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PADRÃO ABERTO

Você sabe o que é um?

http://revista.espiritolivre.org | #001 | Abril 2009

EDUCAÇÃO
O Linux em sala de aula

BRIGA BOA
O julgamento do
The Pirate Bay

COMPUTAÇÃO
EM NUVEM
De aplicativos a sistemas
operacionais, tudo vai pra web

ENTREVISTA LINGUAGEM LUA É LEGAL


Pau Garcia-Milà fala de É da terra brasilis esta Software Livre faz
sua criação: o eyeOS poderosa linguagem de sucesso nos tribunais
programação brasileiros
COM LICENÇA

Revista Espírito Livre | Abril 2009 | http://revista.espiritolivre.org |02


EDITORIAL / EXPEDIENTE

BOAS VINDAS EXPEDIENTE


Diretor Geral
Sonho. Uma palavra que para muitos representa algo impos- João Fernando Costa Júnior
sível e para outros se reporta a esperança em algo, um desejo,
um pensamento. No caso da Revista Espírito Livre não podia ser Editor
diferente. A revista nasceu de uma idéia pessoal já antiga, mas
João Fernando Costa Júnior
que amadureceu durante o feriado de carnaval deste ano de
2009 e percorreu longos passos até chegar a edição de estréia.
A revista tem como alicerce a Iniciativa Espírito Livre, uma pro- Revisão

posta que busca reunir colaboradores, técnicos, profissionais libe- Marcelo Tonieto
rais, entusiastas, estudantes, empresários e funcionários públicos
em atividades, como em eventos afim de estreitar os laços des- Arte e Diagramação
tes com iniciativas livres, entre elas o próprio software livre. João Fernando Costa Júnior
Muito debate e discussão até termos o formato de revista Hélio S. Ferreira
que você está lendo neste momento, e o processo de produção
foi caminhando, os responsáveis por matérias de um lado, eu de Capa
outro e Hélio Ferreira na outra ponta, tornando todas essas idéias
Hélio S. Ferreira
realidade, algo legível. Aliás, reunir um time tão maduro e respei-
tado não foi tarefa fácil, muitos tinham compromissos, outros sim-
plesmente dispensaram o convite de participar. Todos temos Contribuiram nesta edição
compromissos particulares e não poderia ser diferente com os co- Alexandre Oliva
laboradores que assumiram a empreitada. A estes, "tiro meu cha- Cárlisson Galdino
péu", acredito que os leitores também tirarão... Cezar Taurion
Nas próximas páginas vocês terão muita informação de qua- David Ferreira
lidade e que passou por um crivo grande até chegar aqui. A entre- Edgard Costa
vista de estréia é com Pau Milà-Garcia [Barcelona/Espanha], Evaldo Junior
criador do eyeOS, considerado por muitos o mais bem sucedido Filipe Saraiva
sistema operacional web. Vários nomes conhecidos dentro e fora
Giselle Cristina S. D. Costa
do Brasil estarão passando aqui pela revista. Este é só o come-
Jomar Silva
ço...
Kárlisson Bezerra
Além da revista em formato PDF, já está no ar o site da re-
Lázaro Reinã
vista [http://revista.espiritolivre.org], que trará trechos das recen-
tes e futuras matérias. Estejam ligados no site até porque as Orlando Lopes

promoções pipocarão lá também. É só ficar atento. Pau Garcia-Milà


Paulino Michellazo
Bom, é isso. Estarei com vocês nas próximas edições a fren-
te dos trabalhos e sintam-se a vontade para opinar e dizer o que Roberto Salomon

acharam de nossa revista. Rodrigo Leão


Sinara Duarte
A todos vocês leitores, a Revista Espírito Li-
vre dá as boas vindas!
Contato
Nos vemos por aí... e vamo que vamo!
revista@espiritolivre.org
João Fernando Costa Júnior
Editor

Revista Espírito Livre | Abril 2009 | http://revista.espiritolivre.org |03


EDIÇÃO 001

SUMÁRIO PÁG. 22
CAPA
26 Aspectos estratégicos
O espaço virtual não tem dono nem
fronteiras

29 Entrevista
Pau Garcia-Milà fala do sistema
operacional eyeOS

COLUNAS
Computação em
09 Síndrome de Peter Pan Digital
Sonhe, voe, mas não deixe de crescer
nuvem
Muito mais que um massivo
conjunto de computadores
11 O movimento foi traído
Para coçar e trair basta começar

13 Para quem vai tirar a LPI


Dicas para quem vai encarar a prova

15 Uma noite na Taverna Silício


Esse papo vai longe...

18 O que aprendemos até agora


É preciso aprender a colaborar melhor

20 SL e o sistema de leis
As leis existentes não são aplicadas 56 AGENDA 06 NOTÍCIAS
DESENVOLVIMENTO
33 Lua
Linguagem de programação poderosa

37 Crie software livre


Dicas pra quem está iniciando

TECNOLOGIA
41 Padrões abertos
Não leve gato por lebre

FÓRUM
46 The Pirate Bay
O compartilhamento digital em debate

EDUCAÇÃO
49 Linux nas escolas
Formando uma geração com poder de
escolha

HUMOR
52 Lino e Wino
Nerdson não vai à escola

EVENTOS
53 Document Freedom Day
Veja o que rolou em Vitória/ES
NOTÍCIAS

NOTÍCIAS
Por João Fernando, Giselle Cristina e Lázaro Reinã

Lei anti-pirataria é derrubada Mozilla Labs Concept Series Lançado CDLivre 4.0
na França por ausência de de- Design Challenge Spring
putados 2009

No último dia 9, a Assembléia


Nacional da França esteve vo-
tando contra o polêmico proje-
to da "Lei de Proteção da No dia 29 de março foi lançado
Criação na Internet", que tem o CDLivre 4.0 uma iniciativa in-
como autores partidários do go- Um desafio aos audaciosos, cri- dependente, que disponibiliza
verno de Sarkozy. É previsto ativos e afins, o Mozilla Labs diversos softwares livres no in-
no texto as já famosas puni- Concept Series Design tento de além de disseminar a
ções a internautas que fizerem Challenge Spring 2009 é um filosofia livre, desmistificar ou
downloads de conteúdos prote- evento que promete reorgani- pelo menos amenizar o impac-
gidos por direito autoral. zar tanto os navegadores quan- to do primeiro contato com o
"Esta lei é o resultado de um to a própria Web. Este é seu uso de um S.O livre até porque
acordo alcançado entre artis- primeiro ano e propõe a mento- a maioria dos softwares conti-
tas, produtores e empresas de res e estudantes, ideias e/ou dos no CD, senão todos, são
telecomunicações", diz Sar- projetos a partir do zero, do na- aplicativos facilmente encontra-
kozy, sugerindo que pretende da. do nas maiores distribuições
prosseguir com o projeto de A linha de desenvolvimento su- Linux.
lei. O ocorrido agradou tam- gerida aos designers é que se No CD são encontrados softwa-
bém aos internautas espa- produza um navegador sem in- res tais como: Firefox, Pidgin,
nhóis, uma vez que tal modelo terface, sem janelas, onde ape- Xchat e Amsn, TrueDownloa-
do projeto apoiado por Sarkozy nas existe a web. Alguns der, 7zip,Songbird, etc.
já foi escolhido pela Indústria conceitos já foram apresenta- Então não perca tempo e aces-
Cultural e Ministério da Cultura dos e poder ser vistos no se- se já http://cdlivre.dukitan.com
espanhol afim de se tornar reali- guinte link para baixar o CD.
dade também em solo espa- http://labs.mozilla.com/pro-
nhol. jects/concept-series.

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NOTÍCIAS

Gastos com TI cairão 3,8 % Senador Azeredo aumenta a Próxima versão do Firefox
este ano, diz Gartner pressão para a aprovação de contará com abertura de
seu projeto páginas em 50 milissegundos

Devido ao presente cenário


econômico mundial, é quase
inevitável que se faça especula-
ções quanto ao mercado de TI,
um dos que mais movimentam
a economia mundial. Afinal, na- Se você ainda não sabe a res- A Mozilla, responsável pelo
da funciona hoje sem que haja peito do projeto senador Eduar- famoso navegador Firefox
a influência da informática. O do Azeredo é bom tomar nota divulgou algumas informações
Instituto Gartner preve uma for- pois a liberdade à informação sobre o lançamento da
te queda em comparação com em nosso país pode estar em próxima versão de seu
2008. A redução afetará os qua- risco. O projeto de lei do Sena- browser: O nome de código
tro principais segmentos do se- dor Azeredo é polêmico e im- escolhido é Namoroka e será
tor: hardware, software, põe o fim da comunicação lançado no início de 2010.
serviços e telecomunicações. anônima na internet, além de Ainda não se sabe se ele vai
A retomada dos investimentos criminalizar práticas cotidianas se chamar Firefox 3.6. ou
no setor só acontecerá quando na rede. Abre espaço para ata- Firefox 4. Segundo a PC Pro,
os mercados financeiros se es- car as redes P2P, como tem a Mozilla pretende apostar
tabilizarem. Enquanto isso, se- ocorrido em todo o mundo (ve- pesado na capacidade de
gundo a companhia, tanto os ja o exemplo do julgamento do resposta desta nova versão.
consumidores quanto as empre- Pirate Bay nesta edição). Algumas metas já foram
sas irão migrar para produtos Caso queira se juntar à luta pe- fixadas, entre elas a
mais baratos e estender a vida la privacidade na internet, en- capacidade de iniciar o
útil dos equipamentos que já vie um e-mail para o deputado programa ou abrir tabs em até
têm. do seu Estado pedindo refor- 50 milissegundos, atualização
Essa última informação pode ços. Procure no site da Câma- de localizações e reprodução
passar despercebida por al- ra o e-mail do deputado do seu multimídia. Até à data, a
guns, porém, quando se traba- Estado: http://www2.cama- Mozilla prefere se referir a esta
lha com Software Livre, as ra.gov.br/canalinteracao/falede- futura versão como
expressões "migrar" e "produ- putado . Existe ainda uma Firefox.next.
tos mais baratos", significam petição em resposta ao projeto Está previsto ainda que as
muito. Definitivamente esse é do senador Azeredo. Segue o ferramentas Ubiquity e Prism
o momento do Software Livre. link : http://www.petitiononli- sejam integradas a esta nova
ne.com/veto2008/petition.html . versão.

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NOTÍCIAS

Lemote YeeLoong Open Net- Mandriva ajuda a 'portar' k3b Enorme doação alemã marca
book: Um open notebook para Qt4 evolução do Wikipédia

A popularidade dos notebooks


cresce e com ela as novidades
vão surgindo a cada semana. O k3b é, provavelmente, a me-
Esse ai é o Lemote YeeLoong. lhor aplicação com interface
Vem recheado com Debian gráfica para gravar CDs e Em dezembro foi discutido um
GNU/Linux + Lemote Educati- DVDs em GNU/Linux e nas di- acordo entre a Wikipédia Ale-
on Suite. Sim, o primeiro note- versas BSDs. Apesar de ser mã e o Arquivo Federal Germâ-
book totalmente "aberto". uma aplicação muito popular, nico encorajado a doar
Todos os seus softwares possu- ela ainda não havia sido porta- 100.000 imagens à Wikimedia
em código livre. Nenhum parte- da para o toolkit Qt4, o mesmo sob uma licença Creative Com-
zinha de código que seja usado pelo KDE 4. Felizmente, mons Attribution-ShareAlike
proprietário. Enfim, um "open a Mandriva decidiu dar uma aju- (CC-BY-SA). Naquela ocasião,
notebook"... da com mão-de-obra, passan- a maior doação de imagens de
Nada revolucionário em termos do a trabalhar em conjunto todos os tempos para a Wikipé-
de hardware e configuração, com Sebastian Trueg para que dia, e a maior na história do
mas o preço promete ser bem o processo seja acelerado, co- movimento pela cultura livre.
competitivo. Em breve o novo mo refere no seu blog oficial. Agora a Wikipédia Alemã está
brinquedinho estará nas lojas. O port do k3b pra Qt4 deverá atingindo acordo similar com o
O aparelho vem com duas op- ser concluído a ainda a tempo Estado Saxão e Biblioteca Uni-
ções de armazenamento: dis- do lançamento da próxima ver- versitária, que vão doar
co rígido (que pode ter 160GB) são da Mandriva Spring. Além 250.000 (duzentos e cinquênta
ou SSD (4 ou 8GB). Ele vem de se integrar muito melhor mil) imagens à Wikipédia sob
com uma tela 8.9” TFT LCD com o novo KDE, os usuários uma licença CC-BY-SA. Coinci-
com 1024x600 de resolução. de Windows também deverão dência ou não, a Microsoft
Quanto a memória RAM tem op- poder utilizar esta poderosa anunciou que irá descontinuar
ções com 512MB e 1GB, enfim aplicação, haja vista que o Qt4 sua enciclopédia Encarta.
atentendo a todos os gostos. é conhecido por ser multi-plata-
Traz ainda leitor de cartões e forma e ter versão para Quer comentar sobre algo
webcam de 300K. Windows. desta primeira edição? O
Visite o site oficial do Lemote Ponto para Mandriva! que gostou? O que não
YeeLoong para saber maiores gostou? Participe! Envie seu
detalhes. comentário e/ou notícia para
revista@espiritolivre.org.

