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Antigo

A História de Israel
Testamento
A Serviço do Mestre!
APOSTILA DE ESTUDO TEOLÓGICO

E porei o meu tabernáculo no mei de vós, e a minha alma não se enfadará. E andarei no meio de vós, e eu vos serei por Deus... Lv 26.11,12.
APOSTILA DE ESTUDO TEOLÓGICO
A SERVIÇO DO MESTRE!

GILVAN NASCIMENTO
PROFESSOR
BACHAREL EM TEOLOGIA
LICENCIANDO EM GREGO

ANTIGO TESTAMENTO
A HISTÓRIA DE ISRAEL

Salvador
2008
APRESENTAÇÃO

ANTIGO TESTAMENTO
A HISTÓRIA DE ISRAEL

Esta apostila trata-se de uma compilação, com base em várias fontes


bibliográficas, as quais estarão sendo citadas ao término desta obra.
Tenho aqui o objetivo de contribuir com a capacitação dos cristãos, para o
exercício de suas funções eclesiásticas, aplicando tais conhecimentos e assim
aprimorando seu serviço para o Reino de Deus.

"E porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma de vós não se enfadará. E
andarei no meio de vós, e eu vos serei por Deus, e vós me sereis por povo".
(Lv 26.11,12)

Salvador
2008
Sumário

Apresentação ............................................................................................ 05

Os Livros do Antigo Testamento .................................................................. 06

Visão Panorâmica do AT (Os Livros e suas Cronologias) .................................. 07 - 10

Noções de Geografia Bíblica (O Fértil Crescente)............................................. 11 - 19

Diversas Teorias do Gênesis ........................................................................ 20 - 30

A Torah

O Pentateuco ............................................................................................ 31 - 33

História de Israel

O Gênesis (Os Patriarcas - Abraão, Isaque e Jacó) .......................................... 34 - 35

O Êxodo (Israel Nômade – O Tabernáculo) ................................................... 35 - 41

Levítico (Leis, Instituições Civis e Religiosas, Culto e Festas) ........................... 42 - 44

Números (Os Recenseamentos dos Judeus) .................................................. 44 - 45

Deuteronômio (Repetição das Leis) .............................................................. 46 - 47

A Conquista de Canaã – Josué (Tribos) ......................................................... 48 - 49

Os Juízes (Libertadores) ............................................................................. 50 - 51

Monarquia - Saul, Davi, Salomão e outros reis (Divisão) ................................. 52 – 56

Os Cativeiros (Assírio e Babilônico) .............................................................. 57 – 59


Os Livros Sapienciais

Introdução ................................................................................................ 60

O Livro de Jó ............................................................................................. 61 - 62

Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão .................................. 63 - 70

Os Profetas

Introdução ................................................................................................ 71 - 72

Pré-cativeiro Assírio ................................................................................... 73

Pré-cativeiro Babilônico .............................................................................. 73

Durante Cativeiro Babilônico ....................................................................... 73

Pós-cativeiro Babilônico .............................................................................. 73

Reconstrução de Jerusalém ......................................................................... 74

O Período Interbíblico

Introdução e Cenário ................................................................................. 75

Alexandre o Grande ................................................................................... 76

Antíoco Epifânio ......................................................................................... 76

A Revolta dos Macabeus ............................................................................. 77

Os Romanos ............................................................................................. 78

Diversas Contribuições (Romana, Grega e dos Judeus) ................................... 79 - 82

Um Pouco de Atualidade

O Conflito: Israel x Palestinos ..................................................................... 82 - 83

Conclusão ................................................................................................. 84

Bibliografia ............................................................................................... 85
Apresentação

O Antigo Testamento é uma obra verdadeiramente divina porque foi


inspirada por Deus e porque nos apresenta, pode-se dizer, em cada uma de suas
páginas, a ação de Deus sobre os homens. Ao mesmo tempo, porém, é uma obra
profundamente humana, porque é destinada aos homens, fala uma linguagem humana e
nos apresenta na sua história, os homens tais quais são com suas deficiências e rebeldias
contra os desígnios divinos, não costumando encobrir as faltas dos seus heróis. Mas, ao
lado do escândalo aparece a correção.

O estudo do Antigo Testamento é fundamental para o cristão que deseja se


tornar um obreiro aprovado, pois se observa um progresso vital do Antigo ao Novo
Testamento, como do embrião que se desenvolve num organismo perfeito. Deste, deriva
uma conseqüência importante para a sua correta interpretação, pois as suas instituições
deviam ter alguma semelhança com as do Novo; eram as suas imagens antecipadas que
no Novo Testamento recebem a sua conclusão.

A melhor forma de conhecer a história de Israel é fazendo um estudo


cronológico dos livros do AT, conforme os fatos ocorreram. No entanto, a cronologia
bíblica, assim como toda cronologia antiga, é quase toda incerta. As datas eram contadas
baseadas em fatos e eventos importantes dentro de cada povo. Assim, não existia um
calendário geral para controle do tempo, antes cada povo possuía o seu.

Os escritores bíblicos, por sua vez não registravam datas, apenas citavam os
acontecimentos. Geralmente as datas, quando citadas, tomavam por base eventos
particulares como construção de cidades, coroações de reis, etc.

O trabalho de estudiosos, juntamente com as descobertas arqueológicas,


vem ajudando a precisar as datas da história antiga, inclusive à bíblica.

Sendo assim, não podemos considerar como exata a cronologia bíblica, pois
se trata de uma ciência auxiliar da história, onde suas datas devem ser tomadas apenas
como aproximadas. Mas, essa aproximação é o suficiente para que tenhamos melhor
compreensão dos acontecimentos do que se fizermos uma leitura na seqüência em que
os livros estão dispostos em nossa Bíblia.

“Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis
os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que eu vos mando“.
(Dt 4.2; 12.32; Pv 30.5,6)

5
Os Livros

O Antigo Testamento O Tanach

O Pentateuco: A Torah:

Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Corresponde ao nosso Pentateuco, inclusive


Deuteronômio. possui a mesma seqüência de livros.

Livros Históricos Os Neviym:

Josué, Juizes, Rute, I e II Samuel, I e II Estão subdivididos em duas partes:


Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias e
Ester. Os Profetas anteriores: Josué, Juízes,
Samuel e Reis.

Os Profetas posteriores: Isaías, Jeremias


e Ezequiel, mais os dozes profetas menores.

Livros Poéticos Os Kethuvym:

Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Estão subdivididos em três partes,


Cantares de Salomão. representadas pelos seguintes livros:

Livros Proféticos Os Poéticos: Salmos, Provérbios e Jó;

Profetas Maiores: Os Megilloth: Rute, Cantares, Eclesiastes,


Lamentações e Ester;
Isaias, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e
Daniel. Os Históricos: Daniel, Esdras-Neemias e
Crônicas.
Profetas Menores:

Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas,


Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias,
Ageu, Zacarias e Malaquias.

6
Visão Panorâmica

1. Gênesis  (4004-1689 a.C.) Suas narrativas compreende um período de


aproximadamente 2315 anos.

- O princípio, criação dos céus, da terra, dos animais e dos homens;


- A era Patriarcal: Abraão, Isaque e Jacó;
- Os descendentes de Jacó (Israel);
- Finaliza com José e sua morte.

2. Êxodo  (1706-1490 a.C.) Compreende um período de 216 anos.

- Inicia com a morte de José;


- Nascimento e vida de Moisés;
- Libertação do Egito após 430 anos de cativeiro
- Leis e a construção do Tabernáculo (utensílios, vestes, especiarias)

3. Levítico  Compreende um período de menos de um ano no Monte Sinai.

- Israel em adoração por meio dos rituais.

4. Números  (1490-1451 a.C.) Período de 39 anos.

- Recenseamento (Contagem do povo);


- A ordenação ao serviço;
- 39 anos de peregrinação.

5. Deuteronômio  (1451 a.C.) Período de dois meses.

- Recordação da lei;
- Chamada à obediência;
- Advertência ao cuidado.

7
Livros Históricos:

6. Josué  (1451-1427 a.C.) Suas narrativas compreende um período de


aproximadamente 24 anos.

- Alguns reconhecem como Hexateuco;


- Guerras, Conquistas e Herança (Divisão da terra);

Período dos Libertadores

7. Juízes  (1425-975 a.C.) Compreende um período de aproximadamente 400 anos de


governo dos juízes.

- Total de 12 Juízes;
- Tema: Pecado, Servidão, Arrependimento e Salvação;

Obs.: O Livro de Rute da tribo de Moabe, filho de Ló refere-se ao período de


Gideão, um dos 12 Juízes.

Período dos Reis

8. Samuel  (1171-1019 a.C.) Período de 152 anos.

- Período de transição:
* Juízes para Reis;
* Tribal para Monarquia;
* Governo de Deus (Teocracia) para o Governo do Homem.

- Os primeiros reis foram: Saul, Davi e Salomão.

9. Reis  (1015-589 a.C.) Período de 426 anos, até o cativeiro Babilônio.

- Inicia-se com a velhice de Davi para o reinado de Salomão;


- Morte de Salomão e Divisão do Reino;
- Os primeiros profetas: Aías, Homem de Deus, Elias, Eliseu e Isaias.

As Crônicas  (1056-536 a.C.) Período de aproximadamente 520 anos.

8
- Da Morte de Saul até o decreto do rei Ciro.

Obs.: Os livros de Crônicas são registros oficiais dos reis, e por isso repetem
muitas das narrativas já apresentadas em Reis e Samuel, alem de antecipar alguns fatos
que seriam mais bem compreendidos após a leitura dos livros pré-exílio babilônio.

Samuel e Reis Crônicas


Fala de Judá e Israel Fala mais de Judá
Um capítulo sobre a Arca Três capítulos sobre a Arca
Fala do pecado de Davi Não fala
Ênfase no trono Ênfase no templo

10. Escritos  São livros que suas histórias estão inseridas nos diversos períodos acima.

- Jó (O livro mais antigo, talvez escrito por Moisés quando esteve no deserto);
- Salmos (Orações/cânticos citados por diversos homens em diversas situações);
- Provérbios, Eclesiastes e Cantares (Escritos pelo rei Salomão);

Obs.: Como o nosso maior propósito, na primeira parte desta disciplina, o Antigo
Testamento I, é compreender a história de Israel, não estudaremos os livros poéticos.

11. Os Profetas  Esses livros também se encaixam dentro do período dos Reis, e
somente serão estudados na disciplina Antigo Testamento II.

Reconstrução de Jerusalém

- Esdras  Reconstrói a cidade.


- Neemias  Reconstrói os muros da cidade;

9
Noções de Geografia Bíblica

A Geografia Bíblica é de suma importância, pois auxilia no estudo e


compreensão da Bíblia. Muitas passagens obscuras da Bíblia tornam-se claras quando
analisadas pela geografia bíblica. A Bíblia possui um vasto acervo geográfico, pois a cada
passo são mencionados, terras, montes, rios, cidades, mares e outras citações
geográficas.

A Geografia é o palco terreno e humano da revelação de Deus à


humanidade. Ela, juntamente com a cronologia, auxilia-nos a situar a mensagem bíblica
no tempo e espaço. Também ao localizar os fatos e os acontecimentos torna a leitura
agradável, pois dá vida e cor ao desenrolar o plano de Deus para com os homens. Ë mais
fácil o ensino da Bíblia quando podemos apontar e descrever os locais citados no texto.
(Ex: Lc 10.30; Dt 1.7)

O conhecimento da geografia, das terras, povos e nações circunvizinhas ao


povo escolhido esclarece fatos e ensinos contidos na Bíblia.

A Bíblia - É a fonte principal de estudo da geografia bíblica. Ela faz menção


em seu texto de inúmeros lugares, acidentes geográficos, povos, nações, etc. A Palavra
de Deus contém capítulos inteiros dedicados a assuntos de natureza geográfica.

Exemplo: Gn 10, Ez 45 - 48.

Um dos problemas encontrados pelos estudantes da Bíblia é que grande


parte dos países, cidades e regiões inteiras possuem hoje nomes diferentes. Exemplos: a
Pérsia é o atual Irã; a Assíria é parte do atual Iraque; a Ásia do Novo Testamento é hoje
a Turquia; a Dalmácia do tempo de Paulo é hoje a Iugoslávia, e assim por diante.

10
O Fértil Crescente

O Senhor é o grande arquiteto do universo, em Gênesis observamos que


toda a criação de Deus foi feita a partir do poder de sua Palavra “Deus disse: Haja Luz
(Gn 1.3)”, então houve luz, assim também foram nas outras criações, porém Deus, na
criação do homem usando a argila do solo o modelou e insuflou em suas narinas um
hálito de vida e o homem se tornou ser vivente (Gn 2.7). Aí vimos que o único ser no
qual Deus modelou e soprou do seu Espírito fomos nós homens, assim Ele nos fez
diferente de todos os outros seres, ou seja, a sua imagem, conforme sua semelhança
(Gn 1.26). O próprio Deus afirma isso em Jó 38.8-11. E também o Salmista Davi afirma
ser Deus o grande criador (Sl 24.1,2).

Localização e Limites de Israel

Israel está localizado no continente asiático a 30ª de latitude Norte. Em toda


sua extensão ocidental, é banhado pelo Mar Ocidental. Nos tempos bíblicos, Israel
limitava-se ao norte com a Síria e a Fenícia; a leste com parte da Síria e o deserto
arábico; ao sul com a Arábia; e a oeste com o Mar Mediterrâneo. No entanto, como
constantemente os israelitas tinham suas fronteiras alargadas ou diminuídas, estes
limites variavam frequentemente.

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As Planícies

As Planícies se referem a uma porção de terra, relativamente plana e


geralmente de baixa altitude. A nação de Israel está dividida nas seguintes Planícies:
Acre, Dotã, Moabe, Sarom, Filístia, Sefelá e Planície do Armagedom.

Eventos: Quando da divisão das terras, a Planície do Acre coube à tribo de


Aser (Js 19.25-28). Na Planície de Dotã, achavam-se os irmãos de José,
quando o venderam aos midianitas (Gn 37.17). Na Planície de Moabe os
israelitas foram impedidos de entrar, sendo assim obrigados a irem pelo
deserto (Dt 2.8,9). A Planície de Sarom era conhecida pelos seus lírios e
flores exóticas (Ct 2.1,2; Is 35.2). Já a Planície do Armagedom está
associada a um grande evento escatológico (Ap 16.16).

Os Vales

Vale é uma depressão alongada entre montes ou quaisquer outras


superfícies. Segundo podemos verificar no relato de Moisés (Dt 11.10,11), a terra de
Israel era uma terra de montes e vales. Israel possuía os seguintes Vales: Jordão,
Jezreel, Acor, benção, Cedrom, Hinom, Aijalom, Escol, Hebrom, Sidim, Soreque, Elá e
Vale de Siquém.

Eventos: Frequentemente pode-se encontrar água subterrânea nos Vales,


durante os meses de estio (Gn 26.17-22).

Foi no Vale de Acor que Acã foi apedrejado em conseqüência de sua cobiça
(Js 7.24-26). No Vale da Benção o rei Josafá venceu uma coligação formada por Amom,
Moabe e Edom (2Cr 20.26). No Vale de Hinom o rei Davi derrotou aos filisteus duas
vezes (2Sm 5.17-25 e 1Cr 11; 14.9-16), aqui também servia de palco para que as
crianças fossem sacrificadas ao deus Moloque (1Rs 11.7; 2Rs 16.3). No Vale Aijalom
Josué ordenou que o sol se deter-se (Js 10.12-50). O Vale de Escol refere-se ao local
onde os espias de Moisés levaram os cachos de uvas (Nm 13.22-24). O Vale de Hebrom
foi palco de inúmeras experiências de Abraão (Gn 18.1-15; Gn 23.2). No Vale de Sidim
Abraão resgata seu sobrinho Ló (Gn 14.1-24), e refere-se ao local de Sodoma e Gomorra
(Gn 14.10; 18.24,28; 19.23-28).

12
Os Montes

O Monte é uma notável elevação de terreno acima do solo que o cerca. Via
de regra é menor que uma montanha, e maior que um outeiro. Os montes serviram de
palco para o salmista Davi (Sl 125. 1,2).

Os Montes de Judá: localizam-se ao sul de Efraim. Citarei apenas os mais


importantes montes dessa região: Sião, Moriá, das Oliveiras e Monte da Tentação.

Eventos: O profeta Joel se refere ao Monte Sião como monte da santidade


do Senhor (Jl 3.17), também temos salmos acerca desse monte (Sl 137). No monte
Moriá Abraão ofereceu seu filho em obediência a Deus (Gn 22.11-13). No Monte das
Oliveiras encontra-se o Jardim Getsêmani, local onde Jesus enfrentou um dos momentos
mais dolorosos de seu ministério. E no Monte da Tentação, após o batismo de Jesus, Ele
foi levado pelo Espírito Santo para ser tentado.

Montes de Efraim: Região montanhosa de Efraim abrange a área ocupada


pelos efraimitas, pela metade dos manassitas e por uma parcela dos benjamitas. Os
Montes são: Ebal e Gerizim.

Eventos: Nesses Montes (Ebal e Gerizim) eram proferidas as maldições e


bênçãos respectivamente (Dt 11.29), conforme fosse o proceder dos homens
– bênçãos para os que andassem retamente e maldições para os que
transgredissem as leis divinas. No Monte Ebal, foram erguidas as pedras de
memorial à entrada de Canaã (Js 8.30-32; Dt 27.1-4). No Monte Gerizim,
Jotão proferiu uma parábola contra Abimeleque (Jz 9.7-21).

Obs.: Esses ocupam uma posição estratégica, pois para se alcançar


qualquer parte da Terra Santa, é necessário primeiramente passar por
ambos os montes.

Montes de Naftali: Refere-se a todo conjunto montanhoso do Norte de


Israel. Após conquista de Canaã, foram destinados as tribos de Aser, Zebulom, Issacar e
Naftali. Mas passou a ser chamado apenas de Montes de Naftali, pois estes ficaram com
uma área mais extensa. Os Montes são: Carmelo, Tabor, Gilboa e Monte Hatim.

Eventos: Foi no Monte Carmelo que Elias desafiou os quatrocentos profetas


de Baal (1Rs 18.19). E Oséias no Monte Tabor profetizou contra o santuário
pagão que havia sido construído sobre ele (Os 5.1). No monte Gilboa

13
morreram Saul e seu filho Jônatas (2Sm 1.21) e no Monte Hatim acreditam
ter sido sobre ele que Cristo proferiu o Sermão da Montanha.

Montes Transjordanianos: Também conhecidos como Montes do Planalto.


São eles: Gileade, Basam, Pisga e Monte Peor.

Eventos: O Monte Basam é comparado por Davi com o Monte de Deus (Sl
68.15). No cume do Monte Pisga Moisés contemplou a terra prometida (Dt
34.1,6) e no Monte Peor Balaão se colocou para amaldiçoar os filhos de
Israel (Dt 4.3).

Monte Hermom: Este monte domina toda a Terra Santa. Foi mencionado
poeticamente por Davi (Sl 133.3). Mas os israelitas tinham muitas reservas sobre esse
monte, pois ali ficava o santuário-mor de Baal. Segundo a tradição, foi nele que Jesus
transfigurou-se diante de seus discípulos.

Monte Sinai: Na verdade é uma península montanhosa que mede 35.000


2
km , localizada entre os golfos de Sues e Acaba. Aqui Moisés foi comissionado por Deus,
para libertar Israel do jugo egípcio, e também mais tarde entregou a Lei (Êx 19; Nm 10).
Nas Sagradas Escrituras, esse monte recebe três nomes: Sinai, Horebe e Monte de Deus.

Os Desertos

A terra da promessa de Deus para Abraão compõe-se 50% do deserto do


Neguev. Se no norte a neve aparece, a seca no sul é uma constante. Porém, nem
sempre os desertos de Israel têm as mesmas características que encontramos nos
desertos do restante do mundo. Além disso, o moderno Estado de Israel está vencendo a
aridez de seu território, transformando-o em um jardim regado, como novos povoados
agrícolas. Os principais desertos mencionados nas Sagradas Escrituras são: Sinai, Judéia
e Jericó.

