You are on page 1of 13

FILOSOFIA ANTIGA

PLATÃO E A RAZÃO PURA


PEQUENO HISTÓRICO DA VIDA DE
PLATÃO
• Platão nasceu em uma família tipicamente aristocrata, na qual participava,
enquanto jovem, intensamente da vida política em Atenas. Nesse ínterim,
conhece seu mestre e passa a dedicar-se ao estudo da filosofia. Entretanto,
quando o governo ateniense condena Sócrates à morte, tem-se
caracterizado um momento decisivo que guiará e ressaltará os estudos de
Platão: a sua cidade, na qual tanto ama e preza, está longe de ser ideal. A
política, nesse diapasão, deve ser estudada, segundo um enfoque
filosófico.
• Essa atitude se torna o projeto platônico, qual seja, o de buscar os
fundamentos necessários para a ratificação e criação de uma sociedade
ideal. Tal perquirição terá como conseqüência lógica o pensamento de
Sócrates, cujos alicerces são: a alma humana (phsyché) e a virtude (areté).
• Segundo Bittar (2005, p. 77): todo sistema filosófico platônico é decorrência
de pressupostos transcendentes, quais a alma, a preexistência da alma, a
reminiscência de idéias, a subsistência da alma [...].
• Para se entender o que significa a palavra idéia na concepção de Platão,
deve-se ter em mente as seguintes características: a) a parte lógica da
alma, bem como a virtude e; b) o papel da dialética e do método dos
geômetras.
A concepção de idéia em Platão

