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RAMON PENDEZA
Santa Maria
2010
RAMON PENDEZA
Santa Maria
2010
Ramon Pendeza
__________________________________________
Dra. Luciana Mielniczuk
(Presidente/Orientadora)
__________________________________________
Me. Marcelo Freire
(Professor do Decom do Cesnors/UFSM)
__________________________________________
Maurício Dias
(Jornalista e mestrando no PPGCOM/UFSM)
__________________________________________
Silvana Dalmaso
(Jornalista e mestranda no PPGCOM/UFSM - Suplente)
AGRADECIMENTOS
Eu deveria agradecer a todas as pessoas que cruzaram meu caminho nos últimos anos,
inclusive em experiências ruins, pois mesmo estas – e principalmente estas – me fizeram ser
mais forte e não desistir de ir até o final. Indiferentemente disso, há alguns nomes que eu
preciso mencionar aqui.
Não posso deixar de colocar minha mãe, Maria Ezolete, no topo desta lista. Seria
preciso páginas e mais páginas para agradecer tudo que ela faz por mim, e mesmo assim eu
não saberia escolher as melhores palavras.
Agradeço à Andressa Ferla, a melhor amiga do mundo, que sempre me incentivou e
sempre ouviu meus desabafos nas horas difíceis.
Também sou grato a minha família pelo apoio, especialmente a vó Victória pela
atenção e pelas orações, e aos tios Eron, Tânia e Rosane pela ajuda financeira durante o curso.
E aos primos e outros tios – são muitos – pelo carinho e apoio psicológico.
À Punky, minha gatinha, por sempre me fazer sorrir, e também pela companhia nas
madrugadas de estudo, não me deixando dormir ou dormindo comigo.
A Luciana “Luti” Mielniczuk, por ter colocado meus pés no chão quando eu queria
solucionar todos os problemas do mundo na minha primeira pesquisa acadêmica, e por todos
os ensinamentos no último ano da faculdade.
Aos colegas e amigos que fiz no Cesnors, em especial ao Antonio Marcos Demeneghi
com que gastei horas discutindo o futuro da comunicação e da sociedade, e ao Lucas Wirti, à
Laisa Fantinel com quem fiz festas muito legais em Frederico Westphalen.
A todos meus ex-professores do Cesnors, pela amizade e pelo conhecimento que me
passaram nos três anos que estudei em Frederico Westphalen, e principalmente por terem
acreditado e apostado no meu potencial.
Ao Luciano Miranda, meu amigo e meu primeiro orientador, pelos ensinamentos e
pela confiança que depositou em mim.
Ao grupo de pesquisa Jordi, pelas reuniões nas quais, quieto mas atento, aprendi muita
coisa.
Aos colegas da Facos, por me receberem com respeito no último ano do curso, e
especialmente ao Marcelo De Franceschi pela amizade e prontidão sempre que pedi ajuda.
Por último – para ele não ficar convencido – agradeço ao Izaner Durlo, por ter sido um
amigão e por tolerar meus atrasos nos compromissos, principalmente nesse último ano de
faculdade que estou de volta à Santa Maria. Valeu!
Cada um é sua própria mídia.
Lucien Sfez
RESUMO
This work has been developed from the theme journalism and microblogging, and also from
problematizations involving professionalism versus amateurism. To make it possible, in a first
moment we present a review of three spheres of media: mass, self and social. Then we
approach the digital journalism and also non-professional journalistic practices, directing our
thought to the microblog Twitter, until we achieve the Long Tail (Anderson, 2006). In a
second moment, we present a comparative analysis of a newsworthy fact's coverage on
Twitter - the occupation of the Santa Maria's City Council by students and members of social
movements in October 2010 - for three different kinds of profile: a mainstream journal, an
independent journalist, an amateur. From this analysis, we observe how was the participation
and how each of these profiles has covered the case which we call #OnibusSm.
Figura 1 – Seriado Batman transmitido nos anos 1960 na televisão norte-americana _____ 21
Figura 2 – Capa da revista Veja de março de 1979 ________________________________ 24
Figura 3 – Capa do fanzine Estúdio de ideias de janeiro de 2010 ____________________ 24
Figura 4 – Busca por Aerosmith no YouTube, a divisão do espaço por mass e self media _ 30
Figura 5 – Ascensão de Ana Free: do YouTube ao mainstream ______________________ 31
Figura 6 – Ascensão de Heat: do mainstream ao YouTube __________________________ 31
Figura 7 – Twitter na telefonia celular __________________________________________42
Figura 8 – Tweet diálogo entre @dceufsm e @eudecaliine _________________________ 49
Figura 9 – Tweet cobertura/comentário do @claudemirpe __________________________ 50
Figura 10 – Transparência e espontaneidade na cobertura de @claudemirpe ___________ 50
Figura 11 – Finalização da cobertura pelo @diariosm _____________________________ 51
Figura 12 – Tweet do @dceufsm corrigindo informação passada por jornal de referência _ 52
Figura 13 – Retweet interno do @diariosm _____________________________________ 52
Figura 14 – Retweet externo do @claudemirpe __________________________________ 53
Figura 15 – Uso de links pelo @diariosm direcionando a um blog da equipe do Diário ___ 53
Figura 16 – Uso de links pelo @claudemirpe direcionando ao seu próprio blog _________ 54
Figura 17 – Uso de links pelo @dceufsm direcionando a espaço não-profissional _______ 54
Figura 18 – Uso de links pelo @dceufsm direcionando a espaço profissional ___________ 54
Figura 19 – Direcionamento sem link à empresa com mais de um meio – RT pelo DCE __ 55
Figura 20 – Direcionamento com link à empresa com mais de um meio – RT pelo DCE __ 55
Figura 21 – Direcionamento com link à empresa híbrida – tuitado pelo DCE ___________ 55
Figura 22 – Palavras-chave nos tweets do @diariosm _____________________________ 57
Figura 23 – Palavras-chave nos tweets do @claudemirpe __________________________ 57
Figura 24 – Palavras-chave nos tweets do @dceufsm _____________________________ 57
.
LISTA DE GRÁFICOS
INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 11
.
CAPÍTULO I – DOS MEDIA AOS SOCIAL MEDIA ___________________________ 15
1.1 Mass Media ___________________________________________________________ 18
1.2 Self Media ____________________________________________________________ 22
1.3 Social Media __________________________________________________________ 26
Ainda não saímos às ruas com brincos que comunicam, como previa Nicholas
Negroponte em meados dos anos 1990. No entanto, não estamos muito longe da proposição –
otimista – do autor do livro A vida digital 1 se considerarmos que as joias eletrônicas
ornamentam parte da população, por exemplo, em forma de fones de ouvido conectados a
smartphones. Não obstante, computadores conectados à internet tornam a comunicação
humana mais imediata e interativa a cada dia. Correios eletrônicos, mensageiros instantâneos,
blogs, redes sociais, possibilitam a interação entre indivíduos de todos os cantos do mundo de
forma inédita, e permitem que a experiência virtual naturalize-se como real.