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COLUNA · ALEXANDRE OLIVA

Síndrome de
Peter Pan Digital
Por Alexandre Oliva

Minha filha entrou no últi- des de (0) executar o progra- - Posso fazer uma cópia
mo ano da pré-escola que fre- ma para qualquer propósito, pro meu amigo?
quenta. Já está sendo (1) estudar seu código fonte e - Nunca! Vai virar tripu-
preparada pra grande transi- adaptá-lo para que se compor- lante do Capitão Gancho!
ção no final do ano. Em breve te como desejado, (2) copiá-lo
vai conseguir ler por si mesma. e distribuí-lo da forma que foi re- - Posso liberar esse pro-
Ao contrário de alguns usuári- cebido e (3) melhorá-lo e distri- grama que eu escrevi?
os de software, está animadíssi- buir as modificações. - Nunca! A patente de ca-
ma pra dar esse passo em Havendo restrições substanci- pitão é só minha! Já pra pran-
direção à independência, pra ais a qualquer dessas liberda- cha!
não mais precisar de uma des, o Software não é Livre,
assim como o usuário. Manei- - Posso estudar como o
Wendy pra ler os contos que
ras de impor restrições há mui- programa funciona?
ela adora. Também, não há ne-
nhum Peter Pan insistindo pra tas: negação de acesso ao - Nunca! Enquanto esti-
ela ir pra Terra do Nunca, pra código fonte, verificação de ori- ver nesta terra, nunca vai cres-
jamais crescer. gem no hardware ou em softwa- cer!
Liberdade, independência re de baixo nível, direito Curioso é que tem gente
e soberania são conceitos rela- autoral, contratos, ordens judici- que parece que não só acha is-
cionados, muitas vezes mal in- ais, por aí vai. O diálogo entre so normal; até diz que gosta
terpretados. Não significam usuário e os vilões da história assim e luta pela suposta liber-
poder fazer qualquer coisa que (são muitos) é mais ou menos dade de aceitar esses abusos.
se queira. Significam não es- assim: De fato, se essas escolhas in-
tar dominado, subjugado, con- - Posso instalar o progra- felizes não tivessem repercus-
trolado. Significam poder fazer ma no meu outro computador? são negativa sobre ninguém
suas próprias escolhas, limita- - Nunca! Você assinou mais, se prejudicassem somen-
do por não mais que sua pró- um pacto com o sangue do te quem se joga na armadilha,
pria natureza e o respeito ao seu mouse! seria uma liberdade legítima.
próximo. Afinal, a liberdade de Mas quando o usuário
um termina onde começa a do - Posso corrigir esse erro
que está me incomodando? aceita que outros tomem deci-
outro. sões sobre sua vida digital, co-
Software é Livre para um - Nunca! Quem decide o locando nas mãos deles o
usuário se ele tem as liberda- que é certo no programa sou controle sobre o que fazem os
eu! programas que usa, além de

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COLUNA · ALEXANDRE OLIVA

sacrificar a própria liberdade


ainda oferece vantagens aos
que impõem as restrições: pa-
gamento pelo "privilégio", recei-
ta indireta proveniente de O movimento Software
recomendações, popularidade,
efeitos de rede, entre outros. Livre é um movimento social, não
Isso realimenta o proces-
so: o agente agressor, perce-
técnico.
Alexandre Oliva
bendo vantagens, conclui que
o comportamento é favorável e
bem aceito e mantém ou até au-
Cópia literal, distribuição e publica-
menta as restrições. O usuá-
pendentes de alguma Wendy ção da íntegra deste artigo são permi-
rio, já subjugado, por vezes
que lhes leia porque não conse- tidas em qualquer meio, em todo o
alienado, encontra-se em posi-
guem ler. Decidem continuar mundo, desde que sejam preserva-
ção de fácil controle pelo agres-
não conseguindo. Não que- das a nota de copyright, a URL oficial
sor.
rem crescer, para preservar do documento e esta nota de permis-
O pior é que, com o po- sua ilusão de liberdade absolu- são.
der conferido pelas vítimas an- ta.
teriores, o agressor faz novas http://www.fsfla.org/blogs/lxo/pub/
O movimento Software Li-
vítimas. Essa repercussão pre- peter-pan-digital
vre é um movimento social,
judicial sobre os demais é que
não técnico. Sua filosofia está
faz com que a decisão de reali-
fundada no princípio moral uni-
mentar o processo ultrapasse
versal da reciprocidade: trate
os limites da liberdade individu-
os outros como gostaria de ser
al.
tratado. Aconselhe seus ami-
Mas o usuário que não gos a que, ao invés de prejudi-
quer crescer, que quer deixar car ao próximo,
nas mãos de outros as deci- desrespeitando suas liberda-
sões que afetam diretamente des e/ou ajudando outros a des-
sua própria vida digital (e a nos- respeitá-las, ajudem-no a ALEXANDRE
sa), também não aceita a res- crescer consigo. OLIVA é engenheiro
de Computação e
ponsabilidade social sobre Mestre em Ciências
O pozinho mágico da
como seus atos afetam a mim, da Computação.
Tinker Bell (no meu tempo era Usuário,
você e os demais. Ao contrá-
Sininho) é pó de liberdade: é desenvolvedor,
rio, clama por uma liberdade ab- evangelizador de
com ele e com pensamentos e Software Livre e
soluta, sem limites
sonhos felizes que a gente po- contribuidor do
provenientes da preocupação projeto GNU desde a
de voar, crescer e alcançar o década de 90.
com o próximo, da ética: é a
que quiser, sem prejudicar nin- Engenheiro de
Síndrome de Peter Pan Digital. Compiladores na
guém. Vai uma pitadinha de li-
Red Hat desde
Tal qual Peter Pan, insis- berdade aí? fevereiro de 2000.
tem que outros trilhem o mes- Co-fundador e
conselheiro da
mo caminho dos meninos FSFLA - Fundação
Copyright 2009 Alexandre Oliva
perdidos, tornando-os todos de- Software Livre
América Latina.

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COLUNA · PAULINO MICHELAZZO

Sigurd Decroos - www.sxc.hu

Você traiu o
movimento, véio!
Por Paulino Michellazo
Bendito dia! Final de FISL do pela Síndrome Larms [2]. In- do hardware proprietário. E ví-
[1] , todo mundo cansado e che- felizmente as pernas de meu rus agora também leva a deno-
ga aquele nunca visto com o pinguim são curtas e não dão minação de proprietário? Na
discurso de traição. É verdade, conta de desviar dos chifres do mesma hora tiro o celular do
trair e coçar é só começar. E GNU com olhos vermelhos pe- bolso para pedir auxílio ao IBA-
se é pra começar, nenhum lu- lo sangue da vingança. Com a MA e não ser pisoteado quan-
gar melhor que o mais famoso barulheira chegam mais víti- do vêem mais um símbolo do
evento da comunidade brasilei- mas da mesma síndrome (será pecado em minhas mãos; um
ra de software livre. que a ANVISA não cuidou do iPhone preto reluzente (ou se-
— Eu traí? Por quê? problema?) que se juntam ao ria preto piano?), peça total-
— Você traiu o movimen- primeiro na caça as bruxas, ou mente herege.
to, véio. Você usa Mac! melhor, ao pinguim. — Um iPhone? Seu ven-
— Hááá, é por isso? Mas Tento argumentar que dido! Vamos excomungá-lo!
o Mac roda Linux, roda OpenOf- não é o hardware que faz o pen- — Calma! É simplesmen-
fice, roda... samento mas não tem conver- te um aparelho.
sa. Querem a todo custo
— NÃO IMPORTA!, você (agora uma manada toda) pe- — Não é não! É obra do
é impuro! gar o Macbook, depená-lo e dei- diabo dos empregos (Jobs).
Vou saindo de fininho, es- xar somente o disco rígido. E vira alvoroço! É mouse
cada rolante abaixo para não Pior; sem nenhum dado pois di- para um lado, cabo de força
ser açoitado pelo zebu vitima- zem estar infectado pelo vírus para outro, roteador, fone e até

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COLUNA · PAULINO MICHELLAZO

mesmo uma placa de 286 apa- direito de opinar e decidir o thank's man! Today, you're
receu no meio. A muvuca vai que é melhor para si mesmos. God!
se formando e chegam outros Precisamos conter atitudes [1] Fórum Internacional de Software
de várias tribos para participar que mancham a imagem de to- Livre
do julgamento e execução. Até dos aqueles que acreditam no [2] Síndrome Larms — A la RMS
a fogueira armaram com CD's software livre. Não são máqui-
da Microsoft e manuais de nas ou equipamentos que modi- PAULINO
MICHELAZZO é
Oracle. Jogam álcool (porque ficam as pessoas, mas sim diretor da Fábrica
gasolina é dos porcos imperia- suas atitudes de tolerância e Livre
(www.fabricalivre.
listas) e ameaçam a cremação compreensão diante dos ou- com.br), empresa
diante das beldades da PUC. tros.” especializada em
Neste momento, a salvação. O soluções para
No meio da patota al- Internet com
velho cachorro louco aparece guém mostra uma foto autogra- ferramentas de
trazendo sob seus braços seu gestão livres. Foi
fada e adquirida por cinco diretor mundial da
inseparável laptop IBM e profeti- reais para dizer: “este aqui nun- Mambo Foundation,
za: “aqueles que nunca foram ca foi proprietário!” E outro retru-
System Develop
Specialist da ONU
proprietários que atirem a pri- ca: “nunca foi e também nunca no Timor Leste. É
meira pedra.” toma banho!” Pronto, lá está a instrutor de CMS's
(Drupal, Joomla e
A multidão se contém (pa- pancadaria armada novamen- Magento). Escreve
ra alegria de poucos e tristeza te. regularmente para
diversos canais na
de muitos) e o sermão conti- E eu? Escorrego pela late- Internet e
nua: “comunidades devem ser publicações técnicas
ral agradecendo o cachorrão: no Brasil e em
democráticas onde todos tem Portugal.

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COLUNA · EVALDO JUNIOR

Quer tirar a
LPI?
Não se apresse, estude e use bastante o sistema antes de encarar a prova.
Por Evaldo Júnior

Você quer tirar a certifica- sentia despreparado. Quando sistema em PHP. Como vocês
ção LPI? Está estudando bas- eu fazia algum simulado eu podem imaginar eu acabei re-
tante para isso? Já conhece não ia muito bem, acertava cer- solvendo vários problemas re-
bem o sistema Linux e as ferra- ca de 30% das questões. Pen- ais, ou seja, as soluções
mentas GNU? Faz simulados sei várias vezes em entrar precisavam funcionar, não
e mais simulados? Comprou li- para algum curso preparatório eram provas de certificação
vros sobre o assunto? Pois eu para a LPI, mas os preços, na que, se eu não passasse, po-
tenho uma grande novidade pa- época, acabaram me desesti- deria fazer novamente.
ra você! Estamos no mesmo mulando. Durante este período eu
barco! E mais, tenho umas di- Mas foi ai que a maré co- acabei deixando essa tal certifi-
cas também! Mas primeiro va- meçou a virar à meu favor. Aca- cação de lado, não que ela
mos voltar ao passado. bei conseguindo dois estágios não me interessasse mais,
É engraçado pensar que para trabalhar com servidores mas o sistema em si e a solu-
quando iniciei no mundo do Gnu/Linux, principalmente ção de problemas eram muito
software livre eu só pensava Debian, depois disso ainda tra- mais interessantes. Aprendi,
na LPI, eu lia artigos, estudava balhei mais 2 anos administran- com esforço e paciência, a
pelo Guia Foca Linux, treinava do uma pequena rede de montar um servidor web,
no computador e sempre me escritório e desenvolvendo um mysql, proxy, samba, nfs e

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COLUNA · EVALDO JUNIOR

Segundo, não guarde o


que você aprendeu, faça dife-
rente, passe para frente o co-
nhecimento, quando você
Não guarde o que você ensina alguém você está
aprendendo também. Monte
aprendeu. Passe para frente o um blog, participe de fóruns,
dê palestras, vá a eventos. Es-
conhecimento. sas atividades fazem você
Evaldo Junior aprender muito, afinal você
não vai fazer um texto em um
blog sobre algo que você não
conhece bem, certo?
aprendi bastante também so- semana eu recebi, de um des-
Terceiro, aprenda mes-
bre a administração de paco- ses amigos, um programinha
mo, não se limite a seguir tuto-
tes Debian. que é um simulado da LPI. Re-
riais, faça mais, leia os
Fiz outras coisas que me solvi testar, rodei o programa,
manuais e entenda como as
ajudaram muito a evoluir. Me in- escolhi a prova 101 e comecei
coisas realmente funcionam e
tegrei à comunidade de softwa- a responder as perguntas. E
não simplesmente como funcio-
re livre, ajudei a organizar qual foi o resultado? Acertei
naram para alguém.
duas edições do Flisol em San- quase todas as questões, só er-
rei mesmo as referentes ao Então é isso, estude, re-
tos/SP, onde conheci um pesso-
RPM, já que ainda não usei solva problemas e ganhe expe-
al bem legal. Participei, e
uma distribuição descendente riência, você vai ver que afinal
ainda participo, do fórum Debi-
do Red Hat. de contas a prova nem é tão
an, tentando ajudar o pessoal
complicada. Boa sorte!
lá, parece que não, mas isso é Desta história toda eu con-
um belo de um treinamento. De- segui concluir algumas coisas,
senvolvi inúmeros scripts para talvez bem óbvias, mas interes- Maiores informações:
automatizar várias tarefas do santes.
LPI Internacional:
meu cotidiano. Desenvolvi um Primeiro, a experiência http://www.lpi.org
front end para o eSpeak, o prática ajuda muito, por isso
GeSpeak. Penei para configu- não fique só na teoria, arrume LPI Brasil:
rar a placa wireless do meu no- problemas para resolver, que http://www.lpi.org.br
tebook, mas hoje ela já é tal montar um pequeno servi-
suportada. E fiz outras tantas dor em casa? Pegue um com- Blog do InFog:
coisas que nem lembro, mas putador mais antigo e faça http://infog.casoft.info
que me ajudaram a aprender uma transformação completa!
mais e entender como o Ele pode ter um proxy que im- EVALDO JÚNIOR
GNU/Linux funciona. (InFog) é formado
pede seu irmão mais novo de pela Fatec em
Agora voltamos ao presen- ver sites adultos, ele pode ser processamento de
dados e atualmente
te... Há cerca de duas sema- um servidor de arquivos ou um é desenvolvedor,
nas resolvi voltar à estudar repositório subversion, e que administrador de
sistemas, membro
para a LPI, acabei estudando tal um servidor de impressão? da comunidade de
um dia só, aliás, algumas ho- As possibilidades são muitas, software livre e
ras, com alguns amigos, e esta explore isso. também dá aulas no
projeto Hackerteen.