• O termo idéia foi originalmente deturpado pela Modernidade, ao


contrário do pensamento de Platão.
• A categoria sugere alta carga genérica, remontando representações
mentais, conceitos, ou seja, um fenômeno psicológico.
• Para Platão, segundo Reale, a Idéia [...] não é de modo algum um
puro ser de razão e sim um ser e mesmo aquele ser que é
absolutamente, o ser verdadeiro. (2007, p. 61)
• O pensamento platônico, ao refletir o sentido de Idéia, permite a
perquirição do Eidos, a essência interior que existe no ato de
pensar, caracterizando-o a sua natureza como puramente
inteligível.
• É necessário perceber a realidade íntima das coisas. No
pensamento de Platão, essa possibilidade se concretiza no trinômio
ver-forma-ser
• A qualidade em Platão reside na imaterialidade, refutando a
concepção de Demócrito quantidade-materialidade.
A concepção de idéia em Platão
• A categoria Idéia em Platão, segundo aquela tríade, não
pode ser percebido pelo olho humano (físico), já que
estar-se-ia na dimensão da materialidade.
• O ver a fim de corroborar a elaboração do pensamento
está intimamente ligado à categoria alma (nôus). Procurar
desenvolver a inteligibilidade, a essência interior é
necessário o olho da alma, pois, segundo Reale, [...] o ver
da inteligência capta forma inteligíveis, que são,
exatamente, essências puras. [...] O ver intelectivo implica,
como sua razão de ser, o objeto visto intelectivo, ou seja,
a Idéia. (2007, p. 63).
• A Idéia do pensamento platônico implica na formação de
uma visão que compreende a elaboração de algo além da
simples percepção física humana: uma compreensão
metafísica.
O sentido da alma
• Platão retoma o conceito oferecido por seu mestre Sócrates para definir
alma: é o eu, consciente, intelectual e moral. É precisamente no aspecto
intelectual na qual reside a primeira base dos estudos do filósofo helênico.
A alma humana consegue, por meio da lógica, desenvolver a essência do
conhecimento que guia as ações humanas. A partir desse pensamento,
forma-se a Ciência.
• Conforme Bittar (2005, p. 78): a ciência só é possível do que é certo, eterno
e imutável. Somente as idéias são, para Platão, certas, eternas e imutáveis.
• A alma socrática (psyché), entretanto, não estabeleceu a ordem natural
dessa categoria. Pertenceria ela à materialidade do corpo ou estaria além
dessa dimensão?
• Platão transcendeu seu mestre nessa particularidade. Se o a vida pertence
ao viver o corpo, o apego á matéria, toda forma de conhecimento poderia
ser refutada como inútil, pois tem um limite temporal. A alma pertenceria,
portanto, à ordem da Imortalidade. Viver para a alma significa, nas palavras
de Reale, um [...] progressivo desapego do corpóreo. (2007, p. 183)
• Eis a questão fundamental em Platão: a alma é a dimensão imaterial e
inteligível do Homem. A imaterialidade e a inteligibilidade são eternas, logo,
a alma é imortal.
O sentido da alma
• A Razão, orientada pela alma, se concretiza pela virtude a fim de se
proporcionar ordem e equilíbrio ao comportamento humano.
• Além desse significado transcendente, a Ciência se efetiva a partir desse
pensamento para elaborar modelos universais no intuito de se aprimorar o
conhecimento dos fenômenos sensíveis.
• Para Platão, o conhecimento sensível é aquele momentâneo, ou seja,
aquilo em que as sensações percebem em um dado momento. Porém,
essa percepção limita-se a uma esfera materialista, sendo necessário,
portanto, a existência desses modelos de idéias que transcendem à mera
materialidade: seu significado é o mesmo em qualquer época, língua ou
lugar (essência).
• A fim de se corroborar essa formação, Platão utiliza-se de métodos
matemáticos para formular tais regramentos, destacando-se o método
dos geômetras. Esse método é uma dialética ascendente, na qual se
parte de uma hipótese até se chegar em uma afirmação boa em si mesma
que explique todas as outras hipóteses (relação de subordinação).
• Diante desse quadro, torna-se perceptível o papel das idéias como fonte
do exercício filosófico/mental, haja vista que ela é uma decorrência
natural do espírito (logística/virtude) e da própria filosofia (dialética).
Platão e a criação da Academia
• A história de Platão demonstra um momento decisivo em sua vida: a morte de seu
mestre. Esse fato lhe permitiu concluir que o pensamento filosófico não deveria
encontrar sua meditação no meio social, e, sim, num meio no qual se poderia
observar e concretizar seu desenvolvimento pleno, um desenvolvimento puramente
teórico. Esse lugar foi chamado de Academia. Contudo, tal fato não pode ser lido
como uma aversão à polis, pelo contrário, foi a forma que ele encontrou de
aperfeiçoar as idéias de democracia e gestão pública.
• Para Bittar (2005, p. 07): a cisão traz como conseqüência uma forte inversão dos
ideais socráticos como tais; o filósofo, de agente maiêutico da sociedade,
incumbido da tarefa de participar da elaboração arquitetônica do social, torna-se
agente especulativo do saber e da theoría.
• Essa transformação do filósofo como agente participativo em pensador
propriamente dito constitui a pedagogia platônica de educação (bíos theoretikós).
Nesse preciso momento, tem-se fundada a educação (Paidéia) superior e,
também, a primeira idéia de que o estado deve possuir o monopólio da educação
como forma de aperfeiçoamento de seus habitantes
• O sentido da Academia repousa na intenção platônica de redimensionar a
sociedade, utilizando-se dos ensinamentos socráticos (filosofia como forma de
(re)descobrir o homem).
• Nas palavras de Bittar (2005, p. 89): [...] No mundo, a tarefa de educação das