Sinai: A península do Sinai localiza-se na faixa árida que cruza o norte da


África e sudoeste da Ásia, ocupando uma área triangular de 61.000 km2 em pleno
território egípcio.

Judéia: Refere-se às áreas localizadas desde o Leste dos Montes de Judá


até ao Rio Jordão e ao Mar Morto. Este subdivide-se em vários desertos: Maon, Zife, En-
Gedi, Técoa e Jeruel. Nesse território, o rei Josafá obteve diversas vitórias sobre os
moabitas e amonitas. Também esse foi o palco dos profetas Amós e João Batista.

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Jericó: Esse deserto localiza-se no território benjamita, formando um longo
desfiladeiro de aproximadamente 15 km que desce de Jerusalém a Jericó. Jesus utilizou-
se dessa área como cenário para a Parábola do Bom Samaritano. Bete-Áven e Gabaom
são outros importantes desertos de Jericó. Em Gabaom Josué obteve vitória sobre os
habitantes de Canaã.

A Hidrografia

A hidrografia é a ciência que estuda todos os corpos de água que há na


superfície do globo.

Em Israel 75% dos recursos hídricos são destinados a irrigação, e o restante


é destinado às indústrias e às cidades. Para compensar a má distribuição de água, o
governo israelense concluiu em 1964, o Conduto Nacional que abastece o centro e o sul
de Israel. Deixando assim de irrigar o Norte do País, pois este já possui recursos hídricos
naturais.

Os Mares

Para os hebreus, o “mar” compreendia qualquer grande massa de água.


Porém, de acordo com o Aurélio, corresponde a “massa de águas salgadas do globo
terrestre...”. Em Israel encontramos: O Mediterrâneo, o Mar Morto, Mar da Galiléia e Mar
Vermelho.

Mar Mediterrâneo: Nas Escrituras o Mediterrâneo aparece com outros


nomes, a saber: Mar Grande, Mar Ocidental, Mar dos Filisteus e Mar de Jafa. Possui uma
extensão de 4.500 km e uma superfície de três milhões de quilômetros quadrados. Suas
águas banham a Europa Meridional, a Ásia Ocidental e a África Setentrional. Na costa
ocidental de Israel o Mediterrâneo possui águas rasas, tornando impossível a
aproximação de navios de grandes calados. Por isso não era usado pelos judeus como via
de transporte. Assim sentiam-se eles isolados pelo Mediterrâneo. Mas, por outro lado ali
formava uma vastíssima área defensável à nação hebréia. Jope era o único porto do
Grande Mar utilizado pelos israelitas. Entretanto, por causa dos seus arrecifes e bancos
de areia, eram procurados com pouca freqüência. O Mediterrâneo teve sua importância
reduzida em 1869, ano em que foi viabilizado o Canal de Suez.

Mar Morto: Está localizado na foz do Rio Jordão, entre os montes de Judá e
Moabe. Em virtude da sua alta densidade de sal (300 partes de sal para cada mil de
água), é chamado de Mar Salgado pelos escritores bíblicos (Js 3.16). O Mar Morto
constitui-se na mais profunda depressão da Terra, encontra-se a mais de 400 metros

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abaixo do nível do Mediterrâneo. Possui 80 Km de comprimento por 17 de largura e
ocupa uma área de 1.020 Km2. Nessa região ocupada pelo Mar Morto, ficavam
provavelmente Sodoma e Gomorra (Gn 19). Sendo esse, o símbolo da conseqüência do
pecado. Mas, dessas águas, Israel extrai riquezas avaliadas em trilhões de toneladas de
cloreto de magnésio; cloreto de sódio; cloreto de cálcio; cloreto de potássio e brometo de
magnésio. Nessa região a temperatura pode chegar a 50º centígrados, levando o Mar
Morto a parecer um gigantesco tacho em ebulição.

Mar da Galiléia: Possui 24 km de comprimento por 14 de largura e uma


profundidade média de 50 metros, encontra-se quase 230 metros abaixo do nível
Mediterrâneo. Não é propriamente um mar. Trata-se na verdade de um grande lago de
água doce alimentado pelo Rio Jordão. Mas por causa do seu tamanho é assim chamado.
Em sua margem oriental, encontram-se altas montanhas. Já em seu lado ocidental,
acham-se férteis planícies e importantes cidades como Genezaré, Betsaida, Tiberíades,
Cafarnaum, Corazim e Magdala.

Mar Vermelho: Recebe esse nome por concentrar em suas águas uma
grande quantidade de alga conhecida como trichodesmium erythraeum que, ao morrer,
assume uma tonalidade marrom-avermelhada. É apresentado nas Escrituras como Mar
de Junco. E embora não pertença à Terra Santa, está estritamente ligado a história do
povo israelita.

Mar Adriático: Localizado entre a península italiana e a balcânica, o


Adriático é um dos pequenos mares que formam o Mediterrâneo. Tomou esse nome
emprestado da antiga cidade romana de Ádria. Abrange uma área de aproximadamente
130.000 km2, com extensão de 800 km e largura média de 180 km.

Mar Cáspio: Ocupa o extremo nordeste do mundo bíblico, e possui uma rica
bacia petrolífera. Embora não tenha saída para outros mares e receba águas de vários
rios, entre os quais o Volga e o Terek, o Mar Cáspio vem apresentando um lento, porém
contínuo decréscimo de seu nível.

Mar Negro: Embora não seja citado nas Sagradas Escrituras, o Mar Negro
aparece em todos os mapas bíblicos devido a sua proximidade com as terras que
serviram de cenário à História Sagrada.

16
Os Rios

Segundo o Aurélio, um rio é: “Um curso de água natural, de extensão mais


ou menos considerável, que se desloca de um nível mais alto para outro mais baixo,
aumentando progressivamente o seu volume até desaguar no mar, num lago, ou noutro
rio, e cujas características dependem do relevo, do regime de águas, etc”.

Na Terra Santa os recursos hídricos são escassos e uma das maiores


preocupações do governo israelense é manter estável o abastecimento de água no país.
Dos rios existentes em Israel, somente o Jordão merece, de fato esse nome. Os outros
deveriam ser chamados de arroios e riachos.

A Bacia do Mediterrâneo: É composta pelos seguintes rios: Belus, Quisom,


Caná, Gaás, Serec e Besor.

Rio Belus: Corre ao sudoeste do território asserita, e caminha em direção


ao Mediterrâneo. As águas do Belus são despejadas na baía do Acre, nas
proximidades da cidade de Acco. Durante dois terços do ano, o rio
permanece seco, constituindo-se num dos numerosos wadis da região. Hoje,
esse rio é chamado de Namã por israelenses e árabes.

Rio Quisom: Corresponde ao maior rio da bacia do Mediterrâneo e o


segundo em importância para Israel. Nasce em Esdraelom e recebe
inúmeras vertentes durante o seu curso. Ao contrário do Rio Belus, o
Quisom é perene; suas águas não secam nem no verão.

Rio Caná: Nasce nas imediações de Siquem, atravessa a planície de Sarom


e suas águas são despejadas no Mediterrâneo. Constituía-se em fronteira
natural entre as tribos de Efraim e Manassés. Esse rio também é um wadi,
pois possui água apenas nos meses chuvosos.

Rio Gaás: As águas desse rio banham a planície de Sarom, e desembocam


no Mediterrâneo nas imediações de Jope. Josué foi sepultado no monte
Gaás.

Rio Sorec: O Sorec despeja suas águas no Grande Mar, entre Jope e
Ascalom, ao norte do antigo território filisteu. Suas nascentes ficam nas
montanhas de Judá a sudoeste de Jerusalém.

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Rio Besor: Atualmente é chamado de Sheriah. Mas, não é propriamente um
rio, e sim um ribeiro que se acha nas imediações de Ziclaque, no Sul de
Judá. É o mais caudaloso dos wadis que deságuam no Mediterrâneo.

A Bacia do Jordão: Formada pelos rios Jordão, Querite, Cedrom,


Iarmuque, Jaboque e Arnom. Alguns desses afluentes são bastante pequenos, quase
inexpressivos.

Rio Jordão: O Jordão possui três fontes: Banias, Dan e Hasbani. Elas não
nascem em território israelense; começam a correr a partir do monte
Hermom, localizado na Síria. Apesar de sua importância, com apenas 252
km de extensão, o Jordão é um rio pequeno, mas de beleza exuberante
conforme descreveu Ló (Gn 13.10,11). Possui águas escuras e barrentas e o
clima nessa área é quente e sufocante.

Rio Querite: O Querite é mais um wadis existente na Terra Santa, mais


precisamente na Transjordânia. Para alguns estudiosos ele não passa de um
filete de água, que na maior parte do ano, jaz-se completamente seco.
Nesse rio é registrado a experiência de Elias com Deus, quando do momento
de sua fuga de Jezabel (1Rs 17.3-5).

Rio Cedrom: O Rio Cedrom nasce a 2,5 km de Jerusalém, e corre para o


sudoeste. Este separa o Monte das Oliveiras do Monte Moriá. Por ele Davi
passou quando fugia de seu filho (2Sm 15.23).

Rio Iarmuque: Esse rio não é mencionado nas Sagradas Escrituras. Mas,
quando da conquista de Canaã, este serviu de fronteira entre a tribo de
Manassés e a região de Basã. Após deslizar pelos montes, o rio penetra no
Jordão, a 200 metros abaixo do nível do mar.

Rio Jaboque: O Rio Jaboque nasce ao Sul da Montanha de Gileade e no


passado servia de fronteira entre as tribos de Rubem e Gade. Em suas
imediações, o patriarca Jacó lutou com o Anjo do Senhor.

Rio Arnom: O Arnom nasce nos montes de Moabe e desemboca no Mar


Morto. Durante séculos, esse afluente serviu de fronteira natural entre os
moabitas e amorreus. Mais tarde, com a conquista de Canaã, passou a
separar os israelitas dos moabitas. Nas épocas de chuva, esse rio é
volumoso. Entretanto, depois da primavera, começa a secar. Isaias
profetizou tomando esse rio de exemplo (Is 16.2).

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Lagos

Geograficamente, os lagos são constituídos de grandes massas de água


concentradas em depressões topográficas, cercadas de terra por todos os lados. Esses
geralmente são alimentados por riachos ou rios.

Na Terra Santa encontramos apenas o Lago de Merom, e conforme registra


o livro de Josué, é chamado de águas de Merom (Js 11.57). Esse é formado pelas águas
do Jordão, tem 10 km de comprimento por 6 de largura e está localizado a 2 metros
acima do Mediterrâneo.

Golfo Pérsico

Localizado a este da Península Arábica, o Golfo Pérsico compõe a fronteira


ocidental da Pérsia, onde se encontra com os vales dos rios Tigre e Eufrates.
Corresponde a uma porção de mar do Oceano Índico. E mais da metade das reservas
mundiais de petróleo, encontram-se nessa região.

O Clima

Mesmo sendo pequena em suas dimensões territoriais. Mas, pela


impressionante variedade de climas, não é exagero afirmar ser a Terra Santa a síntese
metereológica do mundo. Muito embora, apenas as estações chuvosa e seca sobressaem
em Israel, como assim diz o profeta Isaias (Is 18.6).

No verão, os desertos de Israel possuem temperaturas que oscilam de 43º a


50º. Nas montanhas, o clima é fresco e bastante ventilado. No entanto, no verão esse
quadro se altera em conseqüência das correntes de ar quente vindas do Sul e do
Ocidente.

Na Cidade Santa, durante o inverno, a temperatura chega a 6º negativos


com nevadas e geadas freqüentes. Sendo que no verão, os termômetros oscilam entre
14 e 29 graus.

As riquezas de Israel são proverbiais. Em suas exíguas fronteiras, acha-se


uma perfeita síntese dos recursos naturais do planeta. Assim falou o Senhor acerca desta
terra (Nm 13.27; Dt 32.13,14).

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Diversas Teorias do Gênesis

Criação da Terra, do Homem e o Dilúvio.

Teoria do Big-bang

A teoria do big-bang diz que uma minúscula partícula, menor que a cabeça
de um alfinete e de massa infinita, vagava pelo vácuo infinito a 4,5 bilhões de anos
atrás, quando de repente, por acaso, ela explodiu e formou o universo perfeito.

As Teorias da Mesopotâmia

A região da antiga Mesopotâmia, estendia da atual Bagdá até a embocadura


do rio Tigre e do Eufrates, no Golfo Pérsico, exatamente na área geográfica em que é
narrado as histórias da Bíblia, na origem de todas as coisas.

E nesse período em aproximadamente 3500-3000 a.C., falava-se o idioma


da Suméria e nessa época utilizava-se também este idioma para escrever os códigos de
leis antigos. Depois entre os séculos XIX e XVIII a.C., foi adotado o idioma acádico para
se escrever as leis da cidade de Eshnuna e os código de Hamurábi, Rei da Babilônia

20
(1782-1750). Importante salientar que todos esses códigos antigos influenciaram na
formação da lei de Deus para seu povo (Hebreus).

Conforme dois autores, J. Van Dijk e W. Soden, nem os Sumérios, nem os


Babilônios conheceram a criação do mundo a partir do nada, mas conheceram uma
evolução criadora, como por exemplo: a separação do Céu e da Terra. Porém, tudo isso
envolto de um universo politeísta, onde cada um dos deuses tem sua contribuição na
criação (Nanu - mãe que gerou o Céu e a Terra).

Estas explicações podem ser encontradas nas traduções de poemas


sumérios da epopéia de Gilgamesh. Entre outras utilizadas aqui por esses autores,
podemos salientar o poema acádico de Enuma Elish, onde vemos que o mundo foi criado
a partir do conflito entre os deuses Marduk e Tiamat.

As civilizações paralelas da Suméria e de Acade forneceram a todos os povos


do Oriente Médio costumes, rituais e modelos literários de todos os tipos. Entre estes
destaca os gêneros “Intemporais,” da literatura “Sapiencial”, destacando dentro dele dois
modos de expressão (Lenda e Mito). Porém estes dois modos hoje são mal vistos, por
causa da forma que é interpretado pela ciência.

Lendas – É uma narração a cerca de uma história popular tradicional, cujo


herói, com suas aventuras e façanhas, vive no passado.

Exemplo: O herói Gilgamexe, das literaturas Suméria e Acádica, rei de Quis,


onde em uma epopéia de doze cantos, menciona o canto XI, o qual traz uma narração do
dilúvio.

As Lendas eram para Israel como para todos os outros povos, o repositório
das recordações históricas.

Exemplo: A História da sucessão de Davi, escrita provavelmente no tempo


de Salomão (2Sm 5-20; 1Rs 1-2).

Mitos – É uma forma de narração explicativa, porém se interessa mais pela


relação do homem com as grandes forças cósmicas que cercam com a divindade, e não
necessariamente pela evocação do passado.

Exemplos: O poema Babilônio da criação “Enuma Elish”, o qual exaltava o


Deus nacional, Marduk. Este era recitado no templo de Babilônia no ano novo, lembrando
o começo.

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Uma lenda que também participa como Mito é a procura da imortalidade,
narrada na epopéia de Gilgamexe (Rei de Quis), por causa da morte do seu amigo
Enquidu, transpondo as portas do sol e das águas da morte, até chegar a um paraíso,
onde se encontrava seu antepassado Uta-Napistim, o herói do dilúvio, o qual foi levado
pelos deuses para receber a imortalidade. Então Uta-Napistim revela o segredo da
“Planta da Vida“. O herói colhe a planta, mas a serpente lhe rouba ... restando apenas ao
homem “Criar para se um nome“ na História e depois morrer.

Distinguindo entre “MITOLOGIA“ e “LINGUAGEM MÍTICA“.

Mitologia - É uma representação do mundo transcendente que multiplica os


deuses.

Linguagem Mítica - É um modo de combinar símbolo e imagens para


exprimir, em forma de narração ou drama, certos aspectos da experiência humana ou
das realidades divinas.

Ex.: Os autores bíblicos não hesitam, em apresentar Deus agindo, falando,


revelando seus sentimentos, como se fosse um homem (Antropomorfismo).

Conclui-se que o Mito e a Lenda não eram simples produtos de fantasia, mas
servia para uma séria reflexão, a cerca da existência humana.

A Epopéia de Atra-Hasis

Esta consta de 1645 linhas, onde é narrada a história antes do homem, o


mito das origens, a história do dilúvio, da qual Atra–Hasis é o herói .

Através da leitura destes textos verificamos o quanto a Bíblia se aproxima


deles na expressão e quanto se distancia dele no pensamento.

Na epopéia, o homem é criado para livrar os deuses do castigo. Na Bíblia,


Deus cria o homem sem interesse e o estabelece como o Senhor da criação.

Nos dois casos (Epopéia x Bíblia). O homem é criado da terra e de um


elemento divino. Porém, em Babilônia, é com o sangue de um deus decaído e vencido
que o homem é marcado em sua natureza. Na Bíblia ele se torna ser vivo quando Deus
lhe insufla o hálito de vida.

22
A epopéia nos mostra que o dilúvio ocorreu porque os homens perturbaram
na sua tranqüilidade. Já na Bíblia o dilúvio aconteceu por causa da imoralidade dos
homens, respondendo pelo seu próprio destino, e não sujeitos a transformação divina.

A Bíblia nos mostra um pensamento radical novo, onde Israel rompe com
todos os sistemas religiosos do Oriente Antigo, prestando culto a um só Deus. Todas as
forças cósmicas, cultuadas pelos antigos povos voltam a situação real de criatura e
Yahweh, o Deus que se manifesta aos Patriarcas e a Moisés, torna-se, a partir da saída
do Egito, o único Deus digno de receber culto.

Certamente o rompimento não foi total com as formas semíticas, Ex.:

O nome El, era dado aos deuses antigos, demonstrando sua divindade.

O pensamento era novo, porém o modo de exprimi-lo é antigo.

Alguns aspectos fundamentais da lei Israelita também eram antigas.

Para não se mostrar igual a outros deuses antigos, Deus, utiliza o nome El
na Bíblia acompanhado de epítetos, tais como:

Ha’el haggadôl “O grande EL“

‘el ‘elim “Deus dos deuses“

‘el hashshamayim “EL do céu“

‘el ‘eliôn “EL Altíssimo”

‘el Ro’l “EL que me vê”

Estas e outras formas mostram a superioridade do Deus de Israel sobre


todos os outros deuses.

23
A Criação do Mundo nos Textos Egípcios

O pensamento egípcio dedicou-se de inúmeras formas a retratar a origem


deste mundo, para melhor resolver o problema de sua conservação.

Diferentes Cosmogonias

Heliopolitana - (Heliópolis) são escolhas de pensamentos que parece mais


centrada no desenvolvimento de uma família a partir de um único antepassado.

Mênfis - A criação pelo verbo e pelo pensamento.

Hermópolis - A tendência é mais física e procura descrever o modo como o


mundo nasceu da matéria inorgânica.

Temas Cosmogônicos

Esses temas trazem a idéia da criação concebida segundo um modelo de


operações naturais, trazendo à vida realidade nova.

Diversos Modelos (Mitos)

Genitalidade - Na linguagem Egípcia corrente, o verbo fazer (IR) e o verbo


gerar (MÊS) são intercambiáveis. Inúmeros mitos incorporam a criação do mundo dos
deuses e a dos homens a um casal primitivo suposto ser o antepassado de todos. A
atividade criadora é atribuída através de uma atividade sexual entre dois deuses
carneiro.

O Mito Heliopolitano - Mostra a criação através de um ato solitário do


demiurgo se “Autofecundando“, tendo como modelo o deus artesão, ou seja, oleiro como
Khnum, metalúrgico como Ptah, o deus que cria dando assim forma ao informe,
modelando assim o homem.