Depois dos blogs, grande parte das novas criações para a internet – em geral, não
idealizadas com finalidade jornalística – foram exploradas tanto por amadores quando por
profissionais para a difusão de produto midiático informativo. Esse processo é intensificado
quando as gerações nascidas simultaneamente ou depois da internet chegam a uma idade que
as permite tais ações, algo que acontece cada vez mais cedo. Kuklinski menciona que
“quando nativos digitais não encontram a ferramenta apropriada para desenvolver certa tarefa
de comunicação, eles a inventam. Ou modificam aplicações pensadas para fins diferentes. Isto
provoca a criação constante de novos meios” (2009, p. 257). Os microblogs3 são exemplos
disso. O Twitter, que induzia seus usuários a responderem a questão “What are you doing?”,
posteriormente substituída por “What's happening?”, é a plataforma de microblogging mais
popular do mundo, e muitos dos seus usuários (profissionais ou não) estão experienciando
diferentes práticas jornalísticas.
As tecnologias DIY (Do It Yourself)4 – como as das aplicações Web 2.0 – causaram
uma grande inovação nessa primeira década do século XXI. O fato de as mídias e, por
conseguinte, o jornalismo sofrerem transformações cada vez mais rapidamente, e de novos
formatos e “modos de fazer” surgirem de forma incessante não impede – pelo contrário, exige
– que estudemos casos e fenômenos, mesmo sabendo que estes podem fazer parte do passado
– obsoletos – antes mesmo do término das pesquisas.
2 Pseudônimo do blogueiro que consiste da soma da palavra "paz" nos idiomas árabe (salām) e latim (pāx). Em
2003 foi publicado um livro baseado em "Where is Raed?" intitulado The Baghdad Blog (O Blog de Bagdá,
em português). O livro é composto por entradas de blog de setembro de 2002 a junho de 2003.
3 Microblogs são instrumentos de comunicação onde o usuário tem em média 140 caracteres para descrever o
que está fazendo em um dado momento. Esses microblogs são usados por empresas jornalísticas, políticos e
outras instituições, ou como novos formatos artísticos, como microcontos (Lemos e Lévy, 2010).
4 Apropriação da expressão que surgiu no cenário punk em meados dos anos 1970. Do It Yourself traduzia, de
certa forma, o espírito empreendedor e anarquista daquele movimento.
13
independente, e por não-profissionais em uma plataforma online razoavelmente nova, o já
mencionado Twitter. Esse fato é a ocupação da Câmara de Vereadores de Santa Maria por
estudantes e representantes de movimentos sociais no dia 25 de outubro de 2010, que
chamaremos de “caso #OnibusSm”.
5 CLOUTIER, Jean. L'ère d' EMEREC ou la communication audio-scripto-visuelle à l'heure des self-média.
2e. Montréal: l'Université de Montéal, 1975.
6 Eventualmente acrescemos o adjetivo “profissional” aos substantivo “jornalismo” e “jornalista”. Isso é feito
apenas com a intenção de enfatizar a distinção do produto ou produtor amador. Mesmo tendo ciência da atual
polêmica sobre a não obrigatoriedade da formação acadêmica – do diploma – para a execução da profissão,
defendemos que a expressão jornalismo deve ser sempre vinculado ao profissionalismo. Isso não quer dizer
que somos contra práticas de caráter jornalístico – pelo contrário, as incentivamos –, apenas esperamos as
devidas distinções, começando por sua denominação.
14
de referência (Diário de Santa Maria) no microblog Twitter. Aqui, tentaremos fazer o
cruzamento da teorização apresentada nos dois capítulos iniciais com o material coletado
empiricamente.
Canal ou cadeia de canais que liga a fonte ao receptor. Sistema (constituído por
elementos físicos) onde ocorre a transmissão de mensagens. “Meios ou veículos capazes
de assumir formas que tenham características de mensagens ou que transmitam
mensagens” (George Gerbner). Assim como as mercadorias podem atingir seu destino
por vários meios de transporte, as mensagens (vistas como produto material, sequência
de sinais físicos) podem chegar ao receptor utilizando diversos meios (veículos) de
comunicação (1978, p. 305).
Além deste apontamento feito por Filho, devemos observar que media é sinônimo de
mass media desde o século XIX. Guardemos essa questão para mais adiante. Antes, voltemos
um pouco mais no tempo.
A noção de media é tida desde tempos remotos. Antes de empregar-se o termo aos
meio de comunicação de massa, os livreiros7 eram vistos como “intermediários” entre
8 Prosopopeia: figura de estilo que consiste em atribuir a objetos inanimados ou seres irracionais sentimentos
ou ações próprias dos seres humanos.
9 Metonímia: figura de linguagem que consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de
semelhança ou a possibilidade de associação entre eles.
17
massivo. Por convenção – já que concessões para operar rádio e televisão, bem como as
condições para se manter um grande veículo impresso, inferem historicamente poder
aquisitivo – os mass media são relacionados a grandes conglomerados midiáticos.
Hoje, todavia, é nítida a extrapolação desses media (mass e self). Há confusão nos seus
papéis e características devido, principalmente, às tecnologias da informação e comunicação
(TIC) e ao ciberespaço que permitiram, por exemplo a ruptura dos limites geográficos pelos
self media. Segundo Lemos:
Atualmente, aquilo que Lemos chamou de função massiva perde força. Por função
massiva compreende-se um fluxo centralizado de informação com controle editorial do polo
da emissão por grandes empresas em processo de competição, financiadas pela publicidade;
busca pelo hit, o sucesso de massa, que mantém as verbas publicitárias (LEMOS; LÉVY,
2010). O que era fluxo massivo nas mídias, como a TV, o rádio e o impresso, passa a
desempenhar agora o que o autor sugere chamarmos de “função pós-massiva”, função
personalizável, interativa, estimulando não só o consumo, mas também a produção e a
distribuição de informação. As novas mídias, como a internet, os telefones celulares, os
microcomputadores, assim como os softwares, agentes e inúmeras ferramentas de
comunicação, podem desempenhar funções abertas, colaborativas, interativas, distributivas,
“pós-massivas” (LEMOS; LÉVY, 2010). Esses processos coexistem, como conclui Lemos:
18
A paisagem comunicacional contemporânea é formada hoje por processos massivos,
com o fluxo informacional centralizado, e pós-massivos, customizados, onde qualquer
um pode produzir, armazenar e circular informação sobre vários formatos e modulações.