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COLUNA · CÁRLISSON GALDINO

Claudio Pozas - www.enworld.org

Uma noite na
Taverna Silício
Por Carlisson Gaudino

Saudações, amigo leitor velmente você não me


Nosso mundo da Revista Espírito Livre. Eu
sou Cárlisson Galdino e este
conhece. Talvez você conheça
o Cordel do Software Livre,
vai ser meu palco pelos próxi- que publiquei há vários meses
não tem mais mos meses. Aqui vocês verão
um pouco do que geralmente
através da Internet. E talvez
não. Sou o Bardo autor do cor-
não se vê em revistas voltadas del, caso o conheça (e caso
fronteiras... à tecnologia. não o conheça também, decer-
to).
Talvez você não me co-
nheça, mas... Tá, tá bem, prova- A proposta deste modes-

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COLUNA · CÁRLISSON GALDINO

to espaço na Revista Espírito Li- fiz parte da primeira turma do Enfim, espero que vocês
vre é falar sobre Tecnologia e curso de Pós-Graduação em gostem da proposta.
Software Livre usando Arte, ou Software Livre pela UFLA. Já ti-
falar sobre Arte e Software Li- ve vários projetos, que por
vre usando Tecnologia, ou o uma razão ou por outra não de- Uma Noite na Taverna
contrário. Enfim, qualquer coi- ram certo: IaraJS, Enciclopédia Silício
sa do tipo. Omega, Losango, Academia Num vale entre monta-
Código Livre... Também já aju- nhas inacessíveis, numa pe-
Nosso mundo não tem quena vila ao redor do verde
mais fronteiras. Como disse dei alguns projetos. Sou mem-
bro da Academia manto de árvores que recobre
Oswaldo Montenegro recente- aquelas montanhas, muita coi-
mente em seu blog, "voando Arapiraquense de Letras e Ar-
tes. Ajudei meu xará em algu- sa acontece. Um lugar muito
de avião, não vemos as linhas pequeno na imensidão do mun-
separando estados e países. mas paródias-charges que ele
fez no Nerdson (acho que em do, mas com uma imensidão
Tudo besteira!" Este é nosso de coisas para contar. Um lu-
mundo hoje. todas até o momento, mas sem-
pre foi apenas ajuda, na forma gar importante.
Cordel... Falar em não ter- de uma ou outra correção métri- São sete horas da noite
mos fronteiras me lembrou que ca/rítmica ou alguma suges- na Taverna do Silício quando
talvez você que acompanha es- tão. O maior trabalho nas entra um homem de terno colo-
tas linhas nem saiba do que es- paródias foi sempre dele mes- rido e chapéu. Ele se senta ao
tou falando, já que cordel é mo). balcão. Apreensivo, olha para
tipicamente nordestino. Cordel os lados, com seu queixo ponti-
é uma poesia enorme coloca- Neste espaço você vai en-
contrar poesias de temas ra- agudo. Tira do bolso o relógio
da num livrinho e pendurada de ouro preso à corrente no
em cordões para a venda. Isso ros, didáticas, informativas ou
apenas entretenimento geek / cinto e confere as horas.
antigamente, já que hoje é pos-
sível vender até mesmo pela In- nerd / hacker. Também contos O bar está quase vazio a
ternet (ainda não cheguei a ou causos... essa hora. Pelo menos vazio
isso porque não acho que faça "Depois de baixar um ar- das pessoas que ele conhece,
sentido para alguém pagar R$ quivo no antigo Netscape até com quem lidava no passado.
1,50 em um produto e precisar concluir 140% do download, a Sempre foi encrenqueiro, mas
pagar quase R$ 30,00 de fre- barata parou um pouco para to- raramente perdia uma disputa.
te). Afinal, cordéis típicos não car gaita enquanto recompila- Nem que precisasse pagar o
têm menos que 15, nem mais va o GCC. (Na reversal russa xerife, o barman e juntar ami-
que 60 estrofes (aqueles bloqui- o código-fonte que você escre- gos para isso com sua imensa
nhos de texto)... ve é que compila o GCC?) O fortuna. Não era à toa que ele,
que viu na tela lhe trouxe a mesmo em um lugar tão escon-
É, escrevo poesia, con- dido, era um dos homens mais
tos, cordel (que é poesia), ro- mais pura insanidade. E ela vo-
ou pela janela para bem longe ricos de todo o planeta.
mances... Não desenho, mas
pra quê? Pra fazer isso já te- e até hoje não há notícias do - Me traz uma coca-cola
mos outro Karlisson. pobre inseto. Na tela, apenas e um whisky xyz.
aquelas palavras assustado-
Quanto a este Cárlisson - Tá aqui, meu patrão.
ras. Palavras capazes de gelar
que vos fala, sou formado em até mesmo o coração do mais - A vida tá uma droga, Jo-
Ciência da Computação pela corajoso desenvolvedor: Ker- nas!
UFAL (onde hoje trabalho) e nel Panic. " - Vão mal os negócios? A

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COLUNA · CÁRLISSON GALDINO

rede de suporte para escritóri- verdade esses são miseráveis samba...


os e a fábrica de janelas estão filhos dele, que hoje têm ou- - E o Linus?
com problemas? tros nomes, mas não vem ao
caso. O caso é que estão to- - Não fale esse nome, Jo-
- De jeito algum! Vai tudo nas! Não fale esse nome!
muito bem! dos indo embora, Jonas! To-
dos! - Tá, desculpa, chefe!
- Então o quê?
- Libéria... O que tem de- Ele abaixa a cabeça um
- Eles estão deixando de mais essa terra? pouco.
gostar de mim, aos poucos...
- É, Jonas, não sei. E tem - Chefe? Por que o se-
- Como assim? muitos clientes querendo que nhor não vai pra lá então? O
- Ainda lembro daquele eu me mude pra lá. senhor daqui e eles de lá, eles
marinheiro, lembra? Acho que - E o senhor vai, senhor podem ganhar o mercado do
se chamava Netune Skaeyph. Michel? senhor praquelas bandas!
- Lembro sim. Era antigo - Não! Já mandei uns fun- - Não dá, Jonas. O gover-
na casa. Mas o senhor me des- cionários lá, mas querem que no de lá tem regras diferentes
culpe, mas o senhor judiou mui- eu vá. E eu sei que se eu for do governo daqui. Mas eu ain-
to dele. vou terminar destruindo tudo o da derrubo o governo deles.
- É, eu sei... Mas ele esta- que fiz até hoje... Presidente Gopp Lefft...
va invadindo meu território e - Então fica por aqui mes- Eu acabo com ele, Jonas!
eu tinha que tomar uma provi- mo! A Taverna Silício do Vale Ele e aquelas leis estúpidas!
dência. estará sempre aberta para o se- Acabo com ele ou não me cha-
- Sei como é, patrão. Até nhor. mo Michel Sófocles!
hoje ninguém sabe quem incen- - É, mas todos estão indo CARLISSON
diou o barco dele, não é? Foi para lá... Já foi o Sam e com GAUDINO é
uma confusão tão grande que seu filho, o Breno Alves, lá ele Bacharel em Ciência
até o xerife foi expulso e bota- da Computação e
abriu uma empresa que está pós-graduado em
ram outro. E ele dizia que era querendo me derrubar na assis- Produção de
você que tinha queimado, ve- Software com
tência aos escritórios... E eu Ênfase em Software
jam só! soube que até o filho dele, o Livre. Já manteve
projetos como
- Intriga, Jonas. Intriga... Djavan, também se mudou pra IaraJS, Enciclopédia
Libéria. Omega e Losango.
- É sim. E ouvi dizer que Hoje mantém
ele está muito bem estabeleci- - É, parece que a Libéria pequenos projetos
tá ficando animada, patrão! em seu blog
do lá na Libéria. Que agora ado- Cyaneus. Membro
tou outro nome, acho que foi - Sem contar um pessoal da Academia
Arapiraquense de
Fênix ou Minotauro, algo as- que fica me atazanando de lá. Letras e Artes, é
sim... Tem um povo estranho, um ín- autor do Cordel do
Software Livre e do
- É, estou sabendo. Na dio apache, um dançarino de Cordel do BrOffice.

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COLUNA · ROBERTO SALOMON

O que aprendemos
até agora?
Por Roberto Salomon

Faz 25 anos que o proje- sair de casa e comprar um net- Nestes últimos 25 anos
to GNU foi lançado. book por menos de R$ passamos por uma experiên-
Faz 18 anos que o kernel 1.000,00 em suaves presta- cia social única: aprendemos a
Linux foi anunciado na forma ções mensais em lojas de ele- usar a tecnologia para nos co-
daquela mensagem do Linus trodomésticos ditas municarmos de forma mais efi-
para a lista do Minix. “populares”. ciente e, por conta disso,
Por conta deste mesmo aprendemos a colaborar.
Faz 8 anos que a IBM se Aprendemos que colaborar
comprometeu a investir um bi- avanço, nasceu o mercado de
software. Um mercado diferen- não implica em interagir com
lhão de Dólares no desenvolvi- pessoas mas sim com as idéi-
mento do Linux. te do tradicional pois é um mer-
cado onde a escassez pode as que elas produzem. No
Neste último quarto de sé- ser controlada. Um mercado mundo da colaboração que ge-
culo muita coisa aconteceu na do qual dependemos cada vez rou os movimentos do Softwa-
área de tecnologia. Muito da mais para controlar as complexi- re Livre e do Código Aberto,
evolução se deve a avanços dades dos demais mercados não há cor, credo nem idade.
em materiais: máquinas mais que criamos. Um mercado que Veteranos discutem idéias
potentes e mais baratas que gera altos lucros e movimentos com novatos (alguns com mais
permitiram que hoje possamos sociais de grande alcance. ou menos destreza social) ao

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COLUNA · ROBERTO SALOMON

mesmo tempo em que enge-


nheiros experientes vislum-
bram novos caminhos
sugeridos por estudantes no iní-
cio da graduação. Aprendemos bastante,
Aprendemos a pensar de
forma diferente, a pensar no
mas ainda precisamos aprender
problema de forma cada vez
mais abstrata e a considerar ca-
a colaborar melhor.
Roberto Salomon
da vez mais as idéias e não os
atributos físicos dos nossos in-
terlocutores.
Começamos a aprender tos de Software Livre e de Có-
a aprender. raro. O que vemos hoje são no- digo Aberto.
No entanto, até agora, so- vas iniciativas que usam de no-
Até agora, começamos a
mos apenas exploradores, ca- vas formas as tecnologias que
aprender a colaborar mas ape-
ranguejos, colonizando as desenvolvemos até agora. A
sar dos avanços, pessoas re-
margens de um novo continen- evolução é tão rápida que pas-
sistem em colaborar com
te que ainda não temos condi- samos a considerar normal o
empresas, esquecendo que
ções de sequer imaginar as que até duas gerações atrás se-
empresas são apenas grupos
riquezas nele escondidas. So- ria considerado assombroso. E
de pessoas. Cada vez mais,
mos uma geração ainda encan- tudo isso se deve ao poder da
precisaremos de ferramentas
tada pelas caravelas que nos colaboração que se consolidou
de colaboração que nos permi-
trouxeram até estas praias. Nos- com o movimento do Software
tam ajudarmos uns aos outros.
sa missão é a de colonizar as Livre.
Aprendemos bastante mas ain-
margens e preparar a expan- da precisamos aprender a cola-
são que as próximas gerações borar melhor.
Nos ombros de pessoas
farão. Um pouco disso começa
comuns
a aparecer hoje.
Se antes precisavamos
A cada novo passo que de gênios nos ombros de gigan-
damos, a cada nova tecnologia tes para podermos evoluir, os Maiores informações:
desenvolvida ou melhorada, mecanismos de colaboração
uma coisa fica cada vez mais Blog do Roberto Salomon:
que desenvolvemos permitiram
clara: os mecanismos de cola- http://rfsalomon.blogspot.com
que avancemos colaborando e
boração, criados ou expandi- nos ajudando uns com os om-
dos pelo movimento do bros dos outros. Algumas em-
Software Livre, se tornam cada presas já chegaram à
vez mais necessários para que conclusão que este é o cami- ROBERTO
SALOMON é
possamos continuar nossa ca- nho para o desenvolvimento arquiteto de software
minhada. sustentado de novos produtos na IBM e voluntário
do projeto
O desenvolvimento isola- e incentivam os seus funcionári- BrOffice.org.
do, aquele realizado para resol- os a adotar modelos de colabo-
ver um único problema de uma ração como os que vemos nas
única pessoa, é cada vez mais diversas comunidades de proje-

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COLUNA · EDGARD COSTA
www.kerodicas.com

Software Livre e o nosso


Sistema de Leis
Por Edgard Costa

Em função do meu traba- parte do executivo em várias es- os mais variados tipos de licen-
lho e das pesquisas que tenho feras de poder e do desconheci- ça. Isto ficará para um outro ar-
realizado, tenho percebido que mento, por parte do legislador, tigo.
nossos legisladores tem gran- do que é, efetivamente, Softwa- No âmbito legal, percebe-
de preocupação e percepção re Livre. se que o legislador, principal-
da importância que o Software Depois que começamos mente, está preocupado com
Livre tem para um país com as a estudar o assunto mais a fun- custos, e determina o uso do
desigualdades sociais, dimen- do descobrimos que Software Software Livre porque conside-
sões continentais e econômi- não é vendido e sim tem seu có- ra qualquer Software, sob esta
cas que caracterizam o Brasil. digo licenciado para utilização bandeira, grátis. Ele não foi ins-
O arcabouço de leis que regu- em determinadas circunstânci- truído sobre o real significado
lam, regimentam o uso do SL, as. O criador do código permi- do que é código livre e suas
nas diversas esferas de gover- te, por licença, paga ou não, o formas de licenciamento. Que
no, não são tão tímidas quanto uso do seu código compilado a utilização de softwares de có-
poderíamos pré supor. Porém, em programa executável – o digo aberto tem condições dife-
o que mais chama atenção é o que de forma leiga e imprecisa rentes e portanto são mais
fato do desconhecimento e da denominamos Software. Não flexíveis, adaptáveis, tendo
não aplicação destas leis por vou tecer comentários sobre seu desempenho melhorado

