestão.
94

Estrutura do relatório:
1. Descrição da organização (atividades, produtos e serviços);
2. Política ambiental e descrição do sistema de gestão;
3. Descrição dos aspectos e impactos ambientais significativos;
4. Programa ambiental e seus objetivos;
5. Resultados do programa ambiental;
6. Indicadores de desempenho (ano anterior e atual);
7. Data e identificação do auditor externo.

d) DEFRA – Department for environmental, food and rural affairs- UK

Esta iniciativa do governo inglês teve por objetivo facilitar e orientar a elaboração de
relatórios de desempenho ambiental. São sugeridos indicadores gerais e específicos,
expressos de forma absoluta, normalizados e com a sua evolução ao longo do tempo.
Os indicadores sugeridos estão relacionados às categorias de impactos: emissões
atmosféricas, consumo de recursos naturais, transporte, energia, emissões hídricas,
uso do solo, biodiversidade, geração de resíduos perigosos e ruído.

Estrutura do relatório:
1) Declaração do presidente;
2) Política ambiental;
3) Perfil da organização;
4) Aspectos e Impactos ambientais significativos;
5) Indicadores de desempenho ambiental;
6) Objetivos e metas;
7) Atendimento à legislação.
95

e) INEM – International Network for Environmental Management

Esta iniciativa, patrocinada pelo governo alemão, é voltada à questão da


sustentabilidade, abordando, portanto, aspectos ambientais, sociais e econômicos. A
publicação: “The INEM Sustainability Reporting Guide – A Manual on Practical and
Convincing Communication for Future-Oriented Companies” (INEM, 2001) aborda
de forma detalhada o objetivo, princípios, design e apresentação dos relatórios de
sustentabilidade.

Estrutura do relatório:
1) Fatos relevantes;
2) Declaração do presidente;
3) Perfil da organização;
4) Visão e estratégia;
5) Políticas da organização;
6) Sistemas de gestão;
7) Desempenho (social; ambiental e econômico).
Este modelo é bastante similar ao proposto pelo GRI inclusive na recomendação de
validação do relatório por auditor externo.

Como se pode observar, das iniciativas apresentadas, duas mostram a abordagem dos
relatórios alinhadas com o conceito de sustentabilidade (GRI e INEM). As demais
enfocam, principalmente, a dimensão ambiental, embora estimulem a abordagem
mais abrangente.

3.4.4.4.4 Tendências

A EEA - Agência Ambiental Européia - no relatório: “Business and the


Environment: Current Trends and Developments in Corporate Reporting and
Ranking” (EEA, 2001c) discute a questão de avaliação de desempenho ambiental e
seus indicadores, assim como as novas tendências de integração do desempenho
96

ambiental com os aspectos sociais e econômicos das organizações. As principais


tendências observadas são:
• Auditoria externa;
• Aumento da demanda por informações ambientais em diversos segmentos,
principalmente por clientes e agentes financeiros;
• Aumento da comparação de desempenho - benchmarking (intra e extra-setorial);
• Uso dos relatórios para comparação e classificação das empresas;
• Aumento da pressão pela emissão compulsória de relatórios em vez de
voluntária;
• A inclusão da dimensão social no desempenho das organizações.

Na pesquisa realizada em 1999 pela empresa KPMG sobre este tema, das 1.100
companhias européias pesquisadas, 269 (24%) elaboraram relatório de desempenho
ambiental e destes, 36% englobaram aspectos de sustentabilidade. Para as empresas
classificadas como poluidoras esta percentagem foi de 44% (EEA, 2001d).

A federação européia de contabilistas – FEE - discutiu a evolução dos relatórios de


desempenho ambiental no trabalho denominado: “Towards a generally accepted
framework for environmental reporting”. Segundo este trabalho, a evolução na forma
de relatar e medir o desempenho ambiental, principalmente nos aspectos
relacionados à credibilidade e comparabilidade (por segmento), tende a estimular a
sua maior utilização pelo setor financeiro (FEE, 2001).

A publicação recente feita pela UNEP e o Grupo Sustainability - denominada “Trust


US” (UNEP, 2002) aborda de forma abrangente a questão da divulgação de
informações ambientais pelas empresas. A base deste trabalho foram duas pesquisas
feitas em 2000 e 2002, tendo como base os relatórios de desempenho publicados e as
informações disponibilizadas nos websites de 100 empresas associadas ao World
Business Council for Sustainable Development –WBCSD.
Segundo este trabalho, a década de 1992-2002 foi caracterizada pela demanda por
transparência, enquanto que a seguinte deverá ser a década da confiança, com duas
prioridades: a materialidade e a integração.
97

A materialidade implica na necessidade das empresas evidenciarem de forma


concreta suas ações, programas, gestão, resultados e estratégia com respeito a
sustentabilidade. A segunda prioridade será a integração, com foco em 04 áreas:
balanços financeiros, governança, marcas e novos modelos de negócios (UNEP,
2002).

A demanda da sociedade por transparência das empresas, a globalização, a evolução


da tecnologia de comunicação, a abertura de mercados e instrumentos reguladores,
entre outras razões, tendem a ampliar o processo de avaliação, classificação e
divulgação do desempenho ambiental das organizações nos diversos setores da
economia.

3.4.4.5 Sistemas de gestão ambiental

Um sistema de gestão ambiental pode ser definido como uma estrutura


organizacional que inclui responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e
recursos necessários para gerir os aspectos ambientais relacionados ao negócio,
garantindo, ao mesmo tempo, conformidade com suas políticas e com as expectativas
das partes interessadas (Five Winds, 2000).

Para ser efetivo, deve buscar a otimização do uso de recursos naturais e minimizar os
impactos ambientais, enquanto mantém a viabilidade econômica do negócio. Este
sistema deve ser integrado à gestão da empresa, em vez de ser admitido como um
“esforço” paralelo e tratado separadamente (Tamura, 1999)

Nos últimos anos, houve o reconhecimento maior destes sistemas, devido à difusão
de padrões internacionais certificáveis para a gestão ambiental, como a ISO 14001.
Entretanto, deve-se ressaltar que existem outros sistemas de gestão que podem ser
usados nas indústrias, alguns criados por um determinado segmento e outros mais
generalistas. Como exemplos deste tipo de sistemas de gestão, tem-se:
98

• Responsible Care – Atuação responsável - Sistema de gestão integrada de saúde,


segurança e meio ambiente voltado para a indústria química.
• STEP (Strategies for Today’s Environmental Partnership) - Estratégias
ambientais para as corporações – Programa de gestão integrada de saúde,
segurança e meio ambiente para indústrias do setor petroquímico americano.
• EMAS – European EcoManagement and Audit Scheme – Sistema Europeu de
Gestão e Auditoria Ambiental – Padrão europeu de gestão ambiental.
• BS 7750 – UK- British Standard – Sistema de gestão ambiental inglês.

Segundo o grupo de trabalho internacional que analisou os desafios globais da eco-


eficiência (Five Winds, 2000), os quatro fundamentos que devem nortear um sistema
de gestão ambiental são:

a) Orientação – Toda a organização deve identificar claramente os objetivos e as


metas da gestão ambiental, e que deverão estar alinhados com a política
ambiental;
b) Compromisso – Deve haver o comprometimento de todos na organização no
sentido de realizar as ações necessárias que suportem a gestão ambiental. Este
compromisso é baseado nos valores da organização e na integração dos mesmos
em todas as atividades da empresa, assim como na responsabilidade da alta
direção;
c) Recursos – A organização deve ser capaz de prover recursos humanos, materiais
e financeiros para o cumprimento dos objetivos e metas e para suportar a gestão
ambiental;
d) Aprendizado contínuo – O aprendizado da organização permite a evolução
contínua da gestão ambiental, assim como o estabelecimento e o atendimento dos
objetivos e metas. Este processo é facilitado por intermédio do monitoramento do
desempenho ambiental, da efetiva comunicação com as partes interessadas –
indivíduos afetados pelo desempenho ambiental da corporação - e da revisão
crítica feita pela alta direção.
99

Estes fundamentos permitem a gestão mais efetiva dos aspectos e impactos


ambientais, que por sua vez, permitem a melhoria contínua alinhada com as
diretrizes da empresa.

A UNEP, por sua vez, relata como elementos-chave da gestão ambiental os


seguintes:

a) Política ambiental – Expressa o comprometimento da alta gerência na melhoria do


desempenho ambiental e congrega princípios, intenções e ações que a empresa deve
atender, incluindo os objetivos e metas;

b) Programas ambientais (planos de ação) - Relatam as etapas que devem ser


cumpridas visando ao atendimento dos objetivos e metas. Descreve as atividades,
responsabilidades e infra-estrutura necessárias (recursos humanos e financeiros)
relacionadas à sua implementação. Estes planos derivam também da análise dos
principais aspectos e impactos ambientais da empresa e dos itens relativos à
conformidade legal (aspectos reguladores);

c) Estrutura organizacional – Estabelece as atribuições e responsabilidades para as


ações relacionadas à gestão ambiental. O responsável por ela normalmente reporta-se
ao gerente de operações. A estrutura organizacional deve ter suporte adequado em
termos de recursos humanos e financeiros compatível com a dimensão da
organização.

d) Integração da gestão ambiental nas operações da empresa – Efetivada pela


inclusão de procedimentos relacionados ao controle dos aspectos ambientais nas
áreas da empresa envolvidas (direta ou indiretamente) com estes: suprimentos,
pesquisa & desenvolvimento, financeira, comunicação, engenharia e marketing, entre
outras. Este envolvimento permite a elaboração de manuais de operação e outras
instruções de trabalho que descrevem os controles, monitoramentos e
acompanhamento das ações relacionadas aos programas ambientais. Normalmente,
os procedimentos incluem:
100

• Política ambiental, objetivos e metas;


• Comunicação com partes interessadas;
• Registros e controle da documentação;
• Controles operacionais relativos às atividades conduzidas diretamente pela
empresa ou por contratadas;
• Avaliação e gestão de riscos, com plano de atendimento a emergência visando
minimizar os riscos e evitar danos significativos (Tamura, 1999).

Os principais benefícios percebidos pelas empresas com sistema de gestão ambiental


implementado são:

• Melhora no relacionamento com os órgãos de controle ambiental;


• Abertura de novos mercados;
• Melhora nas relações com a comunidade;
• Redução nas penalidades na cadeia produtiva;
• Melhora no relacionamento com clientes;
• Aumento na efetividade da gestão com uma visão mais de longo prazo;
• Melhor comunicação interna;
• Redução de custos;
• Modernização da gestão;
• Maior envolvimento da alta direção;
• Visão sistêmica e holística para as questões ambientais;
• Estímulo à participação e inovação;
• Maior conformidade legal, e
• Redução dos acidentes ambientais (EMAS, 2000; USEPA, 1998b; Five Winds,
2000).

De um modo geral, as empresas que implementaram sistemas de gestão ambiental


identificaram claros benefícios na gestão dos negócios. No entanto, os resultados e a
eficácia da gestão ambiental das corporações dependem dos esforços empreendidos e
do efetivo compromisso delas com a gestão ambiental. (Five Winds, 2000).
101

Os benefícios podem ser mais abrangentes para as companhias que ampliarem o foco
da gestão ambiental, voltando-o para toda a cadeia produtiva e para a prevenção à
poluição.

A Figura a seguir ilustra a inter-relação entre estes fatores.

Efetividade e
Aceitação externa

Nível 4
Foco em eco-eficiência
Nível 3 Integração de aspectos
Nível 2 Gestão ambiental Financeiros, econômicos;
Atendimento Integração da gestão ambientais e sociais
Nível 1 Legal Ambiental nas decisões na condução dos
Resolvendo Gestão e monitora- da empresa. negócios.
problemas mento do Política ambiental e A gestão e decisões
Postura reativa desempenho programas de gestão transcendem os
a partir de ambiental que respondem as limites da empresa
demandas. a partir de demandas ameaças potenciais e incluem diálogo
Sem (pouca) legais. Foco em ao desempenho permanente com as
estrutura formal. Reduzir penalidades. ambiental. partes interessadas.

Tempo e esforço

Figura 33 - Abordagem das empresas para a questão ambiental.


Fonte: Five Winds (2000)

O desenvolvimento e a implementação de sistemas de gestão ambiental dependem da


complexidade, natureza e escala das atividades, produtos e serviços fornecidos pela
organização.

A seguir serão apresentados de forma resumida, os sistemas de gestão ambiental ISO


14001, EMAS, Atuação Responsável (Responsible Care) e BS 7750.
102

3.4.4.5.1 Normas da série ISO 14000

a) Introdução
A série de normas ISO 14000 foi desenvolvida para auxiliar as empresas na gestão
ambiental das suas atividades. Elas foram elaboradas pela organização internacional
denominada ISO - International Organization for Standardization em 1991.
Consistem em uma série de documentos que definem os elementos-chaves da gestão
ambiental, tendo em vista os aspectos ambientais relacionados às atividades
desenvolvidas pelas empresas. A primeira norma foi publicada oficialmente em
1996. A norma 14001 foi elaborada a partir de normas européias e canadenses, quais
sejam: BS 7750 (Inglaterra); EMAS (União européia) e Environmental Management
Program CSA- Canadian Standards Association (Canadá).

Destaca-se que as normas não determinam padrões de desempenho ambiental, elas


indicam somente a sistemática para gerir o desempenho ambiental por meio de
diferentes ferramentas de gestão.

A sua adoção tem caráter voluntário e não compulsório. Até o momento foram
listadas 27 normas desta série, sendo que destas, 24 já foram publicadas e as demais
estão nas versões intermediárias que precedem a sua publicação, conforme indicado
na Tabela 7.

No Brasil a divulgação das normas traduzidas é feita pela ABNT- Associação


Brasileira de Normas Técnicas.

Tabela 7 - Normas da série ISO e sua abrangência.


Normas Abrangência
A série 14001 e 14004 Refere-se à gestão ambiental
Norma 14015 Refere-se a avaliação de organizações e empresas.
A série 14020, 14021,
Refere-se a certificação de produtos (selos verdes).
14024 e TR 14025
A série 14031 e 14032 Refere-se a avaliação de desempenho ambiental
103

Normas Abrangência
(indicadores)
A série 14040, 14041,
14042, 14043, TR Refere-se a avaliação do ciclo de vida dos produtos (onde
14047, TR 14048 e TR TR significa relatório técnico).
14049
Norma 14050 Refere-se ao glossário de termos e definições.
Refere-se a informações para auxiliar o uso das normas
Norma TR 14061
14001 e 14004 em corporações florestais.
Refere-se a gestão ambiental para integrar aspectos
Norma TR 14062
ambientais do projeto e desenvolvimento de produtos.
Refere-se a instruções para auditoria (substitui as normas
Norma 19011
14010, 14011 e 14012).
Refere-se a instruções para inclusão dos aspectos
ISO Guide 64
ambientais de produtos.
Refere-se a instruções gerais para registro e avaliação de
ISO Guide 66
organismos certificadores.
Fonte: ISO (2002)

Existem três documentos que estão em fase de elaboração/discussão (14047, 14063 e


14064) e que relacionam-se à análise de ciclo de vida, a comunicações ambientais e a
medição, divulgação e verificação de projetos relacionados às emissões de gases
estufa, respectivamente.

Esta parte da revisão bibliográfica abordará somente a norma relacionada à gestão


ambiental 14001. As demais foram discutidas em detalhes na publicação: “Global
Green Standards: ISO 14000 and Sustainable Development” da IISD (IISD, 1996) e
no site: http://www.iso.org.

Segundo o relatório feito pela ISO, até dezembro de 2001 existiam 36.765 empresas
certificadas no mundo, conforme a norma 14001. Como se pode ver nas Figuras 34 e
35, a maior parte das certificações estão na Europa e Ásia. O Brasil tinha até 2001,
104

350 empresas certificadas. O país com maior número de certificações é o Japão, com
8.123 certificados (ISO, 2002).

Africa e Leste da
Asia
20000 América Central e
do Sul
15000
América do Norte
10000
Europa
5000
Asia
0
Certificados ISO 14001 Austrália a Nova
Zelândia

Figura 34 - Número de certificados ISO 14001 emitidos no mundo até 2001.


Fonte: ISO (2002)

4% 3% 2% Africa e Leste da
7% Asia
América Central e
do Sul
América do Norte
34%

Europa

Asia

50% Austrália a Nova


Zelândia

Figura 35 - Distribuição dos certificados ISO 14001 emitidos até 2001.


Fonte: ISO (2002).
105

b) Principais características da norma ISO 14001


O objetivo desta norma é estabelecer um padrão de conformidade para a gestão
ambiental, tendo como foco a melhoria do desempenho ambiental (IISD,1996;
ABNT, 1996).

Estas normas têm cinco componentes principais, que por sua vez são subdivididos
em elementos.

Os principais componentes são:


• Política ambiental;
• Planejamento;
• Implementação e operação;
• Verificação e ações corretivas e
• Análise crítica (revisão).

Como pode ser observado, o padrão de PDCA (P-Plan; D-do; C-Check; A-act) é
refletido nos componentes da norma, similarmente às normas ISO voltadas para a
gestão da qualidade.

A política ambiental deve explicitar o compromisso da organização com:


• A melhoria contínua;
• Atendimento às normas e regulamentos;
• Prevenção à poluição.
A política deve ser apropriada à escala e natureza da empresa e deve ser conhecida
por todos os funcionários e disponível ao público em geral

O planejamento compreende a identificação dos principais aspectos ambientais e


das demandas legais; o estabelecimento de objetivos e metas e o programa de gestão
ambiental.
O planejamento deve identificar os responsáveis, a infra-estrutura e demais detalhes
que permitam o efetivo acompanhamento e atendimento dos objetivos e metas.
106

Destaque-se que, embora o foco da ISO 14001 seja a gestão ambiental, a norma não
desencoraja a inclusão dos aspectos relacionados à segurança e a saúde ocupacional.

A implementação e operação compreendem os seguintes elementos:


• Estrutura e responsabilidade;
• Treinamento e capacitação;
• Comunicação;
• Documentação;
• Controle da documentação;
• Controle operacional e
• Preparação e atendimento a emergência.

A organização deve ter uma sistemática para identificar situações de risco visando
implementar ações corretivas e preventivas para minimizar os danos ao meio
ambiente.

A verificação e ações corretivas compreendem os seguintes elementos:


• Monitoramento e medição;
• Não conformidades, ações corretivas e preventivas;
• Registros e
• Auditorias.

As auditorias de rotina podem ser feitas por auditores internos ou externos, enquanto
que a auditoria de conformidade (para fins de certificação e manutenção do
certificado) é feita por auditores externos vindos de empresas habilitadas.

A análise crítica (revisão) do sistema pela alta gerência permite verificar a adequação
e eficácia da gestão ambiental, indicando onde há necessidade de mudanças e de
correções de rumo, inclusive revisão da política ambiental, se for o caso.
107

c) O que a norma estabelece, permite ou induz e o que a norma não estabelece,


permite ou induz
A norma estabelece; induz ou permite:

• A sistemática para gerir as questões ambientais, identificando falhas na gestão de


alguns aspectos e permitindo a sua integração à gestão da empresa;
• A gestão adequada dos objetivos e metas, validando essa gestão por um
organismo certificador externo;
• A melhoria do desempenho ambiental das organizações;
• A redução de pressões regulatórias e permite o atendimento às demandas legais
com menores gastos de fiscalização pelo governo.

No entanto a norma NÃO estabelece; permite ou induz:

• Mudanças nos requisitos legais;


• Garantia do cumprimento às normas e requerimentos legais, ela só indica que a
gestão do atendimento às exigências legais é feita pela empresa;
• Padrões de desempenho ambiental;
• Maior divulgação de informações relativas ao desempenho ambiental da
empresa, conforme é mandatário no sistema europeu EMAS.

d) A ISO 14001 e a prevenção à poluição


Em 1998, um grupo de trabalho do Programa Nacional de Prevenção à Poluição da
USEPA elaborou um documento que discutiu a questão da prevenção à poluição e
suas implicâncias com a norma ISO 14001.

Neste documento, embora reconheça inúmeros aspectos positivos da norma, o grupo


identificou os seguintes aspectos negativos:

• A norma é voltada para a gestão e não para o desempenho ambiental e neste


sentido, ela não demanda sua melhora, medida por meio de indicadores
ambientais;
108

• A definição do termo “prevenção à poluição” não distingue a prevenção do


controle da poluição. Segundo o documento, ela falha por não destacar
explicitamente a redução na fonte, prioritariamente a outras alternativas como
reutilização e reciclagem, tratamento e disposição final;
• Baixa demanda relacionada à comunicação com as partes interessadas, deixando
para a empresa o poder de definir sua abrangência e forma;
• A questão de confidencialidade das auditorias;
• “Propaganda” distorcida da norma, exagerando a sua utilidade e abrangência.

A partir destas observações, o grupo fez algumas recomendações, dentre elas:


treinamento em prevenção à poluição para os auditores e para os demais atores
envolvidos na certificação; explicitar a redução na fonte como primeira estratégia
para prevenir a poluição e maior envolvimento e transparência com as partes
interessadas (USEPA, 1998b).

De certa forma, o trabalho do grupo evoluiu para uma proposta de um sistema


integrado de gestão ambiental com uma abordagem mais ampla, voltada para a
prevenção à poluição e que também considera os critérios de DfE –design for
environment e de responsabilidade pós-consumo. Como conseqüência, em 2000 foi
publicado um guia para implementação do sistema integrado, cuja formatação está
alinhada com o conceito de PDCA - já empregado nas normas da série ISO (USEPA,
2000).

Em paralelo ao encaminhamento dado pela agência de proteção ambiental americana,


várias modificações e inclusões estão sendo discutidas nos comitês da ISO
relacionadas aos padrões ambientais. A norma 14001 está em processo de revisão,
enquanto que outros relatórios estão sendo elaborados, como o TR 14063 – que está
em fase de discussão, relativo às comunicações ambientais.
109

3.4.4.5.2 Sistema Europeu de Certificação – EMAS (European Eco-


Management and Audit Scheme)

a) Introdução
Este sistema foi adotado pelo conselho da União Européia em 1993 e encontra-se
acessível para utilização pelas empresas desde 1995. Para os países membros da
União européia sua adesão é compulsória. Cada país deve designar uma instituição
federal independente para viabilizar a sua utilização. A sua adesão pelas empresas,
no entanto, é voluntária.

A versão 2000 deste sistema incorpora requisitos da Norma ISO 14001, visando
facilitar a sua transição (evolução) para o sistema EMAS.

b) Principais características
É um sistema voltado para a gestão ambiental e utiliza o conceito de melhoria
contínua – PDCA e seu registro (certificado) só pode ser utilizado fábrica a fábrica.

Os principais requisitos deste sistema são:


• Adoção de uma política ambiental;
• Compromisso com a melhoria contínua;
• Definição e implementação dos programas de controle da poluição ambiental e
de gestão ambiental;
• Procedimentos para monitoramento, controle e verificação de conformidade
legal;
• Auditorias periódicas;
• Preparação periódica do relatório de desempenho ambiental;
• Validação por auditor externo do relatório de desempenho ambiental;
• Garantia de acesso público ao relatório;
• Estabelecimento pela alta direção de objetivos e metas de melhoria.
110

Talvez a principal diferença dos demais sistemas, notadamente, ISO 14001 e BS


7750 refere-se à elaboração do relatório de desempenho ambiental. Este, segundo o
sistema EMAS deve conter (IISD, 1996):

• Descrição das principais atividades da (s) unidade (s);


• Avaliação dos aspectos ambientais significativos;
• Apresentação dos principais indicadores ambientais relacionados às emissões
hídricas, atmosféricas, a geração de resíduos, consumos de matérias-primas,
consumo de água e energia, ruído e outros indicadores relevantes;
• Apresentação da política, dos programas e do sistema de gestão ambiental;
• Destaque às mudanças ocorridas em relação ao relatório anterior;
• Indicação de prazos para divulgação do próximo relatório;
• Identificação do organismo qualificado que validou os dados apresentados no
relatório.

O EMAS também sugere indicadores de desempenho ambiental divididos em:


operacionais (indústrias e serviços) e de gestão.

A implementação segue praticamente os mesmos passos previstos no sistema ISO


14001, exceto pela etapa de comunicação às partes interessadas, devido à
necessidade da elaboração do relatório de desempenho. A União Européia
juntamente com o INEM –International Network for Environmental Management
disponibilizaram um manual orientativo para implantação deste sistema de gestão
(EMAS, 2000).

3.4.4.5.3 Especificação para um sistema de gestão ambiental - norma BS 7750

O Instituto Inglês de Padronização (BSI) publicou a versão “draft” desta norma em


1992 e, em 1994, a final. Ela estabelece a especificação para um sistema de gestão
ambiental. A sua estrutura foi desenhada visando torná-la compatível com o sistema
EMAS e foi uma das precursoras da ISO 14001. Este sistema foi substituído pelo
sistema ISO 14001 em 1997 em decorrência de um acordo entre a União Européia e
a organização ISO (Acordo de Viena) (IISD, 1996).
111

3.4.4.5.4 Programa "Atuação Responsável®" (Responsible Care)

Criado no Canadá em 1985 pela associação canadense da industria química (CCPA),


estabelece códigos, práticas e princípios de gestão relacionados ao meio ambiente,
saúde e segurança do trabalho, voltados para as indústrias químicas. Esse programa
se expandiu e hoje existe em mais de 40 países.

Sua adesão é voluntária e ele é conduzido normalmente, pelas grandes associações da


indústria química no mundo. No Brasil, este programa é coordenado pela ABIQUIM-
Associação Brasileira da Indústria Química desde 1992.

A partir de 1998 a adesão à Atuação Responsável tornou-se obrigatória para todos os


associados da ABIQUIM, a exemplo do que ocorre na maior parte dos países com
indústria química desenvolvida.

O Programa Atuação Responsável® é composto por seis elementos:

I. Princípios Diretivos
Os Princípios, em número de 12, estabelecem a base ética do Processo, indicando as
questões fundamentais que devem nortear as ações de cada empresa:
• Assumir o gerenciamento ambiental como expressão de alta prioridade
empresarial, por meio de um processo de melhoria contínua em busca da
excelência;
• Promover, em todos os níveis hierárquicos, o senso de responsabilidade
individual com relação ao meio ambiente, segurança e saúde ocupacional e o
senso de prevenção de todas as fontes potenciais de risco associadas às suas
operações, produtos e locais de trabalho;
• Ouvir e responder às preocupações da comunidade sobre seus produtos e suas
operações;
• Colaborar com órgãos governamentais e não-governamentais na elaboração e
aperfeiçoamento de legislação adequada à salvaguarda da comunidade, locais de
trabalho e meio ambiente;
112

• Promover a pesquisa e desenvolvimento de novos processos e produtos


ambientalmente compatíveis;
• Avaliar previamente o impacto ambiental de novas atividades, processos e
produtos e monitorar os efeitos ambientais das suas operações;
• Buscar continuamente a redução dos resíduos sólidos, despejos líquidos e
emissões gasosas para o ambiente, oriundos das suas operações;
• Cooperar para a solução dos impactos negativos no meio ambiente decorrentes
do descarte de produtos ocorrido no passado;
• Transmitir às autoridades, funcionários, clientes e à comunidade informações
adequadas quanto aos riscos à saúde, à segurança e ao meio ambiente de seus
produtos e operações e recomendar medidas de proteção e de emergência;
• Orientar fornecedores, transportadores, distribuidores, consumidores e o público
para que transportem, armazenem, usem, reciclem e descartem os seus produtos
com segurança;
• Exigir que os contratados, trabalhando nas instalações da empresa, obedeçam aos
padrões adotados pela contratante em segurança, saúde ocupacional e meio
ambiente;
• Promover os princípios e práticas do "Atuação Responsável®", compartilhando
experiências e oferecendo assistência a outras empresas para produção,
manuseio, transporte, uso e disposição de produtos.

II.Códigos de Práticas Gerenciais


São documentos destinados a definir uma série de práticas gerenciais, que permitem
a implementação efetiva dos Princípios Diretivos.

Os Códigos, em número de 6, abrangem todas as etapas dos processos de fabricação


dos produtos químicos, além de tratarem das peculiaridades dos próprios produtos.
São eles:
• Segurança de Processos: busca garantir que não ocorram acidentes nas
instalações das indústrias, procurando determinar as fontes de risco e, então,
atuar na prevenção desses possíveis problemas;
113

• Saúde e Segurança do Trabalhador: busca garantir as melhores condições de


trabalho dentro das empresas, visando manter em suas instalações um adequado
ambiente, que não crie problemas à saúde e segurança dos que lá trabalham,
sejam funcionários ou contratados de terceiros;
• Proteção Ambiental: busca gerenciar os processos de produção da forma mais
eficiente possível, com vistas a reduzir assim a geração de despejos líquidos,
emissões gasosas e resíduos sólidos;
• Transporte e Distribuição: busca otimizar todas as etapas de distribuição de
produtos químicos, visando reduzir o risco proporcionado pelas atividades de
transporte, além de melhorar a resposta a eventuais acidentes;
• Diálogo com a Comunidade e Preparação e Atendimento a Emergências:
busca a manutenção de canais de comunicação das empresas com sua
comunidade interna (trabalhadores) e externa (vizinhos), bem como atuar nas
possíveis emergências que venham a ocorrer nas instalações da indústria;
• Gerenciamento do Produto: busca fazer com que as questões ligadas à saúde,
segurança e meio ambiente sejam consideradas em todas as fases do
desenvolvimento, produção, manuseio, utilização e descarte de produtos
químicos.

III. Comissões de Lideranças Empresariais


São os foros de debates e de troca de experiências entre profissionais e dirigentes de
empresas associadas, visando à coordenação das atividades conjuntas ligadas ao
"Atuação Responsável®", tanto no âmbito da ABIQUIM como nas regiões de
concentração de empresas químicas em todo o Brasil.

IV. Conselhos Comunitários Consultivos


Visa estreitar o diálogo entre a indústria química e seus potenciais interessados.
Participam membros representativos da comunidade e integrantes da indústria.

V. Avaliação de Progresso
O Atuação Responsável® requer o acompanhamento permanente e estruturado de
todas as atividades sob controle. O Programa contempla, assim, a sistematização das
114

avaliações de progresso, que se iniciam com uma auto-avaliação por parte de cada
empresa, devendo, com o tempo, envolver a avaliação por terceiros.

VI. Difusão para a Cadeia Produtiva


Visa integrar toda a cadeia produtiva a ela ligada e transmitir a seus clientes e
fornecedores os valores e práticas ligados ao Atuação Responsável®.

Como pode ser observado, este programa distingue-se dos demais principalmente:
• Pela abordagem integrada de meio ambiente, saúde e segurança;
• Pela ausência de verificação de conformidade por auditoria independente;
• Pela sua estrutura.

A despeito de ser um programa pioneiro e difundido em vários países do mundo, ele


não se mostrou capaz de reverter a imagem negativa associada à indústria química.

Em termos de perspectiva, acredita-se que devido à grande difusão e reconhecimento


das normas ISO e de outros sistemas de gestão de segurança compatíveis com estas
(facilitando a integração) e que são auditáveis; o Programa Resposible Care venha a
ser remodelado para facilitar a sua integração com os demais sistemas.

3.4.4.5.5 Integração dos sistemas de gestão (meio ambiente, segurança e


qualidade)

A implementação de um sistema de gestão ambiental nos moldes das normas ISO


14001 e EMAS permite às empresas identificar mais claramente as interfaces da
gestão com as demais áreas da companhia. Além disso, a estrutura da norma é
bastante similar às normas da qualidade, que precederam a série 14000. Desta forma,
muitas ferramentas já conhecidas e utilizadas pelas empresas para a gestão da
qualidade podem ser compartilhadas na gestão ambiental.

De um modo geral, outros fatores como tecnologia de informação e ferramentas de


informática, aliados a novos modelos de gestão de saúde e segurança dotados de
115

estruturas compatíveis com as normas ISO, também são facilitadores da integração


dos sistemas de gestão.

Segundo os autores do livro “Sustaining Enviromental Management Success”, os


fatores indutores de integração estão relacionados à criação e a percepção de valor
nos negócios. Os principais fatores indutores, segundo estes, são: competitividade,
estratégia, responsabilidade pós-consumo, gestão de riscos, gestão da cadeia
produtiva para reduzir custos e riscos; demandas de investidores e clientes por uma
gestão não fragmentada e sustentabilidade do negócio (Wilson et. al., 1998).

Entretanto, a despeito da atuação das forças indutoras para a integração, a sua


efetivação é um grande desafio. Segundo Wilson et. al. (1998): - “é mais fácil dizer
do que fazer”! Integrar é um processo de aprendizado e de melhoria continua,
dependente da visão e liderança dos condutores do negócio.

No Brasil cresce o número de empresas que estão implementado e integrando seus


sistemas de gestão, segundo moldes das normas ISO e OHSAS 18001.

3.4.4.6 Contabilidade ambiental

O termo contabilidade ambiental tem vários usos e significados. Nos últimos anos, o
uso da contabilidade ambiental na gestão das empresas está sendo revisto como uma
ferramenta que pode:
• Identificar as áreas nas quais ocorrem os custos ambientais;
• Fornecer informações que suportem os tomadores de decisão em relação às
questões ambientais;
• Identificar e estimar custos relacionados aos riscos ambientais associados a novos
projetos e aquisições;
• Estimar custos relativos às mudanças nos requisitos legais, taxação e subsídios;
• Redesenhar a avaliação de desempenho da empresa, de forma a incluir o
desempenho ambiental;
116

• Identificar as novas categorias de custos relacionadas às contingências e passivos


ambientais (Gray; 2001).

Segundo a USEPA, a contabilidade ambiental pode ser vista em uma escala mais
ampla sob três diferentes contextos: contabilidade nacional; contabilidade financeira
e contabilidade gerencial (USEPA, 1995).

A contabilidade nacional trata-se de um indicador macroeconômico relacionado ao


uso de recursos naturais.

A contabilidade financeira permite às empresas classificar e reportar seus ativos e


passivos sob a ótica ambiental, tanto relacionada ao atendimento legal e minimização
de impactos ambientais associados ao seu negócio, quanto à questão de recuperação
de passivos ambientais.

Por sua vez, a contabilidade gerencial consiste na identificação, coleta e análise de


informações para gestão interna dos processos e produtos, com vistas a suportar a
gestão das organizações e a tomada de decisão. A contabilidade ambiental usada
como ferramenta de gestão nas empresas envolve a determinação dos custos
relacionados aos aspectos ambientais da empresa em diversas instâncias, podendo
abranger desde a aquisição de matérias-primas, projeto de novos produtos, processo
industrial até o descarte de embalagens e resíduos.

As principais diferenças entre os dois tipos de contabilidade ambiental nas


corporações está indicada na Tabela 8.

Este trabalho restringir-se-á à contabilidade ambiental nas organizações com visão


financeira e de gestão.
117

Tabela 8 - Comparação entre contabilidade ambiental gerencial e financeira.


Fonte: UNEP (1999).

Contabilidade Gerencial Contabilidade Financeira

Investidores, agências de governo


Usuários Gerentes em diversos níveis
e gerentes

Sem padrão definido, deve conter


Grau de liberdade na Com padrão definido seguindo os
informações que evidenciem a
formatação princípios gerais da contabilidade
melhoria do desempenho

A indução de comportamento é
Indução de A mensuração e acompanhamento indireta, embora possa haver
comportamento no dia-a-dia influencia a gestão sistema de remuneração atrelada
aos resultados

Avaliação do desempenho no
Referência temporal Planejamento e orçamento
último ano fiscal

Menos flexível, normalmente


Abrangência temporal Flexível
referenciado a trimestres

Relatórios detalhados para Relatórios resumidos da empresa


Relatórios
diversas áreas como um todo

Mais restrito e formalmente


Foco Multidisciplinar
definido

3.4.4.6.1 Contabilidade ambiental como ferramenta de gestão nas empresas

As empresas enfrentam inúmeras pressões de investidores, acionistas, clientes,


órgãos de controle e da sociedade como um todo para o fornecimento de informações
relacionadas ao seu desempenho ambiental. Face às pressões, as empresas estão
utilizando diferentes instrumentos para aprimorar o seu desempenho e divulgá-lo às
partes interessadas.
Segundo o relatório das Nações Unidas sobre este tema (UNEP, 2001), a prática em
voga para a gestão ambiental tem sido implementar inicialmente auditorias
ambientais e, por último, utilizar-se da contabilidade ambiental. Segundo esta mesma
fonte, o processo deveria ser exatamente o inverso - utilizar a contabilidade
ambiental como ponto de partida para a efetiva gestão ambiental dos negócios
(Tabela 9).
118

Tabela 9 - Uso das ferramentas de gestão ambiental pelas empresas.


Ideal Prática comum
Contabilidade ambiental Auditorias ambientais
Indicadores ambientais Relatórios de desempenho ambiental
Sistemas de gestão ambiental Sistemas de gestão ambiental
Auditorias ambientais Verificação
Relatórios de desempenho ambiental Comparação (benchmarking)
Verificação Indicadores ambientais
Comparação (benchmarking) Contabilidade ambiental
Fonte: UNEP (2001).

As empresas devem contabilizar os custos ambientais pelas mesmas razões que


contabilizam os demais custos. Eles podem representar uma parcela importante nos
custos totais de uma organização, embora a maioria das empresas não tenha esta
visão. O uso de tecnologias mais limpas e medidas de prevenção à poluição pode
beneficiar as empresas a longo prazo, aumentando a eficiência do processo
produtivo, reduzindo o consumo de insumos e a geração de resíduos. Neste sentido, a
correta análise econômica e financeira é fundamental para a viabilização dos projetos
de prevenção à poluição.

Entretanto, no sistema tradicional de contabilidade das empresas a maioria dos custos


ambientais está alocado em contas abrangentes e mesclados com outras despesas, de
forma que não é possível identificá-los e nem fazer a sua gestão adequada
(UNEP,1999).

3.4.4.6.2 Custos ambientais

Os custos ambientais estão associados a produtos, processos, sistemas ou unidades e


a sua definição depende de como as empresas os utilizam, da escala e da sua
abrangência. Certos custos podem não ser claramente identificados como
“ambientais”, uma vez que, em parte, podem ser atribuídos a outras categorias.
119

a) Identificação e classificação dos custos ambientais


Sistemas tradicionais classificam os custos como: diretos (materiais e mão-de-obra);
indiretos (manutenção, depreciação, seguros, taxas, utilidades e demais custos
relacionados à produção); de vendas; administrativos e de pesquisa &
desenvolvimento.

Segundo alguns especialistas, os custos ambientais podem ser classificados em: custo
total (TCA) que abrange custos diretos e indiretos e custo associado ao ciclo de vida
(LCA cost), que tem uma abrangência mais ampla, pois considera os custos
relacionados desde a produção de matérias-primas até a disposição final do produto.

Por outro lado, segundo a visão americana, apresentada no trabalho “An Introduction
to Enviromental Accounting As A Business Management Tool: Key Concepts and
Terms” (USEPA,1995), visão esta compartilhada pela UNEP em publicações mais
recentes, os custos ambientais podem ser classificados como:
• Custos potencialmente escondidos ou difusos;
• Custos de contingência e
• Custos relacionados à imagem.

Estas categorias de custos, por sua vez, podem ser divididas em três outras
subcategorias: custos associados ao atendimento legal, custos de implantação e de
desmobilização e custos voluntários, conforme pode ser visto na Tabela 10.
120

Tabela 10 - Custos ambientais.

Custos potencialmente escondidos


Atendimento legal Implantação Voluntários
Notificação Avaliação Acordos e parcerias
Preparação do site com a comunidade
Relatórios
Licenciamento Monitoramento
Monitoramento
Pesquisa e Treinamento
Remediação desenvolvimento Auditorias
Planejamento Projetos de engenharia Qualificação de
Treinamento Convencionais provedores
Capital e equipamentos Relatórios
Inspeção
Materiais Seguro
Selos verdes
Suprimentos Planejamento
Atendimento a emergência Estudos de viabilidade
Utilidades
Equipamentos de segurança Desmobilização Reciclagem
Seguros ambientais Comissionamento Pesquisa e
Inventários desenvolvimento
Controle da poluição
Monitoramento Preservação ambiental
Gestão de resíduos e efluentes
Avaliação Financiamento de
Taxas projetos
Custos contingenciais
Previstos para Remediação Danos ao meio ambiente
atendimento legal
Danos a propriedade Danos econômicos
Previstos para controle
de emissões Danos a pessoas Despesas legais

Custos de imagem
Imagem da empresa Relações com Relações com a
Relações com clientes profissionais da empresa comunidade
Relações com investidores Relações com Relações com as
fornecedores autoridades
Fonte: USEPA (1995)

Os custos convencionais são comumente utilizados na gestão dos negócios e nos


projetos, mas, normalmente, não consideram os custos ambientais. Em projetos de
prevenção à poluição e de tecnologias mais limpas, a alocação correta dos custos
convencionais é decisiva para a sua viabilização econômica. O relatório elaborado
pela Instituição GEMI-Global Environmental Management Initiative: “Finding Cost-
Effective Pollution Prevention Initiatives: Incorporating Environmental Costs Into
Business Decision Making” apresenta estudos de viabilidade de um projeto de
prevenção a poluição. Neste trabalho são comparadas duas situações – com e sem os
121

custos ambientais. No exemplo apresentado, o estudo que considera os custos


ambientais tem uma estimativa do Valor Líquido Presente superior (GEMI, 1994).

Os custos potencialmente escondidos (ocultos) normalmente são apropriados em


outras contas, de forma que é difícil avaliar a sua magnitude. Este fato corrobora com
a falta de gestão no dia-a-dia destes custos.

Já os custos contingenciais podem ser previstos em termos probabilísticos.


Normalmente incluem custos de remediação e compensações por acidentes que
venham a ocorrer, assim como multas e penalidades que possam advir.

Os custos ambientais menos tangíveis são àqueles relacionados com a imagem da


empresa - custos de imagem. Estes são mais subjetivos e difíceis de serem
mensurados e geridos. De fato, os custos são mensuráveis, os benefícios decorrentes
deles é que não são facilmente identificados (Figura 36).

Custos
Custos Custos Custos Custos
potencialmente
Convencionais contingenciais de imagem da sociedade
escondidos

Fácil de Mais difícil


mensurar de mensurar

Figura 36 - Classificação dos custos e sua mensuração.


Fonte: USEPA (1995)

Determinados custos podem gerar dúvidas quanto à sua classificação. Por exemplo,
como considerar os custos associados à implantação de processos de produção “mais
limpos?” Como considerar os custos associados à gestão de riscos ou de saúde e
segurança dos trabalhadores?
122

Os critérios para alocar estes custos podem ser:


(a) Considerá-los como custos ambientais para determinado objetivo e não para
outro;
(b) Considerar parte como ambiental, ou
(c) Considerá-los ambientais quando o montante “ambiental” for superior a 50%.

A escala e o escopo dos custos ambientais podem variar em função dos objetivos
associados à sua gestão.
Os custos descritos até o momento são considerados privados. Existem os custos
denominados sociais, que transcendem o escopo normalmente considerado pelas
empresas. Por exemplo, os impactos causados ao meio ambiente pelo lançamento de
águas residuárias não tratadas ou pela disposição inadequada de resíduos
normalmente não são considerados. A Figura 37 apresenta de forma esquemática
essa questão.

Custos Sociais

Custos Privados

Custos usualmente considerados


pelas empresas para a tomada
de decisões
Custos Custos
Sociais Sociais
Custos potencialmente escondidos e não
considerados nas tomadas de decisão
(atendimento legal, instalação, operacionais,
desmobilização, futuros e de relações
com a comunidade)

Figura 37 - Custos privados e sociais.


Fonte: USEPA (1995)
123

b) Utilização e alocação dos custos ambientais


Uma das funções mais importantes da contabilização ambiental é permitir a
identificação dos custos ambientais, motivando os gestores das empresas a reduzi-
los.

Para tanto, é necessário alocar os custos em produtos, processos ou áreas diretamente


relacionadas a estes, em vez de considerá-los como despesas comuns.
Este tipo de abordagem permite também a correta estimativa dos custos de diferentes
produtos e processos. Esta abordagem também se aplica aos créditos relacionados ao
uso de produtos reciclados ou subprodutos.

Alocação de custos ambientais em projetos


A análise econômico-financeira dos investimentos normalmente é feita à luz dos
padrões financeiros de retorno de capital, desconsiderando os aspectos ambientais e
seus custos. Como decorrência, projetos de prevenção à poluição e uso de
tecnologias mais limpas podem não ser considerados viáveis economicamente.

3.4.4.6.3 Análise financeira dos investimentos

O objetivo da análise financeira dos investimentos é avaliar se estes irão adicionar


valor econômico aos negócios, em relação a outras formas de aplicação.
Segundo o documento: “Pollution Prevention Program Manual – P2 Planning and
Beyond”, a análise financeira dos investimentos de prevenção à poluição deve seguir
quatro etapas (CCPP, 2001):

• Coleta de informações técnicas sobre custos envolvidos no projeto;


• Elaboração dos fluxos de caixa;
• Avaliação do retorno do investimento e;
• Interpretação dos resultados.
O esquema resumido das etapas de análise do investimento é apresentado na Figura
38.
124

A USEPA elaborou um programa em excel, denominado “P2 Finance”, que permite


fazer a análise financeira dos investimentos em prevenção à poluição (USEPA,
2001). O retorno do investimento é calculado pelos mesmos métodos sugeridos pelo
grupo P2 do Canadá (Tabela 11). Em ambos, o método recomendado para estimar o
retorno do investimento é o do valor presente líquido.

Tabela 11 - Quadro comparativo dos métodos de análise de investimentos.


Considera
Estima o
Facilidade de a variação Vantagens e
valor dos Uso
uso do valor da desvantagens
ganhos
moeda
Não considera a
Tempo de variação do valor
Projetos
retorno Simples Não Não da moeda
pequenos
(payback) durante a vida
útil do projeto
É preciso
estimar o fluxo
Valor Mede o risco
de caixa durante Projetos
presente Sim Sim ajustado do valor
a vida útil do maiores
líquido adicionado
projeto e estimar
a taxa de retorno
Pode ser Pode ser usado
É preciso usado na avaliação
Taxa estimar o fluxo na inicial
interna de de caixa durante Sim Não avaliação dos
retorno a vida útil do preliminar e investimentos
projeto na e/ou para estimar
verificação a taxa de retorno

Fonte: CCPP (2001).


