Professional Documents
Culture Documents
ECONOMIA INFORMAL
Luis Estenssoro
ÍNDICE
Bibliografia....................................................................................................................... 42
2
A análise do cosmos econômico revela a sua inserção no campo social. Isto
porque os processos econômicos são procedentes das dinâmicas e estruturas sociais,
entendidas como transformações, regularidades e permanências das relações sociais na
nossa história coletiva. Assim, a idéia de trabalho como atividade em busca de uma
remuneração monetária; a possibilidade de transação impessoal entre desconhecidos numa
situação de mercado; a noção de investimento a longo prazo; a concepção de empréstimo
com juros; a própria idéia de contrato, enfim, tudo o que a economia considera como dados
são, na verdade, representações, mecanismos de práticas sociais inscritas na ordem social,
onde toda prática humana está inserida. As preferências e propensões dos agentes
econômicos, por exemplo, não são fatores exógenos da natureza humana universal, mas
disposições endógenas de estruturas históricas. Da mesma maneira, as formas de
organização da produção são resultantes de processos históricos de desenvolvimento que
não se circunscrevem ao campo econômico. Pode-se dizer, portanto, que as atividades
econômicas estão contidas no campo social.
O cosmos econômico não se inscreve na realidade social apenas por causa disto,
mas também porque o próprio pensamento econômico é um produto historicamente datado,
com seus contornos e conceitos construídos socialmente e ao longo do tempo. Segundo
Bourdieu1, a teoria econômica, enquanto subproduto do cosmos econômico que acompanha
a expansão capitalista, seria, ela mesma, um conjunto de concepções racionais que
emanaram de disposições econômicas do agente econômico comportando-se segundo um
cálculo dos lucros individuais. Portanto, o “universo escolástico” da teoria econômica está
inserido no processo de criação coletiva, porque inclui elementos construídos ao longo da
história social da humanidade. Estes vão desde a contabilidade racional do capital até a
existência de empresas constituídas de acordo com premissas que surgiram no longo
processo social histórico, a saber 2 : apropriação privada, liberdade mercantil, técnica
racional, direito racional, trabalho livre, comercialização da economia e orientação para o
lucro. Inclusive, esta teoria econômica, centrada que é na concepção de homo oeconomicus,
1
Bourdieu, Pierre. Les structures sociales de l’économie. Paris, Seuil, 2000.
2
Ver: Weber, Max. “El Origen del Capitalismo Moderno”. In: Weber, Max. Historia Economica General.
México, Fondo de Cultura Económica, 1978.
3
paradigma do comportamento econômico racional, não seria possível nem imaginável se
não estivesse inserida na história da configuração social da noção moderna de “eu”,
enquanto conceito coletivo de pessoa individual racional com consciência moral3. Em suma,
o espírito e o objeto das práticas econômicas não são nada mais que a economia das
condições de produção e reprodução dos agentes e instituições econômicas.
Conseqüentemente, economia e sociologia fundem-se na observação, análise e
interpretação das condições econômicas da existência social.
3
A respeito do longo processo histórico de criação da noção coletiva de pessoa individual racional e com
consciência moral, conferir o estudo antropológico clássico de Marcel Mauss : “Une catégorie de l’esprit
humain : la notion de personne celle de ‘moi’ ”, 1938, coleção: "Les classiques des sciences sociales",
Disponível em: http://www.uqac.uquebec.ca/zone30/Classiques_des_sciences_sociales/index.html.
4
Abramo, Laís. “Desafios atuais da sociologia do trabalho na América Latina: Algumas hipóteses para a
discussão”. Buenos Aires, CLACSO, mimeo.
4
Da mesma forma, a noção de informalidade é definida vagamente, seja como
ausência de articulação ou inserção formal no processo de produção nas zonas urbanas –
sendo o “trabalho informal” entendido como a insegurança crônica do emprego não-
registrado –, seja como modo de organização e funcionamento de unidades econômicas
com características específicas, tais como trabalho precário e instável existente nestas, e
com uma particular relação com o sistema econômico, o que não diz respeito apenas ao seu
status legal ou às relações destas unidades econômicas com as autoridades públicas.
5
Fassin, Didier. “Exclusion, underclass, marginalidad”. Revue Française de Sociologie, XXXVII, 1996, pp.
37-75.
6
Noronha, Eduardo. “Informal, Ilegal e Injusto: Percepções do Mercado de Trabalho no Brasil”. RBCS, vol.
18, nº 53, out 2003, pp. 111-179.
5
dimensões subjacentes aos princípios constitutivos do contrato de trabalho e da relação de
trabalho. A partir de uma discussão das dificuldades analíticas do tema no Brasil, dada a
sobreposição, no tempo e no espaço, dos diversos processos geradores de contratos atípicos,
Noronha aponta para a necessidade de estudos interdisciplinares no sentido de uma melhor
compreensão do tema. Certamente uma boa sugestão.
Um diálogo interdisciplinar será ensaiado neste texto, pois entendemos que será
extremamente produtivo na medida em que possibilite uma melhor compreensão do tema,
cuja complexidade escapa às subdivisões estabelecidas por especialidades e segmentações
do saber em compartimentos estanques. A importância dessa perspectiva para a
compreensão adequada do “setor informal” é evidente e tentaremos aproveitá-la aqui.