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COLUNA · EDGARD COSTA

continuamente por sua maior vos. Os demais não desejam portância da adoção da
velocidade de atualização, mai- nem ter a noção do que isto re- plataforma SL para o aprimora-
or correção de erros (bugs) au- presenta. A sua necessidade mento do arcabouço legal exis-
mentando a versatilidade e básica foi satisfeita, pronto. tente e do cumprimento da
confiabilidade deste Software, Não temos mais nenhuma res- legislação em vigor que obriga
melhorando, significativamen- ponsabilidade com isto. estados e municípios a adota-
te, o seu desempenho e sua se- Nas nossas andanças já rem o SL sobre pena de serem
gurança. vimos vários bons exemplos punidos pelos seus Tribunais
Percebemos, também, de como o SL tem ajudado os de Contas. De quantos empre-
que o legislador não inclui e brasileiros. A justiça trabalhista gos a plataforma gera, dos im-
nem regulamenta a necessida- de Minas Gerais e de alguns postos e contribuições sociais
de de colaboração nos textos Estados do Nordeste sabem o que são depositados pelos
regulatórios. quanto foram beneficiados. O prestadores de serviços. E o
desenvolvimento de software mais importante. Que as recei-
O uso de Software de Có- tas geradas pelo
digo Aberto SL, ficam, efetiva-
pressupõe a de- mente, no Brasil.
volução de al- Não são remeti-
go em troca do dos, em certa
uso de alguma Seja em código, correção, época do ano pa-
ferramenta. Se- ra a matriz, que
ja em código, tradução ou publicidade. Algo há perde parte dos
seja em corre- ganhos envia-
ção, em tradu- que retornar. dos, pelas filiais,
ção, em Edgard Costa na ciranda finan-
publicidade. Al- ceira de seu país
go há que retor- de origem.
nar. Não basta
ter a boa vontade de indicar pa- para Prototipagem Médica. As
ra uso a Plataforma Livre por- crianças beneficiadas por inter- Maiores informações:
que é bom para os cofres net e por softwares educacio-
públicos e para a lei de Respon- nais confeccionados pela Caso de Sucesso do
sabilidade Fiscal. Tem que de- Celepar, do Paraná. Dos paulis- OpenOffice.org no Tribunal
volver o conhecimento tas que usam o Acessa São Regional do Trabalho da 4° Região:
recebido. E isto tem que ser Paulo. www.softwarelivre.org/news/3414
contemplado em lei. Se isto ge- Podemos considerar, pa-
ra custos, então, é melhor re- ra encerramos este artigo, que Celepar:
pensar a sua utilização. este assunto é, ainda, bastan- www.celepar.pr.gov.br

Os órgãos governamen- te novo e polêmico. Mas, que-


ro aqui incentivar você leitor, EDGARD COSTA é
tais e empresas que entendem membro do Grupo
esta situação são, na sua maio- amante do Software Livre, pa- de Usuários
ra conversar com seu represen- BrOffice.org do
ria, dirigidos por pessoas que Estado de S.Paulo,
são membros militantes do mun- tante no legislativo local, no Assurer Cacert –
do Software Livre e contamina- legislativo estadual bem como Certificação Digital e
autor do Livro
dos até o mais íntimo da alma no federal, para expor as dife- BrOffice da Teoria à
com os princípios colaborati- renças, as necessidades e a im- Pratica.

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

COMPUTAÇÃO
EM NUVEM
Por Cezar Taurion

Um tema exaustivamente putação em nuvem pode ser


De aplicativos a debatido na midia e em even- visto como o estágio mais evo-
tos é cloud computing ou com- luído do conceito de virtualiza-
sistemas putação em nuvem. Ok, mas o ção.
operacionais, que é mesmo computação em
nuvem? Ainda existe pouca in-
Uma arquitetura em nu-
vem é muito mais que apenas
tudo vai pra formação sobre o assunto e um conjunto (embora massivo)
mesmo uma consulta à Wikipe- de computadores. Ele deve dis-
web dia (http://en.wikipedia.org/wi- por de uma infra-estrutura de
ki/Cloud_computing ) nos traz gerenciamento que inclua fun-
pouca coisa. Bem, podemos di- ções como provisionamento de
zer que a computação em nu- recursos computacionais, ba-
vem é um termo para lanceamento dinâmico do
descrever um ambiente de com- workload e monitoração do de-
putação baseado em uma rede sempenho.
massiva de servidores, sejam
estes virtuais ou físicos (a nu- O conceito de computa-
vem). Na minha opinião a com- ção em nuvem já é comum em

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

algumas das empresas mais fa-


mosas da Internet como o
Google, o Yahoo e a Amazon,
que mantém parques computa-
cionais com centenas de milha-
res de máquinas. Tem um
artigo interessante sobre o as-
sunto, que saiu há algum tem-
po na Wired, chamado The
Information Factories, que po-
de ser acessado em
http://www.wired.com/wired/ar-
chive/14.10/cloudware.html. Pa-
ra se ter uma idéia do que são
estas nuvens, estima-se que
as cinco maiores empresas de
busca na Internet tenham ao to-
do um parque computacional
de cerca de 2 milhões de servi-
dores!
E que se ganha com esta
arquitetura? O primeiro benefí-
cio é uma melhor utilização
dos recursos computacionais, que se lançam na Web sem ter Hadoop. O Hadoop é um fra-
potencializando os conceitos a necessidade de manter seu mework open source (sob licen-
de consolidação e virtualiza- próprio parque de servidores. ciamento Apache) que permite
ção. Além disso, reduz sensivel- No case ele cita a Mogulus executar aplicações em ambi-
mente o time-to-market para (http://www.mogulus.com/), um entes de nuvem. O Hadoop é
aplicações de e-business e site para usuários produzirem um sub-projeto do Lucene
Web 2.0 (onde incluímos aplica- e exibirem programas de ví- (http://lucene.apache.org/hado-
ções de mundos virtuais e jo- deo. op/) que implementa o modelo
gos MMPOG), que demandam Hoje algumas destas em- de programação MapReduce,
conceitos do modelo computaci- presas do mundo Internet co- desenvolvido pelo Google
onal sob demanda (alocar recur- mo o Google e a Amazon já (http://labs.google.com/pa-
sos à medida que for oferecem seu imenso parque pers/mapreduce.html ).
necessário, de forma dinâmi- computacional para outras em- E já aparecem as primei-
ca). presas. ras experiências de computa-
Tem um case interessan- A IBM, com o Blue Cloud, ção em nuvem baseado em
te, que pode ser visto no blog entra neste segmento com Open Source. Um é o projeto
de Nicholas Carr, em uma oferta que ajuda as empre- Eucalyptus, desenvolvido pela
http://www.roughtype.com/archi- sas a construirem sua própria Universidade da California, em
ves/2007/11/look_ma_no_- nuvem. O Blue Cloud é um Santa Barbara, EUA. Este pro-
serv.php , onde ele relata o mix de tecnologias proprietári- jeto, ainda acadêmico, emula o
surgimento das “serverless In- as com diversos componentes interface de computação em
ternet company”, empresas Open Source, como o Xen e o nuvem da Amazon e pode ser

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

visto em http://eucalyp- ção em nuvem e o Open usuário. Se não houver cumpri-


tus.cs.ucsb.edu/. Um outro pro- Source. A computação em nu- mento do acordo, o pagamen-
jeto Open Source para vem é basicamente serviço. E to simplesmente não é
computação em nuvem é o Eno- serviço é fundamentalmente di- efetuado. É diferente da licen-
malism (www.enomaly.com). ferente do modelo tradicional ça de uso do software, uma
Este último permite que você de comercialização de softwa- vez que o usuário paga anteci-
construa um ambiente similar re, que é feita pelo modelo de li- padamente pelo seu uso e
ao do Amazon, dentro de seu
próprio data center. Os objeti-
vos destes projetos são explora-
tórios, ou seja, permitir que
pesquisadores trabalhem direta-
mente com tecnologias de com-
Existe uma clara simbiose
putação em nuvem, coisa entre computação em nuvem e
difícil de fazer quando a maio-
ria das tecnologias são fecha- Open Source
das e proprietárias. Cezar Taurion
Existe uma clara simbio-
se entre computação em nu-
vem e Open Source. Se
visualizarmos um massivo data
center com milhares de servido-
res comoditizados e um ambien- cença de uso. Quando um mesmo que o software deixe
te virtualizado, parece nítido usuário “compra” um software, de funcionar a contento, ele
que o uso de softwares de códi- ele adquire o direito de usá-lo não tem direito a nenhum res-
go aberto permite reduzir mais por algum tempo, geralmente sarcimento. Vemos que a dife-
ainda os custos operacionais e pela duração do contrato, embo- rença fundamental é que
reduzir a dependência dos pro- ra este direito não lhe ceda a acordos de nível de serviço de-
vedores de nuvem dos fornece- propriedade e patentes do finem as obrigações do prove-
dores de tecnologia. Open software, que continua nas dor, enquanto licença de
Source já é usado amplamente mãos de fornecedor. Este con- software determina as obriga-
por várias das implementações- trato de licença de uso gover- ções dos usuários.
de computação em nuvem, co- na os termos e condições de Vamos nos colocar na po-
mo o Linux (base das nuvens uso do sofware pelo usuário e sição de uma empresa, que
do Google, Salesforce e pode ser modificado pelo forne- vai utilizar softwares de outros
Amazon), o Xen (usado pela cedor à sua descrição. Na práti- fornecedores, comercializados
Amazon e na oferta Blue ca, a licença de uso determina pelo modelo de licença e que
Cloud da IBM), o Hadoop (no basicamente as obrigações do pretende prestar serviços de
Blue Cloud) e mesmo os pionei- usuário. nuvem ao mercado. Ela tem
ros projetos de código aberto Serviços, por outro lado, que contratar os softwares pa-
para computação em nuvem co- são governados por contratos ra repassar seu uso aos seus
mo o Eucalyptus. ou acordos de níveis de servi- clientes. Mas, embora estes cli-
Mas, existe também uma ço, que definem as obrigações entes assinem com ela um
variável importante que aumen- a que o fornecedor acorda, em acordo de nivel de serviço, ela
ta a simbiose entre a computa- troca dos pagamentos pelo por ter assinado um contrato

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

de licenciamento com outra em- seu Google File System, que é nal de distribuição.
presa, não pode garantir este ni- o Hadoop, para a comunidade O resultado final é que a
vel de serviço. O software de Open Source. Aliás, o simbiose entre computação
pode deixar de funcionar ou o Hadoop deverá ser a base tec- em nuvem e Open Source vão
contrato pode ser modificado nológica para o desenvolvimen- pressionar a indústria de TI co-
pelo fornecedor para um valor to de novas aplicações Open mo um todo, afetando a mar-
a mais. Source orientadas para operar gem dos modelos de
Com Open Source, o pro- especificamente em nuvens. comercialização tradicionais.
vedor não está sujeito as estas Computação em nuvem e
variáveis, pois pode modificar Open Source alteram os princi-
o software, corrigi-lo ou adaptá- pios básicos dos modelos Importante: As opiniões expressa-
lo às suas necessidades, de econômicos da indústria de TI. das neste artigo, não devem em
acordo com suas próprias de- Há um círculo virtuoso entre absoluto serem consideradas co-
mandas. E, mesmo em caso eles. A computação em nuvem mo opiniões, visões e idéias de
de discordância com os rumos se beneficia do maior uso de meu empregador, a IBM, nem de
de evolução da comunidade, Open Source, porque seu uso seus funcionários. Em nenhum
ele pode, inclusive, criar um elimina dependencias críticas momento, neste artigo, falo em
fork (árvore de código alternati- que afetariam a entrega de nome da IBM, apenas e exclusiva-
va) e evoluir o software de acor- seus serviços. E quanto mais a mente, em meu nome.
do com suas necessidades. computação em nuvem utilizar
CEZAR TAURION é
Além disso, o provedor po- Open Source, mais maduros e Gerente de Novas
de se concentrar em serviços e evoluídos estes softwares se Tecnologias da IBM
Brasil.
conteúdo e não em código em tornarão, amplificando seu Seu blog está
si. Sua receita não vem do uso. Na verdade, Open Source diponível em
pode e deve encontrar na com- www.ibm.com/develo
software. Um exemplo é o Goo- perworks/blogs/page/
gle que abriu um derivativo do putação em nuvem mais um ca- ctaurion

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

Alguns aspectos
estratégicos da
computação em nuvem
Por Orlando Lopes

Kriss Szkurlatowski - www.sxc.hu

A possibilidade da utiliza- quer rede complexa de


ção efetiva da Informática co- relacionamento social, como
mo tecnologia passa as redes sociais e culturais,
necessariamente pela compre- precisam considerar suas pos-
ensão de sua instrumentaliza- sibilidades de incorporação
ção e aplicação na vida dos formatos da computação
cotidiana, mas algumas ativida- em nuvem e localizá-la no con-
des parecem distantes ou mes- junto dos recursos tecnológi-
mo opostas, como a de uma cos disponíveis.
educação ainda excessivamen- Desde os anos 70, quan-
te identificada com a aprendiza- do o conceito de computação
gem mediada pela leitura e em nuvem surgiu, começou-se
pela escrita, e de uma cultura a definir um espaço virtual
que tende a desconfiar da tec- 'sem dono e sem fronteiras' on-
nologia, que parece ameaçar de circulariam software e infor-
a própria condição humana. mações que poderiam ser
Até aqui, a ênfase tem sido a acessadas por qualquer usuá-
das aplicações de origem co- rio: o cloud computing, defini-
mercial, mas é óbvio que qual- do como um modelo no qual a