Textos Egípcios

Textos das Pirâmides - Trata-se aqui dos textos mais antigos do Egito,
gravados nas paredes internas das pirâmides da 5ª e 6ª dinastias, eles contêm uma
coleção de formulas de origem heliopolitana, destinados a garantir ao rei a sobrevivência
e a Glória.

24
Ensinamentos a Merikaré - Trata-se de um escrito de sabedoria na tradição
dos compêndios de máximas elaborados nos antigos impérios, entre os funcionários
reais.

Os Livros dos Mortos - Trata-se sempre de garantir ao defunto a liberdade


de movimentos e a invulnerabilidade.

Hino Amon de Leida - Trata-se de um texto disposto primitivamente em


trinta estrofes as quais se dirigem a Amon, para mostrar seu absoluto domínio sobre o
cosmo inteiro.

Texto de Teologia Menfita - Trata-se da pedra chamada shabaka, nome do


Faraó etíope da 25ª dinastia que a mandou gravar, no fim do século VIII a.C.

Papiro Salt 825 - Trata-se de mostrar a origem divina dos diversos produtos
utilizados. O processo consiste em prender cada um deles a uma secreção do corpo
divino.

O Facheado de Evergeta em karnak - O texto reuni diversos enfoque do ato


criador. O mito da criação Edfu, dois modelos são igualmente apresentados nos relatos:

De um lado a criação é evocada como estabilização de um feche de juncos


no meio da água. É a emergência de um mundo organizado, descritas nos termos
evocativos da vazante do Nilo; e de outro lado, o tema do pensamento e da palavra
criadora está presente no relato inteiro. A imagem naturista, é pois aqui, desdobrada por
perspectiva metafísica que lembra o documento Menfita.

O Nascimento do Mundo e dos deuses nos textos Ugarit

Ugarit não é o Egito nem a Mesopotâmia, estes últimos concederam as duas


maiores culturas III e II milênio a.C. O Ugarit não era senão uma cidade-estado entre
outras na idade do bronze recente (1600-1185). Este está mais próximo do universo
Bíblico do que os textos Mesopotâmicos ou do Egito, como podemos ver abaixo:

Geograficamente Ugarit situa-se na Síria bem perto de Lataquié, no litoral


mediterrâneo, a cidade pertencia a Canaã. Ugarit pertence aos países mediterrâneos.

25
A língua Ugarítica é também assim como a hebraica uma língua semítica, o
que não é o caso da Egípcia. Elas pertencem ao mesmo grupo o semítico norte ocidental
diferenciando do Acádico proveniente do semítico oriental.

Ugarit proporcionou aos biblistas o conhecimento direto de uma religião


(Cananéia) na época do êxodo (século XIII a.C.)

Crenças Sobre as Origens do Cosmo e do Homem

Dizem que El o deuses supremo do panteão Ugarítico habita “na confluência


de dois rios, na própria fonte dos dois abismos”. Estamos diante de uma linguagem
cósmica. El habita nas origens dos abismos e dos rios que o cercam. Faz imediatamente
lembrar os relatos da criação do Gênese “O abismo” nos aproxima do inicio do relato
sacerdotal. Os rios e os abismos pareciam, pois a concepção cosmológica dos cananeus.

Sempre o mesmo Deus El, atribui-se o epíteto de bnk bnwt “Criador das
coisas criadas“. A expressão é tão clara que dificilmente encontraria outra mais evidente
na Bíblia. El seria, pois, criador em Ugarit, como Yahweh o é em Israel, sabemos, aliais
que Yahweh, em sua luta contra a religião Cananéia, assumiu muitas das características
do deus El cananeu ao qual se assimilou sem dificuldade.

Outra expressão Ugarítica, diz do deus El, que ele é ab adm, expressão que
pode ser traduzida por “pai do homem”, dando ao “homem” sentido coletivo de
humanidade. Observamos que a palavra Ugarítica refere-se ao nome dado pela Bíblia ao
nosso primeiro pai. Evidentemente, o fato provoca uma discussão já resolvida entre os
especialistas: o nome do nosso primeiro pai não é nome próprio, mais nome comum,
“homem”. Em todo caso, ab adm, “pai da humanidade“ atribuído ao deus El., parece
confirmar ser esse o criador do homem.

26
A Formação do Homem

Os textos de diversas origens (Sumério, Acádico e Babilônio) são


concordantes quanto a este aspecto. Narra-se os autores que a humanidade foi criada
para que os deuses em castigo pudessem aliviar suas culpas, descarregando assim sobre
os homens, feito a imagens dos deuses caídos e desta forma os deuses caídos viveriam
livres de quaisquer obrigações, isso resumido em uma só frase:

“Para permitir aos deuses morarem em uma habitação que satisfaça o coração do Deus
Marduk, formou a humanidade“.

Porém, conforme o modo da criação do homem, são diversas as opiniões:

- O Deus Enlil teria introduzido na terra, como semente um protótipo


humano. Ou segundo texto Súmericos os seres humanos foram “Gerados na união
conjugal do céu e da terra”;

- O homem é moldado só da argila, em primeiro lugar a deusa Nanwr e suas


assistentes que operam e depois a deusa Ninmah e o deus Enki são os que fazem;

- A modelagem do homem a partir de uma mistura de barro, de carne e de


sangue de um deus condenado á morte;

- A formação do homem a partir do sangue de um ou vários deuses


condenados a morte.

A Condição do Homem Primitivo

Há um texto antigo bastante transparente a esse respeito, o que mostra as


pessoas com aspecto selvagem, as quais vivem nuas e pastavam como os animais,
porém foi preciso de uma intervenção dos deuses Enki e Enlil para que os homens
pudessem entregar-se a criação de animais e à agricultura, e em segundo uma tradição
cuneiforme, os homens antediluvianos teriam sido educados por sábios conceituados
vindos do Apsu.

27
O Dilúvio

Comparando as visões Mesopotâmicas, (Suméria, Acade) e as Sagradas


(Javista e Sacerdotal), verificamos que a visão Javista foge ainda mais da Mesopotâmica
em relação a Sacerdotal neste ponto.

Diversos relatos do dilúvio chegaram da Mesopotâmia até nós: um em


Sumério, dois em Acádico e um em Grego.

1. Relato da 11ª Tabuinha da Epopéia de Gilgamesh

Contexto - Gilgamesh, Atormentado com a morte de seu amigo Enridu e


tendo partido em busca do segredo da imortalidade, chegou a um lugar situado além das
águas da morte, onde UTNAPISHTIM, O “NOÉ“ Babilônio, desfrutou da imortalidade, e
conta a Gilgamesh como escapou do dilúvio. Onde, o dilúvio foi desencadeado por causa
das más disposições dos deuses que lá estavam, essas más disposições levaram os
grandes deuses a fazer o dilúvio.

2. O Dilúvio em Acádico

Contexto - como foi dito anteriormente concorda com os outros textos no


qual, por causa das reclamações dos deuses caídos, foi assim lançado pelos deuses
superiores diversos flagelos, desde sede, fome até por fim o dilúvio, onde Atra-Hasis
equivale a “Noé“, construindo um barco por ordem do deus maior “EA“, escapa da
morte.

3. Relato Sumério do Dilúvio

Contexto - Este mais ou menos contemporâneo ao texto de Atra-Hasis acima


apresentado e não necessariamente um testemunho de tradição tipicamente Suméria.
Segundo as linhas 140-144, a decisão para desencadear o dilúvio se deu por alguns dos
deuses, obrigados a associar-se a este feito por meio do juramento. Então houve as
instruções de Enki para a construção de um barco, tendo sido aqui o herói “Noé” Ziusdra.
O qual passou a obter uma vida sem fim, como assim se define seu nome.

Obs.: O grande deus em Sumério é Enki e Ea em Acádico

A Causa do Dilúvio - Na Bíblia é claramente indicada como sendo por causa


da malícia e corrupção da humanidade. Já nos textos Mesopotâmicos, não se explica a
causa do dilúvio. Somente o poema de Atra-Hasis nos mostra que é para fazer cessar os
gritos e a confusão realizados pelos deuses caídos.

28
Gênesis na História Sagrada

Os onze primeiros capítulos do livro do princípio possuem uma forma


narrativa diferente de todas outras narradas na Bíblia. Porém esses capítulos são muitos
importantes, pois eles abrem toda a História Sagrada.

É evidente que se tratando de uma História passada os “Teólogos da


História” tiveram que evocar o passado, inobservável, representando-o de um modo
compreensível aos seus contemporâneos. Caso contrário, a sua reflexão, sempre
concreta e não abstrata, não teria suporte.

Na estrutura de Gêneses 1-11, existem duas linhas de pensamentos das


Histórias Sagradas, as quais são:

Javista - o mais antigo porque nomeia Deus de YAHWEH, escrita em


Jerusalém, provavelmente durante o reinado de Salomão.

A visão Javista mostra na Bíblia a exterminação do politeísmo; pois narra


que Yahweh criou o céu e a terra, dando a partir daí a narração das origens, planta um
jardim no Éden, cria os vegetais, cria os animais e por fim modela o homem com o barro
da terra e lhe insufla o fôlego de vida e de sua costela forma a mulher e dá a ele domínio
sobre tudo.

Na visão Javista Yahweh é o Deus vivo e pessoal, é o criador, do qual


dependem o universo, a vida e o ser humano.

No jardim mostra-se uma relação de diálogo pessoal, do qual Deus toma a


iniciativa, fazendo um apelo ao livre engajamento do homem, reconhecendo sua
condição de criatura e sua fiel obediência ao mandamento. Podemos observar essa
característica também em outras narrativa do antigo testamento:

“... olha hoje te propus vida ou morte .... escolhe“


(Dt. 28,30-15; Êx 23:20-33; Lv 26: 3-4)

Sacerdotal - seu autor um Sacerdote de Jerusalém, escreveu durante o


exílio na Babilônia.

Escrita quatro século depois da Javista, quando o povo esteve no Exílio


(entre 587 e 538), em Babilônia. O historiador Sacerdotal nos conduz das origens do
mundo ao período de Israel no deserto, onde esteve em contato com os mitos
Mesopotâmicos.

29
Conclui-se então que o Historiador Sacerdotal conhece tanto o escrito Javista
como o Mesopotâmico, porém da visão Mesopotâmica extrai apenas a imagem figurada e
da Javista o ato de Deus criador e a instalação do mundo em que o homem deve viver.
Portanto, quanto a doutrina o Javista e o Sacerdotal diferem totalmente do mito
Babilônio.

Se fizermos um paralelo dos capítulos 1-3 de Gênesis, entre os mitos


(Babilônios) tirados da epopéia de Atra-Hasis, no que diz respeito às formas literárias
veremos que as narrativas Javista e a Sacerdotal, dependem dos modelos
Mesopotâmicos.

O Mito Babilônio nos mostra que para os Mesopotâmicos no inicio de tudo,


houve um caos entre duas divindades sexuadas:

Apsu - As águas doce que estão sobre a terra

Tiamate - As águas salgadas do mar

Daí saíram todos os deuses, identificados como: as potências cósmicas.

Depois nos mostra o confronto entre os deuses (Universo x jovens),


formando o mundo divino, regido por Marduk. E por isso os homens foram criados para
servir aos deuses caídos. Um dos deuses revoltosos é imolado para fornecer seu sangue,
desta forma o homem recebe o sangue nas veias de um deus decaído.

Para o mito Mesopotâmico, o homem além de escravo dos deuses recebe o


peso de uma fatalidade inexorável, por causa do joguete das potências cósmicas.

A mitologia Suméria evoca um país paradisíaco chamado Dilmun, um país


dos vivos, situado nos lados do Oriente. Lá aparece a “planta da vida“, que sendo
roubada por uma serpente, coloca a perspectiva da vida sem esperança.

Essa analise comparativa entre os escritos bíblicos e os antigos é de extrema


importância, pois permitirá realçar semelhanças e diferenças entre os mesmos, e com
isso irá respaldar ainda mais a autenticidade da Bíblia.

30
O Pentateuco

Os cincos primeiros livros da bíblia formam um conjunto que os judeus


denominam “Torah” [“instrução”], que em geral se traduz por “Lei” (Mt 5.17; Lc 16.17;
At 7.53; 1 Co 9.8). Daí provém o nome que lhe foi dado nos círculos de língua grega:
Pentateuchos, “[livro em] cinco volumes”, que foi transcrito em latin: Pentateuchus,
dando a palavra portuguesa: Pentateuco. Por sua vez, os judeus de língua hebraica
deram-lhe também o nome de “os cinco quintos da lei”. Os judeus atribuem à Torah
maior autoridade e santidade que ao restante das escrituras que completam o Tanach
(Lei, Profetas e Escritos).

“E leram no livro, na lei de Deus: e declarando, e explicando o sentido, faziam que,


lendo, se entendesse”. Ne 8.8

Estes cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio,


contêm uma grande variedade de material: histórias, episódios, leis, rituais,
regulamentos, cerimônias, registros cronológicos, exortações. Ainda assim, é uma
narrativa histórica unificada. A importância vital dessa narrativa histórica é atestada por
seu uso no Novo Testamento como pano de fundo e preparação para a obra de Deus de
redenção do homem por Cristo Jesus.

Um exemplo marcante é o discurso de Paulo aos judeus na sinagoga de


Antioquia da Pisídia (At 13.17-26). No qual ele faz um resumo das promessas de Deus, e
de quanto Ele é fiel, justo e misericordioso para dar a salvação ao povo que o segue
através do líder o qual ele levantou, desde Abraão até o nosso maior líder: Cristo Jesus.

A tradição judaica atribui a Moisés os primeiros cinco livros da Bíblia. Cristo


atribuiu explicitamente o Pentateuco a Moisés.

“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que
convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos
profetas, e nos Salmos”. Lc 24.44

Da forma como é mencionado nesse versículo, os autores bíblicos dividiam o


Antigo Testamento em três partes – A lei, os Profetas e os Salmos (representando os
Salmos a grande divisão chamada de “Escritos”). Cristo frequentemente se referia a
diversos livros como tendo sido escritos por Moisés.

Obs: Porém há autores que contesta essa autoria, como podemos ver no
livro Introdução ao Antigo Testamento, da editora Vida Nova, de autoria de Willian S.

31
Lasor, David A. Hubbard e Frederic W. Bush, o qual depois de vários comentários
relacionados à época e costumes, diz:

“O Pentateuco é uma obra anônima. Moisés não é mencionado como seu autor, assim
como ninguém mais. A ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do Antigo
Testamento em particular e com as obras literárias antigas em geral. No antigo Oriente
Médio, o “autor” era basicamente um preservador do passado, limitando-se ao uso de
material e metodologia tradicionais. A literatura era mais uma propriedade comunitária
que particular”.

Os livros de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, narram a formação


do povo eleito e o estabelecimento de sua lei social e religiosa.

Complexidade

Ao mesmo tempo em que revela sua unidade em plano e propósito, o


Pentateuco apresenta uma diversidade impressionante, principalmente no que diz
respeito a mistura de leis e história, nunca encontrado em nenhum código de leis, antigo
e ou moderno, verifica-se que a narrativa histórica atravessa e interrompe
constantemente a legislação.

Por exemplo:

- Não há seqüência entre Gn 4.26 e 5.1;

- Há uma descontinuidade clara entre Gn 19.38 e 20.1;

- Outra descontinuidade entre Ex 19.25 e 20.1.

Outras complexidades:

- Diferenças significativas entre vocabulários, de sintaxe, estilo e de


composição (leis de Levítico e Deuteronômio);

- Uso variável dos nomes divinos Javé e Elohim;

- Duplicações ou triplicações de material (Gn 12.20; 26.6-11); (Gn 21.22-


31; 26.26-33); e (Lv 11.1-47; Dt 14.3-21).

32
Visando esclarecer essas complexidades, alguns estudiosos procuraram
separar as diversas fontes, desenvolvendo assim a “teoria documental”.

J – Essa fonte apresenta o nome de Deus como Javé e foi compilada em

Judá entre 950 e 850 a.C., que compreende Gn 2 a Nm 22-24 e apresenta Deus em uma
linguagem antropomórfica, onde Deus é descrito em termos humanos;

E - Essa fonte datada entre 750-700 a.C., inicia-se em Gn 20, e prefere o

nome de Deus como Elohim até a revelação de seu nome Javé a Moisés (Ex 3; 6), depois
disso passa a empregar ambos os nomes para Deus. Muitos estudiosos localizam o
ambiente de E no norte de Israel, pois dispensa atenção especial a Betel, Siquém e às
tribos de José, Efraim e Manasses.

D – Refere-se ao material que forma o núcleo do livro de Deuteronômio.

Possuiu um estilo bastante característico: prosaico, prolixo, parenético (reflexo de


exortações e conselhos, “homilético”) e pontuado de frases estereotipadas. Compreende
as narrativas históricas de Josué a 2 Reis (cap. 9).

S – Destaca genealogias, leis relacionadas ao culto, alianças, dias especiais


como o sábado, procedimentos para o culto, sacrifícios (Lv 1-7) e cerimônias. Ressalta a
santidade (Lv 17-26), a soberania e a transcendência de Deus, juntamente com o
estabelecimento do verdadeiro culto de Javé liderado pelos sacerdotes. Essa fonte básica
de S é muitas vezes datada no meio do Exílio (550 a.C.), e sua composição final, um
pouco antes do século IV a.C.

33
A História de Israel

Gênesis

O Gênesis narra as origens do mundo, do gênero humano, do povo hebreu,


tudo relacionado com Deus, com sua revelação, com seu culto. Deus cria o universo e
revela-se aos primeiros homens.

A história do princípio abrange em sua narração uma longa série de séculos.


Os gregos do império bizantino colocavam a criação do homem 5508 anos a.C. Os
hebreus ainda usam uma era que no mesmo período conta 3760 anos. As ciências
antropológicas exigem um tempo assaz maior para a existência do homem sobre a terra.

O prólogo primevo compreende os capítulos 1-11, já estudado


anteriormente. E por isso, deste ponto em diante veremos a história patriarcal de Israel.

O chamado de Abrão:

“Sai-te da tua terra, e da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te
mostrarei”. Gn 12.1-5

Neste período, Abrão era da idade de setenta e cinco anos, quando saiu de
Harã para irem a terra de Canaã.

Quando Abrão passa a ter a idade de noventa e nove anos, apareceu Deus a
ele, e muda o seu nome:

“E não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai
da multidão de nações te tenho posto”. Gn 17.1-5

Devido a fome que assolou em Canaã, Jacó e seus filhos entraram no Egito
(Gn 47.1-6), e os descendentes de Abraão ficaram satisfeitos e prosperaram (Gn 47.27).
Durante algum tempo podem ter tido a impressão de haver feito uma boa troca ao deixar
Canaã, a terra escolhida por Deus para eles, que no momento não estava sendo
produtiva, e se mudaram para o Egito, a terra de Gósen. Os filhos de Israel frutificaram e
multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu
deles (Ex 1.6-7). Mas, depois que José faleceu, e todos os seus irmãos, e toda aquela
geração, se levantou um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José (Ex 1.8). E
temendo o grande crescimento do povo de Israel, os transformaram em escravos
desamparados, sem esperança. Mas quanto mais o povo sofria, mais se multiplicava (Ex
1.11-12). Vendo isto, o rei ordenou as parteiras, que quando fossem ajudar as hebréias

34
a dar a luz, só lhe poupasse as meninas, e vendo que era menino o matassem, porém as
parteiras com muito temor a Deus, não obedeceram ao Faraó (Ex 1.15-17).

Ainda não estando satisfeito com o grande aumento do povo de Israel, o


Faraó ordena a todo o seu povo dizendo: A todos os filhos que nascerem lançareis no rio,
mas a todas as filhas guardareis com vida (Ex 1.22).