7
Pochmann, Márcio. “O Excedente de Mão-de-obra no Município de São Paulo”. In: CUT, Mapa do
Trabalho Informal do Município de São Paulo. São Paulo, CUT, maio de 2000, pp. 11-18.
6
Interessante notar que algumas interpretações8, coincidindo com a classificação
acima, relacionam o “mercado formal” com o emprego e o “mercado não-formal” com o
desemprego e o subemprego, enquanto que outros autores preferem discutir o tema a partir
das diferentes formas de organização da produção. Considerando outro ângulo da questão,
algumas abordagens consideram o subemprego um resíduo marginal da economia moderna,
enquanto outras interpretações tentam mostrar as relações existentes entre o
desenvolvimento do capitalismo e os fenômenos do desemprego e do subemprego. Outro
debate ainda trata da funcionalidade da “economia informal” em relação ao capitalismo:
uns a entendem como um setor marginal correspondente a formas de produção não-
capitalistas, outros a consideram uma inserção perversa dos trabalhadores na economia
capitalista. Diversas interpretações existem também sobre as relações que se estabelecem
entre o “mercado informal” e a pobreza absoluta e relativa (desigualdade na distribuição de
renda): alguns autores entendem estes fenômenos como intimamente vinculados, e, outros,
como independentes. De qualquer maneira, Pochmann9 estima que o excedente de mão-de-
obra no mundo esteja em torno de 150 milhões de trabalhadores desempregados
(desemprego aberto) e 850 milhões de trabalhadores subempregados.
8
O debate inicial sobre o tema no Brasil está em: IBGE. Emprego, Subemprego e Desemprego. Rio de
Janeiro, IBGE, 1981.
9
Pochmann, Márcio. O Emprego na Globalização. São Paulo, Boitempo, 2001, pp. 81-82.
10
Noronha (2003), Op. Cit., pp. 111-179.
7
econômica minimamente rentável. Trata-se, antes de tudo, da falência da lei
enquanto forma de regulamentação das relações de trabalho, tema propício a
uma análise jurídica; e
11
Cf. Offe, Claus. “Trabalho: a Categoria Sociológica Chave?”. In: OFFE, Claus. Capitalismo Desorganizado.
São Paulo, Brasiliense, 1991.
12
Cf. Singer, Paul. Globalização e Desemprego. Diagnósticos e Alternativas. São Paulo, Contexto, 1998.
13
Cf. Antunes, Ricardo. Adeus ao Trabalho? São Paulo, Cortez, 1999; e Antunes, Ricardo. Os Sentidos do
Trabalho. São Paulo, Boitempo, 2000
14
Cf. Castro, Nadya e Dedecca, Cláudio. “Flexibilidade e Precarização: Tempos mais Duros”. In: Castro,
Nadya e Dedecca, Cláudio (orgs.). A Ocupação na América Latina: Tempos mais Duros. São Paulo,
ALAST, 1998, pp. 9-18.
15
Apud CUT, Mapa do Trabalho Informal do Município de São Paulo. São Paulo, CUT, maio de 2000.
8
Pequenas empresas familiares – padarias, confecções, comércios, mercearias e oficinas de
reparação – que muitas vezes sobrevivem da clientela local, mas tendo a sua inserção
definida pela lógica da grande empresa; 5) As "quase-empresas capitalistas", que fazem uso
de mão-de-obra assalariada, mas possuem algumas peculiaridades que justificam a sua
inclusão na categoria dos informais, por exemplo: o assalariamento convive nelas com
jornadas de trabalho não reguladas pela lei, sendo que o nível dos salários geralmente está
abaixo do verificado nas grandes empresas; também não se presencia uma separação clara
entre o rendimento do empregador e a taxa de lucro do seu empreendimento; 6) Por último,
a economia solidária, isto é, as cooperativas de trabalho para produção de mercadorias e
prestação de serviços (no caso das “falsas cooperativas”, estaríamos falando do setor
capitalista eliminando direitos e precarizando a ocupação). Dois tipos de trabalhadores não
se encontram incluídos nesta definição de informalidade: os trabalhadores domésticos
(baixa renda), pelo fato de não estarem inseridos em uma unidade econômica, e os
profissionais liberais (renda alta), pelo fato de funcionarem como empresas capitalistas,
inclusive com estratégias de marketing, além de terem maior acesso a crédito e a
tecnologias avançadas.
16
Mesmo se aceitássemos a definição da OIT, é possível argumentar que hoje em dia algumas empresas de
menos de cinco funcionários fazem parte do setor dinâmico da economia, empregando inclusive tecnologia
avançada.
9
Aníbal Pinto17, considera que o excedente de mão-de-obra não absorvido pela produção
capitalista está concentrado nas pequenas unidades produtivas urbanas. Estas micro e
pequenas empresas urbanas caracterizam-se por utilizar pouco capital, técnicas
rudimentares, mão-de-obra pouco qualificada e, em conseqüência, têm menor lucratividade
que as empresas do setor dinâmico da economia. O “setor informal”, assim caracterizado,
proporciona empregos instáveis, precários e de baixa produtividade, gerando menos renda
para seus trabalhadores. Numa vertente próxima, a CEPAL 18 (atual), considera como
integrantes do “setor informal” todos os empregados que trabalham em micro-empresas, os
empregados domésticos e os trabalhadores por conta própria, bem como os familiares não
remunerados.