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

computação (processamento, sistemas educacionais e redes sos (como projetos, avaliações


armazenamento e softwares) de produção e difusão cultural. de alunos e instituições, etc.)
não está no computador que es- Um dos primeiros pontos dos sistemas públicos de edu-
tamos usando, mas em algum a se ressaltar provavelmente cação e cultura.
ponto remoto, acessado via in- será o diminuição de custos Assim, por exemplo, co-
ternet. De um lado, essa ten- com manutenção e melhor apro- mo os sistemas e redes das
dência de arquitetura veitamento dos investimentos empresas precisam suportar a
informacional significa que boa em hardware. Num ambiente demanda dos períodos de pico
parte das funções de TI não se- de escalas tão monumentais em vendas – como o Natal –
rão mais 'responsabilidade' quanto o da educação brasilei- as unidades de serviços educa-
dos usuários finais, e que as re- ra, por exemplo, qualquer eco- cionais e culturais precisam
des de computadores poderão, nomia na aquisição de atender a picos de processa-
finalmente, ser simplesmente equipamentos e serviços pode mento (em períodos de matrí-
'usadas'. De outro, concretiza- gerar fundos para melhoria de cula, fechamento de pautas,
se uma das maiores anti-profe-
cias da história da tecnologia:
se houve um tempo em que
não se pensaria em mais que
cinco ou seis computadores pa- Possíveis beneficiários da
ra suprir as necessidades do
mundo inteiro, hoje torna-se computação em nuvem não se
possível imaginar que estamos
todos passando a ter supercom- restringem aos usuários domésticos e
putadores em casa, a custos ca-
da vez mais baixos.
às empresas de tecnologia e serviços
É importante lembrar, po-
rém, que os possíveis beneficiá- comerciais.
rios da computação em nuvem
não se restringem aos usuári- Orlando Lopes
os domésticos e às empresas
de tecnologia (como o Google, infra-estrutura e qualificação geração de avaliações e esta-
por exemplo) e serviços comer- da mão-de-obra dos professo- tísticas educacionais, realiza-
ciais (como a Amazon). Alguns res e técnicos para a utilização ção de festivais e encontros
dos espaços mais estratégicos dos recursos disponíveis. Gas- culturais etc.), demandando
para a sua utilização talvez se- tando-se menos com máqui- uma estrutura que não teria
jam o das diversas figuras jurídi- nas e software, por exemplo, porque ser mantida no decor-
cas associadas aos poderes fica mais fácil ampliar os investi- rer do ano letivo regular. Uma
públicos, e aos órgãos e institui- mentos públicos para solucio- outra grande potencialidade da
ções não-governamentais, nar certos pontos delicados do nuvem é a da atualização das
mas não seria possível falar so- desenvolvimento da tecnolo- configurações e disponibiliza-
bre todos num único artigo. gia, como a estabilidade do ar- ção de recursos computacio-
Por hora, apontaremos apenas mazenamento e a proteção nais sem a interferência na
algumas questões para eviden- aos dados restritos (por exem- rotina do usuário final, como
ciar o valor estratégico da com- plo os dados administrativos e costumam fazer, por exemplo,
putação distribuída em jurídicos das escolas) e sigilo- sistemas como o Gmail, Yahoo

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

ou Hotmail. puseram a perder um dos mais ratos jurídicos e gadgets de


Especificamente no cam- importantes programas de fo- monitoramento e validação
po da Educação, há uma série mento à cultura das últimas dé- dos dados dos sistemas educa-
de regulamentações a serem cadas. Chegou-se a criar um cional e cultural (assim como o
estabelecidas, regulamenta- sistema baseado em Drupal, dos outros sistemas, como o
ções para as quais a considera- mas na prática ele nunca ven- da Saúde, da Habitação...), en-
ção sobre as diversas licenças ceu o estágio Beta, e ao que pa- quanto cabe aos ativistas soci-
de direitos autorais e difusão rece foi abandonado. Hoje o ais e culturais promover a
desenvolvidas nos últimos MinC está experimentando o avaliação qualitativa desses da-
anos devem ser tomadas co- Wordpress para desenvolver dos, confrontando quando ne-
mo um necessário ponto de seus blogs institucionais, e cer- cessário com o poder público e
apoio. É preciso estabelecer tamente os grandes volumes com a sociedade.
protocolos e procedimentos pa- de dados algum dia estarão (já Aliás, a criação de 'senso-
ra oferecer segurança e confia- estão?) circulando em data cen- res' para acompanhar 'em tem-
bilidade aos gestores públicos ters. po real' o comportamento da
e aos cidadãos. Talvez não es- O que temos aí, claro, é máquina pública seria uma ou-
tejamos ainda dimensionando apenas a ponta do iceberg, tra contra-profecia genial da in-
o quanto será importante no fu- sua face mais evidente e níti- formática: ao invés de haver
turo (no presente?) o desenvol- da. A neutralidade da lógica do (apenas) um BigBrother acom-
vimento de soluções em software livre torna-o um candi- panhando o que cada cidadão
software livre para mediar – dato natural para a concepção, faz em sua vida pública e priva-
ou, mesmo, viabilizar – a inte- desenvolvimento e implementa- da, o ativismo SL pode permitir
gração dos dados e serviços ção de estratégias e soluções que a computação em nuvem
das redes e sistemas educacio- que aprimorem e garantam os trabalhe para monitorar os da-
nais e culturais. Por sua pró- direitos civis. A natureza coleti- dos e ações daqueles que nos
pria natureza e diversidade, a va - e portanto necessariamen- vigiam. Atualmente, se há al-
educação e a cultura precisam te pública - da produção de guém que precisa de um Big
recorrer a recursos que garan- software livre praticamente exi- Brother, é exatamente o Esta-
tam sua mobilidade, flexibilida- ge que ele se envolva e partici- do...
de e legitimidade, recursos pe do desenvolvimento de
que não sejam de ninguém em ferramentas educacionais não
particular, mas que ao mesmo apenas para ensinar, mas tam- Maiores informações:
tempo sejam de todos. bém para processar e distribuir MinC - Ministério da Cultura:
Pessoalmente, senti mui- dados e estatísticas que pos- http://www.minc.gov.br
ta, mas muita necessidade mes- sam ajudar a dinamizar a vida
mo de um sistema em nuvem administrativa e pedagógica Wordpress:
no início da implementação do das escolas públicas e priva- http://www.wordpress.org
Programa Nacional de Cultura das. Ainda que não se possa
Cultura Viva, mantido pelo impedir a participação das em-
presas transnacionais de tecno- ORLANDO LOPES
MinC e em atividade desde Núcleo de Estudos
2004. A falta de estratégias pa- logia no processamento (na em Tecnologias de
'manipulação') de dados estraté- Gestão e
ra ajudar os participantes a or- Subjetividades
ganizarem seus processos de gicos, os ativistas do software li- Consultor em
gestão e de um sistema eficien- vre parecem assumir cada vez Responsabilidade
Cultural e Social
te de relacionamentos quase mais a função de construir apa-

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

PAU
GARCIA-MILÀ
“Chamar o que nós fazemos de um
‘sistema operacional web’, rompe
com a definição tradicional de um
sistema operacional.”
João Fernando Costa Júnior entrevistou o
criador do eyeOS.

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

A Revista Espírito Livre


nesta edição de estreia conver-
sou com Pau Garcia-Milà, o cri-
ador do eyeOS, um dos mais,
senão o mais, bem sucedido
Sistema Operacional Web.

Revista Espírito Livre:


Quem é Pau Garcia-Milà? Se
apresente aos leitores!
Pau Garcia-Milà: Nasci
em Barcelona em 1987. Fun-
dei o projeto eyeOS como um
hobby aos 17 anos, com Marc
Cercós. 3 anos depois nós o
convertemos em uma empresa
e atualmente estamos traba-
lhando na Espanha, França,
eyeOS rodando aplicativo de apresentação
Alemanha e em outros 15 paí-
ses.
nos recursos que podem apre-
lular e outros dispositivos com
sentados aos usuários ao in-
REL: Em linhas gerais, acesso a Internet, mas há um
vés de defini-la de uma
defina o eyeOS. O que é e co- problema nesta definição: Exis-
maneira melhor ou pior. E do
mo ele funciona? O que é ne- te uma enorme preocupação
meu ponto de vista, um siste-
cessário para se usar o quanto a privacidade no envio
ma operacional web é útil — di-
eyeOS? O que você tem a di- à distância de nossos arquivos
ria essencial — para alguém
zer sobre cloud computing? privados, fotos, músicas, docu-
que normalmente utiliza mais
PGM: eyeOS é um web mentos... E todos usando servi-
de um computador (por exem-
desktop ou sistema operacio- ços de terceiros devem se
plo, um laptop e um computa-
nal de nuvem. Para usar o preocupar com isso.
dor no trabalho e/ou na
eyeOS, tudo que o usuário pre- universidade) e, por exemplo,
cisa é um navegador que irá REL: Existem várias defi- um telefone móvel. Nesse ca-
carregar o desktop do eyeOS nições e cada um fala uma so, é possível acessar toda a
e que lhe permitirá trabalhar coisa, mas segundo Pau Gar- nossa vida digital em toda par-
com todas as aplicações instala- cia-Milà, o que seria um siste- te, com qualquer computador
das em eyeOS neste servidor. ma operacional web? Eles ou telefone móvel.
eyeOS é gratuito e de código trazem benefícios reais para
aberto, assim qualquer um po- que tipo de usuário?
de ter seu próprio servidor REL: Como teve a ideia
eyeOS. Sobre cloud compu- PGM: Chamar o que nós de criar o eyeOS? No que es-
ting, eu acredito que é o próxi- fazemos de um sistema operaci- tava pensando? Qual a ideia
mo passo na nossa forma de onal web, rompe com a defini- por trás do eyeOS?
trabalhar com o computador, ce- ção tradicional de um sistema
PGM: Nós inicialmente cri-
operacional. Tentamos focar

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

amos o eyeOS pensando em mos algo incrivelmente bem um navegador web e sem a ne-
um pequeno pedaço de softwa- concebido desde os seus pri- cessidade de instalar qualquer
re que pudesse nos ajudar a meiros dias. coisa em qualquer dispositivo
manter alguns arquivos em um REL: Para que eyeOS para trabalhar.
único local. Tivemos que melho- funcione, existe a necessida-
rar e, eventualmente, o publica- de de um navegador, que
mos no SourceForge. A partir REL: O que torna o
por sua vez funciona sob um eyeOS diferente dos demais
desse momento (1 de agosto sistema operacional primá-
de 2005), o eyeOS começou a sistemas operacionais web?
rio. Seguindo essa linha de O que nunca veremos no
crescer como um projeto e co- pensamento, seria correto
mo uma alternativa em eyeOS?
chamar uma aplicação que ro-
software livre aos serviços on-li- da sob um browser de siste- PGM: Quando começa-
ne disponibilizados pelas gigan- ma operacional? O que mos, não haviam sistemas ope-
tes companhias de software. pensa a respeito? racionais web no mercado.
Hoje, existem cerca de 55 em-
PGM: Acreditamos que o presas e projetos dentro deste
REL: Ao criar o eyeOS termo sistema operacional de- mercado. Quase todos eles
você se inspirou em algum ve ser redefinido. Ou talvez, são feitos em flash, e quase to-
outros sistema operacional? precisamos de encontrar um das elas são serviços, e não
Porque? melhor termo para projetos co- produtos. Sendo um produto, e
PGM:Tentamos não focar mo o eyeOS. O nosso ponto sendo software livre, o eyeOS
no Windows, Mac ou Linux pa- de vista é que deve haver um, se diferencia entre os demais.
ra criar o design do eyeOS. centralizado, sistema operacio-
Marc, que criou o estilo visual nal e lotes de dispositivos portá-
projetou algo limpo e fácil de teis que rodaria as REL: Você acredita que
usar. Isso foi provavelmente o informações do SO. É muito no futuro teremos apenas
que transformou o eyeOS em mais fácil transformar este mo- sistemas operacionais via
um sucesso, uma vez que tive- delo em uma realidade se to- web? Como você acha que
dos nós precisamos apenas de aconteceria isso? O que es-
perar dos sistemas operacio-
nais web no futuro? O que
podemos esperar do eyeOS
em sua versão 2.0 ou 3.0?
Penso que sistemas e PGM: Penso que siste-
mas e aplicativos web, terão
aplicativos web, terão que que conviver com aplicativos
desktop, pelo menos durante
conviver com aplicativos alguns anos. eyeOS, por exem-
plo, não serve para rodar pro-
desktop, pelo menos durante gramas como o Autocad ou
Photoshop. É centrado em tra-
alguns anos balho de escritório, trabalho co-
Pau Garcia-Milà laborativo com os aplicativos
do Office, compartilhamento
de arquivos, etc. Se eventual-

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CAPA · NOVAS TENDÊNCIAS

mente as ferramentas web e na- código para o eyeOS. em sua vida cotidiana. Se as-
vegadores forem poderosos o sim for, gostaria de convidá-los
suficiente para bater em ferra- para testá-lo (existe um servi-
mentas desktop veremos este ti- REL: Além do eyeOS, vo- dor gratuito em eyeOS.info).
po de aplicações web, e cê tem outros projetos de có- Para aqueles que são progra-
arquitetos e designers usando digo aberto? madores, gostaria de convidá-
esses programas através de PGM: Atualmente somen- los a descobrir o eyeOS to-
um navegador web (sem virtuali- te o eyeOS. olkit em dev.eyeOS.org e
zá-los, o que já pode ser feito). doc.eyeOS.org, para que eles
possam descobrir o que eye-
REL: Onde os leitores OS pode fazer por eles.
REL: Por ter seu código podem saber mais informa-
disponível, outros sistemas E se gostarem, mesmo
ções sobre o eyeOS? que outros não, gostaria de
operacionais web surgem a
cada momento, tendo como PGM: No site oficial do lhes pedir para deixar as pes-
base o eyeOS. O que você eyeOS, www.eyeOS.org, tem soas saberem que existe uma
pensa disso? Você acha que links para todas as principais alternativa em software livre pa-
eles poderiam contribuir comunidades e sites de notíci- ra os famosos serviços de edi-
mais ou se integrar ao seu as do eyeOS. O blog oficial tar documentos, compartilhar
projeto? (blog.eyeOS.org) tem sempre arquivos e assim por diante.
as mais atualizadas notícias so- Todos eles estão roubando
PGM: Existem muitos ti- bre o projeto e sua evolução. nossa privacidade, e nós deve-
pos de forks. Vimos pessoas ríamos estar preocupados com
quebrar a licença e remover o isso. Instalando um servidor
aviso de direitos autorais de REL: Qual a mensagem eyeOS é bastante fácil (ape-
eyeOS. Já vimos forks que re- que você gostaria de deixar nas um servidor web Apache
produzem exatamente eyeOS para quem estiver lendo a re- +PHP é essencialmente neces-
alterando o seu nome, sem con- vista? sário, além de alguns addons
tribuir em nada. E finalmente já PGM: Gostaria de convi- se quiserem que o eyeOS para
vimos forks que incidem sobre dá-los a descobrir o eyeOS. abrir e editar arquivos do
um mercado específico, que Se não estão interessados na Microsoft Office e do Open
têm contribuído com novas apli- programação, podem pergun- Office.org).
cações, widgets e pedaços de tar-se como o eyeOS seria útil

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DESENVOLVIMENTO

VIRADO
PRA LUA
Por Lázaro Reinã

Esse artigo tem como principal objetivo


apresentar o uso da linguagem de
programação Lua, suas características,
especificações, sintaxe e a aplicação desses
conceitos, especialmente com relação ao
desenvolvimento de jogos, que é um dos
grandes trunfos dessa linguagem rápida e
eficiente. Sem mais delongas, vamos ao que
interessa. Senhoras e senhores passageiros,
afivelem os cintos a viagem com destino à Lua
começa em... 3... 2...1...!!!!

