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MODELAGEM MATEMÁTICA: Um projeto com Pipas

Analúcia D’Avila

RESUMO:

Com o objetivo de apresentarmos a geometria, que muitas vezes é tão abstrata para os alunos do
Ensino Fundamental, nos apropriamos da Modelagem Matemática. Como este método de ensino parte
da compreensão do concreto para atingir um objetivo matemático escolhemos a pipa que é um
brinquedo simples e encantador que muitas crianças e adolescentes brasileiros utilizam para se divertir
e com ela podemos aprender muito. Este foi um projeto desenvolvido com alunos do 7º ano do Ensino
Fundamental e tem por finalidade mostrar aos alunos a presença da Matemática nos brinquedos e nas
situações do cotidiano, visando potencializar o processo ensino aprendizagem de conceitos
geométricos através do material concreto e da prática de construção da pipa.

Palavras chave: Pipa; Brinquedo; Modelagem Matemática; Geometria.

ABSTRACT:

Using Modelling, we introduced Geometry to Middle School kids. This method starts with a real
object or situation leading to a Mathematic goal. Thinking of that, we have chosen the Kite that is a
simple and charming toy that lots o Brazilian kids and teenagers like to play with, to have fun and they
have can learn a lot form it. This project was developed with 7 th grades and was done to show the
students that Math is present in toys e everyday situations; our goal was to help them in the learning
process of geometry using the kite construction.

Key-Words: Kite; Toy; Modelling; Geometry.


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1 INTRODUÇÃO

Ter aulas de matemática, para a grande maioria dos alunos, muitas vezes é penoso. Como
professores de matemática podemos perceber que as aulas de matemática são geralmente tachadas
como chatas, monótonas, difíceis de acompanhar, entre outras coisas. Tem-se estudado por todo o
mundo formas alternativas para tornar a matemática menos difícil ou menos chata. A falta de interesse
dos alunos tem aumentado a cada dia e dentre tantos fatores que ajudam a intensificar esta falta de
interesse são as novas tecnologias como por exemplo a internet e a televisão. Tais tecnologias tem
propiciado aos alunos encontrar tudo pronto, ou seja, eles não precisam de pensar, tomar decisões,
raciocinar, pensar nos vários caminhos alternativos que podem tomar para resolver as várias situações
em que eles se encontram no seu dia-a-dia.
Tentando amenizar este problema no nosso dia-a-dia como professores decidimos
experimentar a Modelagem Matemática como ferramenta de ensino em sala de aula. “A modelagem
matemática consiste na arte de transformar problemas da realidade em problemas matemáticos e
resolvê-los interpretando suas soluções na linguagem do mundo real” ( Bassanezi, 1994). A Modelagem
Matemática tem sido defendida como uma das abordagens pedagógicas para o ensino de Matemática
(Anastácio, 1990; Bassanezi, 1994a, 1994b; Blum & Niss, 1991; Borba, Meneghetti & Hermini, 1997,
1999). Documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática, PCNs,
também abordam este tema e se utilizam desta teoria para incentivar atividades nas escolas.
Referindo-se às vantagens, os professores e estudiosos do assunto, defendem que a
Modelagem contribui na compreensão dos conceitos matemáticos, desenvolve habilidades de
experimentação, leva em conta o contexto sócio-cultural e viabiliza a interdisciplinaridade. Desta
forma pretendemos fazer com que o ensino-aprendizagem em sala de aula seja mais dinâmico e que
desperte o interesse de nossos alunos.
Levando tudo isto em conta, usaremos a construção de pipas, por ser um assunto que interessa
aos alunos na faixa etária do Ensino Fundamental, para nos auxiliar no aprendizado de alguns
conceitos geométricos que por muitas vezes é de difícil compreensão por parte dos alunos. Este
projeto tem como objetivo mostrar aos alunos que a matemática também pode ser divertida e está no
dia-a-dia deles, fazer com que os alunos compreendam e consolidem algumas noções matemáticas
como a classificação dos ângulos em reto, agudo ou obtuso, ensinar aos alunos a trabalharem com
transferidores para que façam as leituras dos ângulos, identificar os polígonos presentes na armação
das pipas, reconhecer e representar simbolicamente os elementos de um polígono como vértices, lados
ângulos, trabalhar as áreas dos polígonos, entre outros conceitos matemáticos.
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2 MATERIAL E MÉTODOS

Este projeto da pipa pode ser desenvolvido como um projeto interdisciplinar envolvendo as
seguintes disciplinas: Matemática, Educação Física e Educação Artística. Foi desenvolvido 7º ano do
Ensino Fundamental onde pudemos introduzir, aprofundar e solidificar alguns conceitos geométricos
de forma mais concreta.

