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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

“Abrace a Vida”
Análise Fílmica
Mônica Nubiato, Gabriel Martins, Natália Oliveira e Denise Santos

Brasília-DF,
"Continuo fechado com minhas posições de um cinema terceiro-mundista.
Um cinema independente do ponto-de-vista econômico e artístico, que não
deixe a criatividade estética desaparecer em nome de uma objetividade
comercial e de um imediatismo político. (ROCHA, Glauber).
1. Apresentação

O presente trabalho, elaborado por alunos do 1º semestre do curso de Comunicação


Organizacional – Universidade de Brasília, tem o objetivo de analisar os elementos audiovisuais, bem
como sua construção e aplicação, como proposto na disciplina Linguagens de Comunicação –
módulo 3. A pesquisa enfatiza o recurso cinematográfico Câmera Lenta, destacando os efeitos que o
recurso provoca no expectador. “Abrace a Vida” é uma premiada campanha publicitária que aborda o
tema direção defensiva, através do uso de cinto de segurança. Criado pelo escritor e diretor Daniel
Cox e produzido por Sarah Alexander.

Desde o seu lançamento em janeiro de 2010, o anúncio se tornou rapidamente um sucesso


mundial viral, reunindo mais de 11, 8 milhões de exibições no YouTube em dez meses. 

Criado para aumentar a consciência da importância do uso do cinto de segurança, “abrace a


vida” foi deliberadamente desenvolvido para fornecer um contraponto ao modo usual das campanhas
de segurança – que fazem uso de imagens que provocam 'choque e pavor”. 

Prêmios:
- YouTube Anúncio do Ano
- Prêmio Internacional Prince Michael de Direção Segura
- Medalha de Ouro Mundial no Prêmio Internacional de Propaganda em Nova York
- Leão de Bronze no Festival Internacional de Publicidade de Cannes
- Considerado “Altamente Recomendável” pelo Instituto Chartered  de Estradas de Rodagem e
Transportes
- Destaque no Prêmio dos Produtores de Publicidade (APA) 2010

A organização recebeu centenas de pedidos para veiculação em todo o mundo, com


interesse de organizações não governamentais, órgãos governamentais, emissoras de TV locais e
organizações de trânsito com objetivo de conscientizar as pessoas.

Há também o recurso das mídias sociais, twitter e facebook, para divulgação da campanha.

A Sussex Safer Roads Partnership (SSRP) trabalha para redução de acidentes no trânsito
com foco em Educação, Engenharia e Fiscalização.  O projeto tem subvenção do Governo através
das autoridades locais de estrada, de Leste a Oeste do condado de Sussex, também são parceiros a
Polícia e o Corpo de Bombeiros, além de agências rodoviárias.
2. Características

A peça fílmica “Abrace a Vida” apresenta características que se assemelham ao que, no Brasil,
foi chamado por muitos de Cinema Novo (década de 1960) e acompanhado da celebre frase: “Uma
ideia na cabeça, uma câmera na mão” criada por Glauber Rocha. Trata-se de um estilo de fazer
cinema através da gestão de baixo orçamento nas produções, as histórias eram bem próximas,
influenciadas pelo cinema expressionista Italiano e o vanguardista Francês.

Os traços expressionistas estão nas cores, na luz rósea, nos movimentos lentos e delicados,
e nos detalhes descritos nos quadros. Saindo do óbvio, quando o esperado é a imagem de um carro
em alta velocidade, muito barulho de motor e freio até o choque, ocorre o que o expressionismo trata
como distorção apresentada na mensagem e uso característico de cores e linhas procura imprimir
impacto emocional.

    
3. Análise dos Planos

3.1 Plano de detalhe

A peça cinematográfica “Abrace a Vida” inicia seus primeiros quadros destacando elementos
que apresentam a sequência lógica da cena: o movimento das mãos que interpreta o girar das
chaves na ignição de um automóvel (quadro 1) e o detalhe dos pés em movimento de pisar numa
embreagem (quadro 2). Também apresenta o detalhe das mãos da criança se fechando na cintura do
pai (quadros 20 e 21). O quadro 26 descreve o movimento dos paetês atirados ao ar, simulando os
estilhaços de vidro após o impacto de um automóvel. São movimentos delicados. Assim, o uso do
plano de detalhe serve para enquadrar somente os detalhes que valorizam a sequência normal da
cena.
As cenas trazem o conceito Gestáltico, onde os detalhes trazem a percepção de dados
sensíveis à mensagem.
“Perceber é extrair do dado sensível estruturas, configurações, formas de
conjunto (Gestalt) e não adicionar elementos de percepção locais e pontuais;
a globalidade e o caráter inato que caracterizam esse processo são o das
próprias estruturas mentais” (AUMONT; MARIE. pág. 145)

3.2 Cut-in Close up

É utilizado para: “aproximar o expectador do centro da ação, permitindo-lhe maior


envolvimento com a cena que está presenciando. Valorizar a ação significante dentro do filme,
fazendo o público esquecer por um momento os elementos menos importantes” (A linguagem do
Cinema, p. 81).

3.3 Plano de Conjunto

Os quadros 25, 26, 29 e 30 da peça de “Abrace a Vida” apresentam tomadas mais fechadas,
substituindo o plano geral pelo plano de conjunto, que permite maior clareza dos detalhes da ação.
Assim, fica evidente a ação dos atores que interpretam um sinistro e as consequências do uso do
cinto de segurança.