Os anos se passaram. A servidão de Israel tornou-se intolerável. Eles


suspiravam e gemiam sob o seu jugo. Quando seus gritos subiram a Deus, Ele os ouviu;
e lembrou-se da sua aliança, compadecendo-se deles. Chegara o momento crucial de
chamar Moisés, o libertador que Ele vinha preparando, e enviá-lo para realizar a grande
tarefa da libertação (Ex 2.23-25)

Êxodo – Israel Nômade

O segundo livro do Pentateuco toma o nome de Êxodo da saída dos hebreus


do Egito, onde, depois dos bons tempos de José, passaram a sofrer a mais dura
escravidão. Esse acontecimento, porém, nada mais foi do que o prelúdio de fatos muito
mais importantes na vida dos filhos de Israel, os quais, de um conglomerado de famílias
que eram, recuperando a liberdade, conquistaram verdadeira unidade de nação
independente e receberam uma legislação especial, uma forma de vida moral e religiosa,
pelas quais se distinguiram de todos os outros povos da terra.

Com toda facilidade compreender-se-á a importância deste livro, sobretudo


em se pensando que, se a história civil das nações, mormente as antigas, acha-se
intimamente vinculada à religião e essa à moral, isto jamais foi tão verídico como a
respeito dos hebreus. As leis contidas no Êxodo formam a essência da vida civil e
religiosa do povo eleito.

É bem verdade que, de todas essas leis, e especialmente as do chamado


código da aliança (21.23), foram encontradas analogias notáveis no código de Hamurabì
(rei babilônio, que viveu alguns séculos anteriormente a Moisés). De tais analogias não
se infere, porém, em absoluto, como pretendem alguns, a dependência do código
mosaico do babilônio. Elas têm sua explicação adequada nos fatores comuns às duas
sociedades, israelita e babilônica, tão próximas no tempo, no lugar e também na origem,
pois os patriarcas do povo hebreu procediam do vale do Tigre.

Realmente, na legislação decretada no Sinai, nem tudo foi criado desde a


raiz; muitos usos e costumes já introduzidos na prática social foram confirmados pela
aprovação divina. De resto, também nas famosas leis romanas das doze tábuas

35
descobrem-se semelhanças com o código mosaico, sem que ocorra a alguém o
pensamento de querer estabelecer um parentesco entre os primeiros e o segundo.
Providências semelhantes surgem espontaneamente de necessidades sociais do gênero.
No decálogo, porém, e na doutrina religiosa que lhe forma a base inconcussa (20.2-17),
reside a verdadeira prerrogativa do povo de Israel; nada de semelhante se encontra em
nenhum outro povo.

Os acontecimentos narrados no Êxodo tiveram um eco enorme na memória


das tribos israelitas. Em quase todas as páginas do Antigo Testamento são recordadas a
libertação da escravidão do Egito, a prodigiosa passagem do Mar Vermelho, os golpes
tremendos com os quais foi dominada a tenaz oposição do opressor egípcio, as
grandiosas manifestações divinas no Sinai, o sustento milagroso de povo tão numeroso
no deserto. Daí Israel deduzia os motivos mais fortes para ser grato e fiel a Deus, e
conservar uma confiança inabalável na sua providência soberana e nos seus próprios
destinos.

O Êxodo desenvolve dois temas principais: a libertação do Egito (1.1 –


15.21) e a aliança no Sinai (19.1 – 40.38); esses temas são interligados por um tema
secundário, a saber, a marcha através do deserto (15.22 – 18.27). Moisés, que recebeu
a revelação do nome Yahweh na montanha de Deus, é o condutor dos israelitas
libertados da escravidão.

Numa teofania impressionante, Deus faz aliança com o povo e lhe dita sua
Lei. Mal fora concluído, o pacto é violado pela adoração do bezerro de ouro, mas Deus
perdoa e renova a aliança. Uma série de prescrições regula o culto no deserto.

36
O Tabernáculo

“Moisés esteve no monte quarenta dias e quarenta noites. Então falou o Senhor a Moisés
dizendo: Fala aos filhos de Israel, que me tragam uma oferta alçada; de todo o homem
cujo coração se mover voluntariamente...”. (Ex 24.18b; 25.1,2)

No monte Sinai o Senhor levou seu servo para receber instruções de como
deveria construir o tabernáculo. Deus queria habitar no meio do seu povo, e obviamente
para isso Ele não precisava do uso de nada material para se revelar aos seus. Mas,
devido ao nível espiritual do povo, Deus se utilizou do tabernáculo visível e de seus
muitos objetos como lições palpáveis, através de símbolos e tipos, e também para que
servisse de lembrança contínua aos israelitas. Mas, o propósito mais excelente do Senhor
era a revelação da verdade preliminar na busca e expectativa da encarnação de seu Filho
Jesus.

Nesse tabernáculo o Senhor desceu e habitou entre os homens numa casa


feita de diversos materiais visíveis encontrados na natureza. Mas, a aproximadamente
1500 anos após esses fatos o Senhor veio e habitou em uma casa feita de ossos e carne
– o corpo de Jesus.

Para muitos o tabernáculo significa apenas uma antiguidade judaica sem voz
e significado. Mas, quando estudado considerando os tipos que ali são vistos e apontado
de forma adequada ao antítipo, encontramos nele o Senhor Jesus Cristo.

A Estrutura

A planta do tabernáculo, como mostra o diagrama que se segue, é


basicamente simples. Isto ocorre, em parte, por seu caráter portátil, tendo de ser
transportado pelos israelitas em suas viagens pelo deserto. A bacia e o altar de bronze se
localizavam no átrio, embora fossem partes essenciais dos cerimoniais do tabernáculo.

O tabernáculo era dividido em dois cômodos. O menor, que era de 10


côvados de cada lado, formando um quadrado perfeito, era chamado de santo dos
santos; o cômodo maior era chamado santo lugar. Estes dois cômodos eram separados
por um véu (26.31-33). Os sacerdotes ministravam no santo lugar diariamente; no santo
dos santos o sumo sacerdote entrava uma vez por ano, sozinho (Hb 9.6-10).

37
38
O Átrio (27.9-17)

O tabernáculo era rodeado por um átrio, formado por colunas firmadas no


solo e esticando cortinas de linho, as colunas eram ligadas por ganchos de prata (Ex
27.17). A entrada media 20 côvados de largura e na qual era pendurado um reposteiro
nas cores azul, púrpura, carmesim e branco (linho) (27.16). Estas eram as cores que
prevaleciam por todo o tabernáculo. O átrio media 100 côvados de comprimento por 50
côvados de largura (27.18) – Um côvado é equivalente a 0,5 m aproximadamente.

As Tábuas e as Cortinas (26.1-30)

Por estarem vagando pelo deserto, era necessário que os israelitas tivessem
uma construção que pudesse ser facilmente desmontada e erguida. O tabernáculo era
feito de 48 tábuas cobertas de ouro e colocadas em encaixes enterrados na areia. Havia
20 dessas tábuas em cada lado e 8 nos fundos (26.15-30). A construção não tinha
soalho, mas o teto era uma coberta maravilhosamente lavrada, composta de 10 cortinas
presas uma a outra (26.1-6), bordadas com as figuras dos querubins, as criaturas
celestes. Estas cortinas esticavam-se no alto e caíam quase até o chão em cada lado da
construção. Sobre elas havia uma coberta de pêlo de cabra branco (26.7-13); e acima
desta uma coberta de pele de carneiro tingida de vermelho (26.14); sobre a coberta de
pele de carneiro, para a proteção contra as intempéries, havia uma coberta de peles,
ocultando do lado de fora toda a beleza do seu interior (26.14). Formando ao todo um
total de 4 cobertas.

O Mobiliário

O tabernáculo continha 6 peças de mobiliário. No santo dos santos havia 1


peça – a arca da aliança. Era uma caixa de madeira coberta de ouro, na qual se
encontravam a lei escrita em pedra, uma vasilha de maná, e a vara de Arão que
floresceu. A tampa da caixa era o propiciatório, às vezes tida como uma peça separada.
Em cada extremo havia uma figura de um querubim, e entre as figuras havia o
maravilhoso fogo da glória do Senhor, símbolo da presença de Deus. Por isso esta peça
poderia, com toda propriedade, ser chamada de trono de Deus; no santo lugar 3 peças –
o altar do incenso defronte do véu – a esquerda, o candelabro feito de ouro puro – e a
direita, a mesa dos pães da proposição, com os 12 pães que eram comidos pelos
sacerdotes; e no átrio 2 peças – a bacia, que servia para os sacerdotes se lavarem; e
mais próxima da entrada havia o altar de bronze, para o qual os israelitas, levavam um
substituto para morrer em seu lugar, pagando por seus pecados – um tipo claro da obra
expiatória de Cristo.

39
O Simbolismo do Tabernáculo

Duas passagens-chave do Novo Testamento servem de base para


interpretação de personagens, eventos e coisas do culto no tabernáculo do Antigo
Testamento (1Co 10.1-11; Hb 8.1-10;18). Porém devemos ter bom senso, sem forçar a
interpretação e a aplicação. Segue as interpretações:

1. Como um todo – Visto como um todo o tabernáculo tipifica a pessoa de


Cristo. O exterior dessa tenda era, pelo menos parcialmente similar as
tendas menores de habitação dos israelitas. Mas, a grande diferença estava
em que o tabernáculo era o lugar especialmente designado da habitação de
Deus, como assim também era Cristo (Cl 2.9).

2. Em detalhe – Cada detalhe ou artigo do mobiliário tipifica alguma fase


da obra de Cristo para o homem. No Novo Testamento aprendemos sobre
muitas fases da obra de Cristo. Em um momento ele é apresentado como
nosso Substituto; em outro, como aquele que Purifica e Regenera, como o
Pão da Vida, a Luz do Mundo, o Bom Pastor e a Videira. Também no
tabernáculo podemos perceber estas mesmas fases de sua obra: No altar de
bronze vemos Cristo como nosso Substituto; na bacia, nosso Purificador e
Regenerador; no candelabro, a nossa Luz; no altar do incenso, nosso
Intercessor; e no propiciatório, nossa Propiciação.

3. Ordem do Mobiliário – Observem com que precisão os mobiliários foram


colocados no tabernáculo, sempre apontando para obra redentora de Cristo.
Em um extremo, no santo dos santos, estava a arca da aliança – o trono de
Deus. No outro extremo, perto da entrada, o altar de bronze, que é o tipo da
cruz de Cristo. Assim vemos que homem algum pode chegar ao trono de
Deus, sem passar pela Cruz.

No santo dos santos, estamos cercados pelas paredes douradas; em cima


está a linda cortina com figuras das criaturas celestes; a arca de ouro
mostra os querubins curvados sobre o propiciatório; e sobre este está
manifesta a presença de Deus no fogo da Sua Glória. Ali só existe luz,
beleza, amor, culto e a presença de Deus, em contraste ao nos
aproximarmos do altar de bronze, que só há sofrimento, sangue e morte, à
medida que os substitutos morrem no lugar dos pecadores. Podemos afirmar
que Cristo consiste nesses dois extremos – do trono do Pai na glória, à cruz
do Calvário (Fl 2.5-11).

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Depois do altar de bronze, o próximo passo é a bacia, a qual representa
Cristo como nosso Purificador e Regenerador (Jo 3.5). Depois precisamos
nos alimentar de Cristo como o pão da vida (Jo 6.35) – os pães da
proposição. A seguir Ele precisa ser a nossa Luz e Guia (Jo 14.13-14) – na
figura do candelabro. Então Cristo aparece na figura do altar do incenso,
como nosso intercessor, conduzindo-nos ao santo dos santos – a arca da
aliança.

O tabernáculo fala de Cristo de diversas maneiras. Mesmo os seus materiais


e cores falam dEle. A madeira fala de sua humanidade, o ouro de sua
divindade. Há no branco a pureza, o azul para promessa ou profecia, o
carmesim para a realeza, o vermelho para o sangue.

Os Sacerdotes

Desde o dia em que feriu a todo primogênito do Egito, o


Senhor havia separado para si todos os primogênitos de
Israel. E no lugar dos primogênitos, Deus tomou os levitas
(Nm 3.12), e de dentro da tribo de Levi, Deus separou: Arão
e seus filhos, Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar para
administrarem o ofício sacerdotal (Êx 28.1-3).

Eles deveriam primeiramente serem lavados com água,


depois seriam vestidos com as vestes sagradas, e apenas o
sumo sacerdote, por fim seria ungido com o azeite da unção
(Êx 29.4-7). Mas, os filhos de Arão seriam aspergidos com o
mesmo azeite misturado com sangue (Lv 8.30)

“Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa


espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo”. 1Pe 2.5

41
Levítico – Leis, Instituições Civis e Religiosas, Culto e Festas

Este livro traz o nome de Levítico, por tratar quase exclusivamente dos
deveres sacerdotais. Poder-se-ia compará-lo a um ritual.

Compõe-se quase que inteiramente de leis que visam à santificação


individual e de toda nação de Israel. Santificação, de per si ritual e exterior, que, porém,
simboliza e promove certa santidade interior e moral. Toda a matéria pode ser dividida
em cinco partes:

1ª Parte – Leis relativas aos sacrifícios:

1. Holocausto (1.1-17; 6.8-13; 17.8,9);


2. Ofertas de Alimentos (2.1-16; 6.14-18);
3. Sacrifícios de Paz (3.1-17; 7.11-21);
4. Sacrifícios Expiatórios (4-6.1-7; 6.24-30; 7.1-10)

2ª Parte – A porção dos sacerdotes (7.28-38) e sua consagração (6.19-23;


8.1-36). Nadab e Abiú foram mortos por terem usurpado um ofício sagrado (10.1-7).
Várias prescrições para os sacerdotes (10.8-20).

3ª Parte – Leis sobre a pureza legal, dos alimentos (11.1-47), da purificação


da mulher (12.1-8) da lepra (13-14); da imundícia do homem e da mulher (15). Rito
para o dia solene de expiação (16).

4ª Parte – Diversas leis:

a) a proibição de comer sangue (17.10-16); prescrições que regulam os atos


sexuais (18); várias prescrições religiosas e morais (19); as penas de diversos crimes
(20);

b) dos sacerdotes: núpcias e luto (21.1-15); irregularidades (21.16-24);


impureza cerimonial (22.1-16); dos sacrifícios (22.17-30); conclusão (22.31-33);

c) dos dias festivos: o sábado (23.3) e as solenidades anuais (23.4-44).

5ª Parte – Determinações diversas: lâmpadas no santuário e pães da


apresentação (24.1-9); pena para o blasfemador (24.10-23); prescrições para o ano
sabático e jubileu (25); promessas e ameaças relativas a observância da lei (26); votos
especiais (27).

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O sacrifício, o ato mais sagrado de Israel, isto é, oferecer a Deus vítimas,
animais ou vegetais, não foi instituído por Moisés, mas remonta às próprias origens da
humanidade (Gn 4.3-4). Moisés encontrou o seu uso estabelecido e arraigado entre
todos os povos. Moisés, com suas leis, só regulamentou e consagrou ao culto do
verdadeiro Deus um cerimonial já praticado, deixando ainda toda essa legislação dos
sacrifícios separada das condições essenciais do pacto celebrado entre Deus e o seu
povo. Nesse sentido deve-se entender aquele protesto do próprio Deus contra os judeus,
por boca de Jeremias (Jr 7.22-23):

"Em matéria de sacrifícios e holocaustos, eu nada disse e nada ordenei aos vossos pais
ao tirá-los do Egito; dei-lhes somente esta ordem: Escutai a minha voz; eu serei vosso
Deus e vós sereis o meu povo” (cf. Êx 19.5).

Nada, portanto, impede atribuir-se ao próprio Moisés a legislação cerimonial


do Levítico, embora pareça óbvio que não a tenha escrito toda de uma vez e se tenha
servido, da obra de algum sacerdote ou levita de profissão. Nem se exclui que algumas
destas leis tenham recebido em tempos posteriores com modificações e acréscimos.

As Principais Festas Judaicas – Lv 23

Festa da Páscoa (pesah); na tarde do dia 14 de abibe (Êx 12.5,6,14).

Propósito: comemorar a libertação de Israel do cativeiro no Egito.

Ritual: o cordeiro é morto, e seu sangue se asperge com hissôpo nas


ombreiras das portas e depois o ofertante e sua família comem o cordeiro assado (Dt
16.5-7), específica que Deus teria escolhido uma cidade santa, a Páscoa passaria a ser
celebrada ali somente.

Significado típico: a crucificação de Cristo (I Co 5.7).

Festa dos Pães Ázimos: dia 15 até 21 de Abibe (v.6; Êx 12.18).

Propósito: comemorar as dificuldades da fuga apressada do Egito.

O Ritual: sete dias oferece-se oferta queimada ao Senhor. Havia uma santa
convocação no dia 15 e no dia 21.

Festa das Primícias: (Lv 23.9-14).

Propósito: comemorar a ressurreição de Cristo.

43
Pentecostes (Festa das Semanas): dia 06 de Sivã (3º mês), ou 49 dias
após a oferta das primícias.

Propósito: dedicar a Deus as primícias da colheita do trigo.

Ritual: dois pães de farinha de trigo sem levedura; holocaustos (07


cordeiros, 01 novilho, 02 carneiros) oferta pelo pecado (01 bode); oferta pacífica (02
cordeiros).

Significado típico: a descida do Espírito sobre a Igreja do N.T. (At 2).

Festa dos Tabernáculos: dia 15 de Tisri, durante sete dias (7º mês).

Propósito: comemorar as peregrinações no deserto e regozijar-se na


conclusão de todas as colheitas (cereais, frutas, vindimas).

Ritual: haverá santa convocação no dia 15 e no 8º dia. Será entregue oferta


queimada, holocausto e oferta de alimentos, sacrifícios e libações, cada qual em seu dia
próprio (Nm 29.12).

Significado típico: aparentemente, prenunciar a paz e prosperidade do futuro


reino milenar.

Números – O Livro dos Recenseamentos dos Judeus

O quarto livro do Pentateuco recebeu o nome de Números (em grego


Arithmoi, que aqui tem o sentido de "recenseamentos") por causa dos "recenseamentos"
(1.1-19,46), que são próprios deste livro e que lhe dão a sua feição particular. Contém,
além disso, alguns fatos que se ligam imediatamente aos acontecimentos narrados no
Êxodo, e leis semelhantes às do Levítico. Pode ser dividido facilmente, de acordo com os
lugares e tempos, em três partes:

1ª parte – No Sinai: disposições para a partida. Recenseamento das tribos e


respectivas posições no acampamento (1-2). Os serviços dos levitas, o censo levítico, a
posição de suas tendas, divisão por famílias e por ofícios (3). Os deveres dos filhos de
Coate, de Eleazar, de Gérson e de Merari (4): os impuros eram banidos, restituições
pelos pecados, o espírito de ciúmes (5), nazireato, bênção de Arão (6). Últimos fatos:
donativos dos chefes das tribos ao santuário (7), consagração dos levitas (8), segunda
Páscoa (9.1-14), sinais para a partida e para a parada, as trombetas (9.15-23; 10.1-10).

44
2ª parte – Viagem através do deserto: Do Sinai a Cades: partida e ordem
de marcha (10.11-36), murmuração do povo, as codornizes (11), a lepra de Mirian irmã
de Moisés (12). Parada em Cades: missão dos doze exploradores e queixas do povo (13-
14); repetição de diversas leis (15); sedição de Coré, Datan e Abirão, e sua punição e
confirmação do sacerdócio na família de Arão (16-17); os deveres e direitos dos
sacerdotes e levitas (18.1-32;19); sedição do povo por falta de água (20.1-13). De
Cades ao Jordão: os edomitas negam passagem pelas suas terras (20.14-21); morte de
Arão (20.22-29); queixas do povo e castigo, a serpente de bronze (21.1-9); vitória sobre
os amorreus e a conquista de Basan (21.10-35).

