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FILOSOFIA ANTIGA

ARISTOTELES E A IDEIA DE
EXPERIÊNCIA
ARISTÓTELES E O FIM DA AÇÃO
HUMANA
• Aristóteles, apesar de seguir a essência dos ensinamentos de seu
mestre, criticou, da mesma forma que Platão a Sócrates, a teoria
platônica das idéias afirmando que não deveria haver uma cisão entre
as idéias e a realidade como um todo, já que o mundo abstrato e o
mundo físico trabalham conjuntamente e reciprocamente.
• O que se percebe na filosofia aristotélica é o destaque para a realidade,
especificadamente, o homem enquanto indivíduo transformador da
Sociedade. Para tanto, deve-se estudar o que, conforme Aristóteles,
compõe a natureza desse homem, em outros termos, as suas ações,
diferenciando a essência da substância.
• Não se poderia dissociar a ação humana, tampouco a sua finalidade,
de seus pressupostos: a ética e a política. Isso porque esses atos são
estudados sob a ótica prática, da práxis social. Logo, a virtude e a
moral somente estarão presentes quando o homem viver no meio
comum (Sociedade) e os seus fins forem coincidentes com os da pólis.
Então, tem-se, desse modo, a finalidade última da ação do homem,
qual seja, a busca do bem supremo, representado, nesse caso, na
satisfação do interesse coletivo.
ARISTÓTELES E O FIM DA AÇÃO
HUMANA
• O que é, segundo a teoria aristotélica, a idéia do Bem Supremo? A
Felicidade (eudamonia).
• Segundo Reale (2007, p. 99): [...] a felicidade é o fim ao qual tendem todos
os homens.
• Entretanto, no que consiste a Felicidade? A resposta parece relativa, já que
depende dos anseios e desejos de cada pessoa.
• Para Aristóteles, a Felicidade encontra-se num aspecto exterior, ou seja, o
núcleo da ação que promove essa finalidade deve identificar a essência na
qual é reconhecida por todos. Materializar o bem supremo passa pela
reflexão de algo que é individualmente inalienável.
• Percebeu-se a menção da categoria essência. O que é essência para
Aristóteles? É a identificação autêntica da substância, afirmando exatamente
o que é.
• Qual a Essência da Felicidade? É Busca de Riquezas? Reale (2007, p. 100)
destaca um ponto central na teoria de Aristóteles: [...] a vida dedicada a
acumular riquezas é a mais absurda e a mais inautêntica, porque é gasta
para buscar coisas que, no máximo, valem como meios e não como fins.
• A Felicidade, em Aristóteles, somente se efetiva a partir da virtude (areté),
sendo, portanto, um bem imanente.
ARISTÓTELES E A ÉTICA
• Como se pode visualizar, a base da filosofia de Aristóteles repousa em um
teleologismo fulcrado na moral e nas virtudes humanas.
• O filósofo compartilha dos ensinamentos de seu mestre ao reconhecer o valor das
virtudes e da racionalidade da alma enquanto forma de condução da atitude do Ser
humano.
• Para o citado filósofo, a virtude maior reside na felicidade posto que essa é
atividade intrínseca do espírito. Nesse aspecto, se a pessoa é feliz, esse o será
moral e, consequemente, ético.
• O que seria a ética, segundo a doutrina aristotélica?
• A ética busca compreender o ato moral e o fim a que ele se destina. Por esse
motivo, a ética é uma ciência e se diferencia da moral porque há justamente essa
análise de comportamentos.
• Entretanto, e como alerta o filósofo, a ética precisa de suportes para poder existir,
como já se afirmou anteriormente, quais sejam: a sua finalidade (a busca do
interesse coletivo como bem supremo) e o hábito.
• Como assim hábito? Como ele se exterioriza?
• Nas linhas anteriores, se justificou a filosofia de Aristóteles alicerçada nas virtudes
e moralidade. É nessa medida que a ética adquire, também, a sua razão de existir,
por meio da virtude. A virtude é o agir humano e não uma qualidade do espírito.
• Esse agir é o hábito que sem ele a ação não tem uma seqüência e, dessa forma,
não se concretiza devidamente. Por essa razão, a pessoa dita virtuosa é ética por
excelência.
ARISTÓTELES E A POLÍTICA
• O Homem é um animal solitário ou coletivo? A moral pode ser estudada como