Para introduzir o projeto aos alunos falamos um pouco sobre a história da pipa que é recheada
de mistérios, de lendas, símbolos e mitos, mas principalmente de muita magia, beleza e encantamento.
Tudo começou quando o homem primitivo se deu conta de sua limitação diante da capacidade de voar
dos pássaros. Essa frustração foi o mote para que ele dessas asas a sua imaginação. O primeiro vôo do
homem está registrado na mitologia grega e conta que Ícaro e seu pai, Dédalo, aprisionado no labirinto
de Creta pelo rei Minos, tentaram alcançar a liberdade voando.

Construíram asas com cera e penas e conseguiram escapar. Apesar das recomendações do pai
embevecido pela possibilidade de dominar os ventos, Ícaro negligenciou a prudência e chegou muito
perto do Sol, que derreteu a cera das asas e precipitou-o ao mar matando-o. De qualquer forma o
homem não parou por aí. Mesmo levando em conta o estranho acidente da lenda de Ícaro, ele
continuou a ousar, desafiando a natureza com sua imaginação. As pipas nascem desta tentativa
frustrada de voar, quando o homem transferiu para um artefato de varetas, papel, cola e linha sua
vontade intrínseca de planar, de alçar vôo de terra firme. Teorias, lendas e suposições tendem a
demonstrar que o primeiro vôo de uma pipa ocorreu em tempos e em várias civilizações diferentes,
mas, com toda certeza, a data aproximada gira em torno de 200 anos antes de Cristo. O local: China.

Todo esse encantamento demonstrado pelas pipas nos fez perceber que, esse projeto iria
integrar a curiosidade e o senso comum dos alunos e o conhecimento formal de matemática proposto
pela escola.

2.1 Etapas:

Construção das pipas em sala de aula;

Análise das pipas quanto aos ângulos, polígonos e áreas

Levamos os alunos para “soltar” ou “empinar” a pipa.

Confecção dos relatórios de aprendizagem dos alunos.


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2.2 Estratégias de realização:

2.2.1. Material necessário:

3 varetas de bambu : 2 de 40 cm e 1 de 60 cm

Linha de algodão nº 10

Papel de seda

Sacola plástica para rabiola

Uma garrafa pet de 600 ml para enrolar a linha Figura 1. Formato da pipa confeccionada
pelos alunos
Cola branca, tesoura, régua e transferidor.

2.2.2. Confecção da pipa: os alunos em grupos de dois, trouxeram o material necessário para
a\construção das pipas direcionados pelos facilitadores ( professores). O interessante é que
pensávamos que seria muito fácil de conseguir o material, porém os alunos tiveram grande dificuldade
de encontrar as varetas de bambu necessárias para a armação da pipa. Pudemos constatar que na região
da escola, um bairro de média classe, a pipa não é um brinquedo que faz parte do dia-a-dia das
crianças e que muitos de nossos alunos já tinham visto a pipa e tinham ouvido falar sobre ela da
experiência dos pais. Tivemos que recorrer a bairros mais humildes para encontrar o bambu.

2.2.3. Análise “matemática” da pipa

Depois de duas aulas confeccionado as pipas, pudemos ainda em sala, falar dos conteúdos
matemáticos aplicáveis à pipa. Ao explorarmos juntos a pipa os alunos faziam anotações para que ao
fim do processo pudessem escrever seus relatórios.

Iniciamos por analisar os vértices da pipa e os polígonos que a constitui. Deixamos que os
alunos explorassem as formas geométricas e dessem nome os polígonos que eles conheciam. Ao
desenharmos os polígonos demos nomes aos vértices, utilizando letras maiúsculas, e destacamos os
ângulos formados dando a eles nomes específicos. Com o transferidor pudemos medir os ângulos.
Outra curiosidade, no 7º ano do ensino fundamental muitos alunos não sabiam como utilizar ou ler os
transferidores e uma fala muito interessante deles foi que todos os anos este item estava incluso em
suas listas de material, mas que nunca havia sido utilizado por nenhum professor. Ao medirmos os
ângulos pudemos falar sobre a classificação dos ângulos em agudos, retos e obtusos.
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Ao falarmos sobre área e perímetro, num primeiro momento utilizamos o papel


quadriculado e contamos os quadrinhos que compunham o polígono e num segundo momento, como
já tínhamos no decorrer do ano letivo falado sobre álgebra, pudemos deduzir com eles as fórmulas
para calcular as áreas dos polígonos presentes na pipa.

2.2.4. “Soltando” ou “empinado” a pipa

Esta foi, como já esperávamos, classificada como a melhor hora para a grande maioria dos
alunos. Levamos os alunos a uma área bem grande e sem perigos como os fios de alta tensão e o
tráfego de automóveis. Nesta parte do projeto os alunos puderam refletir muito sobre o que aconteceu
no momento da confecção das pipas. Para a tristeza de alguns, algumas pipas não levantaram vôo, mas
estes alunos experimentaram a solidariedade dos colegas que proporcionaram a eles momentos de
alegria ao empinarem as pipas dos colegas. Ao término da experiência prazerosa de soltarmos a pipa
pudemos sentar e discutir por que algumas pipas não voaram. Obtivemos respostas de todos os tipos
dos alunos como, “pode ser que estava muito pesada”, ou “as varetas não estavam no lugar certo”,
entre outras.