3ª parte – Na margem oriental do Jordão: cerca de cinco meses. Últimos


encontros com os povos da Transjordânia; Balaão e seus vaticínios (22-24); prostituição
a Baal-Peor (25); Segundo recenseamento e divisão da terra (26); A lei acerca das
heranças (27.11); a morte de Moisés (27.12-17); apresentação de Josué (27.18-23);
holocausto contínuo, ofertas, sacrifícios e festas (28.1-31; 29); lei acerca dos votos (30);
guerra contra os midianitas e leis sobre a divisão dos despojos (31); Distribuição da
Transjordânia (32); as etapas do Egito até Moabe (33); normas para a ocupação e
distribuição da Cisjordânia (33.50-56; 34); designação das cidades levíticas e de refúgio
(35); disposições para manter inalterada a primitiva distribuição (36).

A julgar pelo resumo, o presente livro compreende um período de cerca de


trinta e oito anos e meio. Sobre a maior parte desse período (os trinta e oito anos no
deserto) narra-nos apenas uns poucos fatos, mas muito notáveis pelo significado
religioso, como a serpente de bronze, a sedição de Coré, os vaticínios de Balaão, a água
brotada da rocha; fatos dos quais os apóstolos no Novo Testamento tiraram utilíssimas
lições (1Co 10.1-11; Hb 3.12-19; Jo 3.14-15). No centro do drama acham-se dois fatos
semelhantes entre si, duas sedições do povo contra Moisés, executor das ordens divinas;
a primeira (14), originada pela repugnância em empreender a conquista da Palestina; a
segunda (20), por falta de água. Até Moisés, que por um instante duvidou da clemência
divina e por isso teve de deixar a outros o remate de sua obra, a conquista de Canaã (cf.
Dt 34).

O livro dos Números é importante para a literatura porque, entre outras


coisas, nos conservou fragmentos de antiqüíssimos cânticos populares (21.17), com a
indicação de coleções - já existentes, como "o Livro das guerras do Senhor" (21.14), do
qual não se tem outra menção.

45
Deuteronômio – Repetição das Leis

“Então protestarás perante o Senhor, teu Deus...“. (Dt 26.5-11)

O quinto e último livro do Pentateuco foi chamado Deuteronômio, isto é,


"segunda lei," talvez porque assim tenha sido traduzida, embora inexatamente pelos
LXX, uma frase hebraica em 17.18. No entanto, convém-lhe perfeitamente esse nome. O
livro não é uma simples repetição da legislação contida nos livros precedentes, mas além
de leis novas, oferece complementos, esclarecimentos e modificações às primeiras. É, de
certo modo, uma segunda lei, promulgada no fim da longa peregrinação dos israelitas,
paralela á lei dada no Sinai e destinada a regular mais de perto a vida do povo escolhido,
no solo da Terra Prometida à qual eles estavam para chegar e dela tomar posse
definitiva. Não é, porém, simples enumeração de leis e determinações; o que caracteriza
esse livro, o que lhe constitui a alma, é um ardente sabor oratório. Este livro nos faz
ouvir um Moisés que exorta, encoraja; inculca á observância das leis, a começar dos
grandes princípios morais; apela para os mais poderosos motivos, evoca a glória do
passado, a missão histórica de Israel, os triunfos do porvir. Na mente do autor sagrado
temos o testamento definitivo, que o grande guia e legislador deixa ao povo de Deus às
vésperas da sua morte. Pelo estilo, o Deuteronômio é um discurso, ou melhor, vários
discursos, dirigidos por Moisés aos israelitas. Deduz-se daí a divisão do livro em quatro
partes:

1ª parte: 1° discurso (1-4): olhar retrospectivo aos fatos acontecidos desde


a partida do Horeb até às últimas conquistas da Transjordânia; exortação geral à
observância da lei (4.1-40).

2ª parte: 2° discurso: renovação da lei (4.44). Princípios gerais: o Decálogo


(5); o culto e o amor ao único Deus verdadeiro (6); guerra à idolatria (7); benefícios de
Deus, censura da infidelidade anterior de Israel, promessas e ameaças (8.11); as
injustiças de Israel (9); as segundas tábuas da lei, a vocação da tribo de Levi, exortação
à obediência (10); e as bênçãos e maldições (11).

Leis especiais: Deveres religiosos. Unicidade do santuário e disposições


relativas (12.1-28); contra a apostasia (12.29-32); os falsos profetas e idolatras (13);
alimentos e dízimos (14); ano da remissão (15); as três grandes solenidades anuais
(16.1-17).

Direito público: Juizes (16.18-20), rei (17.14-20), sacerdotes (18.1-8),


profetas (18.15-22); homicídio involuntário (19), guerra (20), homicídio por mão
desconhecida (21.1-9).

46
Direito familiar e privado: Grande variedade - os pontos principais são:
matrimônio (21.10-14, 22.13-30), filhos (21.15-21), levirato (25.5-10), deveres de
humanidade (22.1-12; 23.15-20; 24.7), honestidade (25.13-19), votos (23.21-23),
primícias e dízimos (26).

3ª parte: 3° e 4° discursos: ordem de promulgar a lei em Siquém, maldições


para os transgressores (27), promessas e castigos (28). Exortação à observância da lei,
com a recordação dos fatos históricos, das promessas e das ameaças (29-30).

4ª parte. Apêndice histórico. Últimas disposições de Moisés, nomeação de


Josué, seu sucessor (31); cântico de Moisés (32), bênção das doze tribos (33), morte de
Moisés (34).

Vimos nessas linhas: O amor de Deus, beneficência, alegria no cumprimento


do dever, e princípios inculcados e repetidos com solicitude incansável. Por isso,
perpassa-o um sopro ardente de sincera e profunda piedade para com Deus e uma
ternura simpática pelo homem, que edifica e comove. Há páginas que se aproximam da
sublimidade divina dos ensinamentos evangélicos, mais do que quaisquer outras.

47
A Conquista de Canaã (Josué)

Muitos estudiosos crêem que os seis primeiros livros formam uma unidade,
por estarem alicerçados sobre fontes comuns de informação, assim eles agrupam o livro
de Josué juntamente com o Pentateuco, formando então o Hexateuco. Em sua forma
atual, muitos acreditam ser um produto essencial da escola deuteronômica de
historiadores, também chamada fonte informativa D. No entanto, também acreditam que
material mais antigo foram acrescentados na narrativa, proveniente das fontes J e E.

O livro de Josué contém a narração da conquista da Terra Prometida pelos


israelitas, a qual foi dividida entre as doze tribos:

Suas partes:

Caps 1-12 narram a conquista da Terra Prometida;

Caps 13-21 relatam a divisão da terra entre as doze tribos;

Caps 22-24 registram os atos e discursos finais de Josué.

48
Em todo livro de Josué, como também nos demais livros do AT, mostram
que as vitórias e a prosperidade de Israel sempre dependeram da obediência espiritual
às exigências da lei divina.

No entanto, as conquistas não foram completas. Pois, Israel deixou que


muitos nativos continuassem no território, sendo posteriormente necessário realizar
diversas correções.

Autoria:

Se de fato Josué foi o autor, então o livro pode variar entre 1400 – 1200
a.C. Mas, muitos eruditos modernos acreditam que se trata de uma obra anônima,
compilada em alguma data posterior a conquista da Palestina. A maioria dos eruditos
liberais parte do pressuposto de que o livro foi escrito algum tempo antes, ou bem pouco
tempo depois do cativeiro babilônio (586 a.C.). Outros acreditam que Finéias pode ter
sido o autor de certas partes do livro de Josué. Ele era filho e sucessor de Eleazar, o
sumo sacerdote, e foi uma das colunas de Israel, naquele tempo (Nm 25.7-13). Ele
também foi figura proeminente na solução das disputas em torno do altar erigido pelas
duas tribos e meia que residiram na parte oriental do Jordão (Js 22.10-34).

Propósito:

Os hebreus viviam como nômades, desde a libertação dos hebreus do


cativeiro egípcio até o livro de Deuteronômio. No momento dessa conquista o povo de
Deus passou a se estabelecer como tribos.

Nisso vemos o propósito principal desse livro, que é demonstrar a fidelidade


de Deus às suas promessas, a qual guiou o seu povo até a terra de Canaã, conforme
também os tirara do Egito (Gn 15.18; Js 1.2-6). A narrativa da conquista é altamente
seletiva e abreviada. Os acontecimentos enumerados foram considerados suficientes para
servir aos propósitos que os autores sagrados tinham em mente.

“... A tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até o grande rio Eufrates.“.
(Gn 15.18)

49
Juízes (Os Libertadores)

O título do livro é dado como referência aos 12 juízes que presidiram os


israelitas durante um período de aproximadamente 350 anos, entre o falecimento de
Josué e a subida do primeiro rei ao trono (Saul).

O período antes dos Juízes

1. Condições sociais e políticas (1.1-36);

2. Condições religiosas (2.1-5)

Israel havia escapado da servidão no Egito e conquistado, com sucesso, a


Terra da Promessa, mas muitos adversários permaneceram instalados em derredor, e
tencionavam por diversas vezes expelir os israelitas daquela terra. Desta forma Israel
esteve em constante ameaça de extinção. E o fato de não haver um líder que mantivesse
a nação em estrita obediência a Deus, foi o fator preponderante que levaram as tribos
por diversas vezes ao fracasso, principalmente devido à apostasia.

Também domina nesse livro a crença comum aos livros históricos do AT, de
que Israel prosperava quando obedecia à lei de Deus, mas caía em desgraça, decadência
e destruição quando não obedecia a Lei Sagrada (Jz 2.13-23).

“Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus
olhos“. (Jz 21.25)

Os juízes foram líderes militares e religiosos, usualmente em defesa de


tribos (uma ou duas), e nunca da nação inteira. Pois, até então, não havia nenhum
governo centralizador em Israel.

Suas partes:

Caps 1.1-2.6 registram um breve repasse da ocupação de Canaã;

Caps 2.7-16.31 relatam a história dos juízes;

Caps 17-21 um apêndice que fala sobre a migração dos danitas e o conflito
interno contra os benjamitas.

50
Autoria:

Este livro também está envolvido na teoria das fontes informativas. Alguns
advogam que o bloco principal do livro (2.6-16.31) tenha procedido da escola
deuteronômica de historiadores, que teriam tido acesso a informes históricos mais
antigos, que seriam as fontes informativas J e E.

Os eruditos que defendem a teoria J. E. D. S. supõem que a introdução do


livro de Juízes (1.1-2.5) tenha sido adicionada posteriormente, derivada de material
informativo mais antigo, paralelo de certos trechos do livro de Josué, especialmente em
seus capítulos 15 a 17.

Os Juízes:

1. Otniel (Jz 3.7-11) – De Judá, livrou a Israel do rei da mesopotâmia;


2. Eúde (Jz 3.12-30) – Expulsou os moabitas;
3. Sangar (Jz 3.31) – Matou 600 filisteus e salvou a Israel;
4. Débora e Baraque (Jz 4.1-5.30) – Guiam a Naftali e Zebulom à vitória
contra os cananeus;
5. Gideão e Abimeleque (Jz 6.1-9.57) – Gideão expulsou os midianitas do
território de Israel e Abimeleque não passou de um usurpador;
6. Tola (Jz 10.1,2);
7. Jair (Jz 10.3-5);
8. Jefté (Jz 10.6-12.7) – Subjugou os amonitas;
9. Ibzã (Jz 12.8-10);
10. Elom (Jz 12.11-12);
11. Abdom (Jz 12.13-15);
12. Sansão (Jz 13.1-16.31) – Perseguiu os filisteus;

Eli e Samuel: Esses dois homens foram também considerados como juízes,
os quais promoveram uma forte liderança. Eli era sacerdote principal em Silo (1Sm 1.3;
4.13). Samuel tinha uma liderança não-hereditária. Ele governava de diversos lugares
em Israel, em seus circuitos pela nação (1Sm 7.15-17). Devido à requisição nacional por
um rei, o próprio Samuel, ainda que com relutância, cedeu diante da exigência do povo
(1Sm 8.1-7). Esse pedido popular foi considerado uma apostasia, da teocracia original
para o governo humano.

51
Monarquia – Saul, Davi, Salomão e outros reis (Divisão)

Durante toda história dos hebreus sucedeu o governo teocrático, seja por
meio dos sacerdotes ou através dos juízes. A monarquia foi uma concessão de Deus
(1Sm 8.7; 12.12), correspondendo a um desejo da parte do povo. Esse desejo, que já
havia sido manifestado numa proposta a Gideão (Jz 8.22,23), e na escolha de
Abimeleque para rei de Siquém (Jz 9.6), equivale à rejeição da teocracia (1Sm 8.7),
visto como o Senhor era o verdadeiro rei da nação (1Sm 8.7; Is 33.22). A própria terra
era conservada como propriedade divina (Lv 25.23).

O rei era comandante-em-chefe, o principal defensor da fé nacional, o juiz


supremo, o administrador das questões financeiras, o guerreiro principal, o diretor dos
empreendimentos de construção da nação, o vice-regente de Yahweh (1Sm 10.1).
Esperava-se do rei que ele fosse homem dotado de grande retidão pessoal (2Sm 7.14; Sl
89.26; 2.6,7). Os reis tinham uma corte e seus respectivos oficiais. A corte provia ao rei
os luxos tipicamente orientais, as riquezas materiais, os edifícios decorativos, e muitas
mulheres (1Sm 8.15; 2Rs 24.12,15; 1Rs 22.10; 2Cr 18.9).

Quanto ao aspecto espiritual, o rei era ajudado pelos sacerdotes levitas. Ele
tinha o seu cronista (2Sm 8.17). Possuía seu administrador (Is 22.15), seus
companheiros (1Rs 4.5), sua guarda pessoal, com um capitão (2Sm 20.23), bem como
os oficiais sobre seus armazéns, tesouros, plantações, vinhas, etc. (1Cr 27.25-31).
Também havia um comandante do exército as ordens do rei (2Sm 11.1; 20.23; 1Cr
27.34), e conselheiros reais, equivalentes a ministros (1Cr 27.32; Is 3.3; 19.11,13).

Os reis de Israel dispunham de gado e de plantações (1Sm 21.7; 2Sm


13.23, 2Cr 26.10). Eles cobravam taxas dos negociantes que passavam pelo território de
Israel (1Rs 10.14), cobravam impostos dos seus súditos (1Sm 10.27), do comércio (1Rs
10.22), das aventuras comerciais (1Rs 9.28), dos despojos de guerra (2Sm 8.2,7,8), e
taxas diversas (1Sm 8.15; 2Rs 23.25). Ser rei era ter sido dotado de poder supremo (Pv
8.5,6).

Os reis antes da divisão:

1. Saul – 1060 a.C. (1Sm 10.1)


2. Davi – 1020 a.C. (1Sm 16.13)
3. Salomão – 980 a.C. (1Rs 1.39)

52
O Rei Saul: Escolhido segundo a vista dos homens, Saul era de grande
vitalidade física e de muita força de vontade, embora não-dotado de profunda
espiritualidade, foi ungido rei por Samuel (1Sm 10).

Observamos três pontos importantes nesse evento:

1. Houve uma insistência, extremamente errônea, em ter um rei (1Sm


10.18,19), sendo assim rejeitado o governo de Yahweh;
2. Todavia, Saul era o homem escolhido pelo Senhor (1Sm 10.1);
3. Porém, o povo de Israel estava à cata de meros valores humanos,
porquanto Saul era mais alto que qualquer outro homem em Israel
(1Sm 10.23).

Obs.: Como em quase tudo que os homens fazem, houve a mistura de


valores divinos e valores humanos.

O Rei Saul obteve poderes consideráveis, em pouco tempo. Ele tinha a


última palavra na administração da justiça e da política interna (1Sm 15.4).
Exercia o poder de vida e morte sobre os cidadãos (1Sm 14.39). Era o
comandante em chefe do exército. Essa era a principal razão pela qual os
israelitas queriam ter um rei, pois temiam os muitos inimigos que viviam
ameaçando-os (1Sm 8.20).

Para todos os efeitos práticos, a única força que contrabalançava o poder


real, era o poder da casta sacerdotal, juntamente com a dos profetas, os
quais intervieram por mais de uma vez, algumas vezes com sucesso, e
outras sem sucesso (1Sm 13.14; 1Rs 20.22,28; 2Rs 1.15,16). Mas, pelo
erro do Rei a sua espada prevaleceu sobre qualquer força restringidora (1Sm
22.17). E por todos esses erros, Saul foi rejeitado pelo Senhor:

“... O Senhor tem rasgado de ti hoje o reino de Israel, e o tem dado ao teu próximo,
melhor do que tu“. (1Sm 15.28)

53
O Rei Davi: O poder do reinado foi anexado à sua linhagem, que então
passou a ser hereditária. O trono, preferencialmente, era dado ao filho mais velho. No
entanto, essa norma nem sempre era observada (1Rs 1.17). Os reis eram ungidos pelo
sumo sacerdote do momento, um gesto que refletia a teocracia (1Sm 10.1; 15.1; 16.12;
1Rs 1.34,39), ao menos simbolicamente.

Davi tornou-se uma espécie de rei-sacerdote, tendo restaurado, até certo


ponto, o ideal mosaico (2Sm 6.12,13). A despeito de seus grandes erros, Davi era
espiritualmente superior a Saul (1Sm 13.14; 1Rs 11.4; 14.8). Seu governo foi muito
bem sucedido dos ângulos pessoal, militar e espiritual, chegando a ser considerado o
monarca ideal. Todavia, houve algumas falhas graves, como seu adultério com Bate-
Seba e a morte provocada de Urias (2Sm 11.4,17). Mas, diante da repreensão do profeta
Natã (2Sm 12.7), Davi pode se arrepender (Sl 51) e o Senhor perdoou seu pecado (2Sm
12.13). No entanto, suas conseqüências ele levou sobre si (1Sm 12.12).

O pacto davídico (Sl 132.11), sem dúvida, foi um fator essencial na


importância dele, visto que se tornava clara a existência de um propósito divino,
operante através da linhagem de Davi.

Em 2Sm 7.16 se diz pela primeira vez que o Messias seria descendente de
Davi.

O Rei Salomão: Esse era filho de Davi, e levou a nação de Israel a seu
ponto culminante de poder e prosperidade (2Cr 1.1), em um período essencialmente
pacífico. Foi nesse período que o Templo de Jerusalém foi edificado, o que adicionou uma
nova dimensão ao caráter nacional de Israel. Salomão, em meio ao grande luxo em que
vivia, naturalmente envolveu-se em alguns vícios, primeiramente com mulheres, e
então, com a idolatria.

Sua história é narrada em 1Rs 1.30-11.43; 1Cr 23.1; 28-29 e 2Cr 1-9.
Salomão encontrou dificuldades onde a maioria dos monarcas orientais escorregava. Um
numeroso harém era um dos luxos mais cobiçados da época (2Sm 5.13; 1Rs 11.1; 20.3).
Salomão foi o mais luxuoso e sensual deles todos, tendo tido mil esposas e concubinas.

O trecho de Deuteronômio 17.14-20 prediz os maus resultados dos reis de


Israel que multiplicariam cavalos, esposas e riquezas materiais.

Foi exatamente devido aos erros de Salomão que Deus intentou dividir a
nação. Mas, por amor que tinha a Davi deixou para fazer isso nos dias de Roboão, seu
filho.

54
A Divisão – Roboão e Jeroboão

Pelo fato de Salomão ter tolerado a idolatria (1Rs 11.33,34), um julgamento


divino desastroso teve início no reinado de Roboão, filho e sucessor de Salomão. O
profeta Aías profetizou que Jeroboão, um efraimita muito capaz a quem Salomão
destacara para supervisionar os grupos de trabalho provenientes do norte em Jerusalém
(1Rs 11.28-31), dominaria sobre as dez tribos do norte. Esse oráculo evidentemente
tornou pública a rebelião de Jeroboão, de modo que ele fugiu para o Egito a fim de
escapar da ira de Salomão (1Rs 11.40), retornando após a morte dele.

Roboão ainda tentou dominar sobre todo o Israel (1Rs 12.1-15), mas
seguindo conselhos insensatos de amigos ambiciosos, anunciou que sua política seria
ainda mais dura que a do pai. Assim, liderados por Jeroboão, os israelitas declararam
independência.