Ciência Política? A partir dessas indagações, pode-se enxergar o conteúdo
dos estudos aristotélicos.
• o papel da Ciência Política é encontrar uma forma de implantar e ratificar uma
convivência social pacífica, ou seja, de fornecer ao Estado os subsídios
necessários para reger o todo comum. Como se poderia fazer isso? Por meio
das leis ditadas pelo Estado.
• Diante desse discurso, como a Ética faz parte do discurso do Estado?
• O Poder Público é uma criação humana. A Política e o seu exercício nasce
por ato dos Homens. Tendo essa natureza em mente, pode-se afirmar a
necessidade imperiosa de um tipo de comportamento no qual os cidadãos
consigam perceber a real valoração de viver em conjunto.
• Para se perceber o significado de bem coletivo deve-se antes ter a
compreensão de bem individual, uma vez que as atitudes tidas como
individuais precisam estar fortemente ratificadas pela ética no intuito de
efetivar o significado de bem coletivo.
• A partir dessa possibilidade, os pilares centrais da política e da coletividade
devem ser uníssonos com a estrutura ético-individual.
• Para Reale (2007, p. 97): [...] à política compete a função arquitetônica, ou
seja, de comando: ela compete determinar que as ciências são necessárias
na Cidade, quais devem aprender cada um e até que ponto.
ARISTÓTELES E A JUSTIÇA
• O tema da Justiça aparece com freqüência no estudo sobre a concepção de Direito. O conceito de
Justiça foi primeiramente trabalhado por Aristóteles, no Livro V, de sua obra Ética a Nicômacos.
• Segundo o referido filósofo (c1985, 1999, par. 1129a, p. 92), [...] a justiça é a disposição da alma
graças à qual elas se dispõem a fazer o que é justo, a agir justamente e a desejar o que é justo; de
maneira idêntica, diz-se que a injustiça é a disposição da alma graças à qual elas agem
injustamente e desejam o que é injusto. [...] É por isto que muitas vezes se reconhece uma
disposição da alma da alma graças a outra contrária, e muitas vezes as disposições são
identificadas por via das pessoas nas quais elas se manifestam.
• A prática da Justiça somente pode ser realizada por meio da virtude. Essa condição encontra seu
fundamento na educação, pois o Ser educado, pelo conhecimento teórico e sua experiência,
consegue concretizar ações nas quais busquem o meio termo e evitem a falta ou excesso. A
Justiça, compreendida no pensamento aristotélico, revela-se como o agir conforme a excelência
moral e intelectual.
• Para Silva (2006, p. 81-82), [...] A categoria educação, no contexto pesquisado, denota ato de
educar, de ensinar, de transmitir conhecimento, voltado ao desenvolvimento intelectual, físico e
moral do ser humano. Nesta linha de estudo, a palavra instrução assume equivalência designativa
de educação. [...] A instrução é a virtude, com fundamento e fins próprios. Considerada como
conceito, excelência intelectual, designa educação no mais elevado grau. [...] a educação deve
corresponder à potência do ser para a sociedade. [...] A palavra no contexto aparece como princípio
de política pública da cidade.
ARISTÓTELES E A JUSTIÇA
• Justiça, para Aristóteles (c1985, 1999, par. 1130a, p. 93), é a [...] excelência moral perfeita,
embora não seja de modo irrestrito, mas em relação ao próximo. Portanto a justiça é
freqüentemente considerada a mais elevada forma de excelência moral. [...] Ela é perfeita porque
as pessoas que possuem o sentimento de justiça podem praticá-la não somente em relação a si
mesmas como também em relação ao próximo.
• Pratica-se a justiça e evita-se seu oposto – a injustiça. Ser injusto, conforme o pensador citado,
revela-se como o ato praticado por pessoas que infringem a lei, as pessoas ambiciosas (nesse
caso, são aquelas que desejam mais ao que efetivamente têm direito a receber), bem como as
iníquas (pessoas nas quais desejam muito as coisas boas e pouco as más).
• Essa distinção, conforme Silva (2006, p. 81), é reconhecida como necessária à vida política a
partir da educação. Segundo o mencionado autor, [...] o ser humano deve ser educado para viver