125

Identificação detalhada do processo


e dos sub-processos envolvidos

Alocação de todos os custos relacionados aos processos


nas duas condições (antes e após a implementação)

Contabilizar todos os custos relacionados


ao projeto em base anual

Calcular as diferenças nos custos entre as duas


condições (incluir custos de instalações,
equipamentos e operacionais)

Elaborar o fluxo de caixa considerando a vida útil


dos equipamentos, amortização, depreciação,
juros, inflação e retorno esperado do investimento

Calcular o retorno financeiro do investimento


(usando: tempo de retorno; valor líquido
presente ou taxa interna de retorno)

Analisar os resultados considerando


também aspectos qualitativos (imagem da empresa;
qualidade do produto, etc)

Figura 38 - Etapas para avaliação financeira de investimentos.


Fonte: USEPA (2001)

Quando as diferentes categorias de custos ambientais são consideradas na etapa de


projeto de produtos e processos (estendendo-se a sua disposição final), tem-se a
contabilidade do ciclo de vida.

A contabilidade ambiental é uma ferramenta que torna os sistemas de gestão


ambiental mais efetivos. A sua implementação pode ser feita gradativamente, a partir
dos custos mais facilmente reconhecidos e mensuráveis e em escala mais limitada.
Muitas vezes, inclusive, a avaliação de projetos não requer a estimativa dos custos
126

mais complexos, uma vez que os custos e benefícios mensuráveis já fornecem


informações suficientes para a tomada de decisão.

Segundo a agência ambiental americana –EPA, a integração dos custos ambientais,


sociais e privados na gestão de negócios tende a expandir, de forma a permitir uma
abordagem mais proativa e estratégica das empresas com relação a estas questões.

3.4.4.6.4 Contabilidade ambiental financeira - relatórios de prestação de contas

Em 1992, a Comunidade Européia publicou um programa com objetivo de incentivar


o desenvolvimento sustentável e uma das iniciativas propostas foi estimular a
publicação de informações financeiras relativas às questões ambientais (EU, 2001).

A ausência de normas explícitas para esta publicação contribuiu para se criar uma
situação em que as diferentes partes interessadas, incluindo as autoridades
regulamentadoras, os investidores, os analistas financeiros e o público em geral,
considerassem as informações de natureza ambiental, publicadas pelas empresas
inadequadas ou pouco confiáveis. Sob a ótica dos investidores, saber de que forma as
empresas tratam as questões ambientais é muito importante. Já as autoridades
regulamentadoras, têm interesse em monitorar o atendimento à legislação ambiental
e os custos a ela inerentes.Todavia, a publicação voluntária de dados ambientais nas
contas anuais e nos relatórios de gestão das empresas continua a ser pouco freqüente,
mesmo que exista uma percepção generalizada de que os custos ambientais para o
controle e prevenção da poluição sejam cada vez maiores (EU, 2001).

Na ausência de linhas de orientação harmônicas e vinculadas entre as questões


ambientais e financeiras, torna-se difícil estabelecer comparações entre corporações.
No caso das empresas que publicam efetivamente informações sobre as questões
ambientais, acontece freqüentemente que o valor desses elementos é gravemente
prejudicado pela ausência de um conjunto comum e reconhecido de elementos
informativos que inclua as necessárias definições e conceitos relacionados às
127

questões ambientais. A forma de divulgação das informações varia enormemente


entre empresas, assim como os períodos contabilísticos.

Os custos de publicação de dados ambientais, bem como o seu caráter confidencial


em certos casos, são freqüentemente considerados como fatores que não incentivam
a sua publicação no âmbito das informações financeiras das empresas. Todavia, estes
argumentos não eliminam a necessidade de estimular a prestação de informações
ambientais. Os investidores carecem de informações relativas ao impacto dos riscos e
responsabilidades ambientais sobre a situação financeira da empresa, bem como no
que se refere à sua eficiência ambiental, na medida em que podem ter conseqüências
sobre a sua solidez financeira.
Justificados pelos parágrafos anteriormente descritos, em maio de 2001 a União
Européia publicou uma recomendação relativa à publicação de divulgação de
resultados financeiros associados às questões ambientais.

Em virtude do nível de detalhamento e abrangência desta publicação, nos itens a


seguir serão apresentados os seus pontos mais relevantes. No Brasil, até a presente
data, não foi possível localizar nenhum trabalho similar a este da União Européia.

Definições

Na publicação da União Européia, são consideradas despesas de caráter ambiental os


custos das medidas tomadas por uma empresa ou em seu nome por outras empresas,
para evitar, reduzir ou reparar prejuízos de caráter ambiental decorrentes das suas
atividades. Estes custos incluem: a eliminação de resíduos ou as iniciativas
destinadas a evitar a sua formação; a proteção dos solos e das águas superficiais e
subterrâneas; a preservação da qualidade do ar e das condições climáticas; a redução
do ruído e a proteção da biodiversidade. Os custos incorridos susceptíveis de
produzir efeitos benéficos ao meio ambiente, mas cujo objetivo principal consista em
dar resposta a outras necessidades, por exemplo, um aumento da rentabilidade, a
sanidade e a segurança nos locais de trabalho, a segurança na utilização dos produtos
128

da empresa ou a eficiência produtiva, devem ser excluídos deste conceito. Caso não
seja possível isolar o montante dos custos adicionais relativamente a outros custos
nos quais possam estar integrados, poderá ser feita uma estimativa, na condição do
montante obtido preencher o requisito de prevenção, redução ou reparação de
prejuízos de caráter ambiental.

Os custos incorridos em resultado de multas ou outras penalidades pelo não


cumprimento da regulamentação ambiental, bem como as indenizações pagas a
terceiros em resultado de perdas ou danos provocados por poluição ambiental no
passado, são excluídas desta definição. Apesar de se relacionarem com os efeitos das
atividades da empresa sobre o meio ambiente, estes custos não se destinam a evitar,
reduzir nem reparar danos ambientais.

Reconhecimento e valoração dos passivos

a) Reconhece-se um passivo de caráter ambiental quando uma saída de fundos,


correspondente a benefícios econômicos, resulta da regularização de uma
obrigação presente, de caráter ambiental, que surgiu em resultado de
acontecimentos passados, e se o montante pelo qual deve-se fazer essa
regularização pode ser avaliado de forma confiável. A natureza desta obrigação
deve ser claramente definida, e pode ser de dois tipos:
• Legal ou contratual: a empresa tem uma obrigação legal ou contratual de evitar,
reduzir ou reparar danos ambientais; ou
• Implícita: uma obrigação implícita resulta da própria atuação da empresa, quando
esta se comprometeu a evitar, reduzir ou reparar danos ambientais.

b) Os danos ambientais que podem relacionar-se com a empresa, ou que podem ter
sido por ela causados, mas relativamente aos quais não existe qualquer obrigação
legal, contratual ou implícita de reparação, não podem ser reconhecidos como
passivos de caráter ambiental nas contas anuais da empresa, de acordo com os
item (a). Este fato não prejudica a aplicação dos critérios estabelecidos no item
(e) aos passivos eventuais de caráter ambiental.
129

c) Reconhece-se um passivo de caráter ambiental quando pode ser efetuada uma


estimativa dos custos decorrentes da obrigação subjacente. Caso exista, à data do
balanço, uma obrigação cuja natureza esteja claramente definida e que seja
susceptível de originar uma saída de fundos correspondente a benefícios
econômicos, mas de montante ou data incertos, deve constituir-se uma provisão,
desde que se possa fazer uma estimativa confiável do montante dessa obrigação

Passivos eventuais de caráter ambiental

d) Os passivos eventuais não devem ser reconhecidos no balanço. Se existe uma


possibilidade, pouco provável, de que o dano deva ser reparado no futuro, mas
essa obrigação esteja ainda dependente da ocorrência de um acontecimento
incerto, deve inscrever-se um passivo eventual no anexo às contas. Se a
obrigatoriedade da empresa incorrer numa despesa de caráter ambiental constituir
uma possibilidade remota, ou se esta não for significativa, não é necessário
evidenciar qualquer passivo eventual.

Compensação de passivos e reembolsos esperados.

e) Caso a empresa preveja que uma ou diversas das despesas relacionadas com
uma obrigação de caráter ambiental sejam reembolsadas por um terceiro, esta
será reconhecida apenas quando esteja praticamente certo o seu recebimento.

f) Um reembolso esperado de um terceiro não deverá ser utilizado como


compensação contra um passivo de caráter ambiental. Deverá ser evidenciado
separadamente como um ativo no balanço por um montante que não exceda o
correspondente da provisão. Apenas poderá ser utilizado como compensação
contra um passivo de caráter ambiental quando existir um direito legal a esta
compensação. Quando, com base nessas disposições, for adequado efetuar tal
compensação, deve evidenciar-se no anexo às contas o montante total do
passivo, bem como o reembolso esperado.
130

g) As receitas esperadas da venda de ativos afins não deverão ser utilizadas para
compensar um passivo de caráter ambiental, nem tidas em consideração ao
calcular uma provisão, mesmo que esta venda esteja associada ao acontecimento
que dá origem à constituição daquela provisão.

h) Em regra geral, a empresa é responsável pela totalidade do passivo de caráter


ambiental. Caso contrário, apenas a parte imputável à empresa deverá ser
inscrita como passivo ambiental.

i) As despesas de caráter ambiental devem ser reconhecidas como despesas no


período em que são incorridas, a menos que satisfaçam os critérios necessários
para serem reconhecidas como um ativo, tal como previsto no item (l ).

j) As despesas de caráter ambiental relacionadas com prejuízos que ocorreram


num exercício anterior não podem ser consideradas como ajustes deste
exercício, mas devem ser lançadas no exercício em curso, ou seja, no exercício
durante o qual foram reconhecidas.

Capitalização das despesas de caráter ambiental

k) As despesas de caráter ambiental podem ser capitalizadas caso tenham sido


efetuadas para evitar ou reduzir danos futuros ou para preservar recursos ou para
proporcionar benefícios econômicos no futuro.

l) As despesas de caráter ambiental efetuadas para evitar ou reduzir danos futuros,


bem como para preservar recursos, apenas podem ser reconhecidas como ativos
caso se destinem a servir de maneira durável à atividade da empresa e se, além
disso, estiver satisfeita uma das seguintes condições:
• Os custos relacionam-se com benefícios econômicos antecipados, que se espera
venham a favorecer a empresa e que permitam prolongar a vida, aumentar a
capacidade ou melhorar a segurança ou eficiência de outros ativos detidos pela
empresa (para além do seu nível de eficiência tal como estimado originalmente);
ou
131

• Os custos permitem reduzir ou evitar uma contaminação ambiental susceptível de


ocorrer em resultado das futuras atividades da empresa.

m) Se os critérios que permitem a inscrição como ativo, estabelecidos nos itens (k)
e (l) não forem satisfeitos, as despesas de caráter ambiental devem ser
imputadas à conta de resultados no momento em que são efetuadas. Se esses
critérios são satisfeitos, as despesas de caráter ambiental devem ser capitalizadas
e amortizadas na conta de resultados no período corrente e nos exercícios
subseqüentes, durante um período adequado, ou seja, de forma sistemática ao
longo da sua vida útil.

n) As despesas de caráter ambiental não devem ser capitalizadas, mas, pelo


contrário, lançadas na conta de resultados caso não dêem origem a benefícios
econômicos futuros. Esta situação verifica-se quando as despesas de caráter
ambiental relacionam-se com atividades passadas ou correntes ou com o
restabelecimento das condições ambientais no estado em que se encontravam
antes da contaminação (por exemplo, custos de tratamento de resíduos, de
reparação de prejuízos verificados em exercícios anteriores, de natureza
administrativa ou auditorias ambientais).

o) Certos ativos, como, por exemplo, instalações fabris e equipamentos, podem ser
adquiridos por motivos ambientais; é o caso das instalações de controle ou de
prevenção da poluição, adquiridas para dar cumprimento à legislação ambiental.
Caso satisfaçam os critérios necessários ao reconhecimento como ativo,
previstos nos itens (l) e (m) devem ser capitalizadas.

p) Existem certos casos em que não resultam da própria despesa de caráter


ambiental quaisquer benefícios econômicos futuros antecipados, mas estes são
provenientes de outro ativo que é utilizado na exploração da empresa. Quando
isto ocorre, a despesa deve ser inscrita como parte integrante do ativo existente,
não devendo ser reconhecida separadamente.
132

q) Podem existir direitos ou outros elementos de natureza semelhante adquiridos


por motivos associados aos impactos das atividades da empresa sobre o meio
ambiente (por exemplo, licenças ambientais) a título oneroso, e que satisfaçam
as condições necessárias à sua inscrição como ativo, tal como previstas nos itens
(l) e (m). Estes direitos devem então ser capitalizados e amortizados
sistematicamente ao longo das suas vidas úteis esperadas. Caso contrário, devem
ser lançados na conta de resultados no momento em que ocorrem.

Diminuição do valor dos ativos

r) Certos acontecimentos ou fatores de natureza ambiental podem dar origem a


uma diminuição de valor de um ativo imobilizado já existente, por exemplo, o
caso de contaminação de um local fabril. Deve ser efetuada uma correção caso o
valor recuperável da utilização desse local tenha-se tornado inferior ao seu valor
contábil. O montante desta correção deverá ser imputado à conta de resultados.

s) Caso as despesas de caráter ambiental sejam reconhecidas como parte integrante


de um outro ativo, esse ativo conjunto deverá, em cada data de referência do
balanço, ser testado no que diz respeito à sua recuperação e, quando necessário,
amortizado até atingir o seu montante recuperável.

t) Caso o valor contábil de um ativo já tenha levado em conta uma perda de


benefícios econômicos por motivos de caráter ambiental, a subseqüente despesa
necessária para restabelecer os benefícios econômicos futuros na sua situação
inicial de eficiência poderá ser capitalizada, na medida em que o valor contábil
resultante não exceda o montante recuperável do ativo.

Valoração dos passivos ambientais

u) Os passivos ambientais são reconhecidos quando é possível efetuar uma


estimativa fiável das despesas para fazer face à obrigação a eles subjacente.
133

v) O montante desse passivo deverá consistir na melhor estimativa da despesa


necessária para regularizar a obrigação atual à data do balanço, com base na
situação existente e levando em consideração a evolução das tecnologias e da
legislação ambiental, na medida em que seja previsível a sua ocorrência.

w) O montante deverá consistir numa estimativa do montante total do passivo,


independentemente da data em que a atividade tenha cessado ou da data em que
essa obrigação deva ser regularizada.

x) Ao estimar o montante de um passivo ambiental, devem ser utilizadas as


seguintes regras: se a avaliação dele é passível de diferentes resultados, nos
termos do item (w), deverá ser contabilizada a melhor estimativa. Nos casos
extremamente raros em que não é possível determinar a melhor estimativa do
passivo com confiabilidade suficiente, este deve ser considerado como um
passivo eventual, devendo, por conseguinte, ser referida a sua existência no
anexo às contas anuais. Além disso, devem ser referidos os motivos pelos quais
não pode ser feita uma estimativa fiável.

y) Além disso, para se avaliar o montante de um passivo ambiental deve-se levar


em consideração os seguintes elementos:
• Custos marginais diretos do esforço de reparação,
• Custo das remunerações e prestações pagas aos trabalhadores suscetíveis de
dedicarem uma parte significativa do seu tempo de trabalho diretamente ao
processo de reparação,
• Obrigações de monitoramento após reparação dos danos, e
• Progresso tecnológico na medida em que seja provável que as autoridades
públicas recomendem a utilização de novas tecnologias.

Provisões para recuperação de locais contaminados e custos de desmobilização

z) As despesas atinentes à recuperação dos locais, retirada de resíduos


acumulados, ao encerramento ou à desmobilização de ativos imobilizados, que a
134

empresa seja obrigada a efetuar, deverão ser reconhecidas de acordo com os


critérios estabelecidos nos itens (a) a (d). Caso sejam satisfeitos esses critérios a
obrigação de efetuar despesas no futuro deverá ser contabilizada como um
passivo de caráter ambiental.

aa) O passivo ambiental associado à recuperação de locais, à desmobilização ou ao


encerramento de instalações deverá ser reconhecido na data em que tem início a
atividade da empresa e, conseqüentemente, surge a obrigação. O
reconhecimento desse passivo não deverá ser atrasado até ao momento do
término da atividade ou do fechamento do local. Caso seja reconhecido este
passivo, a despesa estimada é incluída como parte do custo do ativo associado
que deve ser desmobilizado. Esta despesa capitalizada é então amortizada no
âmbito da depreciação do ativo correspondente. Caso surjam danos
suplementares no decurso das operações, a obrigação da empresa de reparar
surge no momento em que esses danos ambientais se produzem.

bb) Em conformidade com a norma contábil internacional, no caso dos custos de


recuperação de locais e desmobilização das operações de longo prazo, é
preferível o tratamento contábil previsto no item anterior. A empresa pode
contabilizar custos de desmobilização de longo prazo durante o período relativo
às operações. Uma fração dos custos é imputada como despesa em cada período
contábil, sendo o saldo remanescente evidenciado como um passivo distinto.

3.4.4.6.5 Publicação das informações financeiras

Segundo a União Européia, os aspectos ambientais devem ser informados na medida


que sejam significativos no desempenho financeiro das corporações.

Estas informações devem, portanto, ser apresentadas no Relatório Anual e nos


anexos de contas consolidadas.
135

Informações ambientais financeiras do Relatório Anual

a) Deve ser informada a evolução das atividades da empresa que tenham sido
afetadas por questões ambientais, quais sejam:

• A estratégia e os programas que foram adotados pela empresa relativamente às


medidas de proteção ambiental, nomeadamente no que diz respeito à prevenção
da poluição. É importante que os usuários do relatório de gestão possam verificar
em que medida a proteção ambiental faz parte da estratégia e das atividades da
empresa. Se for o caso, pode-se incluir uma referência à adoção de um sistema de
proteção do ambiente, bem como a obrigação de respeitar um determinado
conjunto de normas ou certificações associadas;

• As medidas que foram implementadas ou estão em curso de implementação, em


virtude da legislação atual ou para antecipar uma futura alteração legislativa já
acordada;

• Sempre que adequado e relevante, tendo em conta a natureza e a dimensão das


atividades da empresa e os tipos de problemas ambientais associados a essa
atividade, informações sobre o seu desempenho ambiental: por exemplo,
utilização de energia, de matérias-primas e água, emissões, eliminação de
resíduos. Estas informações poderão ser fornecidas por intermédio de indicadores
quantitativos de eco-eficiência, discriminados, se for o caso, por segmento de
atividade. É especialmente importante fornecer dados quantitativos, em termos
absolutos, para as emissões e para o consumo de energia, água e matérias-primas
em conjunto com dados comparativos relativos ao período de referência anterior.
Estes valores deverão ser expressos, de preferência, em unidades físicas e não em
unidades monetárias; além disso, para uma melhor compreensão do seu
significado relativo e a sua evolução, os valores monetários poderiam ser
relacionados com as rubricas evidenciadas no balanço ou na demonstração de
resultados;
136

• Se a empresa publica um relatório ambiental separado, que contém informações


mais pormenorizadas ou adicionais, quer quantitativas quer qualitativas, fazer
uma referência a esse relatório. Pode-se, também, fazer uma descrição resumida
da questão e indicar a consulta ao relatório ambiental para informações mais
detalhadas. As informações prestadas no relatório ambiental separado deverão ser
coerentes com as publicadas no relatório de gestão e nas contas anuais da
empresa. Se o relatório ambiental foi sujeito a um processo de verificação
externo, tal fato deve também ser mencionado no relatório anual. Caso a
abrangência dos relatórios não coincida, ambos deverão explicitar claramente
este fato, de forma a permitir a correta leitura e interpretação. Além disso, a data
e o período de referência do relatório ambiental separado devem também, de
preferência, coincidir com o do relatório de gestão.

Publicação de informações no balanço

b) As provisões devem ser inscritas no balanço sob a rubrica “outras provisões”.


Pode ser feita uma subdivisão mais pormenorizada das rubricas previstas para os
passivos:

c) Caso sejam significativos, convém que os passivos de caráter ambiental sejam


evidenciados separadamente no corpo do balanço. Caso contrário, deverão ser
apresentados separadamente no anexo às contas;

d) Devem ser incluídas no anexo às contas as seguintes informações:

• A descrição dos métodos de valoração, bem como dos métodos utilizados para
efetuar correções de valor, no que diz respeito aos aspectos ambientais;
• As despesas extraordinárias de caráter ambiental imputadas à conta de resultados;
• Informações pormenorizadas sobre a rubrica “Outras Provisões”, caso não sejam
inseridas no corpo do balanço, de acordo com o item anterior;
• Os passivos eventuais de caráter ambiental, incluindo informações descritivas
com pormenores suficientes para que a natureza do seu caráter “eventual” sejam
137

entendidos. Se as incertezas na avaliação forem demasiado importantes para


permitir estimar o montante de um passivo de caráter ambiental, convém referir
esse fato, em conjunto com os motivos que o explicam e o intervalo de resultados
possíveis;
• Para cada passivo de caráter ambiental significativo, uma descrição da respectiva
natureza e uma indicação do calendário e das condições da sua regularização.
Uma explicação dos danos e das leis ou regulamentos que exigem a sua
reparação e as medidas de recuperação ou prevenção adotadas ou propostas. Se a
natureza e as condições subjacentes às diferentes rubricas forem suficientemente
semelhantes, estas informações podem ser publicadas de forma agregada. Caso o
montante dos custos seja estimado com base num intervalo de valores, uma
descrição da forma como se chegou à estimativa, com indicação de quaisquer
alterações esperadas na legislação ou na tecnologia existente, que tenham afetado
os montantes previstos;
• Caso tenha sido utilizado o método do valor presente e o efeito do desconto seja
significativo, deve também ser apresentado o montante não descontado desse
passivo, bem como a taxa de desconto utilizada;
• No caso de custos de longo prazo de recuperação dos locais contaminados e
desmobilização, o método contábil utilizado.
• O montante das despesas de caráter ambiental imputadas à conta de resultados e a
base em que tais montantes foram calculados. Se relevante, uma subdivisão
pormenorizada das rubricas que a empresa identificou como despesas de caráter
ambiental, adequada à natureza e à dimensão das atividades da empresa e aos
tipos de problemas ambientais relevantes;
• Na medida em que possa ser estimado de modo confiável, o montante de
despesas de caráter ambiental capitalizadas durante o período de referência.
Sempre que aplicável, deve-se referir também que parcela deste montante diz
respeito a despesas destinadas ao controle ambiental e que parte representa a
despesa adicional de adaptação das instalações fabris e/ou do processo produtivo
com vista a provocar menos poluição (ou seja, que se relaciona com tecnologias
ou práticas de prevenção da poluição);
138

• Caso sejam significativos, os custos incorridos em resultado de multas e outras


penalidades pelo não cumprimento da legislação ambiental e indenizações pagas
a terceiros, por exemplo, em resultado de perdas ou danos causados por uma
poluição passada, deverão ser apresentadas separadamente, caso não sejam
divulgados em rubricas extraordinárias. Embora estes custos estejam ligados ao
impacto das atividades da empresa sobre o meio ambiente, eles não têm por
objeto prevenir, reduzir ou reparar danos causados ao meio ambiente, pelo que
convém distingui-los das despesas de caráter ambiental;
• Os incentivos públicos relacionados com a proteção ambiental, recebidos ou
atribuídos à empresa. Convém especificar as condições associadas à concessão de
cada elemento de auxílio, ou uma síntese das condições, caso sejam semelhantes.
Deve também citar o tratamento contábil adotado.
139

4 PRODUÇÃO DE CELULOSE E PAPEL

4.1 CELULOSE

A celulose é um composto natural existente nos vegetais, de onde é extraída,


podendo ser encontrada nas raízes, tronco, folhas, frutos e sementes.

É um dos principais componentes das células vegetais que, por terem forma alongada
e pequeno diâmetro (finas), são freqüentemente chamadas “fibras”. Os outros
componentes encontrados, entre os principais, são a lignina e hemiceluloses (Figura
39).

Madeira

21% hardwood 2 - 8%
25% softwood

Lignina Extrativos

terpenos
ácidos graxos
Carbohidratos fenois
insaponificáveis

45% 35 % hardwood
25 % softwood

Celulose Hemicelulose
glicose
manose
galactose
xilose
arabinose

Figura 39 - Componentes da madeira.


Fonte: Smook (1982).

A preparação da pasta celulósica para papéis ou outros fins (pasta solúvel para a
produção de celofane, rayon etc.) consiste na separação das fibras dos demais
componentes constituintes do organismo vegetal, em particular a lignina, que atua
como um cimento, ligando as células entre si e que proporciona rigidez à madeira.
140

A quase totalidade das pastas de celulose é obtida a partir da madeira, sendo uma
pequena parte derivada de outras fontes como sisal, linho, algodão, bambu, bagaço
da cana etc. No algodão, a celulose está na forma praticamente pura (99%).

Existem, portanto, muitas fontes diferentes e processos distintos de preparação de


pastas celulósicas produzindo, conseqüentemente, pastas com características
diversas.

Alguns tipos de madeira como pinho, araucária, abeto etc., possuem fibras longas (3
a 5 mm), enquanto que as do eucalipto, álamo, carvalho, gmelina etc., possuem
fibras mais curtas e finas (0,8 a 1,2 mm). As madeiras integrantes do primeiro grupo
são denominadas coníferas ou softwood (madeira macia), enquanto que as do
segundo são conhecidas por folhosas ou hardwood (madeira dura).

Existe ainda um terceiro grupo de celulose, cujas fibras não são obtidas da madeira,
como no caso do:
• algodão (semente), ou
• linho, juta, kenaf, cânhamo, rami, crotalária etc. (caule), ou ainda
• sisal, fórmio, pita etc. (folhas).

As fibras extraídas desses vegetais são muito longas e por isso mesmo denominadas
“fibras têxteis”, amplamente utilizadas na indústria de tecelagem. Ainda dentro deste
grupo, porém com fibras de menor comprimento, tem-se o bambu e o bagaço de
cana.

As principais fontes de fibras estão indicadas na Tabela 12.


141

Tabela 12 - Tipos de fibras.


Fibras Longas - Coníferas
pinho
cipreste
araucária
spruce
abeto

Fibras Curtas - Folhosas


eucalipto
gmelina
álamo
bétula
carvalho

Fibras Muito Longas - Têxteis


algodão
rami
linho
crotalária
juta
sisal
kenaf
fórmio
cânhamo

Fonte: ABTCP (2002).

4.2 FLORESTAS

Estudos feitos por técnicos e cientistas ao longo de vários anos (ABTCP, 2002)
demonstraram que a produção de celulose e papel é inviável a partir da madeira de
florestas nativas. Foi comprovado também que os papéis feitos a partir de florestas
plantadas de eucaliptus e pinus resultam em produtos com alta qualidade e
produtividade.

As fábricas normalmente administram suas próprias florestas, no entanto, parte da


madeira pode vir de terceiros, por intermédio do fomento florestal.

Tendo em vista as demandas da sociedade, nos últimos anos foram desenvolvidos


diversos sistemas de certificação florestal que visam creditar e reconhecer manejos
142

sustentáveis. Os principais sistemas desenvolvidos até o momento são: FSC- Forest


Stewardship Council, PEFC - Pan European Forest Certification e CERFLOR –
Programa Nacional de Certificação Florestal .

4.2.1 FSC - Forest Stewardship Council

O Conselho de Manejo Florestal é uma organização internacional não-


governamental, fundada em 1993. Esta entidade não emite certificados e sim
credencia certificadoras no mundo inteiro, garantindo que os certificados emitidos
por estas obedeçam a padrões de qualidade. As certificadoras desenvolvem um
método baseado nos Princípios e Critérios do FSC, adaptando-o para a realidade de
cada região ou sistema de produção.

Os princípios que devem ser atendidos por todas as florestas são os seguintes:
1. Obediência às leis e princípios do FSC;
2. Respeito aos direitos e responsabilidades de posse e uso;
3. Respeito aos direitos dos povos indígenas;
4. Relações comunitárias e respeito aos direitos dos trabalhadores;
5. Benefícios socioeconômicos das florestas;
6. Minimização do impacto ambiental;
7. Planejamento do manejo florestal;
8. Monitoramento e avaliação;
9. Manutenção de florestas de alto valor de conservação;
10. Plantações - critérios complentares.
Estes princípios possuem critérios definidos, mas, de acordo com as especificidades
locais, outros critérios podem ser inseridos.

Área total certificada no Brasil: 1.180.493 ha (FSC, 2002)


Total Floresta Amazônica nativa: 332.913
Total Mata Atlântica nativa: 25.271
Total Plantações 822.309
143

Há 25 milhões de hectares de florestas certificadas no planeta e mais de 20 mil


produtos com selo do FSC. Já foram emitidos mais de 300 certificados de manejo
florestal e mais de 1.500 certificados de cadeia de custódia (FSC, 2002).

4.2.2 Pan European Forest Certification – PEFC

O conselho do PEFC foi criado em junho de 1999, também de caráter voluntário,


baseado em critérios próprios definidos nas resoluções das Conferências de Helsinki
e de Lisboa, de 1993 e 1998, sobre Proteção Florestal na Europa. O objetivo
primordial deste sistema é a sua homogeneização nos países da comunidade européia
e fora dela - Suécia, Finlândia, Noruega, Alemanha, Inglaterra, EUA, Canadá, África
do Sul, Indonésia, Malásia, Nova Zelândia, Chile, Áustria, Gana, Bélgica e outros.

4.2.3 Programa nacional de certificação florestal -CERFLOR

No Brasil, desde 1996, a Sociedade Brasileira de Silvicultura - SBS em parceria com


algumas associações do setor, instituições de ensino e pesquisa, organizações não-
governamentais e com o apoio de alguns órgãos do governo, vem trabalhando com
um programa voluntário denominado CERFLOR - Programa Nacional de
Certificação Florestal. O CERFLOR surgiu para atender a uma demanda do setor
produtivo florestal do País. Desde esta data, a SBS também estabeleceu acordo de
cooperação com a ABNT, para desenvolver os princípios e critérios para o setor.

Mais recentemente, em fevereiro de 2001, foi instalado o Fórum de Competitividade


da Cadeia Produtiva de Madeira e Móveis para estimular o diálogo entre o setor
produtivo, Governo e o Congresso Nacional. Dentro do enfoque do Programa Fórum
de Competitividade, o setor traçou ações necessárias para o desenvolvimento e
implementação de pré-projetos e de um futuro Contrato de Competitividade. Um dos
projetos propostos foi o de Certificação Florestal, que proocura introduzir o tema no
âmbito do Sistema Brasileiro de Certificação.
144

O programa CERFLOR tem a finalidade de certificar unidades de manejo florestal


que utilizam madeira de origem sustentável, de acordo com os Princípios, Critérios e
Indicadores para florestas plantadas ABNT/CERFLOR.

O Brasil já conta com um conjunto de normas que são utilizadas pelo Sistema
Brasileiro de Avaliação da Conformidade para a certificação do manejo de florestas
plantadas, publicadas em dezembro de 2001 e válidas a partir de janeiro de 2002.
Estas normas são as seguintes:
NBR 14789 - Manejo Florestal: Princípios, Critérios e Indicadores para Plantações
Florestais;
NBR 14790 - Manejo Florestal: Cadeia de Custódia
NBR 14791 - Diretrizes para Auditoria Florestal - Princípios Gerais;
NBR 14792 - Diretrizes para Auditoria Florestal - Procedimentos de Auditoria -
Auditoria de Manejo Florestal;
NBR 14793 - Diretrizes para Auditoria Florestal - Critérios para Qualificação de
Auditores Florestais. (SBS, 2002)

O Inmetro solicitou ao PEFCC - Pan European Forest Certification Council sua


filiação como membro do Sistema PEFC, sendo essa etapa o marco na busca do
reconhecimento internacional do CERFLOR.

4.3 PROCESSOS PARA PREPARAÇÃO DA CELULOSE

Existem muitos métodos diferentes para a preparação de pasta celulósica, desde os


puramente mecânicos até os químicos, nos quais a madeira é tratada com produtos
químicos sob pressão e pela ação de calor (temperaturas maiores que 150° C), para
dissolver a lignina, havendo inúmeras variações entre os dois extremos.

4.3.1 Processo Mecânico – MP


145

Toras de madeira, neste caso preferencialmente coníferas, são prensadas a úmido,


contra um rolo giratório, cuja superfície é coberta por um material abrasivo,
reduzindo-as a uma pasta fibrosa denominada “pasta mecânica” (groundwood),
alcançando um rendimento de polpação que varia de 93 a 98 %.
Neste processo não ocorre uma separação completa das fibras dos demais
constituintes, obtendo-se então uma pasta barata, cuja aplicação é limitada, pois o
papel produzido com ela tende a escurecer com certa rapidez, mesmo depois de
passar pela etapa de branqueamento, devido à oxidação da lignina residual.

A pasta mecânica pura ou em composição com outra é muito usada para a fabricação
de papel para jornal, revistas, embrulhos, toalete etc.

4.3.2 Processo Termomecânico – TMP

A madeira, sob forma de cavacos, sofre um aquecimento com vapor (em torno de
140° C) provocando uma transição do estado rígido para um estado plástico na
madeira e na lignina, seguindo para o processo de desfibramento em refinador a
disco.
A pasta obtida desta forma tem um rendimento um pouco menor do que no processo
mecânico (92 a 95 %), mas resulta em celulose para a produção de papéis de melhor
qualidade, pois proporciona maior resistência mecânica e melhor imprimibilidade,
entre outras coisas.

4.3.3 Processo Semiquímico

Neste caso, acrescentam-se produtos químicos em baixas porcentagens para facilitar


ainda mais a desfibragem, sem contudo reduzir demasiadamente o rendimento (60 a
90 %). O mais comum desses processos é conhecido na Europa com a sigla NSSC
(neutral sulphite semi chemical).
146

Porém, vem ganhando muito interesse um tipo de pasta derivado da TMP, em que
um pré-tratamento com sulfito de sódio ou álcali é feito antes da desfibragem, no
refinador a disco. Esta pasta é denominada pasta quimiotermomecânica - CTMP.

4.3.4 Processo Químico – Kraft

A madeira, sob forma de cavacos, é tratada em vasos de pressão, denominados


digestores, com soda caústica e sulfeto de sódio.

É um processo químico que visa dissolver a lignina, preservando a resistência das


fibras, obtendo-se dessa maneira uma pasta forte (kraft significa forte em alemão),
com rendimento entre 50 a 60 %.

É muito empregada para a produção de papéis cuja resistência é o principal fator,


como para as sacolas de supermercados, sacos para cimento, etc.

4.3.5 Processo Químico – Sulfito

É um processo em que os cavacos são cozidos em digestores com um licor ácido,


preparado com compostos de enxofre (SO2) e uma base Ca(OH)2, NaOH, NH4OH
etc.

A pasta obtida desta maneira tem um rendimento entre 40 e 60 % e é de


branqueamento muito fácil, apresentando uma coloração clara que permite o seu uso
mesmo sem ser branqueada.

Este processo, que era muito utilizado para a confecção de papéis para imprimir e
escrever, está sendo substituído pelo processo sulfato (principalmente após a
introdução do dióxido de cloro no branqueamento), devido à dificuldade de
regeneração dos produtos químicos e as conseqüentes contaminações das águas.
147

4.3.6 Processo Químico – Sulfato

Utilizam-se os mesmos produtos químicos do processo kraft mas as condições são


mais fortes, isto é, emprega-se maior quantidade de sulfeto e de soda, além do
cozimento ser feito por mais tempo e com temperaturas mais elevadas.

É o processo mais usado no Brasil e se presta muito bem para a obtenção de pastas
químicas com eucalipto, ou outras hardwood. Isso porque preserva a resistência das
fibras e dissolve bem a lignina, formando uma pasta branqueável e com boas
propriedades físico-mecânicas.

4.4 BRANQUEAMENTO DA POLPA CELULÓSICA

Pode-se considerar o branqueamento como sendo uma continuação da


deslignificação iniciada no cozimento, utilizando-se para isso o cloro e seus
compostos (hipoclorito e dióxido de cloro) e, ainda, a soda cáustica.

Normalmente, o branqueamento convencional Standard (STD) começa com um


tratamento da pasta com cloro, seguido por uma extração alcalina com soda caustica,
sendo aplicada, depois disso, uma série de combinações ou seqüências em que se
alternam o dióxido de cloro, o hipoclorito e a soda cáustica.

As técnicas modernas de branqueamento, no entanto, utilizam um processo


denominado de deslignificação com oxigênio ou pré-branqueamento, que permite
reduzir o teor de lignina da polpa, antes de receber os compostos químicos oxidantes.
Além desta técnica já foram utilizados outros agentes branqueantes, como o ozônio
e peróxido de hidrogênio.
Dependendo do agente branqueante, a celulose é denominada:
- STD - Standard - com uso de cloro molecular
- ECF - Elementary chlorine free - sem uso do cloro molecular
148

- TCF - Totally chlorine free - sem uso de compostos clorados


Branqueia-se para obter uma celulose mais estável (que não se altere com o tempo),
que permita um tingimento controlado, mas, principalmente, para se obter um papel
branco com as vantagens que ele traz para a impressão.

Maiores detalhes sobre o processo Kraft, sobre o branqueamento e demais processos


relacionados à produção de celulose serão abordados no Capítulo 5.

4.5 FABRICAÇÃO DE PAPEL

A maior parte da composição do papel é constituída de celulose, que é a matéria-


prima mais importante no processo. Além desta, também são utilizadas inúmeras
matérias-primas não fibrosas, dependendo do tipo e da utilização do papel.
De acordo com a sua finalidade, os papéis podem ser classificados em impressão,
escrever, embalagem, fins sanitários, cartões e cartolinas e especiais.

4.5.1 Matérias-primas não fibrosas

As principais matérias-primas não fibrosas são:

(a) Cargas

O processo de adicionar matéria mineral ao papel (massa), antes da formação da


folha, é extremamente antigo, tendo sido praticado desde os primórdios da fabricação
do papel.

No princípio não se via a adição de cargas à massa como benéfica e alguns papéis,
que tinham quantidade apreciável de carga, eram considerados adulterados. Mais
tarde, com a expansão do uso do papel e o conseqüente aparecimento de vários novos
149

requisitos, as cargas passaram a ser consideradas como parte integrante e, em alguns


casos, imprescindíveis.
Dentre as mais usadas destacam-se: caulim, dióxido de titânio, carbonato de cálcio,
talco, etc.

(b) Agentes de Colagem

Vários tipos de papéis, entre eles os de escrever e imprimir, necessitam ter resistência
controlada à penetração de líquidos, em especial a água. Para isto, são adicionados ao
papel produtos que a repelem.

Existem dois tipos de colagem feitas na massa: ácida e alcalina.


- Colagem Ácida
O material empregado é a cola de resina, derivada do breu. O breu é saponificado,
transformando-se em sal solúvel. Atualmente, além desta reação, é feita uma outra
com anidrido maleico, resultando numa cola fortificada, isto é, com mais grupos
carboxilas livres para reação.

Para que a cola de resina exerça sua função é preciso adicionar sulfato de alumínio,
que tem a função de baixar o pH (meio ácido), favorecendo a precipitação da resina e
depositando os flocos de resinato de alumínio, insolúvel, sobre as fibras de celulose.

- Colagem Alcalina

Neste caso utiliza-se um composto químico denominado alquilceteno, que reage com
a celulose.

A colagem alcalina é normalmente aplicada nos casos em que se consomem cargas


quimicamente ativas, como, por exemplo, o carbonato de cálcio, quando se deseja
papéis mais brancos e com maior resistência. Proporciona, também, maior vida para
o papel e para os equipamentos por onde ele irá passar.
150

(c) Amido

A resistência interna de um papel é geralmente conferida pelo tipo de fibra e


tratamento mecânico dado a ela. Contudo, pode-se melhorar esta característica com a
adição de amido, sendo o de milho o mais utilizado.

Além da resistência interna, a adição do amido na massa (celulose) proporciona


melhor lisura, maior rigidez, maior resistência à penetração de líquidos e evita a
formação de pó.

Os amidos também são empregados para proporcionarem maior resistência


superficial, cujo processo é mais conhecido por colagem superficial, que é aplicado
na prensa de colagem (size press, localizada no meio da secagem da máquina de
papel), quando a folha já se encontra formada e praticamente seca.

A colagem superficial, entre outras coisas, dificulta a penetração de líquidos,


aumenta as características mecânicas, a opacidade e a facilidade de impressão. É
muito importante para os papéis de impressão “offset”.

(d) Corantes e pigmentos

O tingimento de um papel compreende a utilização de:

• Corantes. Na fabricação de papéis coloridos deve-se fazer o tingimento das fibras


com corantes, que são adicionados à massa nos tanques ou “pulpers”.

• Branqueadores Óticos. São agentes de branqueamento usados em papéis brancos.


Estes produtos absorvem a luz na faixa ultravioleta e a emitem no espectro
visível, fazendo o papel parecer mais branco.
151

• Corantes de Matização ou Anilagem. Usados na fabricação de papéis brancos e


têm como função dar uma determinada tonalidade requerida pela especificação,
eliminando o amarelecimento indesejável das matérias-primas.

• Pigmentos. São cargas coloridas para dar cor ao papel. Trata-se de óxidos
metálicos e produtos orgânicos sintéticos.

Além dos compostos já mencionados, dependendo do tipo de papel podem ser


utilizados inúmeros outros aditivos, como dispersantes, bactericidas, antiespumantes
e resinas.

4.5.2 Descritivo da produção de papel

4.5.2.1 Preparação de massa

A preparação da massa envolve quatro etapas: desagregação da celulose, refinação,


preparação da receita e depuração.

Desagregação da celulose
A celulose em folhas ou em tabletes é desagregada em um equipamento chamado
desagregador. Quando a fábrica de celulose é integrada com a de papel, a celulose já
vem em suspensão e é armazenada em tanques de distribuição de massa.

O desagregador, ou “hydrapulper” nada mais é do que um liquidificador doméstico


de proporções gigantescas, com capacidade para 500 a 20.000 litros, ou mais.

Refinação
Posteriormente ao processo de desagregação, a pasta de celulose precisa ser refinada.
A refinação consiste em submeter as fibras de celulose a uma reação de corte,
esmagamento ou fibrilação.
152

A fibrilação aumenta a superfície da fibra em contato com o meio, que é a água.


Sendo a celulose um material higroscópio, ela retém água em sua superfície, por isso,
quanto maior o grau de refinação, mais água pode ser retida .

O grau de refinação (maior ou menor) varia em função das características do papel


que se pretende fabricar.

Preparação da Receita
Depois de refinada, a pasta celulósica entra em um tanque de mistura ou tanque de
preparo de receita. Nesse tanque, a celulose é misturada com os demais componentes
(cargas, produtos químicos e aditivos), que fazem parte da receita do papel. Essa fase
do processo pode ser contínua ou em batelada.

Depuração
É o nome que se dá à operação de limpeza da mistura de celulose com os demais
componentes da receita. Destina-se a retirar corpos estranhos, sujeiras, bolos de
massa ou fibras enroladas que são indesejáveis para a aparência e finalidade da folha
de papel.

Os equipamentos de depuração são indispensáveis para a produção de papel de boa


qualidade. Após passar pelo sistema de depuração, a suspensão de fibras com cargas,
produtos químicos etc., alcança a máquina de papel propriamente dita.

4.5.2.2 Máquina de papel

A máquina de papel, para melhor entendimento, pode ser dividida em 05 partes:


caixa de entrada, mesa plana, prensas, secador, calandra e enroladeira.
153

Caixa de Entrada
Trata-se de um compartimento que tem a função de distribuir a suspensão de fibras
sobre a tela formadora o mais uniformemente possível. No interior da caixa de
entrada existe um ou mais cilindros rotativos perfurados, que têm a função de
uniformizar a suspensão, evitando a aglomeração de fibras em flocos, que
prejudicam a uniformidade da folha de papel ou sua aparência e, conseqüentemente,
a sua má formação.

Mesa Plana
É onde se dá a formação da folha. É constituída de uma mesa propriamente dita com
suporte e colunas de aço, sobre o qual corre a tela formadora, apoiada sobre os
elementos desaguadores, rolo de cabeceira, rolo de sucção e rolos guias.

Esta suspensão tem uma concentração que varia entre 4 a 15 g/L (gramas de sólido
por litro de suspensão), dependendo da máquina, do tipo de papel, da velocidade etc.

A tela formadora é feita de plástico ou metal (bronze fosforoso ou aço inoxidável) e


tem a malha bastante fechada (80 mesh para papéis grossos e 100 mesh para papéis
finos).

Ao cairem sobre a tela, as fibras ficam retidas na superfície e a água passa através da
mesma, escoando em calhas apropriadas. Esta água, rica em partículas de fibras e
cargas, é recirculada para diluir a massa que alimenta a máquina.

Além do movimento longitudinal, a tela tem um outro movimento transversal


realizado por um “shaker”. A conjugação certa da freqüência do sacudimento com a
amplitude é um dos pontos-chave para uma boa formação do papel.

Prensas
A folha de papel, ao sair da mesa plana já está formada, porém 80 a 85 % da sua
constituição é água. A finalidade das prensas é retirar parte dessa água.
154

A prensa é formada por 2 rolos cilíndricos, sendo o inferior de borracha ou ebonite e


o superior de material mais duro como granito.

As máquinas de papel têm 2 ou 3 prensas, que trabalham com feltro especial,


agulhado, que serve para apoio e condução da folha. No ponto de encontro entre os
dois rolos é feita a prensagem do papel e feltro. A água contida no papel é transferida
para o feltro.

Ao sair das prensas para a fase seguinte do processo (secagem), a folha de papel
ainda contém 50 a 65 % de água

Secagem
A secagem é o setor da máquina de papel onde se faz a secagem final da folha e
realiza-se a cura das resinas adicionadas.

A secagem é composta de inúmeros cilindros secadores. O número de secadores


depende do tipo e do tamanho da máquina. Os secadores são cilindros de aço com
superfície polida e trabalham com pressão de vapor.