É o que o Castells chama de 'mass self communication' (2007, p. 9).
Mass, do inglês, massa; adicionado com o termo media, plural do termo latino medium,
meio condutor, espaço intermediário (na física, medium é corpo ou ambiente que atua
como suporte para ocorrência de fenômenos de propagação). Mass media é termo
anglo-saxão do início do século XX utilizado para caracterizar o conjunto dos meios de
comunicação de massa10, especialmente as cadeias suprarregionais de difusão,
inicialmente em rádio e nos veículos impressos, jornais e revistas, que passaram a ter
tiragens em alta escala (2009, p. 242).
Experiências com ondas de rádio já eram realizadas no final do século XIX, mas a
História costuma mencionar uma experiência de 1906, nos Estados Unidos, como a primeira
transmissão radiofônica do mundo. No Brasil o rádio começou a ser usado em 1922. Poucos
anos depois, ainda na década de 1920, a população conhecia a televisão. No Brasil, a tevê
entrou nas casas da população apenas na década de 1950.
A mídia massiva [...] são meios informativos utilizados na esfera privada, sem nenhuma
possibilidade de emissão. Esses produtos da mídia massiva são, erroneamente,
chamados de meios de comunicação de massa. Eles cumprem efetivamente um papel
comunicacional, mas apenas por sua função informativa. Assim, televisão, rádio,
revistas e jornais são meios que não permitem o estabelecimento de processos
comunicativos mais amplos e profundos, com formatos comunicacionais de mão dupla e
efetiva troca entre consciências. Na verdade, são meios de informação que não
permitem nenhuma interação, a não ser, indiretamente, pela interpretação e demais
processos simbólicos de recepção e formação de opinião pública (2010, p. 44-45).
Apesar da problematização feita pelos autores, não podemos desconsiderar que jornal
impresso, rádio e televisão são, até hoje, os maiores representantes da mídia massiva, também
chamada de “grande mídia”, mesmo que tenham mera função informativa – o que, para
Lemos e Lévy, parece descaracterizar um efetivo processo de comunicação. Outro fato é que
esses meios transmitem o conteúdo informativo pensando sempre em aumentar suas
audiências, das quais a publicidade tira proveito.
Em outras palavras, mass media são meios com potencial de difusão de informação
para grandes massas. Sousa amplia esse conceito e apresenta os maiores problemas atribuídos
20
à expressão:
Mass media são os meios que permitem a difusão de uma mesma mensagem a uma
audiência vasta e heterogênea. Este conceito está na base do conceito de comunicação
de massas (mass communication). No entanto, como o conceito de comunicação de
massas pressupõe, de certa forma, uma audiência passiva, que se comporta
homogeneamente na sua heterogeneidade, foi sendo substituído por outras designações,
que dão melhor conta da individualidade e capacidade reativa e interpretativa de cada
receptor/destinatário, bem como da elevada heterogeneidade e segmentação – que chega
à personalização e individualização – de meios e mensagens. A designação
“comunicação social”, por exemplo, foi proposta pelo Concílio Vaticano II para
substituir o termo “comunicação de massas” (2006, p. 81).
No início dos anos 1930, estudos que corroboram com essa ideia apontavam os
receptores dos mass media como sendo uma massa homogênea, sem capacidade de resposta,
alienada13. De fato, os mass media são símbolo de uma época em que o fluxo comunicacional
é unívoco, já que o receptor das mensagens restringe-se a esse papel. Essa ideia de massa,
todavia, já passava a ser desconsiderada pela grande mídia por volta da década de 1950.
Atentando para as diferenças na audiência – indivíduos que, como veremos adiante, passavam
a produzir de forma independente cada vez mais –, a produção, mesmo serializada, passou a
ser gradativamente segmentada. Os mass media são estruturas altamente organizadas que
buscam satisfazer as preferências e as exigências dos setores do público que representam a
12 Vanoye (2006) cita o exemplo de jornais, rádio, televisão. Eles não permitem o intercâmbio, exceto através
de outros meios, como a carta do leitor (no caso dos impressos) e peguntas feitas ao telefone (o que acontece
no rádio e na televisão).
13 Essa ideia é base da Teoria Hipodérmica. Ler: WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. 5ª ed. Lisboa:
Presença, 1999.
21
maior parte do mercado para que possam se manter (CÂMARA, 1999). Como dependem da
publicidade, não podem fugir desta lógica. Logo, essa segmentação, esse “estreitamento” não
deixava de ser uma estratégia que visava lucratividade.
O seriado Batman – que passou a ser transmitido nos anos 1960 – não seria
exatamente um exemplo da segmentação, mas ilustra outra questão dos mass media. Por mais
que a massa já não fosse vista como amorfa, homogênea, ela continuava passiva 14 (no sentido
da unidirecionalidade da emissão). E isso, como vimos no início do capítulo, é algo
incorrigível pela própria natureza desses meios. Indiferentemente disso, o caso desse
programa de televisão é interessante pela frase “Tune in tomorrow – same Bat-time, same
Bat-channel!” – adaptada no Brasil para “Atá amanhã, na mesma Bat-hora, no mesmo Bat-
canal” e inspiração para outras adaptações que se tornaram clichê da televisão brasileira. O
enunciado – abusando da persuasão –, mesmo que pudesse não convencer, ajudava a manter
um público cativo – criava um vínculo, uma artificial relação de intimidade entre emissor e
receptor –, já que àquela época não existiam tantas opções de entretenimento como existem
hoje.
14 Notas sobre estudos de recepção e discussões sobre passividade podem ser vistas em: WOLF, Mauro. Teorias
da Comunicação. 5ª ed. Lisboa: Presença, 1999.
22
Observemos, porém, que a segmentação é apenas um primeiro passo para aquilo que viria ser
uma espécie de revolução da comunicação mediada. E, como menciona Sousa, o indivíduo
“comum” foi também responsável por isso:
15 Mainstream media (mídias da corrente principal, em português) é outra expressão referente à grande mídia.
Ela é usada, por exemplo, por Chris Anderson (2006) no livro Cauda Longa.
16 Original: Les self-média sont basés sur l'enregistrement des messages individuels ou de groupes (Cloutier,
1975, p.15).
23
Self media infere, em sua essência, amadorismo (por mais que esse modelo esteja
sendo quebrado atualmente); infere desligamento de empresas de comunicação, pois era
justamente a impossibilidade de criação e transmissão de conteúdo nos mass media que
fizeram os indivíduos buscarem meios alternativos.