2.2.5. Relatórios

Os alunos deveriam relatar com palavras breves o que aprenderam, como aprenderam, o que
acharam da experiência.

Os relatórios feitos pelos alunos e a observação dos colaboradores seriam as ferramentas para
a avaliação dos alunos como parte final do projeto. Os alunos que participaram do projeto, executando
todas as tarefas da melhor maneira possível ganharam 4 pontos na média final do trimestre. Pontuação
designada pela escola para este tipo de atividade.

3 CONCLUSÃO

Pudemos avaliar a experiência como positiva e de grande aprendizado tanto por parte dos
alunos quanto por nós professores-facilitadores.

Pudemos perceber que os alunos tiveram um gostinho de que a matemática pode ser divertida
também. Por mais que nós professores, já tenhamos tentado com palavras convencê-los de que a
matemática pode ser divertida e que está em toda a parte de suas vidas, pudemos concluir que, eles
através da experiência da construção do conhecimento por conclusões a que eles mesmos chegaram,
tiveram prazer em estar em uma aula de matemática e gostaram da experiência. Não só pelo lado
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lúdico e descontraído das aulas, mas pela experiência de chegar às suas próprias conclusões e
entenderem que têm capacidade de chegarem às conclusões a que chegaram.

A nosso ver a experiência foi muito positiva e podemos apostar neste método de ensino e
aprendizagem. Porém, pudemos experimentar algumas resistências vindo de todos os lados.
Primeiramente os pais, tivemos alguns pais que questionaram a legitimidade do projeto fazendo
indagações à direção pedagógica da escola, dizendo que este tipo de projeto era projeto de escola
pública e que quem solta pipa é “marginal”. Claro que este foi um caso isolado, porém tivemos vários
casos de alunos que não trouxeram o material necessário para a confecção da pipa porque os pais
simplesmente porque não acreditavam no projeto.

Um projeto como este, com certeza nunca sairá da memória de nossos alunos, porém temos
grande dificuldade de adotarmos tais projetos em sala de aula com grande freqüência por termos que
dispor de muitas aulas, e a pergunta que fica é como vamos lidar com os outros conteúdos que temos
que dar conta até o final do ano, se empenhamos tantas aulas em um só projeto? É claro que não
estamos aqui generalizando os projetos da modelagem matemática, porém estamos apenas
considerando um aspecto do processo.

Durante o desenvolvimento do projeto pudemos entender porque alguns autores que escrevem
sobre Modelagem matemática dizem que os professores por muitas vezes não desenvolve este tipo de
projeto com seus alunos, e eles mesmo respondem dizendo que os professores não estão preparados
para atuarem como facilitadores de aprendizagem e para responderem a perguntas das quais nem ele
mesmo sabe a resposta. Nos pegamos em algumas situações em que o aluno questionava alguns pontos
do projeto e por não serem estritamente matemáticos não tínhamos a resposta pronta para eles e
tínhamos que responder: “vou pesquisar e depois conversamos”, ou ainda “vamos sentar aqui e
pensarmos juntos sobre o assunto”. São respostas que nem todos estão dispostos a dar porque acham
que pode desprestigiar ou desmoralizar o professor, nós não pensamos desta forma, estávamos juntos
construído o conhecimento.

Outro aspecto que impede a muitos professores de executarem tais projetos são os hormônios
e a capacidade de se dispersarem facilmente que os alunos nesta faixa etária têm. Dá muito trabalho
para manter todos os alunos participando das atividades, é muito mais fácil para nós enquanto
professores irmos para frente da sala de aula e explicarmos o conteúdo que levamos várias aulas para
concluir neste projeto. Porém será sempre diferente para os alunos que se engajaram no trabalho e
descobriram que podem participar de todo o processo de aprendizagem. Alguns alunos gostaram tanto
que disseram que iriam brincar de pipa durante as férias
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Outro aspecto positivo do projeto foi que trabalhou um pouco mais a auto-confiança dos
alunos numa área que se julgavam analfabetos: a geometria. Muitos achavam que não conheciam os
polígonos, suas áreas, os ângulos, entre outras coisas. Com a pipa puderam constatar que não é nada
diferente do que vêem e utilizam nos seu dia a dia. Puderam ainda perceber que conseguem e podem
compreender matemática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, J. C. Modelagem matemática e os professores: a questão da formação. Bolema, Rio


Claro, n.15, p. 5-23, 2001.

BASSENEZI, R. Carlos. Ensino – aprendizagem com modelagem matemática: uma nova


estratégia. 3ª ed. Contexto, São Paulo: SP, 2006.

BIEMBENGUR, Maria Sallet, HEIN Nelson. Modelagem Matemática no ensino. 4ª Ed. 1ª


reimpressão. Contexto, São Paulo: SP, 2007

MACHADO, Silvia Dias A. Aprendizagem em matemática: Registros de representação semiótica.


Papirus. São Paulo, SP, 2003

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