Para condução da folha, entre os cilindros secadores, usam-se feltros ou telas


secadoras. A água evaporada do papel é extraída por coifas especiais. A umidade da
folha, ao deixar a seção de secagem, varia de 3 a 8 %.

Algumas máquinas de papel dispõem, ainda nessa fase, de cilindro monolustro e/ou
prensa de colagem.

Calandra e Enroladeira
A calandra é usada para o acerto da espessura e aspereza do papel, ainda na máquina
de papel, enquanto que na enroladeira a folha contínua de papel vai sendo bobinada
até um determinado diâmetro, daí partindo para os vários processos de
beneficiamento.
155

4.6 A INDÚSTRIA DE CELULOSE E PAPEL NO BRASIL E NO MUNDO.

4.6.1 Dados gerais sobre produção de papel e de polpa

Como se pode observar nas Tabelas 13 e 14, a Europa e América do Norte são os
maiores produtores mundiais de celulose e de papel.
A fração recuperada de papel no mundo em 2001, ficou em cerca de 146 milhões de
toneladas, o que representa cerca de 46% do papel produzido.

Tabela 13 - Produção de papel no mundo.


Produção de papel e papelão –2001 (1000 toneladas)
Jornais/revistas Imprimir e escrever Tissue
Europa 12.864 34.233 5.669
União européia 9.336 30.847 4.902
Leste europeu 1.245 1352 133
Total leste europeu 10.581 32198 5.035
Europa oriental 2.283 2.035 634
Ásia 8.730 27.277 6.527
Australasia 738 586 261
América do Norte 14.147 28.464 7.047
América latina 928 3.522 1.933
África 359 727 263
Total 37.766 94.810 21.699

Papel corrugado Papel cartão Papel Total


Europa 22.116 12.401 98.255
União européia 18.215 10.450 82.222
Leste europeu 766 252 4.041
Total leste europeu 18.982 10.703 86.380
Europa oriental 3.135 1.698 11.868
Ásia 28.813 13.451 97.661
Australasia 348 89 3.494
América do Norte 32.347 14.095 100.433
América latina 5.403 1.385 14.855
África 1.388 256 3.449
Total 90.415 41.677 318.147
Papel total inclui todos os tipos de papel e papelão
Fonte: PPI (2002)
156

Tabela 14 - Produção de celulose no mundo.


Produção de celulose – 2001 (1000 toneladas)
Polpa
Polpa Química Outras polpas Total
Mecânica
Europa 28.843 14.539 2.986 46.368
União européia 20.633 11.273 1.663 33.764
Leste europeu 865 1.733 84 2.677
Total leste europeu 21.499 13.006 1.747 36.441
Europa oriental 7.344 1.534 1.239 9.277
Ásia 14.637 2.390 3.745 20.772
Australasia 1.232 1.190 3.202 5.624
América do Norte 61.800 15.912 1 77.713
América latina 10.193 403 1.027 11623
África 1.645 290 109 2.044
Total 118.350 34.724 11.070 164.144
Fonte: PPI (2002)

Produção de polpa em 2001 (1000 toneladas)


90.000

80.000
Outras polpas
70.000
Polpa Mecânica
60.000 Polpa Química
50.000

40.000

30.000

20.000

10.000

0
Europa Ásia Australasia América do América África
Norte latina

Figura 40 - Produção de polpa no mundo.


Fonte: PPI (2002).
157

No Brasil, as produções de celulose e de papel em 2001 foram respectivamente de


7.405 e 7.354 mil toneladas em 2001. A Figura apresenta os principais tipos de
polpação em 2001 no mundo, equanto que as Figuras 41 e 42 indicam os principais
tipos de polpação da celulose produzida e os principais tipos de papel produzidos no
Brasil em 2001.

Produção de celulose no Brasil - 2001


Polpa Mecânica Outras polpas
3% 5%

Polpa Química
92%

Figura 41 - Produção de polpa no Brasil em 2001.


Fonte: PPI (2002).

Tipos de papel produzidos no Brasil -2001

Jornais e revistas Imprimir e escrever


Corrugado Papelão
Tissue Outros

12% 3%
8%
30%

10%

37%

Figura 42 - Produção de papel no Brasil em 2001.


Fonte: PPI (2002).
158

A importação de papel é pequena no Brasil e representa menos de 9% em relação à


quantidade produzida. Do total importado em 2001, cerca de 86% referem-se a papel
para revistas e jornais e papel de imprimir e escrever (produzidos com polpa
proveniente de polpação mecânica).

O setor de celulose e papel no Brasil em 2001 empregou cerca de 100.000 pessoas,


distribuídas em 156 fábricas de papel e em 68 fábricas de celulose (PPI, 2002).

4.6.2 Produção de celulose branqueada

A polpa celulósica livre de cloro elementar (ECF), branqueada com o dióxido de


cloro, continua crescendo e domina o mercado mundial de celulose química. Em
2001, a produção atingiu mais que 63 milhões de toneladas, totalizando mais de três
quartos do mercado mundial (Figura 43).

Em contraste, os sistemas de branqueamento TCF (Totalmente Isentos de Cloro),


declinaram ligeiramente, mantendo um pequeno nicho de mercado acima de 5% da
celulose química produzida. A explicação possível para a pequena quantidade de
polpa TCF é que este processo é mais caro, tem menor rendimento e produz polpa
com propriedades físico-mecânicas inferiores à polpa ECF (AET, 2002).

Escandinávia
Em 2001, o ECF representou na Escandinávia mais de 75% da produção de celulose
química branqueada - mais que o triplo do branqueamento totalmente isento de cloro
(TCF). As novas linhas de fibra na Escandinávia utilizam a tecnologia ECF (AET,
2002).

Japão
O Japão produz aproximadamente 8 milhões de toneladas de polpa química
branqueada. Consistente com o compromisso feito pela maioria dos produtores de
celulose branqueada do Japão, para eliminar o cloro elementar, verifica-se a
159

conversão para sistemas ECF. Em vista disso, a produção ECF cresce em ritmo
rápido. Em 2001, um adicional de 800.000 t de polpa foi convertida em ECF, e agora
representa quase um quarto de toda produção da polpa química produzida no Japão
(AET, 2002).

América do Norte (EUA e Canadá)


Nos Estados Unidos, a produção de sistemas ECF aumentou de 15% passando a
representar 96% da celulose química branqueada. Este crescimento deveu-se
basicamente a conversão para ECF, feita para atender às “Regras Agregadas” da
EPA (Cluster Rules). Separadamente, a produção da polpa ECF Canadense
permaneceu estável, correspondendo a mais de 93% do mercado (AET, 2002).

A “Cluster Rule” considera o ECF como a Melhor Tecnologia Disponível (BAT)


para os papéis branqueados pelos processos “Kraft” e “Soda”.

Evo lu çã o d a p ro d u çã o d e ce lu lo se EC F -T C F -S T D n o m u n d o
(1000 to n )
80

70
EC F TC F S TD
60

50

40

30

20

10

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Figura 43 - Evolução da produção de polpa branqueada no mundo.


Fonte: PPI (2002).

O processo ECF foi recentemente reconhecido como um componente de “Melhor


Tecnologia Disponível” (Best Available Technology – BAT) pela União Européia
(UE), no seu Documento de Referência: Prevenção e Controle de Poluição
Integrados (IPPC, 2001).
160

Em vista deste reconhecimento e dos demais aspectos ambientais favoráveis


associados a este tecnologia, somados a um custo competitivo e a alta qualidade do
produto, o crescimento para o ECF fica assegurado na Europa (AET, 2002)

A tendência de aumento do ECF também ocorre nos demais países produtores


(Europa Oriental e Ocidental, Chile, Brasil, Sudeste Asiático, África, Austrália, Nova
Zelândia e Japão) (Figura 44).

Os dados mostram também que a maior fração de celulose tipo STD é produzida
nestes países, enquanto que nos Estados Unidos, Canadá e Países Nórdicos ela já é
praticamente nula.

Evolução da produção de celulose* ECF-TCF-STD (1000 ton)


24

ECF TCF STD


20

16

12

0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

(* Europa Oriental e Ocidental, Chile, Brasil, Sudeste Asiático, África, Austrália, Nova Zelândia e Japão)

Figura 44 - Evolução da produção de polpa branqueada no mundo.


Fonte: PPI (2002).
161

5 PREVENÇÃO À POLUIÇÃO EM INDÚSTRIAS DE


CELULOSE E PAPEL - USO DAS MELHORES
TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS (BATs).

A produção de celulose e papel é uma atividade bastante complexa. Consiste de


vários processos, com diversos estágios e produtos. Os aspectos ambientais e
técnicas relevantes para prevenção e redução de emissões e consumo de energia,
matérias primas e insumos para a polpação kraft são descritos nos próximos
parágrafos. Este capítulo tem como base a referência IPPC (2000), exceto onde estão
especificadas outras fontes.

Segundo IPPC (2000), Hoglund (1999), Springer (1993) e Axegard (1997); a análise
da indústria de papel e celulose mostra que a forma mais efetiva de reduzir as
emissões e o consumo de recursos naturais, bem como melhorar o desempenho
econômico, é a implementação das melhores tecnologias de processo e controle de
emissões remanescentes, combinadas aos seguintes fatores:
• Educação, treinamento e conscientização dos envolvidos;
• Otimização do processo produtivo;
• Manutenção adequada das instalações;
• Sistema de gestão ambiental eficaz, com procedimentos, metas e medições
adequados.

5.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO KRAFT

O processo kraft é o mais empregado para a produção de polpa em todo o mundo.


Cerca de 80% da polpa é produzida utilizando este processo. Ele também é
conhecido como processo “sulfato” devido a reposição das perdas ser feita com
sulfato de sódio.
Os compostos químicos utilizados no cozimento são o sulfeto e o hidróxido de sódio
em pH alcalino (ajustado entre 13 e 14 no início do cozimento).
162

A produção de celulose pode ser dividida em quatro partes principais: preparação de


matérias-primas, deslignificação química em circuito fechado recuperando-se
energia, branqueamento com circuito aberto e sistema de tratamento de águas
residuárias. Os sistemas auxiliares de geração de energia, preparação de madeira e
produção dos produtos químicos do branqueamento estão inclusos nos quatro
sistemas citados.

A Figura 45 mostra de forma simplificada o processo kraft.

Madeira Óleo Água tratada


combustível
Cascas e finos
Pátio de madeira
Vapor de processo Tratamento
De água

Vapor Caldeira
Cozimento Turbina
biomassa
Energia Elétrica Vapor
Rejeito

Lavagem de Evaporação Caldeira


Polpa marrom Stripping recuperação
Licor verde
Dregs
Licor branco
Caustificação
Deslignificação Licor verde
Oxidação do Cal
Licor branco
Caustificação da
Lavagem da Lama de cal
Gases
polpa Óleo combustível
Mal cheirosos concentrados

Oxigênio líquido ou ar
Branqueamento Preparação de
Água Oxigênio
tratada

Insumos
Extração/ Prod. Químicos
Secagem da polpa Produto químicos de (branq.)
branqueamento

Celulose

Figura 45 - Visão geral do processo kraft de produção de celulose.


163

5.1.1 Estocagem e preparação da madeira

Os principais processos associados a esta etapa são: estocagem de madeira,


descascamento, picagem (produção de cavacos) e peneiramento.

A madeira pode vir das florestas com ou sem casca e em forma de cavacos ou toras.
Para a produção de celulose via processo químico é necessário utilizar a madeira na
forma de cavacos uniformes para garantir um cozimento homogêneo e obter o
melhor rendimento.

O descascamento remove as cascas das toras, que são geralmente encaminhadas à


caldeira de biomassa, para geração de vapor e energia elétrica. O descascamento (a
seco ou via úmida) é feito em tambor descascador. As toras descascadas são
encaminhadas ao picador para a produção de cavacos.

O peneiramento tem como objetivo separar as frações de cavaco muito finas ou


muito acima do tamanho padrão (“oversized”). Os finos são normalmente queimados
na caldeira de biomassa, enquanto que a fração “oversized” volta ao picador.

Algumas fábricas costumam estocar os cavacos por um período de quarenta dias


visando obter a degradação enzimática dos extrativos. Nestes casos, a pilha costuma
aquecer-se durante este processo de maturação. Períodos de maturação superiores a
40 dias tendem a reduzir o rendimento do processo.

5.1.2 Cozimento e deslignificação

No processo kraft, as fibras são separadas durante o cozimento por meio da


dissolução da lignina e de parte das hemiceluloses no licor de cozimento - que
contém hidróxido e sulfeto de sódio como agentes químicos ativos.
164

O cozimento pode ser feito em processo de batelada ou contínuo. Em ambos, há


controle de pressão, temperatura, tempo de detenção, teor de álcalis e sulfidez. O
controle de cozimento (do grau de deslignificação) é feito pelo teor residual de
lignina - expresso pelo número kappa. O teor de lignina pode ser estimado
multiplicando-se o número kappa pelo fator 0,165 (IPPC, 2000).

Cavaco

Licor negro

Polpa

Licor negro diluído


Licor branco (lavagem)

Figura 46 - Representação esquemática de um digestor contínuo utilizado para o


cozimento da madeira.
Fonte: IPPC (2000)

Normalmente os cavacos são preaquecidos com vapor antes de entrar no digestor


para facilitar a impregnação com o licor de cozimento. O tempo de detenção varia
entre 1 a 2 horas, dependendo da temperatura. O kappa no final do cozimento
depende do tipo de madeira e das variáveis já mencionadas. Para madeira tipo
softwood (pinus e spruce) o kappa final (cozimento convencional) é cerca de 30 a 35.
Para hardwood (eucalipto, birch), este é aproximadamente 14 a 22. (IPPC, 2000 e
Hoglund, 1999).
165

Como decorrência da baixa branqueabilidade da polpa e dos problemas ambientais


associados ao seu branqueamento, foram desenvolvidos vários processos de
cozimento que permitiram remover mais lignina sem perda de rendimento e/ou
perdas das propriedades da polpa. Com isso, o kappa final atingido para madeira
softwood em cozimento modificado é de 15 a 25.
Maiores detalhes sobre os novos métodos de cozimento estão indicados nos
parágrafos que descrevem as melhores tecnologias disponíveis – BAT (item 5.2.3.2).

5.1.3 Lavagem e depuração

A polpa oriunda do digestor contém fibras e licor negro impregnado com lignina,
hemiceluloses e outros compostos solubilizados durante o cozimento. Cerca de 50%
da madeira é dissolvida nesta etapa.

A lavagem objetiva, portanto, separar o licor das fibras, para que o mesmo possa ser
encaminhado para o processo de recuperação (insumos químicos e energia),
enquanto que as fibras são enviadas para a etapa seguinte (deslignificação ou
branqueamento).

Hoje em dia, tanto em digestores em batelada quanto em contínuos, a lavagem inicia-


se no próprio digestor, pelo deslocamento do licor quente pelo licor frio. A lavagem
subseqüente pode ser feita em filtros lavadores, prensas ou difusores.

Sistemas eficientes de lavagem reduzem o carreamento de licor para as etapas


seguintes, reduzindo também o consumo de produtos químicos na deslignificação
(oxigênio) e no branqueamento.
Como decorrência do menor arraste há também redução na carga orgânica carreada
para as águas residuárias (IPPC, 2000).
166

Lavadores tipo prensa e/ou difusores são mais eficientes na remoção dos compostos
orgânicos do que tambor lavador e, por esta razão, tem sido os equipamentos mais
utilizados no último estágio de lavagem antes do branqueamento (Hoglund, 1999).

No final desta etapa, a polpa é submetida ao processo de depuração em depuradores


(peneiras centrífugas) visando separar o material não processado(nós e palitos).

5.1.4 Deslignificação com oxigênio

O processo de deslignificação (em uma ou mais etapas) pode continuar após o


cozimento com ou sem lavagem intermediária. A deslignificação com oxigênio é
feita em meio alcalino, utilizando-se normalmente licor branco oxidado como álcali.
Ele contém hidróxido e tiossulfato de sódio decorrente da oxidação do sulfeto
presente no licor branco.

Devido à baixa solubilidade do oxigênio no licor, a deslignificação é feita em


reatores pressurizados em temperaturas elevadas (cerca de 100oC). Para preservar as
propriedades da fibra é adicionado sulfato de magnésio.

São utilizados reatores de média (10 a 15%) e de alta (25 a 30%) consistência em
estágio único ou em dois estágios, visando aumentar a seletividade do processo.
A deslignificação com oxigênio, normalmente, é um estágio intermediário entre o
cozimento e a etapa de lavagem da polpa marrom. A lavagem em prensas é feita em
contra-corrente de modo que o filtrado possa ser recuperado

O grau de deslignificação em estágio único é cerca de 40-50% e pode atingir até 70%
em estágio duplo (Mjoberg,1999).

Embora o sistema seja relativamente seletivo, há perda de rendimento de cerca de 1,5


a 2,5% e a lignina remanescente deverá ser removida nas etapas subseqüentes IPPC,
167

2000). A Tabela 15 apresenta os números kappa comumente encontrados após o


cozimento e a deslignificação com oxigênio.

Tabela 15 - Número kappa para diferentes tipos de cozimento e madeira.


Tipo de deslignificação Hardwood Softwood
Cozimento convencional 14 a 22 30 a 35
Cozimento convencional e deslignificação com oxigênio 13 a 15 18 a 22
Cozimento estendido 14 a 16 18 a 22
Cozimento estendido e deslignificação com oxigênio 8 a 10 8 a 12
Fonte: IPPC (2000)

A deslignificação com oxigênio permite reduzir o arraste de matéria orgânica para as


águas residuárias e recuperar os produtos químicos e energia.

5.1.5 Branqueamento

O objetivo do branqueamento é obter uma polpa com alvura (1) maior e estável (baixa
reversão), uma vez que a polpa não branqueada possui alvura baixa (menor que 30%
ISO). Polpas branqueadas tem alvura superior a 88% ISO. Como as etapas anteriores
não removem toda a lignina, é necessário o uso de agentes químicos oxidantes para
tal função. O kappa após o branqueamento é menor do que 1.

O branqueamento da polpa é feito em mais de um estágio, normalmente quatro ou


cinco. Os agentes químicos mais usados são dióxido de cloro, ozônio, oxigênio e
peróxido. Ultimamente, tem sido utilizado também o ácido peracético. O cloro
molecular assim como o hipoclorito estão sendo substituídos por outros agentes
branqueantes como o peróxido, devido à formação de subprodutos clorados (AOX e
OX).

(1) É o valor numérico da reflectância da amostra na porção azul do espectro ( 457 nm) quando comparado à reflectância de

um pacdrão, no mesmo comprimento de onda, cuja reflectância é de aproximadamente 100% (Colodette, 2001)
168

Destes produtos, o ozônio e o dióxido de cloro devem ser produzidos no local de


aplicação, os restantes podem ser comprados.
Em virtude da diferença de reatividade e de mecanismos de reação, são empregadas
diferentes seqüências de branqueamento (e diferentes tipos de reatores)
suplementadas com estágios ácidos ou alcalinos.
Cada seqüência consiste de:
• Sistemas de mistura;
• Reatores de fluxo ascendente ou descendente com um tempo de retenção
mínimo requerido;
• Sistema de lavagem (separação do licor das fibras), normalmente utilizando
prensas e difusores.

Os estágios de branqueamento são designados por símbolos de acordo com o agente


químico empregado, como se segue:
• Q - Estágio ácido onde é adicionado um agente quelante (EDTA ou DTPA);
• Z - Ozônio – usado na forma de gás;
• P - Peróxido – em estado líquido em meio alcalino;
• D - Dióxido de cloro – em solução (ClO2);
• E - Extração alcalina – usando NaOH;
• E/O - Extração alcalina usando oxigênio;
• E/P - Extração alcalina usando peróxido.

Os dois principais métodos de branqueamento são denominados ECF – Elemental


Chlorine Free e TCF – Totally Chlorine Free, sem o uso de cloro molecular e isento
de compostos de cloro, respectivamente.
O processo ECF usa dióxido de cloro, complementado por estágios de extração
alcalina, peróxido, oxigênio e ozônio.
O processo TCF é bastante similar ao ECF exceto pelo fato de não usar compostos
à base de cloro.

Em virtude da baixa seletividade dos agentes braqueantes isentos de cloro, a


produção de polpa TCF requer um kappa de saída do digestor menor do que aquele
169

usado para produção de ECF, a fim de obter uma polpa com alvura e resistência
adequadas. Devido ao maior residual de lignina presente nas polpas TCF, estas
apresentam reversão de alvura maior do que as polpas ECF (Axegard, 1997; Chirat,
1999).

TCF versus ECF


Segundo Chirat (1999), Choudens et.al (1999) e IPPC (2000), os últimos dez anos de
estudos e discussões sobre características das águas residuárias geradas nestes dois
tipos de branqueamento e seus impactos ambientais, incluindo-se pesquisas de
campo e uso de modelos, podem ser resumidos como se segue:
a) A composição química das águas residuárias geradas em fábricas modernas, com
cozimento modificado e deslignificação com oxigênio, é muito diferente da
composição das águas residuárias de indústrias de 10 a 15 anos atrás, mesmo
considerando-se que as práticas operacionais de cada fábrica também interferem
decisivamente nas emissões;
b) Fábricas modernas que operam com baixos números Kappa na entrada do
branqueamento e utilizam o processo ECF têm emissões muito baixas de
compostos organoclorados, incluindo-se os fenólicos clorados, que praticamente
não são detectados nas águas residuárias;
c) Os diferentes padrões de operação de cada fábrica interferem decisivamente nas
emissõese, muitas vezes, eles se sobrepõem ao efeito da tecnologia de
branqueamento (ECF ou TCF);
d) O tratamento secundário reduz os efeitos tóxicos aos ecossistemas aquáticos;
e) Os efeitos de águas residuárias aos ecossistemas aquáticos apresentam correlação
positiva com a DQO. Os resultados indicam que a operação da fábrica e o tipo de
madeira são decisivos neste aspecto, independentemente do processo de
branqueamento (TCF ou ECF). As contribuições de outros setores são mais
significativas do que do próprio branqueamento na composição química das
águas residuárias relativamente a ácidos graxos, esteróis, ácidos resinóicos.
f) Embora o uso de branqueamento TCF tenha certa vantagem com respeito ao
fechamento de circuitos, este processo requer o controle e retirada de metais (Mn,
170

Cu e Fe) da polpa devido à sua interferência negativa na eficiência do peróxido.


Esta remoção normalmente é feita com quelantes ou com lavagem ácida.

5.1.6 Depuração da polpa branqueada e secagem (extração)

A depuração é feita utilizando-se o mesmo tipo de equipamento que faz a depuração


da polpa marrom – polpa não branqueada (saída do digestor).

Em fábricas integradas, a polpa é bombeada para a fabricação de papel com cerca de


4% de consistência. Em fábricas não integradas, a polpa é prensada e depois seca
com vapor em um processo multiestágios para então ser transportada. A folha de
celulose seca é cortada e embalada em fardos. O teor de sólidos da polpa seca é de
aproximadamente 90 a 92%.

5.1.7 Sistema de recuperação química

O sistema de recuperação química possui três funções básicas:


• Recuperação dos compostos químicos inorgânicos usados na polpação
(cozimento);
• Destruição (queima) dos compostos orgânicos para geração de energia térmica e
elétrica;
• Recuperação de subprodutos orgânicos vendáveis (terebentina, tall oil).

O poder calorífico do licor negro é normalmente suficiente para gerar a energia


necessária à fábrica de celulose. As principais unidades que compõe a recuperação
química são: evaporação do licor negro, incineração do licor na caldeira de
recuperação, caustificação e regeneração de cal. As Figuras 47 e 49 ilustram as
principais etapas deste processo.
171

se
o lo
Ciclo Cáustico e gr celu Lavagem
n i
or em
lic e h
+
Digestor a na
lp ni
Po lig

S
Licor branco – Licor negro diluído
NaOH + Na2S Na
Polpa
Lama de cal
CaCO3
Forno
Filtração Evaporação
de cal

NaOH
CaCO3 Ciclo alcalino
Combustível Na2S
CO2
Licor negro
Caustificação (65-75% de sólidos)
Caldeira de
recuperação
Cal calcinada
CaO Reposição Na2SO4
Tanque
Licor verde dissolvedor
Na2CO3 + Na2S Vapor
Eletricidade

Resíduos
Dregs, cinzas

Smelt
Na2CO3 + Na2S

Água ou
Licor branco fraco

Figura 47 - Representação esquemática do ciclo de recuperação de álcalis


Fonte: IPPC (2000)

O licor negro resultante da lavagem da polpa marrom com teor de sólidos entre 14-
18% deve ser concentrado antes de ser enviado para a queima na caldeira de
recuperação. A evaporação em vários estágios permite elevar este teor para 65 a 75%
aproximadamente.

Os condensados gerados na evaporação do licor negro e no cozimento apresentam


graus variados de contaminação com metanol, compostos reduzidos de enxofre
(TRS) e outros compostos orgânicos voláteis.
Estes compostos são removidos em uma coluna de arraste, que integra a de
evaporação. Os condensados purificados podem ser usados no processo para lavagem
da polpa e na unidade de caustificação.
172

O licor concentrado é incinerado na caldeira de recuperação. O fundido (smelt) é


dissolvido em licor branco fraco de modo a recuperar o enxofre e sódio. O licor
verde clarificado resultante consiste de carbonato e sulfeto de sódio (Figura 50).

Cozimento
_
Lavagem
_
Evaporação Lic
co
n
_
o rv
erd
ra
rb

Combustão e
o
Lic

_
Dissolução
do smelt

NaOH Na2CO3 Clarificação


Filtração + Circuito + do licor verde
do licor branco Na2S de licor Na2S

NaOH
+ Lavagem
Na2S do dregs
Clarificação
do licor branco
Dregs

Caustificação
Apagamento
Clarificação do cal (CaO)
e adensamento Ca
da lama de cal l (C
aO
)
Grits

Lavagem CaCO3 Circuito Calcinação


da lama
de sólidos

CaCO3

Deságüe
da lama

Figura 48 - Representação esquemática do ciclo de licor e circuito de sólidos.


Fonte: Grace et. al. (1989).
Na etapa seguinte, denominada de caustificação, o carbonato é convertido em
hidróxido de sódio mediante a adição de cal, após separação do carbonato. O filtrado
é o licor branco.
173

A lama de cal é lavada e encaminhada ao forno para a calcinação (CaO) e retorno ao


processo em circuito fechado. O processo de calcinação é endotérmico, requer alta
temperatura e uso de combustível auxiliar.

O processo de coleta, evaporação e incineração do licor negro gera substâncias


(concentrados) odoríferas com alto teor de enxofre na forma reduzida (TRS), com
sulfeto de hidrogênio (H2S), metil mercaptanas (CH3SH), dimetil sulfeto (CH3SCH3),
e dimetil dissulfeto (CH3SSCH3).

Estes gases são coletados e queimados em incineradores ou no próprio forno de cal.


Os gases de combustão são normalmente tratados em lavadores de gases e o fluido
de lavagem é encaminhado ao sistema de recuperação.

Algumas fábricas também coletam e incineram os gases diluídos provenientes das


etapas de pré-tratamento dos cavacos, depuração, lavagem de polpa e tanque
dissolvedor (smelt).

5.2 PRINCIPAIS CONSUMOS E EMISSÕES DO PROCESSO KRAFT

No processo de produção de celulose, as águas residuárias e as emissões atmosféricas


são os aspectos ambientais que recebem maior atenção nos dias de hoje. Entretanto,
espera-se que nos próximos anos os aspectos ambientais associados à geração e
descarte de resíduos sólidos sejam os principais alvos de atenção (IPPC, 2000).

A Figura 49 apresenta de forma simplificada os principais insumos e emissões do


processo kraft.
174

Água
Processo
Resfriamento
Insumos (químicos)
NaOH; O2 ; NaClO3
EDTA; SO2, H2 O2
Energia O 3 ; MgSO4; CaO
Gerada (licor Ácido peracético
preto)
Óleo
Carvão
Gás
Cascas,resíduos

Preparo da Deslignifi- Produtos


Cozimento Depuração Lavagem
Matérias-primas
Matérias primas madeira cação Celulose
Madeira –toras Polpa p/ papel
Recuperação de
Madeira- cavaco Branqueamento Secagem
Químicos e de energia Sub-Produtos
Madeira- resíduos
Preparação de Caldeiras Manuseio Tall oil
ETE Terebentina
Químicos Auxiliares de resíduos
Vapor
Eletricidade
Ruído
Resíduos sólidos
Cinzas;
Energia Dregs, grits;
Ar Emissões atmosféricas Lama de cal; cascas;
Água NOx, SO2;CO; CO2 ; Rejeitos da depuração;
TRS; VOC; Lodo primário; lodo biológico;
Compostos de cloro; Resíduos gerados em áreas
Material particulado comuns.

Emissões hídricas
DQO; DBO;
Extrativos da madeira;
AOX (compostosorg. clorados);
Cloratos; N; P;
Sólidos em
suspensos;
supensão
Metais e sais com cor

Figura 49 - Representação esquemática do processo kraft – matérias-primas,


insumos e resíduos gerados
Fonte: IPPC (2000).

5.2.1. Consumo de madeira

Muitas espécies de madeira podem ser usadas para a produção de celulose. A


quantidade de madeira e o rendimento são função da seletividade do cozimento e do
branqueamento. São necessários 4 a 6,6 m3 de madeira para se produzir uma tonelada
de polpa.
175

A densidade média fica entre 0,4 a 0,6 g/cm3 e varia de espécie para espécie. A
quantidade de cascas é cerca de 12 a 15% (em peso).

5.2.2 Consumo de água e geração de águas residuárias

O consumo de água varia muito de fábrica para fábrica, podendo oscilar entre 15 a
100 m3/t.
Valores superiores a 50 m3/t normalmente incluem a água de refrigeração. O
consumo de água pode ser reduzido aumentando-se a recirculação interna,
utilizando-se equipamentos de lavagem mais eficientes, reciclando filtrados
alcalinos, purificando e reutilizando os condensados, entre outros (Hoglund, 1999).

As águas residuárias são tipicamente caracterizadas por substâncias orgânicas


consumidoras de oxigênio, expressas como DBO e DQO. O efluente do
branqueamento (quando feito com compostos à base de cloro), contém também
compostos organoclorados denominados: AOX - Adsorbable Organic Halogen.

Alguns compostos presentes na água residuária do pátio de madeira apresentam


efeitos tóxicos à biota aquática em decorrência da presença de extrativos, ácidos
resinóicos, entre outros. Os compostos coloridos presentes nas águas residuárias
podem causar impactos nos ecossistemas aquáticos devido a alterações na
transparência da água e na penetração de luz no meio.

O volume de água utilizado tem relação direta com a geração/emissão de águas


residuárias, entretanto o potencial poluidor é dependente da operação da fábrica e do
grau de fechamento de circuitos. As principais fontes de emissão são apresentadas a
seguir (Figura 50).
176

Água fresca

Preparo de Deslignifi- Branquea-


Cozimento Depuração Lavagem Lavagem Secagem
madeira cação mento

Fibras
Subst. Orgânicas
Emissões Emissões Emissões dissolvidas
Cascas ocasionais ocasionais ocasionais
Areia Fibras
Fibras Subst. Orgânicas dissolvidas
Subst. Orgânicas Compostos orgoclorados
dissolvidas Tratamento dos Licor Clorato
Compostos tóxicos condensados preto Fósforo
Nitrogênio
Sais
Tancagem
Substâncias orgânicas
dissolvidas

Derrames
Preparação Caldeira de
Caustificação
Do licor branco recuperação

Sais dissolvidos

Figura 50 - Águas residuárias típicas geradas no processo kraft.


Fonte: IPPC (2000).

Preparação de madeira

Embora a drenagem de águas pluviais no pátio de madeira possa carrear sólidos e


substâncias orgânicas dissolvidas com potencial poluidor, a maior fonte de poluição
é o descascamento da madeira.
O descascamento consome água e gera águas residuárias que contém matéria
orgânica facilmente biodegradável (DQO e DBO) e compostos orgânicos tóxicos
aos ecossistemas aquáticos.
O descascamento a seco permite reduzir o consumo de água significativamente e
reduz também a fração orgânica dissolvida nas águas residuárias.As características
típicas das águas residuárias são apresentadas na Tabela 16.
177

Tabela 16 - Características típicas das águas residuárias geradas no


descascamentoda madeira.
Tipo de Volume DBO DQO Fósforo total
Descascamento (m3/m3 madeira) (kg O2/m3 (kg O2/m3 (g P/m3
madeira) madeira) madeira)
À úmido + prensa 0,6 a 2 0,9 a 2,6 4a6 5a7
À seco + prensa 0,1 a 0,5 0,1 a 0,4 0,2 a 2 2a4
Fonte: IPPC (2000)

O teor de sólidos das cascas oscila entre 35 a 45% (na madeira). Após o
descascamento, este teor passa a 30 a 35%, que pode ser aumentado para cerca de 40
a 45% por meio de prensas, mas com o inconveniente de gerar uma quantidade maior
de água residuária e com maior carga orgânica (DQO 20-40 kgO2 /m3).

Condensados provenientes do cozimento e da evaporação

Nas etapas de cozimento e evaporação, são gerados aproximadamente 8 a 10


m3/ADT (ADT = Air-dried tonne - tonelada de polpa seca ao ar) de condensados
com concentrações específicas de DQO e DBO em torno de 20 a 30 kgO2/ADT e 7 a
10 kgO2/ADT, respectivamente.
A DQO é formada principalmente por metanol (5 a 10 kg/ADT), etanol e TRS (1 a 2
kg/ADT).
Os condensados contaminados contém também cetonas, terpenos, fenóis e resinas,
entre outros compostos orgânicos voláteis.

A fração mais contaminada dos condensados (cerca de 1 m3/ADT) é submetida ao


arraste “stripping”, que permite a remoção de cerca de 90% dos contaminantes,
dependendo do pH.
O consumo de vapor neste processo está em torno de 0,2 toneladas para cada
tonelada de condensado, mas pode ser reduzido até cerca de 0,02 a 0,04. Os gases
volatilizados podem ser incinerados em sistemas específicos com lavagem dos gases
ou incinerados no forno de cal.
178

A maior fração dos condensados (de 7 a 9 m3/ADT) é menos contaminada e pode ser
utilizada diretamente na lavagem da polpa, nos lavadores de gases e no “make-up”
de água para preparação de licor.
Dependendo do local em que este condensado é utilizado, ele será incorporado ao
circuito de licor (recuperação) e não contribuirá para a geração de águas residuárias.

Os condensados moderadamente contaminados podem ser também submetidos ao


arraste, conectados nas próprias colunas de evaporação, sem acréscimo significativo
do consumo de energia. Deste modo, a DQO pode ser reduzida em até 50%, quando
comparada ao tratamento somente dos condensados mais contaminados.

Derrames em diferentes áreas do processo (spills)

Perdas acidentais de fibras e de licor negro podem ocorrer nas áreas de cozimento,
depuração, lavagem, evaporação e tancagem de produtos químicos e de licores de
processo. Também podem ocorrer derrames de cal e de licor branco na caustificação.
Na maioria dos casos, os derrames podem ser coletados e re-encaminhados ao
processo, caso o sistema tenha capacidade de estocagem e de bombeio suficientes.

O controle do retorno dos derrames ao processo é feito por meio de condutivímetros,


que indicarão se os mesmos podem ser re-introduzidos no circuito de licor ou devem
ser encaminhados ao tratamento de águas residuárias (ou lagoa de emergência). O
controle adequado deste tipo de sistemas requer a coleta em separado de águas
limpas (selagem e refrigeração) do sistema de derrames.

Perdas de licor negro na lavagem

As perdas de licor na lavagem da polpa marrom acarretam não somente a perda de


produtos químicos (Na e S), como também aumentam a carga orgânica das águas
residuárias.
179

O uso de prensas na lavagem da polpa permite reduzir o consumo de água na


lavagem de 6 a 10 m3/t para 2 a 3 m3/t, aumentando a recuperação de produtos
químicos e a fração de matéria orgânica queimada na caldeira de recuperação.

As perdas de licor na lavagem podem ser avaliadas pelo arraste de sódio ou de DQO
(kg) por tonelada de polpa. Perdas típicas de DQO estão em torno de 5 a 10 kgO2/t e
de 7 a 12 kg O2/t para madeiras softwood e hardwood, respectivamente.

Águas residuárias geradas no branqueamento

Uma das principais etapas responsáveis pela geração de águas residuárias é o


branqueamento.Valores típicos oscilam entre 20-40 m3/t. Em fábricas que tem
fechamento parcial de circuitos, a vazão de águas residuárias pode ser reduzida a
valores entre 5 a 10 m3/t de polpa. A redução de carga orgânica pode atingir 25 a
50% .
Os volumes e as características das águas residuárias dependem de inúmeros fatores,
destacando-se: perdas de lavagem, seqüência de branqueamento, agentes químicos
utilizados no branqueamento, grau de deslignificação e geração de DQO durante o
branqueamento (ataque às fibras, dissolvendo, por exemplo, as hemiceluloses, com
conseqüente aumento da DQO solúvel).

A geração de DQO pode ser estimada em aproximadamente 2 kg O2 por unidade


kappa a ser removida durante o branqueamento. Os valores usuais de DQO para
diferentes tipos de madeira e de tecnologias de cozimento estão indicadas na Tabela
17.
180

Tabela 17 - Quadro comparativo entre os tipos de cozimento e o número kappa e a


DQO.
Hardwood Softwood
Tipo de Deslignificação
DQO DQO
cozimento Uso de ozônio Kappa kappa
(kgO2/ADT) (kgO2/ADT)
Convencional 18 38 30 63
Convencional Deslignificação-O2 13 27 15 32
Modificado 16 34 20 42
Modificado Deslignificação-O2 10 15 12 25
Modificado
13 26 15 30
(estendido)
Modificado
Deslignificação-O2 10 15 10 15
(estendido)
(1)
Deslignificação
Convencional ND 3 ND 6
O2 e O3
ND – não disponível
(1)
Após branqueamento com ozônio
Fonte: IPPC (2000)

Geração e emissão de compostos orgânicos clorados

As discussões sobre a geração destes compostos na fabricação de celulose ocorrem


há algum tempo, e a percepção dos impactos destes subprodutos clorados conduziu
praticamente à eliminação do uso do cloro molecular no branqueamento na Europa.
O não uso do cloro resultou na virtual eliminação da formação de dioxinas e furanos,
bem como declinou sensivelmente a geração dos demais compostos aromáticos
clorados (Tabela 18).
181

Tabela 18 - Valores de AOX em função do tipo de cozimento, deslignificação,


branqueamento e carga de dióxido de cloro aplicada.
Seqüência de Softwood Hardwood
Cozimento
branqueamento kappa ClO2 AOX kappa ClO2 AOX
Convencional D(EOP)DED 30 95 2 - - -
Conv. +
D(EOP)DED 16 60 0,8 13 40 0,5
deslign.
Modif. + D(EOP)D(EP)
10 30 0,3 10 30 0,3
deslign. D
Conv. +
ZD ND 10 0,1 ND 5 0,1
deslign.
Modif. +
ZP ND 0 0 ND 0 0
deslign.
Valores de ClO2 e AOX expressos em kg/t
ND – Não disponível
D(dióxido); E (extração);O (oxigênio); P (peróxido) e Z (ozônio)
Fonte: IPPC (2000)

A presença de cloretos nos filtrados em decorrência do uso de dióxido de cloro


acarreta dificuldades para o fechamento dos circuitos do branqueamento devido a
problemas de corrosão nos equipamentos.

Valores de DQO das águas residuárias geradas em diferentes etapas do


processamento industrial

Os menores valores reportados de DQO para águas residuárias após a decantação


primária são de 25 a 30 kgO2/ADT e 17,3 a 21,7 kgO2/ADT para polpas softwood e
hardwood respectivamente. Valores típicos estão indicados na Tabela 19.
182

Tabela 19 - DQO nas águas residuárias em diferentes etapas do processo.


Estágio/processo DQO (kgO2/ADT)
Preparo de madeira 1 a 10
Condensados 2a8
Derrames 2 a 10
Perdas na lavagem 6 a 12
Branqueamento 15 a 65
Total 31 a 105
Fonte: IPPC (2000)

Emissões de nutrientes e de metais

Os nutrientes encontrados nas águas residuárias provêm da madeira, dos insumos


químicos e da adição de nitrogênio (N) e fósforo (P) no tratamento. Os valores
médios de nitrogênio e de fósforo encontrados em efluentes brutos são 0,2 a 0,4 kg
(como NTK) e 0,05 a 0,10 kg P por ADT, respectivamente.

Do mesmo modo que os nutrientes, os metais também estão presentes na madeira e


nos insumos químicos. As emissões usuais de metais estão indicadas na Tabela 20:

Tabela 20 - Emissões hídricas de metais na produção de polpa branqueada e não


branqueada.
Polpa Cd Pb Cu Cr Ni Zn
Não branqueada 0,03 0,3 0,5 0,2 0,4 5
Branqueada 0,1 0,4 1 0,7 0,9 15
Valores expressos em g/ADT
Fonte: IPPC (2000)
183

5.2.3 Emissões atmosféricas

As principais emissões são provenientes das seguintes áreas/processos: preparo de


madeira; cozimento, lavagem da polpa, branqueamento, recuperação de produtos
químicos, evaporação, caldeiras (recuperação, biomassa e auxiliares), forno de cal e
secagem da polpa.

As emissões consistem de TRS, material particulado, NOx, CO, CO2, SO2 e VOC
(terpenos).

Caldeira de recuperação

A caldeira de recuperação é a maior fonte de emissão atmosférica em uma fábrica de


celulose, principalmente no que se refere a enxofre (SO2), material particulado
(sulfato e carbonato de sódio), TRS e NOx.

As emissões de enxofre podem ser reduzidas em até 80% quando o teor de sólidos no
licor negro evaporado aumenta de 65-67% a 64-76%, devido à elevação da
temperatura da fornalha e de melhores condições de queima. Em contrapartida,
temperaturas altas favorecem o aumento das emissões de NOx.

O fundido gerado no fundo da caldeira de recuperação, denominado de smelt - é


composto basicamente de carbonato e de sulfeto de sódio. Durante a redução do
enxofre a sulfeto pode ocorrer a formação de gás sulfídrico, que pode ser carreado
pelos gases quentes na saída da caldeira se a mistura ou fornecimento de oxigênio
dentro da fornalha não forem suficientes para promover a sua oxidação.

Na zona oxidante, o dióxido de enxofre reage com o sódio, formando o sulfato de


sódio. As temperaturas altas da fornalha reduzem as emissões de sulfeto de
hidrogênio e elevam as de sulfato de sódio.
184

Uma visão conceitual das principais reações que ocorrem na caldeira de recuperação
são mostradas na Figura 51.

N2, H2O, CO2 , SO2 , O2 , NOx


NaCl, HCl , Na2SO4, (CO, H2S)

Vapor

Água
Ar terciário
Zona oxidante

Na, SO2 , O2 # Na2SO4

H2S, O2 # SO2.H2O
H, C, O # CO2, H2O, CO

1050 oC

Ar secundário
H2O , C, Na, NaOH , H2S

Licor
negro
CO, CO2

Queima NaOH, Na, H2S

Zona redutora Ar primário


Na2SO4 , C, O2
800 oC
Na2S, Na2CO3, CO2

Smelt

Na2S , Na2CO3, Na2SO4, NaCl

Figura 51 - Principais reações que ocorrem na caldeira de recuperação.


Fonte: IPPC (2000).

O material particulado retido pelo precipitador eletrostático da caldeira - composto


basicamente por sulfato de sódio, é adicionado novamente ao licor negro. De forma
complementar, este tipo de caldeira pode dispor de lavadores de gases para
abatimento do SO2, que operam com pH entre 6 e 7, controlado pela adição de
NaOH ou licor branco fraco ou oxidado.
Os valores típicos de emissão das caldeiras de recuperação são apresentados na
Tabela 21.
185

As emissões de NOx são dependentes do conteúdo de nitrogênio no licor negro e do


controle de excesso de ar na combustão. As emissões características de NOx são
cerca de 1 a 2 kg/t. A redução das emissões de NOx pode ser obtida alterando-se o
sistema de fornecimento de ar e otimizando-se as condições de queima. Em termos
de emissões específicas, os valores usuais estão entre 50 e 80 mgNOx/MJ , no
entanto, em caldeiras novas, estes valores podem ser menores do que 40
mgNOx/MJ.

A produção de gás na caldeira oscila entre 6.000 a 9.000 Nm3 (base seca) por
tonelada de polpa. A geração de vapor é cerca de 13 a 18 GJ/t. Devido ao menor
rendimento da polpação dos processos que utilizam madeira softwood, há também
menor produção de vapor. O fechamento de circuitos por sua vez, permite aumentar
a geração (recuperação) de energia.

Forno de cal

No forno de cal ocorre o processo de re-caustificação da lama de cal (carbonato de


cálcio) para produzir óxido de cálcio que será utilizado na conversão do carbonato de
sódio em NaOH. Este processo é conduzido em fornos rotativos alimentados por
combustível em temperaturas que oscilam entre 800 até cerca de 1.100 oC.

As vazões de gases são de aproximadamente 1.000 Nm3/t (base seca) e a demanda


de energia é cerca de 1,5 a 1,8 GJ/t de polpa.
As principais emissões do forno de cal são material particulado, óxidos de
nitrogênio, TRS e dióxido de enxofre.
186

Tabela 21 - Emissões atmosféricas típicas da caldeira de recuperação e forno de cal.