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DESENVOLVIMENTO

O que é a linguagem muitos dos que a usam é consi-


Lua? derada mais simples que a
Eu tenho certeza de que API-C. Porém, entretanto, toda-
a cada 10 programadores brasi- via, é perfeitamente possível cri-
leiros 99,9% têm certeza que ar um script e executá-lo sem
‘sabem que não sabem’ o que que o mesmo esteja ligado a
é a linguagem Lua. O que é um programa principal, isso é
uma pena porquê Lua é uma lin- possível graças a um interpreta-
guagem muito usada lá fora, e dor que está incluso na distribui-
sua principal utilização tem si- ção de Lua. Mas, quando
do para o desenvolvimento de falamos de desenvolvimento
games, tais como, World War de jogos é essencial que Lua
Craft, Far Cry, Ragnarok, etc. esteja embarcada em um pro- (Dados retirados de uma pes-
E eu na verdade fico bastante grama hospedeiro, e não conti- quisa realizada pelo site
triste em olhar de novo para es- da em um script. gamedev.net).
ses 99,9% programadores, É a única linguagem fora A primeira versão lança-
que nem fazem idéia do que se- do que nos podemos chamar da em 1993 ainda não era pú-
ja essa linguagem, e ver que de ‘eixo’ EUA–Europa–Japão, blica, ou seja, apenas a
mais uma vez o potencial das sendo um projeto 100% brasilei- Tecgraf a utilizava. Em 1994
terras tupiniquins tem sido ex- ro, que é altamente utilizada foi lançada a segunda versão
plorado em larga escala no ex- dentro do mercado mundial de e a partir da então Lua foi licen-
terior e nós aqui não damos a jogos. Entende minha tristeza? ciada por uma licença similar à
mínima idéia pra isso. O quê? Lua é totalmente brasileira licença BSD porém, a partir da
Não entendeu? Vamos lá en- mas, os brasileiros desconhe- versão 5.0 passou a ser licenci-
tão, apertem os cintos. cem sua importância. Os que a ada pela licença MIT.
Lua é uma linguagem de conhecem, me desculpem
programação interpretada, ba- mas, eu tinha que desabafar.
seada na ‘santa’ linguagem C, Qual é a sua importân-
bastante leve — quando eu fa- cia?
lo leve, é leve mesmo! Com História Bom... agora que já sabe-
uma sintaxe que na minha opi- Lua foi gerada no Tecgraf mos o que é a linguagem Lua,
nião é a mais simples de to- (Puc-Rio) — por Roberto surgem algumas dúvidas: Ela
das. Sintaxe essa que tem Lerusalimschy, Waldemar Ce- realmente é importante? Dá
algumas características de Pas- les e Luiz Henrique de Figueire- pra levar a vida programando
cal, entretanto é inegável o do e visava atender a um com Lua? Calma! Vamos en-
seu parentesco com a mãe de projeto da Petrobras, no entan- tender melhor esse assunto.
quase todas, linguagem C. to, como demonstrou ser muitís- Quando falamos da impor-
simo eficiente, leve, etc., tância de uma linguagem de
Lua foi projetada para tra- ganhou uma abrangência mai-
balhar em conjunto com outras programação, estamos falando
or, se tornando hoje a lingua- da sua repercussão de modo
linguagens, embarcada em um gem de script mais usada no
programa principal. Isso aconte- geral, as empresas que a
desenvolvimento de jogos, re- usam, os projetos que usaram
ce através de uma API, desta- presentando 20% do total de lin-
co a API-C que é a nativa, essa linguagem, a quantidade
guagems de script, enquanto de desenvolvedores que a utili-
presente na documentação ofi- que python, a segunda mais uti-
cial, e a API-Python, que por zam, correto? Pois bem, veja-
lizada, representa apenas 7%.

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DESENVOLVIMENTO

mos se Lua é realmente impor- zendo uma ressalva, a maioria www.lua.org/download.html ou


tante. das oportunidades de emprego http://lua-users.org/wiki/LuaBi-
Se eu disser que Lua foi para desenvolvedores Lua, é naries e baixar o instalador
para o espaço, literalmente, para o exterior, vide www.gama- adequado ao seu SO.
ela passa ter uma importância sutra.com. Graças à nossa fal- Depois disso...
maior? Creio que sim! Pois ta de patriotismo, o Brasil não
é o paraíso de Lua, ainda! Po- Vamos agora começar a
bem, até o ano de 2003 a trabalhar de fato. Depois de
Nasa usava a linguagem Lua demos perceber que existem al-
gumas empresas que instalar o pacote abra o termi-
para controlar o compartimen- nal ou prompt, que seja, e digi-
to que armazena os gases peri- passaram a dar uma importân-
cia maior ao potencial de Lua te ‘lua’ para abrir o
gosos dos onibus espaciais. interpretador.
Bom né?! Vale lembrar que em então, as coisas tendem a me-
2003 Lua completava 10 anos lhorar por aqui! Quem sabe che- No terminal façamos as-
de existência, então desde ‘no- gue a ser tão bom quanto é lá sim:
vinha’ ela já conquistava a aten- fora!
ção de ninguém mais ninguém ~$ lua
menos que a NASA! Lua 5.0.3 Copyright\
Por onde dou o ‘start’? (C) 1994-2006 Tecgraf,\
Agora sem precisar ir tão Depois de toda essa par- PUC-Rio
longe, aqui mesmo em terras te mais burocrática, vamos en- > teste = "funcionou!"
brasileiras, lembra dos outros tão à labuta. Marchemos aos > print (teste)
0,1% que sabem o que é campos de programação! funcionou!
Lua?! Pois bem, o INCOR — Para começarmos veja-
Instituto do Coração — radicali- Se você fizer aí e aconte-
mos o que precisaremos: cer exatamente assim, está tu-
zou, usando Lua para monito-
rar suas UTIs via web. Lua — Se você usa Debian, do ok!
então também ajuda a salvar vi- ou algum derivado, basta abrir Nesse exemplo podemos
das. um terminal e digitar o coman- ver o interpretador Lua em
do: ação, perceba que nós não es-
Contra fatos não há argu-
mentos, não é assim que o po- crevemos em um arquivo e sim
~$ sudo apt-get install\
vo fala? Então, estes fatos digitamos os comandos direta-
lua50
falam por si só. mente no shell.
Basta esperar o término Veremos mais alguns
da instalação e pronto, é só co- exemplos daqui a pouco.
Mercado de Trabalho meçar;
Com todas essas demons- — Se você usa outra dis-
trações de importância fica fá- tro basta acessar o endereço Pondo a mão na massa
cil prever como deve ser www.lua.org/ftp , escolher a ver- — Início
concorrido o mercado de Lua, são e baixar o source. Depois A partir de agora começa-
certo? Errado! Como a maioria é só seguir as instruções de ins- remos a tratar da linguagem
dos desenvolvedores está talação presentes no pacote aplicada, por assim dizer. Po-
mais voltada para as lingua- do source. rém visando atender a todos
gens que estão mais ‘na mo- os leitores, não importando o
da’, nosso mercado em — Caso você ainda use nível de conhecimento que a
ascensão enfrenta uma escas- software prorietário, todos aqui pessoa tenha, esse início pode
sez de profissionais. Apenas fa- esperam que não, basta acessar ser muito introdutório, porém

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DESENVOLVIMENTO

lembre-se de que seguindo a fi-


losofia do Software Livre não
podemos fazer acepção de pes-
soas. Portanto seja paciente
que a gente chega lá!
Começaremos pelo exem-
plo clássico de toda linguagem
, Hello World!:
Abra o teminal e digite o
seguinte:

~$ vim primeiro_ex.lua

Com esse comando abrire-


mos no editor de textos VIM,
que é uma versão melhorada Figura 1 - Editor de texto VIM
do famoso VI, um aquivo onde
editaremos nosso código.
Essa tela é o VIM em exe- ser a parte mais interessante, Site Lua-Users:
cução [Figura 1]. Para ativar o como se dá a aplicação des- http://www.lua-users.org
modo de edição digite i, e en- ses conceitos no desenvolvi-
tão escreva o seguinte: mento de jogos. Site Gamasutra:
Porém esses assuntos fi- http://www.gamasutra.com
print "Hello World!";
carão para a próxima edição!
Não percam, até porquê será a LUA conquista Microsoft:
Cetifique-se de finalizar a http://tinyurl.com/cklm4q
partir dela que a coisa começa
linha com ;. Agora precione a te-
a esquentar.
cla Esc e digite :wq, e vejamos JB Online: Nasa, Intel e Incor
o resultado. Para tal devemos Até logo!
empregam Lua:
digitar o comando lua seguido http://tinyurl.com/c5mfc7
do nome do arquivo que cria-
mos, cuja extensão obrigatoria-
mente deves ser ‘.lua’. Maiores informações:

~$ lua primeiro_ex.lua Site Oficial:


Hello World! http://www.lua.org LÁZARO REINÃ é
usuário Linux,
estudante C/C++,
Eis então, nosso ‘Hello FTP Oficial: Lua, CSS, PHP.
World!’ rodando. A partir de http://www.lua.org/ftp Integrante do
EESL, ministra
agora iremos nos aprofundar palestras e mini-
no aspectos mais técnicos da Download da Linguagem Lua:
cursos em
linguagem, tais como, valores http://www.lua.org/download.html diversos eventos
http://lua-users.org/wiki/LuaBinaries de Software Livre.
e tipos, sintaxe, API, etc. Até
chegarmos no que eu acredito

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DESENVOLVIMENTO

DESEN
VOLVI
MENTO
DE SOFTWARE LIVRE
Por David de Almeida Ferreira

É muito comum as pesso- vatos a desenvolvedores


Dicas as ingressarem no universo do possam de fato customizar os
tão desejados softwares, abrin-
importantes Software Livre com anseios de
desenvolver ou customizar do então a oportunidade para
para que o softwares, porém a realidade
que percebemos é outra, da
que novos softwares semelhan-
tes sejam desenvolvidos, vari-
futuro grande maioria das pessoas ando entre melhores ou piores
que entra neste universo uma decisões arquiteturais, técni-
desenvolvedor boa parte não possui experiên- cas de programação, funciona-
cia em desenvolvimento ou lidades e tecnologias.
de softwares quando possui acaba não sen- Além deste fato, outro
do suficiente devido à complexi-
possa inciar dade dos softwares, visto que
que devemos ter em mente é
que desenvolver software não
uma promissora o grau de clareza, entendimen-
to e experiência dos desenvol-
é uma tarefa tão simples, ela é
complexa, porém nada de ou-
carreira vedores varia imensamente de
um projeto para outro, o que po-
tro mundo, um bom desenvol-
vedor de software deve
de dificultar que candidatos no- possuir uma boa capacidade

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DESENVOLVIMENTO

de raciocínio lógico aliado ao


conhecimento de uma ferramen-
ta de desenvolvimento e soma-
do a uma necessidade que
deseja satisfazer, já que softwa-
res são criados para atender
uma necessidade.
O primeiro passo do futu-
ro desenvolver de software é ini-
ciar-se em lógica de
programação, a qual pode ser
vista na grande maioria dos cur-
sos superiores de computação
(nas suas mais variadas ver-
sões: processamento de da-
dos, informática, análise de
sistemas e etc...) ou em cursos
técnicos oferecidos por diver-
sas empresas, mas tome al-
guns cuidados, procure cursos Codeblocks
onde os professores estão preo-
ta é uma tarefa evolutiva, o de- ponsáveis por permitir a inte-
cupados em desenvolver seu
senvolvedor precisa treinar gração de seu software a
raciocínio lógico, geralmente is-
bastante para amplificar seu co- sistemas operacionais, banco
so é feito com pseudo lingua-
nhecimento na linguagem para de dados, multimídia e até
gens de programação como o
poder desenvolver softwares mesmo integração com outros
‘portugol’, pois permite que o
melhores e mais complexos. softwares. Por meio das APIs
aprendiz de desenvolvedor
O terceiro passo, podería- podemos, por exemplo, desen-
aprenda a pensar sem se atre-
mos dizer que seria o qual o de- volver softwares, como jogos,
lar a uma linguagem de progra-
senvolvedor, além de saber os quais possuem uma boa
mação, permitindo assim que
lógica de programação, ter co- complexidade e requerem
ele domine os aspectos básicos
nhecimento suficientes de uma acesso a diversos recursos (te-
utilizados nas linguagens de pro-
linguagem, precisa conhecer clado, mouse, joystick, vídeo,
gramação, afinal um bom softwa-
novas técnicas e ferramentas, internet, som).
re é feito graças as habilidades
de um bom desenvolvedor e como por exemplo: • Integrated Development
não de uma ferramenta. • Application Program- Environment (IDE) ou Ambien-
ming Interface (API) ou Interfa- te Integrado de Desenvolvimen-
Como segundo passo, o
ce de Programação de to, é um software que reúne
desenvolvedor deve adquirir ex-
Aplicativos, podemos entender em si diversos outros softwa-
periência em uma linguagem
como uma extensão da lingua- res com a intenção de auxiliar
de desenvolvimento, tradicional-
gem de programação fornecen- na tarefa de desenvolvimento
mente isso se adquire por
do novas funcionalidade de softwares. Podemos imagi-
meio de estudos (livros, arti-
(capacidades) para a criação nar uma IDE como, por exem-
gos, tutoriais, cursos) e no de-
de softwares mais elaborados plo, um grande editor,
senvolvimento de softwares
e complexos. As APIs são res- possuindo acesso fácil a edi-
(exercícios, prática, testes). Es-