17 Segundo Vacas (2010), um conteúdo produzido por um usuário converte-se em UGC quando os demais
podem acessá-lo (publicamente), o que implica teoricamente uma vontade explícita de seu criador.
24
queremos explicitar. Atentemos para o considerável contraste entre os mass media e os self
media:
18 Neutralidade da rede é uma expressão proposta por Tim Wu, professor da Columbia Law School, integrante
do grupo de reforma da mídia da Free Press, e um dos principais articuladores do movimento Save the
Internet.
19 Essa ideia é apresentada também por Roger Fidler, em Mediamorfosis (1998).
20 Castells (2003) refere-se ao fato de a internet ter sido desenvolvida com o ideal de libertação da grande
mídia, o que intensifica o acreditado potencial social da rede. Ler: CASTELLS, Manuel. A galáxia da
Internet: Reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
26
entende as diferenças dos seus membros e percebe as individualidades de cada um.
Computadores e dispositivos móveis, portanto, permitem a inserção das pessoas em diferentes
grupos no que chamamos de social media.
Social media é uma expressão inglesa traduzida para o português como mídias sociais.
Na página da Wikinvest21, ela própria um meio de comunicação social, encontramos a
definição: “mídias sociais descrevem sites que permitem aos usuários o compartilhamento de
conteúdo, mídias, etc”22. De acordo com a Wikipédia23, outro meio social:
as mídias sociais são meios de interação social, usando técnicas de edição muito
acessível e escalável. A mídia social utiliza tecnologias baseadas na Web para
transformar a comunicação em diálogos interativos. Andreas Kaplan e Michael
Haenlein também definem meios de comunicação social como "um grupo de aplicações
baseadas na Internet que constroem as bases ideológicas e tecnológicas da Web 2.0, que
permitem a criação e troca de conteúdo gerado pelo usuário"24.
Para Lemos e Lévy (2010), essas novas mídias atuam a partir dos princípios de
liberação da emissão, da conexão permanente em redes de conversação e da reconfiguração
da paisagem comunicacional que tem implicações nas dimensões sociais, culturais e políticas.
21 http://www.wikinvest.com
22 Social media describes websites that allow users to share content, media, etc. (Tradução livre)
23 http://www.wikipedia.org/
24 Original: Social media are media for social interaction, using highly accessible and scalable publishing
techniques. Social media uses web-based technologies to turn communication into interactive dialogues.
Andreas Kaplan and Michael Haenlein also define social media as "a group of Internet-based applications
that build on the ideological and technological foundations of Web 2.0, which allows the creation and
exchange of user-generated content".
25 Também chamado de Socialcast, expressão inspirada no broadcast. Ver: FERNANDES, Manoel (Org.). Do
Broadcast ao Socialcast: Como as redes sociais estão transformando o mundo dos negócios. São Paulo: W3
Geoinformação, 2009.
27
empresas de comunicação, e os segundos por indivíduos independentes delas – promovem
uma comunicação unidirecional, os social media baseiam-se no diálogo e na colaboração. Em
relação a esses meios, é interessante mencionarmos as palavras de Igarza:
Quando a internet deixou de ser exclusivamente uma rede acadêmica e científica, ela se
converteu em um novo meio ao alcance de um crescente número de usuários não-
profissionais, a rede foi perdendo seu inicial caráter textual em favor de um mais
plenamente multimídia (VACAS, 2010, p. 93)26.
Passou-se a falar sobre vida virtual27 – ou digital ou, ainda, online. Aqui, defendemos
que o virtual é real. De acordo com Lévy, “ele existe sem estar presente” (1999, p. 48). Existe
vida no ciberespaço, mas ela é constituída por códigos binários, por bits. A vida virtual é uma
extensão não-física da vida no mundo dos átomos. As redes sociais 28 seriam, metaforicamente,
26 Cuando Internet dejó de ser exclusivamente una red académica y científica y se convirtió em un nuevo medio
al alcance de un creciente número de usuarios no profesionales, la red fue perdiendo su inicial carácter
textual em favor de uno ya más plenamente multimedia (VACAS, 2010, p. 93)
27 O espaço virtual compreende o conjunto aberto ao infinito de maneiras de organizar os signos digitais
copresentes na rede. Cada espaço atual (definido por um sistema de classificação) pode ser considerado como
uma 'dimensão' do espaço virtual (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 203).
28 Sites de rede social com serviços baseados na web que permitem aos indivíduos construir um perfil público
ou semi-público dentro de um sistema limitado, articular uma lista de outros usuários com quem eles
compartilham uma conexão, e ver e percorrer suas lista de conexões e aquelas feitas por outras pessoas
dentro do sistema (BOYD; ELLISON, 2007).
28
nações dentro das quais existem grupos de indivíduos que compartilham signos e têm
interesses comuns. Esses grupos são as comunidades virtuais. Em síntese, Lévy diz que “uma
comunidade virtual é construída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre
projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso independente das
proximidades geográficas e das filiações institucionais” (1999, p.127)29. O autor ainda diz
que:
• Distribuição – qualquer rede digital podia agora distribuir qualquer conteúdo digital.
Isso propiciou um cenário 'todos contra todos'.
29 Lemos e Lévy sintetizam ainda mais o conceito dizendo que “comunidade virtual é simplesmente um grupo
de pessoas que estão em relação por intermédio do ciberespaço” (2010, p. 101)
30 Os termos wiki e WikiWiki são utilizados para identificar um tipo específico de coleção de documentos em
hipertexto ou o software colaborativo usado para criá-lo (Fonte: Wikipédia).
31 Uma rede social é uma estrutura social composta por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários
tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns. Uma das características fundamentais na
definição das redes é a sua abertura e porosidade, possibilitando relacionamentos horizontais e não
hierárquicos entre os participantes. "Redes não são, portanto, apenas uma outra forma de estrutura, mas quase
uma não estrutura, no sentido de que parte de sua força está na habilidade de se fazer e desfazer rapidamente"
(Fonte: Wikipédia).
29
oferecer conteúdo a menor custo. Além disso, considerando que esses equipamentos
eram cada vez mais fáceis de manejar (amigáveis), os consumidores se converteram
em produtores e, na lógica pré-internet, esses amadores “entraram no mercado”
(VACAS, 2010).
Derivada dessas características, nos deparamos com o fator atividade. Mas o que
tornou o público realmente participativo, “ativo”? Resumindo Vacas (2010), constatamos dois
motivos: o primeiro deriva-se da lógica renovação geracional do público dos meios, o que
significa que nesses anos se incorporaram boa parte dos jovens 'nativos digitais' – criados em
um entorno 100% digital – importando ao passivo mundo mainstream suas lógicas interativas.