SO2 Material TRS
Unidade NOx (NO2)
(S) particulado (S)
Caldeira de
recuperação
Sem lavador de gases mg/Nm3 100 a 800 10 a 200 100 a 260 < 10
– 63 a 65% sólidos no mg/MJ 60 a 250 50 a 80
licor negro kg/ADT 1a4 0,1 a 1,8 0,6 a 1,8 < 0,05
3
Com lavador de gases mg/Nm 20 a 80 10 a 200 100 a 260 < 10
– 63 a 65% sólidos no mg/MJ 10 a 25 50 a 80
licor negro kg/ADT 0,1 a 0,4 0,1 a 1,8 0,6 a 1,8 < 0,05
3
Sem lavador de gases mg/Nm 10 a 100 10 a 200 100 a 260 < 10
– 72 a 80% sólidos no mg/MJ 12 a 30 50 a 80
licor negro kg/ADT 0,2 a 0,5 0,1 a 1,8 0,6 a 1,8 < 0,05
SO2 Material TRS
Unidade NOx (NO2)
(S) particulado (S)
Forno de cal
20 a 150
5 a 30
mg/Nm3 (200 a 600) 240 a 380 < 50
2,5 a 16
Óleo combustível mg/MJ 130 a 200
0,002 a
kg/ADT 0,01 a 0,1 0,2 a 0,3 < 0,03
0,003
(0,1 a 0,4)
20 a 150
mg/Nm3 150 a 900 < 50
Óleo combustível e (200 a 600)
mg/MJ 80 a 740 ND
NCG 0,01 a 0,1
kg/ADT 0,1 a 0,6 < 0,03
(0,1 a 0,4)
20 a 150
3
mg/Nm (200 a 600) 380 a 600 < 50
Gás mg/MJ ND 200 a 320
kg/ADT 0,01 a 0,1 0,3 a 0,4 < 0,03
(0,1 a 0,4)
ND- Não disponível
Valores com precipitador eletrostático e Valores entre parênteses – só com lavadores
de gases
Fonte: IPPC (2000)
187

As emissões de dióxido de enxofre são provenientes do enxofre presente no


combustível e do carreamento de enxofre na lama de cal. Uma fração do dióxido de
enxofre reage com o sódio gerando sulfato de sódio e parte, pode ser adsorvida nas
partículas de carbonato de sódio presentes no forno.

A redução das emissões de dióxido de enxofre pode ser obtida controlando-se o teor
de enxofre nos combustíveis ou usando-se lavadores de gases para remover os
compostos presentes nos gases antes da queima (quando estes forem incinerados no
forno de cal).

As emissões de TRS são constituídas principalmente de H2S e sua formação dentro


do forno é função do residual de sulfeto de sódio na lama de cal. O controle,
portanto, pode ser feito pelo ajuste do excesso de ar e pela lavagem adequada da
lama de cal, visando reduzir a contaminação com sulfeto.

O controle do material particulado é feito com precipitadores eletrostáticos, que


retêm as partículas de carbonato de sódio condensadas nos gases de exaustão.

A emissão de óxidos de nitrogênio está correlacionada com a presença de nitrogênio


no combustível. Tanto metanol quanto os gases não condensáveis (GNC) aumentam
a formação do NOx. As emissões dos gases nitrogenados estão em torno de 900
mg/m3 quando são incinerados metanol e GNC juntamente com combustíveis fósseis.

Caldeiras de biomassa e caldeiras auxiliares

As cascas e cavacos podem ser usados para a geração de energia. As cascas (com
teor de sólidos de 45%) têm poder calorífico entre 7 a 8 GJ/t e baixos teores de
enxofre.
188

Devido às baixas temperaturas na fornalha, a emissão de gases nitrogenados é menor


do que quando outro combustível é utilizado, com valores médios entre 70 a 100
mgNOx/MJ.

O excesso de oxigênio durante a queima permite reduzir a formação de NOx, mas,


por outro lado, aumenta as emissões de VOC e CO. Considerando-se o poder
calorífico das cascas em torno de 7 MJ/t, a faixa de emissão de NOX é de 0,3 a 0,7 kg
por tonelada de cascas. O limite inferior é obtido com controle das condições de
combustão e com tratamento adicional com amônia (SNRC).

As emissões de material particulado podem ser reduzidas a níveis de 20 a 40


mgMP/Nm3 (base seca-11% de O2) com o uso de precipitadores eletrostáticos
(valores específicos na faixa de 0,1 a 1 kgMP/t).

As caldeiras auxiliares à base de óleo, carvão ou gás são usadas para complementar a
demanda de energia em fábricas integradas, devido ao adicional necessário para
fabricação de papel.
As emissões dependem do tipo de combustível, da tecnologia de queima e do
controle de combustão na fornalha.

Emissão de substâncias odoríferas

As substâncias odoríferas compõem-se de sulfeto de hidrogênio, metil mercaptanas,


dimetil sulfeto e dimetil dissulfeto. Normalmente, são denominadas como TRS –
total reduced sulphur. Estas substâncias são divididas em concentradas (teor de
enxofre > 5 g/m3) e diluídas (teor de enxofre < 0,5 g/m3).

Os gases concentrados provêm do digestor e da evaporação e do arraste dos


condensados, representando um volume de cerca de 25 m3/t de polpa. Estes gases são
coletados e incinerados no forno de cal, caldeira de recuperação ou em queimadores
dedicados (específicos).
189

A incineração no forno de cal é vantajosa, pois evita a necessidade de outra unidade


de queima e os gases de enxofre podem ser absorvidos pelos sais presentes na
fornalha.

Em média, 15% do combustível usado no forno de cal pode ser substituído pelos
gases coletados no processo, no entanto, as variações no seu poder calorífico podem
dificultar o controle da calcinação e, por conseguinte, a qualidade e a uniformidade
da cal produzida. A separação do metanol destes gases e a sua injeção na forma
líquida podem minimizar este impacto.

Os gases diluídos provenientes da impregnação de cavacos com vapor, da depuração,


da lavagem, do tanque dissolvedor e da ventilação de tanques que contém licor
negro, são gerados em volume correspondente a cerca de 2.000 a 3.000 m3/t de polpa
e apresentam teores de enxofre de 0,2 a 0,5 kg S/ADT.

Estes gases podem ser incinerados na caldeira de recuperação, no forno de cal ou ser
absorvidos em lavador de gases. O lavador é eficiente principalmente para remoção
do gás sulfídrico. A incineração na caldeira de recuperação pode requer modificações
na sua forma de operação. Em algumas instalações, tanto os gases diluídos quanto os
concentrados são incinerados na caldeira de recuperação.

Durante o cozimento e a evaporação, parte das substâncias odoríferas são


transferidas para os condensados, que contém metanol e outros compostos que
consomem oxigênio (geradores de DBO). Estes condensados podem ser tratados em
colunas de arraste e reutilizados no processo. O excedente é encaminhado para o
tratamento de águas residuárias.

Emissão de gases com cloro

Estes gases são oriundos do processo de branqueamento com compostos clorados e


do processo de fabricação do dióxido de cloro. Os compostos clorados gerados nestas
190

fontes são parcialmente absorvidos em lavadores de gases antes do seu lançamento


para a atmosfera.

5.2.4 Geração de resíduos sólidos

A produção de celulose gera vários tipos de resíduos orgânicos e inorgânicos.


Os principais resíduos inorgânicos são dregs e lama de cal do processo de
recuperação.

O preparo de madeira dá origem às cascas, enquanto o tratamento de águas


residuárias gera lodo com fibras, lodo biológico e uma fração inorgânica removida na
decantação primária. Parte da fração orgânica, como cascas e demais resíduos da
madeira (finos) pode ser utilizada para recuperação de energia por meio da queima
em caldeiras.
Em algumas fábricas, o lodo gerado no tratamento de águas residuárias é incinerado
(Harila et al, 1999).

As cinzas provenientes da queima dos resíduos orgânicos podem ser utilizadas nas
florestas para repor parte dos nutrientes, desde que o teor de metais pesados permita
este tipo de aplicação.

A maior fração dos resíduos sólidos é composta pelo lodo gerado no tratamento de
águas residuárias. O lodo biológico e o físico-químico são de difícil desidratação. O
tratamento do lodo é feito normalmente em várias etapas, iniciando pelo
adensamento seguido pelo condicionamento e desidratação. O teor de sólidos do lodo
biológico pode ser aumentado quando ele é misturado com o lodo gerado no
tratamento primário, que é rico em fibras. O lodo misto pode ser desidratado a níveis
de 25 a 35% de sólidos secos utilizando-se filtros-prensas e de 40 a 50% com
equipamento tipo “screw-press” precedido de pré-tratamento com vapor.
191

O ganho energético da incineração pode ser nulo ou até negativo se o teor de sólidos
do lodo estiver abaixo de 40% ou se o conteúdo de compostos inorgânicos for
elevado. A incineração permite reduzir drasticamente o volume do lodo e as cinzas
geradas devem ser dispostas adequadamente, normalmente, em aterros próprios.

Os dados relativos à geração de resíduos ainda são limitados e os valores reportados


por algumas fábricas suecas e finlandesas variam enormemente. Os valores
reportados para processo kraft, em base seca são mostrados na Tabela 22.

Tabela 22 - Geração de resíduos sólidos em industrias de papel e celulose-processo


kraft.
Tipo de Polpa Resíduos Inorgânicos (kg/ADT) Resíduos Orgânicos (kg/ADT)
Não Branqueada 30 a 60 20 a 60
Branqueada 40 a 70 30 a 60
Fonte: IPPC (2000)

5.2.5 Consumo de produtos químicos

O consumo de produtos químicos varia de fábrica para fábrica. Além disso, em


alguns casos, estes números são considerados confidenciais. Os valores reportados na
literatura estão indicados na Tabela 23:
192

Tabela 23 - Consumo de produtos químicos para a produção de polpa kraft.


Consumo (kg/t) Consumo (kg/t)
Insumo
Polpa kraft não branqueada Polpa kraft branqueada
NaOH 10 a 20 25 a 50
O2 5 a 25
NaClO3 20 a 50
EDTA 0a4
SO2 2 a 10
H2O2 2 a 30
O3 0a5
MgSO4 0a3
CaO 5 a 10 5 a 10
Fonte: IPPC (2000)

Para os principais produtos químicos usados no processo, no caso sódio e enxofre, é


recomendável que seja feito o balanço de massa destes elementos como forma de
minimizar as perdas, reduzir as emissões e a reposição, uma vez que vários insumos,
inclusive a própria madeira, contêm enxofre e sódio, assim como a produção de
dióxido gera sais à base de sódio e de enxofre.

5.2.6 Consumo de energia

A energia é consumida basicamente para o aquecimento, para o transporte e para a


evaporação de fluidos. Parte da energia térmica é utilizada para aquecimento e
controle das reações químicas no cozimento e branqueamento. A energia elétrica é
utilizada principalmente para o bombeamento.

O consumo de energia é dependente da tecnologia utilizada, da configuração do


sistema e da eficiência do controle operacional.
193

A produção de polpa requer aproximadamente de 10 a 14 GJ/t de energia térmica


(não computada a fração utilizada para geração de energia elétrica nas turbinas a
vapor). O consumo de energia elétrica oscila entre 600 – 800 kWh/ADT, incluindo-
se a secagem da polpa. Para esta etapa, cerca de 50% da energia elétrica é consumida
no bombeamento. Para fábricas integradas, este consumo é cerca de 950 – 1.300
kWh/t.

Embora o processo de produção de celulose seja grande consumidor de energia, a


maior parte é gerada internamente a partir da queima de subprodutos oriundos de
fontes renováveis, no caso, lignina e cascas. Parte da energia pode ser reaproveitada
em diferentes etapas do processo para produção de água quente e água morna. O uso
de combustíveis fósseis complementa a necessidade de energia, como por exemplo, o
uso de óleo no forno de cal.

Configurações típicas de fábricas não integradas consistem de turbinas a vapor


interligadas com as caldeiras de recuperação e de biomassa. Parte da energia contida
no vapor é utilizada nas turbinas (vapor de alta pressão) para geração de energia
elétrica e parte (vapor de média e de baixa pressão) é utilizada para aquecimento das
unidades de processo.

A incineração das substâncias odoríferas coletadas no processo (no forno de cal e/ou
na caldeira de recuperação) pouco contribui para o balanço energético da fábrica e
sua queima é feita basicamente por razões ambientais.

Em fábricas integradas, a demanda adicional de energia deve ser suprida com


caldeiras auxiliares com ou sem turbinas a vapor.

O consumo de energia para a produção de insumos químicos pode ser alta, variando
de 10 kWh por quilo de produto para o dióxido de cloro e ozônio; 3,5 kWh para
produção de peróxido e 1,6 e 0,4 kWh para cada quilo de álcali e oxigênio
produzidos, respectivamente.
194

Valores típicos de consumo de energia no tratamento de águas residuárias são de


cerca de 46 kWh/t para sistemas de lodos ativados.

5.2.7 Geração de ruído

As principais fontes de ruído são o descascamento e picagem da madeira, e por isso,


normalmente estas áreas são providas de isolamento acústico.
Válvulas de alívio de pressão de vapor também são fontes de ruído.

Os valores limites para ruído no entorno das fábricas depende da legislação local. No
caso de indústrias na Suécia, por exemplo, o valor máximo permitido a 500 m da
fábrica são 50 dB (A) (à noite). No Brasil, a Norma NBR 10.151 apresenta os
limites admissíveis para os períodos diurnos e noturnos em diferentes ambientes.
Para áreas predominantemente industriais, o valor máximo recomendado é 60 e
70dB(A), para o dia e para à noite, respectivamente. Em áreas mistas, estes valores
50 e 65 dB(A) (ABNT, 2000).

5.3 BAT PARA O PROCESSO KRAFT

O processo kraft ou sulfato, utilizado para produzir 80% da polpa no mundo, é o


mais importante dos métodos de produção de celulose empregados atualmente. A
importância do processo sulfito vem decaindo constantemente nos últimos anos e
hoje em dia, menos de 10% da produção mundial é obtida com este método. O termo
“sulfato” é derivado do “make-up” com sulfato de sódio, feito no circuito de
recuperação para compensar as perdas de produtos químicos. O processo kraft pode
ser usado com qualquer tipo de madeira; possibilita uma eficiente recuperação de
produtos químicos e a polpa produzida possui características de resistência
superiores àquela obtida no processo sulfito. Por outro lado, o processo kraft produz
emissões de substâncias odoríferas .
195

Na polpação kraft, as águas residuárias geradas; as emissões atmosféricas (incluindo


compostos reduzidos de enxofre – TRS) e o consumo de energia são os principais
aspectos a considerar. Em alguns países, os resíduos sólidos também são
considerados relevantes.

As principais matérias-primas são recursos renováveis (madeira e água) e insumos


químicos para o cozimento e o branqueamento. As águas residuárias originárias nas
unidades de branqueamento, que utilizam derivados de cloro, contém compostos
organoclorados - medidos como AOX. Alguns compostos presentes nas águas
residuárias apresentam efeitos tóxicos em organismos aquáticos; a cor afeta o hábitat
das espécies e os nutrientes (nitrogênio e fósforo) podem contribuir para a
eutrofização dos corpos d’água. Metais extraídos da madeira são descarregados em
baixas concentrações, mas devido às vazões elevadas, as cargas podem ser
significativas. Uma redução considerável na emissão de compostos organoclorados e
não clorados tem sido obtida por meio de modificações nos processos de produção.

Segundo o IPPC (2000) são consideradas BAT para polpação kraft:


• Descascamento a seco da madeira;
• Aumento da deslignificação antes do branqueamento por meio de cozimentos
estendidos ou modificados e adição de estágios de oxigênio;
• Lavagem de massa marrom altamente eficiente e fechamento do circuito de
depuração marrom;
• Branqueamento ECF (Elemental Chlorine Free) com baixa emissão de AOX ou
TCF (Totally Chlorine Free);
• Recirculação (fechamento de circuito) de algumas águas residuárias do
branqueamento, principalmente as alcalinas;
• Sistemas eficazes de monitoramento, contenção e recuperação de derrames ;
• Arraste (stripping) e reutilização do condensado da evaporação;
• Capacidade suficiente da unidade de evaporação de licor negro e da caldeira de
recuperação para absorver a carga adicional de licor e sólidos secos;
• Coleta e reutilização da água de refrigeração;
196

• Instalação de tanques com capacidade adequada para estocar derrames de licores


e condensados contaminados, visando evitar picos de carga e conseqüentes
quedas de desempenho da estação de tratamento de águas residuárias;
• Tratamento biológico das águas residuárias.

A Tabela 24 apresenta as principais características das águas residuárias das


indústrias de produção de polpas kraft branqueadas e não branqueadas que utilizam
as BATs.

Tabela 24 - Características das águas residuárias.


DQO DBO
Vazão SST AOX N Total P Total
3
KgO2/ KgO2/
m /ADT Kg/ADT Kg/ADT Kg N/ADT Kg P/ADT
ADT ADT
Polpa
30 a 50 8 a 23 0,3 a 1,5 0,6 a 1,5 < 2,5 0,1 a 0,25 0,01 a 0,03
branqueada
Polpa não
25 a 25 5 a 10 0,2 a 0,7 0,3 a 1,0 - 0,1 a 0,2 0,01 a 0,02
branqueada

DQO: Demanda Química de Oxigênio


DBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio
SST: Sólidos Totais em suspensão
N total: Nitrogênio Total = Nitrogênio Orgânico + Nitrogênio Amoniacal + Nitrito +
Nitrato
AOX: Compostos Organohalogenados Adsorvíveis
P Total: Fósforo Total
Estes valores referem-se a médias anuais. A vazão de águas residuárias é estimada
assumindo-se que a água não contaminada (refrigeração, etc) é descartada em separado.
Os valores consideram somente a produção de celulose; em fábricas integradas, os valores
das emissões geradas na produção de papel devem ser adicionados, conforme o “mix” de
fabricação.
Fonte: IPPC (2000)

As emissões atmosféricas oriundas de diferentes fontes são consideradas como outro


importante problema ambiental. Elas são originadas na caldeira de recuperação,
forno de cal, caldeiras auxiliares, estocagem de cavacos, digestor, lavagem,
branqueamento, evaporação, depuração, preparação de licor branco e de diversos
tanques. Além disso, várias emissões difusas escapam de diferentes pontos do
processo. As fontes principais são a caldeira de recuperação, o forno de cal e as
197

caldeiras auxiliares. As emissões consistem basicamente de óxidos de nitrogênio,


compostos de enxofre como o dióxido de enxofre, compostos reduzidos de enxofre e
material particulado.

As BATs para reduzir emissões atmosféricas são:


• Coleta e incineração de compostos reduzidos de enxofre concentrados e controle
da emissão de SO2 resultante. Os gases concentrados podem ser queimados na
caldeira de recuperação, no forno de cal ou em queimadores específicos;
• Coleta e incineração de compostos reduzidos de enxofre diluídos originados em
várias fontes e controle da emissão de SO2;
• Minimização das emissões de TRS da caldeira de recuperação por meio de um
eficiente controle de combustão e medição de CO;
• Minimização das emissões de TRS do forno de cal por intermédio do controle do
excesso de oxigênio, da utilização de óleo combustível com baixo teor de enxofre
e controle do residual de sódio solúvel na lama enviada ao forno;
• Controle das emissões de SO2 da caldeira de recuperação por intermédio da
queima de licor com alto teor de sólidos e/ou utilizando um lavador de gases;
• Redução das emissões de SO2 das caldeiras auxiliares utilizando cascas, gás, óleo
combustível com baixo teor de enxofre ou controle das emissões com lavador de
gases;
• Utilização de precipitadores eletrostáticos para controlar emissões de
particulados nas caldeiras de recuperação, caldeiras auxiliares e forno de cal.

Os níveis de emissões atmosféricas associadas à aplicação combinada destas técnicas


em processos kraft para polpas branqueadas e não branqueadas são mostrados na
Tabela 25. Os valores correspondem a médias anuais, em condições normais de
operação. Os valores de emissões de caldeiras auxiliares não foram incluídos e serão
abordados em tópico específico.
198

Tabela 25 - Emissões atmosféricas típicas do processo kraft.


Material
SO2 NOx TRS
Particulado
Kg S/ADT Kg NO2/ADT Kg S/ADT
Kg MP/ADT
Polpa branqueada
0,2 a 0,5 0,2 a 0,4 1,0 a 1,5 0,1 a 0,2
e não branqueada
Fonte: IPPC (2000)

A BAT para reduzir os resíduos sólidos é diminuir a geração e recuperar, reciclar e


reutilizar estes materiais, sempre que isto for tecnicamente viável. Sistemas de coleta
e estocagem intermediários, próximos às fontes geradoras, podem auxiliar a alcançar
estes objetivos. Quando o material recolhido não é reutilizável no processo, formas
alternativas de uso ou disposição externas são consideradas BAT (como incineração
de resíduos orgânicos em caldeiras adequadas para geração de energia).

Existem diversas técnicas disponíveis para reduzir o consumo de vapor e energia


elétrica e aumentar a geração interna destes insumos. Em fábricas de celulose não
integradas, que são auto-suficientes do ponto de vista energético, a energia térmica
gerada pela queima do licor negro e a incineração de cascas excede as necessidades
do processo industrial. Entretanto, é necessário utilizar óleo combustível para a
partida e em algumas delas também nos fornos de cal.

Os consumos de energia térmica e elétrica de fábricas kraft eficientes são


apresentados na Tabela 26.
199

Tabela 26 - Consumos de energia térmica e elétrica em fábricas kraft eficientes.


Consumo de energia
Consumo de energia térmica
elétrica
GJ/ADT
MWh/ADT
Polpa branqueada;
10 a 14 0,6 a 0,8
fábricas não integradas.
Polpa branqueada;
14 a 20 1,2 a 1,5
fábricas integradas.
Polpa não branqueada;
14 a 17,5 1,0 a 1,3
fábricas integradas.
Fonte: IPPC (2000)

5.3.1 Descascamento a seco

No descascamento úmido, as toras são colocadas em um tanque com água e as cascas


são removidas pelo atrito com a lateral de um tambor. Parte da água utilizada é
reciclada, porém parte é perdida por transbordamento para retirada das cascas
removidas.

As fábricas mais modernas já utilizam o descascamento a seco, onde a água é


empregada somente para lavagem e descongelamento (em climas frios) e é
efetivamente recirculada com geração mínima de águas residuárias. Este processo
produz cascas com baixos teores de umidade, que beneficiam o balanço energético
da indústria, além da quantidade de água requerida e de substâncias orgânicas
dissolvidas serem bem menores. A Tabela 27 mostra as características das águas
residuárias originárias de indústrias que utilizam o descascamento a seco e úmido.
200

Tabela 27 - Características das águas residuárias oriundas de indústrias que


utilizam descascamento úmido e a seco.
Volume de águas Fósforo
Tipo de DBO DQO
residuárias total
descascamento KgO 2 /t polpa KgO 2 /t polpa
m3/t polpa g P/t polpa
Úmido 3 a 10 5 a 15 20 a 30 25 a 35
Seco 0,5 a 2,5 0,5 a 2,5 1 a 10 10 a 20
Fonte: IPPC (2000)

5.3.2 Cozimento modificado estendido para obter celulose com baixo número
kappa (em batelada ou contínuo)

A deslignificação antes da unidade de branqueamento é feita no digestor e em muitas


fábricas também, por meio da deslignificação por oxigênio. Portanto, estas
tecnologias devem ser analisadas em conjunto, pois do ponto de vista ambiental, o
essencial é o grau de deslignificação da polpa antes do branqueamento.

Visando reduzir o teor de lignina (baixo número kappa) na entrada do


branqueamento e assim diminuir o consumo de produtos químicos, a deslignificação
estendida (ou cozimento kraft modificado) foi introduzida na indústria no final dos
anos 70 e início da década de 80 do século XX. A redução do teor de lignina diminui
a descarga de poluentes e aumenta a quantidade de substâncias orgânicas enviadas
para a caldeira de recuperação. Diversos processos kraft modificados, contínuos e em
batelada, foram desenvolvidos e aplicados comercialmente.

Nos sistemas de cozimento contínuo, as três alternativas disponíveis são: o MCC


(Modified Continuous Cooking), o EMCC (Extended Modified Continuous Cooking)
e o ITC (Isothermal Cooking). No processo MCC, a área de cozimento do digestor é
dividida em duas, chamadas de zonas concorrente e contra-corrente. A carga de licor
branco é dividida entre estas. O propósito desta modificação é o de diminuir a
concentração inicial de álcali, mantendo-a constante durante o cozimento e uma
201

baixa concentração de lignina dissolvida na parte final do processo. O EMCC foi


desenvolvido a partir do MCC e a diferença consiste na injeção de licor branco na
zona de lavagem para estender a deslignificação no digestor.

A tecnologia mais recentemente desenvolvida é o ITC, que é um aperfeiçoamento do


MCC. Neste processo, a totalidade do vaso do digestor é usada para deslignificação,
o que possibilita cozimento em condições menos agressivas (menor temperatura),
preservando as propriedades das fibras. Dependendo do número kappa desejado, o
teor de produtos químicos é o mesmo ou levemente maior . Uma vez que o ITC
utiliza menor temperatura, não há aumento no consumo de vapor e o rendimento é
limitado.

Nos sistemas descontínuos ou por batelada existem três processos com aplicação
comercial: RDH (Rapid Displacement Heating), SuperBatch e EnerBatch. Nos
processos RDH e SuperBatch é feito um pré-tratamento (impregnação) do cavaco
com licor negro, visando reduzir o consumo de vapor e ao mesmo tempo aumentar a
sulfidez inicial e reduzir a carga de álcali efetiva. No processo EnerBatch é feito um
pré-tratamento do cavaco com licor branco seguido de um pré-tratamento com licor
negro. Todos estes processos possibilitam uma substancial economia de energia e
melhoram a qualidade da polpa.

O cozimento convencional tem seus limites de número kappa em torno de 30 a 32


para softwood e 18 a 20 para hardwood, estabelecidos para preservar a qualidade da
polpa. Com a aplicação das tecnologias descritas anteriormente, o número kappa
pode ser reduzido para 18 a 22 (softwood) e 14 a 16 (hardwood), mantendo-se o
mesmo rendimento e propriedades da polpa.

Um menor teor de lignina na polpa significa uma menor descarga de poluentes no


branqueamento, tanto de substâncias orgânicas quanto nutrientes. Uma unidade
kappa corresponde a cerca de 0,15% de lignina na polpa, portanto, a redução de uma
unidade kappa na entrada do branqueamento resulta numa diminuição de DQO de
cerca de 2 kgO2/ADT.
202

O cozimento estendido afeta diversos elementos do processo kraft, tais como:


• Aumento do consumo de álcali ativo;
• Aumento da quantidade de substâncias dissolvidas enviada para a caldeira de
recuperação;
• Aumento da geração de calor na caldeira de evaporação;
• Diminuição da demanda de produtos químicos no branqueamento;
• Diminuição da carga orgânica oriunda das águas residuárias do branqueamento;
• Diminuição do consumo de energia e vapor no cozimento e aumento do consumo
de vapor na evaporação em sistemas em batelada modificados.

O impacto da aplicação destas tecnologias é muito específico para cada fábrica, mas
de maneira geral, têm sido obtidas reduções do número kappa de 6 a 7 unidades para
softwood e 4 a 5 unidades para hardwood. Os investimentos necessários para
modificar as unidades de cozimento existentes giram em torno de US$ 5 milhões
para capacidade de 1.500 ADT/dia. Para obter a redução de DBO e DQO, a
eficiência de lavagem também deve aumentar, custando aproximadamente US$ 4
milhões adicionais. No processo ITC não há necessidade de instalação de
equipamentos adicionais para lavagem, se a modificação for feita sem aumento de
capacidade. Em indústrias que operam no limite da capacidade da caldeira de
recuperação, a perda de produção pode chegar a 8% se não forem adotadas medidas
para adequação ao aumento da carga de sólidos (ex: instalação de estágios adicionais
na evaporação para aumentar a concentração de sólidos secos no licor; adição de
antraquinona; aumento da capacidade da caldeira de recuperação).

A principal força motivadora para aplicação desta tecnologia é a redução na geração


de águas residuárias, embora também ocorra a diminuição do consumo de produtos
químicos no branqueamento. Este ganho deve ser comparado caso a caso com a
possível perda de rendimento e o conseqüente aumento no consumo de madeira, para
avaliar sua viabilidade.
203

5.3.3 Fechamento do circuito de filtrados na lavagem e depuração marrom

O sistema de filtrados na depuração marrom pode ser completamente fechado, o que


já é feito nas fábricas mais modernas. A tecnologia disponível para manuseio de
madeira e cozimento permite que menos de 0,5% de nós e “shives” (palitos) sejam
deixados na polpa após o cozimento. O fechamento contribui para redução dos
compostos orgânicos nas águas residuárias, que são incinerados na caldeira de
recuperação. A idéia é enviar o filtrado sem contaminação em contra-corrente ao
longo da linha de fibras, aumentando gradualmente a concentração de sólidos e
fazendo com que não haja geração de águas residuárias na depuração e lavagem.

Este procedimento pode ser adotado tanto em fábricas kraft novas quanto nas
existentes, porém poderá ser necessário substituir alguns equipamentos para reduzir o
consumo de água de lavagem e utilizar materiais mais resistentes à corrosão. Em
algumas indústrias pode haver necessidade de aumentar a capacidade de evaporação
do sistema de recuperação.

Os investimentos necessários giram em torno de US$ 6 milhões para fábricas novas e


US$ 8 milhões para as existentes. Os custos operacionais são cerca de US$ 300 a 500
mil/ano para capacidade de 1.500 ADT/dia. Um desenvolvimento importante nesta
área é a possibilidade de trabalhar a polpa com consistências maiores, o que reduz o
investimento necessário e o consumo de energia elétrica.

5.3.4 Deslignificação com oxigênio

Após o cozimento, a polpa ainda contém lignina que deve ser removida antes do
branqueamento final, de forma seletiva, minimizando danos à parte celulósica e
perdas de rendimento. Cerca de 50% da lignina residual após a depuração marrom
pode ser removida pela adição de oxigênio em uma suspensão alcalina.
204

Neste processo, o oxigênio oxida o licor branco e o sulfato de magnésio é misturado


à polpa em um reator, tanto em alta (acima de 18%) quanto em média consistência
(em torno de 14%). O reator de deslignificação é pressurizado e a temperatura é
elevada para cerca de 100ºC. A deslignificação é feita em um ou dois estágios, após
o cozimento e antes do branqueamento, podendo atingir eficiências de 40 a 60%. O
filtrado (licor usado) é enviado em contra corrente para o sistema de recuperação de
produtos químicos.

Esta tecnologia pode ser adotada em indústrias novas ou existentes, mas não da
mesma forma e nem com os mesmos custos. A instalação pode reduzir a produção se
o sistema de recuperação não tiver capacidade suficiente. O consumo adicional de
vapor na evaporação é de até 4% para alta consistência e de 4 a 10% para média
consistência; a carga adicional de sólidos é de aproximadamente 70 kg/ADT para
softwood e 45 kg/ADT para hardwood; a geração de vapor com os sólidos adicionais
é cerca de 1,5 a 2,5% menor que o aumento da carga devido ao baixo poder
calorífico do licor proveniente da deslignificação com oxigênio.

Os maiores benefícios obtidos são a redução do consumo de produtos químicos no


branqueamento e da carga orgânica nas águas residuárias geradas na indústria (DQO
e compostos orgânicos clorados no caso de branqueamento ECF). As fábricas
modernas são sempre projetadas combinando cozimento modificado e
deslignificação com oxigênio, portanto, os efeitos ao meio ambiente (DQO e AOX)
devem ser analisados em conjunto.

A Tabela 28 resume os números kappa obtidos com as diferentes tecnologias e


permite uma comparação grosseira das cargas orgânicas das águas residuárias
geradas .
205

Tabela 28 - Numero kappa e estimativa de DQO filtrada utilizando-se diferentes


tecnologias de deslignificação
Estimativa de DQO
Kappa Kappa nos filtrados do
Tecnologias de deslignificação
hardwood softwood Branqueamento (kgO2/t)
Hardwood Softwood
Cozimento convencional 14 a 22 30 a 35 28 a 44 60 a 70
Cozimento convencional +
13 a 15 18 a 20 26 a 30 36 a 40
deslignificação com oxigênio
Cozimento 14 a 16 18 a 22 28 a 32 36 a 44
modificado/estendido
Cozimento modificado +
8 a 10 8 a 12 16 a 20 16 a 24
deslignificação com oxigênio
Fonte: IPPC (2000)

Os investimentos necessários para implantação desta tecnologia giram em torno de


US$ 35 a 40 milhões para uma capacidade de 1.500 ADT/dia e os custos
operacionais são US$ 2,5 a 3,0 milhões/ano. Entretanto, a deslignificação com
oxigênio reduz o consumo de produtos químicos no branqueamento, resultando numa
redução do custo de produção que depende do tipo de madeira utilizada. Em
indústrias existentes, a carga adicional de sólidos secos para a caldeira de
recuperação pode chegar a 10% (mais tipicamente entre 4 e 6%) e este mesmo
percentual é requerido como acréscimo de capacidade na caustificação e forno de cal.
Se não houver esta capacidade adicional disponível, normalmente ocorre uma
redução da produção da fábrica como um todo.

5.3.5 Branqueamento com ozônio

O branqueamento com ozônio (O3) está relacionado à produção de polpas ECF e


TCF e sua principal finalidade é aumentar o poder de deslignificação. O O3 é gerado
por meio de descargas elétricas em um fluxo de oxigênio, sendo bastante elevado o
investimento requerido para instalação. Uma vez que o teor de O3 obtido do oxigênio
206

é somente de 14 a 16%, é necessário produzir grandes volumes, fazendo com que o


custo operacional para viabilizar a sua implantação seja também elevado (devido ao
alto custo do oxigênio e do consumo de energia elétrica).

No branqueamento ECF, a substituição de ClO2 pelo ozônio reduz a carga de AOX


nas águas residuárias e na polpa, produzindo a polpa chamada de “ECF light”. No
TCF, o uso do ozônio no branqueamento é comum, assim como de outros produtos
químicos sem cloro, tornando com isso, menos complicado o fechamento do circuito
de filtrado dos estágios de lavagem. A instalação de um estágio (PO) pressurizado no
final da seqüência de branqueamento é outra opção para reduzir a carga de ClO2. Em
fábricas de polpa TCF, a utilização do estágio PO é bastante freqüente (Lachenal et
al. ,1999; Finchem, 1998 e Axgegard et al., 1997).

O investimento necessário para implantação de uma indústria ECF com uma


capacidade de 1.500 ADT/dia, gira em torno de US$ 15 milhões e o correspondente
custo operacional é de aproximadamente US$ 2 milhões/ano.

5.3.6 Branqueamento ECF

O branqueamento ECF (Elemental Chlorine Free) utiliza uma seqüência onde o ClO2
é geralmente o principal agente. A remoção da lignina ocorre em várias etapas (os
dois primeiros estágios retiram a lignina e os subseqüentes removem o resíduo e
fornecem acabamento ao produto).

O cloro elementar pode ser substituído pelo dióxido de cloro no primeiro estágio do
branqueamento porque o poder de oxidação e a seletividade destes compostos na
remoção de lignina são semelhantes. Reforçando os estágios de extração alcalina
com oxigênio e/ou peróxido de hidrogênio, obtém-se um efeito oxidante maior, o que
reduz a lignina residual a ser removida antes dos estágios finais com dióxido de
cloro.
207

A substituição do cloro pelo dióxido reduz a geração de compostos organoclorados e


elimina a formação de dioxinas, cujos efeitos ambientais são bastante adversos. Este
procedimento, entretanto, normalmente requer modificações na unidade de
branqueamento e também aumento da capacidade da unidade de dióxido de cloro. O
dióxido é o mais seletivo de todos os produtos normalmente utilizados no
branqueamento. Seu emprego isolado no primeiro estágio faz com que a carga total
de cloro efetivo tenha de ser aumentada e, portanto o uso de oxigênio e/ou peróxido
de hidrogênio nos estágios de extração é mais intensa.

Várias soluções técnicas foram testadas e algumas delas mostraram-se mais


apropriadas para produção em escala industrial (IPPC, 2000). O branqueamento ECF
é diferente para softwood e hardwood e em muitas indústrias, o conceito ECF é
adaptado às instalações existentes. Geralmente, para atingir a mesma alvura,
hardwood requer menos produtos químicos que softwood, o que normalmente
permite utilizar um número menor de estágios de branqueamento.

Os principais ganhos ambientais obtidos com esta tecnologia são:


• Redução a níveis não detectáveis de 2,3,7,8 TCDD e 2,3,7,8 TCDF
(Tetraclorodibenzodioxina e Tetraclorodibenzofurano, compostos policlorados
suspeitos de causarem alterações mutagênicas em seres vivos). Entretanto, a
completa eliminação das dioxinas nas águas residuárias depende do número
kappa e da pureza do dióxido utilizado. Com kappa elevado e ClO2 com alta
concentração de Cl2 , a probabilidade de formação de dioxinas aumenta,
• Eliminação dos clorofenóis prioritários propostos na regulamentação da USEPA -
United States Environmental Protection Agency a níveis não detectáveis,
• Diminuição na formação de clorofórmio,
• Diminuição na formação de compostos organoclorados (AOX) a níveis de 0,2 a
0,1 kg/ADT nas águas residuárias. Normalmente, níveis de AOX menores que
0,3 kg/ADT são facilmente alcançáveis por branqueamentos ECF.
208

A implementação de branqueamentos ECF tem imposto às indústrias um aumento da


utilização de substitutos para o Cl2, acarretando grande consumo de energia para
produção de ClO2, O3 e H2O2.

Os investimentos necessários para uma indústria com capacidade de 1.500 ADT/dia


giram em torno de US$ 10 milhões para novas instalações e de US$ 5 milhões para
as existentes. Os custos operacionais são de aproximadamente US$ 12 milhões/ano.
O principal motivador para este investimento é a redução das concentrações de AOX
na polpa e nos águas residuárias.

5.3.7 Branqueamento TCF

O branqueamento TCF (Totally Chlorine Free) é um processo que não utiliza


nenhum composto que contenha cloro. O uso deste tipo de branqueamento cresceu
em alguns países (Suécia e Finlândia) mesmo exigindo muitas modificações na
indústria. O peróxido de hidrogênio e o ozônio ou ácido peracético (PA) são os
produtos químicos normalmente empregados.

Garantido um número kappa adequadamente baixo após o cozimento estendido e a


necessária remoção dos metais de transição nos estágios de quelação, é possível
atingir níveis de alvura aceitos pelo mercado, utilizando somente o peróxido de
hidrogênio no branqueamento. Entretanto, a curva de dosagem de peróxido versus
alvura é quase horizontal para alvuras maiores (88 ISO), fazendo com que pequenas
alterações no número kappa causem altos custos de branqueamento ou
desclassificações de produto por alvura baixa.

Uma opção para reduzir o consumo de peróxido é a utilização de ozônio na


seqüência de branqueamento, num estágio anterior ao peróxido. O ozônio é muito
eficiente para reduzir o consumo de peróxido, viabilizando a obtenção de alvuras
altas. O ponto fraco do ozônio é que sua utilização em altas dosagens pode degradar
a polpa (ataque às cadeias de celulose).
209

Os perácidos estão se tornando comercialmente disponíveis, por exemplo, na forma


de ácido peracético. Este composto é um importante complemento quando utilizado
em um estágio anterior ao peróxido, substituindo o ozônio. Permite atingir alvuras
altas, mesmo com certas variações no número kappa. Seu inconveniente é o alto
custo

O branqueamento TCF é atualmente uma tecnologia bem estabelecida. Diversas


fábricas são capazes de utilizar o branqueamento ECF ou TCF dependendo da
demanda de mercado. Poucas fábricas produzem somente TCF. Os custos
operacionais maiores e a piora da qualidade do produto têm limitado a sua demanda,
decrescendo sua participação no mercado nos últimos anos.

O investimento necessário para implantação do branqueamento TCF, para uma


indústria com capacidade de 1.500 ADT/dia, gira em torno de US$ 8 milhões para
novas fábricas e de US$ 5 milhões para as existentes. Os custos operacionais são
consideravelmente superiores ao ECF (cerca de US$ 20 milhões/ano), devido ao
elevado custo dos produtos químicos utilizados.

A principal motivação para utilização do TCF é a redução das concentrações de


AOX nas águas residuárias e a não formação de compostos organoclorados.

5.3.8 Fechamento parcial da unidade de branqueamento

As descargas de águas residuárias antes da unidade de branqueamento são bastante


limitadas e se esta for total ou parcialmente fechada, o resultado será uma
significativa redução na descarga de compostos orgânicos, nutrientes e metais ao
meio ambiente.

O principal pré-requisito para o fechamento do branqueamento, que significa a


recirculação dos filtrados para a recuperação química, é a redução do fluxo
utilizando-se sistemas eficientes de lavagem da polpa. O fechamento pode ser
210

conseguido recirculando-se os filtrados em contra-corrente ao longo da seqüência, do


último estágio de branqueamento para a lavagem de massa marrom. Para que isto
seja possível é necessário aumentar as capacidades de estocagem e do sistema de
distribuição de filtrados.

É inevitável que a concentração de substâncias orgânicas dissolvidas e produtos de


reação aumente à medida que o filtrado circule nos estágios. A acumulação destes
sólidos dissolvidos causa um aumento considerável no consumo de produtos
químicos, podendo até inviabilizar a obtenção dos níveis de alvura necessários. Outro
fator complicador é que os ajustes de pH com ácido sulfúrico e soda cáustica têm
custos maiores devido à quantidade maior de filtrado circulante, podendo afetar o
equilíbrio sódio-enxofre da fábrica. A conclusão é que o fechamento completo do
branqueamento não é uma tecnologia viável até o momento, mas é possível criar dois
sistemas de recirculação do filtrado em contra-corrente, um ácido e um alcalino. O
filtrado alcalino pode ser usado para lavar a polpa antes do branqueamento,
resultando em uma considerável redução da geração de águas residuárias nesta
unidade.

Deve ser considerado ainda que o cálcio está presente na polpa e durante o
branqueamento oxidativo é formada uma quantidade substancial de ácido oxálico.
Quando o filtrado alcalino é usado para lavar a polpa vinda de um estágio ácido ou é
misturado com um filtrado ácido que contém cálcio e sódio, existe um grande risco
de haver precipitação de oxalatos. A tendência de precipitação do oxalato de cálcio é
diretamente proporcional à sua concentração, ou em outras palavras, quanto mais
fechado for o sistema, maior é o risco de incrustações. Este problema ainda não tem
solução e é muito difícil reduzir as vazões específicas de águas residuárias do
branqueamento a valores menores que 5 m3/t.

Além disso, o aumento da quantidade de cloretos pode causar corrosão nos


equipamentos se o sistema for fechado. Portanto, as fábricas que estão tentando
utilizar esta tecnologia são as que produzem TCF ou ECF utilizando pouca
quantidade de dióxido de cloro.
211

Geralmente esta tecnologia pode ser aplicada em indústrias novas ou existentes, mas
para estas o investimento é bastante elevado devido à necessidade de aumentar a
capacidade de armazenagem e circulação de filtrados. As indústrias mais novas já
utilizam menos água no processo, devido à maior eficiência dos equipamentos e por
terem um sistema de evaporação e de recuperação dimensionados adequadamente de
modo a permitir o fechamento parcial. Deve-se observar também que, no caso de
indústrias ECF existe um risco considerável de haver corrosão por cloretos na
caldeira de recuperação.

Os principais resultados obtidos com o fechamento do circuito são a redução da


DQO em 6 kgO2/ADT e da vazão específica de águas residuárias para valores de até
10 m3/ADT. Uma indústria reportou a redução de vazão para 5 m3/ADT e a
diminuição da DQO de 30 para 14 kgO2/ADT, havendo também redução da
toxicidade (IPPC, 2000)

As tentativas para fechamento do circuito de filtrados do branqueamento vem sendo


feitas desde 1993 em uma indústria localizada na Suécia, que produz polpa utilizando
bétula (IPPC, 2000). As instalações operaram alguns meses e, como conseqüência
das incrustações, parte do circuito de filtrados teve de ser reaberto no primeiro
estágio ácido para remover o filtrado com maior concentração de sódio. Após ajuste
das condições de processo, a indústria começou a operar com fechamento parcial do
circuito, caso raro para este tipo de indústria.

Os investimentos necessários são bastante elevados, englobando o


redimensionamento de todo o sistema de circulação e armazenagem de filtrados e a
implantação de uma estratégia de gerenciamento do consumo de água. Não foram
obtidos ainda dados confiáveis sobre os valores envolvidos.
212

5.3.9 Coleta de derrames

As indústrias de celulose kraft forçosamente devem adotar medidas para reduzir as


descargas acidentais de licor do processo, uma vez que o tratamento de águas
residuárias, especialmente o biológico, pode ser severamente prejudicado pelas
descargas alcalinas.

O licor do processo é perdido de diversas maneiras (sistemas de selagem, válvulas,


separadores de nós, depuradores, bombas, manutenções, paradas e partidas, etc).
Portanto, as indústrias devem ser projetadas obedecendo os seguintes conceitos:
• Coleta dos derrames de licor no mais alto teor de sólidos possível;
• Retorno do licor e das fibras coletadas do processo;
• Construção de bacias de contenção para isolar as áreas críticas do processo e
evitar cargas acidentais na estação de tratamento de águas residuárias ou
contaminação dos sistemas de drenagem de águas pluviais;
• Monitoramento de condutividade e pH em locais estratégicos para detectar
perdas e derrames.

De maneira geral, as águas residuárias contaminadas e derrames devem ser coletados


em poços e bombeados para tanques de estocagem. Tipicamente, por razões
econômicas, são recolhidos licores com pelo menos 2-3% de sólidos dissolvidos. As
lavagens de piso e águas de selagem podem diluir o filtrado e tornar sua recuperação
inviável.

O condensado das unidades de cozimento e evaporação devem ser também


recolhidos para reutilização no processo. Estes condensados são classificados em
função do seu grau de contaminação: o mais contaminado tem poucas chances de ser
reutilizado no processo e provoca aumento da carga orgânica e da temperatura da
água residuária; os menos contaminados podem ser utilizados em substituição à
água.
213

Outra opção, também por razões ambientais, é utilizar uma coluna de arraste, para
separar o enxofre e os componentes orgânicos voláteis, purificando o condensado,
que poderá ser então ser utilizado em diversas aplicações no processo.

