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A toupeira que queria saber

quem lhe fizera aquilo na cabeça

Werner Hozwarth/Wolf Erlbruch

Tradução: Alexandre Honrado


Certo belo dia
Quando a toupeira pôs a cabeça de fora
Por entre um montão de trra,
Para ver se já nascera o sol,
Aquilo aconteceu!

(Era redondo e castanho,


um pouco semelhante a um chouriço,
e, pior do que tudo,
acertara-lhe em cheio na cabeça.)

“ Que maçada!”,
berrou a toupeira.
“Quem terá feito isto
na minha cabeça?”
(Era tão curta de vista
que não conseguia
ver ninguém.)
“Foste tu que fizeste isto
na minha cabeça?”
-perguntou ela à pomba
que nesse instante
passava voando por ali.

“Eu? Não, porquê?


Aliás eu faço assim…”.
(E zás, uma pinga branca e húmida caiu no chão,
justamente à beira da toupeira e salpicou-lhe a pata
direita.)

“Foste tu que fizeste isto


na minha cabeça?”
-perguntou ela ao cavalo
que passava no prado.

“Eu? Não, porquê?


Aliás eu faço assim…”
-respondeu .
(E plof,plof,cinco bolas grandes
e gordas caíram, pesadas,
quase em cima da toupeira,
que ficou
profundamente impressionada.)
“Foste tu que fizeste isto
na minha cabeça?”
-perguntou ela à lebre.

“Eu? Não, porquê?


Aliás eu faço assim…”
-respondeu.
(E ratatatá,
quinze berlindes
redondos assobiaram
nos ouvidos da toupeira. Salvou-se
com um salto
arriscado.)

“Foste tu que fizeste isto


na minha cabeça?”
-perguntou ela à cabra,
despertando-a
dos seus sonhos.

“Eu? Não, porquê?


Aliás eu faço assim…”
-respondeu.
(E clac, clac, clac,
Uma mão cheia de esferas
Cor de caramelo rolaram pela erva. E quase acertaram na
toupeira)
“Foste tu que fizeste isto
na minha cabeça?”
-perguntou ela à vaca,
que estava remoendo.,

“Eu? Não, porquê?


Aliás eu faço assim…”
-respondeu.
(E, chof, uma massa castanha-esverdeada
derramou-se pela erva,
rente à toupeira.
E esta alegrou-se muito
por não ter sido a vaca
a fazer-lhe aquilo na cabeça.)

“Foste tu que fizeste isto


na minha cabeça?”
-perguntou ela ao porco.

“Eu? Não, porquê?


Aliás eu faço assim…”
-respondeu.
(E, flop, um montinho brando
e pardo caiu no prado.
A toupeira tapou o nariz.)
“Foste tu que fizeste isto
na minha ca…?”, esteve quase a perguntar de
novo. Mas ao aproximar-se viu que eram
apenas duas moscas gordas e negras. Estavam
comendo.
“Por fim, alguém me pode ajudar”, pensou a
toupeira.
“Quem fez isto na minha cabeça?”,
Perguntou, nervosa.

“Não te movas,”
Zumbiram as duas moscas.
E logo,
Depois de um momento, disseram:
“Está claro:
foi um cão!”
Finalmente, a toupeira sabia
quem lhe fizera
aquilo na cabeça:

São Bento!
O cão do talhante!

Veloz como um raio


trepou pela casota de
São Bento
(E, plim!
Uma bolinha negra
aterrou justamente
na cabeça do cão.)

E, feliz e contente, a toupeira


voltou a desaparecer na terra.

FIM

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