almas, para Platão, deve ser levada a cabo pelo Estado, que monopoliza, no
diálogo da República, a vida do cidadão. A educação deve ser pública, com vistas
no melhor aproveitamento do cidadão pelo Estado e do Estado pelo cidadão.
Justiça, Ética e Educação
• Antes de se adentrar na discussão sobre as categorias citadas, é necessário
compreender a idéia de virtude no pensamento platônico. Essa primeira definição
expõe a Justiça, Ética e Educação como ideais do convívio humano.
• A virtude, segundo Platão, refere-se à busca do bem que começa a ser elaborada a
partir do ato de pensar. Buscar o bem significa a orientação humana na procura do
que é bom.
• A virtude, portanto, direciona o pensar/agir individual (virtude moral) e coletivo (virtude
política).
• Mas, como saber diferenciar o bem do mal? Conforme Platão, essa possibilidade
existe somente por meio da Educação.
• A Educação se torna uma virtude porque a procura do saber permite tal distinção,
corroborando a concretização do bem. Entretanto, as virtudes morais e políticas são
aperfeiçoadas para esse fim quando (re)pensadas a partir do Conhecimento
Científico.
• Para Silva (2006, p. 30): [...] o conhecimento pela experiência em si não conduz à
plenitude da virtude senão pela educação. A virtude pela educação, teorizada por
Platão, volta-se para o aperfeiçoamento moral do ser humano.
• E continua o autor (2006, p. 31): [...] o conhecimento comum, também chamado de
opinião (doxa), age no plano dos sentidos. Esta instância do sensível não pode
reivindicar, para si, o saber crítico, reflexivo. [...] o conhecimento científico (episteme)
corresponde ao saber adquirido pela educação.
Justiça, Ética e Educação
• A Justiça, no pensamento de Platão, é uma virtude, pois
direciona o pensar/agir em busca do bem a fim de promover a
alteridade em detrimento ao egoísmo.
• Ao pensar o outro, efetiva-se a construção de uma ordem
social e estatal pautada não nos interesses particulares, mas
no aperfeiçoamento da virtude moral e política.
• Segundo Silva (2006, p. 34): [...] Ninguém pode criar justiça
como bem individual para satisfazer interesses particulares.
• Para Platão, o desenvolvimento da República, por meio da
virtude política, é o ponto essencial no qual os governantes
devem-se preocupar. A Justiça, a partir desse pensamento,
impõe o que é justo ou injusto pela força do Estado (criação
de leis). Conforme Silva (2006, p. 35), [...] A Justiça convém
ao Estado, por ser princípio ditado pela razão.
Justiça, Ética e Educação
• Veja-se a idéia de Platão no diálogo entre um ateniense e Clínias (1999, p. 186/188):
• Ateniense: [...] a justiça consiste no interesse do mais forte.
• Clínias: Explicate-se com maior clareza.
• Ateniense: Ora, é assim que é: as leis num Estado – dizem – sáo sempre
promulgadas pelo poder que nele vigora no momento. Não é assim?
• Clínias: Isso é inteiramente verdadeiro.
• Ateniense: Supões então – argumentam eles – que uma democracia ou qualquer
outra forma de governo, até mesmo uma monarquia despótica, tendo ela conquistado
a hegemonia, irá, por sua própria ação, produzir leis que não tenham como objetivo
primordial assegurar sua própria permanência no poder?
• Clínias: Certamente que não.
• Ateniense: Por conseguinte, o legislador classificará como justas, as leis assim
promulgadas, punindo todos aqueles que as violem como culpados de injustiça.
• Clínias: Não há duvida de que isso é provável.
• Ateniense: E assim tais leis promulgadas constituirão aí sempre a justiça. [...] Assim
quando as leis são promulgadas no interesse de uma parte, chamaremos a estes
promulgadores de partidários e aquilo que julgam sua forma de governo de
enfeudamento e não de uma autêntica forma de governo, sendo a justiça que
atribuem a essas leis meramente um nome vazio.
Justiça, Ética e Educação
• Justiça e Educação são virtudes porque representam o caminhar paulatino
do Ser humano ao afastamento dos excessos. Justiça (sabedoria), Injustiça
(ignorância), Virtude (sabedoria), Vício (ignorância), entre outros exemplos.
• A Ética em Platão representa a orientação fornecida pela Razão, ou seja,
essa categoria torna-se o princípio do Ser humano no questionamento de
suas ações a fim de promover o bem quando vislumbra as luzes do
conhecimento.
• Para Silva (2006, p. 46), pode-se perceber duas proposições acerca do
pensamento de Platão no intuito de considerar o conhecimento como a
medida ética do progressivo aperfeiçoamento moral e político do Ser
humano: a) A Razão funciona como princípio de estrutura do pensamento,
busca clareza das idéias, ordem do raciocínio, coerência das proposições,
objetividade na investigação; racionalidade no resultado; nesta dimensão a
razão separa o conhecimento da opinião, a verdade das crenças, [...] as
aversões do razoável; b) A Razão, como princípio de natureza reflexiva
procura [...] o sentido da virtude moral e política. Orienta o pensamento na
busca de fundamentos de justiça.
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

• BITTAR, Eduardo C. B; ASSIS, Guilherme Almeida de.


Curso de filosofia do direito. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2005.
• PLATÃO. As leis. Tradução de Edson Bini. Bauru, (SP):
EDIPRO, 1999.
• REALE, Giovanni. História da filosofia grega e
romana: platão. Tradução de Henrique Cláudio de Lima
Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2007, v. III.
• SILVA, Moacyr Motta da. Direito, justiça, virtude moral
e razão: reflexões. Curitiba: Juruá, 2006.

You might also like