O segundo é a popularização de determinados aplicativos de internet como blogs, salas de
bate-papo, mensageiros instantâneos e redes sociais, que estenderam a cultura da participação
ativa do usuário, demonstrando também que esta é a essência dos novos meios. Mencionando
Saffo (2005), na era da televisão o difícil – senão impossível – era participar, mas agora no
novo entorno dos social media, é difícil ser passivo (VACAS, 2010). Temos um novo receptor
que é, ao mesmo tempo, produtivo e comunicativo. Misturam-se o tempo e o espaço, o
emissor e o receptor, o consumo passivo e a crítica seletiva, cria-se um ambiente
comunicativo, como já mencionamos, híbrido. Isso é exemplificado adiante com a captura de
tela da busca pela banda norte-americana de rock Aerosmith no site de compartilhamento de
vídeos YouTube32. Veremos, dentro de retângulos contornados de vermelho, os resultados da
pesquisa referentes a grandes empresas detentoras de direitos autorais do material postado. Os
resultados sem destaque são de postagens independentes, de indivíduos comuns, que não
32 www.youtube.com
30
possuem direito sobre aquele material. Observemos:
Figura 4: Busca por Aerosmith no YouTube, a divisão do espaço por mass e self media
Fonte: http://www.youtube.com/results?search_query=aerosmith&aq=f
Expostas e discutidas questões referentes aos media, podemos agora direcionar nosso
trabalho especificamente ao jornalismo.
33
Na web, ao contrário da mídia impressa, a relevância de uma notícia não é determinada pelo
lugar em que é disponibilizada na página, mas pelo que as pessoas pensam dela.
Chris Anderson
Desde que a internet passou a ser utilizada para transmissão de informações de caráter
jornalístico, fala-se do fim do jornalismo nos meios de comunicação tradicionais. O tema
ainda é motivo de divergências, mas aos poucos torna-se consenso que o jornalismo
convencional – do impresso ao televisivo – dificilmente será extinto. Ele deve sim continuar
sofrendo transformações, da mesma forma que outros produtos (não jornalísticos) da mídia
sofrem. Isso é inevitável, considerando que as novas mídias permitem uma comunicação
diferente das suas antecessoras.
O jornalismo digital surgiu no início dos anos 1990. Sua prática restringia-se à
transposição – à realocação – do conteúdo de veículos tradicionais, como o de jornais
35 A atividade do consumidor do jornalismo tradicional, como mencionamos no capítulo anterior, é feita apenas
através de outros meios, como telefone ou carta.
35
impressos, para a internet. De acordo com Mielniczuk, “os produtos dessa fase, em sua
maioria, são simplesmente cópias do conteúdo de jornais existentes no papel, só que para a
web” (2003, p. 33). Além do “Ctrl+C e Ctrl+V” diário – fator humano –, o jornalismo digital
de primeira geração está vinculado a sites estáticos 36 que, de certa forma, podem ser
comparados às mídias tradicionais por praticamente não permitir a interatividade – fator
técnico. Com poucas chamadas e poucos links, os sites costumam parecer mais uma
publicidade para que a população comprasse o exemplar do dia nas bancas.
A segunda fase foi possível devido aos constantes avanços das TIC que possibilitaram,
no final dos anos 1990, mudanças não apenas no jornalismo digital como em todo a web.
Aqui, atualizações no site já podiam ser feitas durante uma edição e outra dos tabloides, e o
uso do e-mail se tornava mais comum na comunicação entre jornalistas e leitores. As
publicações do jornalismo digital de segunda geração se ancoram nos jornais impressos, mas
os jornalistas exploram os recursos hipertextuais (MIELNICZUK, 2003). Superando a mera
transposição, agora a informação começava a ser alterada em termos de linguagem e
narrativa.
Segundo Vacas, “como todo meio, a internet possui códigos, formatos e audiências
próprias, em todo caso, diferentes dos meios convencionais, que tiveram que adaptar seus
conteúdos às características da rede para poderem atuar nela (2010, p. 23). Além das
adaptações dos mass media tradicionais, vemos ainda durante a segunda geração do
jornalismo digital o surgimento de novas grandes empresas – exclusivamente onlines.
Provedores como o Terra (Zaz, na época), o America Online e o Universo Online criaram
portais que misturavam jornalismo – alimentado, em geral, por agências de notícias – e
entretenimento – salas de bate-papo, hospedagem de páginas pessoais e formas primitivas de
comunidades virtuais.
36 Um site estático, em síntese, é aquele que o webdesigner desenvolve todo o layout e faz a montagem de suas
páginas Html de forma estática. Nesses sites tanto os textos quanto as imagens são atualizadas através do
webdesigner.
36
confiança nas fontes de informação supõe um capital, para os diários, que parece se
configurar como uma vantagem em relação aos sites, blogs e demais formatos. Em uma
versão mais otimista, é possível uma associação entre o prestígio do impresso com a
flexibilidade da edição eletrônica que, junto a outros meios, formariam conglomerados
midiáticos exitosos.
O jornalismo digital de quarta geração, por sua vez, consolidara a utilização de bancos
de dados complexos (relacionais, voltados a objetos) através da utilização de ferramentas
automatizadas e diferenciadas (sistemas para a apuração, a edição e a veiculação das
informações) na produção de produtos jornalísticos (SCHWINGEL, 2005).
37 Não podemos confundir essa produção com aquela das agências de notícias que geravam conteúdo genérico
– que podia se adaptar a várias mídias.
37
sites. Como já mencionamos, as gerações coexistem. Por isso, ainda podemos encontrar
muitas empresas produzindo jornalismo de primeira ou segunda geração. Da mesma forma,
podemos ver sites misturando características das quatro gerações.
Percebemos que, apesar de ser um dos princípios da internet, somente nos últimos
anos – com o desenvolvimento de plataformas e aplicativos amigáveis e direcionados à
socialização – presenciamos o ápice da comunicação “todos-todos”, o real sentido da
liberação do polo emissor. Wikis e blogs são exemplos de espaços que se popularizaram
significativamente nos últimos 10 anos. Quem tem acesso à internet dificilmente desconhece a
Wikipédia e nunca publicou ou ao menos acessou ao Blogger38.
38 http://www.blogger.com
39 Todavia, evitamos chamar os amadores de jornalistas, mesmo sabendo que a profissão só tornou-se
regulamentada há poucas décadas atrás e que práticas de investigação e reportagem de informação decorrem
há séculos de forma não-profissional.
38
representa uma tendência mundial que chamamos de “Pro-Am” – abreviatura de professional
amateurism (traduzido como amadorismo profissional) – na qual indivíduos não-profissionais
exercem funções que necessitam de especialização40. Nessa caso, cada pessoa que se encontra
como testemunha de um acontecimento pode propor para o mundo todo a sua versão dos fatos
(em texto, foto, som ou vídeo).