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DESENVOLVIMENTO

ção de Código Fonte, Documen-


tação da Linguagem e API,
Compilador, Depurador, Nave-
gador de Código e em alguns
casos editores de formulários(in-
terfaces com o usuário). Geral-
mente as IDE atendem apenas
uma determinada linguagem,
porém uma mesma linguagem
pode possuir inúmeras IDEs.
Onde assim temos a opção de
escolher a IDE de acordo com
nosso sistema operacional, ou
de acordo com as facilidade(re-
cursos) ou a que melhor se ade-
que a nossa necessidade.
• Programação Estrutura-
da, é um paradigma clássico
da programação, nele a estrutu-
ra do software é focada na divi- BoUML
são de dados e funções /
procedimentos (function e o desenvolver deve ter cuida- desenvolvimento de diversos
procedure), onde assim pensa- do redobrado ao acessar os da- softwares ou por questões tra-
mos de forma separada o que dos, principalmente quando dicionais (experiência, maturi-
queremos armazenar (na me- qualquer parte do software po- dade, gosto) ou por limitações
mória) e nas funções para mani- de manipular erroneamente os da tecnologia utilizada.
pular esses dados. Porém, não dados e prejudicar assim os re- • Programação Orientada
existe muito controle sobre sultados. Apesar desse cuida- a Objetos, é o paradigma da
quem pode manipular os da- do redobrado, a programação programação que surgiu para
dos ou suas rotinas de proces- estrutura está presente na gran- aperfeiçoar a programação es-
samento, criando assim um de maioria das linguagens e ain- truturada, onde agora o seu fo-
modelo de programação onde da é muito utilizada no co não é na divisão de dados e
processamento e sim, na idéia
de unidades lógicas, assim te-
mos dados e funções altamen-
te agregadas simplificando
Desenvolver é a arte de assim diversas questões, pois
agora ao criarmos essas unida-
transformar rabiscos em idéias e des lógicas (chamadas de obje-
tos) pensamos em que dados
soluções para serem executadas cada objeto precisa e de que
forma ele ira manipulá-los, as-
no computador. sim também como quem pode
David A. Ferreira e como vai manipular esses ob-
jetos. É uma gigantesca mu-

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DESENVOLVIMENTO

dança da forma de se pensar removidas ou customizadas. Com essas dicas o futuro


em desenvolver software e Como passo complemen- desenvolvedor de software po-
nem todas as linguagens de tar indicaremos algumas ferra- de começar sua preparação pa-
programação dão subsídios pa- mentas livres que devem fazer ra esta jornada quase
ra este paradigma. parte do dia a dia do desenvol- espiritual, que é a arte de trans-
• Unified Modeling Langua- vedor de software: formar rabiscos em idéias e so-
ge (UML), é uma linguagem de luções para serem executadas
• Linguagem ou Plataforma no computador, tendo em vista
modelagem (entenda-se como GNU Compiler Collection:
uma espécie de desenho), que a criação de ferramentas para
http://gcc.gnu.org simplificar a sua vida, ou a dos
auxilia o desenvolvedor a visua- Minimalist GNU for Windows:
lizar como os objetos estão rela- outros, ou simplesmente pelo
http://www.mingw.org fator diversão e entretenimen-
cionados e como eles si • IDE
comportam. Esta modelagem é to. Fique claro que não será
CodeBlocks: http://www.code- uma tarefa fácil, porém seus
definida por diversos diagra- blocks.org
mas os quais fornecem informa- estudos aliados a sua determi-
Lazarus: http://www.lazarus.free- nação provarão para você sua
ções detalhadas sobre pascal.org
diversos aspectos da constru- verdadeira capacidade a qual
Eclipse: http://www.eclipse.org está muito além do que você ja-
ção do software, o que simplifi- • API
ca muito a comunicação entre mais imaginou, esperamos ver
SDL: http://www.libsdl.org muitos e muitos software livres
os desenvolvedores, pois permi- OpenGL: http://www.opengl.org
te mostrar como o software foi (utilitários, aplicativos, siste-
GTK: http://www.gtk.org mas e jogos) produzidos muito
montado, quais são suas par- Qt: http://www.qtsoftware.com
tes (chamaremos de classes), em breve.
• Modelagem UML
o que cada uma fornece (cha- BoUML: http://bouml.free.fr Nas próximas edições fa-
maremos de métodos), quais laremos sobre Desenvolvimen-
partes podem ser substituídas, to de Jogos com Software
Livre.

DAVID ALMEIDA
FERREIRA
(http://www.davidferre
ira.com.br)
Especialista em
Engenharia de
Software com
Ênfase em Padrões
de Software(UECE),
É Arquiteto de
Software do Banco
do Nordesde do
Brasil (BNB). É
integrante do Projeto
de Software Livre
Ceará(PSL-CE) e do
Grupo de
Desenvolvedores de
Jogos do
Ceará(GDJCE).
FZPong

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TECNOLOGIA · PADRÕES ABERTOS

VOCÊ SABE MESMO O


QUE É UM PADRÃO
ABERTO?
Por Jomar Silva

Como todo bom nerd, me cá entre nós, como eu vinha


Não leve gato divirto de verdade vendo o mer- da indústria de software e re-
cado de TI adotar (e às vezes des IP, quando eu queria en-
por lebre, saiba até criar) determinadas cerrar uma discussão qualquer
como identificar ’buzzwords’ e, mesmo sem
compreender seu real significa-
era só usar a frase “Isso se re-
solve via IP” e pronto, meus in-
um padrão do, acabam dando um jeito de terlocutores faziam ‘cara de
produzir diversas pérolas de conteúdo’ e estava encerrada
aberto marketing com a nova palavri- a discussão... o IP era mágico).
nha da moda. Em nossos dias, temos
Foi assim no início do que conviver com três
ano 2000, quando o termo ‘IP’ buzzwords, muitas vezes extre-
(protocolo da Internet) chegou mamente mal utilizadas: Intero-
ao mercado de telecomunica- perabilidade, ‘Open’ (vale
ções. Me lembro de ter partici- também sua versão em portu-
pado de um evento guês ‘Aberto’, apesar de que a
internacional naquele ano e da versão em inglês sempre tem
noite para o dia tudo era IP (e mais apelo de marketing) e a

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TECNOLOGIA · PADRÕES ABERTOS

que quero falar hoje, Padrão


Aberto.
Percebi que estava tudo
quase perdido em relação aos
padrões abertos quando em
uma das minhas viagens no
ano passado, li numa revista
de bordo da empresa aérea
um anúncio de uma pequena
empresa de software, dizendo
que produzia sistemas de ges-
tão (ERP) em padrões abertos.
Fiquei curioso com o anúncio e
anotei o site da empresa.
Quando cheguei em terra
firme, visitei o site da empresa
e até hoje eu não consigo en-
tender com clareza o motivo
de utilizarem ‘Padrões Abertos’
no seu anúncio, pois a empre-
sa desenvolve um sistema pro-
prietário, baseado em Artwork do Document Freedom Day. Leia mais a respeito nesta edição.
softwares proprietários e de
vra disponível e não acessí- A versão que é mais cita-
aberto não tem absolutamente
vel... na revenda da Audi aqui da e comumente utilizada por
nada. Foi para mim a constata-
perto de casa existe um A4 zeri- todo mundo (e a que eu consi-
ção de que o termo se tornou
nho disponível, mas não consi- dero como a mais completa), é
de vez uma buzzword.
go acessá-lo... entendeu ?). a definição dada pela União
Apenas por curiosidade, Europeia em seu documento
Desde que vi este anún-
fui dar uma olhada nos parcei- de definição de arquitetura de
cio, aumentei ainda mais meu
ros de tecnologia da empresa Interoperabilidade (European
empenho em escrever sobre pa-
e adivinha ? Um dos parceiros Interoperability Framework for
drões abertos e em falar sem-
é exatamente a empresa que pan-European eGovernment
pre no tema antes de iniciar
mais falou bobagem sobre pa- Services), similar ao nosso e-
qualquer discussão sobre o
drões abertos e interoperabilida- Ping (que inclusive cita a defini-
ODF (OpenDocument Format),
de nos últimos dois anos (acho ção europeia).
padrão aberto que ajudo a de-
que vocês já estão bem grandi-
senvolver no comitê do OASIS Ela define que um padrão
nhos para saber de quem es-
(OASIS ODF TC). aberto é aquele que cumpre
tou falando). Sendo assim, a
Existem diversas defini- com quatro requisitos:
pequena empresa de software
estava apenas vendendo o pei- ções sobre Padrão Aberto e, a • O padrão foi adotado e
xe que comprou, e que muitas falta de existir uma que seja será mantido por uma organiza-
vezes é vendido: Especifica- considerada como ‘a definitiva’ ção sem fins lucrativos, e seu
ção disponível na Internet é acaba abrindo brecha para desenvolvimento contínuo irá
um padrão aberto (note que que o termo seja muito distorci- ocorrer com base em um pro-
usei propositadamente a pala- do. cesso de tomada de decisão

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TECNOLOGIA · PADRÕES ABERTOS

aberto e acessível a todas as cos e a blogosfera tem se en- dero ‘mal exemplo’, a
partes interessadas (através carregado com efetividade de especificação do ODF na ver-
de consenso ou decisão por questionar cada ‘escorregada’ são ISO (ISO/IEC 26.300, que
maioria, etc.) que alguém dá dentro do comi- é o mesmo documento do
Destaco a importância da tê. As pessoas podem ainda OASIS com uma folha de rosto
entidade que desenvolve o pa- contribuir com nosso trabalho da ISO), só está disponível pa-
drão ser uma entidade sem por lá através da lista pública ra venda no site da ISO. Antes
fins lucrativos, pois este tipo de comentários). que alguém me chame de de-
de entidade é sempre mantida • A norma foi publicada e sinformado, a versão que pode
por diversas empresas, e isso seu documento de especifica- ser encontrada gratuitamente
acaba sendo fundamental para ção está disponível gratuitamen- no site da ISO deve somente
que a agenda de trabalho des- te, ou através de uma taxa ser utilizada pelos membros
ta entidade não seja direciona- simbólica. Deve ser permitido dos comitês da ISO. Quem
da por uma única empresa. a todos copiar, distribuir e utili- não for membro de comitês da
Além disso, a estrutura e os pro-
cessos jurídicos e administrati-
vos deste tipo de entidade
normalmente são muito transpa-
rentes. Qual é a utilidade de
O processo de decisão
aberto e acessível a todas as uma especificação aberta se as
partes interessadas é funda-
mental para que o trabalho reali-
pessoas não tiverem acesso a
zado dentro dos comitês de
desenvolvimento dos padrões
sua documentação ?
possa ser acompanhado de per- Jomar Silva
to por qualquer interessado,
permitindo ainda a participa-
ção de qualquer um.
Obviamente devem exis-
tir regras para que tudo isso se- zá-la gratuitamente ou a uma ta- ISO e usar o documento está
ja feito, e cada vez mais eu xa simbólica. violando o copyright da ISO...
acredito que o acompanhamen- bonito, né?
to popular é uma excelente vaci- Qual é a utilidade de uma
especificação aberta se as pes- Mais um ‘mal exemplo’ es-
na contra qualquer falta de tá na nossa querida ABNT,
bom senso que possa existir soas não tiverem acesso a sua
documentação ? que também só disponibiliza a
em algum membro do comitê versão em português do ODF
(e digo isso com conhecimento Usando novamente o para comercialização (simbóli-
de causa, pois tenho observa- ODF como exemplo, seu docu- cos R$ 354,10, e o mais irôni-
do este tipo de coisa dentro do mento de especificação pode co é que a ABNT não
comitê do ODF no OASIS — ser encontrado gratuitamente participou do trabalho de tradu-
http://www.oasis-open.org/com- no site do comitê do OASIS. ção do documento, realizado
mittees/tc_home.php?wg_ab- Citando o mesmo docu- por algumas empresas, coorde-
brev=office. Todos os e-mails mento, agora como o que consi- nado e revisado por mim).
trocados pelo comitê são públi-

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TECNOLOGIA · PADRÕES ABERTOS