17
Rosenbluth, Guillermo. “Informalidad y Pobreza en América Latina”. Revista de la CEPAL, Nº 52, abril de
1994, p. 159.
18
Idem, p. 165.
19
IBGE. Economia Informal Urbana 1997 (Ecinf). Rio de Janeiro, IBGE, 1997; e IBGE. Economia Informal
Urbana 2003 (Ecinf). Rio de Janeiro, IBGE, 2005.
10
Da mesma forma, a metodologia da OIT é adaptada pelo Central Única dos
Trabalhadores (CUT) no “Mapa do Trabalho Informal do Município de São Paulo”20. Neste,
são incluídos como “trabalhadores informais” as seguintes categorias: 1) Assalariados com
carteira assinada em empresas com até 5 empregados; 2) Assalariados sem carteira assinada
em empresas com até 5 empregados; 3) Assalariados sem carteira assinada em empresas
com mais de 5 empregados; 4) Empregadores de empresas com até 5 empregados; 5)
Donos de negócio familiar; 6) Autônomos que trabalham para o público; 7) Autônomos que
trabalham para empresas; 8) Empregados domésticos; e 9) Trabalhadores familiares.
Notemos que esta classificação inclui o emprego informal propriamente dito (assalariados
sem carteira assinada em empresas com até 5 empregados, autônomos, empregados
domésticos e trabalhadores familiares), mas também o emprego formal no “setor informal”
(assalariados com carteira assinada em empresas com até 5 empregados), bem como o
emprego informal fora do “setor informal” (trabalhadores sem carteira assinada em
empresas com mais de 5 empregados), além de micro-empresários (os empregadores de
menos de 5 empregados e os donos de negócio familiar, que, dependendo do seu
faturamento, podem ser considerados pelo governo como pequenos empresários).
Enfim, trata-se de uma questão que demanda atenção, dado que informalidade e
formalidade estão presentes lado a lado na economia, até mesmo dentro da mesma unidade
produtiva, o que dificulta a conceituação. A seguir, faremos uma classificação das teorias
sobre a informalidade na economia tendo em conta o critério de considerar as diversas
interpretações dos processos econômicos e das relações de produção capitalistas no seu
conjunto, na sua totalidade, bem como nas características de sua objetivação na realidade
concreta das formações sociais latino-americanas.
20
CUT, Mapa do Trabalho Informal do Município de São Paulo. São Paulo, CUT, maio de 2000.
11
1) Vertente individualista neoliberal, que considera a “economia informal”
como extralegal, à margem do arcabouço legal do Estado e até em contraposição a este.
Esta corrente situa-se dentro do marco ideológico do anti-estatismo pró-mercado;
12
coerção) à liberdade democrática moderna (freedom, liberdade positiva, autonomia)21. No
entanto, ideologicamente, pode-se caracterizar o neo (radical grego para novo) liberalismo
como sendo uma mistura eclética de várias doutrinas liberais, cujos pólos principais são o
liberalismo radical de Friedrich Hayek e o liberalismo social de John Rawls. 22 O
neoliberalismo, ou neoliberismo23, a que nos referimos é o pensamento econômico baseado
na Escola Austríaca, nas teorizações de Ludwig Von Mises e Friedrich Hayek (que
afirmava que as duas únicas funções de um governo legítimo consistem em prover uma
estrutura para o mercado, e prover serviços que o mercado não pode fornecer), bem como a
hegemonia institucional econômica que alcançaram pensamentos como o de Milton
Friedman (cuja tese da indivisibilidade da liberdade sustentava que, a menos que se
obtenha ou se mantenha a liberdade econômica, as liberdades civil e política se
desvanecem). Estes ensinamentos estruturam a doutrina econômica neoliberal, conhecida
como “Consenso de Washington” 24 . Sociologicamente, convencionou-se chamar de
neoliberalismo à coalizão sócio-econômica e política reunida em torno da redução da
intervenção dos Estados na economia e pela desregulamentação dos mercados, que
representa interesses não somente das empresas transnacionais, mas também do mercado
financeiro internacional.25 Na América Latina esta corrente esteve predominante durante as
décadas de 1980 e 1990, quando levou a cabo o ajuste estrutural26 da economia em vários
países deste continente.
21
Merquior, José Gulherme. O Liberalismo, Antigo e Moderno. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1991.
22
Salama, Pierre e Valier, Jacques. Pobrezas e Desigualdades no Terceiro Mundo. São Paulo, Nobel, 1997,
pp. 129-154.
23
Merquior (1991), Op. Cit., pp. 188-196.
24
O “Consenso de Washington”, um conjunto de princípios de política econômica que os governos deveriam
seguir, se caracteriza, inicialmente (1989), pelos princípios enunciados pelo economista John Williamson, a
saber: 1) disciplina fiscal; 2) mudanças nas prioridades para gastos públicos, com ênfase para saúde,
educação e infra-estrutura; 3) reforma tributária; 4) liberalização financeira, especialmente das taxas de
juros; 5) busca e manutenção de taxas de câmbio competitivas; 6) liberalização comercial; 7) abertura para
fluxos de investimento direto estrangeiro; 8) privatização; 9) desregulamentação; e 10) garantia dos direitos
de propriedade. Este conjunto de princípios, que ficou conhecido entre os críticos como pensamento único,
tem orientado reformas do Estado, da política econômica e do mercado de trabalho em todo o mundo.
25
Cf. Ianni, Octavio. A Era do Globalismo. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001, pp. 215-235.