Esta técnica é aplicável tanto em fábricas existentes quanto em novas, entretanto o


controle efetivo de derrames é obviamente mais fácil de implementar em novas
instalações. De maneira geral, um gerenciamento adequado do processo, um sistema
de coletas adequadamente dimensionado e 5 a 10% de capacidade extra de
evaporação possibilita a redução de 3 a 8 kg DQO/ADT. Além disso, o risco de
distúrbios no sistema de tratamento de águas residuárias é minimizado.

O investimento necessário para uma indústria com capacidade de 1.500 ADT/dia é


de aproximadamente US$ 2 milhões; se houver necessidade de aumentar a
capacidade de evaporação, o investimento aumenta para cerca de US$ 6 milhões. Os
custos operacionais são de US$ 500 mil/ano.

5.3.10 Controle de processo e lavagem eficiente

O objetivo da lavagem da massa marrom é separar as fibras de compostos orgânicos


e inorgânicos dissolvidos, antes que a polpa deixe a área de cozimento para
possibilitar a recuperação dos produtos químicos utilizados.

O estágio de lavagem consiste na combinação de sucessivas diluições e prensagens


ou deslocamentos, que são utilizados por diversos tipos de equipamentos, tais como
filtros, prensas, difusores e outros. As prensas lavadoras, filtros pressurizados e
difusores apresentam melhor desempenho.

Uma vez que a lavagem nunca é 100% eficiente, sempre haverá um residual de
impurezas (“carry-over” ), que será transportado com a polpa e causará aumento do
consumo de produtos químicos no branqueamento.
214

As perdas na lavagem que utiliza um filtro convencional de tambor podem chegar a 8


kg DQO/ADT, enquanto que numa prensa podem alcançar 2 a 4 kg DQO/ADT (com
um rendimento de 96 a 98% na recuperação de licor negro).

Se a lavagem antes da deslignificação for eficiente, haverá uma redução no consumo


de oxigênio. Se for antes do primeiro estágio de branqueamento, haverá redução da
carga de compostos orgânicos, resultando em diminuição das concentrações de
AOX, DBO e DQO das águas residuárias.

Os investimentos necessários giram em torno de US$ 6 milhões para fábricas novas e


US$ 4 milhões para as existentes.

5.3.11 Arraste com vapor (“stripping”) e reúso dos condensados

O principal objetivo desta tecnologia é reduzir o consumo de água da indústria,


diminuir a carga orgânica a ser enviada para a estação de tratamento de águas
residuárias e reduzir as emissões de TRS.

A coluna de arraste com vapor (“stripper”) pode ser um equipamento separado ou


parte da unidade de evaporação. O condensado gerado na evaporação do licor negro
é enviado ao topo da coluna e o vapor vem do fundo, em contra-corrente. O vapor
d’água e os gases são enviados a um condensador de refluxo. Os gases não
condensáveis são enviados para incineração onde os compostos orgânicos e TRS são
destruídos por oxidação.

O condensado que não contém metais é particularmente útil para a lavagem no


branqueamento, quando se pretende fechar este circuito. Ele pode também ser
utilizado na lavagem de massa marrom, na caustificação, na lavagem de gases
(“scrubbers”) ou como água de “make-up” do licor branco.
215

O melhor local para reúso do condensado é na lavagem da polpa, em estágios


operando com circuito de filtrados fechado. Tipicamente, o consumo de água para
lavagem é 10 a 13 m3/ADT e são produzidos 6 a 9 m3/ADT de condensado (que é a
quantidade de água que pode ser economizada). A remoção de TRS chega a 97% e a
de metanol a 92%. Para esta tecnologia ser aplicada é necessário que os gases não
condensáveis sejam incinerados, a fim de evitar descargas de TRS na atmosfera.
Quando combinados, o reúso do condensado permite a economia de até 6 m3/ADT
de água e de gás natural ou óleo combustível para geração de energia uma vez que os
gases volatilizados (encaminhados para a queima) contém cerca de 8 a 12 kg de
metanol por ADT.

Os investimentos necessários para instalação do sistema giram em torno de US$ 3


milhões para uma indústria de 1.500 ADT/dia. Se a unidade de arraste é operada
separadamente da evaporação, os custos operacionais são cerca de US$ 700 mil/ano;
caso contrário, eles passam a ser de aproximadamente US$ 400 mil/ano.

5.3.12 Utilização de tanques com capacidade suficiente para armazenar fluidos


de processo quentes ou concentrados

As indústrias de celulose kraft necessitam minimizar descargas de fluidos quentes ou


concentrados, ou para evitar cargas de choque na estação de tratamento de águas
residuárias (principalmente no caso de processos biológicos) ou porque alguns destes
licores são importantes economicamente, devido ao seu poder calorífico ou aos
produtos químicos que contém.

Esta medida de controle de poluição está relacionada ao controle de derrames. Para


evitar cargas desnecessárias na estação de tratamento de águas residuárias, o
cozimento e a recuperação de licores e condensado devem ter pelo menos 30% de
capacidade volumétrica adicional para armazenagem, quando comparados a
processos tradicionais. Os fluidos são separados para evitar diluição dos licores
potencialmente recuperáveis. O controle dos volumes disponíveis é especialmente
216

crítico em situações de parada, partida e/ou distúrbios do processo. A demanda


depende da concentração; isto significa que o volume requerido é consideravelmente
superior em indústrias com baixa eficiência de lavagem da polpa marrom ou em
unidades de evaporação sem superconcentradores.

Os investimentos necessários chegam a US$ 1 milhão, para uma indústria com


capacidade de 1.500 ADT/dia (considerando a instalação de tanques, bombas e
tubulações).

5.3.13 Tratamento aeróbio das águas residuárias

Normalmente, as águas residuárias provenientes de indústrias de papel e celulose são


tratadas por processos aeróbios, tais como lagoas aeradas ou lodos ativados.
O tratamento biológico é precedido por tratamento primário que visa a remoção de
fibras e materiais em suspensão presentes na água residuária. Em alguns casos,
também são necessários sistemas de neutralização/equalização e resfriamento da
água residuária antes do tratamento biológico.
Maiores informações e dados sobre o tratamento de águas residuárias provenientes
de fábricas de celulose e papel, podem ser obtidas na publicação: “Industrial
Environmental Control – Pulp and Paper Industry” (Springer, 1993).
217

Neutralização, remoção de fibras, Lagoas aeradas


caulim, Etc.

Decantação

Lodos ativados
Neutralização x
x
x
Resfriamento

Remoção de carga orgânica

Figura 52 – Processos de tratamento de águas residuárias normalmente empregados


em indústrias de celulose e papel.
Fonte: IPPC (2000)

Lagoas aeradas

As lagoas vêm sendo preteridas em função das grandes áreas necessárias e da menor
eficiência de remoção de contaminantes em comparação com sistemas de lodos
ativados. As lagoas produzem menos lodo que o processo de lodos ativados, mas em
ambos os casos ele é difícil de desidratar, dificultando sua disposição final (requerem
maior quantidade de produtos químicos para facilitar a desidratação e maior consumo
de combustível, se a alternativa for a queima).

A eficiência de tratamento varia muito em função das características das águas


residuárias, dos parâmetros de projeto adotados e das condições de operação.
Tipicamente, as eficiências de remoção são de 40 a 85% para DBO, 30 a 60% para
DQO e 20 a 45% para AOX, sendo os limites superiores atingidos com os maiores
tempos de residência (superiores a 6 dias).
218

O investimento necessário varia muito em função do local da instalação, ficando na


faixa de US$ 15 a 20 milhões, para uma capacidade de 1.500 ADT/dia. Os custos
operacionais são de US$ 1,3 a 1,7 milhões.

Lodos ativados

A revisão bibliográfica e levantamentos feitos para a publicação do documento sobre


as melhores tecnologias disponíveis para a produção de celulose e de papel indicou
que na Europa, cerca de 60 a 75% dos processos de tratamento de águas residuárias
são sistemas de lodos ativados (IPPC, 2000). Suas principais vantagens são a alta
eficiência de tratamento, a possibilidade de controlar o processo (por exemplo, o
consumo de oxigênio) e o menor espaço requerido. As desvantagens são a alta
vulnerabilidade a distúrbios no processo (cargas de choque), alta produção de lodo
(resíduo) e custos operacionais elevados.

A eficiência de tratamento varia muito em função das características das águas


residuárias, do projeto do sistema e das condições de operação. Os valores típicos
estão na faixa de 85 a 98% de remoção de DBO, 60 a 85% de DQO e 40–65% de
AOX. Fósforo e nitrogênio são reduzidos em 40 a 85% e 20 a 50% respectivamente.
A eficiência global de remoção de SST é 85 a 90%. A Tabela 29 indica as
concentrações típicas dos efluentes dos sistemas de lodos ativados tratando águas
residuárias de indústrias de papel e celulose
219

Tabela 29 - Características típicas dos efluentes de sistemas de lodos ativados


tratando águas residuárias de indústrias de papel e celulose (processo kraft).
N Total
Parâmetro DBO DQO SST P Total
(NTK N+NO2+ N-NO3)
Concentração
20 a 40 300 a 500 20 a 40 0,2 a 0,4 2a4
(mg/L)
Fonte: IPPC (2000)

O investimento necessário para uma nova instalação é de US$ 19 a 24 milhões para


uma capacidade de 1.500 ADT/dia, sendo o limite menor para fábricas de polpa não
branqueada. Os custos operacionais são de US$ 2,0 a 2,6 milhões.

5.3.14 Tratamento terciário

Em alguns casos, o tratamento de águas residuárias tem que ser estendido a um nível
terciário, no qual os nutrientes, principalmente o fósforo, são removidos por
precipitação e filtração ou sedimentação subseqüentes. Os produtos químicos
normalmente utilizados para este fim são sais de alumínio, de ferro e de cálcio. São
utilizados também polieletrólitos para auxiliar a sedimentação do precipitado. Em
paralelo à remoção de nutrientes também ocorre a remoção de DBO, a de DQO e
AOX.

Os resultados obtidos em estudos em escala piloto na Suécia mostraram que as


seguintes eficiências de redução podem ser obtidas: 80 a 90% de fósforo, 30 a 60%
de nitrogênio, 80 a 90% de DQO e 80 a 90% de AOX com este tipo de tratamento
(IPPC, 2000).
A precipitação do fósforo resulta em uma grande quantidade de lodo viscoso, muito
difícil de desidratar e dispor. Além disso, o custo dos produtos químicos é elevado.

O investimento necessário é de aproximadamente US$ 3 milhões para uma indústria


kraft com capacidade de 250.000 t/ano e US$ 4 milhões para 500.000 t/ano.
220

5.3.15 Aumento do teor de sólidos no licor negro

Na caldeira de recuperação, as substâncias inorgânicas são reduzidas e separadas


como “smelt” (principalmente como Na2S e Na2CO3) e as substâncias orgânicas são
oxidadas e, portanto, geram calor. Numa caldeira convencional, existe uma zona de
oxidação na parte superior e uma de redução na parte inferior da fornalha. O licor
negro concentrado é introduzido por meio de um ou mais bicos injetores na zona de
redução; o ar de combustão é suprido em diferentes níveis, como ar primário,
secundário e terciário (em sentido ascendente).

As emissões das caldeiras de recuperação consistem basicamente de particulados,


óxidos de nitrogênio e dióxido de enxofre. Os níveis destas emissões são mantidos
tão baixos quanto possível por intermédio da otimização dos parâmetros de
combustão como temperatura, ar, teor de sólidos do licor e o balanço químico.

O objetivo de melhorar a evaporação é conseguir o maior teor de sólidos (TS)


possível no licor a ser enviado para a caldeira. Após uma evaporação convencional, o
teor de sólidos fica próximo de 65%; com a instalação de um superconcentrador,
pode-se atingir até 80% (o TS depende da espécie de madeira utilizada e da
temperatura; o valor máximo viável é limitado pelo aumento da viscosidade e pela
tendência de incrustação do licor – na prática, para eucalipto e outras “hardwoods”, é
difícil conseguir mais que 70%). Os valores de referência, visando a otimização do
balanço da fábrica são 72 a 73%, medidos logo após a evaporação (antes do
misturador da caldeira).

A redução das emissões de enxofre conseguida por meio do aumento do teor de


sólidos, eleva as emissões de particulados. Para compensar é necessário instalar
precipitadores eletrostáticos mais eficientes e, portanto, mais caros.

Os melhores resultados obtidos referem-se a reduções das emissões de enxofre para 5


a 50 mg S/Nm3 ou 0,1 a 0,3 kg S/ADT ou até mesmo quase zero porque mais sódio
será vaporizado e reagirá com o enxofre.
221

Quando se trabalha com altos teores de sólidos (TS > 80%), ocorre uma considerável
liberação de compostos de enxofre no último estágio da evaporação, que devem ser
coletados e incinerados. Além disso, o aumento do TS acarreta aumento das
emissões de NOx da caldeira de recuperação, se nenhuma medida de controle for
adotada.

Em indústrias existentes, o custo de modificar a evaporação e aumentar a


concentração do licor negro é função do teor de sólidos que se pretende alcançar,
como segue (considerando uma capacidade de 1.500 ADT/dia):

Aumentar a concentração de:


63% para 70% US$ 1,7 a 2,0 milhões
63% para 75% US$ 3,5 a 4,0 milhões
63% para 80% US$ 8,0 a 9,0 milhões

O acréscimo de custos operacionais devido às modificações não é significativo,


sendo compensado pela economia de energia (de até 1,7%) e ganho de capacidade na
caldeira de recuperação.

5.3.16 Instalação de lavador de gases na caldeira de recuperação

Considerando somente os aspectos ambientais, esta medida pode ser aplicada


alternativamente ao item anterior, instalando-se um lavador de gases (“scrubber”)
para reduzir as emissões de dióxido de enxofre da caldeira de recuperação.

A eficiência de remoção de cloretos pela água fria é da ordem de 60 a 70% e o SO2 e


os particulados são também removidos. A lavagem é feita com água em pH 6-7,
ajustado pela adição de licor fraco ou licor branco oxidado. O SO2 reage com o licor
de lavagem, formando Na2SO3 e Na2SO4. Pode ser removido também TRS, na forma
de H2S. O licor de lavagem é recirculado, normalmente para a preparação de licor
branco.
222

A eficiência de remoção de SO2 é tipicamente maior que 90% e as emissões de


enxofre são reduzidas de 0,5 a 2 kg/ADT para 0,1 a 0,3 kg/ADT.

O equipamento geralmente é fornecido como um “pacote” pelo fornecedor e o


investimento necessário fica em torno de US$ 10 milhões. Os custos operacionais
são de cerca de US$ 500 mil/ano.

5.3.17 Coleta de gases não condensáveis diluídos para incineração na caldeira


de recuperação

O controle das emissões de TRS pode ser dividido em tratamento de gases não
condensáveis (GNC) concentrados, que contém cerca de 4 kg TRS/t (medido como
S) e GNC diluídos, que contém cerca de 0,5 TRS/t. Os GNC concentrados são
geralmente coletados no cozimento e evaporação e enviados a incineradores ou ao
forno de cal. Poucas indústrias incineram estes gases na caldeira de recuperação.

Um grande volume de GNC diluído é formado no manuseio de licores e lavagem da


polpa e a sua composição varia muito de indústria para indústria. A coleta é feita por
meio de tubulações e sopradores de gases e a incineração pode ocorrer com o ar
secundário ou terciário da caldeira de recuperação. Dependendo do volume e do
“layout” da indústria, pode ser necessário instalar diversos sistemas de destruição de
TRS. Como alternativa à incineração, pode-se utilizar lavadores de gases. A caldeira
de recuperação é capaz de destruir os compostos reduzidos de enxofre, porém é
somente uma das alternativas disponíveis.

A vazão de GNC gerada em uma indústria de 1.000 ADT/dia gira em torno de


50.000 a 100.000 m3/h, dependendo das características da mesma (com digestores
contínuos e difusores o volume é menor que com digestores em batelada e filtros
lavadores).
223

O investimento necessário para coleta e disposição final dos GNC diluídos na


caldeira de recuperação é de aproximadamente US$ 4,5 milhões, para uma planta de
1.500 ADT/dia. Os custos operacionais são de US$ 500 mil/ano.

5.3.18 Coleta de GNC concentrados e diluídos para incineração no forno de cal

Como mencionado anteriormente, os GNC concentrados podem ser incinerados em


equipamentos específicos dotados de lavadores de SO2, ou no forno de cal. Os GNC
concentrados contém cerca de 90% do volume de compostos de TRS gerados na
indústria.

Pequenos volumes de gases altamente concentrados são gerados em sistemas de


recuperação de terebentina, condensadores de vapor de “flash” em digestores
contínuos, tanques de estocagem de condensado contaminado, evaporadores e nos
sistemas de recuperação de calor dos digestores em batelada.

A vantagem de queimar estes gases no forno de cal é evitar a instalação de


queimadores adicionais, além de possibilitar que os compostos de enxofre sejam
absorvidos pela lama, reduzindo emissões de SO2. Entretanto, apenas certo volume
de enxofre pode ser absorvido pelo sódio gasoso, formando sulfato de sódio. Quando
esta capacidade é ultrapassada, ocorrem emissões de SO2 e este efeito é intensificado
quando da incineração de GNC.

Para minimizar este efeito pode-se reduzir o teor de enxofre do óleo combustível
e/ou retirar os compostos de enxofre dos GNC antes da queima.

Cerca de 10 a 15% do óleo combustível pode ser substituído pelo poder calorífico
dos GNC concentrados, porém a variação na energia gerada torna difícil manter
constante a qualidade da cal. A condensação de metanol após a coluna de arraste
pode minimizar o problema da variação da qualidade do gás, mas requer
investimentos adicionais.
224

Os investimentos para coleta e incineração são de aproximadamente US$ 5 milhões


para indústrias com capacidade 1.500 ADT/dia. Caso o metanol possa ser utilizado,
não haverá incremento de custos operacionais; caso contrário, pode-se esperar um
aumento de US$ 500 mil/ano.

5.3.19 Incineração de gases de enxofre reduzido em queimador específico


equipado com lavador para SO2

A queima dos GNC (ver item 5.1.3.18) pode também ser feita em incineradores
equipados com lavadores de SO2. Os investimentos necessários são de cerca de US$
10 milhões para indústrias com capacidade de 1500 ADT/dia e os custos
operacionais aproximadamente US$ 500 mil/ano. Existem indústrias onde estes
incineradores são utilizados apenas como “stand-by”, atuando quando ocorre alguma
falha nos sistemas principais.

5.3.20 Instalação de tecnologia de baixa emissão de NOx em caldeiras


auxiliares e forno de cal

Em indústrias de produção de polpa são utilizados diversos combustíveis como


cascas, carvão, óleo, lignina ou gás natural, normalmente acoplados a sistemas de
geração de energia. A queima destes combustíveis requer diversas medidas para
controle das emissões de particulados, SO2 e NOx.

A tecnologia de baixa emissão de NOx aplicada à queima de combustíveis sólidos


envolve principalmente a utilização de caldeiras com leitos fluidizados. Carvão e
lignina podem ser utilizados como combustível principal ou complementar neste tipo
de caldeira, onde um controle operacional rigoroso propicia baixas emissões de NOx.

Caldeiras convencionais a óleo ou gás natural devem ter projetos adequados e os


parâmetros de combustão devem ser controlados de forma a manter baixas as
225

emissões de NOx. O ar primário é injetado nos queimadores; os secundários e


terciários são injetados em separado para manter um apropriado balanço ar primário
versus ar secundário e versus ar terciário. Pode ser necessária ainda a injeção de ar
acima da chama principal para completar a queima do combustível.

A finalidade da alimentação de ar em diversas fases é queimar o combustível sem


excesso de ar, em atmosfera reduzida, de forma a:
• Evitar que exista oxigênio para formação significativa de NOx.
• Garantir que a temperatura da chama seja menor que a dos queimadores
tradicionais, diminuindo a formação de NOx.

Geralmente, as emissões variam em função do combustível. Em comparação aos


queimadores tradicionais com 250-500 mg NOx/MJ, as emissões podem ser
reduzidas para 120 a 140 mg NOx/MJ.

Os investimentos necessários são de aproximadamente US$ 800 mil e não há


variação nos custos operacionais.

5.3.21 Tecnologia SNCR (Selective Non Catalytic Reduction) em caldeiras de


biomassa

Devido à baixa temperatura de combustão, as caldeiras de casca têm baixas emissões


de NOx, tipicamente na faixa de 70 a 100 mg NOx/MJ quando somente cascas são
queimadas.

Quando somente óleo é utilizado, as emissões variam de 100 a 150 mg NOx/MJ. O


excesso de oxigênio favorece a formação de NOx e, portanto, deve ser evitado; por
outro lado, pouco oxigênio aumenta o risco de emissões de CO e VOC.
226

O NO é gerado nas fornalhas tanto pela reação com nitrogênio no ar (que aumenta
com o aumento da temperatura de combustão) quanto pela oxidação do nitrogênio no
combustível. Uma parte do NO é oxidada para NO2.

No processo SNCR, o NO é reduzido pela uréia à nitrogênio, dióxido de carbono e


água, conforme indicado nas reações 1,2 e 3.

2NO + 2NH3 + ½ O2 2N2 + 3H2O Reação 1


7
3NO2 + 4NH3 /2 N2 + 6H2O Reação 2
Quando é utilizada uréia, ocorre primeiramente a seguinte reação, sendo a amônia o
produto:
(NH2)2CO + H2O 2NH3 + CO2 Reação 3

O equipamento para injeção de uréia ou amônia pode ser instalado em indústrias


novas ou existentes. Nestas últimas, será mais difícil conseguir condições ótimas de
reação, portanto o potencial de redução de emissões é menor.

A redução de NOx conseguida em uma caldeira de biomassa é de 30 a 50% por meio


da melhoria das condições de combustão (ver 5.1.3.20) e/ou aplicando o processo
SNCR. A emissão de NOx pode chegar a 40 a 60 mg NOx/MJ ou 100 a 200 mg/Nm3
e a de enxofre a 10 a 20 mg/MJ quando da queima de cascas.

Existem sistemas em operação desde o início dos anos 90 apresentando boa


eficiência, mas em alguns casos a solução de uréia tem causado danos à caldeira. Os
sistemas são de difícil controle devido às constantes alterações de carga requeridas.

Os investimentos necessários chegam a US$ 1 milhão e o custos operacional é


devido à aquisição da uréia (1 a 2 kg uréia por kg de NOx removido).
227

5.3.22 Tecnologia OFA (Over Fire Air Technique) em caldeiras de recuperação

As caldeiras de recuperação operam com atmosferas redutoras no fundo da fornalha,


o que faz com que a formação de NOx seja menor que em outros tipos de caldeira.
Mesmo assim, algumas modificações no sistema de alimentação de ar têm propiciado
reduções nestas emissões, por intermédio da limitação da quantidade de ar na zona
de combustão e instalando portas para injeção de ar nas zonas superiores da fornalha
(nível quaternário). A redução obtida depende do tipo de caldeira e da forma de
aplicação da tecnologia. Normalmente, ela é de 10 a 25%.

O investimento necessário para implantação é de aproximadamente US$ 2,5 milhões


e não há alterações nos custos operacionais.

5.3.23 Instalação de lavadores de lama mais eficientes na caustificação

A cal (CaO) é usada para caustificar o licor verde (Na2S + Na2CO3), transformando-o
em licor branco (Na2S + NaOH). Após a caustificação, é formada lama (CaCO3), que
é reciclada no forno, onde é queimada, formando novamente a cal. Antes de ser
enviada ao forno, a lama deve ser lavada para se remover o residual de hidróxido,
sulfeto e outros sais de sódio, e desidratada. Os equipamentos normalmente
utilizados são clarificadores ou filtros prensa.

Aumentando a eficiência de lavagem pode-se reduzir o residual de licor branco de


100 mg/dm3 para 0 a 30 mg/dm3, aumentar a consistência da lama de 50 a 60% para
70 a 80% e reduzir a concentração de sulfeto, diminuindo a formação de sulfeto de
hidrogênio durante a queima no forno.

Os investimentos necessários são da ordem de US$ 1,5 milhões.


228

5.3.24 Precipitadores eletrostáticos para reduzir emissões de particulados na


caldeira de biomassa e no forno de cal

Caldeiras de biomassa

Os resíduos de madeira (cascas e restos) são queimados para geração de vapor, que
por sua vez, gera energia. Esta queima é necessária para reduzir a utilização de
combustíveis fósseis e a geração de resíduos sólidos.

As principais emissões destes equipamentos são os materiais particulados, que


consistem de materiais não queimados e cinzas. Normalmente, as caldeiras possuem
ciclones para coleta da poeira (eficiência de 85%), porém os precipitadores
eletrostáticos com eficiências acima de 95% são cada vez mais utilizados.

A redução de emissões alcançada tem sido na ordem de 250 a 500 mg/Nm3 para 100
a 150 mg/Nm3 com a utilização de ciclones. Com precipitadores eletrostáticos, as
emissões são reduzidas a 20 a 40 mg/Nm3.

Os investimentos necessários são da ordem de US$ 4 milhões, para indústrias com


capacidade de 1.500 ADT/dia. Os custos operacionais são aumentados em US$ 300
mil/ano.

Forno de cal

O projeto adequado do forno minimiza a formação de poeira, uma vez que o


mecanismo de evaporação de sódio depende de sua quantidade no forno e da
temperatura da seção de calcinação. A quantidade de vaporização pode ser
controlada até certo ponto, por meio de ajustes no formato e posição da chama. A
utilização de diferentes combustíveis também afeta a emissão de particulados.

Visando reduzir as emissões, pode ser instalado um precipitador eletrostático, que é


mais eficiente que um lavador para esta tarefa.
229

As emissões de particulados são de 20 a 100 mg/Nm3 após o precipitador. A maior


parte da poeira é CaO, que escapa pela alimentação do forno.

Os investimentos necessários são da ordem de US$ 6 milhões, para indústrias com


capacidade de 1.500 ADT/dia. Os custos operacionais são aumentados em US$ 300
mil/ano

5.4 BAT PARA CALDEIRAS AUXILIARES

Indústrias que produzem polpa a partir de fibras virgens, normalmente possuem


caldeiras auxiliares. As emissões atmosféricas originadas nas mesmas dependem
fundamentalmente do tipo de combustível utilizado (fóssil, cascas, restos de madeira,
etc). Para indústrias de papel não integradas as emissões atmosféricas estão
relacionadas principalmente à geração de vapor e energia.

São consideradas BAT para caldeiras auxiliares (Tabela 30):


• cogeração de energia, se o balanço da indústria permitir;
• Utilização de fontes renováveis de energia;
• Controle das emissões de NOx por intermédio do controle da queima e instalação
de queimadores de baixa emissão de NOx.;
• Redução das emissões de SO2 por meio da utilização de casca, gás ou óleo com
baixo teor de enxofre ou controle das emissões;
• Controle da emissão de particulados por intermédio de precipitadores
eletrostáticos ou filtros de mangas.
230

Tabela 30 - Níveis de emissões BAT para caldeiras auxiliares.


Combustível
Gás -
Emissões Carvão Óleo BPF Gás Renovável
óleo
(cascas, etc).
1 1
mg S/MJ 100 a 200 100 a 200
5
25 a 50 <5 <15
combustível (50 a 100) (50 a 100)5
80 a 1102 60 a 1002
mg NOx / MJ 80 a 1102
(50 a 80 45 a 602 30 a 602 (40 a 70
combustível (50 a 80 SNCR)3 3
SNCR) SNCR)3
mg particulados/ 10 a 304 10 a 404 <5 <5 10 a 304
MJ combustível 6% O2 3% O2 3% O2 3% O2 6% O2
Notas:
1. As emissões de SO2 em caldeiras a carvão ou óleo dependem da disponibilidade
de óleo ou carvão com baixo teor de enxofre. Alguma redução pode ser obtida
através da adição de carbonato de cálcio.
2. É aplicada somente tecnologia de combustão.
3. Medidas secundárias como SNCR (Selective Non Catalytic Reduction) são
também aplicadas, normalmente em instalações maiores.
4. Valores associados ao uso de eficientes precipitadores eletrostáticos.
5. Quando são utilizados lavadores de gases.
Fonte: IPPC (2000)

Deve-se salientar que as caldeiras auxiliares em indústrias de polpa e papel são dos
mais diferentes tamanhos (de 10 a mais de 200MW). Para as menores, somente o uso
de combustível com baixo teor de enxofre e técnicas de combustão adequadas podem
ser suficientes, enquanto as maiores certamente requerem medidas de controle.
231

5.5 TECNOLOGIAS EMERGENTES

Recentemente, um número significativo de novas e promissoras tecnologias tem sido


desenvolvido, resultando em redução das emissões e na economia de energia. A
melhoria no desempenho ambiental pode não ser sempre a principal força
impulsionadora, mas certamente possui um papel relevante neste desenvolvimento.
Algumas destas técnicas serão discutidas nos itens subseqüentes, que incluem
aspectos que somente recentemente despertaram o interesse da comunidade
científica.

5.5.1 Gaseificação do licor negro

Esta tecnologia é promissora para geração de energia elétrica. A produção de um gás


combustível de várias fontes (carvão, resíduos de madeira, licor negro) é possível por
meio de diferentes tecnologias de gaseificação.

O princípio da gaseificação do licor negro é fazer a pirólise do licor concentrado em


uma fase inorgânica e uma fase gasosa por meio de reações com oxigênio (ar) a altas
temperaturas. Diversos processos já foram propostos, que conceitualmente podem ser
divididos em duas categorias:
• Gaseificação em baixa temperatura, na qual o gaseificador opera abaixo do ponto
de liquefação dos sais inorgânicos (700 a 750ºC). Leitos fluidizados são
compatíveis para a gaseificação em baixa temperatura e estão sendo utilizados
para desenvolver esta tecnologia;
• Processos que operam acima da temperatura de liquefação dos sais e usam água
para resfriar e dissolver os sais de sódio fundidos.

As possíveis vantagens da gaseificação são:


• Aumento da geração de energia por intermédio do uso combinado de turbinas a
gás e turbinas a vapor. Os cálculos teóricos do balanço mostram que o processo
baseado em licor negro gaseificado poderá ser até 30% mais eficiente
232

termicamente, porém a produção de vapor será menor. Numa situação de sobra


de vapor, esta alternativa pode ser interessante para aumentar a geração de
energia e exportar;
• Baixas emissões atmosféricas;
• Possibilidade de aumento de produção em fábricas limitadas pela capacidade da
caldeira de recuperação. O sistema é particularmente benéfico em indústrias com
capacidade excedente na linha de fibras já instalada.

A introdução desta tecnologia em indústrias kraft possibilitará a geração de 1.700


kWh/ADT ao invés dos atuais 800 kWh/ADT, acarretando, porém, uma redução de 4
GJ/ADT na geração de calor (mais do que o excesso observado nas indústrias
modernas).

5.5.2 Uso de SNCR na caldeira de recuperação

Existem muitos processos que utilizam o SNCR para reduzir as emissões de NOx,
através da redução térmica dos óxidos de nitrogênio a nitrogênio gasoso pela amônia,
conforme mostram as seguintes reações:
2NO + 2NH3 + ½ O2 2N2 + 3H2O Reação 1
7
3NO2 + 4NH3 /2 N2 + 6H2O Reação 2
Quando é utilizada uréia, ocorre primeiramente a seguinte reação, sendo a amônia o
produto:
(NH2)2CO + H2O 2NH3 + CO2 Reação 3
A reação 1 geralmente ocorre dentro de uma faixa estreita de temperatura, em torno
de 1.000ºC. Quando a temperatura é muito alta, mais NOX é gerado; quando é muito
baixa, ocorre a formação de amônia. No processo NOX OUT são utilizados agentes
químicos para suprimir a formação de amônia. A amônia produzida em reações
secundárias indesejáveis e o consumo de produtos químicos são os principais
parâmetros para otimização deste processo.
233

O agente de redução em um teste industrial do processo NOX OUT (uma das opções
desenvolvidas), realizado na Suécia, foi uma solução aquosa de uréia. O processo
utilizou a fornalha da caldeira como um “reator”, não requerendo nenhum
equipamento adicional. A caldeira operou entre 95 e 105% de sua capacidade e
foram instaladas diversas portas para os injetores de produtos químicos. O teste
mostrou que o processo podia ser aplicado com sucesso em caldeiras de recuperação
(IPPC, 2000).

Comparando-se com outros processos de combustão, a caldeira de recuperação


apresenta baixos níveis de emissões de óxidos de nitrogênio, tipicamente na faixa de
50-80 mg NOx/MJ. Apesar deste fato, ela é uma das principais fontes destas
emissões em uma indústria kraft, devido ao alto fluxo de gases. Além disso, pode-se
prever um aumento das emissões de NOx em caldeiras de alta eficiência, causadas
pelo maior teor de sólidos do licor e maiores cargas na fornalha.

Dependendo da estequiometria aplicada, até 50% de redução da emissão de NOx


pode ser alcançada, sem perturbações ou outros efeitos na operação da caldeira e no
ciclo de recuperação. O custo operacional total é relativamente baixo e as
modificações requeridas na caldeira podem ser feitas durante as paradas normais para
manutenção.

O uso de uréia no processo SNCR pode eventualmente causar corrosão na caldeira e


por razões de segurança, não é recomendada a sua utilização em caldeiras de
recuperação na Suécia. Como testes realizados utilizando NH3 (gasoso ou líquido)
mostraram potencial de até 30% de redução das emissões de NOx, estão sendo
planejados novos testes de longa duração.

Os investimentos necessários para instalar o processo Nox OUT em uma caldeira de


recuperação com capacidade de 1.600 TSS/dia ficam em torno de US$ 3 milhões. Os
custos operacionais estimados são de US$ 1 a 1,4 /kg NOx reduzido.
234

5.5.3 Remoção dos agentes de quelação presentes em águas residuárias de


indústrias kraft por tratamento biológico e sistemas avançados -
“kidneys”

Os quelantes (Q) são utilizados há bastante tempo na indústria devido à sua


habilidade de suprimir a atividade dos íons de metais de transição, sem permitir sua
precipitação. Estes íons metálicos são capazes de catalisar a decomposição do
peróxido de hidrogênio em radicais livres. O branqueamento TCF atualmente só é
possível com o tratamento da polpa por quelantes, antes do estágio de peróxido. O
aumento da concentração de quelantes é percebido na água residuária gerada, em
concentrações de 10 a 15 mg/L quando a carga no branqueamento é de 2 kg/t.
Embora estas substâncias não sejam tóxicas nestas concentrações, existe preocupação
quanto a sua capacidade de reativar metais pesados dos sedimentos de rios e
reservatórios e quanto à sua degradação.

O tratamento biológico utilizado na indústria é eficiente na remoção de DQO e DBO,


porém não pode reduzir significativamente a concentração de quelantes. Foi
verificado que este tipo de composto é resistente a biodegradação em sistemas de
lodos ativados. Além disso, eles não ficam adsorvidos no lodo. Um estudo investigou
a biodegradação de quelantes em um teste em escala real, com a indústria operando
em condições moderadamente alcalinas (pH 8 a 9); foi constatada uma redução
média de 50% contra 10% em pH igual a 7 (IPPC, 2000).

Outra opção em estudo para reduzir o consumo e descarga de quelantes é a utilização


de “kidneys” - sistemas de membranas para a eliminação de íons indesejáveis
(cloretos, magnésio, potássio, etc...) dos filtrados do branqueamento e
reaproveitamento dos mesmos, reduzindo a geração de águas residuárias e o
consumo de água.. Uma empresa na Suécia instalou sistemas com esta finalidade em
1998, esperando reduzir o consumo de quelantes em 65% (IPPC, 2000). Nesta
mesma empresa está sendo planejada a aplicação do Kemira NetFloc, que se mostrou
eficiente na remoção de substâncias problemáticas de filtrados como extrativos e
metais.
235

A redução da quantidade de metais no circuito de filtrado permite reduzir o consumo


de quelante antes do estágio de peróxido. São esperadas taxas de redução da ordem
de 80% de cálcio, manganês e ferro; o quelante recuperado reduz a necessidade de
make-up e a concentração dos complexos metálicos nas águas residuárias.

5.5.4 Aumento do fechamento do circuito combinado com a recuperação de


quelantes

Uma vez que a principal fonte geradora de águas residuárias é a unidade de


branqueamento (principal parte aberta da fábrica), diversos esforços têm sido
realizados para minimizar a quantidade de lignina enviada para esta unidade. O envio
dos filtrados para o sistema de recuperação ainda é um problema, sendo necessário
recirculá-los dentro do branqueamento para reduzir o volume. Isto provoca a
acumulação de substâncias dissolvidas e elementos estranhos ao processo, causando
aumento no consumo de produtos químicos e deposição de sólidos no sistema.

Um projeto em andamento da Comissão Européia prevê a continuação da pesquisa


(IPPC, 2000) de diferentes alternativas para o reúso dos filtrados da unidade de
branqueamento feitas até o momento em diferentes instituições. São empregadas
técnicas de simulação de processo para determinar as conseqüências no consumo de
água, produtos químicos e energia, quando os sistemas de separação forem
integrados ao processo. O risco de deposição/incrustação também está sendo
avaliado.

5.5.5 Polpas produzidas com solventes orgânicos como álcool e formaldeído –


“Organosolv Pulping”

Nesta última década, foram realizadas diversas pesquisas para desenvolver novos
processos de polpação, sendo que alguns têm se mostrado promissores. Seus
principais objetivos são:
236

• Reduzir a poluição (baixo consumo de água, polpa TCF, livre de enxofre);


• Processos de cozimento simplificado e recuperação de produtos químicos
utilizados;
• Melhor aproveitamento da madeira (alto rendimento, uso alternativo para
componentes da madeira, etc);
• Utilização de qualquer tipo de madeira, obtendo polpa com boas propriedades;
• Baixos custos de investimento.

Os novos processos são baseados em solventes orgânicos e para alguns destes pode-
se esperar reduções das emissões de dióxido de enxofre e de outros compostos
reduzidos de enxofre, devido à aplicação de tecnologia “livre de enxofre”. Todos os
processos pretendem possibilitar o fechamento completo da fábrica por meio da
recuperação direta dos solventes após o cozimento, por destilação e queima dos
componentes da madeira dissolvidos ou seu uso alternativo. Os projetos pretendem,
além de solucionar os problemas ambientais, aumentar a viabilidade econômica da
fabricação de polpa.

A Tabela 31 mostra uma comparação entre alguns processos em desenvolvimento


com maior potencial de aplicação industrial e que já foram testados pelo menos em
escala piloto.

Tabela 31 - Tecnologias alternativas para a produção de polpa.


Matérias Produtos Parâmetros Kappa antes do
Processo
primas Químicos de cozimento branqueamento
Softwood Sulfeto de
175 a 185ºC
ASAM Hardwood sódio (alcalino) 13 a 20
11 a 14 bar
álcool
Softwood
Ácido acético
FORMACELL Hardwood 160 a 180ºC 2 a 10
Ácido fórmico
Ácido fórmico
Hardwood 60 a 80 /
MILOX Peróxido de 30 a 35
90 a 110ºC
hidrogênio
Hidróxido de
Softwood
Modified sódio 155 a 175ºC
Hardwood 10 a 20
SULPHATE Sulfeto de 8 bar
sódio
Fonte: IPPC (2000)
237

Uma vez que nenhum destes processos foi implementado com sucesso em escala
industrial (a indústria Organocell em Kehlhein na Alemanha teve que interromper a
produção devido a problemas ainda não solucionados), é precoce fazer um
julgamento conclusivo das alternativas.

Nesses processos, solventes de alto custo substituem a água e a viabilidade


econômica depende muito da capacidade de recuperação destes (deve ser
necessariamente superior a 99%).

5.6 BAT PARA PROCESSOS DE FABRICAÇÃO DE PAPEL

Papel é feito de fibras, água e aditivos químicos. Além disso, grande quantidade de
energia tem que ser aplicada para acionar todo o processo. Energia elétrica é
consumida para acionamento de motores da refinação e preparação de massa.
Energia térmica é utilizada principalmente para aquecer água, outros licores e ar,
evaporar a água na área de secagem e conversão de calor em energia elétrica (no caso
de cogeração). Grandes quantidades de água são usadas no processo e para
refrigeração. Vários aditivos químicos são utilizados como auxiliares do processo e
para melhorar as propriedades do papel.

Os principais impactos ambientais causados por indústrias de papel referem-se a


geração de águas residuárias e ao consumo de energia e de produtos químicos. São
também gerados resíduos sólidos. As emissões atmosféricas estão relacionadas
principalmente à geração de energia por meio da queima de combustível fóssil.

As BAT para redução da geração de águas residuárias e seu impacto ambiental são:
• Minimizar o uso da água, aumentando sua recirculação;
• Controlar as conseqüências negativas do fechamento de circuito;
238

• Construir sistemas balanceados de armazenamento de água e, no caso de


substituição de equipamentos, utilizar aqueles que apresentem menor consumo de
água;
• Aplicar medidas para reduzir a freqüência e os efeitos de descargas acidentais;
• Coletar e reutilizar as águas de refrigeração e selagem, ou descarregar em
separado;
• Pré-tratar em separado a água de preparação de tintas;
• Substituir insumos químicos danosos ao meio ambiente por outros menos
perigosos;
• Construir tanques de equalização antes do sistema de tratamento de águas
residuárias;
• Tratar águas residuárias com sistemas biológicos e/ou em alguns casos, por
precipitação química ou coagulação, floculação e sedimentação.
Para indústrias não integradas, os níveis de emissão associados à aplicação
combinada das BATs são mostrados na Tabela 32:

Tabela 32 - Emissões hídricas provenientes da fabricação de papel utilizando as


BATs
Parâmetros Unidades Papel branco Papel revestido Tissue
DBO5 KgO2/t de papel 0,15 –a 0,25 0,15 a 0,25 0,15 a 0,4
DQO KgO2/t de papel 0,5 a 2 0,5 a 1,5 0,4 a 1,5
SST Kg/t de papel 0,2 a 0,4 0,2 a 0,4 0,2 a 0,4
AOX Kg/t de papel <0,005 <0,005 <0,01
P total Kg/t de papel 0,003 a 0,01 0,003 a 0,01 0,003 a 0,015
N total Kg/t de papel 0,05 a 0,2 0,05 a 0,2 0,05 a 0,25
Vazão específica de
m3/t de papel 10 a 15 10 a 15 10 a 25
águas residuárias
Fonte: IPPC (2000)

Os valores apresentados referem-se a médias anuais e não consideram contribuições


da produção de polpa.
239

O tratamento de águas residuárias de uma ou várias indústrias em sistemas de


consórcio ou o lançamento em estação de tratamento de esgotos sanitários também
são considerados BAT, desde que esta tenha condições de recebê-las.

As emissões atmosféricas são normalmente relacionadas à geração de vapor e


energia (ver BATs para caldeiras auxiliares).
A BAT para reduzir resíduos sólidos é minimizar sua geração e recuperar, reciclar e
reutilizar os materiais, sempre que viável. Coletas separadas e estocagens
intermediárias próximas às fontes podem contribuir para atingir este objetivo.
Quando o resíduo coletado não pode ser reutilizado no processo, utilizações externas
ou incineração em equipamentos adequados também devem ser consideradas.

Geralmente, neste setor, é considerado BAT a utilização de tecnologias eficientes do


ponto de vista energético. Existem diversas opções para reduzir o consumo de
energia nos diferentes estágios de fabricação. Normalmente, estas medidas estão
relacionadas a investimentos para substituir, reformar ou modernizar equipamentos.
Vale salientar que medidas para reduzir o consumo de energia não são aplicadas
somente para economizar energia, a eficiência de produção, a melhoria na qualidade
do produto e a redução de custos são as mais importantes bases para o investimento.

Indústrias não-integradas, eficientes, consomem energia e vapor nas seguintes faixas:


• Papel branco: 7 a 7,5 GJ/t e 0,6 a 0,7 MWh/t
• Papel revestido: 7 a 8 GJ/t e 0,7 a 0,9 MWh/t
• Tissue, produzido a partir de fibras virgens: 5,5 a 7,5 GJ/t e 0,6 a 1,1 MWh/t.

As Tabelas 33, 34 e 35 apresentam os resultados (médios anuais) alcançados por


indústrias européias que aplicam estas tecnologias. Os dados foram retirados de
relatórios ambientais disponíveis e estatísticas publicadas por órgãos
governamentais.
240

Tabela 33 - Emissões hídricas de fábricas européias de celulose e papel que utilizam


as BATs.
DQO Nitrogênio
DBO5 ou 7 AOX SST FósforoTotal Vazão Tipo de
Fábricas KgO2/ Total 3
KgO2/ADT Kg/ADT Kg/ADT KgP/ADT m /ADT tratamento
ADT KgN/ADT

Soedra Cell 13 0,9 1,7 0,03 0,31 Lodos


- 45
Suécia (300) (20) (40) (0,7) (7) ativados

Polls AG 17,6 0,64 0,30 1,45 0,07 0,06 Lodos


45,8
Áustria (400) (15) (6,6) (30) (1,5) (1,5) ativados

Modo Alizay 11,1 0,6 0,1 2,24 0,08 0,38 Lodos


61
França (180) (10) (1,6) (37) (1,3) (6,2) ativados

Enocell 12 0,2 0,14 0,3 0,004 0,08 Lodos


39
Finlândia (300) (5) (5) (8) (0,1) (2) ativados

MB Kaskinen 14 0,3 0,07 1,0 0,02 0,15 Lodos


49
Finlândia (300) (7) (1,4) (20) (0,4) (3) ativados

Sunila 22 14 0,14 2,1 0,026 0,21 Lodos


70
Finlândia (160) (10) (0,2) (15) (0,2) (6) ativados

MB Aanekoski 24 0,6 0,38 1,9 0,012 0,17 Lodos


32
Finlândia (750) (5) (11,9) (60) (0,4) (5) ativados

UPM Kymene 23 2,7 0,22 1,1 0,02 0,19 Lodos


63
Finlândia (360) (40) (3,5) (20) (0,3) (3) ativados

MeADT-Rauma 4 0,4 0,7 0,015 0,14 Lodos


- 15
Finlândia (270) (30) (45) (1) (10) ativados

Alberta Pacific 6,9 0,2 0,05 1,66 Lodos


n/a n/a 50-60
Canadá (130) (4) (0,8) (30) ativados

Backhammars 7 1,5 0,9 0,007 0,47 Secundário


- 85
Suécia (80) (20) (10) (0,1) (5) e terciário

Nota: os números entre parênteses expressam as concentrações (mg/L).