O reino dividido – Israel (Norte) e Judá (Sul)

Os reis de Israel: Os reis de Judá:

1. Jeroboão – 937 a.C. (1Rs 11.28) 1. Roboão – 937 a.C. (1Rs 11.43)
2. Nadabe – 915 a.C. (1Rs 14.20) 2. Abias – 920 a.C. (1Rs 14.31)
3. Baasa – 914 a.C. (1Rs 15.16) 3. Asa – 917 a.C. (1Rs 15.8)

4. Elá – 891 a.C. (1Rs 16.8) 4. Jeosafá – 878 a.C. (1Rs 15.24; 22.41)

5. Zinri – 890 a.C. (1Rs 16.15) 5. Jeorão – 851 a.C. (2Rs 8.16; 2Cr 21.1)

6. Onri – 890 a.C. (1Rs 16.16) 6. Acazias – 843 a.C. (2Rs 8.25)

7. Acabe – 876 a.C. (1Rs 16.29) 7. Atalia – 842 a.C. (2Rs 8.26)
8. Joás – 836 a.C. (2Rs 11.2; 12.2)
8. Acazias – 856 a.C. (1Rs 22.40)
9. Amazias – 796 a.C. (2Rs 14.1)
9. Jorão – 854 a.C. (2Rs 1.17)
10. Azarias/Uzias – 777 a.C. (2Rs 14.21; 15.3)
10. Jeú – 842 a.C. (1Rs 19.16; 2Rs 10.28,29)
11. Jotão – 750 a.C. (2Rs 15.5,34)
11. Jeoacaz – 814 a.C. (2Rs 10.35)
12. Acaz – 734 a.C. (2Rs 15.38)
12. Jeoás – 797 a.C. (2Rs 13.10)
13. Ezequias – 727 a.C. (2Rs 16.20; 18.3)
13. Jeroboão II – 781 a.C. (2Rs 14.23)
14. Manassés – 697 a.C. (2Rs 21.1)
14. Zacarias – 741 a.C. (2Rs 14.29)
15. Amon – 642 a.C. (2Rs 21.19)
15. Salum – 741 a.C. (2Rs 15.10) 16. Josias – 640 a.C. (1Rs 13.2; 2Rs 22.2)
16. Manaém – 740 a.C. (2Rs 15.14) 17. Jeoacaz – 608 a.C. (2Rs 23.30)
17. Pecaias – 737 a.C. (2Rs 15.23) 18. Jeoiaquim – 608 a.C. (2Rs 23.30)
18. Peca – 736 a.C. (2Rs 15.25) 19. Joaquim ou Jeconias – 598 a.C. (2Rs 24.6)
19. Oséias – 730 a.C. (2Rs 15.30) 20. Zedequías ou Matanias – 598 a.C. (2Rs
24.17)

55
“Vendo, pois, todo o Israel que o rei não lhe dava ouvidos, tornou-lhe o povo a
responder, dizendo: Que parte temos nós com Davi? Não há para nós herança no filho de
Jessé. Às tuas tendas, ó Israel!“ (1Rs 12.16).

Mesmo assim Roboão ainda tencionava recuperar o governo unificado. No


entanto, uma intervenção profética impediu que suas tropas marchassem para o norte
(1Rs 12.24).

56
Os Cativeiros – Assírio e Babilônico

Uma avançada civilização se desenvolvera na Babilônia em cerca de 3000 a.


C., que permaneceu o centro cultural da Mesopotâmia até o século VI a.C. A Assíria
obteve o domínio militar, ocupando grande parte da mesma região, pelo que, as duas
civilizações muito tinham em comum, tornando-se praticamente inseparáveis. O poder
político e militar oscilava de uma para outra mão, sobretudo no período entre 900 e 600
a.C. Foi precisamente durante esse período que a Assíria passou a atuar como opressora
e invasora, nas narrativas bíblicas. A Bíblia, entretanto, sempre distingue entre a Assíria
e a Babilônia.

Cativeiro Assírio

Todos os fatos que seguem abaixo, formaram o cenário para que a ira de
Deus fosse manifesta, permitindo que a Assíria se levantasse contra o Israel norte:

Temeroso de que as peregrinações para Jerusalém sabotassem seu reino,


Jeroboão proibiu as viagens para o templo de Salomão e estabeleceu santuários
alternativos em Dã e em Betel. Então, o povo do norte começou a identificar-se com
imagens do culto à fertilidade dos cananeus e passaram a misturar o culto a Yahweh com
o culto a Baal. Esse sincretismo explica a censura profética contra o rei Jeroboão e seus
santuários (1Rs 13.1-32; 14.14-16).

O reino do norte nunca estabeleceu uma dinastia real e estável. Nadabe,


filho de Jeroboão, governou por apenas dois anos, antes de ser morto por Baasa (1Rs
15.27-30). Elá, filho de Baasa, sofreu o mesmo destino nas mãos de Zinri, um
comandante militar (1Rs 16.8-14). Mas Zinri reinou apenas sete dias, antes de outro
general, Onri, sitiar sua capital em Tirza. A morte de Zinri dividiu a lealdade do povo
entre Onri e Tibni, mas o primeiro acabou prevalecendo.

Onri por fim estabilizou politicamente o reino do norte. E comprou a Samaria


fazendo a capital permanente do reino do norte, até que foi destruída pela Assíria (1Rs
16.24).

É provável que o movimento mais nocivo tenha sido sua aliança com a
próspera cidade fenícia de Tiro, um pacto selado com o casamento de seu filho, Acabe,
com Jezabel, filha do rei de Tiro (1Rs 16.24-33). É verdade que nessa aliança haviam
interesses comerciais sobretudo, mas acabou tendo um inconveniente desastroso que
anulou por completo seus benefícios: acabou fortalecendo Acabe e Jezabel, que se
aproveitaram da posição real e dos recursos para promover o culto a Baal em Israel.

57
Nesse cenário Deus levantou uma testemunha poderosa para se contra por
àquela política e promover a fé verdadeira. Daí em diante os embates entre Elias e Acabe
conduzem a trama de 1Rs 17-22. Como tema principal, os conflitos detalham onde Israel
errou e descrevem o julgamento divino que virá sobre Israel.

Após a ascensão de Elias aos céus (2Rs 2.11), toda oposição de Deus contra
os reis perversos de Israel continuou através do profeta Eliseu (2Rs 3.14; 9.10,35).
Porém, o Senhor ainda continuava usando de sua misericórdia (2Rs 13.23).

Vindo a morte de Eliseu (2Rs 13.20), outros reis perversos governaram


sobre Israel, até que no reinado de Oséias, o Senhor entregou Israel ao cativeiro Assírio
(2Rs 17.6), pelos pecados que todos os reis cometeram e ensinaram ao povo a se
desviarem das leis, dos estatutos, dos mandamentos e dos juízos de Deus (2Rs 17.7-
23).

Assírio
721 606

Cativeiro Babilônico

No governo de Roboão, a apostasia religiosa que caracterizara o reinado de


Salomão tornou-se mais patente. O javismo debatia-se com a religião cananéia e com a
prostituição masculina (1Rs 14.23,24). O exército de Judá continuou suas lutas militares
contra seu rival do norte, sem que houvesse supremacia de uma das partes (1Rs 14.30;
15.6). Para piorar a situação, o poderoso egípcio Sisaque, invadiu Judá em 926 a.C. (1Rs
14.25-28), levando os escudos de ouro, simbolizando o fim da era de ouro de Judá (1Rs
14.26) devido a sua apostasia.

Após breve e inexpressivo reinado de Abias (1Rs 15.1-8), é apresentado o


longo período do governo de Asa, com sua formula típica para os governantes de Judá
(1Rs 15.9-11). Asa é um dos poucos reis de Judá que as narrativas lhe são favorável.
Tematicamente, ele representa o primeiro reformador religioso de Judá.

Outros reis também se levantaram em Judá, e fizeram o que era mau aos
olhos do Senhor (2Rs 17.19). Por isso também a Assíria, por meio de Senaqueribe,
tomou todas as cidades fortificadas de Judá (2Rs 18.13), exigindo o pagamento de
impostos. Mas, ainda não se satisfez e desejou tomar Jerusalém (2Rs 18.17), chegando

58
ao ponto de blasfemar do Deus de Judá (2Rs 19.6). Entretanto, esse desejo do rei da
Assíria foi frustrado, porque na época Ezequias, um rei reto, governava sobre Judá, e a
mensagem recebida do profeta Isaías era de vitória (2Rs 19.7-8,28,32).

Ezequias era co-regente de Judá com seu pai, Acaz, desde 729 a.C. Depois
governou sozinho de 716 a 687. Ele aprendeu lições importantes com a queda de Israel.
Incentivado pelo profeta Isaías, ele perseguiu dois atos louváveis: tentou romper o
domínio político da Assíria e purificou a fé de Judá, abolindo o culto aos deuses cananeus
e assírios.

O Egito também estava ansioso por romper com a Assíria. Isso fez com que
Isaias profetizasse contra toda tentativa de aliança por parte de Judá (Is 30.1-3). Do
outro lado, a Babilônia compartilhava com os egípcios a fome de liberdade. Naquele
tempo Merodaque-Baladã era o rei de Babilônia e tentou fazer aliança com Judá (2Rs
20.12-19). Ezequias lhes mostrou os tesouros reais, os suprimentos, e a casa de armas.
Daí Isaias profetizou que todos esses tesouros, um dia, seriam levados para Babilônia
(2Rs 20.17). Um século mais tarde, as palavras de Isaias tornaram-se. Por três vezes o
exército babilônio atacou Judá e seus vizinhos. Eles deixaram os muros e o templo de
Jerusalém em ruínas e deram um fim amargo ao reinado da linhagem de Ezequias (2Rs
25.1-10).

Assírio Babilônio Medo-Persa


721
606 536 330

Obs.: O reino do sul (Judá) foi tomado pela Babilônia em 586 a.C.

59
Os Livros Sapienciais - Introdução

A terceira seção do cânon judaico são os Escritos. Os pais da igreja


cunharam o termo grego hagiographa "escritos sagrados" para descrever essa parte do
Antigo Testamento. Como já afirmamos anteriormente, no início da disciplina Antigo
Testamento I, as palavras de Jesus destacam tal cânon tripartido:

“... importava se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, nos
Profetas e nos Salmos“. (Lc 24.44)

Desses cinco rolos, dois são utilizados nas festas dos judeus:

- Cânticos dos cânticos de Salomão: oitavo dia da Páscoa; e

- Eclesiastes: terceiro dia da Festa dos Tabernáculos.

Embora os Escritos não contenham mandamentos específicos de Deus ou


oráculos ditados pelos profetas, são essenciais para a edificação do povo de Deus:
fornecem padrões indispensáveis para oração e louvor; fazem compreender o trabalho de
Deus na história; alertam o leitor para as lições que devem ser extraídas da criação e do
ambiente social humano; refletem reações ansiosas e iradas do povo diante do mistério
dos caminhos de Deus; e servem como modelo de coragem e devoção que o povo de
Deus deve manter apesar da fragilidade humana e da oposição hostil.

Os Escritos analisam de diferentes ângulos o rico e gratificante tema da vida


humana em relação a Deus. A vida é celebrada na sexualidade de Cântico dos Cânticos
de Salomão, na gratidão exuberante dos hinos e cânticos de ação de graças de Salmos e
nos prazeres terrenos defendidos em trechos de Eclesiastes. Através do livro de Jó, a
vida é apresentada sob ameaça, retratada de uma perspectiva individual ou talvez
nacional como sugere a tradição judaica. O livro de Provérbios nos apresenta lições de
como viver uma vida plena.

Esses livros são um componente essencial de "toda a Escritura inspirada por


Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na
justiça". (2Tm 3.16)

O impacto da lei, da profecia e da história sobre gerações sucessivas teria


sido menos forte se Deus não tivesse também inspirado e preservado as emoções, as
instruções, até as frustrações representadas nos Escritos. Todas essas três partes do
Antigo Testamento se complementam entre si.

60
O Livro de Jó

Segundo a tradição judaica, os livros de sabedoria foram escritos em um


período após a Torah (O Pentateuco). Talvez, refletindo uma grande crise de fé criada na
mente nacional, pelos cativeiros assírio e babilônico. Nesse caso, o livro de Jó não seria
mera peça pessoal, refletindo os conflitos de um individuo isolado acerca do problema do
mal, e sim, um tipo de busca dos judeus por uma resposta acerca das aflições que Israel
sofreu como nação.

A maioria dos intérpretes antigos e alguns modernos continuam defendendo


a data mais antiga do livro. Na época dos episódios patriarcais, quando ainda a lei
mosaica não havia sido promulgada. Todavia, quase todos os intérpretes modernos,
embora acreditem que o homem Jó tenha realmente vivido há muito tempo no passado,
talvez algum tempo antes de Abraão, acreditam que a narrativa tenha primeiramente
circulado sob forma de tradições orais, até ser escrito por volta do século V ou IV a.C.
Alguns chegaram a acusar uma data mais ainda posterior, no entanto, a descoberta do
mar morto elimina cabalmente qualquer data posterior aos anos 200 a.C.

Quanto a questão da autoria, pelo fato do livro refletir ao ambiente


patriarcal, a tradição judaica tem atribuído a Moisés, embora isso, para outros, esteja
totalmente fora da realidade. Como também o próprio livro não nos fornece nenhuma
indicação de que Jó tenha escrito qualquer porção da obra. Isso posto, temos um autor
desconhecido que viveu em um período desconhecido.

É de se estranhar que um livro que nada exiba de características israelita,


onde a lei mosaica nunca é promovida, tenha encontrado lugar seguro no cânon
hebraico. Essa posição do livro de Jó nunca foi seriamente desafiada. Talvez, por possuir
uma qualidade estética tão grande que ninguém jamais ousou desafiar seu direito ao rol
dos livros divinamente inspirados.

Alfred, Lord Tennyson, que foi um poeta de grande envergadura, considera o


livro de Jó como: “o maior poema dos tempos antigos e modernos”. “Esteticamente
falando, Jó é a produção literária suprema do gênio dos hebreus”.

Alguns eruditos pensam que editores de uma época posterior, tivessem feito
adições que só teriam servido para lançar confusão no livro. O capítulo 21,
diferentemente dos capítulos 1º ao 19º, retrata um Jó cético, que condenou a si mesmo
e, então, foi levado à sabedoria divina no capítulo 28. Os capítulos 30 e 31 seriam
basicamente, um paralelo aos discursos dos capítulos 3º ao 19º. Nos capítulos 32-37
aparece uma reprovação desnecessária por parte de certo Eliú. Nos capítulos 38 e 39 o

61
próprio Deus força Jó a retratar-se. Isso posto, parece haver consideráveis mudanças de
atitude no livro. E alguns estudiosos supõem que isso reflita adições feitas
posteriormente. Todavia, o autor Norman Champlin acredita que isso poderia ter sido
reflexo apenas de um confuso arranjo e tratamento, por parte do próprio autor sagrado
que, ao abordar uma questão espinhosa, não se mostrou muito metódico quanto, talvez,
gostaríamos que ele tivesse sido.

Outros estudiosos também supõem que o prólogo (Jó 1 e 2) e o epílogo (Jó


42.7-17) tenham sido adições feitas ao corpo original do livro. Outros ainda criticam a
filosofia que transparece na obra, supondo que as tragédias gregas sejam superiores,
pois, nessas tragédias, quando um homem sofre, nunca mais se recupera. E dizem que
isso é mais realista diante da vida. No entanto, Jó recuperou-se e prosperou mais do que
antes. Mediante essa recuperação de Jó diante do sofrimento, o autor sagrado estava
dizendo que a providência divina é capaz de nos surpreender. E isso prova que a
resposta simplista para o problema do sofrimento humano, de que este resulta de erros
cometidos, nem sempre explica o que de fato está acontecendo entre os homens.

Em relação aos conselhos dados pelos homens que são apresentados nos
diálogos com Jó, não poderiam ser diferentes, pois eles somente poderiam perceber
aquilo que era comum ao seu contexto, ou seja, a retribuição divina, devido a mesma ser
tão regular e previsível segundo a antiga doutrina judaica encontrada na Torah.

Jó é apresentado como um homem que vivia na terra de Uz (Jó 1.1), que


alguns estudiosos supõem que ficasse situada em algum ponto entre Damasco da Síria,
ao norte, e Edom, ao sul, ou seja, nas estepes a leste da Síria-Palestina.

62
Os Salmos

O título hebraico antigo do livro era Tehillim, “cânticos de louvor”, refletindo


assim o principal conteúdo dessa coletânea.

Entretanto podemos encontrar outros tipos, conforme classificação a seguir:

1. Salmos de lamentação
2. Salmos de ação de graça e louvor
3. Hinos majestáticos
4. Salmos reais
5. Salmos messiânicos
6. Salmos litúrgicos
7. Salmos de sabedoria
8. Salmos de história sagrada
9. Chamada à adoração
10. Salmos de confiança
11. Cânticos de Sião
12. Louvor à lei
13. Salmos implorando proteção e dando
louvor
14. Tipos mistos
15. Oração implorando vitórias
16. Salmos didáticos
17. Doxologia de louvor
Salmos Penitenciais

Já o moderno título desse livro do Antigo Testamento vem do grego


psalmós, que indica um cântico para ser cantado com o acompanhamento de algum
instrumento de cordas, como a harpa.

Na Tanach, Salmos é colocado no início dos Escritos. O costume rabínico


colocava-o antes de Provérbios e o restante da literatura sapiencial, pressupondo que a
coleção de Davi deveria preceder a de seu filho, Salomão. A LXX põe Salmos no início
dos livros poéticos. A ordem latina e a nossa, em que Jó precede Salmos, deve-se,
provavelmente, à suposta antiguidade de Jó.

O Saltério em sua forma final está dividido em cinco livros: Salmos 1-41;
42-72; 73-89; 90-106; e 107-150. É provável que a divisão siga o padrão do Pentateuco.

63
Aliás, o número dos salmos (150) segue de perto o número de seções em que o
Pentateuco é dividido para leitura na sinagoga (153). A prática corrente nas sinagogas no
período pós-bíblico pode ter exigido o uso de um salmo para cada leitura do Pentateuco.
Cada um dos livros termina com uma doxologia: 41.13; 72.18s.; 89.52; 106.48; e 150,
que também serve como doxologia final da coleção toda. O propósito das doxologias é
dar louvor pelo que foi revelado acerca de Deus em cada livro. Essa ênfase no louvor
concorda com o título hebraico para o livro todo "louvores". Também se harmoniza com
uma mudança de queixa na primeira metade do Saltério para o louvor na segunda
metade. Ainda que alguns salmos se concentrem nos interesses humanos em relação a
Deus, o propósito do livro como um todo se concentra em Deus.

A LXX contém um salmo 151, expressamente relacionado com o combate


entre Davi e Golias, mas descreve o poema como "fora do número [o tradicional 150]".
Embora o grego e o hebraico contenham 150 salmos na coleção recebida, a numeração
em si difere: a LXX junta os salmos 9 e 10 e divide o 147 em 146 e 147. Assim, na LXX a
numeração de todos os salmos de 10 a 147 é um número menor em relação à
correspondente massorética.

As Coleções

Por trás das divisões editoriais esconde-se um processo de desenvolvimento


histórico implicado na combinação de diferentes coleções de salmos. Duas são atribuídas
a Davi (Sl 3-41; 51-71). As outras são atribuídas aos coros levíticos dos filhos de Corá
(Sl 42-49; 84-85; 87-88) e Asafe (Sl 50; 73-83), presumindo-se que representem seus
repertórios. Os Cânticos de Romagem (Sl 120-134) eram provavelmente uma coleção de
cânticos de peregrinação entoados, enquanto atravessa Jerusalém rumo ao templo. Os
salmos 146-150 são coleções que empregam a rúbrica "Aleluia".