26
Cf. Soares, Laura Tavares Ribeiro. Ajuste Neoliberal e Desajuste Social na América Latina. Rio de Janeiro,
UFRJ, 1998.
13
nome do livro faz uma paródia com o grupo guerrilheiro neomaoísta Sendero Luminoso,
existente no Peru naquela época. O livro refere-se à “economia informal” como atividade
econômica popular, que se contrapõe ao Estado e suas regulamentações excessivas sobre a
economia. Assim, perante o “privilégio” de participar da economia, reservado a uma
“pequena elite”, as empresas informais representariam a “irrupção de forças reais do
mercado em uma economia presa às regulamentações do Estado” 27 . Esta interpretação
claramente se contrapõe à visão da OIT e do PREALC sobre “economia informal”.
27
Apud Portes, Alejandro, Haller, William. La Economía Informal. Santiago, Chile, CEPAL, novembro de
2004.
28
IBGE (1981), Op. Cit., p. 17.
14
Cacciamali29, por exemplo, adota uma dupla conceituação: de um lado aceita a
definição jurídica para as atividades ilegais ou submersas, ao mesmo tempo em que adota a
definição original da OIT30 para a “economia informal”. A informalidade, neste último
sentido, corresponderia aos “espaços instersticiais” da economia, que complementariam o
setor formal. Estes “espaços econômicos” seriam explorados por pequenos produtores e por
trabalhadores por conta-própria. O “setor informal”, assim definido, seria subordinado aos
setores mais modernos. Em suma, de acordo com esta interpretação, o “setor informal” se
amoldaria aos processos dinâmicos do setor formal de maneira anticíclica, subordinada, e
instersticial. O mercado de trabalho estaria “em equilíbrio” e a informalidade não seria uma
anomalia, mas parte do mercado de trabalho. Haveria também um “vínculo estrutural” entre
os setores formal e informal, não havendo marginalização de qualquer setor da economia.
29
Cacciamali, Maria Cristina. “As Economias Informal e Submersa: Conceitos e Distribuição de Renda”. In:
Camargo, José Márcio e Giambiagi, Fábio (orgs.). Distribuição de Renda no Brasil. São Paulo, Paz e Terra,
1989, pp. 121-143.
30
Segundo a caracterização original da OIT, de 1972, feita em estudos sobre os países africanos, as atividades
informais teriam os seguintes elementos: baixos requerimentos em termos de capital, capacitação e
organização; empresas familiares; operação em pequena escala; sistema produtivo trabalho-intensivo, como
o trabalho apoiado em tecnologia antiquada; e, finalmente, as atividades informais caracterizar-se-iam por
constituírem-se como mercados competitivos e desregulados.
31
Cacciamali (1989), Op. Cit., p. 126.
15
Desta forma, a produção e as relações de produção estruturar-se-iam em um
continuum, e não em apenas dois setores (moderno/ tradicional ou formal/ informal).
Confrontando-se com a visão “dual-estática” (veremos o dualismo da CEPAL adiante),
Cacciamali atesta a realidade dinâmica dos processos das economias em desenvolvimento,
e utiliza o critério das formas de inserção do trabalhador na produção e da forma de
organização da produção para caracterizar este “setor informal”. Assim, classificando a
informalidade segundo a posição da ocupação no sistema produtivo, Cacciamali identifica
as seguintes formas de inserção ocupacional da “economia informal”: 1) Assalariamento
sem contrato legal de trabalho; 2) Assalariamento ocasional ou temporário; 3)
Assalariamento sazonal; 4) Assalariamento disfarçado (autônomos subordinados a uma
única firma); 5) Trabalho por conta-própria, autônomo ou independente; 6) Pequenos
estabelecimentos onde o proprietário executa o trabalho; 7) Quase-empresas capitalistas; e,
finalmente, o 8) Emprego doméstico. Como podemos notar, este arranjo guarda algumas
diferenças com as classificações da OIT e da CUT, que vimos acima.
32
Idem, p. 131.
16
classificação cruzada entre as atividades informais e formais (identificadas como duas
formas distintas de relações de produção) e as atividades registradas ou não (economia
registrada ou economia submersa). Assim, os funcionários públicos seriam formais e
registrados, os assalariados não registrados fariam parte do setor formal e da economia
submersa, os trabalhadores por conta-própria seriam informais, porém registrados, e os
domésticos seriam informais e submersos, e assim por diante.
33
Arbache, Jorge Saba. “Pobreza e Mercados no Brasil”. In: CEPAL. Pobreza e Mercados no Brasil: uma
Análise de Iniciativas de Políticas Públicas. Brasília, CEPAL Escritório do Brasil/ DFID, 2003, pp. 9-62.
34
Op. Cit., p. 28.
17
A solução para este problema seria óbvia: reduzir os custos trabalhistas para
incluir os trabalhadores informais ao mercado de trabalho formal. Mas porquê não acontece
essa redução dos custos trabalhistas no âmbito de uma política de fortalecimento do “setor
informal”? Como minimizar o peso da “cunha fiscal”? O que impede a sociedade de reagir
a todas estas imposições estatais desestimuladoras da iniciativa privada informal?
18
heterodoxo de John Maynard Keynes, ambos estão hoje em dia relativamente próximos
devido à pressão exercida pelo neoliberalismo individualista. Porém, guardam suas
diferenças. Veremos agora em linhas gerais os pressupostos da tradição keynesiana, e como
ela foi assimilada na América Latina.