em Sociedade organizada. Neste sentido, a educação tem por missão desenvolver o homem, a
partir de suas potencialidades, para aprender a viver em Sociedade. A educação torna o ser
humano livre, dotado de conhecimento capaz de distinguir a virtude do vício, [...].
• O Princípio da Justiça surge como modo de igualdade entre as pessoas. Contudo, não se trata
de um conceito com amplo alcance a todos. Aristóteles adverte que esse princípio aplica-se tão-
somente àqueles que são iguais entre si.
• A Justiça como fundamento legal precisa ser dividida entre Justiça Distributiva e Corretiva.
ARISTÓTELES E A JUSTIÇA
• A Justiça Distributiva aparece como a dar a cada um o que é seu, segundo
seus méritos. Divide-se entre as pessoas seus bens ou benefícios porque
a lei da cidade confere a essas receber o que, por regra, define-se como
suas.
• A categoria mérito, no pensamento de Aristóteles, significa, conforme
ressalta Silva (2006, p. 88), [...] merecer alguma coisa por agir em
conformidade com a virtude moral.
• A concepção de igualdade, nessa modalidade, representa
proporcionalidade. Aristóteles afirmava que a Justiça seria relativa,
especialmente quando se distribui algo para alguém. O mérito por algo
não é representado pelos bens, mas à pessoa. Proporcionalidade significa
meio termo. Tratar de modo igual aqueles que, por lei, são iguais.
• Segundo Aristóteles (c1985, 1999, par. 1131b, p. 97), O justo nesta
acepção é portanto proporcional, e o injusto é o que viola a
proporcionalidade.
ARISTÓTELES E A JUSTIÇA
• A Justiça Corretiva, entretanto, não se aplica segundos os méritos de cada pessoa, mas por
vontade estrita da lei por atos voluntários (por exemplo: contrato de compra e venda,
depósito, locação, entre outros) e involuntários (homicídio, roubo, furto, falso testemunho,
escravidão, entre outros).
• A igualdade, nesse caso, é avaliada nas relações privadas de perdas e ganhos. Restaura-se
uma status quo ante. Não se decide o critério se uma pessoa é boa ou não, pois, conforme
Silva (2006, p. 91-92), todas as pessoas são iguais perante a lei. [...] Na justiça corretiva a lei
indaga quem cometeu o dano; qual a parte lesada; o montante do prejuízo, e a lei pune o
autor da injustiça.
• A aplicação da Justiça Corretiva é mediada a partir do Juiz. Para Aristóteles (c1985, 1999,
par. 1132a, p. 98), [...] O juiz então restabelece a igualdade; as coisas se passam como se
houvesse uma linha dividida em dois segmentos desiguais, e o juiz subtraísse a parte que faz
com que o segmento maior exceda a metade, e acrescentasse ao segmento menor.
• Os termos perdas e ganhos, segundo o pensador citado, referem-se aos atos voluntários a
fim de impedir que a maior parte esteja com aquelas pessoas nas quais desejam ter mais do
que lhes é permitido, por lei, ter.
• O justo, na concepção aristotélica de Justiça Corretiva (c1985, 1999, par. 1132b, p. 99),
significa [...] um meio termo entre o ganho e a perda nas ações que não se incluem entre as
voluntárias, e consiste em ter um quinhão igual antes e depois da ação.
Para Refletir....

• [...] O melhor dos homens não é aquele que põe em


prática sua excelência moral em relação a si mesmo, e
sim em relação aos outros, pois esta é uma tarefa difícil.
(Aristóteles)

É neste sentido que se pode distinguir o homem justo


(díkaios), considerando sua postura ética frente aos
deveres políticos o que lhe incumbe em função ao
convívio social, do bom cidadão.
(Eduardo Bittar)
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

• ARISTÓTELES. Ética a nicômacos. Tradução


de Mário da Gama Kury. 3. ed. Brasília: Editora
da Universidade de Brasília, c1985, 1999.
• REALE, Giovanni. História da filosofia grega e
romana: aristóteles. Tradução de Henrique
Cláudio de Lima Vaz e Marcelo Perine. São
Paulo: Loyola, 2007, v. IV.
• SILVA, Moacyr Motta da. Direito, justiça,
virtude moral e razão: reflexões. Curitiba:
Juruá, 2006.

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