Para além da questão dos pro-ams, percebemos que com as atuais tecnologias móveis,
esses usuários-produtores desempenham uma função muito maior do que a comunicação
interpessoal. Fala-se também de mobile journalism (jornalismo móvel) ou locative journalism
(jornalismo locativo) para práticas que utilizam essas novas tecnologias para localizar e
publicar notícias seja por jornalistas profissionais, seja pelo cidadão “comum” (LEMOS;
LÉVY, 2010). É cada vez maior o número tanto de profissionais quando de amadores
utilizando dispositivos portáteis como smartphones, netbooks e tablets para a produção e a
publicação de conteúdo jornalístico.
40 Pro-Am é um termo cunhado pelo centro de altos estudos inglês Demos. Ler: Leadbeater, Charles; Miller,
Paul. The Pro-Am Revolution How enthusiasts are changing our economy and society. Demos, 2004.
Disponível em: <http://www.demos.co.uk/publications/proameconomy>.
39
espelham no jornalismo para dar forma aos seus produtos, porém, inserem novos elementos
comunicacionais em seus domínios. Exemplo clássico disso são os blogs, que permitem
comentários em postagens, algo inviável . Assim, é extrapolada a ideia de que a divulgação de
notícias é exclusividade dos veículos jornalísticos massivos, bem como a de que emissores e
receptores têm papéis definidos no sistema de produção, emissão e consumo da informação
(BELOCHIO, 2009). Observemos agora o gráfico ilustrativo que representa a produção
versus consumo para que entendamos a teoria da Cauda Longa:
Ponderemos, porém, que a teoria da Cauda Longa não aplica-se ao jornalismo digital
diretamente em relação aos locais onde são produzidos e disponibilizados, mas sim em
relação aos seus produtores e, consequentemente, seus conteúdos. Em outras palavras, não é
necessariamente o suporte da informação que define a posição na cauda, e sim quem a produz,
40
o próprio produto e a credibilidade atribuída a eles. Como a grande mídia costuma ter o maior
número de consumidores seja em seus sites, seja em outras plataformas, poderíamos observar
todos os suportes no topo dos gráficos. O mesmo serve para aqueles produtores e produtos
desligados da grande mídia. Tanto em sites elaborados, quanto em blogs e microblogs eles
apareceriam na chamada cauda longa dos gráficos. Tentamos explicar a constatação a seguir:
Quando mencionamos, no final do capítulo anterior, que aos indivíduos ainda são
restritas algumas maneiras de produção/disponibilização de conteúdo tentávamos fazer
entender que esse é o único motivo pelo qual os suportes podem ser interpretados como
determinantes de posições nos gráficos de produção/consumo. Portanto, podemos dizer que os
nichos, os elementos da cauda longa do jornalismo mais populares são os blogs, os sites de
compartilhamento de vídeo e imagem e, mais recentemente, os microblogs, já que são os não-
jornalistas que correspondem a grande maioria dos produtores destas plataformas, enquanto
os jornalistas representam maior número na produção em sites e portais de notícias. Dessa
forma, a melhor maneira de representarmos o gráfico de consumo do jornalismo – e, nesse
caso, não apenas o digital – é como sugerimos no gráfico que veremos na página seguinte,
com a grande mídia representando os hits, e com os amadores e jornalistas em nichos na
cauda longa:
41
Como o microblog Twitter é a rede que concentra hoje um dos maiores – senão o
maior – números de usuários produtores de conteúdo informativo não-profissional online, é
interessante que nos questionemos sobre esse fenômeno contemporâneo. O sucesso desse
novo formato de plataforma justifica-se com a necessidade da população em geral de não
perder tempo e de buscar a simplificação – a brevidade – em quase tudo, especialmente
quando o assunto é comunicação. Narrativas breves e/ou fragmentadas, sejam ficcionais ou
não-ficcionais, são mais facilmente assimiladas pelo receptor. Esses são fatores humanos. De
acordo com Igarza, “a brevidade e a imediatez também são parte do universo midiático. As
notícias se apresentam cada vez mais enxutas. Da agência passa à página do jornal gratuito
com a facilidade de um Enter”41 (2009, p. 169). Esse é um fator técnico, assim como o
desenvolvimento da telefonia móvel – e o uso massivo de SMS 42 – e consequentemente da
internet móvel – e o uso do Twitter, inspirado no SMS, como é mostrado a seguir:
41 Tradução livre de “La brevedad y la inmediatez son parte además del universo mediático. Las noticias se
presentan cada vez más magras. De la agencia pasa a la página del periódico gratuito con la facilidad de un
Enter”.
42 Abreviação de Short Message Service (Serviço de Mensagens Curtas, em português), que em geral permitem
o uso de 160 caracteres.
42
43 Foursquare (http://foursquare.com/) é uma rede social e de microblogging que permite ao utilizador indicar
onde se encontra e procurar por contactos seus que estejam próximo desse local. O aspecto lúdico vem do
facto de ser possível acumular distintivos relativos a lugares específicos (Fonte: Wikipédia).
44 Notícia publicada no blog Link, do Estadão. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/link/o-twitter-nao-
e-rede-social/>.
43
contrariando Thau. Além disso, como lembramos em outro momento, o Twitter sugeria que
seus usuários respondessem o que estavam fazendo, algo que dificilmente poderia ser
considerado uma notícia, ou um conteúdo de caráter noticioso. Mesmo que esse não seja um
argumento decisivo – concreto –, lembremos que foi apenas mais tarde que a pergunta
sugeriria que o usuário respondesse o que estava acontecendo, algo que é mais relacionado a
conteúdo, à informação de interesse público. Hoje, Vacas (2010) vê o Twitter como agência
de notícias global, instantânea e gratuita. Em outras palavras, podemos pensar nesse
microblog como uma espaço social onde profissionais e amadores interconectados produzem
e publicam conteúdo livremente. E esse material pode ser fonte de informação não apenas
dentro da rede, mas também fora, em outros locais (inclusive fora do ciberespaço).
Consideremos ainda que os indivíduos estão, em tese, em todo o lugar e formam uma
rede, os jornalistas são poucos e dependem do acaso ou da agenda para produzir seus
conteúdos. Para além do jornalismo, não apenas através do Twitter, mas também de outros
microblogs contínuos, a relação social pelo ciberespaço torna-se quase permanente. Pessoas
da mesma rede compartilham o dia a dia, ou mesmo sobre uma base horária, sua atividades
quotidianas.
permitem não só a produção livre, mas também a circulação aberta e cooperativa dos
produtos informacionais. Não há preocupação com grandes verbas publicitárias, não se
busca o hit, mas sim suprir nichos, criando a cauda longa, proposta por Chris Anderson
(2006) (2010, p. 48-49).