A noção teórica dessa escola desenvolvimentista cepalina que nos interessa aqui
é o de heterogeneidade estrutural. O conceito de heterogeneidade estrutural denota uma
situação na qual existem grandes diferenças de produtividade e modernidade entre os
distintos setores de atividade econômica. Segundo Soares37, esta categoria conceitual ampla
alude à coexistência de formas produtivas e relações sociais correspondentes a diferentes
fases e modalidades do desenvolvimento da região que, sendo interdependentes em sua
dinâmica, convivem no interior dos Estados politicamente unificados. São expressas neste
conceito tanto as formas produtivas quanto as relações sociais. Três dimensões são
consideradas:
35
Abramovay, R., Saes, S., Souza, M. C., Magalhães, R. “Mercados do Empreendedorismo de Pequeno Porte
no Brasil”. In: CEPAL. Pobreza e Mercados no Brasil: uma Análise de Iniciativas de Políticas Públicas.
Brasília, CEPAL Escritório do Brasil/ DFID, 2003, pp. 235-284.
36
Cf. Ianni, Octavio. A Formação do Estado Populista na América Latina. São Paulo, Ática, 1989.
37
Soares (1998), Op. Cit., pp. 29-33.
19
1) As estruturas de produção, onde coexistem diferenças de níveis de utilização de
técnicas e tecnologia. Aqui são analisados os aspectos de produtividade física do
trabalho; a escala operacional dos estabelecimentos; e a divisão, especialização e
hierarquização de funções produtivas;
2) As relações sociais que se articulam em torno desses processos produtivos, nas suas
diferenças setoriais e regionais, e nas suas características de concentração de ativos
e de capital, bem como de capacidade organizativa e agenciamento de poder pelos
estratos sociais; e
20
também diferenças nas formas de apropriação do excedente, na estrutura ocupacional, e nos
padrões de distribuição de renda e de acesso aos bens públicos das diversas camadas sociais
(dimensão de relações sociais).38
38
Comin, Álvaro. “O Dualismo Revisitado”. In: Comin, Álvaro. Mudanças na Estrutura Sócio-Ocupacional
do Mercado de Trabalho em São Paulo. São Paulo, FFLCH-USP, 2003, (Tese de Doutorado).
39
Pinto, Aníbal. “Natureza e Implicações da ‘Heterogeneidade Estrutural’ na América Latina”. In:
Bielschowsky, Ricardo (org.). Cinqüenta Anos de Pensamento na CEPAL Rio de Janeiro, Record, 2000, pp.
569-588.
40
Furtado, Celso. Teoria Política do Desenvolvimento Econômico. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1987,
pp. 197-212.
21
Furtado afirma ainda que o dualismo se refere à coexistência do modo de
produção capitalista com outros modos de produção não-capitalistas, no quadro do
subdesenvolvimento, isto é, em economias que não podem ser concebidas fora do sistema
de relações internacionais, da qual fazem parte como economias dependentes. Para ele, o
que caracteriza o dualismo é exatamente a interdependência dos dois modos de produção: o
setor capitalista e o setor não-capitalista.
41
Portes e Haller (2004), Op. Cit.
22
Na prática, estes três subtipos não se excluem mutuamente, podendo ser
entendidos como níveis das atividades econômicas. A diferenciação entre os três subtipos
acima guardaria relação com a “maior complexidade dos níveis sucessivos de organização
social necessários”, mais do que com a motivação dos atores. Desta forma, a referência à
tripla concentração de progresso técnico favorecendo alguns setores da economia, ou aos
distintos níveis de produtividade nestes diferentes setores, dá lugar à conceituação de
distintos níveis de complexidade de organização social, ainda no marco conceitual do
conceito cepalino de heterogeneidade estrutural.
42
Rosenbluth (1994), Op Cit.
23
ou como setor arcaico, remanescente de outros modos de produção. Geralmente analisando
este fenômeno pela ótica do mundo do trabalho, os marginalistas, como foram chamados,
polemizam em torno da categoria de superpopulação relativa, isto é, o excedente de mão-
de-obra não incorporado ao processo de desenvolvimento capitalista. Esclareceremos
primeiramente os conceitos marxistas que utilizamos aqui, para depois entrar no debate
sobre a interpretação marginalista da informalidade.
43
Marx, Karl. O Capital. São Paulo, Nova Cultural, 1988, Livro Primeiro, Seção VII, Caps. XXI a XXV, p.
179.
44
Op. Cit., p. 192.
24
Além destas três subdivisões do exército industrial de reserva, existe ainda uma
quarta camada da superpopulação relativa: o lumpemproletariado, camada social integrada
pelos setores mais pauperizados da estrutura social, ou seja:
• Os indigentes.
Como vemos, o termo lumpemproletariado foi utilizado por Marx para designar
a camada social que vive de subemprego (trabalho instável, precário e sub-remunerado) ou
de atividades ilegais ou marginais (prostituição, rufianismo, mendicância, roubo e tráfico
de drogas). Marx também descreveu essa camada social como sendo incapaz de qualquer
ação conseqüente contra a sociedade capitalista45. Tratar-se-ia, portanto, de uma camada
social indigente e sem consciência social.
45
Marx, Karl. O 18 do Brumário e Cartas a Kugelmann. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.