3.4 Plano Próximo e Close-up

Muitas vezes a câmera se movimenta do Plano Próximo (enquadramento da metade do tórax


para cima) em transição para o Close-up. Essa aproximação da câmera, mostrando somente os
ombros e a cabeça do ator, ressalta as expressões do ator para o expectador. Aumenta o clima de
tensão e o suspense do que vai acontecer na cena.
Os exemplos estão no início da cena, quando acontecem os cortes entre a expressão feliz do
pai (Câmera Subjetiva) para a expressão feliz da criança. Na sequência, outro corte para a mudança
de expressão do pai (susto e pavor) e a câmera retoma em close-up para a criança (pavor),
finalizando a sequência em plano próximo para a personagem do pai-motorista.

3. 5 Plano Americano

No Plano Americano (corte de plano acima dos joelhos) os atores em cena são igualmente
valorizados, dividindo o foco. Esse tipo de plano facilita a percepção do movimento e o
reconhecimento das personagens.

3.6 Câmera Subjetiva

A Câmera Subjetiva mostra o ponto de vista de uma personagem durante a cena. Nos
quadros 6 e 7 fica evidente que a imagem é o ponto de vista da personagem ‘filha’. “Muitas vezes
uma tomada só passa a ser subjetiva na hora da montagem, por causa de sua inclusão correta na
sequencia de uma cena” (A linguagem do Cinema, p.88).
1. Plano de Detalhe 2. Plano de Detalhe

3. Plano de Conjunto 4. Plano Próximo

5. Plano Próximo 6. Câmera Subjetiva

7. Câmera Subjetiva 8. Close Up


9. Plano Próximo 10. Close Up

11. Close Up 12. Close Up

13. Close Up 14. Close Up

15. Close Up 16. Plano de Conjunto


17. Plano Americano 18. Plano Americano

19. Plano Americano 20.Plano de Detalhe

21. Plano de Detalhe 22. Plano Próximo

23. Plano de Detalhe 24. Plano Próximo


25. Plano de Conjunto 26. Plano de Conjunto

27. Plano de Detalhe 28. Plano de Conjunto

29. Plano de Conjunto 30. Plano de Conjunto


4. Recurso Utilizado: Câmera Lenta

Um dos efeitos da montagem muito importante é o Slow Motion - Movimento Lento. Uma
espécie de efeito que demonstra ações que se passam rapidamente de forma lenta e mais relevante.
Ou seja, a câmera lenta permite perceber movimentos que são extremamente rápidos que possuem
detalhes geralmente imperceptíveis aos olhos humanos. Ele é usado com o intuito de aumentar a
dramaticidade da cena, valorizar momentos de clímax e fazer subir a intensidade emocional, o que
acontece na peça audiovisual escolhida "Embrace Life".

O critério de escolha do Slow Motion ocorreu porque os criadores da peça quiseram fazer um
contraponto com a maioria dos vídeos publicitários com a temática da segurança no trânsito. A forma
com que produzem esse tipo de peça se concentra na alta dramaticidade voltada para a
representação de movimento mais pesada, com um impacto mais violento, na escolha do espaço
urbano retratado por carros e avenidas.

Se a cena acontecesse no seu tempo real, alguns detalhes importantes seriam apreciados
com menos intensidade ou até mesmo não penetraria o imaginário do espectador. A câmera lenta
oferece a ampliação do foco do espectador nos planos e quadros, nos quais ele tende a prender mais
a atenção nos detalhes importantes a serem mostrados. O grau de importância desses detalhes será
determinado pela pessoa responsável pela montagem do vídeo.

No caso da peça "Abrace a vida", que possui montagem linear onde os planos seguem uma
ordem cronológica, percebe-se a importância dos detalhes e das expressões faciais dos atores
enquadrados. O Slow Motion provocou uma mudança rítmica na montagem, a medida que o vídeo
apresenta planos mais curtos, o que representa a aceleração do ritmo e uma tensão crescente, que
foi suavizada pelo recurso do slow motion.

A câmera lenta possui ligação com a expansão da duração do tempo, o qual vai dar a
impressão de que o tempo é maior na cena, ou seja, aumenta a demanda do tempo na percepção.
5. Conclusão

O valor deste estudo traz reflexões sobre os diversos recursos que a visão humana e os
demais sentidos associados possuem, de modo aplicado às artes e ao cotidiano. Aos iniciantes neste
processo, são várias as dificuldades, a começar pela morosidade do processo de decupagem e
classificação quadro a quadro. Ocorre o trânsito de um esquema gestaltico (organização perceptual
dos elementos) para sua interação e execução da cena, trazendo o aprofundamento para a análise
do discurso. Não é fácil perceber que a velocidade da troca entre os planos está em contraponto com
o recurso de câmera lenta devido à delicadeza dos elementos de cena contrastando à mensagem de
direção defensiva.

6. Referências Bibliográficas

SILVA JÚNIOR; Ailton da Costa. O Cinema Novo da década de 1960 publicado em 16/09/2010,
disponível em http://www.webartigos.com/articles/47387/1/O-Cinema-Novo-da-decada-de-
1960/pagina1.html#ixzz1BgAEkEMf

ABRACE A VIDA – campanha disponível em www.sussexsaferroads.gov.uk, 13/01/2011 às 14h00.

CÃMERA LENTA - disponível em www.uniz-ab.pt/bibarra/hyperscapes/videografias.htm

AUMONT, Jacques, MARIE, Michel. Dicionário Teórico e Crítico de Cinema. Campinas: Papirus,
2003.

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