As Modalidades Literárias

O Saltério contém uma variedade de estilos literários que indica diferentes


funções no culto público e particular de Israel. Comparações dessas formas possibilitam
uma compreensão melhor tanto de seu significado como de seu uso.

A tarefa de compreender um salmo começa com certas perguntas:(1) Que


está acontecendo no salmo: queixa, louvor, ação de graças, instrução? (2) Quem está
falando: um indivíduo ou a comunidade? Se um indíviduo, trata-se do porta-voz de um
grupo, tal como um rei, sacerdote ou profeta, ou de um indivíduo reclamando do
sofrimento ou dando graças por um livramento? São empregados pronomes no plural e
no singular, como se um indivíduo e a congregação estivessem envolvidos? (3) O rei é

64
mencionado? Palavras como "ungido", "filho"ou "escudo" denotam sua relação com Deus
e Israel?

Foi somente no século presente que se aprendeu a importância de tais


perguntas. Até as primeiras décadas deste século, a abordagem acadêmica padrão de
Salmos e de outros livros era a crítica histórica, que "procurava compreender os livros da
Bíblia por uma análise crítica de sua composição, autoria, data, procedência, propósito e
fontes". Quanto a Salmos, esse método mostrou-se altamente inadequado devido à falta
de dados específicos que confirmassem datas e contextos históricos dos vários poemas.
Mesmo quando os títulos deles fornecem um possível contexto (e.g., 7; 18; 30; 34; 51-
52; 54; 56-57; 59-60; 63), não há certeza nem da credibilidade da tradição que teria
produzido os títulos nem do uso do salmo no culto de Israel. Invasões e batalhas são
mencionadas, mas nada se diz de específico. Inimigos se multiplicam, mas são quase
sempre anônimos. Um estudo comparativo dos grandes comentários do século XIX indica
que não existe grande consenso quanto a contexto, data ou uso dos vários salmos.

Provérbios

O nome do livro – No hebraico é “Mishle Shelomoh” ou “Provérbios de


Salomão”. Provérbios são expressões curtas e concisas contendo lições morais. São
princípios de vida por analogias, máximas que expressam uma verdade de forma sucinta,
sentenças curtas extraídas de longas experiências de vida. Esta era uma forma de ensino
comum no antigo Oriente por chamar a atenção, despertar a reflexão no ouvinte, e
facilitar a memorização.

Salomão foi o autor e compilador da maioria dos provérbios (Pv 1.1; II Rs


4.32), apresentados entre os capítulos 1 ao 24, foi também o autor dos provérbios que
estão contidos nos capítulos 25 ao 29 (Pv 25.1), os quais foram no entanto, compilados
pelos escribas do rei Ezequias (profetas Isaías e Miquéias?). Agur e o rei Lemuel foram os
autores dos capítulos 30 e 31, mas são pessoas desconhecidas para nós.

Segundo o relato de I Rs 4.32, Salomão durante o seu reinado (971- 931 a.


C.) compôs cerca de 3000 provérbios, porém o livro só apresenta 400 destes. O próprio
livro de provérbios declara ter havido uma seleção de provérbios feita pelos sábios do
tempo do rei Ezequias (mais ou menos 700 a.C.), crendo-se então girar em torno desta
data a compilação final do livro de provérbios. Coincide este fato com o período de
reformas implantadas pelo rei Ezequias (II Cr 29.25-30).

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Como já foi citado, este livro cobre vários séculos de produção literária. São
quase 300 anos, pois há composições de Salomão (971 a.C.), seleção dos sábios de
Ezequias (700 a.C.) e obras de prováveis contemporâneos de Ezequias como Agur e
Lemuel.

“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. Pv 1.7; 9.10

Salomão foi o homem mais sábio que já viveu sobre a face da terra (I Rs
4.29-32), e esta sabedoria foi recebida de Deus, a qual também está ao nosso alcance
(Tg 1.5,6).

O tema central deste livro é a sabedoria de forma prática, não apenas para
viver uma “boa vida”, mas para viver no temor do Senhor. Todas as máximas
apresentadas no livro objetivam gerar homens saudáveis e redimidos, bem sucedidos na
vida, segundo o projeto de Deus para nós. Os princípios de vida são divinamente
inspirados e apresentados sob a forma de ditados, que por contraste ou comparação,
retratam as experiências, características e o caminhar do sábio e do tolo, do justo, do
preguiçoso, do bom e do mau, do insensato, da mulher virtuosa, etc.

Esta sabedoria atravessa gerações e deve ser a base para o nosso viver
diário, bem como parâmetro para avaliação de nossa conduta. Os provérbios não são
princípios infalíveis de sucesso, mas normas gerais de Deus trabalhar. As exceções, por
exemplo, um justo que não goza a paz, felicidade ou longevidade, deve-se a projetos e
propósitos particulares de Deus para aquelas vidas. É ampla a gama de assuntos no livro
abordado: o uso das riquezas, o tratamento para com os pobres, amigos e vizinhos, o
controle da língua, a honestidade, a justiça, a obediência aos pais, etc.

Podemos dizer de forma prática, que os provérbios no AT, corresponde ou


equivale ao Tiago no NT.

Para facilitar didaticamente, adotamos a divisão aceita pela maioria dos


estudiosos:

Exortação aos jovens – caps. 1 a 9.

Provérbios variados de Salomão – caps. 10 a 24.

Provérbios de Salomão colecionados pelos sábios de Ezequias – caps. 25-29.

Palavras de Agur e Lemuel – caps. 30 a 31.

66
Eclesiastes

Eclesiastes é um livro muito profundo, onde o pregador procura uma grande


satisfação pela vida. Houve muitas iniquidades e inconsistências no que se refere a sua
vida na terra.

A futilidade em tentar viver a vida fora de Deus desemboca em grandes


frustrações, sendo a palavra chave (vaidade).

O título deste livro no AT hebraico é Koheleth (derivado de kahal, “reunir-


se”). Literalmente significa, “aquele que reúne uma assembléia e lhe dirige a palavra”. É
traduzido por pregador ou mestre. No grego da LXX é ekklesiastes, e desse deriva o
título “Eclesiastes” em português.

O pregador, o grande orador. Intitulava-se este livro assim, talvez, porque


Salomão depois do tempo que passou afastado de Deus ensinava publicamente as lições
aprendidas de suas experiências. Eclesiastes como o livro de Jó, é uma coleção de
pensamentos filosóficos. Jó era um homem que passou por sofrimentos terríveis para um
triunfo glorioso, ao passo que Eclesiastes, o pregador (Salomão), passou de luxo e glória
para as profundezas de tristeza e desespero.

Eclesiastes registra o sentimento da vida contemplada da sua velhice, no seu


último reinado quando o pecado o separava do seu Criador.

O autor desta obra se identifica como filho de Davi, rei em Jerusalém.


Embora não especifique que seu nome é Salomão, é razoável supor que a referência seja
feita mais ao sucessor direto de Davi do que a qualquer descendente posterior. Faz
alusão a si mesmo como o governante mais sábio do povo de Deus: evidência interna
(1.16) e como o escritor de muitos provérbios (12.9). Seu reino tornou-se conhecido por
causa das riquezas e grandeza (2.4-9). Tudo isso se encaixa na descrição bíblica do rei
Salomão: evidência externa (I Rs 4.29-34; 3.12; 5.12). Além disso, sabemos que uma
vez por outra, reunia uma assembléia e discursava diante dela. O ponto de vista
tradicional tem sido, portanto, que Salomão escreveu o Livro, segundo a crença de
estudiosos judeus e cristãos.

SALOMÃO significa: (recompensa), filho de Davi e Bate-Seba, terceiro e


último rei do reino unido de Israel.

67
Em Eclesiastes há um tom de tristeza, desalento e perplexidade, ao ver o
fracasso da sabedoria natural ao tentar resolver os problemas humanos e obter a
perfeita felicidade. Depois de seu afastamento de Deus (I Rs 11.1-8), Salomão ainda
tinha riquezas e sabedoria. Possuído destas, começou a sua investigação pela verdade e
a felicidade sem Deus. Tendo como resultado a expressão “tudo é vaidade” (significa
vazio, sem valor). Salomão aprendeu que sem a bênção de Deus, a sabedoria, posição e
riquezas não satisfazem, muito pelo contrário, trazem cansaço e decepção.

Segundo a tradição judaica, Salomão escreveu Cantares quando jovem;


Provérbios, quando estava na meia-idade, e Eclesiastes, no final da vida (935 a.C.). O
efeito conjunto do declínio espiritual de Salomão, da sua idolatria e da sua vida
extravagante, deixou-o por fim desiludido, com os prazeres desta vida e o materialismo,
como caminho da felicidade. Eclesiastes registra suas reflexões negativistas a respeito da
futilidade de buscar felicidade nesta vida, á parte de Deus e da sua Palavra. Ele teve
riquezas, poder, honrarias, fama, prazeres sensuais, em grande abundância, mas no fim,
o resultado de tudo foi o vazio e a desilusão: “vaidade de vaidades! É tudo vaidade” 1.2.

Ao escrever Eclesiastes, o seu propósito principal pode ter sido compartilhar


com o máximo, especialmente os jovens, antes de morrer, seus pensamentos e seu
testemunho, a fim de que outros não cometessem os mesmos erros que ele cometera.
Os jovens devem se lembrar de Deus na sua juventude para quando velho não haver
amargos lamentos e triste incumbência de prestar contas a Deus por uma vida
desperdiçada.

Conclusão

O pregador (Salomão) tentando resolver os problemas humanos, e como


conseqüência obter a felicidade à parte de Deus, saiu do luxo e glória para sofrer com
muita tristeza e desespero.

Essas palavras servem como referencial para que tenhamos a certeza de que
a vida à parte de Deus não tem valor algum, mesmo sendo detentor de riquezas e
conhecimento humano.

“De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos;
porque isto é o dever de todo homem.” Ec 12.13

68
Cantares de Salomão

No hebraico o nome do livro é “Cântico dos Cânticos” pois as primeiras


palavras do livro são: Cânticos dos Cânticos de Salomão, e representam o principal dos
1005 cânticos compostos por Salomão (I Rs 4.32).

Salomão já era rei (965 a.C.), e já tinha expandido seu reino até Jezreel,
porem seu harém ainda era relativamente pequeno (Ct 6.8,9). Cantares parece
corresponder ao inicio do reinado de Salomão, assim como provérbios ao meio de seu
reinado e Eclesiastes ao final. Em torno de 965 a.C..

“Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele pastoreia entre os lírios”. Ct 6.3

Este é talvez o principal cântico, dos cânticos de Salomão, contando a


história do conhecimento, noivado e casamento de dois personagens: o rei Salomão
(“Príncipe da paz”) e a Sunamita (“a pretendente da Paz”). O poema não tem pausas, é
entrecortado subitamente por um coro de jovens, e traz a fala dos dois personagens
passando da voz de um para a voz do outro de forma repentina.

Na historia do poema (idílio lírico), uma camponesa da cidade de Suném, na


encosta do Monte Hermom, apascentava cordeiros e lavrava a vinha da família, que na
verdade pertencia ao rei Salomão. Um dia, estando a cuidar do rebanho, encontrou-se
com um formoso estranho (era Salomão disfarçado de pastor) ao qual se afeiçoou. Eles
convivem durante um tempo, prometem-se em casamento até que um dia este estranho
parte prometendo voltar. Ela esperou muito tempo crendo na promessa e sonhando com
este dia.

Certo dia ele volta, e vem com grande séquito proclamando-a sua esposa,
levando-a então para o palácio. É aí no palácio que o poema é cantado, fazendo-se
recordações do passado.

O livro de Cantares em primeiro lugar enaltece a beleza e pureza do


casamento, por meio da história de Salomão e sua esposa; em segundo lugar, traz na
história uma revelação figurada do amor de Deus para com Israel, o povo de sua aliança
(Is 54.5,6; 62.4,5; Os 2.16-23); e em terceiro lugar, aqui os cristãos podem encontrar
uma interpretação alegórica do relacionamento entre Cristo e sua noiva celestial, a Igreja
(II Co 11.1,2; Ef 5.25; Ap 19.7,8; 21.2,9).

69
É preciso conhecer bem o estilo de escrita de Cantares para que o possamos
entender e dividir: as falas parecem por vezes confundirem os personagens e o
desenvolvimento da história não é simples de se compreender. Alem das muitas
metáforas na linguagem poética este poema é um idílio lírico, ou seja, uma história
campestre, contada sob a forma de um poema onde o relato não segue uma seqüência
lógica cronológica, mas há “flash-backs” e coros entrecortando o relato.

Dividiremos o livro em cinco cenas:

A noiva nos jardins de Salomão – caps. – 1.1 a 2.7.

As recordações da noiva – caps. – 2.8 a 3.5.

As núpcias – caps. – 3.6 a 5.1.

Os dois no palácio – caps. – 5.2 a 8.4.

O lar da esposa – caps. – 8.5 a 14.

Conclusão

Devemos compreender claramente que o termo “poético” refere-se apenas à


sua forma. Não se deve entender o termo como uma insinuação de que tais livros sejam
mero fruto da imaginação humana. Há poesia de rara beleza aí, mas nada meramente
fantasioso ou irreal. Esses livros descrevem verdadeiras experiências humanas e tratam
de problemas profundos, revelando grandes realidades. Eles se ocupam especialmente
das experiências dos piedosos, nas diversas vicissitudes desta nossa vida inconstante sob
o sol. Alem disso, as experiências tratadas foram concedidas aos homens a fim de
servirem de orientação para os justos durante toda sua vida. Essas experiências são aqui
registradas e interpretadas para nós pelo Espírito da inspiração, mediante “homens
[santos]” do passado que falaram e escreveram “movidos“ por Ele. Assim sendo, nesses
livros poéticos temos um tesouro muito precioso de verdade espiritual.

70
Os Profetas

Introdução

A palavra hebraica para “profeta” é nabi, e significa “anunciador”,


“declarador”, e por extensão, aquele que anuncia as mensagens de Deus. Os profetas
usavam vários meios de adivinhação e envolviam-se em oráculos. Os termos hebraicos
roeh e hozek também são usados, e significam “aquele que vê”, ou seja, “vidente”.
Todas as três palavras aparecem em 1Cr 29.29. Nabi é termo usado por mais de
trezentas vezes no Antigo Testamento. Alguns exemplos são: Gn 20.7; Êx 7.1; Nm 12.6;
Dt 13.1; Jz 6.8; 1Sm 3.20; 2Sm 7.2; 1Rs 1.8; 2Rs 3.11; Sl 74.9. É possível que esta
palavra também fosse usada para designar a missão profética. Um título comumente
aplicado aos profetas era “homem de Deus”, que ocorre por cerca de setenta e seis vezes
no Antigo Testamento. Cerca de metade dessas ocorrências é usada em referência a
Eliseu, e outras quinze dizem respeito a um profeta cujo nome é dado (1Rs 13.1). Além
disso, a expressão é usada para designar Moisés, Elias, Samuel, Davi e Semaías. Ainda
outros títulos dados aos profetas são: Atalaia Jr 6.17; Ez 3.17 (no hebraico, sophin) e
Pastor Zc 11.5,16 (no hebraico raah).

Apesar de a idéia de predição do futuro fazer parte inerente do ofício


profético, incluindo acontecimentos nacionais e individuais, o ofício profético envolvia as
atividades de exortação, ensino, pastoreio e liderança espiritual em geral. Os profetas
eram tidos como representantes de Deus, libertadores e intérpretes da mensagem
divina.

Os sacerdotes e os profetas eram ambos líderes civis e espirituais na cultura


dos hebreus. Isso foi oficializado nas posições ocupadas por Moisés e Aarão, e o ideal foi
levado avante durante toda a história subseqüente de Israel. Foi feita a Moisés a
promessa da perpetuidade do ofício profético em Israel (Dt 18.15), que culminaria na
pessoa do Messias, o maior de todos os profetas.

Entre os dias de Josué e Eli “as visões não eram freqüentes” (1Sm 3.1), o
que significa que o ofício profético estava em baixo nível. Mas esse ofício ressurgiu no
período dos reis com o aparecimento das escolas de profetas, que surgiram nos dias de
Samuel, e devido ao encorajamento que ele lhes deu (1Sm 19.20; 2Rs 2.3,5; 4.38; 6.1).

71
Diversos Profetas

No Reino Unido Em Israel Em Judá


Natã (2Sm 7.2-17; 12.1-25), Aías, o silonita (1Rs 11.29- Semaías (2Cr 11.2-4; 12.5-
na época de Davi, 1000 a.C. 39; 14.1-18), na época de 8), na época de Reoboão,
Joroboão I, 931-910 a.C. 931 a.C.
Gade (1Sm 22.5; 2Sm Um homem de Deus, vindo Azarias, filho de Obede (2Cr
24.11-19), também na época de Judá (1Rs 13.1-32), na 15.1-7), na época de Asa,
de Davi. época de Jeroboão I, 931- 911-870 a.C.
910 a.C.
Aías, o silonita (1Rs 11.29- Jeú, filho de Hanani (1Rs Hanani (2Cr 16.7-10), na
40), na época de Salomão, 16.7-12), na época de Baasa, época de Asa, 911-870 a.C.
971-931 a.C. 909-886 a.C.
Elias (1Rs 17.2 – 2Rs 2), na Jeú, filho de Hanani (2Cr
época de Acabe, 874-853 19.2,3), na época de Josafá,
a.C. e de Acazias 853-852 873-848 a.C.
a.C.
Micaías (1Rs 22.13-28), na Jaaziel (2Cr 20.14-17), na
época de Acabe, 874-853 época de Josafá, 873-848
a.C. a.C.
Eliseu (1Rs 19.16 – 2Rs Eliezer, filho de Dodava (2Cr
13.21), na época dos reis 20.37), na época de Josafá,
Acazias, 853 a.C., Jeorão 873-848 a.C.
(852-841 a.C.), Jeú (841-
814 a.C.), Jeoacaz (814-798
a.C), Jeoás (798-782 a.C.
Obede (2Cr 28.9-11), na Elias (2Cr 21.12-15), na
época de Peca, 752-732 a.C. época de Jeorão, 853-841
a.C.
Zacarias, filho de Joiada (2Cr
24.20-22), na época de Joás,
835-796 a.C.
Hulda (2Rs 22.14-20), na
época de Josias, 641-609
a.C.
Urias (Jr 26.20-23), na época
de Jeoiaquim, 609-598 a.C.

72
Os Profetas - Pré-cativeiro Assírio

- (2) Jonas [825-782 a.C.]  Pré-cativeiro Assírio (Profetiza para Ninive)

- (3) Amós [786-746 a.C.] e (4) Óseias [782-725 a.C.]  Pré-cativeiro Assírio;

O cativeiro Assírio pôs fim (em 721 a.C.) à linhagem dos profetas do reino
do norte, Israel, e o povo de Israel continuou através da nação de Judá. Realmente, as
dez tribos de Israel perderam sua identidade.

Os Profetas - Pré-cativeiro Babilônico

- (1) Joel [837-800 a.C.] e (5) Isaias [758-698 a.C.]  Pré-cativeiro Babilônico;

- (6) Miquéias [740-695 a.C.]  Pré-cativeiro Babilônico;

- (7) Naum [640-630 a.C.] e (8) Sofonias [640-610 a.C.]  Pré-cativeiro Babilônico;

- (9) Jeremias [627-586 a.C.]  Pré-cativeiro Babilônico (Início);

- (10) Habacuque [609-598 a.C.]  Pré-cativeiro Babilônico;

Durante Cativeiro Babilônico

- (11) Daniel [606-534 a.C.] e (12) Ezequiel [592-572 a.C.]  Durante o cativeiro
Babilônico;

- (13) Obadias [586-583 a.C.]  Era do Norte, estava no Sul e profetiza para Edom;

Após Cativeiro Babilônico

- (14) Ageu [520 a.C.] e (15) Zacarias [520-518 a.C.]  Pós-exílio.

- (16) Malaquias [433-425 a.C.]  Pós-exílio.