46
Marx (1988), Op. Cit., p. 197.
47
Nun, José. “El Futuro Del Empleo y la Tesis de la Masa Marginal”. Desarrollo Económico, vol 38, nº 152,
jan-mar 1999. Um texto mais recente de Nun, que corrobora textos anteriores.
25
pretende tematizar os “efeitos funcionais” e “a-funcionais” da superpopulação relativa,
introduzindo o conceito de “massa marginal”. Sua argumentação está baseada na
existência de três transformações que se deram após as análises de Marx: A) a passagem
para o modo de produção monopolista; B) o poderoso impulso que adquiriu a
internacionalização do capital; e C) as modificações que ocorreram na estrutura
ocupacional. O argumento de Nun é que os mecanismos de geração da superpopulação
relativa se pluralizam devido à crise do modelo fordista, isto é, devido à desestruturação
das relações de trabalho, que se tornaram heterogêneas e instáveis.
48
Quijano, Aníbal. La Economía Popular y sus Caminos en América Latina. Lima, Mosca Azul, 1998. Um
texto mais recente de Quijano, que corrobora sua posição anterior.
26
configuración respecto del ‘salario’ o de la ‘ganancia’; que
producen bienes y/o servicios para un mercado constituido por la
propia población de trabajadores ‘marginalizados’. En suma, el
nivel más dominado de la estructura de poder del capital”.49
49
Op Cit, p. 70.
27
trabalho dentro do capitalismo, mas de todo um setor do capital neste modo de produção.
O pólo marginal seria um complexo de atividades econômicas (não restritas ao emprego no
mercado de trabalho), constituído dentro do poder capitalista e cuja característica principal
é o trabalho, ou seja, um setor da economia organizado sem empresas e sem capitalistas.
No centro deste pólo marginal estariam as “organizações econômicas populares” (OEP),
apontando para a criação de uma “economia alternativa”.
50
Fernandes, Florestan. Sociedade de Classes e Subdesenvolvimento. Rio de Janeiro, Zahar, 1968, Cap I.
51
Op. Cit., p. 48.
28
Florestan Fernandes encontra o significado da articulação destas estruturas
do sistema econômico dependente, que são heterogêneas e anacrônicas entre si, na função
de “calibrar” o emprego dos fatores econômicos segundo uma linha de rendimento
máximo, explorando em bases anti-capitalistas, semi-capitalistas ou capitalistas o único
fator constantemente abundante: o trabalho. O próprio padrão de equilíbrio do sistema
persegue essa articulação e combinação orgânica de estruturas econômicas em diferentes
estágios de desenvolvimento. Para Fernandes, nem sempre uma posição ativa nas relações
de produção incorpora o agente econômico ao mercado, portanto é a posse ou não de bens
que fornece o requisito mais geral que pode servir de fundamento à caracterização
sociológica. Entre os “não-possuidores de bens”, cabe diferenciar entre aqueles que
valorizam sua posição ativa no sistema econômico, e aqueles cujo trabalho não encontra
posição no mercado de trabalho capitalista, e, portanto, cujo trabalho não conta como
mercadoria. Esta última categoria não constitui parte do exército industrial de reserva,
antes formando a camada social que Florestan Fernandes chama de os “condenados do
sistema”, ou seja, “o setor humano marginal de sua ordem econômica”.
Kowarick 52 avança por essa trilha e conclui que, nas sociedades latino-
americanas, a marginalidade de amplos setores sociais decorre do fato das economias da
região configurarem-se como dependentes, e não somente como capitalistas. Sem negar a
existência de marginalidade nos países desenvolvidos, Kowarick afirma que há um “novo
tipo de desenvolvimento (ou subdesenvolvimento) que tem por característica a qualidade de
ser superexcludente e de estar articulado à criação e manutenção de relações de produção
de características arcaicas”. Na América Latina existe uma larga fatia populacional que não
consegue inserir-se no sistema produtivo, estabelecer-se como assalariada. Assim,
coexistem neste setor marginal o desemprego, o subemprego, e as ocupações e formas de
trabalho não propriamente capitalistas, que, no entanto, alimentam o sistema.
52
Kowarick, Lúcio. Capitalismo e Marginalidade na América Latina. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985, pp.
61-62. Debatendo com textos anteriores de Nun e Quijano.
29
Trata-se de uma única lógica estrutural de tipo capitalista, que gera e mantém formas de
inserção na divisão social do trabalho não tipicamente capitalistas. Estas, longe de serem
um peso morto, constituem-se em partes integrantes do processo de acumulação de capital.
30
Ao analisar a obra de Quijano, Singer 53 critica a divisão da economia
capitalista num setor “marginal” e outro “monopolístico”, embora não negue que diferenças
entre setores e ramos econômicos podem ocorrer devido à composição orgânica do capital,
devido ao custo da reprodução da força de trabalho, e devido ao tamanho da demanda.
53
Singer, Paul. “Urbanização, Dependência e Marginalidade na América Latina”. in: Singer, Paul. Economia
Política da Urbanização. São Paulo, Brasiliense, 1973, pp. 63-90.
54
Op Cit., pp. 87-88.
55
Singer (1998), Op. Cit.