• @diariosm – perfil que pertence ao jornal de referência local Diário de Santa Maria,
do Grupo RBS. Diário de Santa Maria é o tabloide com maior circulação atualmente
na cidade. Representa a grande mídia de referência.
45 Hashtag é a expressão usada para designar as etiquetas usadas no Twitter. É composta pelo símbolo “#”
acrescido de uma ou mais palavras sem espaço entre caracteres.
47
conta no Twitter, mantém um blog. Claudemir assina uma coluna do A Razão (outro
jornal local de referência) e tem um programa diário de debate na rádio Antena 1 Santa
Maria. Contudo, nem seu blog e tampouco seu twitter tem ligação com o jornal e o
rádio – são independentes. Representa, assim, o jornalista independente.
• Tempo de observação
• Critérios de análise
Selecionamos 90 tweets para o trabalho, dos quais 9 foram postados pelo jornal de
referência, 23 pelo jornalista independente, e 58 pelos não-jornalistas. Primeiramente,
classificamos os tweets em categorias, de acordo com o conteúdo e as características
apresentados em cada um deles. É importante mencionarmos que um mesmo tweet pode
apresentar características que se enquadrem em mais de uma categoria. Nesse caso, a
postagem é contabilizada em ambas as categorias. Listamos a seguir os critérios tomados para
a análise dos tweets:
48
a) cobertura instantânea – mensagens que narram fatos e que foram postadas no
momento (ou pouco após) que os fatos aconteceram;
b) comentário e opinião – mensagens que transparecem subjetividade e/ou não têm
intenção de narrar os fatos acontecidos;
c) diálogo – comunicação direta entre tuiteiros, com menção de nomes de usuários;
d) informação imprecisa e/ou inverídica – mensagens corrigidas, desmentidas
posteriormente;
e) retweets de amadores – mensagens de emissores amadores reenviadas;
f) retweets de profissionais – mensagens de emissores profissionais reenviadas;
g) hastags – mensagens que apresentam etiquetas de classificação;
h) links – mensagens que direcionam a outro local;
i) tweets posteriores – mensagens postadas ao final do caso;
j) outros veículos – mensagens que direcionam a outro meio.
A Tabela 1 nos revela que o perfil dos amadores foi o mais ativo na cobertura do caso.
Dos 58 tweets, 34 se enquadram na categoria cobertura instantânea. Esse dado remete ao
potencial das mídias sociais na produção independente e/ou amadora. Foram 15 tweets e/ou
retweets comentando e opinando sobre o caso. Essa é uma possibilidade – liberdade – do
Twitter e dos meios sociais de forma geral. O @dceufsm ainda contabilizou 9 mensagens
tuitadas e/ou retuitadas que se classificam como diálogo, portanto, podemos dizer que ele
soube explorar essa outra função da plataforma. Veja um exemplo de diálogo:
O perfil do profissional independente foi bastante participativo, mas teve mais tweets
comentando e opinando sobre o caso do que narrando-o de forma objetiva: 10 contra 9.
Observemos uma peculiaridade, como @claudemirpe mistura cobertura e comentário em um
mesmo tweet:
50
Chama atenção é que o Diário não corrigiu, nem mesmo mencionou esse tweet com
informações precipitadas. Retificações, que costumam ser comuns nos veículos de
comunicação tradicionais, mostraram-se ausentes no perfil do jornal de referência. Após essa
postagem, houve outros acontecimentos importantes que, obviamente, deixaram de ser
noticiados no microblog pelo Diário de Santa Maria, e foram exclusivos do Claudemir, que
havia mencionado que esperaria o desfecho do caso, e do DCE, que era também ator do caso.
Sobre informações imprecisas e também sobre tweets posteriores ao caso, vejamos os dados
apresentados na tabela 2:
Podemos ver que a única postagem com informação imprecisa foi o tweet apresentado
na Figura 11, no qual o @diariosm dizia que o mandato de reintegração de posse só seria
cumprido na manhã seguinte. Contudo, a reintegração aconteceu ainda durante a madrugada,
não muito depois desse último tweet do Diário. Durante o dia 26, posteriormente ao caso, o
jornal de referência e o jornalista independente tuitaram duas vezes cada um sobre o assunto.
A história rendeu mais repercussão posterior apenas no perfil dos não-jornalistas, com onze
tweets ao todo. É válido mencionarmos que os não-jornalistas ainda corrigiram, durante a
madrugada, informação transmitida pelo jornal de referência, de circulação estadual, Correio
52
do Povo, como expomos abaixo:
Figura 12: Tweet do @dceufsm corrigindo informação passada por jornal de referência
Fonte: http://twitter.com/dceufsm
3.3.3 Retweets
Façamos uma comparação, agora, a respeito dos retweets. Para apontar quem repassou
mais mensagens e o tipo de emissor dessas mensagens repassadas. Analisemos, abaixo, a
tabela 3:
O perfil que mais retuitou foi o @dceufsm. Foram 19 mensagens, e todas são de
origem amadora, fato que nos permite interpretar que há maior interação entre produtores
“similares”, o mesmo que aconteceu no @diariosm (amadores com amadores, profissionais
com profissionais).
Na tabela adiante analisamos os tweets com links direcionados a outros locais na rede,
e também aqueles que direcionam (indicam) meios tradicionais. Observemos:
Os dados mostram que 7 das 9 mensagens enviadas pelo @diariosm apresentam links.
Desses 7 tweets, 6 direcionam ao blog do jornalista do Diário de Santa Maria, Deni Zolin,
como é exemplificado adiante, e um para o site do próprio Diário.