73
Sargão II  (722-705 a.C.) Toma o Reino do Norte 2Rs 15.29; 16.5-7.

Pré-assírio

(2) Jonas [825-782 a.C.] (2rs 14.25-27) Profetiza para Ninive.


(3) Amós [786-746 a.C.] (2Cr 26; 2Rs 14.15, 23-29) Era do Sul.
(4) Óseias [782-725 a.C.] (2Rs 14.23; 15-18).

(1) Joel [837-800 a.C.] (2Rs 12)  1º a profetizar pro sul.


(5) Isaias [758-698 a.C.]  Profeta messiânico.
(6) Miquéias [740-695 a.C.] (2Rs 15.23-30)  Queda de Jerusalém e Israel.
(7) Naum [640-630 a.C.]  Condenação de Ninive.
(8) Sofonias [640-610 a.C.] Sofonias, Naum e Habacuque
(9) Jeremias [627-586 a.C.]  Profeta chorão. Profetiza durante o reinado de Josias
Contemporâneos de Jeremias
(10) Habacuque [609-598 a.C.].
(11) Daniel [606-534 a.C.] e (12) Ezequiel [592-572 a.C.]  Durante o cativeiro.
(13) Obadias [586-583 a.C.]  Era do Norte, porém estava no Sul e profetiza para Edom.
(14) Ageu [520 a.C.] e (15) Zacarias [520-518 a.C.]  Pós-exílio - Fundo histórico Ed 1-7.
(16) Malaquias [433-425 a.C.]  Pós-exílio.

Reconstrução de Jerusalém

- Esdras & Neemias  Reconstroem a cidade de Jerusalém;

Originalmente formavam um único livro

74
Período Interbiblico

Introdução

Foi considerado o período em que não houve revelação divina escrita e antes
de iniciar o estudo do Novo Testamento, é de extrema importância a compreensão dos
fatos que ocorreram pós-exílio até o advento de Cristo, iniciando então a Era Cristã. O
qual envolve um período de 400 anos, onde os fatos históricos formaram o cenário ideal
para a manifestação de Jesus o Filho de Deus, conforme está escrito em Gl 4.4-5:

“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de
recebermos a adoção de filhos”.

Cenário

A nação de Israel apostatou da fé, quebrou a aliança com o Deus criador dos
céus e da terra, e por isso foi extremamente afligido com os cativeiros Assírio (721 a.C.)
e Babilônico (606-536). No período do exílio babilônico surgiram as sinagogas, local onde
os israelitas se reuniam para estudar, copiar e ensinar as Escrituras.

O Império medo-persa surgiu em 536 a.C., como libertador de Israel das


mãos da Babilônia, com a figura de Ciro que permite que cerca de 50.000 exilados
retornem para Jerusalém (Ed 1.6).

Esdras retorna do exílio em 457 a.C., promove diversas reformas civis e


espirituais, servindo de restaurador e por isso passou a ser considerado como o segundo
fundador da nação Judaica.

Assírio Babilônico Medo-Persa Grego


721 167
606 536 330

Obs.: O reino do sul (Judá) foi tomado pela Babilônia em 586 a.C.

Em Dn 8.3 foi profetizado a queda do império babilônico até o levante de


Antioco Epifânio (uma tipificação de anti-cristo).

75
Alexandre o Grande

Alexandre, filho de Felipe de Macedom, homem de extrema liderança


educado aos pés do famoso Aristóteles, plenamente devotado a cultura grega, penetrou
na Pérsia com um contingente bastante inferior aos dos seus adversários. Mas, pela sua
coragem e destreza militar com apenas 22 anos de idade estabeleceu seu império.

No ano de 330 a.C. Alexandre o Grande estabelece o Império Grego, mas


com apenas 33 anos de idade perdeu suas forças estando enfermo e também bastante
debilitado pelo uso do álcool. O império Grego é então dividido e entregue nas mãos de:

Seleuco – Reinou no norte sobre a Síria, Ásia Menor e a Babilônia;

Ptolomeu – Ficou com o sul reinando sobre o Egito;

Lisímaco – Sobre a Trácia;

Cassandro – Ficou com a Macedônia e a Grécia.

Nesse período o império passou de uma mão para outra mão, por várias
vezes até 301 a.C., quando o Egito e a Síria mediram forças (Egito: 301-198 / Síria:
198-167).

A Palestina foi dividida nas províncias: JUDÉIA, GALILÉIA, TRACONITES e


PERÉIA. E também nesse período surgiram os Fariseus “separados”, Saduceus “justos” e
os Essênios que pareciam uma seita oriental com mistura de judaísmo.

Embora tenha reinado por um período bastante curto, mas foi muito rápido e
passou a influenciar o mundo da época como nunca antes havia ocorrido. Disseminou a
cultura e a língua grega por toda extensão do seu império.

Antioco Epifânio

Em 175 a.C., subiu ao trono da Síria, Antíoco Epifânio (Antíoco IV). Ele
colocou em seu coração o desejo de exterminar os judeus e em 168 a.C., arrasou
Jerusalém, profanou o templo erigindo um altar a Júpiter e sacrificou uma porca sobre o
altar do holocaustos. Como se não bastasse, também decretou pena de morte para quem
praticasse a circuncisão e adorasse a Deus. E também destruiu todas as cópias que
encontrou das Escrituras.

76
A Revolta dos Macabeus

Jerusalém mais uma vez estava arrasada, seu povo revoltado com a
situação que se encontravam, até que Matatias, que vivia em Modim (entre Jope e
Jerusalém), podemos assim dizer: “deu o grito de independência”. Com muita bravura
venceu diversas batalhas, mas no ano 167 a.C., no mesmo ano da revolta veio a falecer.

Matatias possuía cinco filhos, os quais por um período de aproximadamente


100 anos estabeleceram uma heróica e sangrenta independência.

- Judas (166-161): Rededicou o templo e fez aliança com Roma;


- Eleazar: Morreu em combate antes de 161 a.C.;
- Jônatas (161-142): Também foi um bravo guerreiro. Exerceu as funções de
rei e sacerdote;
- João: Morreu antes de Jônatas; e
- Simão (142-134): Consolida a vitória e foi feito governador e sumo
sacerdote.

Depois outros descendentes dos Macabeus também continuaram pelejando


para manter a liberdade de Israel:

- João Hircano (134-104): Cercou e detruiu a cidade de Samaria, arrasando


o templo dos samaritanos, construído sobre o monte Gerezim, por permissão de
Alexandre o Grande. Nesse tempo a divisão política era: JUDÉIA, SAMARIA, GALILÉIA,
IDUMÉIA e PERÉIA;
- Aristóbulo I (104-103): Filho de João Hircano;
- Alexandre Janeu (103-76): Era irmão de Aristóbulo I – Em seu tempo
houve uma espécie de guerra civil, por causa dos seus desmandos;
- Alexandra (76-67): Havia sido esposa primeiramente de Aristóbulo I e
depois de sua morte casou-se com Alexandre Janeu e após sua morte ascendeu ao
trono; e
- Aristóbulo II (67-63): Foi o último rei do período independente e era filho
de Alexandre Janeu com Alexandra. Esse usurpou o poder de seu irmão mais velho
Hircano II, o qual deixou o governo pacificamente.

Nesse cenário surge a figura de Antípater, governador militar da Iduméia.


Esse instigou Hircano II a vingar-se de seu irmão Aristóbulo II.
Israel independente Jesus nasce na época de Herodes
o Grande (37-4 a.C.)

Os Macabeus Romano
167 476 d.C.
63 Queda do Império Ocidental
---
1453 d.C.
Império Oriental
Queda de Constantinopla 77
Os Romanos

No ano de 63 a.C., a Palestina passa para o Domínio romano através de


Pompeu que arrebatou o poder das mãos de Aristóbulo II e entregou a Hircano II.

Os governantes da Palestina até a Era Cristã:

- Hircano II (63-40):
- Antígano II (40-37):
- Herodes o Grande (37-4 a.C.):

Obs.: A Palestina estava agora dividida em 6 distritos: JUDÉIA, SAMARIA,


IDUMÉIA, GALILÉIA, PERÉIA e ITURÉIA.

“E tendo nascido Jesus em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes..., eis que uns
magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: onde está aquele que é nascido rei dos
judeus? Porque vimos sua estrela no oriente e vimos a adora-lo. E Herodes, ouvindo isto,
perturbou-se, e toda Jerusalém com ele.” Mt 2.1-3

78
Diversas Contribuições

Contribuição Romana

Política: desenvolveram um sentido de unidade da espécie sob uma lei


universal, por meio da solidariedade criou um ambiente favorável à aceitação do
evangelho, o qual proclamava a unidade da raça humana, garantindo a todos a salvação
integrando-os em um organismo vivo e universal, a Igreja.

Até o momento nenhum império havia conseguido esta façanha. A lei


também era aplicada a todos de forma imparcial pelas cortes romanas.

Um reflexo romano em busca da unidade foi garantir a todos a cidadania


romana. Isso foi feito para que todos os homens estivessem debaixo de um só sistema
jurídico como cidadãos de um só reino. E com este sentido de comunidade romana houve
uma contribuição muito grande para a vinda da pregação das boas novas.

A divisão e individualidade do mundo antigo em cidades-estados ou tribos


impediam a circulação e propagação de idéias. Com o aumento do projeto imperial
romano houve uma era de desenvolvimento pacífico nos países ao redor do
mediterrâneo.

Militar: Pompeu tinha varrido os piratas do mediterrâneo e os soldados


romanos mantinham a paz nas estradas da Ásia, África e Europa. Isso foi uma porta
aberta para pregação do evangelho a todos os homens.

As estradas principais eram ótimas feitas de concreto e duravam séculos,


chegando aos pontos mais distantes do império, algumas delas são usadas até hoje. E
Paulo se serviu muito delas em suas viagens missionárias para atingir os centros
estratégicos do império romano.

O exército convocava habitantes das províncias para suprir a falta de


romanos. Após se converterem alguns ao cristianismo eram designados a outros pontos
distantes e assim o evangelho era espalhado.

As conquistas romanas conduziram muitos dos povos à falta de fé em seus


deuses, uma vez que não foram capazes de os livrar dos romanos. E nisso se
encontravam em um vácuo espiritual que não estavam sendo preenchidos pelas religiões
romanas.

79
Ex. Culto ao imperador romano

Religiões de mistérios: adoração a Cibele (matava um touro e batizava os


seguidores com o sangue), criam na morte e ressurreição.

Ísis (importado do Egito), criam também na morte e ressurreição.

Mitraísmo: Importado da Pérsia – teve muita aceitação dos soldados


romanos (possuía refeições sacrificiais)

Obs: todas elas enfatizam o deus salvador, porém pareciam esquisitas


frente ao cristianismo que tratava o indivíduo.

Mesmo a igreja da idade média não conseguiu se desfazer da influência da


Roma imperial, acabando por perpetuarem seus ideais num sistema eclesiástico.

Contribuição Grega

Os gregos foram conquistados politicamente pelo império romano, porém os


gregos os conquistaram culturalmente.

A Língua: O evangelho universal precisava de uma língua universal para


poder exercer um impacto global sobre o mundo.

Obs: Os homens até hoje tentam criar uma língua universal para que
possam comunicar suas idéias uns aos outros.

A língua grega se formou como universal desde o império ateniense. Depois


da destruição ao final do quinto século o grego clássico tornou-se a língua que Alexandre,
seus soldados e os comerciantes do mundo helenístico, entre 338 e 146 a.C.,
modificaram, enriqueceram e espalharam pelo mundo mediterrâneo.

Obs: A septuaginta foi escrita pelos judeus de Alexandria.

A Filosofia: Esta preparou caminho para o cristianismo, pois levaram a


destruição às antigas religiões através dos seus questionamentos. Porém falhou na
satisfação das necessidades espirituais do homem. Então o homem tornava-se um cético
ou procurava as religiões de mistérios.

80
A filosofia apenas aspirava por Deus, fazendo dEle uma abstração, jamais
revelava um Deus pessoal como o do cristianismo.

A filosofia através de Sócrates e Platão ensinava cinco séculos antes de


Cristo que o presente mundo temporal dos sentidos é apenas uma sombra do mundo
real. Porém apenas buscavam a Deus por meio do intelecto.

Obs: os gregos aceitavam a imortalidade da alma, mas não criam na


ressurreição do corpo.

A filosofia e as religiões de mistérios haviam produzido muitos corações


famintos.

A filosofia tornou-se um sistema de individualismo pragmático.

Então, quando o cristianismo apareceu, as pessoas do império romano


estavam bem receptivas a uma religião que parecia oferecer uma perspectiva espiritual
para a vida de cada individuo.

A Contribuição dos Judeus

Estas formam a herança do cristianismo. Sendo a partir do judaísmo o botão


do qual a rosa do cristianismo abriu-se em flor, tornando-se o berço do cristianismo.

Monoteísmo – contrastava com a maioria das religiões pagãs

Esperança messiânica – esperava um messias que estabeleceria a justiça

Sistema ético – através da lei judaica, o judaísmo ofereceu ao mundo o mais


puro sistema ético de então.

Antigo Testamento – os judeus prepararam o caminho para a vinda do


cristianismo ao legar a igreja em formação um livro sagrado que foi muito utilizado por
Jesus e seus apóstolos.

Filosofia da história – sustentavam uma visão linear da história, na qual


Deus soberano que criou a história triunfaria.

81
A sinagoga – criada na ausência do templo durante o cativeiro babilônico,
eram freqüentadas por judeus e muitos gentios, os quais se familiarizavam com uma
forma superior de viver.

Obs: Jesus e seus apóstolos utilizavam as sinagogas em suas viagens


evangelísticas.

Conclusão: À época da vinda do Messias, os homens tinham compreendido


finalmente a insuficiência da razão humana e do politeísmo.

Um Pouco de Atualidade - Conflito Israel x Palestina

Raízes do Conflito

Em 1897, durante o primeiro encontro sionista, ficou decidido que os Judeus


retornariam à Terra Santa, em Jerusalém, de onde foram expulsos pelos romanos no
século III d.C.. Imediatamente teve início a emigração para a Palestina, que era o nome
da região no final do século XIX. Nesta época, a área pertencia ao Império Otomano,
onde viviam cerca de 500 mil árabes. Em 1903, 25 mil imigrantes judeus já estavam
vivendo entre eles. Em 1914, quando começou a I Guerra Mundial (1914-1918), já eram
mais de 60 mil. Em 1948, pouco antes da criação do estado de Israel, os judeus
somavam 600 mil.

Estado Duplo

Os confrontos se tornavam mais violentos à medida que a imigração


aumentava. Durante a II Guerra Mundial (1939-1945), o fluxo de imigrantes aumentou
drasticamente porque milhões de judeus se dirigiram à Palestina fugindo das
perseguições dos nazistas na Europa. Em 1947, a ONU tentou solucionar o problema e
propôs a criação de um “estado duplo”: o território seria dividido em dois estados, um
árabe e outro judeu, com Jerusalém como “enclave internacional”. Os árabes não
aceitam a proposta.

As Guerras

No dia 14 de maio de 1948, Israel declarou independência. Os exércitos do


Egito, Jordânia, Síria e Líbano atacaram, mas foram derrotados. Em 1967 aconteceram
os confrontos que mudariam o mapa da região, a chamada “Guerra dos Seis Dias”. Israel
derrotou o Egíto, Síria e Jordânia e conquistou de uma só vez toda a Cisjordânia, as

82
colinas de Golán e Jerusalém leste. Em 1973, Egíto e Síria lançaram uma ofensiva contra
Israel no feriado de Yom Kippur, o Dia do Perdão, mas foram novamente derrotados.

A Intifada

Em 1987 aconteceu a primeira intifada, palavra árabe que significa


“sacudida” ou “levante”, quando milhares de jovens saíram às ruas para protestar contra
a ocupação considerada ilegal pela ONU. Os israelenses atiraram e mataram crianças que
jogavam pedras nos tanques, provocando indignação na comunidade internacional. A
segunda intifada teve início em setembro de 2000, após o então primeiro-ministro
israelense, Ariel Sharon, ter caminhado nas cercanias da mesquita de Al-Aqsa,
considerada sagrada pelos muçulmanos e parte do Monte do Templo, área sagrada
também para os judeus.

A Situação no Século XXI

Israel permanece nos territórios ocupados e se nega a obedecer a resolução


242 da ONU, que obriga o país a se retirar de todas as regiões conquistadas durante a
Guerra dos Seis Dias. Apesar das negociações, uma campanha de atentados e boicotes
de palestinos, que se negam a reconhecer o estado de Israel, e israelenses, que não
querem devolver os territórios conquistados, não permite que a paz se concretize na
região.

O Cisma Palestino

Em junho de 2007 a Autoridade Nacional Palestina se dividiu, após um ano


de confrontos internos violentos entre os partidos Hamas e Fatah, que deixaram
centenas de mortos. A Faixa de Gaza passou a ser controlada pelo Hamas, partido sunita
do Movimento de Resistência Islâmica, e a Cisjordânia se manteve sob o governo do
Fatah do presidente Mahmoud Abbas.

O Hamas havia vencido as eleições legislativas palestinas um ano antes, mas


a Autoridade Palestina havia sido pressionada e não permitiu um governo independente
por parte do premiê Israel Hamiya. Abbas declarou estado de emergência e desistiu
Haniya, mas o Hamas manteve o controle de fato da região de Gaza.

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Conclusão

Não podemos desprezar, e nem deixar outros desprezarem quão


maravilhoso compendio teológico que Deus, por meio dos seus servos deixou para a
humanidade, o Antigo Testamento, que de forma majestosa se coaduna com o Novo
Testamento.

Maravilhosas são as palavras, os ensinamentos e mais maravilhoso ainda é


como toda esta obra sendo escrita por aproximadamente 40 homens, dos mais diversos
níveis intelectuais, e em diversas épocas, situações e costumes, formam uma unidade,
comprovando a existência de uma só fonte, o Espírito Santo de Deus (2Pe 1.21).

E para surpresa de alguns, muitos de nós brasileiros também fazemos parte


dessa história, ainda que de forma muito longínqua através dos nossos antepassados que
na península Ibérica, chamada de Sefarad, vivia a maior comunidade judaica do globo.
Perseguida por motivos políticos e religiosos, viu surgir d’além mar a esperança para sua
existência, a colonização do Novo Mundo. Milhares e milhares de famílias afluíram para
as Américas e principalmente para o Brasil em busca da liberdade de ser o que eram:
judias. Famílias que trouxeram para a terra do pau-brasil os sobrenomes que hoje são os
mais difundidos por aqui (Silva, Rocha, Ferreira, Fernandes, Costa, etc...). É uma história
que nos pertence, que os nossos antepassados viveram: a história dos cristãos novos, os
judeus ibéricos forçados a se converter ao catolicismo. Perseguições, massacres,
segregação, sangue inocente derramado, medo e luta pela sobrevivência permeiam a
história das peregrinações deste sofrido povo.

E sobretudo, estamos ligados a história desse povo por meio da excelente


providência de Deus para salvação dos gentios por meio do Messias prometido.

“Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo“.
(Jo 1.17)

Gilvan Nascimento

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Bibliografias

• LASOR, William – Introdução ao Antigo Testamento. Ed. Vida Nova, 1ª Edição


1999. 851 pág.

• PACKER, James – O Mundo do Antigo Testamento. Ed. Vida, 1ª Edição 1988. 185
pág.

• ANDRADE, Claudionor – Geografia Bíblica. Ed. CPAD, 11ª Edição 2001. 314 pág.

• JENSEN, Irving – Êxodo – Estudos Bíblicos. Ed. Mundo Cristão, 2ª Edição 1987.
107 pág.

• ALMEIDA, Abraão – O Tabernáculo e a Igreja. Ed. CPAD, 13ª Edição 2001. 144
pág.

• CHAMPLIN, R. N. – O Antigo Testamento Interpretado. Ed. Hagnos, 2ª Edição


2001.

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