Fonte: IPPC (2000)


241

Tabela 34 - Emissões atmosféricas de fábricas de celulose e papel européiais que


utilizam as BATs.
NOx em kg NOx/ADT (como NO2) SO2 e TRS em kg S/ADT

Fábricas Caldeira Forno Cald. Outras Total do Caldeira Forno Cald. Outras Total do
Recup. de cal auxiliar processo Recup. de cal auxiliar processo

Aspa
0,36 0,10 n/a 0,37 0,83 1,29 0,20 n/a - 1,49
Suécia

Iggesund
0,40 0,11 0,30 0,37 0,89 1,50 0,13 0,82 - 1,63
Suécia

Husum
0,30 0,01 0,16 0,39 0,79 1,21 0,11 0,39 0,07 1,50
Suécia

Monsteras
0,11 0,05 0,10 0,50 0,66 0,95 0,21 0,12 - 1,16
Suécia

Ostrand
0,06 0,40 0,07 0,47 0,93 1,36 0,08 0,47 - 1,44
Suécia

Skutskar
0,14 0,10 0,02 0,52 0,76 1,26 0,19 0,37 - 1,45
Suécia

Skarblacka
0,17 0,05 0,10 0,08 0,29 0,66 0,23 0,72 - 0,89
Suécia

Skoghall
0,17 <0,01 0,49 0,035 0,52 1,14 0,15 0,53 0,13 1,42
Suécia

Valvik
0,07 0,29 0,19 0,12 0,48 1,44 0,22 0,28 - 1,65
Suécia

Varo
0,06 0,29 0,04 0,49 0,74 1,51 0,26 0,20 - 1,79
Suécia

Dynas
0,04 <0,01 0,22 0,69 0,74 1,24 0,22 0,52 - 1,66
Suécia

Frovi
0,03 0,01 0,26 0,27 0,31 1,01 0,21 0,99 0,29 1,51
Suécia

Obbola
0,11 <0,01 0,05 0,33 0,4 1,02 0,18 0,31 - 1,20
Suécia

Backammar
0,14 0,001 0,25 0,2 0,4 1,22 0,04 0,37 - 1,26
Suécia

Huelva
0,41 0,67 0,17 n/a 1,08 0,88 0,06 0,31 - 0,94
Espanha

Pols AG
0,04 <0,01 - 0,009 0,04 1,6 0,45 - - 2,05
Áustria

Stora Celbi
0,06 0,02 0,62 0,02 0,10 1,02 0,17 0,37 0,19 1,38
Portugal

Enocel
0,011 0,133 0,015 0,154 0,30 1,186 0,171 0,292 0,164 1,52
Finlândia

Oulu
0,046 0,006 - 0,342 0,39 0,810 0,270 - - 1,08
Finlândia
242

NOx em kg NOx/ADT (como NO2) SO2 e TRS em kg S/ADT

Fábricas Caldeira Forno Cald. Outras Total do Caldeira Forno Cald. Outras Total do
Recup. de cal auxiliar processo Recup. de cal auxiliar processo

Aanekoski
0,380 0,059 - 0,095 0,53 1,748 0,101 - - 1,85
Finlândia

Kaskinen
0,392 0,044 - 0,095 0,53 1,366 0,160 0,611 - 1,53
Finlândia

Sunila
0,433 0,061 0,313 0,310 0,80 1,029 0,275 0,404 0,042 1,35
Finlândia

Joutseno
0,036 0,012 - 0,719 0,77 1,013 0,168 0,261 - 1,18
Finlândia

Wisaforest
0,178 0,030 0,189 0,151 0,36 0,864 0,326 0,758 0,403 1,59
Finlândia

Fonte: IPPC (2000)

Tabela 35 - Geração de resíduos sólidos em fábricas européias.


Quantidade Total
Unidade Tipo de resíduo
Kg/ADT Kg/ADT
Cinzas 2,0
Dregs 10,0
Polpa kraft branqueada 15
Resíduos de madeira 3,4
Rejeitos de celulose 0,3
Lama do forno de cal 9,7
Dregs 8,1
Lodo da estação de tratamento de
Polpa kraft branqueada 45
águas residuárias 8,7
Rejeitos e cascas 6,0
Outros 10,5
Planta integrada, polpa não
Não especificados 30 a 50
branqueada
Fonte: IPPC (2000)

Uma pequena quantidade de resíduos perigosos é também gerada, tais como óleos
lubrificantes e graxas usados, óleo hidráulico e fluido dielétrico usado, baterias,
solventes, tintas, biocidas e resíduos químicos, etc, cuja quantidade normalmente fica
entre 0,05 e 0,1 kg/t de produto.
243

6 MATERIAIS E MÉTODOS

Este capítulo apresentará os projetos mais relevantes de aumento de produção com


atualização tecnológica e uso das melhores tecnologias disponíveis e suas
implicâncias na melhoria do desempenho ambiental da VCP- Votorantim Celulose e
Papel – Unidade Jacareí, que constitui o estudo de caso da presente tese de
Doutorado.

Excetuando-se o primeiro projeto (item 6.2.1), que já havia sido implementado antes
do início deste trabalho, nos demais, foram aplicadas as seguintes ferramentas da
eco-eficiência: produção mais limpa (BATs); avaliação de desempenho ambiental;
relatório de desempenho ambiental; sistema de gestão ambiental e contabilidade
ambiental.

Em vista disso, somente no primeiro projeto foram quantificados os investimentos e


os ganhos ambientais afim de permitir a comparação dos resultados decorrentes do
uso das ferramentas de eco-eficiência supracitadas.

6.1 A INDÚSTRIA ESTUDADA: VOTORANTIM CELULOSE E PAPEL-VCP

A Votorantim Celulose e Papel S.A. – VCP é uma das maiores empresas produtoras
de papel e celulose do Brasil e líder de mercado em papéis de imprimir e escrever e
papéis especiais. A otimização do processo produtivo permitiu atingir no início de
2002, uma capacidade instalada de 850 mil toneladas/ano de celulose e 655 mil
toneladas/ano de papéis revestidos, não-revestidos e especiais. Cerca de 60% do
volume de vendas são absorvidos no mercado interno. Essa produção está distribuída
em 04 unidades produtivas localizadas no Estado de São Paulo:

• Unidade Jacareí - Fábrica integrada que produz celulose e papel e exporta


celulose de mercado;

• Unidade Luiz Antônio - Fábrica integrada que produz celulose e papel;

• Unidade Piracicaba - Fábrica de papel;


244

• Unidade de Mogi das Cruzes – Fábrica de papel

As exportações são dirigidas para mais de 55 países, nos cinco continentes.

A maior parte do suprimento de madeira provém de florestas plantadas (próprias) de


eucalipto e o restante de eucalipto plantado, vindo de fornecedores do programa de
fomento.

O estudo de caso refere-se à Unidade Jacareí- adquirida pela VCP em 1992. Nessa
data, a produção média de celulose era cerca de 400 toneladas diárias.

A partir da aquisição da fábrica, muitos investimentos foram feitos visando ao


aumento de produção, em paralelo com otimizações para adequação e melhoria do
desempenho ambiental.

Os valores investidos no período de 1992 a 2001 totalizam US$ 415 milhões, e,


destes, cerca de US$ 80 milhões podem ser atribuídos à prevenção e controle da
poluição.

6.2 EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO E DA

PREVENÇÃO E CONTROLE DA POLUIÇÃO NA UNIDADE JACAREÍ

Excetuando-se as questões ambientais relacionadas às unidades florestais, pode-se


assumir que os principais avanços tecnológicos que repercutiram diretamente na
melhoria de desempenho ambiental da unidade aconteceram depois de 1992, com os
seguintes projetos:

• P-600 (1988 a 1995) – Que contemplou pequeno aumento de produção de


celulose branqueada e substituição do sistema de recuperação de produtos
químicos;
• ECF (1995 a 1998) – Que contemplou aumento de produção de celulose
branqueada de 600 para 1000 toneladas diárias;
245

• P-1.200 (1999 a 2001) – Que contemplou um pequeno aumento de produção e


otimizações na prevenção e controle da poluição.
• P-2.000 (2001 a 2003) – Duplicação da produção de celulose de mercado para
cerca de 950.000 toneladas por ano (este projeto será comentado no item Projetos
Futuros).

A Figura 53 mostra os períodos em que foram implementados os projetos, em função


da produção de celulose e papel da Unidade Jacareí da VCP.

Produção de celulose (ADT) e papel (t)


900.000
Produção celulose Produção Papel Projetada
800.000

700.000

600.000
Projeto P-1200
500.000
Projeto ECF
400.000

300.000 Projeto P-600

200.000

100.000

0
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Figura 53 – Evolução da produção anual de celulose e papel e período de


implantação dos projetos na Unidade Jacareí da VCP.

6.2.1 Projeto P-600

A concepção deste projeto teve início em 1988 mas não foi implementado na sua
totalidade em virtude de problemas financeiros e de mudanças na empresa - que foi
vendida ao grupo Votorantim em 1992. O projeto parcial foi denominado projeto P-
600.
246

O projeto P-600 teve como objetivo principal dar continuidade operacional à


Unidade, tendo em vista que o sistema de recuperação de produtos químicos era
obsoleto e estava no final da vida útil. Além deste aspecto, havia a questão da não-
conformidade ambiental devido à elevada emissão de gases odoríferos e de material
particulado, também decorrente da tecnologia ultrapassada.

6.2.1.1 Descrição do processo produtivo antes da implementação do Projeto


P600

As produções anuais de celulose branqueada e de papel em 1988 eram,


respectivamente, 189.057 e 91.128 toneladas.

A madeira era recebida com e sem casca. A madeira com casca era encaminhada ao
descascador e na seqüência, as toras eram lavadas e encaminhadas ao picador. As
cascas eram enviadas ao pátio para posteriormente serem queimadas nas caldeiras de
biomassa.

O sistema de lavagem da massa era feito em filtros rotativos à vácuo e os filtrados


eram encaminhados ao sistema de recuperação do licor.

O branqueamento era feito em quatro estágios, intercalados com filtro lavador


conforme pode ser observado na Figura 54.
Onde:
C = cloro H= hipoclorito de sódio
E/O = extração/oxigênio D= dióxido de cloro
247

Linha de fibras

Descascador

Digestores
Picador
em batelada (06)

Digestor

Separador Lavagem Depuração


de nós (peneira) Filtros engrossadores
(filtros rotativos
à vácuo)

Branqueamento

(04 estágios C - E/ O - H - D)

Água Água
Água Água

D H Eo C
Polpa
para
extração

Águas residuárias

Figura 54 – Representação esquemática da linha de fibras.

O sistema de recuperação de produtos químicos, conforme mostrado nas Figuras 55 e


56, tinha início com a concentração do licor negro - coletado durante o processo de
lavagem e depuração da massa marrom - em processo de evaporação por contato
direto até atingir 60-65% de sólidos. O licor concentrado era injetado para queima
nas caldeiras.
O fundido (smelt) das caldeiras de recuperação era encaminhado para o tanque
dissolvedor, que recebia licor branco fraco como agente diluidor, dando origem ao
licor verde.

Na etapa seguinte, o licor verde recebia a adição de hidróxido de cal, para conversão
do carbonato de sódio em hidróxido de sódio. Na seqüência, o licor era clarificado
248

(primeiro estágio) e o sobrenadante - licor branco forte - voltava para o cozimento. O


decantado, depois de lavado com o sobrenadante do terceiro estágio, era
encaminhado ao segundo estágio.

Evaporação de Licor Negro - 1992

Evaporação I - 5 efeitos

licor negro
45% sólidos Caldeiras de Recuperação
licor negro
oxidado

Evaporação
Evaporação II - 5 efeitos contato direto
Gases combustão
Ar
tipo venturi scrubber

Licor negro p/queima


63% sólidos

Figura 55 – Representação esquemática do sistema de recuperação de produtos


químicos.

Caustificação- 1992

1º Clarificador

2º Clarificador
Condensado
Slaker Evaporação
Tanque Clarificador
de Licor
Verde Caustificadores
Licor Lama
Verde Filtro de de Forno de cal
Cal
Dregs 3º Clarificador
Tanque
Licor
Branco
Fraco

Licor Branco
Dregs Forte

Figura 56 – Representação do sistema de caustificação.

Para a produção de papel, a polpa de celulose era bombeada para os tanques de


massa, passando por refinadores. Na seqüência, a massa era encaminhada para
tanques de mistura, onde eram adicionados os aditivos (caulim cola, sulfato, anilina,
alvejante ótico e outros).
249

Após receber os aditivos, a massa era encaminhada ao tanque da máquina de papel


para ser depurada e em seguida encaminhada para a caixa de entrada da máquina.
Na máquina, acontecia a formação e secagem da folha de papel, que era então
encaminhada para as rebobinadeiras.
Para a produção de papel revestido “couché”, as bobinas recebiam uma cobertura de
tinta especial, e então passavam pela supercalandra para polimento. A representação
esquemática dos principais processos estão indicadas na Figura 57.

Polpa
Aditivos

Armazenagem Mistura de
Refinação
da massa aditivos

Armazenagem
de massa

Papel
Máquina
Rebobinadeiras Depuração
de papel

Coater Papel revestido


(couché)

Figura 57 – Representação esquemática da fabricação de papel.

Principais problemas ambientais identificados antes do projeto


Os principais problemas ambientais destacados em 1988 eram:
• Alta emissão de material particulado nas caldeiras de biomassa, de
recuperação e no forno de cal;
• Emissões elevadas de TRS (gases reduzidos de enxofre) devido,
principalmente, ao sistema de evaporação do licor negro (contato direto);
• Elevada cor das águas residuárias;
• Consumo elevado de água e alta geração de águas residuárias.
250

6.2.1.2 Descrição do projeto P-600

Neste projeto foram implementados:


• Nova caldeira de recuperação em substituição às duas existentes;
• Novo sistema de evaporação (Figura 58);
• Aumento da produção de celulose para 600 toneladas por dia;
• Unidade de cogeração - Turbina a vapor e gerador de eletricidade com
capacidade para 25 MW.

Evaporação de Licor Negro - 1994


Evaporação III - 6 efeitos
Evaporadores de tubo
tipo falling film
licor negro
72% sólidos

Precipitador

Eletrostático

Stripping
Recuperação de condensado
Metanol contaminado

Figura 58 – Novo sistema de evaporação (P-600).

A produção de celulose em 1997 era cerca de 600 toneladas por dia após a
implementação do P-600, representando um aumento de 15% em relação a 1992.

6.2.1.3 Investimentos

Os investimentos do P-600 totalizaram US$ 150 milhões e foram assim distribuídos


(em US$):
Fabricação de celulose 12.860 mil
Planta química 1.065 mil
251

Evaporação 15.483 mil


Caldeira de recuperação 48.842 mil
Caustificação 1.562 mil
Turbogerador 12.400 mil
ETA- Estação detratamento de água 3.599 mil
ETAC- Estação de tratamento de água de caldeiras 8.817 mil
Infra-estrutura * 46.263 mil
*Obras civis, utilidades, incineração de gases, torre de resfriamento, sistemas
elétricos, tubulações, etc. )

6.2.2 Projeto ECF

Após o P-600, a VCP implementou o projeto ECF, com o objetivo de exportar


celulose. A este interesse de mercado, procurou-se aliar o uso das melhores
tecnologias disponíveis (BAT) e tecnologias inovadoras, descritas a seguir:

I. Instalação de um digestor com tecnologia Lo-solids ® em substituição aos


digestores em batelada;
II. Introdução da deslignificação com oxigênio (pré-branqueamento) na linha de
fibras,
III. Utilização de ozônio no branqueamento para produção de polpa ECF e com a
possibilidade de produção de polpa TCF;
IV. Implantação de uma máquina extratora de celulose para produção de celulose
tipo exportação;
V. Implantação de um sistema de caustificação com filtros pressurizados de licor
verde e de licor branco, que permitiram o maior fechamento do circuito de
filtrados e maior qualidade do licor recuperado, além de um novo forno de cal;
VI. Incineração dos gases não condensáveis na caldeira de recuperação permitindo
reduzir as emissões de TRS e de dióxido de enxofre.
Na linha de fibras existente, além da implantação do pré-branqueamento com
oxigênio, houve a substituição parcial do cloro por dióxido de cloro no estágio de
cloração.
252

6.2.2.1 Descrição do projeto ECF

O projeto previa aumento da produção para 1.150 toneladas de celulose branqueada


ECF e TCF tipo exportação, conforme indicado na Figura 59.
Máquina
Linha A – 400 ADT por dia Papel
(existente) J1 Papel

Pré-
Branqueamento
Branqueamento

Extratora
de
celulose Celulose úmida
Digestor Lavagem Mercado
Contínuo da massa interno
1500 ADT Difusor

Extratora
Separador Lavagem Pré-
Branqueamento de
de Nós de massa Branqueamento Celulose
celulose
Exportação
ECF
TCF
Linha B – 750 ADT por dia
(nova)

Figura 59 – Linhas de produção de celulose e Projeto ECF.

As seqüências do branqueamento nas linhas A (existente) e linha B (nova) estão


indicadas na Figura 60.

Seqüências de Branqueamento
Celulose
Pré- Standard
Cloro/Dióxido Oxigênio e Peróxido Hipoclorito Dióxido
Branqueamento
C/D EOp H D
O

Linha existente (A)

Pré-
Quelante Oxigênio e Peróxido Ozônio Dióxido
Branqueamento
Q EOp Z (DnD) Celulose
O
ECF

Linha nova (B)

Peróxido pressurizado
(PO)
Celulose
TCF

Nota: O parênteses ( ) indicam que não há lavagem da massa entre


os dois estágios

Figura 60 – Fluxograma do branqueamento - Linhas A (existente) e B (nova).


253

Principais unidades de processo do Projeto ECF


Item Descrição BAT
Digestor hidráulico contínuo,
01 Cozimento modificado
tecnologia Lo-solids®
02 Sistema de depuração
03 Deslignificação com oxigênio Deslignificação com oxigênio
Prensas, uso do ozônio, uso de
Branqueamento ECF/TCF
04 peróxido de hidrogênio,
(linha B)
fechamento parcial de circuitos
05 Separação de nós/depuração Sistema pressurizado
Unidade Extratora de celulose
06
(JE2)
07 Caldeira auxiliar CBC 80
Filtros pressurizados, permitindo a
08 Sistema de caustificação redução de metais no licor e maior
fechamento de circuito
09 Turbogerador a vapor
10 Planta dióxido de cloro
Recuperação do gás para uso no
11 Planta de oxigênio/ozônio
pré-branqueamento

a) Digestor
O digestor fabricado pela Ahlstrom utilizava a tecnologia denominada “Lo-
solids®”, que é reconhecida pelo IPPC- Integrated Pollution Prevention and Control
como uma das melhores tecnologias disponíveis para o cozimento dos cavacos
(IPPC, 2000). Este digestor substituiu os antigos, que operavam em batelada.

O sistema de cozimento era composto de um digestor contínuo hidráulico, com


cozimento estendido modificado.

Neste tipo de tecnologia de cozimento, os sólidos de madeira dissolvidos são


removidos do sistema, extraindo-se os licores usados da impregnação e/ou do
254

cozimento por meio de múltiplos pontos no digestor. Os licores usados possuem alta
concentração de sólidos e baixo residual de produtos químicos. Com essa remoção é
evitada a entrada dos sólidos dissolvidos extraídos na zona de cozimento, ou acima
ou abaixo do ponto de extração, e as quantidades de sólidos dissolvidos presentes nas
fases de deslignificação principal e final são diminuídas. Durante a fase de
impregnação entre 20 e 30% de sólidos de madeira são dissolvidos.

Adicionalmente aos sólidos de madeira dissolvidos, água e produtos químicos do


cozimento são também removidos do sistema em cada ponto de extração. As
quantidades de água e álcali efetivos removidos de cada ponto de extração dependem
do fluxo de extração e da concentração do álcali. A água deve ser adicionada para
satisfazer as necessidades hidráulicas do sistema. Os produtos químicos de reposição
devem ser adicionados para garantir o cozimento por intermédio de uma
combinação de licor branco e filtrado de lavagem - adicionados no local ou abaixo de
cada ponto de extração.

Muitos, mas não todos os sólidos dissolvidos presentes em determinada zona, podem
ser removidos via um sistema de extração. O licor branco e o filtrado de lavagem de
reposição têm concentrações de sólidos de madeira dissolvidos significativamente
inferiores aos licores remanescentes no digestor aos quais são misturados. A
combinação dos fluxos de reposição, portanto, diluem os sólidos de madeira
dissolvidos que permanecem no sistema após uma extração. Ao mesmo tempo, a
adição combinada de fluxos de reposição permite o controle da relação licor/madeira.

No sistema projetado para a Unidade Jacareí (mostrado na Figura 61), a primeira


carga de licor branco era adicionada ao longo do sistema de alimentação de cavacos.
Esse licor fluía em sentido concorrente descendente juntamente com os cavacos na
zona de impregnação do digestor. O licor pós-impregnação, que possuía baixo álcali
efetivo e alta concentração de sólidos de madeira dissolvidos, era então removido do
meio de reação através do primeiro conjunto de peneiras de extração. Licor branco e
licor de lavagem preaquecidos eram adicionados abaixo dessa extração por
intermédio do sistema de circulação de aquecimento subseqüente. Essa circulação
255

fazia uso de um tubo central para descarga e de um segundo conjunto de peneiras a


fim de distribuir temperatura e produtos químicos de cozimento radialmente. A zona
de retenção entre o primeiro e o segundo conjunto de peneiras era usada para
aquecimento contracorrente e como zona de lavagem. O licor branco de reposição
necessário para a deslignificação principal era uniformemente distribuído por meio
da coluna de fluxo contracorrente nessa zona de retenção.

Licor branco
(LBR)WL E and
cavacos
Chips In

Zona de Impregnação
Extração de
Impregnation Zone licor
Extraction
Liquor Out
Counter-current
Aquecimento e lavagem
contracorrente (início da
heating/washing
deslignificação principal) Licor
(start of bulk branco
White
delignification) (LBR)
Liquor
Deslignificação Principal
Bulk
Delignification
Wash
Licor
preto
Water
(LPR)

AquecimentoCounter-current
e lavagem
contracorrente
heating/washing
(deslignificação residual)
(residual
Licor
delignification) White
branco
Liquor
(LBR)

Licor de Lavagem -
Licor Wash
preto ( Water
Licornegro LPR ) Saída de polpa
Pulp Out

Figura 61 – Representação esquemática do digestor Lo-solids®.

A deslignificação principal se completava na terceira zona de retenção do digestor


entre o segundo e o terceiro conjunto de peneiras. O licor residual usado no
cozimento e os licores de lavagem eram extraídos do sistema no terceiro conjunto de
peneiras. As cargas finais de licor branco e licor de lavagem eram aplicadas e
aquecidas até à temperatura final de cozimento por meio do sistema de circulação de
lavagem. Da mesma forma que um cozimento contínuo modificado, o fundo do
256

digestor era simultaneamente usado para uma lavagem contracorrente e


deslignificação residual.

O kappa para produção de polpa ECF e TCF previsto para saída do digestor era cerca
de 13-14 e 11 a 12, respectivamente, enquanto que o rendimento previsto era de
53,2% a 53,6%.

b) Pré-branqueamento e depuração
A lavagem da massa produzida no digestor contínuo é iniciada dentro do próprio
digestor, em contracorrente “Hi-Heating Washing” com licor negro e
complementada no difusor atmosférico, com capacidade para 1.350 ADT/dia
(nominal), sendo então enviada para o tanque de massa lavada.

Neste processo, a polpa proveniente da torre de estocagem é bombeada ao separador


de nós pressurizado. A separação de nós tem por objetivo separar os cavacos mal
cozidos do fluxo principal, constituído da mistura diluída polpa-licor.

O rejeito do separador é enviado para o lavador de nós e volta ao processo.

Na linha de fibras B (ECF/TCF), a pasta proveniente da separação de nós é enviada a


um sistema de depuração com três estágios e separador de areia. O rejeito deste
processo, após refinação, é encaminhado à linha A.

A pré-deslignificação com O2 consistia no processo de oxidação em um reator onde a


massa recebia a ação do oxigênio junto com LBO (licor branco oxidado) ou a soda.
Este sistema previa uma remoção de 6 unidades de kappa.

c) Branqueamento
O branqueamento (Figura 62) consistia de quatro estágios: Quelação (Q), Oxigênio
peróxido (Op), ozônio (Z) e dióxido de cloro (D).
257

Nesta seqüência de branqueamento, a pasta era enviada a um misturador de oxigênio


e daí seguia para o reator para completar a reação. Deste reator, a pasta era lavada em
um difusor de lavagem; a seguir, era adicionado quelante por meio de um tubo de
sucção e a mistura seguia para uma torre denominada “Q-Quelante”, e daí a massa
era enviada a uma prensa lavadora.

Após a etapa de quelação, a pasta era enviada a um misturador de oxigênio e daí


seguia para a torre de oxigênio/peróxido, onde era adicionado peróxido de
hidrogênio. Deste reator, a massa era encaminhada a uma prensa lavadora e a seguir
era adicionado ozônio, por intermédio do tubo de sucção e seguia, então, para um
reator. Terminada a reação, a polpa era lavada em uma prensa lavadora. No processo
TCF o quelante era adicionado junto com o ozônio.

Para a fabricação de pasta ECF, após a ozonização, a celulose era encaminhada ao


misturador de dióxido de cloro e daí seguia para a primeira torre de dioxiocloração;
desta torre, a celulose era encaminhada para a segunda etapa de dioxicloração (D),
onde era novamente adicionado dióxido de cloro. A mistura seguia, então, para a
segunda torre de dioxicloração e na seqüência, para o filtro lavador onde era
armazenada na torre de celulose branqueada.

Para a fabricação de celulose TCF, após a etapa de ozonização (Z) com adição de
quelante, a celulose era enviada a um misturador de oxigênio e daí seguia para o
reator de peróxido/oxigênio, onde era adicionado peróxido de hidrogênio, e daí era
encaminhada para a torre de peróxido, utilizada no segundo estágio de dioxicloração
da fabricação de pasta ECF.

Desta torre a pasta branqueada passava por um filtro lavador e era armazenada na
torre de celulose branqueada. A Figura 64 apresenta de forma esquemática as
principais etapas do branqueamento.

Os gases contendo dióxido de cloro eram coletados e enviados a um lavador de gases


com solução alcalina de sulfito de sódio.
258

Tanque de Filtro Torre de Misturador de


Digestor Depuração
despressurização lavador massa oxigênio

Bombas
MC

Misturador Reator Torre de


Prensa Prensa Difusor
de ozônio OP quelação

Bombas Reator de TCF


MC peroxidação

Misturador Misturador Torre de


Torre Torre de
Prensa de dióxido de de dióxido de Dioxicloração ou
quelação dioxicloração
cloro cloro peroxidação

Torre
Polpa para depuração e de massa Filtro lavador
para a extratora de celulose branqueada

Figura 62 – Representação esquemática da linha de fibras ECF e TCF (linha B).

O circuito de filtrados e de lavagem de massa previsto para a nova linha de fibras


está mostrado na Figura 63.

Projeto ECF-Filtrados e branqueamento Linha B


Seqüência: OQ(Op)ZD
Setembro/1997 a Agosto/1998
Água
Quente
Água
Prensa 1002 Prensa 1010 Branca
Água Quente

Filtro 1001 Difusor 1006 Prensa 1018


Filtro 1032

O Q Op Z D

Para tanque
de licor
Efluente
negro diluído
5 m³/adt

Figura 63 – Representação esquemática do sistema de lavagem de massa – Linha B.


259

d) Depuração e extratora de celulose


A depuração de pasta branqueada tem por objetivo remover as impurezas da polpa a
fim de atingir os graus de limpeza exigidos para a celulose do mercado de
exportação. Esta etapa do processo foi prevista apenas para a nova linha de celulose
(B) que produz celulose ECF ou TCF.

Neste processo, a celulose branqueada é enviada para um depurador, que tem por
objetivo a remoção das impurezas grosseiras e promoção de sua homogeneização. O
aceite dos depuradores alimenta o sistema de depuração centrífuga, composto de
cinco estágios de “centricleaners”. A depuração centrífuga é feita em baixa
consistência e a água necessária para esta diluição é obtida da máquina de
desaguamento e secagem de celulose (JE-2).

A Unidade extratora de celulose –JE2 (Figura 66), é constituída da parte úmida


(caixa de entrada, sistema de vácuo, prensas, etc.); parte seca (secador, sistemas de
recuperação de calor, etc.); da cortadeira e da embaladeira. A capacidade de projeto
da máquina era 750 toneladas/dia.

Durante este processo são consumidos grandes volumes de água para diluição da
massa e, na etapa seguinte, são gerados grandes volumes de água (retirada das fibras
– denominada; água branca). Por esta razão, foi prevista a instalação de tanques de
massa- denominados torres- e tanques para armazenagem da água branca, que
poderia ser reutilizada na própria unidade ou em outros pontos da fábrica.
260

Prensas Secador
Mesa Desaguadora tipo colchão de ar

Cleaners Cortadeira
Reverso
1

Centri
Cleaners

Peneira
1
Pressurizada

Tanque
Massa Tanque
Branqueada Massa

Tanque de água branca

Água Branca Recuperada


para Branqueamento Celulose

Figura 64 – Máquina extratora de celulose – JE2.

e) Evaporação (já existente)


O sistema de evaporação de licor negro consiste de uma bateria de evaporadores de
múltiplos efeitos, composta por 6 efeitos, onde o licor é concentrado de 15,5 para
50% de sólidos e de três concentradores, onde a concentração de sólidos atinge 72%,
sendo enviado então para a caldeira de recuperação.

f) Caustificação
Nesta etapa do processo produtivo foi prevista a recuperação de produtos químicos
(Na e S), formando o licor branco, que seria utilizado no processo de cozimento.
As principais unidades que compõem a caustificação estão indicadas na Figura 67.

O projeto ECF contemplou o uso de precipitador eletrostático no forno de cal, uso de


combustível com baixo teor de enxofre e lavagem eficiente da lama (redução de
TRS) – que são consideradas as melhores tecnologias disponíveis na caustificação
(BAT).
261

Licor
Branco
Licor
Licor Licor
Filtração Branco
Verde Clarificação Filltração Branco
Licor verde
Caustificação do licor Licor branco
Branco CD Filter
X-Filter

Filtração Filtração
dregs lama de cal

Lama
De Cal

Dregs

Re-caustificação Gases
Precipitador Lavador para
(forno de cal) Ciclones
eletrostático de gases atmosfera

Óxido
de cal

Figura 65 – Representação esquemática do sistema de caustificação do licor.

O sistema de filtração de licor verde é composto por dois X-filters com capacidade
de produção de 4.400 m3/dia.

A filtração dos dregs – resíduo insolúvel gerado na dissolução do smelt - é feita em


filtros à vácuo que usavam cal como pré-camada de filtração. O projeto previu a
instalação de um filtro de dregs com capacidade de 10 toneladas por dia (dregs).

O processo de caustificação do licor verde filtrado é feito nos caustificadores


mediante sistema automatizado de alimentação (adição) de cal e agitação, para
permitir a reação de formação de NaOH e precipitação do carbonato de cálcio. O
licor resultante deste processo é denominado licor branco.
Após clarificação o licor branco é filtrado em filtros denominados-CD filters. O licor
branco filtrado é então armazenado e pode ser usado no processo.
A lavagem da lama de cal, que é feita sob pressão, permite reduzir a perda de álcalis
e as emissões de TRS no forno de cal.

O forno de cal - unidade que permite transformar o carbonato de cálcio em óxido de


cal - é alimentado continuamente pela lama de cal proveniente dos filtros de lama e
262

por óleo combustível para o processo de caustificação. O forno instalado tem uma
capacidade para 380 toneladas de cal por dia.

g) Planta química (dióxido de cloro)


O processo de fabricação do dióxido de cloro utiliza o clorato de sódio, o ácido
sulfúrico e o metanol como matérias-primas, gerando o dióxido de cloro como
produto e o sesquisulfato de sódio como subproduto.

Este processo consiste basicamente de um gerador à vácuo e um trocador de calor


tipo casco/tubo, por onde circula o licor do gerador. O clorato de sódio é alimentado
antes do trocador de calor (ou refervedor), enquanto que o ácido sulfúrico e o
metanol são adicionados após o refervedor.

O dióxido de cloro gasoso liberado na reação passa por um condensador de


superfície, onde é resfriado e, a seguir, por torres de absorção onde, em contato com
água gelada, a contracorrente, forma a solução de dióxido de cloro na concentração
desejada.
O licor do gerador, sob a forma de uma suspensão de sólidos, é filtrado em um filtro
rotativo a vácuo, quando são separados os cristais de sesquisulfato de sódio,
retornando o filtrado ao gerador.

O sesquisulfato de sódio separado na filtração é reaproveitado na linha de fibras B


para acerto de pH do estágio de ozônio.

h) Planta de oxigênio e ozônio


A planta de ozônio consiste em dois geradores de ozônio com capacidade unitária de
90 Kg de ozônio por hora e de uma planta de geração de oxigênio VSA (Vacuum
Swing Adsorber) com capacidade para 44 toneladas de oxigênio com pureza de 90%
por dia.
A fabricação de ozônio é feita por intermédio da passagem de fluxo de oxigênio
gasoso por meio de um tubo (dielétrico) onde uma descarga elétrica constante (efeito
corona) transforma a molécula de oxigênio (O2) em uma molécula de ozônio (O3).
263

A concentração do ozônio obtida é de 13% em peso e a planta foi dimensionada para


a geração de 180 Kg de ozônio por hora.

A geração de oxigênio é feita por meio da passagem de ar comprimido em um leito


de adsorção contendo uma peneira molecular de alta eficiência. Esta peneira adsorve
preferencialmente o nitrogênio e outros gases, gerando o oxigênio que é enviado para
fabricação de ozônio. A planta foi dimensionada para a geração de 44 toneladas por
dia de oxigênio com 90% de concentração.
O ozônio residual do processo de branqueamento é destruído termicamente e o gás
recuperado constituído basicamente de oxigênio em concentração de 85% é
reaproveitado nos estágios de pré-branqueamento com oxigênio. Deste modo as
plantas de ozônio e oxigênio não geram contaminantes para o meio ambiente.

i) Caldeiras auxiliares
Foi implantada uma nova caldeira auxiliar para geração de 80 toneladas de vapor por
hora queimando óleo combustível.

j) Turbogeradores
O projeto previu a construção das novas caldeiras (de recuperação e auxiliar) com
pressão de vapor de 85 bar, permitindo a geração de energia elétrica por intermédio
da redução da pressão do vapor para os valores utilizados no processo (14 e 5 bar).
Isto permitiu a implantação de turbo gerador a vapor com capacidade de 25 MW,
reduzindo a dependência externa de energia elétrica.

6.2.2.2 Investimentos do Projeto ECF

Os investimentos deste projeto totalizaram US$ 225 milhões, assim distribuídos:


Área Valor US$
Pátio de madeira 4.470 mil
Cozimento 41.087 mil
Linha de fibras 49.233 mil
264

Máquina extratora de celulose 51.976 mil


Lavagem de gases 1.033 mil
Sistemas de produtos químicos 6.310 mil
Torre de resfriamento 1.486 mil
Substação e compressores 10.708 mil
SDCD 3.348 mil
Ozônio 1.192 mil
Caustificação 17.593 mil
Forno de cal 14.176 mil
Estação de tratamento de água 1.625 mil
Estação de tratamento de água de caldeira 2.972 mil
Estação de tratamento deefluentes 1.702 mil
Pipe-rack e tubulações 16.415 mil

Em 1995, antes da implantação do Projeto ECF, os custos de produção da celulose


standard (STD) estavam acima do preço mínimo de mercado. Desta forma, a
expectativa da VCP era garantir competitividade no mercado internacional, tanto em
termos de qualidade, quanto em termos de custo de produção.

A análise econômica do Projeto ECF indicou que haveria demanda de celulose em


2000, com preço de mercado em torno de US$ 350/t (Figura 68). Na época, havia
também a expectativa de que a celulose TCF seria a maior responsável por esta
demanda.

A redução esperada do custo de produção devia-se ao aumento da escala, à


diminuição do custo da madeira (aumento de rendimento no digestor) e ao
decréscimo dos custos de utilidades (vapor e energia).

Os custos projetados para o branqueamento TCF eram cerca de 67% maiores do que
os do branqueamento standard (linha A), devido ao consumo de peróxido, dióxido e
ozônio. Todavia, os custos de produção do licor deveriam ser reduzidos devido a
diminuição nas perdas de sódio e enxofre
265

US$/t
Demanda 99

400
Custos* Jacareí – 1995

350
Estimativa do preço mínimo mercado – 2000 (US$ 350/t)

300

250 Custos previstos * Jacareí – 2000

Finlândia

Espanha
Portugal

França
Suécia
Brasil Indonésia USA
Chile Canadá Capacidade
de produção
Capacidade
com custos
*Incluem madeira, energia, produtos químicos, mão-de-obra direta e transporte desconhecidos

Figura 66 – Análise da competitividade da Unidade Jacareí no mercado mundial.

Prevendo-se uma produção de celulose de 1500 toneladas/dia, a estimativa de


redução no custo fixo foi de 60,8% e de 12,8% no custo variável (ECF).

6.2.3 Projeto P 1.200

Este projeto, que teve início em 1999, previu um pequeno aumento de produção de
celulose de cerca de1.080 para 1.250 toneladas diárias, sendo que a maior parte dos
investimentos foi de cunho ambiental.

6.2.3.1 Descrição do Projeto P 1.200

Os principais itens previstos no projeto foram:


• Eliminação do estágio de hipocloração da linha de fibras A,
• Conversão do branqueamento da linha A (possibilidade de produção de polpa
ECF),
• Nova ESTAR- Estação de tratamento de águas residuárias,
266

• Instalação do 7o estágio de evaporação e reforma no “stripper”,


• Instalação do precipitador eletrostático na caldeira de biomassa,
• Alteração no branqueamento (linha B),
• Fechamento de circuitos,
• Torre de resfriamento, e
• Otimização da extratora de celulose

6.2.3.1.1 Linha de fibras A

A linha de fibras A foi modificada para permitir a produção de celulose ECF e foi
eliminado o estágio de hipoclorito (Figura 69).

Pré- Celulose
Cloro/Dióxido Oxigênio e Peróxido Dióxido Standard
Branqueamento
C/D EOp D ECF
O

Figura 67 – Representação esquemática da linha de fibras A.

6.2.3.1.2 Linha de fibras B

Foram realizadas modificações na deslignificação (pré-branqueamento) e inclusão do


estágio PO (final) visando aumentar a eficiência do branqueamento. A lavagem de
massa após a deslignificação passou a ser feita em duas prensas em série, sem
lavagem intermediária. O estágio PO passou a contar com uma lavagem adicional
por meio de um difusor, conforme está indicado na Figura 70.
267

Projeto ECF-Filtrados e branqueamento Linha B


Seqüência: OOZD(PO)
De Agosto/1998 a Setembro/ 2000

Água
Prensa 1010 Prensa 1002
Água Quente Branca
Filtro 1032
Filtro 1001 Prensa 1018
Difusor 1006 Água
Quente

Água

O O Z D (PO)

Para tanque Efluente


de licor Efluente
7 m³/adt
negro diluído 2,5 m³/adt

Figura 68 – Representação esquemática da modificação do branqueamento B.

6.2.3.1.3 Evaporação

Foi aumentada a capacidade de evaporação do licor negro mediante adição de um


novo estágio de evaporação (7o efeito), e de um concentrador final de licor, além do
aumento de capacidade do concentrador de superfície.
Estas modificações demandaram maior consumo de água de refrigeração, por isso
também foi prevista a construção de uma nova torre de resfriamento, com capacidade
para 2.000 m3/h.

6.2.3.1.4 Caldeira de biomassa

Instalação de um precipitador eletrostático na caldeira, com eficiência de 99,8% de


remoção de partículas em suspensão e concentração de 100 mg/Nm3 nos gases na
saída da chaminé.
268

6.2.3.1.5 Nova estação de tratamento de águas residuárias (ESTAR)

O sistema foi projetado para tratar 76.400 m3/dia e carga orgânica de entrada
equivalente a 31.500 kg de DBO5,20 por dia e concentração de sólidos de 600 mg/L
na entrada do decantador primário. O lançamento de carga orgânica - DBO5,20 -
(máxima instantânea) no rio Paraíba do Sul deveria ser inferior a 2.100 kg/dia,
conforme exigência da licença de operação expedida pelo órgão ambiental.

O sistema de tratamento é composto pelas seguintes unidades:

• Sistema de equalização/neutralização;
• Lagoa de emergência;
• Sistema de decantação primária;
• Torres de resfriamento das águas residuárias;
• Sistema de tratamento biológico por lodos ativados duplo estágio;,
• Sistema de adensamento de lodo biológico;
• Sistema de pré-desidratação mecânica do lodo (tambores rotativos) e
• Sistema de desidratação do lodo (“Screw press”).

Lagoa de emergência: Parte do sistema antigo de lagoas aeradas é utilizado como


sistema de emergência, visando evitar cargas de choque e/ou problemas de pH nos
reatores biológicos a fim de garantir o desempenho da estação.

Sistema de equalização: Com volume de 900 m3, além da função de


homogeneização, possui sistema de ajuste automático de pH e desvio para a lagoa de
emergência, quando necessário.

Sistema de decantação primário: (02) decantadores circulares com diâmetro de 43m,


com medidores de concentração de sólidos nas linhas de lodo permitindo a remoção
de lodo de forma automatizada.
269

Torre de resfriamento: Torre sem enchimento, com possibilidade de “by-pass” das


células para manutenção e limpeza. Projetada para temperatura de entrada de 58 oC e
de saída inferior a 35 oC.

Sistema biológico – Reatores: Processo de lodos ativados em duplo estágio com 04


reatores biológicos (02 do primeiro estágio e 02 do segundo). Os reatores biológicos
têm volume individual de 10.500 m3 e altura de 5 m. O primeiro estágio opera com
Oxigênio Dissolvido (OD) inferior a 0,5 mgO2/L e SST igual a 7 g/L e idade do lodo
menor do que 2 dias. No segundo estágio, a concentração de OD mínima é de 2,5
mgO2/L, com SST no tanque igual a 3,5 g/L e idade do lodo entre 10 –20 dias. Como
conseqüência dos parâmetros operacionais, o tipo de microrganismos e a forma de
remoção do substrato são diferenciados nos dois estágios. No primeiro, prevalecem
mecanismos de adsorção e bactérias com alta taxa de crescimento. No segundo
estágio, bactérias heterotróficas e nitrificantes estão presentes no meio juntamente
com protozoários e organismos de crescimento lento.

Sistema biológico - Sistema de insuflamento de ar: O oxigênio é introduzido no meio


líquido por intermédio de difusores de membrana (bolha fina). O sistema de grades e
mangueiras flexíveis permite a sua substituição sem necessidade de esvaziar o
tanque. Os sopradores (07) são do tipo rotativo trilobular, sendo que destes, dois
possuem variador de freqüência para ajuste de vazão de ar.

Sistema biológico – Decantador secundário: Tipo retangular com fluxo transversal


com sistema de remoção de escuma, com taxa de aplicação máxima de 0,70 m3/m2/h.

Adensamento do lodo biológico: Composto por adensador com diâmetro de 33 m e


com possibilidade de ajuste de taxa de aplicação hidráulica por meio de diluição com
efluente tratado visando minimizar problemas de flotação do lodo.

Sistema de deságüe de lodo misto (primário mais lodo biológico): O sistema de


desidratação do lodo é feito em duas etapas. Na primeira, o lodo misto é desidratado
em tambor desaguador (drum thickener) até atingir cerca de 9 -10% de sólidos. Na
270

última etapa, o lodo proveniente do tambor é encaminhado para a prensa (screw


press), onde alcança um teor de sólidos de 40% . O sistema é composto por duas
linhas em paralelo, com dois tambores e duas prensas desaguadoras.O sistema tem
capacidade para desaguar até 60 toneladas por dia (sólidos secos). O lodo misto
recebe polieletrólito na entrada do tambor desaguador. A limpeza do sistema
(prensas e tambor) é feita com efluente decantado, visando reduzir o consumo de
água e a geração de águas residuárias.

Sistema de automação e controle: Visando otimizar o controle operacional da


ESTAR e reduzir a necessidade de intervenção do operador, o sistema dispõe de
diversos medidores: COT, sólidos (linhas de lodo e reatores), OD nos tanques de
aeração ligados em malha de controle aos sopradores de ar, vazão, temperatura e
sensores de nível e de vibração, entre outros.

A nova ESTAR foi projetada para atender a vazão prevista após no Projeto de
expansão P-2.000.
271

Lagoa
emergência Efluente bruto

Lagoa
emergência Expansão
Tq
neutralização
Efluente

Lodo

Torre
de
Decantador
resfr.
φ=43m
adensador

Reator Reator
A B Tanque
de lodo
Decantador
secundário

desaguador
Tambor

Reator Reator
C D
Filtro prensa
Decantador
secundário

Lodo
40%
Efluente tratado

Figura 69 – Representação esquemática da nova estação de tratamento de águas


residuárias.
272

A estação de tratamento antiga, composta por duas lagoas aeradas em série, foi
modificada, transformando-as em lagoa de emergência e lagoa de polimento,
respectivamente. A aeração foi mantida na lagoa de polimento para oxidação dos
gases odoríferos.

6.2.3.1.6 Fechamento de circuitos

Este projeto previa reduzir o consumo de água e a geração de efluentes na fábrica.


Foi feito, inicialmente, um inventário detalhado dos consumos de água e geração de
efluentes para o estabelecimento das alternativas técnicas e economicamente viáveis.

De antemão sabia-se que a linha B (projeto ECF) já estava no limite da otimização


quanto ao uso de água e à geração de águas residuárias, portanto, o levantamento foi
dirigido às demais unidades do processo.

A linha A, que deveria ser desativada com a entrada do novo projeto de expansão,
também ficou fora deste projeto.