Figura 15: Uso de links pelo @diariosm direcionando ao blog da equipe do Diário
Fonte: http://twitter.com/diariosm
54
Outra vez o jornal de referência apresenta característica de isolamento em relação aos
outros meios. Dessa vez, @claudemirpe também foge ao princípio cooperativo do ciberespaço
ao enviar 10 mensagens com links direcionados ao seu próprio blog. Vejamos um exemplo
desse direcionamento:
Figura 16: Uso de links pelo @claudemirpe direcionando ao seu próprio blog
Fonte: http://twitter.com/claudemirpe
Figura 17: Uso de links pelo @dceufsm direcionando a espaço não-profissional (Revista Vies, produzida
por alunos do curso de Jornalismo da UFSM)
Fonte: http://twitter.com/dceufsm
Figura 18: Uso de links pelo @dceufsm direcionando a espaço profissional (Diário de Santa Maria)
Fonte: http://twitter.com/dceufsm
Além disso, o perfil @dceufsm foi o único a apresentar mensagens (com e sem links)
indicando empresas de comunicação com suporte em mais de um meio : o Diário de Santa
Maria (impresso e internet) e a Rádio Santamariense (rádio e internet), como é mostrado nas
três figuras a seguir:
55
Figura 19: Direcionamento sem link à empresa com mais de um meio – RT pelo DCE
Fonte: http://twitter.com/dceufsm
Figura 20: Direcionamento com link à empresa com mais de um meio – RT pelo DCE
Fonte: http://twitter.com/dceufsm
Figura 21: Direcionamento com link à empresa híbrida – tuitado pelo DCE
Fonte: http://twitter.com/dceufsm
Outro critério de análise é o uso de hashtags pelos perfis desta pesquisa. No gráfico
adiante, além de hastags ilustramos o uso de palavras-chave nas mensagens, o que facilita a
procura no próprio Twitter e também em buscadores externos, como o GoogleSearch 46. Essas
palavras-chave foram identificadas pela frequência de uso, pelas suas aparições em diversos
tweets. Analisemos a ilustração:
46 http://www.google.com.br/
56
Vemos que o único perfil que usou etiquetas foi o dos não-jornalistas e, mesmo assim,
de forma modesta – em 6 das 58 mensagens. O recurso etiquetagem é usado atualmente em
inúmeras plataformas, mas parece ser pouco explorado pelos perfis estudados. No entanto,
intencionalmente ou não, os três twitters usam palavras-chave – indexação 47 – que, em tese,
facilitam a busca por conteúdos específicos. Ilustramos o uso de palavras-chave nas figuras
adiante:
47 Atribuição de termos a um determinado item que facilitem a recuperação da informação desejada. Hoje há
também estudos referentes ao "jornalismo de indexação".
57
Como se tratou de uma cobertura ao vivo, mesmo os profissionais não podiam aplicar
certos critérios de noticiabilidade, como a relevância das informações. Esse tipo de cobertura
– instantânea – costuma caracterizar-se pela narração de fatos à medida em que eles vão
acontecendo, indiferentemente de sua importância. Segundo Moraes (2005, apud SCHMITT;
FIALHO, 2007, p. 4), “com baixo custo e rapidez a internet favoreceu a difusão extensiva de
informações e conhecimentos, sem submetê-los às hierarquias de juízos e aos filtros
ideológicos da mídia tradicional”.
Para fins deste estudo, porém, simulamos aqui uma hierarquia de informações do caso
#OnibusSm e definimos que perfil falou o quê. Fizemos essa hierarquização a partir de
critérios jornalísticos. Consideramos, por exemplo, como as mensagens mais importantes
aquelas que anunciaram o início e o fim da ocupação, e como as menos importantes as que
58
noticiavam detalhes que não interferiram no desencadeamento do caso. A seguir, vemos um
gráfico com essa proposta:
48 Números obtidos no dia 20 de novembro de 2010. Não são muito distantes daqueles que veríamos no dia da
cobertura.
60
Finalizamos a análise comparativa do caso #OnibusSm, e agora partiremos para o
capítulo final deste trabalho. Apresentando as conclusões e algumas proposições decorrentes
da teorização dos capítulos iniciais e da análise concluída até agora.
61
“O texto de um jornalista se distinguirá cada vez menos daquele de um expert reconhecido
ou de um internauta com uma escrita hábil.”
André Lemos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma questão deve ser proposta nas páginas conclusivas desta monografia: o
microblog Twitter, bem como outras plataformas dos social media possibilitaram a existência
de um novo jornalismo ou de sistemas participativos de informação? Ao nosso ponto de vista
as duas opções são viáveis. As redes digitais e seus suportes, aplicativos e plataformas tornam
possíveis uma prática jornalística diferente daquela tradicional. No entanto, como observamos
no caso #OnibusSM, nem sempre os jornais de referência fazem uso de todos os seus
recursos. Por outro lado, o jornalista independente esteve mais enquadrado na lógica dos
social media. Das possibilidades destes meios, a cooperação é uma das que têm grande
importância. Ela foi praticada pelo Claudemir Pereira, mas descartada pelo Diário de Santa
Maria. Em outras palavras, o jornal de referência não fugiu da lógica dos meios de
comunicação convencionais. Acreditamos, porém, que por mais que a produção amadora
tenha sido mais eficiente, ela não pode ser considerada “cobertura de caso”, jornalismo. Ela é
classificada por nós apenas como relato, narração de fatos. Como esse trabalho aconteceu de
forma colaborativa, se enquadra na segunda opção mencionada na questão do início do
parágrafo, os sistemas participativos de informação. Nessa produção colaborativa de conteúdo
o DCE também chamou nossa atenção por ter exercido um papel de agregador de
informações, reenviando as mensagens de outros usuários do Twitter que diziam respeito à
ocupação da Câmara.
Tanto o DCE quando os outros perfis não profissionais que produziram conteúdo de
forma colaborativa são prosumers49 (produtor + consumidor, prossumidores, em português).
Segundo Machado (2010), Prosumers são consumidores que estão conectados à internet e que
produzem informações em web sites, blogs, comunidades online, sites de relacionamento e
outras tecnologias digitais em rede. Não entendemos mais as pessoas apenas como a ponta
final da cadeia. Vemos nascer as parcerias de consumo.
49 Prosumer é uma expressão criada por Alvin Toffler no livro A Terceira Onda (1980).
62
Outra expressão que pode ser aplicada no Twitter como ferramenta de produção de
informação com interesse jornalístico é “Pro-Am”, por ser um espaço de trabalho dividido
pelo indivíduo profissional e pelo amador, onde este último exerce funções do primeiro. Logo,
é possível dizermos que o DCE e os outros usuários do microblog, que participaram da
apuração do caso, são Pro-Ams, pois são amadores que executam atividades que exigem
qualificações profissionais. Adaptando as palavras de Anderson (2006) ao nosso contexto50, os
Pro-Ams estão sujeitos a limites, e sua maior função é coletar e não produzir conteúdo
qualificado. Contudo, muito além da simples coleta de dados, no caso #OnibusSM os
amadores superaram os profissionais – em especial, o jornal de referência – quantitativa e
qualitativamente, o que expusemos no capítulo anterior.
Os mass media sempre souberam se adaptar. Quando algo que surge das bordas da
sociedade vira moda é rapidamente absorvido pelos grandes meios, como demonstram
os exemplos das rádios piratas desde a década de 1950, os DJ's, a música rap, a pirataria
peer to peer, entre outros (2009, p. 256).
ANDERSON, Chris. A Cauda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio de
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