31
coletivo, tais como saúde e educação, tendo, portanto, uma capacidade restrita para
empregar trabalhadores; 2) A acumulação capitalista é responsável, no Brasil, por quase
metade dos postos de trabalho e se rege tendo em vista três finalidades: ampliar a produção,
aumentar a produtividade e lançar produtos novos. Este setor tem uma evidente
superioridade tecnológica, o que lhe dá uma vantagem competitiva enorme; 3) A
acumulação autônoma, por sua vez, é a única que se rege pela força de trabalho. Integrante
deste tipo de acumulação, a empresa familiar, isto é, a produção simples de mercadorias,
tende a ser o destino do contingente humano que o aumento de produtividade e a
globalização vêm expulsando das empresas capitalistas, via desemprego tecnológico e
desemprego estrutural, ambos causas do empobrecimento dessa massa de trabalhadores.
56
Singer, Paul. “Desemprego e Exclusão Social”. São Paulo em Perspectiva, vol. 10, nº 1, jan-mar 1996, pp.
3-13.
32
Sendo assim, a exclusão social do contingente humano que foi expulso dos
empregos formais em empresas capitalistas consolida-se quando estes passam a integrar o
“setor informal”, definido como “as atividades semilegais, extremamente precárias e que
deixam os seus produtores numa penumbra entre a marginalidade social e a
superexploração do trabalho familiar em domicílio”. As atividades econômicas informais
teriam as seguintes características: A) não seriam completamente regulamentadas pelo
Estado; B) comportariam o trabalho instável, precarizado e mal remunerado; e C) nelas, a
superexploração do trabalho seria mais evidente; resultando numa situação social de
pobreza, exclusão e marginalização dos integrantes deste “setor informal”.
57
Lembremos que Castel demonstrou que a questão social se manifesta hoje a partir do enfraquecimento da
condição salarial. A relação existente entre a precariedade econômica e a instabilidade social emerge das
novas exigências tecnológicas e econômicas da evolução do capitalismo, gerando processos que alimentam
a vulnerabilidade social dos supranumerários (superpopulação relativa). Castel, Robert. As Metamorfoses
da Questão Social, uma Crônica do Salário. Petrópolis, Vozes, 1998.
33
Observamos aqui dois aspectos: 1) a força de trabalho está sendo
remunerada cada vez menos em relação ao valor do seu trabalho, isto é, ocorre uma
superexploração do trabalho; e 2) os dispositivos sócio-econômicos de integração social
por meio do trabalho, entendido como emprego formal decente agenciador de direitos,
estão em crise, dado que o estatuto e os vínculos da relação salarial estão sendo
questionados pelos processos e mecanismos econômicos. Diante destas questões, Singer
propõe uma solução não-capitalista para o desemprego e o processo de precarização do
emprego formal: a economia solidária.
58
Ceceña Martorella, Ana Ester. “Los Miserables en la Teoría Social Latinoamericana” in: Marini, Ruy
Mauro e Millán, Márgara (org.). La Teoría Social Latinoamericana. México, UNAM, 1996, Tomo II, pp.
237-262.
59
Op Cit., p. 261.
34
visto que aí se manifesta somente o segmento denominado por Marx de superpopulação
flutuante, ou seja, aqueles trabalhadores que competem diretamente no mercado de trabalho
por postos ligados às empresas capitalistas.
60
Marini, Ruy Mauro. Dialética da Dependência. Petrópolis, Vozes, 2000.
35
Ora, o “trabalho informal” se insere nesta lógica capitalista, pois pode ser
identificado com as camadas pauperizadas do exército industrial de reserva, bem como
com a camada social que vive do subemprego, denominada lumpemproletariado. A
presença de trabalho instável, precário, e mal remunerado em empresas semilegais, que são
ainda assim empreendimentos capitalistas, acontece no contexto da realidade maior da
formação social latino-americana: a dependência estrutural da economia e da sociedade
face aos centros desenvolvidos do capitalismo globalizado. O “trabalho informal”, neste
sentido, é o extremo social do processo econômico denominado por Marini de
superexploração do trabalho, no qual a intensificação do trabalho, o aumento da jornada de
trabalho, enfim, a remuneração da força de trabalho abaixo do seu valor real, combina-se
com a desproteção legal do trabalho, criando uma situação que oprime os produtores na sua
luta para sobreviver.
Considerações finais
36
possível demonstrar que a positividade do padrão flexível não se confirma como anunciado,
e, na verdade, há um crescimento das práticas de precarização do emprego, com
agravamento das condições de trabalho, compressão dos salários e aumento do
desemprego. 61 Esta discussão ganha importância na medida em que se reconhece a
correlação entre reestruturação industrial, de um lado, e exclusão social, desigualdade e
pobreza, de outro.
61
Ramalho, José Ricardo. “Trabalho e Sindicato: Posições em Debate na Sociologia Hoje”. Dados, vol.
43, nº. 4, 2000.
62
Cf. Ianni, Octavio. O Imperialismo na América Latina. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1988.
63
Cf. Chesnais, François. A Mundialização do Capital. São Paulo, Xamã, 1996.
37
emprego de mão-de-obra, tais como a subcontratação e a terceirização, vinculam estas
ocupações diretamente ao processo capitalista de produção.
64
Cf. Luxemburg, Rosa. A Acumulação de Capital. São Paulo, Nova Cultural, 1985.
38
Conseqüentemente, o crescimento do “mercado informal” nada mais é do que expressão do
vínculo existente entre as recentes transformações da estrutura produtiva, incluindo as
mudanças nas relações de trabalho capitalistas, com a dinâmica dos fenômenos do
desemprego e subemprego, i. e. informalidade.