O consumo de água em banheiros e a geração de esgoto doméstico não foram


analisados neste trabalho. Para fins de balanço, no entanto, foi adotado o valor de
100 L/min.

1) Levantamento das medidas para redução do consumo de água

a) Pátio de Madeira
O pátio de madeira consumia apenas água branca excedente na J1(máquina de papel)
para a lavagem de toras, na vazão aproximada de 1.040 L/min (1.500 m3/d), por isso,
não foram previstos investimentos nesta área.
273

b) Máquina de Papel J1
A máquina de papel demonstrou ser o ponto com maior quantidade de aberturas no
sistema, isto é, mais pontos de água enviados ao tratamento de águas residuárias.
Exatamente por esta razão mostrou ser a área com maior potencial para redução de
consumo de água e de geração de águas residuárias (Figuras 72 e 73).

Na época o efluente da J1 era da ordem de 10.637 L/min:

• Para a lavagem de toras e repolpador 1.600 L/min


• Efluente final (ESTAR) 9.037 L/min

Parte do efluente final era originado do constante transbordo de água no tanque de


selo das pernas barométricas do sistema de vácuo.

Na época, a água excedente na J1(máquina de papel) e na JE1 (extratora de celulose


da linha A) eram misturadas em um tanque. Demonstrou-se que a linha de fibras A
tinha consumo para toda a água excedente da extratora, portanto não haveria sobra de
água para este tanque de “águas residuais”, que, desta forma, passaria a ser um
tanque exclusivo da J1. O transbordo existente da JE1 para este tanque poderia ser
mantido, passando a funcionar como transbordo de emergência.

A bomba existente alimentaria diretamente a lavagem de toras e o repolpador do


engrossador da linha de fibras A. O tanque existente na linha de fibras A que recebia
a água branca da J1/JE1 seria desativado, evitando com isso a transferência de
efluentes de uma área para outra, além de se economizar a energia de bombeamento.

As medidas consideradas viáveis no caso da máquina de papel são citadas a seguir:

Fechamento do Circuito de Águas do Sistema de Vácuo.


Esta opção previa a instalação de uma torre de resfriamento exclusiva para o sistema
de vácuo da J1.
274

Desta forma, o “make-up” de água para este sistema de vácuo seria reduzido de 758
L/min para 57 L/min e o consumo total de água em cerca de 8% (Figura 73).

O transbordo do tanque de água quente aumentaria em virtude do transbordo do


tanque que alimentava as bombas de vácuo e, com isso, a geração de águas
residuárias seria:

• Para a lavagem de toras e repolpador A 1.600 L/min s/ alteração


• Efluente final (ESTAR) 8.300 L/min 8% de redução

Reforma e rearranjo dos tanques de água fria e morna da J1

Para ser viável, esta medida deveria ser precedida da instalação da torre de
resfriamento no sistema de vácuo. Desta forma, gerar-se-ia um excedente de água
limpa que justificaria o investimento necessário.

Esta modificação poderia ser feita em duas etapas: primeiro, instalando-se as bombas
de chuveiros de água no tanque existente e depois se implantando uma nova bomba
para aproveitar a água que anteriormente era enviada ao rio Paraíba.Como os tanques
existentes estavam numa posição desfavorável, o material e a geometria não eram
ideais e estas duas etapas iriam requerer duas paradas, recomendou-se que fosse
instalado um tanque de aço novo, dividido, que cumprisse as funções dos dois
tanques existentes. Desta forma, os custos totais ficariam bastante reduzidos.

As bombas de água dos chuveiros da J1 deveriam ser instaladas no lado quente deste
novo tanque que receberia o retorno de água de refrigeração dos condensadores de
vapor da pré e pós-secagem e da calandra, além do trocador de calor Cytec.

Como o total de água não era suficiente para alimentar os chuveiros, a água do lado
frio desse tanque deveria transbordar para o quente. O lado frio receberia água da
lubrificação central, dos redutores da secagem e do ar condicionado das salas
275

elétricas. Por esta razão, deveria ter uma geometria de forma a se criar uma
“armadilha de óleo” para o caso de haver algum vazamento .

Com essas alterações, o consumo total de água seria reduzido em cerca de 31% e o
volume de águas residuárias diminuiria, pois o tanque de água quente deixaria de
transbordar para alimentar os chuveiros.
A geração de efluentes passaria a ser (sempre comparado com a situação existente -
sem o projeto):

• Para a linha de fibras A 1.600 L/min s/ alteração


• Efluente final (canaleta) 4.600 L/min 45% de redução

Outra vantagem de se recircular esta água quente seria a elevação da temperatura


média de trabalho do fluxo afluente ou, sob outro ponto de vista, mantendo-se a
temperatura do sistema, a diminuição do consumo de vapor para a torre de água
branca .

Instalação de torres de água branca e refugos

Um problema crônico das duas máquinas (J1 e JE1) e que não aparecia nos balanços,
era a insuficiência de torres de água branca – água separada/removida durante o
processo de secagem da celulose e das torres de refugos.

Quando havia quebras prolongadas, ocorria o transbordamento do tanque de refugos


e um grande “make up” de água por esgotamento da água branca.

Durante a partida das máquinas, o sistema era preenchido com água quente ou água
tratada, enquanto que, se existisse uma torre de água branca, o sistema poderia ser
abastecido com a água recuperada em substituição à água limpa.

Para a J1, este sistema deveria ter: torre de refugos com capacidade para 500 m3 e
torre de água branca com capacidade para 700 m3.
276

Instalação de sistema de recuperação do efluente final da J1


Após a realização de todas as medidas consideradas viáveis, o efluente final da J1
ainda seria de cerca de 4.100 L/min. Poderia ser instalado um tanque subterrâneo
onde hoje está a calha Parshall, bombeando-se esta água para um separador de fibras,
seguido por um leito de areia, que recuperaria cerca de 2.500 L/min. (Ver balanços
nas Figuras 70 e 71)

Medida similar havia sido adotada na VCP – Piracicaba, mas estudos mais profundos
deveriam ser desenvolvidos para que se tivesse segurança da qualidade da água
recuperada e para os seus usos.

Sistema existente
Make-up
(quebras
prolongadas, etc.)
Água Água
341 L/min
selagem Chuveiros
Água
refrigeração
Make-up
Sistema de vácuo
758 L/min

Transbordo
Tanques
água branca Máquina de papel
888 L/min

Lavagem Água
de toras Água morna
1.583 L/min branca

Água branca
Recuperada
1377 L/min

Efluente
9.037 L/min

Figura 70 – Principais consumos e geração de águas residuárias da máquina de


papel (J1).
277

Sistema proposto
Make-up
(quebras
prolongadas, etc.)
Água Água 0 L/min
selagem Chuveiros
Água
Make-up refrigeração
Sistema de vácuo
57 L/min
Torre
resfriamento

Transbordo
Tanques
água branca Máquina de papel
0 L/min Tanque
Água fria
Lavagem
de toras Água Água
1.583 L/min branca morna

Tanque água
Branca (JE1)
1.585 L/min
Efluente
4.163 L/min

Figura 71 – Proposta para otimização do consumo de água e da geração de águas


resísuárias na máquina de papel (J1).

c) Máquina Coater JC2

A JC2 já tinha um circuito de águas bastante fechado, pois o efluente total da


máquina estava em torno dos 150 m3/d.

Uma medida que beneficiaria bastante o tratamento das águas residuárias seria a
separação das tintas do restante do efluente industrial por intermédio da micro
filtração. Mas esta alternativa já havia sido testada com resultados insatisfatórios. A
tinta recuperada neste processo era de qualidade inadequada para a linha de produtos
da VCP, portanto, seria necessária a criação de uma nova linha de produtos de
qualidade inferior e de um centro de estocagem da tinta recuperada para que se
pudesse ter volume suficiente para a produção durante um tempo viável.

d) Máquina Extratora JE1


278

Esta máquina é muito antiga e estava em vias de ser desativada, além do mais a
geração de águas residuárias era bastante baixa, principalmente porque a linha de
fibras A utilizava toda a água branca gerada pela JE1.

e) Máquina Extratora JE2

Foram identificadas as seguintes medidas para redução da geração de águas


residuárias e do consumo de água.

Separação das Bombas de Água Branca

A JE2 possuía um problema crônico, que era a capacidade da bomba de água branca,
insuficiente para bombear todo o excedente para a torre, provocando transbordo no
tanque de armazenagem e causando a necessidade de “make-up”de água morna, na
torre durante quebras prolongadas.

A solução mais simples seria aumentar a capacidade da bomba existente, mas ainda
restaria um outro problema, que era o fato de esta bomba alimentar dois pontos com
requerimentos de pressão bastante diferentes.

Assim sendo, a alternativa mais viável seria deixar a bomba existente,


exclusivamente para bombear água branca para a diluição da torre de alta
consistência B. Para a transferência da água excedente do tanque para a torre de água
branca, instalar-se-ia uma nova bomba, exclusivamente para esta função.

Fechamento do Circuito de Água Morna

O tanque de água quente apresentava um excedente de água da ordem de 1.000


L/min, que era enviada ao tanque de água branca e finalmente à ESTAR. Esta água
era limpa e poderia ser enviada à torre de resfriamento da fábrica.
Para tanto, poucas modificações seriam necessárias:
279

• Modificar o encaminhamento da tubulação para a torre de resfriamento (a


capacidade da bomba era suficiente).
• Substituir a válvula de controle.

Diluição da Torre de Alta Consistência A com Água Branca da JE2

Outro ponto de desequilíbrio do sistema de águas da JE2 ocorria quando havia


consumo de massa da linha A. Nesta situação, cerca de 650 L/min de água com as
fibras eram enviados à JE2, causando um excedente, e ao mesmo tempo, a
necessidade de reposição na JE1.

Para solucionar este desequilíbrio, foi proposta a instalação de uma bomba nova,
exclusiva para esta função, instalada na torre de água branca, aproveitando o bocal de
dreno cujo diâmetro é de 300 mm. Esta bomba faria a diluição na torre de alta
consistência da linha A. Como existia a possibilidade da a JE2 trabalhar com 100%
de fibras da linha A (ECF), a bomba deveria ser dimensionada para diluir até 500
ADT por dia.

Devido à grande variação de vazão nesta bomba, de cerca de 650 L/min em


condições normais e até 9.100 L/min de pico, foi sugerido um variador de freqüência
para o motor .

f) Caustificação e Forno de cal

Para a condição existente da caustificação e do forno de cal, foi considerado que toda
a água de refrigeração utilizada, quando não incorporada ao processo (bombas de
vácuo e compressores, lavador de gases - scrubber e refrigeração dos mancais do
forno de cal), seria enviada para a respectiva canaleta e encaminhada para a ESTAR.

Foi recomendado que a água utilizada nas bombas de vácuo, mancais do forno de cal
e compressores fosse incorporada ao circuito da torre de resfriamento. Entretanto, a
280

água de selagem dos compressores, devido à possibilidade de contaminação, não


deveria ser recuperada.

Também foi sugerido que a água de selagem das bombas de vácuo do filtro de dregs
fosse encaminhada para a torre de resfriamento .

Tratamento de condensado

Outra alternativa proposta foi a recuperação dos condensados contaminados por


intermédio da instalação de uma coluna de arraste (stripper).

Desta forma, ter-se-ia os seguintes ganhos:


- redução de 55% no fluxo de águas residuárias da área caustificação e forno de cal;
- aproveitamento total do condensado tratado (parte seria enviada ao tanque de água
quente da lavagem e parte à lavagem e diluição da lama, garantindo uma redução
nos valores de emissões atmosféricas referentes ao forno de cal);
- redução de metanol referente ao desvio do fluxo de condensado contaminado e
resfriado lançado à rede de efluente industrial (1.062 L/min).

g) Caldeira de recuperação

Nesta área, o ponto com potencial para recuperação de águas residuárias era a
selagem de bombas, resfriamento de amostras e descarga contínua da caldeira. Os
efluentes deveriam ser direcionados para um tanque coletor subterrâneo com bomba
vertical para enviá-los à ETA, à torre de resfriamento ou à ESTAR. Deveria ser
instalado um condutivímetro no tanque para evitar o bombeamento de água
contaminada. A economia prevista era de 290 L/min em operação normal.
Eventualmente, essa vazão poderia ser maior, dependendo da necessidade de
descarga contínua da caldeira.
281

O tanque coletor receberia a água de selagem da evaporação para ser bombeada junto
com as águas recuperadas da caldeira para a ETA ou torre de resfriamento. A
recuperação total de água seria de 400 L/min.

Na evaporação, a única descarga normal de efluente, com possibilidade de


recuperação seria a água de selagem das bombas. A água coletada em uma tubulação
comum seria levada por gravidade até um tanque coletor na caldeira de recuperação.
A economia prevista seria de 110 L/min.

h) Turbogeradores, ar comprimido e ar condicionado central

Nestas áreas a recuperação das águas utilizadas já era total.

i) Caldeiras auxiliares – GTV e CBC 80

Os efluentes das caldeiras GTV (biomassa) e CBC 80 (caldeira auxiliar) eram


basicamente águas de selagem, e resfriamento e descarga contínua das caldeiras. A
quantidade estimada, 94 L/min, poderia ser coletada em conjunto com a água
recuperada da ETAC- estação de tratamento de águas de caldeiras, perfazendo um
total de 156 L/min.

j) ETAC- Estação de tratamento de água de caldeiras

Grande parte do efluente desta área - o rejeito da osmose reversa - já era recuperada e
enviado como reposição para a torre de resfriamento. Um ponto potencial de
recuperação seriam as águas de selagem e de resfriamento das bombas que poderiam
ser canalizadas e direcionadas, por gravidade, para serem recuperadas em um tanque
coletor nas caldeiras auxiliares. A economia gerada por esta medida seria de 62
L/min.
282

Outro ponto de possível recuperação seria a água de retrolavagem dos filtros de areia
pressurizados (2.000 m3/d), que poderia ser coletada e enviada ao sistema de
recuperação em conjunto com a água de retrolavagem da ETA.

k) Linha de fibras

Foi constatado que não havia perdas significativas de água nesta área. As correntes
passíveis de recuperação seriam:

• Água industrial do amostrador de condensado p/ aquecedores (cozimento);


• Água industrial dos resfriadores de amostra (cozimento);
• Água morna dos resfriadores de gases (cozimento);
• Água de resfriamento da unidade hidráulica do raspador de fundo do digestor
(cozimento);

Destas, as duas primeiras correntes eram desprezíveis com vazões abaixo de 3L/min.
A terceira já era utilizada no branqueamento ou na torre.

A água de resfriamento da unidade hidráulica do digestor deveria retornar à torre de


resfriamento, porém, isto não ocorria devido à baixa pressão. A solução seria a
instalação de um tanque e uma bomba, mas como a vazão estava em torno de 78
L/min, o investimento não seria justificado.

l) Plantas químicas

O levantamento inicial indicou que as poucas alternativas possíveis para redução do


consumo de água e/ou geração de águas residuárias nas plantas químicas (planta de
dióxido de cloro, planta de dióxido de enxofre, planta de ozônio, manuseio de soda
cáustica e planta de água gelada) representavam muito pouco em termos de vazão e
requeriam altos investimentos. Em vista disso, não foram propostas medidas de
otimização para estas unidades.
283

m) ETA - Estação de tratamento de água

A ETA tem um único ponto de geração de efluentes que é a água de retrolavagem


dos filtros (2.800 m3/d). Esta água poderia ser coletada e enviada ao sistema de
recuperação em conjunto com a água de retrolavagem da ETAC.

O sistema de recuperação destas águas (ETA e ETAC) seria composto de um tanque


de sedimentação com purga periódica do lodo sedimentado, que seria enviado à
ESTAR, enquanto a água recuperada seguiria para o sistema de captação.

2) Resumo das alternativas propostas no projeto fechamento de circuitos

A tabela 36 resume as principais recomendações, com os seus respectivos custos de


implantação e benefícios em termos de redução de consumo de água e geração de
águas residuárias.

Tabela 36 - Resumo das alternativas propostas para redução do consumo de água e


da geração de águas residuárias.
Redução de Redução Redução
Custo águas de de DBO5,20
Código Descrição
(R$) residuárias Água (kgO2/adt)
(9)
(l/min) (l/min)
Recirculação do excesso de
210 água morna da JE2 para a 74.458 1.002 972(4) 0,03
torre de resfriamento
Instalação de torre de
120 resfriamento no sistema de 171.977 717 702 0,03
vácuo da J1
Reforma e rearranjo dos 2.184
130(5) tanques de água fria e 214.417 3.769 + zero
morna da J1 1.475(2)
Recuperação de água do
320 sistema vácuo – lama e 37.119 336 326 -
mancais do forno
284

Redução de Redução Redução


Custo águas de de DBO5,20
Código Descrição
(R$) residuárias Água (kgO2/adt)
(9)
(l/min) (l/min)
Recuperação de água
310 35.894 230 223 -
sistema de vácuo – dregs
Evaporação/caldeira de
400 84.785 401 389 -
recuperação
Separação do bombeamento
220 323.836 850 850 -
de água branca da JE2
Coleta de água da ETAC e
410 60.000 156 151 -
caldeiras auxiliares
Recuperação de águas de
900 retrolavagem da ETA e 725.000 - 3 333 -
ETAC
Diluição da TAC A com
110 421.096 648 629 0,02
água branca da JE2
0,67 kg
300 Tratamento de condensado 2.347.103 1.095 1.062 metanol/A
DtB
1.249.118
Instalação de torres de água
140 (1 736 341(3) 341(3) 0,37(3)
branca e refugos na J1
718)(8)
Clarificação das águas
150(6) 890.000 ~2.500 ~2.500 -
residuárias da J1
285

Redução de Redução Redução


Custo águas de de DBO5,20
Código Descrição
(R$) residuárias Água (kgO2/adt)
(9)
(l/min) (l/min)
(1) Os custos são estimativos. Incluem todos os impostos, fretes, embalagem, material de campo,
equipamentos, civil, elétrica e montagem. Não estão incluídos os serviços como, engenharia,
treinamento, assistência à partida, etc.
(2) A redução de consumo de água aparecerá como redução de consumo de água quente da je1 e
finalmente no “make- up”da torre de resfriamento da fábrica.
(3) Valores estimados, uma vez que a economia gerada será devido à redução de transbordos em
tanques de refugos e redução de “make up” de água fresca durante quebras.
(4) Esta redução de consumo de água vai se refletir na diminuição do “make up” da torre de
resfriamento.
(5) A medida 130 só é eficaz se a medida 120 for adotada antes.
(6) Apesar da medida 150 parecer atraente, ela está colocada em último lugar porque são necessários
testes e maiores experiências para que se possa definir os usos (destinos) desta água economizada.
(7) Todas as economias de água geradas por retorno à torre de resfriamento, apresentam uma perda de
cerca de 3%, que são as perdas por arraste, evaporação e transbordo da torre.
(8) A solução otimizada para a sugestão 140 seria a instalação das torres em conjunto com a instalação
de um engrossador de refugos para o “couch pi”t. Caso se optasse por instalar este equipamento, o custo
adicional de medida 140 seria cerca de r$ 487.600. A relação (custo adicional)/(benefício adicional) não
justificaria este investimento.
(9) Os valores específicos estão considerados em relação à 1.333 teladas por dia de celulose
branqueada “air dry” (adt/d)

Considerando-se todas as modificações sugeridas, com exceção da medida 150


(aproveitamento das águas residuais da J1), estimou-se um consumo total de água de
aproximadamente 52.200 m3/dia (39,1 m3/ADT) contra os 69.700 m3/dia (52,3
m3/ADT) da situação existente, representando cerca de 25% de redução. A vazão de
águas residuárias geradas resultou em aproximadamente 36.720 m3/dia contra os
50.430 m3/dia na condição existente (sem o projeto), representando cerca de 27% de
redução.
Este fluxo total de águas residuárias considerava o estágio Z no branqueamento B
totalmente aberto. Considerando-se o estágio Z fechado, chegar-se-ia a uma geração
total de 33.430 m3/d, representando cerca de 34% de redução. Da mesma forma, o
consumo de água estimado seria cerca de 49.000 m3/d. Vale lembrar que nesta
286

situação haveria um excesso de água quente que deveria retornar à torre de


resfriamento.

Além da redução nos custos do tratamento de água e no tratamento de águas


residuárias, previa-se os seguintes benefícios:
• Aumento da eficiência das bombas de vácuo por trabalharem com temperaturas
mais controladas;
• Melhora no aproveitamento térmico da J1 e JE1, reduzindo o consumo de vapor;
• Benefícios operacionais, proporcionando uma “receita” mais estável na
produção de papel, devido à existência de um pulmão para dosagem de refugos.
• Redução na demanda de produtos químicos na área de fabricação de papel, pois
uma maior parcela deles seria recirculada no processo. Ocorreria também um
melhor aproveitamento térmico da instalação (calor devolvido ao sistema)
• Redução das emissões atmosféricas referentes ao forno de cal

3) Resumo dos balanços de água e da geração de águas residuárias


As Figuras 72 e 73 apresentam, respectivamente, um resumo do balanço do consumo
de água e da geração de águas residuárias no processo industrial
287

P 1200 - Balanço do consumo de água


ETA
Atual 43.523 L/min 62.674 m3/d 47,0 m3/ADT

Proposto 34.344 L/min 49.455 m3/d 37,1 m3/ADT

Redução: 21,1% ou 13.219 m3/d

3.333 Limpeza filtros


ETA
2.498 Cozimento
214
Depuração e pré-
295 Branqueamento A
Depuração e pré-
Branqueamento B
875
JE1- extratora de
9.609 (6.803) Celulose (úmida)
J1- maquina de
papel
215 Branqueamento
A
4.613 (3.763) JE2- extratora de
celulose
40
Caldeiras
auxiliares
280 Branqueamento
B
165 JC2 – Coater
de papel
44
Caldeira de
recuperação
4.236 Trat.água de
Caldeira (ETAC)
112
Evaporação

100
Água potável
1.349 Plantas
Químicas
180
Caustificação

806 Vila
Garcia
867
ESTAR
13.693 (8.589) Torre de
resfriamento

Figura 72 – Balanço do consumo de água – valores reais e projetados (em litros por
minuto).
288

1.042
Pátio de
madeira
396
Cozimento

295
Depuração e pré-
Branqueamento B
440
JE1- extratora de
Celulose (úmida) 1.237 (40)
Evaporação e
condensados
Branqueamento 9.149
A
105
Trat.água de
Caldeira (ETAC) 6.015
Branqueamento
B
Plantas 68
Químicas
Caldeiras 109
auxiliares
J1- maquina de 9.037 (4.163)
papel
JE2- extratora de 4.394 (1.891)
celulose

JC2 – Coater 130


de papel
Caldeira de 319 (30)
recuperação
100
Água potável

1.261 (695)
Caustificação

P 1200 - Balanço da geração de efluentes

Atual 34.581 L/min 49.797 m3/d 37,4 m3/ADT


ESTAR

Proposto 25.142 L/min 36.204 m3/d 27,2 m3/ADT

Redução: 27,3% ou 13.592 m3/d

Figura 73 – Balanço da geração de águas residuárias – valores reais e projetados


(em litros por minuto).
289

4) Medidas selecionadas pela VCP para serem implementadas no Projeto


fechamento de circuitos.

De todas as medidas elencadas (Tabela 38) no levantamento inicial, somente três


itens não foram selecionados para fazer parte do escopo do P-1.200. Os itens
incluídos e implementados foram:
• Recirculação do excesso de água morna da JE2 para a torre de resfriamento;
• Instalação da torre de resfriamento para o sistema de vácuo da J1;
• Reforma e rearranjo dos tanques de água fria e água morna da J1;
• Recuperação de água do sistema de vácuo do formo de cal;
• Evaporação/caldeira de recuperação;
• Separação do bombeamento de água branca da JE2;
• Recuperação de águas da ETAC e ETA;
• Diluição da torre de alta consistência com água branca da JE2.

Ressalta-se que o sistema de recuperação de água da ETAC e da ETA foi projetado e


implementado de forma diferente do que havia sido proposto no estudo inicial. No
sistema implementado no Projeto P 1.200, o efluente da contralavagem é
encaminhado ao canal de captação (por gravidade) e retorna ao sistema sem tanques
intermedários.

6.2.3.2 Investimentos do P 1.200

Os investimentos previstos neste projeto foram os seguintes:


Área US$
Linha de fibras A 7.800 mil
Extratora de celulose (JE2) 4.700 mil
Evaporação 5.000 mil
Torre de resfriamento 1.300 mil
Estação de tratamento de água 500 mil
ESTAR 13.500 mil
Precipitador eletrostático 4.000 mil
Fechamento de circuitos 2.000 mil
290

A análise econômica do investimento previa um período de retorno (payback) de 4


anos e dois meses. Do total previsto inicialmente, foram efetivamente investidos até
março/02 cerca de US$ 35 milhões.

Os investimentos associados diretamente ao controle e prevenção à poluição, foram


denominados “estratégicos” pela empresa. Aparentemente, em nenhum deles, foi
feita a análise do investimento sob a ótica da prevenção a poluição, no seu sentido
mais amplo.
O retorno esperado foi associado basicamente ao aumento da produção.

6.3 EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL NA UNIDADE JACAREÍ

A evolução tecnológica na VCP precedeu a evolução da gestão ambiental no seu


sentido mais amplo.
Os investimentos e os esforços dirigidos ao aprimoramento da gestão e da aplicação
das demais ferramentas da eco-eficiência foram mais intensos a partir de 1999.

Destacam-se as seguintes iniciativas:

Revitalização dos programas internos de conscientização ambiental e da semana de


meio ambiente
A partir de 1999, com objetivo de divulgar os programas e projetos ambientais da
empresa e aumentar o envolvimento dos profissionais são feitas inúmeras atividades
lúdicas, como teatros, gincanas e concursos durante a semana de meio ambiente. A
partir de 2001 essa atividade foi integrada a semana de prevenção aos acidentes de
trabalho, e passou a ser denominada: “Semana Integrada de Meio Ambiente e
Segurança no Trabalho”.

Implementação do programa de biomonitoramento do Rio Paraíba do Sul em


parceria com a USP-SC.
291

Em 1999 teve início o monitoramento das comunidades aquáticas em 04 pontos de


amostragem em um trecho de cerca de 20 km ao longo do rio Paraíba do Sul. Além
do acompanhamento biológico, são analisados cerca de 55 parâmetros fisico-
químicos e são realizados ensaios ecotoxicológicos. O biomonitoramento tem como
objetivo avaliar o efeito do lançamento dos efluentes tratados no corpo receptor em
termos variação dos índices de riqueza e diversidade das espécies, indice gonodal e
maturação sexual (peixes), entre outros.

Implementação da coleta seletiva.


A partir de 2000 foi implementada a coleta seletiva na fábrica. Foi contruída uma
central de resíduos para armazenagem dos materiais que são encaminhados para as
empresas recicladoras. Este projeto também abrangeu a substituição de embalagens
de materias-primas por embalagens recicláveis e/ou retornáveis.

Projeto de adequação do sistema de gestão ambiental em conformidade com a


norma ISO 14001.
Este projeto teve início em 2000 com previsão de certificação em 2002, entretanto,
devido as obras do projeto de expansão (P-2.000) a certificação foi postergada para
2003. Como parte da metodologia prevista na norma e para facilitar a avaliação de
significância e criticidade dos aspectos e impactos, foi desenvolvido um aplicativo –
denominado SGA- que permite cadastrar e correlacionar as atividades da fábrica com
os aspectos e com os impactos ambientais, além de permitir também a sua correlação
com a legislação ambiental aplicável. Foram treinados 23 monitores ambientais nos
diferentes processos e áreas, incluindo-se os provedores, com objetivo de tornar a
gestão ambiental descentralizada (atuando-se na fonte) mais efetiva.
Foi criada também a equipe do SGA- Sistema de gestão ambiental, específica para
auxiliar e coordenar as ações relacionadas à esta questão.
292

Elaboração e publicação do relatório de desempenho.


Em 2001 e 2002 foram elaborados e publicados os Balanços Sociais e Ambientais do
grupo VCP. Esta publicação apresenta os pontos mais relevantes as ações ambientais
da empresa relacionadas à gestão, o desempenho ambiental, os investimentos e os
projetos ambientais.

Estima-se que foram investidos até 2002, cerca de US$ 350 mil nestes projetos (sem
contar os custos de mão-de-obra).

6.4 CONTABILIADE AMBIENTAL


A contabilidade ambiental foi realizada segundo a metodologia preconizada pelo
CCPP (2001).
Ressalta-se, no entanto, que esta implementação foi parcial e voltada para a
contabilidade gerencial. Priorizou-se a identificação dos resíduos perigosos gerados
na Unidade e dos custos associados ao seu tratamento e descarte. Em um segundo
momento, modificou-se a forma de apropriação dos custos relacionados ao
tratamento e disposição final, que passaram a ser de responsabilidade das áreas
geradoras
293

7 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

7.1 RESULTADOS DO PROJETO P 600

Com a implementação da nova caldeira de recuperação (e desativação do sistema


antigo), da nova evaporação e do turbogerador, além dos ganhos de produção –
aumento de 15%, houve a melhora dos indicadores ambientais, conforme
apresentado nos próximos itens deste capítulo.
Todavia, os ganhos ambientais decorrentes do projeto P-600 não são os mais
significativos, quando comparados aos demais projetos implementados.

Nesta fase, devido à falta de dados não foi possível analisar se houve ganhos
relacionados à geração de resíduos sólidos.

7.1.1 Emissões hídricas


A Tabela 37 apresenta a evolução da produção de celulose e papel e dos indicadores
das emissões hídricas no período de 1992 a 1997. As Figuras 74 a78 mostram a
evolução destes indicadores graficamente.

Tabela 37 - Evolução da produção de celulose e papel e dos indicadores das


emissões hídricas.
Produção Vazão
Celulose Produção Produção Efluente DBO e DBO s DQO e DQO s Cor AOX
Ano (ADT) Papel (t) vendável (t) (m3/t) (kgO2/t) (kgO2/t) (kgO2/t) (kgO2/t) (kg Pt/adt) (kg/adt)
1992 178764 105974 208452 88,0 26,0 2,8 90,6 31,5 184 -
1993 149472 112268 184416 88,5 29,7 2,9 104,5 31,6 173 1,26
1994 186264 117159 221826 74,9 31,8 3,9 103,9 37,3 181 1,82
1995 194568 102486 228870 66,2 16,2 1,9 59,7 20,3 111 0,90
1996 186888 81440 208236 78,9 24,0 2,9 70,8 21,6 81 1,30
Adt – air dry t – telada seca ao ar ; AOX – organo- halogenados
Produção vendável – inclui a soma da produção vendável de celulose e de papel
e = entrada da ESTAR ; s = saída da ESTAR
294

Houve uma redução significativa da cor do efluente industrial como decorrência da


otimização do sistema de recuperação de produtos químicos e da menor perda de
licor. Antes do projeto, a cor média do efluente oscilava entre 1.500-1.900 mg Pt-
Co/L e depois, ela foi reduzida para valores entre 600 e 1.000 mg Pt-Co/L.

Verifica-se que os indicadores ambientais relacionados às emissões hídricas,


notadamente, DQO, DBO5,20 e cor, foram os mais afetados (positivamente) pelo
projeto. Estes resultados reforçam a influência da tecnologia no desempenho
ambiental, uma vez que não foi contemplado nenhum item de controle à poluição
(final de tubo). Tais resultados corroboram com os encontrados por Axegard at
al.(1999) e Lachenal (1999).

Mesmo sem a utilização da deslignificação com oxigênio, a DQO no efluente


industrial (após tratamento) ficou abaixo dos valores preconizados no selo verde
Nordic Swan (30 kg/ADT) (Nordic Swan, 2001). Destaca-se que este selo tem como
base os processos europeus que utilizam madeira softwood – que possui composição
química e propriedades diferenciadas da madeira hardwood (eucalipto). Com isso, o
perfil do número kappa e demais condições de cozimento e de branqueamento são
diferentes. O grau de deslignificação obtido no cozimento é menor para madeiras
softwood (perfil de kappa mais elevado), quando comparado com o cozimento de
madeira como o eucalipto (IPPC, 2000).

Conforme pode ser observado na tabela 39 e nas Figuras 75 e 76, houve uma redução
da carga orgânica (DBO5,20 e DQO) na entrada da ESTAR em decorrência das
mudanças no processo produtivo. Os valores de DQO indicam a mesma tendência
que a DBO, embora deva ser ressaltado que a DQO total não é um bom indicador
para estimar a carga orgânica de efluentes de celulose, pois o .arraste de fibras
contribui para a DQO. Com isso, aumentos ou reduções neste parâmetro podem
indicar somente variação na perda de fibras e podem não significar alteração na carga
orgânica passível de ser degradada na ESTAR (para tempo de detenção hidráulico
projetado para as lagoas e sistemas de lodos ativados). A DQO solúvel ou COT são
295

parâmetros mais representativos para a análise e quantificação da carga orgânica no


efluente bruto de fábricas de celulose e papel.

Evolução da vazão (m3/t)


100

90
80

70

60

50

40

30

20
10

0
1992 1993 1994 1995 1996

Figura 74 – Evolução da vazão específica de águas residuárias ao longo do tempo.

Evolução da DQO (kg O2/t)


120
DQO entrada DQO saída
100

80

60

40

20

0
1992 1993 1994 1995 1996

Figura 75 – Evolução da DQO específica nos afluentes e efluentes da ESTAR.


296

Evolução da DBO5 (kg O2/t)


35
DBO saída DBO entrada
30

25

20

15

10

0
1992 1993 1994 1995 1996

Figura 76 – Evolução da carga específica de DBO5,20 nos afluentes e efluentes a


ESTAR.

Evolução da cor (kg Pt-Co/ADT)


200
180
160

140
120
100
80

60
40

20
0
1992 1993 1994 1995 1996

Figura 77 – Evolução da cor específica do efluente industrial.


A maior eficiência da lavagem da polpa também contribuiu para a redução da cor e
da DQO das águas residuárias, conforme sugerido por Springer (1993) e Holgund
(1999).
297

7.1.2 Emissões atmosféricas

A Tabela 38 e as Figuras 79 a 81 apresentam a evolução das emissões atmosféricas


ao longo do projeto.

Tabela 38 - Emissões atmosféricas e produção.


Produção
Celulose Produção Produção TRS SO2 MP
Ano (ADT) Papel (t) Vendável (t) (kg S/t) (kg S/t) (Kg/t)
1992 178764 105974 208452 - - 25,00
1993 149472 112268 184416 - - 15,68
1994 186264 117159 221826 0,036 1,22 17,66
1995 194568 102486 228870 0,162 1,04 3,86
1996 186888 81440 208236 0,047 2,00 6,95
ADT- tonelada de celulose seca ao ar
Produção vendável inclui a soma de celulose e papel
298

Emissão de Material Particulado (kg/t)

30

25

20

15

10

0
1992 1993 1994 1995 1996

Figura 78 – Evolução da emissão específica de MP.

Emissão TRS (kg S/t)


0,25
Problem as operacionais no forno

0,2

0,15

0,1

0,05

0
1992 1993 1994 1995 1996

Figura 79 – Evolução da emissão de TRS.

Emissão de SO2 (kg S/t)


2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
1992 1993 1994 1995 1996

Figura 80 – Evolução da emissão específica de SO2.


299

Em termos de TRS - gases reduzidos de enxofre- os dados indicam que conforme


esperado, o grande ganho na redução das emissões deveu-se à desativação dos
concentradores de licor, que apresentavam emissões superiores a 22 ppm. As
emissões de SO2, por sua vez, não foram reduzidas devido à maior queima de óleo
nas caldeiras.

Conforme preconizado por Springer (1993), a redução da emissão de material


particulado (MP) deveu-se à substituição dos equipamentos antigos de concentração
e oxidacão do licor, pela caldeira de recuperação dotada de precipitador eletrostático.

A substituição do sistema antigo de recuperação do licor e as mudanças na


evaporação também foram responsáveis pela redução das emissões dos gases
reduzidos de enxofre (TRS), exceto em 1995 (Figura 79). Nesse ano, o aumento das
emissões deveu-se a problemas no forno que incinerava os gases coletados no
processo.

7.2 RESULTADOS DO PROJETO ECF

De todos os projetos citados, o ECF foi o mais importante do ponto de vista


ambiental. O uso de tecnologias inovadoras, como por exemplo, a utilização do
ozônio no branqueamento em paralelo com as tecnologias consideradas – BAT foram
destaque neste projeto.

Os principais ganhos ambientais associados ao processo produtivo e à tecnologia


empregada foram: maior rendimento do cozimento; menor carreamento de matéria
orgânica nos filtrados; menor consumo de água; redução na geração de águas
residuárias, diminuição das emissões atmosféricas, redução das emissões hídricas
(DQO, DBO, AOX) e minimização do consumo de energia. Estes ganhos também
foram constatados por IPPC (2000), Springer (1993), Hoglund (1999) e Mjoberg
(1999).
300

7.2.1 Rendimento do cozimento

O rendimento do cozimento e o grau de deslignificação têm relação direta com a


quantidade de cavaco (madeira) consumida para produção da polpa e com a maior
remoção de lignina, que permite aumentar a quantidade de energia recuperada via
sistema de recuperação de produtos químicos. Além da recuperação de energia
(devido ao envio de uma quantidade de sólidos maior para a caldeira de recuperação)
há um menor carreamento de matéria orgânica com a polpa, permitindo reduzir o
consumo de insumos químicos e a carga orgânica dos filtrados e nas águas
residuárias (Lachenal et. al., 1999; IPPC, 2000; Hoglung, 1999).

A Figura 81 indica de forma simplificada a evolução do cozimento, da


deslignificação (pré-branqueamento) e do branqueamento com respeito à remoção de
lignina (número kappa) e à geração de águas residuárias. Pode-se observar que o
Projeto ECF -implementado em 1997, utilizava tecnologia inovadora, conforme pode
ser visto pelos números Kappa de saída do cozimento e de entrada do branqueamento
(Hoglund, 1999; Axegard, 1997 e Lachenal et al., 1999).
301

0 10 20 30 NÚMERO KAPPA

1970 Branqueamento Cozimento

Branquea-
1973 Deslignificação Cozimento
mento

efluente Licor-recuperação

Branquea- Desligni-
1989 mento Cozimento modificado
ficação

Branquea-Desligni-
2000 - mento ficação
Cozimento modificado

kappa 9-10 13-14

VCP Branquea-Desligni-
Cozimento modificado
mento ficação
ECF

Figura 81 – Evolução tecnológica da produção de celulose versus o número kappa.

Mais recentemente, devido à evolução da tecnologia e do reconhecimento da


influência dos ácidos hexanurônicos (Rodrigues et. al, 2000; Finchem, 1998) no
processo de deslignificação e de branqueamento, foram desenvolvidos e
implementados estágios ácidos no branqueamento. Com isso, o kappa de saída do
digestor pôde ser alterado (aumentado), proporcionando maior rendimento da
polpação e garantindo-se desempenhos similares aos obtidos em kappa mais baixo.
Em outras palavras, pode-se operar com números kappas mais elevados sem afetar
negativamente as etapas subseqüentes, com relação ao consumo de produtos
químicos, carreamento de carga orgânica e eficiência do branqueamento. Esta
modificação é comentada em mais detalhes no item a seguir.
302

7.2.2 Carreamento de matéria orgânica nos filtrados e eficiência do


branqueamento

Conforme foi citado no item anterior, o carreamento de matéria orgânica nos


filtrados (e na polpa) é decorrente principalmente: do tipo de cozimento, da presença
ou não da deslignificação com oxigênio, do tipo de lavagem da polpa e do grau de
fechamento dos circuitos de filtrados.

Quanto maior este arraste, maior será o consumo de produtos químicos no


branqueamento, maior a perda de sódio e de enxofre pelas efluentes industriais e
maior será sua carga orgânica (Springer, 1993; Gleadow et. al., 1998; Chirat et.al.,
1999; Warnqvist, 1999 e Reeve, 1999).

Como conseqüência, há a necessidade de se repor mais sódio e enxofre no processo,


aumentar a dosagem de produtos químicos no branqueamento e
aumentar/redimensionar a ESTAR visando comportar a (maior) carga afluente.

Todas as conseqüências citadas implicam ao mesmo tempo em maior custo de


produção da celulose e em maiores impactos ambientais (Figura 82). Percebe-se
claramente que o uso das melhores tecnologias permite a prevenção à poluição,
reduzindo os custos operacionais do processo produtivo e os custos associados ao
controle da poluição - é o conceito “win-win” (WBCSD, 2000a).
303

Figura 82 – Principais tecnologias e sua correlação com os aspectos ambientais.


Consumo
Carga orgânica Carga orgânica Perda de químicos
Tecnologia (filtrados) (polpa) Na e S branqueamento

Cozimento
“lo-solids”

Deslignificação
com oxigênio

Lavagem eficiente
(uso prensas)

Controle de
Perdas (spills)

Em contrapartida, o grau de fechamento de circuito - maior recirculação e


reaproveitamento dos filtrados - afeta negativamente a concentração de matéria
orgânica (e inorgânica) nos mesmos. Embora a carga orgânica nos efluentes do
branqueamento possa ficar inalterada, há um maior consumo de produtos químicos
no branqueamento e problemas de aumento da precipitação de sais (notadamente
oxalatos de cálcio e magnésio) nos equipamentos (IPPC, 2000; Silva et. al., 2000;
Warnqvist, 1999 e Finchem, 1998).

Este efeito deletério foi observado após a partida da nova linha de branqueamento,
com problemas de precipitação excessiva de sais, consumo de produtos químicos no
branqueamento muito superior aos valores projetados (Figura 86 ), dificuldade de
branqueamento da polpa (baixa eficiência nos estágios Z e PO) e alta instabilidade do
processo. Além destes aspectos, devido ao consumo de dióxido de cloro estar acima
da capacidade da planta química, houve também, redução da produção média diária –
que ficou menor do que a esperada (Figura 83).
304

Produção média diária (ADT)


900

800

700
600

500

400
300

200
100

0
Projeto ECF ECF modificado

Figura 83 – Produção diária de celulose.

Para minimizar os problemas detectados foram adotadas as seguintes medidas


paliativas:
• Abertura parcial do circuito do estágio de ozonização, visando reduzir as
concentrações de sais – e reduzir as incrustações além de aumentar a
eficiência do branqueamento;
• Redução do kappa na saída do digestor.

Entretanto, estas medidas não foram suficientes para manter o branqueamento estável
e reduzir os consumos de produtos químicos.

Como conseqüência, depois de estudos e ensaios em laboratório - feitos em parceria


com a Universidade de Viçosa, foi alterada a seqüência de branqueamento, que
passou a ser: OOZ(DQ)(PO) conforme indicado na Figura 84.
305

Projeto ECF-Filtrados e branqueamento Linha B


Seqüência: OOZD(PO)
De Agosto/1998 a Setembro/ 2000

Água
Prensa 1010 Prensa 1002
Água Quente Branca
Filtro 1032
Filtro 1001 Prensa 1018
Difusor 1006 Água
Quente

Água

O O Z D (PO)

Para tanque Efluente


de licor Efluente
7 m³/adt
negro diluído 2,5 m³/adt

Figura 84 – Representação esquemática do branqueamento após modificações.

Após estas modificações houve uma redução de 46,7% do consumo de dióxido de


cloro, que passou de 30 kg/ADT para 16 kg/ADT. O consumo de peróxido foi
ligeiramente reduzido, de 9 kg/ADT para 8 kg/ADT (Figura 86).
A produção média da linha B elevou-se de 620 para 830 toneladas diárias (Figura
83).

Porém, essas modificações também acarretaram redução da eficiência de


deslignificação, que, por sua vez, causou o aumento do número kappa nas diversas
etapas subseqüentes do processo. A explicação para este efeito, segundo Rodrigues
(2000), seria o aumento da produção e a retirada de um equipamento de lavagem
entre os reatores de oxigênio, que reduziu a eficiência da lavagem, aumentando o
carreamento de matéria orgânica para os estágios subseqüentes (Figura 85).

Embora o aumento do número kappa pareça não ser significativo, seus efeitos
danosos ao processo em termos da estabilidade do branqueamento, do consumo de
produtos químicos e da eficiência dos estágios Z e PO são relevantes (Finchem,
1998).
306

Evolução do número Kappa


16
ECF ECF modificado
14

12

10

0
Digestor Deslignificação Op Ozônio

Figura 85 – Número kappa na linha B do processo ECF com e sem modificações.

Consumo de produtos químicos no branqueamento (kg/ADT)


35
Projeto ECF ECF modificado
30

25

20

15

10

0
Dióxido (D) Peróxido (P)

Figura 86 – Consumo de produtos químicos na linha B, projetado, obtido no


processo ECF sem e com as modificações.
307

Em setembro de 2000, visando otimizar ainda mais o branqueamento de modo a


aumentar o kappa do digestor, aumentar a eficiência do estágio de ozônio e a
estabilidade do processo, ao mesmo tempo em que se reduzia o consumo de produtos
químicos e as incrustações, a seqüência de branqueamento foi novamente alterada.
Esta modificação fez parte do escopo do projeto P 1.200.
Foi introduzido um estágio ácido antes da ozonização, conforme mostrado na Figura
87.

Projeto ECF-Filtrados e branqueamento Linha B


Seqüência: OAZD(PO)
De setembro/ 2000 até hoje

Água Quente Água


Água
Branca
Filtro 1001 Prensa 1002 Prensa 1010 Prensa Quente
1018

Água Filtro
1032

O A Z D PO

Para tanque Efluente Efluente Efluente


de licor 5 m³/adt 3 m³/adt 7 m³/adt
negro diluído
Difusor
1006

Figura 87 – Representação esquemática do branqueamento a partir de setembro de


2000.

Após esta modificação, observou-se os seguintes ganhos (Silva e Colodette, 2000):


• Redução no consumo de dióxido e de peróxido de 24% e 28%, respectivamente;
• Redução do kappa antes do estágio de ozônio de 9,8 para 5,7, e, depois do
estágio, de 6,6, para 4,4;
• Redução de 54% do teor de oxalato de cálcio na polpa (antes da modificação o
teor de oxalato na polpa era cerca de 2,01 kg/ADT passando para 0,89 kg/ADT
depois da introdução do estágio ácido);
• Redução do teor de ácidos hexanurônicos em 59%, melhorando a eficiência do
estágio de ozônio.
308

Outra conseqüência das modificações feitas no Projeto ECF (maior abertura do


circuitos e deficiência na lavagem de massa) foi o aumento da carga orgânica (em
termos de DBO) na entrada da ESTAR. Os valores observados -entre 19.000 e
23.000 kg O2/dia ficaram acima do valor projetado- 17.500 kg O2/dia.