39
rendimentos e pela exclusão social que cerca a negação de direitos trabalhistas. A
“economia informal”, por sua vez, pela sua característica de subordinação aos setores
dinâmicos do capitalismo, revela de imediato a sua inconsistência e lateralidade com
relação ao processo de acumulação de capital. Entretanto, suas outras características, tais
como ilegalidade e superexploração do trabalho, a tornam não somente funcional ao
sistema, mas, principalmente, fonte importante de receitas e lucros submersos, intangíveis e
voláteis. Estas peculiaridades do capital neste setor são propícias para instituir a “economia
informal” como origem de assimetrias sociais decorrentes de desigualdades de renda e
riqueza. Dado que a pobreza, multidimensional por sua natureza, é reforçada pela
desigualdade social, temos uma situação na qual a “economia informal”, ao criar e
reproduzir desigualdades, alimenta a pobreza estrutural que, como sabemos, é integrada,
em grande parte, pelos que trabalham no “setor informal”
65
Cf. Estenssoro, Luis. Capitalismo, Desigualdade e Pobreza na América Latina. São Paulo, FFLCH-USP,
2003, (Tese de Doutorado).
40
* * *
41
Bibliografia
ABRAMO, L. “Desafios atuais da sociologia do trabalho na América Latina: Algumas hipóteses para a
discussão”. Buenos Aires, CLACSO, mimeo.
ARBACHE, J. S. “Pobreza e Mercados no Brasil”. In: CEPAL. Pobreza e Mercados no Brasil: uma Análise
de Iniciativas de Políticas Públicas. Brasília, CEPAL Escritório do Brasil/ DFID, 2003, pp. 9-62.
CASTEL, R. As Metamorfoses da Questão Social, uma Crônica do Salário. Petrópolis, Vozes, 1998.
CASTRO, N. e DEDECCA, C. “Flexibilidade e Precarização: Tempos mais Duros”. In: Castro, N. e Dedecca,
C. (orgs.). A Ocupação na América Latina: Tempos mais Duros. São Paulo, ALAST, 1998, pp. 9-18.
CORAGGIO, J. L. “Del Sector Informal a la Economía Popular”. Nueva Sociedad, pp. 118-131.
CUT, Mapa do trabalho informal do Município de São Paulo. São Paulo, CUT, maio de 2000.
ESTENSSORO, L. Capitalismo, Desigualdade e Pobreza na América Latina. São Paulo, FFLCH-USP, 2003,
(Tese de Doutorado).
42
FASSIN, D. “Exclusion, underclass, marginalidad”. Revue Française de Sociologie, XXXVII, 1996, pp. 37-
75.
FURTADO, C. Teoria Política do Desenvolvimento Econômico. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1987.
KAY, C. Latin American Theories of Development and Underdevelopment. London, Routledge, 1989.
KOWARICK, L. Capitalismo e Marginalidade na América Latina. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985.
MAUSS, M. “Une catégorie de l’esprit humain : la notion de personne celle de ‘moi’ ”, 1938. Disponível na
coleção: "Les classiques des sciences sociales", em http://www.uqac.uquebec.ca/zone30/
classiques_des_sciences_sociales/ index.html.
NORONHA, E. “Informal, Ilegal e Injusto: Percepções do Mercado de Trabalho no Brasil”. RBCS, vol. 18, nº
53, out 2003, pp. 111-179.
NUN, J. “El Futuro Del Empleo y la Tesis de la Masa Marginal”. Desarrollo Económico, vol 38, nº 152, jan-
mar 1999.
OFFE, C. “Trabalho: a Categoria Sociológica Chave?”. In: OFFE, Claus. Capitalismo Desorganizado. São
Paulo, Brasiliense, 1991.
43
POCHMANN, M. “O Excedente de Mão-de-obra no Município de São Paulo”. In: CUT, Mapa do trabalho
informal do Município de São Paulo. São Paulo, CUT, maio de 2000, pp. 11-18.
QUIJANO, A. La Economía Popular y sus Caminos en América Latina. Lima, Mosca Azul, 1998.
RAMALHO, J. R. “Trabalho e Sindicato: Posições em Debate na Sociologia Hoje”. Dados, vol. 43, nº. 4,
2000.
ROSENBLUTH, G. “Informalidad y Pobreza en América Latina”. Revista de la CEPAL, Nº 52, abril de 1994,
pp. 157-177.
SALAMA, P. e VALIER, J. Pobrezas e Desigualdades no Terceiro Mundo. São Paulo, Nobel, 1997.
SINGER, P. “Desemprego e Exclusão Social”. São Paulo em Perspectiva, vol. 10, nº 1, jan-mar 1996, pp. 3-
13.
SINGER, P. Social Exclusion in Brazil. OIT, Labour Institutions and Development Programme, 1997,
DP/94/1997.
SOARES, L. T. R. Ajuste Neoliberal e Desajuste Social na América Latina. Rio de Janeiro, UFRJ, 1998.
THEODORO, M. O Estado e os Diferentes Enfoques sobre o Informal. Brasília, IPEA, novembro de 2002,
Texto para Discussão nº 919.
WEBER, M. “El Origen del Capitalismo Moderno”. In: WEBER, M. Historia Economica General. México,
Fondo de Cultura Economica, 1978.
44