Os efeitos desta abertura na eficiência da ESTAR serão comentados em mais


detalhes nos itens a seguir (geração de águas residuárias e emissões hídricas).

7.2.3 Consumo de água

A Figura 88 apresenta a evolução da vazão específica de água captada no Rio


Paraíba ao longo do tempo

Vazão de água captada (m3/t)


100

90

80

70

60

50

40

30

20
1996 1997 1998 1999

Figura 88 - Evolução da vazão específica de água captada ao longo do tempo.

Observa-se que houve uma redução no consumo de água devido à implantação do


Projeto ECF. Esta redução deve-se à maior eficiência de lavagem da massa, ao maior
reaproveitamento dos filtrados, da água branca, dos condensados e dos circuitos
fechados de água de refrigeração, conforme constatado por por IPPC (2000);
Lachenal et.al. (1999) e Axegard et.al. (1997) entre outros.
309

Também contribuíram para a redução no consumo de água o uso de selos mecânicos


e águas de selagem em circuito fechado e sistemas de “spills” (perdas de licor) bem
dimensionados e com controle de condutividade – que permitiram retornar ao
processo os derrames e perdas a partir de uma determinada condutividade (2000
uS/cm).

Considerando-se que a entrada em operação das novas unidades aconteceu durante o


ano de 1997, a redução do consumo de água também ocorreu nos dois anos
subseqüentes devido aos ajustes do processo. A redução obtida foi significativa:
38,3%.

7.2.4 Geração de águas residuárias.

Os mesmos aspectos identificados na redução da vazão de água captada puderam ser


também correlacionados com a redução da vazão de águas residuárias (Figura 89).
Após o projeto, a vazão específica do efluente indutrial foi reduzida de 79 m3/t para
40 m3/t.

Vazão de efluente (m 3/t)


90

80
70

60

50
40
30

20
10

0
1996 1997 1998 1999

Figura 89 - Evolução da vazão de águas residuárias.

Com respeito ao grau de fechamento de circuitos previstos no projeto ECF – geração


de 5m3/ADT (no branqueamento) cabem as seguintes considerações à luz da
310

evolução tecnológica e dos resultados observados nos projetos implementados depois


de 1997:

• A tecnologia existente, disponível e viável técnica e economicamente até a


presente data indicou que o valor previsto para a geração de águas residuárias era
inexeqüível, devido aos problemas de concentração de metais e de outros
compostos indesejáveis que afetam diretamente o desempenho do sistema. Estes
efeitos deletérios foram verificados na Unidade Jacareí e especialistas como
Mjoberg (1999) e Warnqvist (1999) estimam que hoje só são viáveis sistemas
com a geração mínima de 8-10 m3/ADT;

• Os sistemas testados e implementados para a retirada de metais e de matéria


orgânica que permitem reduzir a geração de águas residuárias, porque
possibilitam aumentar a reutilização dos filtrados, ainda não atingiram os
resultados preconizados por IPPC (2000); Warnqvis (1999) e Axegard et.al.
(1997). Além dos custos envolvidos, existem problemas técnicos, como, por
exemplo, a eficiência e rendimento das membranas filtrantes.

• Os problemas detectados no fechamento de circuitos conduziram a investigação


dos fatores intervenientes no processo, por exemplo, a influência dos ácidos
hexanurônicos, além do desenvolvimento de novas alternativas para o
branqueamento, como estágios ácidos a exemplo do que foi instalado na Unidade
Jacareí (Finchem, 1998 e Silva et.al., 2000).

As Figuras -90 e 91- evolução da DBO5,20 e da DQO mostram que houve uma
redução substancial na carga orgânica específica afluente a ESTAR entre 1996 e
1998, como decorrência das mudanças tecnológicas implementadas no projeto,
notadamente: alteração no processo de cozimento, implantação da deslignificação
com oxigênio (para as duas linhas de branqueamento), seqüência de branqueamento
na linha nova (B) que permitiu maior fechamento de circuitos (menor carreamento de
carga orgânica) e mudanças no sistema de lavagem de massa. Tais resultados
concordam com os encontrados por Reeve (1999), Hoglun, (1999) e Mjoberg (1999).
311

DBO5, 20 das águas residuárias (Kg O2/t)


30
DBO entrada DBO saída
25

20

15

10

0
1996 1997 1998 1999

Figura 90 - Evolução temporal da carga específica de DBO5,20 no afluente e no


efluente da ESTAR.

DQO no efluente industrial (Kg O2/t)


80
DQO entrada DQO s aída
70

60

50

40

30

20

10

0
1996 1997 1998 1999

Figura 91 - Evolução temporal da DQO no afluente e efluente da ESTAR.

Devido à mudança tecnológica, também era esperada a redução da vazão do efluente


industrial em termos absolutos, entretanto, devido à abertura parcial do circuito de
filtrados a vazão aumentou de aproximadamente 45.000 m3/dia para 50.000 m3/dia.
312

Da mesma forma, a carga orgânica prevista na entrada da ESTAR (em termos de


DBO) era 17.500 kg O2/dia, mas os valores observados foram superiores, entre
19.000 e 23.000 kg O2/dia conforme indicado na Figura 90.

Evolução da vazão e da DBO5,20


60.000
Vazão (m3/dia) DBO-entrada ESTAR (kg O2/dia)

50.000
Vazão de projeto

40.000

30.000

DBO de projeto
20.000

10.000

0
1996 1997 1998 1999

Antes do projeto Depois do projeto

Figura 92 - Comparação da evolução da vazão e da DBO antes e depois do projeto


ECF com os valores de projeto.

Estes dois aspectos, aliados ao assoreamento parcial das lagoas de tratatamento de


águas residuárias existentes na época, provocaram redução na eficiência do sistema
de tratamento. Com isso, tanto a DQO quanto a DBO5,20 do efluente tratado não
tiveram a redução esperada.
Como consequência, a DBO específica de efluente da ESTAR ficou acima do valor
de referência preconizado pelo IPPC (IPPC, 2000) que é de 1,5 kg O2/ADT.

A DQO específica do efluente tratado (Figura 91), por sua vez, apesar da deficiência
da ESTAR, ficou dentro da faixa de referência do IPPC (IPPC, 2000) e abaixo do
valor recomendado pelo selo verde Nordic Swan (Nordic Swan, 2000) que são,
respectivamente, 8-15 kg O2/ADT e 30kg O2/ADT.
313

Conforme observado por Homaki et.al. (1999), Reeve (1999) e Hoglund (1999),
tanto a cor das águas residuárias quanto à emissão dos compostos organoclorados-
AOX foram reduzidos drasticamente (Figuras 93 e 94). A forma mais efetiva para
redução da cor é por intermédio do cozimento eficiente, da deslignificação, da
lavagem eficaz e do controle e recuperação adequados das perdas de licor

Cor no efluente (Kg Pt-Co/t)


90

80

70

60

50

40

30

20

10

0
1996 1997 1998 1999

Figura 93 - Evolução da cor específica da água residuária ao longo do tempo.

A emissão específica de AOX-que representa a fração de orgaclorados solúvel em


água- ficou abaixo do valor recomendado pelo selo verde Nordic Swan que é 0,20
kg/ADT (Figura 94). Da mesma forma, como foi destacado para o parâmetro cor, a
redução efetiva da geração e da emissão destes compostos foi devido
preponderantemente ao uso de tecnologias adequadas e à substituição dos compostos
de cloro no branqueamento. Sistemas convencionais de tratamento de águas
residuárias de indústrias de celulose e papel removem entre 20 a 45% dos compostos
organoclorados -AOX (IPPC, 2000 e Payne et. al., 1999).

De forma similar ao que foi observada nas águas residuárias, a concentração de


organoclorados totais– expressa como OX - na polpa de celulose também foi
reduzida drasticamente em virtude do novo tipo de branqueamento. Para a polpa
proveniente da linha A (branqueamento standard), os valores típicos oscilam entre
314

400-500 g/ADT, enquanto que para a polpa da linha B (ECF) os valores encontrados
estão entre 70 a 120 g/ADT.

AOX no efluente industrial (Kg Cl/ADT)


1,40

1,20

1,00

0,80

0,60

0,40

0,20

0,00
1996 1997 1998 1999

Figura 94 - Evolução emissão específica de AOX durante o projeto ECF.

A Tabela 39 apresenta a evolução dos principais parâmetros relacionados às


emissões hídricas, comparando-os com os valores de referência do selo Verde Nordic
Swan e das melhores tecnologias disponíveis (IPPC, 2000 e Nordic Swan, 2000).

Tabela 39 - Comparação entre as emissões hídricas geradas antes e depois dos


projetos com valores de referência BAT ou Nordic Swan.
Depois do
Antes do projeto Referência
Projeto (De 1997 a BAT ou Observações
(1996) 1999) Nordic Swan

Vazão efluente (m3/ADT) 60,0 30,7 30- 50 BAT


BAT
DQO(kgO2DT) efluente tratado 22,6 10,5 8-23
N. Swan=30
DBO5,20 (kg O2/ADT) efluente
2,47 2,39 0,3-1,5 BAT
tratado
Cor (Kg Pt-Co/ADT) efluente
133 24 - -
tratado
315

Depois do
Antes do projeto Referência
Projeto (De 1997 a BAT ou Observações
(1996) 1999) Nordic Swan

AOX (kg/ADT) efluente tratado 1,15 0,14 0,10-0,20 BAT

Sólidos em suspensão
2,4 2,5 0,6-1,5 BAT
(kg/ADT) efluente tratado
Fósforo Total (kg P/ADT)
- 0,04 0,02-0,03 BAT
efluente tratado

ADT- Celulose seca ao ar

Conforme indicado na Tabela 40, pode-se observar que os parâmetros vazão, DQO, e
AOX estão dentro da faixa recomendada pelo IPPC ou Nordic Swan, enquanto a
DBO, fósforo e os sólidos totais em suspensão estão acima.

7.2.5 Emissões atmosféricas

Conforme pode ser observado no Tabela 40 os parâmetros mais influenciados pela


mudança tecnológica e pela instalação de novos equipamentos de controle foram o
TRS, o SO2 e o material particulado.

Das tecnologias consideradas BAT segundo IPPC (2000) para controle e redução das
emissões atmosféricas, o projeto ECF contemplou:
• Uso de óleo combustível com baixo teor de enxofre;
• Coleta e incineração dos gases odoríferos concentrados e diluídos;
• Lavagem de lama de cal eficiente para reduzir o arraste de enxofre;
• Lavadores de gases (scrubers).
316

Tabela 40 - Comparação das emissões atmosféricas antes de após a implantação do


Projeto ECF em comparação com valores de referência BAT e Nordic Swan.
Depois do Referência
Antes do Projeto
Projeto BAT ou Nordic Observações
(1996)
(1997-1999) Swan
BAT
TRS (kg S/t) 0,098 0,036 0,100-0,200
N. Swan=0,20
BAT
SO2 (kg/t) 0,42 0,36 0,2-0,4
N. Swan=0,60
MP (kg/t) 10,3 3,61 0,2-0,5 BAT
Todos os valores são expressos por tonelada vendável e podem ser considerados equivalentes a o valor expresso
por ADT devido à proporção entre a produção de celulose vendável e a produção vendável de papel.
Os valores BAT não incluem as emissões das caldeiras auxiliares
Os valores Nordic Swan incluem as emissões das caldeiras auxiliares

O projeto ECF não contemplou tecnologias para redução e controle das emissões de
NOx, conforme indicado pelo IPPC (2000) e Ruohola et.al.(2000); em virtude disso,
os valores das emissões deste poluente 1,83 kg NO2/ADT estão ligeiramente acima
dos valores estipulados pelo selo verde Nordic Swan ( 1,7 kg/ADT – que considera
todas as fontes de emissão) e pelo IPPC (1,0 –1,5 – sem caldeiras auxiliares). O valor
correspondente à emissão de NOx excluindo-se a emissão da caldeira auxiliar é cerca
de 1,7 kg/ADT.

7.2.6 Geração de resíduos sólidos

Segundo IPPC (2000) as melhores técnicas disponíveis associadas à geração de


resíduos sólidos consistem basicamente em reduzir e maximizar a sua reutilização.
A nova linha de fibra apresentou perdas menores de fibras, ainda superiores às
tecnologias hoje existentes. Em muitas fábricas estão sendo instalados sistemas de
recuperação de fibras.
317

7.2.7 Consumo e cogeração de energia

Com respeito à fração de energia elétrica gerada e comprada, a partir da entrada em


operação dos turbogeradores (TG1 e TG2), a Unidade Jacareí passou a gerar a maior
parte da energia elétrica consumida na planta, (Figura 95) por meio da queima de
licor, complementada pela biomassa e óleo combustível. A Figura 96 indica a
evolução da matriz energética.

Geração de energia - cogeração (%)


80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1997 1998 1999 2000
Figura 95 - Evolução da cogeração de energia em relação ao consumo de energia
elétrica total.

Consumo de energia - (MWh/t)


10

Licor Biomassa Óleo


8

0
1998 1999 2000

Figura 96 - Evolução do consumo total de energia.


318

Destaca-se que a mudança de tecnologia do cozimento de digestores em batelada


para digestores contínuos acarretou a redução do consumo de 0,8 toneladas de vapor
para cada tonelada de celulose produzida, valor este de acordo com o sugerido pelo
IPPC (2000).

7.3 RESULTADOS DO PROJETO P 1.200

7.3.1 Emissões hídricas e captação de água

Os principais ganhos ambientais previstos neste projeto eram: a redução do consumo


de água, a redução da geração de águas residuárias devido ao fechamento dos
circuitos e maior remoção da DBO5,20 e da DQO devido à instalação da nova
ESTAR. Os resultados apresentados nas Figuras 97 a 101 confirmam os valores
esperados.

Vaz ão de água captada (m 3/t)


60

50

40

30

20

10

0
1999 2000 2001 2002

Figura 97 - Evolução temporal da vazão de água captada no rio Paraíba do Sul.


319

Vazão de efluente industrial (m3/t)


50

40

30

20

10

0
1999 2000 2001 2002

Figura 98 - Evolução da vazão do efluente industrial ao longo do tempo.

Evolução da DBO 5,20 (kg O2/t)


30
27 Entrada ESTAR Saída ESTAR
24
21
18
15
12
9
6
3
0
1999 2000 2001 2002

Figura 99 - Evolução da carga específica de DBO no efluente industrial na entrada


e saída da ESTAR.
320

Evolução da DQO (kg O2/t)


60
Entrada ESTAR Saída ESTAR

50

40

30

20

10

0
1999 2000 2001 2002

Figura 100- Evolução da DQO específica no afluente e efluente da ESTAR.

A redução das emissões hídricas - DQO e DBO do efluente tratado (Figuras 99 e


100) também ocorreu, mas em menor escala devido a problemas na aeração da nova
ESTAR (dimensionamento do motor dos sopradores e sistema de difusores).

Os valores atípicos no ano de 2002 devem-se à partida de novas unidades devido ao


projeto de expansão – P-2.000 (projetos futuros).

No período de 1999 a 2002, os valores da DBO na entrada da ESTAR foram


crescentes, enquanto que a DQO apresentou tendência oposta e diminuiu ao longo do
tempo. Observou-se o aumento da DQO solúvel na entrada da ESTAR (Figura 100)
neste período- comportamento similiar ao da DBO, indicando aumento da carga
orgânica nas águas residuárias. A redução da DQO total pode estar associada a
menor perda de fibras.

Mesmo com as deficiências no sistema de aeração, o bom desempenho do sistema


primário e do próprio sistema biológico contribuíram para as maiores remoções de
DBO, DQO total e solúvel no período. A partir da estabilização do processo de
expansão e da ESTAR, a eficiência de remoção da carga orgânica deverá aumentar.
321

A remoção total de DBO passou de 82% para 90% no período, mas ficou inferior ao
valor de projeto, que é 93% (Figura 101). Segundo Springer (1993) são esperados
valores de remoção de DBO entre 90 a 95% em sistemas otimizados.

DQO Solúvel (kg O2/t)


40
Entrada ESTAR Saída da ESTAR
35
30
25

20
15
10
5
0
1998 1999 2000 2001

Figura 101 - Evolução da DQO solúvel no afluente e efluente da ESTAR.

Remoção de DBO 5,20


95%
93%
90%
88%
85%

83%
80%
78%
75%
1999 2000 2001 2002

Figura 102 - Evolução remoção da DBO na ESTAR.


322

Considerando-se o uso de água para refrigeração em circuito fechado, a reutilização


da água branca, o reciclo de filtrados e o reúso dos condensados, a unidade Jacareí,
depois do projeto passou a reutilizar cerca de 85% da água utilizada.

7.3.2 Emissões atmosféricas

A instalação do precipitador eletrostático na caldeira de biomassa reduziu as


emisssões de material particulado nesta fonte (de 1000 ppm para 100 ppm), e as
emissões específicas da fabrica conforme mostrado na Figura 103.

Embora não fizesse parte do escopo do P-1200, o combustível da caldeira auxiliar foi
substituído por gás natural em 2001, antecipando uma alteração prevista para o ano
de 2002. Esta antecipação deveu-se ao programa de estímulo do governo para uso do
gás natural, com preços mais competitivos do que o óleo combustível. Com esta
alteração, houve redução no consumo de óleo, mudança na matriz energética, além
de redução das emissões de dióxido de enxofre. A Figura 104 mostra esta evolução.
As emissões de TRS, por sua vez, aumentaram no período, devido à maior emissão
do forno de cal e da caldeira de recuperação (Figura 105).

Material Particulado (kg /t)


4,0

3,5

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
2000 2001 2002

Figura 103 - Evolução da emissão de material particulado.


323

Emissão SO2 (kg S/t)


2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
2000 2001 2002

Figura 104 - Evolução da emissão de dióxido de enxofre (incluindo caldeira


auxiliar).

TRS (kg S /t)


0,070

0,060

0,050

0,040

0,030

0,020

0,010

0,000
2000 2001 2002

Figura 105 - Evolução da emissão de TRS.

7.3.3 Matriz energética

Em virtude da substituição do óleo combustível por gás natural na caldeira auxiliar


(CBC 80) a fração de energia produzida à base de gás natural contribuiu com cerca
de 14,6% do total da energia gerada em 2002. A contribuição do óleo combustível no
forno de cal, na caldeira de biomassa e na caldeira de recuperação passou de 18%
para 13% (figura 106).
324

A redução da contribuição do licor deveu-se à elevação do kappa do digestor e


aumento do rendimento- que foi possível após a introdução estágio ácido (no
branqueamento), com isso, menos sólidos foram queimados na caldeira
proporcionalmente aos anos anteriores.

Licor Biomassa Óleo Gás natural


100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000 2001 2002

Figura 106 - Matriz energética ao longo do tempo.

7.4 ESTIMATIVA DE REDUÇÃO DO CUSTO DE PRODUÇÃO DEVIDO ÀS


MUDANÇAS TECNOLÓGICAS

Considerando-se que o cenário com a produção de 2001, utilizando as mesmas


tecnologias empregadas em 1995, com cozimento em batelada, produção de celulose
STD e os mesmos consumos de água, de vapor e geração de águas residuárias
daquela época, o custo unitário seria acrescido de US$ 70/ADT. Isto significa que os
custos anuais seriam US$ 30 milhões acima dos valores atuais (2001).
Destes custos adicionais, cerca de 30% referem-se ao tratamento de água, tratamento
de águas residuárias e consumo de vapor. O restante, está relacionado ao consumo de
madeira e redução do custo fixo.
325

7.5 RESULTADOS DOS PROJETOS RELACIONADOS À GESTÃO

7.5.1 Gestão ambiental na Unidade

Com a implementação da coleta seletiva e do levantamento sistemático da geração


dos resíduos, associados às mudanças na forma de custeio e pagamento com a coleta
e tratamento dos mesmos, foram conseguidos os seguintes resultados :
• Mais de 70% dos produtos químicos usados no processo passaram a ser
fornecidos em embalagens retornáveis;
• A quantidade de resíduo sólido que era encaminhada ao aterro municipal, foi
reduzida em mais de 60%;
• Alguns resíduos oleosos, após implementação de sistemas de recuperação mais
eficientes, foram reduzidos em mais de 90%;
• Redução de 100% do resíduo gerado no picador - resíduo classe I com alto teor
de chumbo - graças à substituição do metal patente;
• Substituição de 100% dos trapos utilizados para limpeza de peças por toalhas
retornáveis;
• Revisão de contratos com fornecedores, responsabilizando-os pela coleta e
disposição das embalagens;
• Implementação da sistemática de qualificação de todos os receptores de resíduos.

7.5.2 Elaboração de relatórios de desempenho ambiental do Grupo VCP

A partir de 2001, a VCP tem elaborado anualmente um relatório contendo


informações detalhadas relativas aos seus projetos ambientais e ao seu desempenho
ambiental.
326

Embora com foco nos investidores, este relatório teve sua divulgação ampliada a
outras partes interessadas, inclusive está disponível no site da empresa para consulta
e “download” (http://www.vcp.com.br em Investidores). Este relatório também foi
disponibilizado na intranet da empresa para acesso e divulgação entre os
funcionários.
O relatório da VCP aborda os seguintes temas:
• Gestão ambiental;
• Recursos Naturais;
• Indicadores ambientais;
• Educação ambiental, e
• Investimentos.
Os indicadores sociais são apresentados segundo o modelo Ibase.

Analisado por especialistas o Relatório Anual da VCP de 2001 foi considerado o


terceiro melhor entre os 59 relatórios apresentados pelas companhias brasileiras de
capital aberto que se increveram para o 4o Prêmio Abrasca-Associação Brasileira de
Companhias Abertas.
327

8 PROJETOS FUTUROS

Os principais projetos de mudança tecnológica e produção mais limpa a serem


implementados a partir de 2002 são:
• O projeto P-2000, que prevê duplicar a produção de celulose a partir do ano de
2003, utilizando as melhores tecnologias disponíveis nas diversas áreas do
processo, a desativação da linha antiga de branqueamento (linha A) e da extratora
que recebia a polpa desta linha (JE1);
• Instalação de um sistema “dual” de queima de combustível na caldeira de
biomassa, para permitir a queima de gás natural ou óleo –previsto para 2003,
• Instalação de uma unidade de cogeração – com gás natural que hoje está em fase
de licenciamento,
• Usos alternativos para disposição de resíduos – em andamento;
• Elaboração do projeto de ampliação do aterro industrial para resíduos classe II.

A valorização dos resíduos por meio de usos alternativos está sendo pesquisada
desde 2001. Após inúmeros testes, parte do lodo gerado na ESTAR está sendo
utilizado na fabricação de tijolos. Os resultados em escala industrial são animadores.
Foram observados ganhos ambientais importantes, como, por exemplo, redução do
uso de combustíveis na queima dos tijolos, redução no tempo de secagem e da
quantidade de argila extraída.
Por outro lado, houve em 2002 a redução de 10% na quantidade de lodo disposta no
aterro classe II, o que representa uma economia de cerca US$ 70 mil.

Outras alternativas estão sendo pesquisadas, desde a aplicação do lodo biológico em


florestas próprias até a queima no sistema de recuperação.

Além dos projetos citados relacionados diretamente à tecnologia, outros relativos à


adoção de melhores práticas de gestão e de melhoria da governança ambiental estão
em andamento. Dentre eles destacam-se:
328

• Certificação do sistema de gestão conforme a ISO14001 na unidade Industrial em


2003 (a Unidade Florestal recebeu a certificação em outubro de 2002);
• Implementação do Plano de Gestão de Riscos Ambientais (PGR) em toda a
unidade em 2003;
• Criação de um índice, que pretende avaliar e monitorar o desempenho ambiental
por intermédio de indicadores de gestão e operacionais, além de considerar os
aspectos relacionados ao atendimento legal e as demandas das partes
interessadas;
• Revisão do website da VCP para otimizar a divulgação de informações relativas
à gestão e desempenho ambientais;
• Criação da rede de percepção de odor, que visa otimizar o controle operacional
relacionado à coleta e incineração dos gases odoríferos. Este projeto deverá ser
feito com a comunidade no entorno da fábrica e terá a duração de um ano;
• Construção de um Núcleo de Educação Ambiental (NEA), próximo à fábrica, que
contará com projeto pedagógico próprio e que tem o objetivo de disseminar os
conceitos de preservação ambiental, dar suporte para as escolas próximas e
aproximar a comunidade a fabrica;
• Contrução de um sistema de coleta, transporte e tratamento de esgoto doméstico
de uma população de aproximadamente 7.000 habitantes, residente em um bairro
situado no entorno da fábrica. A VCP doou a área e construirá a estação de
tratamento de esgotos, enquanto que o município implantará o sistema de coleta e
transporte.

Os investimentos previstos para o período de 2001-2003, em tecnologia e produção


mais limpa são da ordem de US$ 78 milhões. Em gestão ambiental e melhores
práticas são previstos investimentos de cerca de US$ 4 milhões em 2003.
329

9 CONCLUSÕES

A percepção da degradação ambiental induziu inúmeras mudanças na sociedade, nos


governos e nas empresas. Estão sendo desenvolvidas ferramentas, políticas públicas,
tratados e acordos internacionais tanto na esfera empresarial quanto governamental
visando o desenvolvimento sustentável. Todavia, os resultados ainda são limitados
em termos de governança ambiental global, quer seja pela dificuldade de acordos
entre países e por sua influência na macroeconomia, quer seja pelo desenvolvimento
ainda incipiente de metodologias que dêem suporte as ferramentas da eco-eficiência,
como por exemplo, análise de ciclo de vida e indicadores ambientais. Neste cenário,
existe ainda a importante questão da inexistência de políticas públicas efetivas e a
forma de atuação do controle ambiental feito pelo estado, que deve ser repensada.

Por outro lado, observa-se a evolução da influência do mercado como indutor de


melhoria ambiental nas empresas por intermédio de selos verdes, certificações
ambientais e pelo estabelecimento de critérios ambientais para financiamentos e
investimentos.

O uso das ferramentas de eco-eficiência, notadamente, a prevenção à poluição, o uso


das melhores tecnologias, a gestão e a avaliação do desempenho ambiental foi
decisivo para a indústria Votorantim Celulose e Papel – Unidade Jacareí melhorar o
seu desempenho ambiental e a sua competitividade no mercado mundial de celulose.

No período analisado (1992 a 2002), simultaneamente ao aumento de 66% da


capacidade da produção de papel e do aumento da produção de celulose, que
triplicou, destacam-se os seguintes ganhos:

• Redução de 30% no custo de produção de celulose;


• Redução de 84% das emissões de AOX-compostos orgânicos halogenados
(de 1,26 kg Cl/ADT para 0,20 kg Cl/ADT);
• Redução de 87% da cor da água residuária tratada por sistema de lodos
ativados (de 184 kg Pt-Co /t para 24kg PT-Co/t);
330

• Redução de 50% na vazão de água captada no Rio Paraíba e de 57% na


vazão de águas residuárias;
• Redução de 27% na DBO5,20 do efluente industrial (de 26,0 kg O2/t para 19,1
kg O2/t);
• Redução de 31% na DBO5,20 da água residuária tratada por sistema de lodos
ativados (de 2,8 kg O2/t para 1,9 kg O2/t);
• Redução de 53% na DQO do efluente industrial (de 90,6 kg O2/t para 42,5 kg
O2/t);
• Redução de 65% na DQO da água residuária tratada por sistema de lodos
ativados (de 31,5 kg O2/t para 11,1 kg O2/t);
• Redução da emissão de material particulado de 25 kg/t para 1,66 kg/t;
• Redução de 20% das emissões de compostos reduzidos de enxofre (de 0,043
kg S/t para 0,034 kg/t);
• Aumento da cogeração de energia elétrica de 52% para 74%;
• Mudança na matriz energética por intermédio da substituição de 50% do óleo
combustível consumido na Unidade por gás natural;
• Mais de 70% dos produtos químicos usados no processo passaram a ser
fornecidos em embalagens retornáveis;
• Redução de mais de 60% na quantidade de resíduo sólido encaminhada ao
aterro municipal;
• Redução de mais de 90% do resíduo oleoso gerado no sistema de lubrificação
(cilindros secadores) da máquina de papel;
• Redução de 100% do resíduo gerado no picador - resíduo classe I com alto
teor de chumbo;
• Substituição de 100% dos trapos utilizados para limpeza de peças por toalhas
retornáveis.

Em termos absolutos observou-se a redução das seguintes emissões:


• AOX média do efluente tratado : De 1106 kg/dia para 260 kg/dia;
• DQO média do efluente tratado: De 17.990 kg O2/dia para 17.918 kg
O2/dia;
• Material Particulado: De 10,8 toneladas por dia para 2,5 toneladas por dia.
331

Por outro lado, em termos absolutos, no mesmo período, houve aumento das
seguintes emissões:
• DBO5,20 média: De 1.600 kg O2/dia para 2.900 kg O2/dia;
• TRS: De 44 kg S/dia para 92 kg S/dia; e
• SO2: De 1,5 toneladas por dia para 3,3 toneladas por dia (expresso como S).

No entanto, apesar dos aumentos verificados nas emissões hídricas não houve
alteração na classe do rio. Além disso, os valores emitidos ficaram dentro dos limites
estipulados na licença de operação concedida pelo órgão ambiental.
332

10 ANEXOS

Anexo A

Sites relacionados com eco-eficiência e produção mais limpa


• UNIDO/UNEP NCPC Homepages
• NCPC Counterpart Institutions
• CP and Environment Related Institutions
• CP Initiatives Worldwide
• CP Periodicals
• CP, EcoManagement and Environmental Technology Databases
• CP Investments
• More Links

UNIDO/UNEP NCPC Homepages

Centro Nacional de Tecnologias Limpas

Brazil

Centro Nacional de Produccion mas Limpia (CNP+L)

Costa Rica
333

Czech Cleaner Production Centre

Czech Republic

Centro Guatemalteco de Produccion Mas Limpia

Guatemala

Hungarian Cleaner Production Centre

Hungary

National Cleaner Production Centre

India
334

Centro Mexicano para la Producción Más Limpia (CMP+)

Mexico

Centro Nicaragüense de Producción Más Limpia

Nicaragua

Slovak Cleaner Production Centre

Slovak Republic

National Centre for Cleaner Production

Tunisia
335

National Environmental Management and Cleaner Production Centre for Oil and
Gas Industries

Russia

NCPC Counterpart Institutions

IVAM Environmental Research, University of Amsterdam, Netherlands

Erasmus University, Netherlands

STENUM, Austria

DTI, Danish Technological Institute, Denmark

DTU, Technical University of Denmark

University of Massachusetts at Lowell, USA

World Cleaner Production Society, Norway

FHBB FachHochschule Beider Basel, Switzerland

EMPA, Switzerland

BOb Partners, Switzerland

Urbaplan, Switzerland

CP e Meio ambiente

UNEP - Production and Consumption Unit

International Institute for Industrial Environmental Economics (IIIEE)


336

Korean National Center for Cleaner Production

WorldBank Pollution Management

Canadian Centre for Pollution Prevention

US Environmental Protection Agency

Environment Protection Authority, Australia

Environmental Industry Interactive (EII)

Environmental Agencies of the World

Cleaner Production Center Austria

CP – Iniciativas no mundo

UK Initiative to Green Business: Envirowise

US EPA Pollution Prevention Projects and Programs

Australia EPA Cleaner Production

Cleaner Production (Pollution Prevention) in China

International Cleaner Production Cooperative

Cleaner Production in Food Industry

REC - Business & Environment: Cleaner Production in CEE

The Centre for Sustainable Design

Ecoefficiency & Cleaner Production

ESPS (Environment Sector Programme Support) - Nepal

Thai Cleaner Technology Information Center

R'02

USA Pollution Prevention Resource Exchange


337

Pollution Prevention Regional Information Clearinghouse - Nebraska

CP – Publicações periódicas

Journal of Sustainable Product Design Online

Journal of Cleaner Production

Cleaner Production

Pollution Engineering Online

Sustainable development and the environment

CP, Banco de dados

Food & Drink Industry Project - case studies

Greenleaf Catalogue - Contemporary Environmental Accounting

NETT21(GEC Environmental Techonology Database)

The Green Lane: Databases

EcoManagement Accounting Network: EMAN

EIS-Online (Colombia Cleaner Production Centre)

CHAINET

Green Pages - The Global Directory for Environmental Technology

GREEN profit

European Integrated Pollution Prevention and Control Bureau

CP Investimentos

Cleaner Production - Financing

UNEP Financing CP
338

Outros Links

Towards Clean Production: contact list

CleanerProduction.com

APEC Network: Useful Links

Links to Cleaner Production Sites

Sustainable development: best starting points

Energy-links

LBNL Industrial Energy Use Analysis

Páginas da WEB relacionadas à Prevenção à poluição

Organizações internacionais

Friends of the Earth - International Green Pressure Group:


URL:http://www.foe.co.uk/

Greenpeace - International Green Pressure Group: URL:http://www.greenpeace.org/

UNEP - United Nations Environmental Programmes (UNEP homepage):


URL:http://www.cedar.univie.ac.at/unep/or URL:http://www.unep.org/

UNEP (United Nations Environmental Programme) - Geneva Executive Center


Switzerland: URL:http://www.unep.ch/

United Nations Environment Program, Work Group on Sustainable Product


Development: URL:http://unep.frw.uva.nl/
339

WFEO - World Federation of Engineering Organisations:


URL:http://wwwparis.enpc.fr/~michel-j/WFEO.home.html

Organizações européias

Environmental governments on the Internet:


URL:http://www.ovam.be/internetrefs/overh.htm

European Union sites: URL:http://www.ovam.be/internetrefs/europa.htm

PREPARE network: URL:http://www.io.tudelft.nl/research/mpo/prepare/home.htm

The European Commission (EC): URL:http://europa.eu.int/index-en.htm

The European Environment Agency (EEA): URL:http://www.eea.eu.int/

The European Union (EU): URL:http://www.helsinki.fi/~aunesluo/eueng.html or


URL:http://www.europa.eu.int/:

Outras organizações relacionadas com produção mais limpa

Center for Clean Technology - University of California:


URL:http://cct.seas.ucla.edu/cct.pp.html

Center for Technology Transfer and Pollution Prevention:


URL:http://ingis.acn.purdue.edu:9999/cttpp/cttpp.html

Centre for Alternative Technology: URL:http://www.foe.co.uk/CAT/

Centre for Environmental Assessment of Product and Material Systems:


URL:http://www.cpm.chalmers.se/
340

Centre for Environmental Labbeling - Vancouver:


URL:http://www.interchg.ubc.ca/ecolabel/cel.html

Centre of Environmental Science: URL:http://www.leidenuniv.nl/interfac/cml/

Clean Technology Center: URL:http://cleantechnology.rtc-cork.ie/

Delft University of Technology: URL:http://www.tudelft.nl/home.html

Ecodesign Research Centres and Resources:


URL:http://daedalus.edc.rmit.edu.au/ecodesign.html

Environmental technology center: URL:http://envtechcenter.com/

Environmentally Conscious Design and Manufacturing - Muchigan Technological


University: URL:http://www.me.mtu.edu/research/envmfg/

Environmentally Conscious Design and Manufacturing Lab - University of Windsor:


URL:http://ie.uwindsor.ca/ecdm_lab.html

Illinois Waste Management and Research Center Home Page:


URL:http://www.inhs.uiuc.edu/hwric/hmlhome.html

Institute for Chemical Process and Environmental Technology:


URL:http://www.icpet.nrc.ca/

IVAM Environmental Research - University of Amsterdam:


URL:http://www.ivambv.uva.nl/welcome.html

Laboratory Waste Minimisation and Pollution Prevention:


URL:http://www.seattle.battelle.org/services/e&s/P2LabMan/index2.htm
341

Los Alamos Institute of Pollution Prevention:


URL:http://www-emtd.lanl.gov/TD/Technology.html

National Key Centre for Design at the Royal Melbourne Institute of Technology:
URL:http://daedalus.edc.rmit.edu.au/

National Pollution Prevention Center for Higher Education (delivers educational


material): URL:http://www.snre.umich.edu/nppc/

Office of pollution prevention: URL:http://www.epa.ohio.gov/opp/oppmain.html

Pacific Northwest Pollution Prevention Resource Center:


URL:http://www.pprc.org/pprc/

Pollution Prevention Assistance Department - Georgia division of natural resources:


URL:http://167.193.53.2/P2AD/

Sustainable design centre:


URL:http://www.geonetwork.org/resource_center/index.html

The Centre for sustainable design - University of Surrey:


URL:http://www.cfsd.org.uk/

The Flemish Centre for Best Available Techniques:


URL:http://www.vito.be/emis/pages/processe.htm

The Flemish Institute for Technological Research (VITO):


URL:http://www.vito.be/index_en.htm

The International Institute for Industrial Environmental Economics (IIIEE) - Lund


University: URL:http://www.lu.se/iiiee/index.html
342

The international institute for sustainable development: URL:http://iisd1.iisd.ca/

The materials Systems Laboratory (new materials):


URL:http://web.mit.edu/org/c/ctpid/www/msl/index.html

United States Environmental Protection Agency (EPA): URL:http://www.epa.gov/


(envirosense database: URL:http://es.epa.gov/index.html)

Fontes de informações relacionadas com produção mais limpa

Battelle's On-Line Pollution Prevention Library:


URL:http://www.seattle.battelle.org/P2Online/

Case studies in pollution prevention: URL:http://www.socma.com/ppprod.html

Central European Environmental Data Request Facility (CEDAR):


URL:http://pan.cedar.univie.ac.at/

Cleaner production Case Studies Directory Australia:


URL:http://www.environment.gov.au/portfolio/epg/environet/ncpd/ncpd.html

CLEAR : URL:http://www.ultranet.com/~clear/index.shtm

Consortium on Green Design and Manufacturing - Berkeley:


URL:http://euler.berkeley.edu/green/cgdm.html

Consultants in Environmental Management and Product Ecology (CIT):


URL:http://www.ekologik.cit.chalmers.se/http://www.ekologik.cit.chalmers.se/

Design and properties guide for various plastics: URL:http://www.ge.com/index.htm


343

Ecocycle - Newsletter on LCA: URL:http://www.ec.gc.ca/ecocycle/

Ecodesign - the global context:


URL:http://www.cfd.rmit.edu.au/Pubs/ERDNews/ERD1/GlobalECO.html

EcoNet Environmental directory: URL:http://www.igc.org/igc/econet/index.html

Ecosite - LCA case studies:


URL:http://cache3.www.gold.net/users/ju45/depart/cases.html

Electronic Green Journal (Gopher):


http://gopher.uidaho.edu/1/UI_gopher/library/egj/

Energy - materials - environment group:


URL:http://www.esu.les.iet.mavt.ethz.ch/esu/

Energy - materials - environment group:


URL:http://www.esu.les.iet.mavt.ethz.ch/esu/

Energy WWW Virtual Library: URL:http://solstice.crest.org/online/virtual-


library/VLib-energy.html

EnviroNet Australia, a network of environmental databases:


URL:http://www.environment.gov.au/net/environet.html

Environment Australia Online: URL:http://kaos.erin.gov.au/erin.html

Environmental and Related resources: URL:http://cygnus-group.com/Resources.html

Environmental Product Development - TUDelft:


URL:http://www.io.tudelft.nl/research/mpo/index.html
344

Environmental Technical Information Project: URL:http://ecologia.nier.org/

Environmental web sites by country, topic, etc.:


URL:http://www.cfn.cs.dal.ca/Environment/EAC/EAC-Home.html

Environmentally Conscious Design, Construction, and Manufacturing/Sustainable


Development Links and Information:
URL:http://epic.er.doe.gov/epic/html/DESIGN.sph

Environmentally Conscious Manufacturing Programme (Rochester Institute of


Techno-logy): URL:http://www.isc.rit.edu/~633www/research/ecm/ecm_center.html

EnviroSense - Pollution Prevention (P2) Case Studies:


URL:http://es.inel.gov/techinfo/case/case.html

EnviroSense - Animated Pollution Prevention Technologies:


URL:http://es.inel.gov/techinfo/research/research.html

Euro Info Centre Network (preferred partners for SMEs):


URL:http://europa.eu.int/en/comm/dg23/eoleweb/en/e-eicnet.htm#eic

Euro-vironment - Innovations in Environmental Management:


URL:http://www.ndirect.co.uk/~entropy/eurovir.htm

Finding and using pollution prevention information on the web:


URL:http://www.seattle.battelle.org/services/e&s/moresite.htm

Global Environmental Options (sustainable design, planning and education):


URL:http://www.geonetwork.org/
345

Global Network for Environmental Technology - GNET (policy discussion,


references, White House conferences, etc.): URL:http://gnet.together.org/

Global Research Network on Sustainable Development:


URL:http://infolabwww.kub.nl:2080/grnsd/

Good practice guides (!):URL:http://www.fm.doe.gov/FM-20/guides.htm

Green Design Initiative - Carnegie Mellon University:


URL:http://www.ce.cmu.edu/GreenDesign/

Greenhouse gas technology information exchange (GREENTIE):


URL:http://www.greentie.org/

Info and links about energy efficiency, alternative energy sources:


URL:http://ie.uwindsor.ca/other_green.html

Info on environmentally conscious design and manufacturing.:


URL:http://ie.uwindsor.ca/ecdm_info.html

Joint Service Pollution Prevention Technical Library:


URL:http://enviro.nfesc.navy.mil/p2library/

LCANET - European Network for Strategic Life Cycle Assessment Research &
Development: URL:http://www.leidenuniv.nl/interfac/cml/lcanet/hp22.htm

Links to many other environmental sites on the Web.:


URL:http://www.envirolink.org/EnviroLink_Library/

National Pollution Prevention Roundtable U.S.: URL:http://es.inel.gov/nppr/

Other interesting enviro-sites: URL:http://www.ovam.be/internetrefs/andere.htm


346

PNNL’s Pollution Prevention Homepage: URL:http://p2.pnl.gov:2080/p2/

Pollution prevention by Design for the environment:


URL:http://p2.pnl.gov:2080/DFE/

Pollution prevention technologies review:


URL:http://pprc.pnl.gov/pprc/p2tech/p2tech.html

Preventive Environmental Protection Approaches in Europe (PREPARE):


URL:http://cleantechnology.rtc-cork.ie/prepare/

Renewable Energy Network: URL:http://www.eren.doe.gov/

RTI’s Coating Alternatives Guide (CAGE): URL:http://cage.rti.org/

RTI’s Solvent Alternatives Guide (SAGE): URL:http://clean.rti.org/

Solvent substitution data systems (part of EnviroSense of the EPA):


URL:http://es.inel.gov/ssds/ssds.html

The Ames Laboratory's Environmental Technology Development Program:


URL:http://www.etd.ameslab.gov/etd/library/greenpg.html

The International Cleaner Production Information Clearinghouse (ICPIC) - UNEP:


URL:http://www.unepie.org/icpic/icpic.html

The LCA web-site: URL:http://www.trentu.ca/faculty/lca/

The Technology, Business and the Environment Program:


URL:http://web.mit.edu/afs/athena/org/c/ctpid/www/tbe/index.html
347

The United Nations Environment Programme - (UNEP IETC):


URL:http://www.unep.or.jp/

The United Nations Environment Programme - Industry and Environment (UNEP


IE): URL:http://www.unepie.org/home.html

The World Wide Web Virtual Library: sustainable development:


URL:http://www.ulb.ac.be/ceese/sustvl.html

U.S. Department of Energy’s Pollution Prevention Information Clearinghouse -


EPIC: URL:http://epic.er.doe.gov/epic/ or
URL:http://epic.er.doe.gov/epic/html/mainmenu.sph?

Websites on Eco design: URL:http://unep.frw.uva.nl/UnepHome/ecodesign3.html

Websites on LCA: URL:http://unep.frw.uva.nl/UnepHome/lca2.html

Workbook for waste:


URL:http://www.erin.gov.au/portfolio/esd/climate/ggi/waste/waste.html
348

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1) ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Avaliação de ruído em


áreas habitadas, visando o conforto da comunidade. Rio de Janeiro 2000
2) ABNT - Associação Brasileira de Normas técnicas. Gestão Ambiental –
Avaliação do Ciclo de Vida - Princípios e Estrutura. NBR ISO 14040 2001b
3) ABNT - Associação Brasileira de Normas técnicas. Indicadores de desempenho
ambiental. NBR ISO 14031. Rio de Janeiro. 2001a.
4) ABNT - Associação Brasileira de Normas técnicas. Sistema de gestão
ambiental NBR ISO 14001. Rio de Janeiro. 1996
5) ABTCP - Associação técnica brasileira de celulose de papel. São Paulo.
Disponível em URL:http://abtcp.org.br (Acesso em 15 de dezembro de 2002).
6) ACCA - Association Of Chartered Certified Accountants. Environmental,
Social and Sustainability Reporting on the World Wide Web: A Guide to
Best Practice. 2001 Londres. Disponível em URL:http://www.accaglobal.com
(Acesso em 20 de maio de 2002).
7) AET - Aliança para Tecnologia Ambiental. Tendências da Produção de Polpa
Química no Mundo: 1990-2001. 2002. USA. Disponível em
URL:http://www.aet.org/reports/market/2001.pdf (Acesso em 9 de abril de 2002).
8) Axegård, P. et al. Minimum-Impact Mills: Issues ans Challenges. TAPPI
Proceedings .Minimum Effluent mills Symposium. San francisco . USA 1997
9) Barton, D.A. and Payne, T.W. Mechanisms of AOX Removal During
Biological Treatment. Wat. Sci.Tech. Vol 40. No 11-12. 1999 Oxford. UK
10) BRACELPA - Associação Brasileira de Celulose e Papel. Relatório Social.São
Paulo 2001.
11) CCPP - Canadian Centre for Pollution Prevention. Pollution Prevention
Program Manual- P2 Planing and Beyond. 2001 Ontário. Canadá
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