• A propriedade intelectu- Quem conhece um pouco malmente os comitês


al - ou seja, patentes eventual- mais sobre tecnologia de re- internacionais de desenvolvi-
mente presentes - do padrão des, sabe que toda a Internet mento de padrões abertos têm
(ou de partes dele) está disponí- funciona com base em uma pi- como membros as maiores au-
vel irrevogavelmente através lha de protocolos e padrões toridades no assunto tratado.
de uma base livre de royalties. abertos (TCP/IP e recomenda- De algum tempo para cá,
Este é para mim um pon- ções W3C). A maioria destes existe uma forte tendência de
to fundamental e que explica o padrões não foi desenvolvida que esta definição de padrão
motivo de tantas inovações sur- do zero, e toma como base aberto da União Europeia ga-
girem com base em padrões grande parte do que já foi espe- nhe um quinto ponto: A existên-
abertos. Royalties podem ser cificado em um outro padrão já cia de ao menos uma
um bom negócio para quem de- existente. implementação de referência
senvolve uma tecnologia ou pa-
drão, mas são uma barreira,
muitas vezes intransponível, pa-
ra quem deseja implementar
aquele padrão. Quem conhece um pouco
Imaginem se o ODF fos-
se licenciado através da cobran-
mais sobre tecnologia de redes,
ça de royalties. Quem pagaria
para utiliza-lo dentro do
sabe que toda a Internet funciona
OpenOffice (ou KOffice, com base em uma pilha de protocolos
Abiword e tantos outros softwa-
res livres que suportam o pa- e padrões abertos
drão) ? E o protocolo TCP/IP ?
Será que teríamos evoluído Jomar Silva
tão rápido com a Internet se ca-
da empresa que pretendesse
utilizar o protocolo tivesse que
pagar alguns milhões de dóla-
res de licenciamento ? O ODF também é assim. em código aberto (e eu sou um
Utilizamos XML, Xforms, Xlinks dos que defende esta tese).
Gosto sempre de desta- e diversos outros padrões aber-
car que ser livre de royalties Para que possa ser imple-
tos já existentes. Utilizamos ain- mentado em código aberto, um
não é garantia de que o pa- da conceitos já existentes,
drão tem licenciamento livre, padrão deverá estar bem docu-
como a estrutura utilizada pe- mentado e construído, ter seu
mas este pode ser um assunto las tabelas e planilhas, muito
para uma outra coluna, caso vo- documento de especificação
parecidas com as tabelas em disponível, ter suas questões
cês se interessem por ele. HTML. de licenciamento de acordo
• Não há restrições sobre Um outro ponto importan- com a definição apresentada e
a reutilização do padrão. te desta reutilização, é que atra- o mais importante de tudo, ser
Este é nosso velho conhe- vés dela podemos utilizar viável tecnicamente.
cido, que também responde pe- sempre o que existe de mais Vocês podem me chamar
lo nome ‘Não reinventarás a bem estruturado em cada se- de maluco por colocar a viabili-
roda’. tor de padronização, pois nor- dade técnica em questão, mas

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TECNOLOGIA · PADRÕES ABERTOS

Esta crítica não é drão usando-o como base ?


tão bem fundamentada E se quiser apimentar ain-
assim, pois existe de fato da mais:
hoje interoperabilidade en-
tre implementações sem 5 — Posso implementar
relação alguma com o este padrão no meu projeto de
OpenOffice.org, mas fo- código aberto ?
cando na crítica feita, se- Se gaguejarem na respos-
rá que ela faz mesmo ta, ele só é Padrão Aberto no
algum sentido ? nome: buzzword.
Em tempos de crise
econômica como vive-
mos hoje, onde os investi- Maiores informações:
mentos em
desenvolvimento são ca- ODF Alliance:
da vez mais escassos, http://www.odfalliance.org
não seria muito mais sen-
sato e inteligente o desen- Site da W3C:
volvimento de uma base http://www.w3.org
Poster produzido pela equipe de designers da Red Hat
comum de processamento
de documentos ODF, que Site da OASIS:
quem acompanhou a trajetória
http://www.oasis-open.org
do OpenXML na ISO até ago- pudesse ser executada em di-
ra, sabe que ele é um padrão versas plataformas e utilizado
ISO:
que ainda não pode ser (e não por todo e qualquer projeto de
http://www.iso.org
foi) implementado, dado o nú- software ? Será que não é es-
mero elevado de inconsistênci- se o rumo que as coisas deveri-
ABNT:
as técnicas que ainda possui am tomar ?
http://www.abnt.org.br
(e mesmo assim, foi aprovado Acho que agora todos vo-
como norma ISO... legal essa cês já sabem distinguir gato de
Blog do Jomar:
ISO, não é mesmo ?). lebre. Toda vez que alguém http://homembit.com
A existência de uma imple- lhe disser que um padrão é
mentação em Open Source se- aberto, faça a ele quatro per-
JOMAR SILVA é
ria para mim como um guntinhas básicas: engenheiro
anabolizante (ou um catalisa- 1 — Quem desenvolveu, eletrônico e Diretor
Geral da ODF
dor) para o desenvolvimento e como posso acompanhar e Alliance Latin
de mais aplicações com supor- participar do desenvolvimento ? America. É também
coordenador do
te ao padrão. Esta aliás é uma grupo de trabalho na
discussão muito interessante, 2 — Onde acesso sua do-
ABNT responsável
pois muita gente gosta de criti- cumentação completa ? pela adoção do ODF
como norma
car o ODF dizendo que sua inte- 3 — É necessário algum li- brasileira e membro
roperabilidade hoje é baseada cenciamento ou pagamento pa- do OASIS ODF TC,
o comitê
no fato de que muitas das im- ra sua implementação ou internacional que
plementações existentes são utilização ? desenvolve o padrão
ODF (Open
baseadas em um mesmo códi- 4 — Posso criar o meu pa- Document Format).
go fonte, do OpenOffice.org.

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FÓRUM · JULGAMENTO DO THE PIRATE BAY

www.ben-costello.com

Reflexo de um acirramento de opiniões sobre o


compartilhamento digital

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FÓRUM · JULGAMENTO DO THE PIRATE BAY

Começou em 16 de feve- na comunidade que discute Cul- bam por criminalizar o


reiro de 2009 o ‘julgamento es- tura Livre. compartilhamento e, na práti-
petáculo’ — spectrial — do Processar empresas e gru- ca, fomentam a criação de leis
The Pirate Bay. Para quem pos que fazem compartilhamen- de controle sobre a rede. Na
não sabe, a “baía dos piratas” to de materiais desse tipo não França, por exemplo, está em
é um dos maiores trackers Bit- é novidade: o Napster encon- tramitação uma lei que restrin-
Torrent do mundo, com uma trou o fim de sua pioneira inicia- girá o acesso do internauta a
grande e participativa comuni- tiva p2p em um processo rede caso ele seja identificado
dade de usuários, onde se tro- movido pela RIAA (Associação realizando download de materi-
cam arquivos torrent que da Indústria Discográfica da al sobre copyright.
apontam para áudios, filmes, América). eDonkey, Grokster e Agora, segue a pergunta:
documentos, jogos e mais arqui- outras, também. A linha de ba- como saber se aquele pacote
vos digitais existentes nos dis- talhas judiciais chegou aos pró- que trafega na rede é material
cos rígidos desses membros. prios usuários desses serviços. protegido por copyright, um ma-
A acusação, feita pela Milhões foram levados aos tribu- terial de distribuição liberada
IFPI (Federação Internacional nais, entre eles, uma senhora ou um e-mail pessoal? Se vo-
da Indústria Fonográfica), repre- de 71 anos e uma criança de cê pensou que os pacotes se-
sentante das grandes empre- 12 anos de idade. rão violados e espionados,
sas discográficas do mundo, Mas existe uma diferença acertou. E mais, como proibir o
foi de que os responsáveis pe- fundamental entre o julgamen- acesso de um internauta a re-
lo Pirate Bay promovem... ‘pira- to do The Pirate Bay e os ocorri- de? Será através do IP? Se
taria’. Segundo os acusadores, dos anteriormente. Dos for, sabemos que não dará cer-
‘pirataria’ é o ato de distribuir primeiros processos até esse, to. Será que todo internauta te-
conteúdo protegido sob copy- comunidade e a própria socie- rá um ‘identificador’ pessoal ao
right sem autorização, causan- dade sofreram uma mudança acessar a rede? É a Socieda-
do danos aos artistas e, de percepção quanto a ques- de do Controle chegando ao ci-
principalmente, a suas empre- tão do download, dis- berespaço.
gadoras, as gravadoras. tribuição e
Para além do uso do ter- compartilhamento, se-
mo ‘pirataria’ sob um novo signi- ja a favor de uma po-
ficado — o que constitui uma sição de liberação,
típica arma retórica, pois aca- seja por uma posição
ba por relacionar uma situação de criminalização.
nova, o compartilhamento digi- O lobby de gru-
tal, com uma prática criminosa pos como o IFPI,
tipicamente marítima — o julga- RIAA, MPAA e outros
mento em questão representa em governos ao redor
um enfrentamento entre uma do mundo em adição
tecnologia revolucionária do a uma interpretação
ponto de vista da distribuição mais conservadora
cultural e uma indústria anacrô- das legislações, obje-
nica que tenta de todas as for- tiva proteger o mode-
mas manter o seu antigo lo de negócios dos
modelo de negócios. E esse interesses que repre-
embate pode refletir algo novo sentam. Assim, aca- wikimedia.org

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FÓRUM · JULGAMENTO DO THE PIRATE BAY

Pela liberação temos a disputa entre indústria discográ- mo esta não chega, seguirão
conscientização crescente da fica e emissoras de rádios, ou os processos. O veredito sobre
sociedade que a distribuição a a mais recente indústria cinema- o julgamento do Pirate Bay de-
baixo custo desse material é tográfica e emissoras de televi- ve sair no dia 17 de abril, e se-
uma forma de universalizar o são contra a Sony e seu rá passível de recurso por
acesso à cultura, principalmen- video-cassete. ambos os lados. Mas, para
te das classes mais baixas que A saída seria encontrar além de sair culpado ou inocen-
não tem acesso ao cinema ou uma forma de permitir a parti- te, o grupo por trás do site está
casas de espetáculo, mas que lha desse material, procurando cumprindo seus objetivos, ex-
conseguem baixar o material assegurar de alguma forma pressos nas palavras de Ana-
que os artistas rece- kata, que podem ser vistas no
bam pelo seu traba- documentário Good Copy, Bad
lho. Uma questão Copy, produzido anos atrás:
Proibir o difícil de ser resolvi- “vejo o The Pirate Bay como
da, e que demanda- uma organização de desobedi-
desenvolvimento rá uma mudança ência civil, que visa forçar as
mudanças na lei de copyright
tecnológico nunca se de paradigma na
maneira como a in- que temos hoje”.
mostrou eficaz dústria cultural so-
Filipe Oliveira Saraiva brevive.
Tentativas de Maiores informações:
em uma LAN house ou adquirir construir uma alter-
um produto similar a um preço nativa nestes moldes estão sen- The Pirate Bay:
menor no comércio não-formal. do discutidas de forma http://www.thepiratebay.org
Temos até a fundação de um verdadeira e não apenas no dis-
Partido Pirata na Europa, repre- curso. Bård Vegar Solhjell, Mi- Documentário Good Copy, Bad
sentado no Brasil por um movi- nistro da Educação e Pesquisa Copy
mento com o mesmo e membro do Partido da Es- http://www.goodcopybadcopy.net
alinhamento ideológico de des- querda Socialista da Noruega,
criminalização do compartilha- cogita a possibilidade de levar Blog Liberdade na Fronteira
mento e neutralidade na para a rede um modelo de ne- http://www.liberdadenafronteira.blogs
Internet. gócios semelhante aos das rádi- pot.com
os, onde os usuários ouvem
Como nas outras vezes música gratuitamente e as rádi- FILIPE DE OLIVEIRA
em que grupos de partilha fo- os pagam os direitos dos auto- SARAIVA estuda
ram processados, este caso Ciências da
res, através de patrocínio. Computação na
do Pirate Bay, se julgado culpa- Para o ministro, a indústria de- Universidade
do, não acabará com o compar- veria compreender a Internet,
Federal do Piauí,
entusiasta do Linux,
tilhamento de material ao invés de tentar combatê-la, da Cultura Livre e
protegido por copyright na re- e a legalização dos downloads
das possibilidades
de criação coletiva
de. Proibir o desenvolvimento de material em copyright deve oferecidas pelo
tecnológico nunca se mostrou ser defendida pois é uma for- mundo conectado. É
eficaz — guardadas as devi- pesquisador da área
ma inovadora de distribuição de Cibercultura,
das proporções, vemos ape- de cultura. Pesquisa
nas a repetição da mesma Operacional e
Enquanto uma solução co- Inteligência Artificial.

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EDUCAÇÃO · LINUX NAS ESCOLAS

Quando o pinguim
vai à escola:
o software livre como recurso no ensino e na aprendizagem
Por Sinara Duarte

Piotr Lewandowski- www.sxc.hu

A partir da década de 80, que os fundamentos em que Na atualidade, a mídia


com o advento e democratiza- se baseiam a sua estrutura re- nos inunda com milhares de
ção das TICs – Tecnologias de montam a centenas ou até mes- produtos destinados a faixa
Informação e Comunicação na mo milhares de anos atrás etária de 2 a 15 anos, como
educação começaram a surgir com os ábacos, conhecidas co- softwares e brinquedos eletrô-
pesquisas acerca dos benefíci- mo as primeiras máquinas “pen- nicos que prometem facilitar o
os da utilização do computador santes”. processo de ensino-aprendiz-
na aprendizagem, destacando- Em termos educacionais, gem. Nesta idade as crianças
se os estudos de Moram Parpet nos anos 60, já vislum- gostam muito de jogos, que po-
(2008), Valente (1999), dentre brava os computadores como dem ser facilmente instalados
outros. Assim, diversos estu- instrumentos para expandir o em computadores. Muitos des-
dos surgem a cada dia sobre aprendizado dos estudantes pa- tes jogos são atraentes, cha-
as possibilidades educativas ra além das limitações físicas mativos, coloridos e podem ser
do computador na sala de au- da sala de aula. Na época, su- classificados como educativos,
la. as teorias pareciam ficção cien- pois incentivam a criatividade,
Todavia, na verdade, o tífica. Entre 1967 e 1968, o pensamento lógico, a memó-
uso da tecnologia digital para desenvolveu uma linguagem ria e a capacidade de resolver
ensinar não é uma idéia nova. de programação totalmente vol- problemas como o Logo, por
Muito embora os primeiros com- tada para a educação, o Logo, exemplo. Outros, porém, ape-
putadores somente tenham sur- no qual a criança poderia de- sar de serem desenvolvidos
gido na década de 40, com senvolver suas habilidades cog- para crianças são bastante pe-
fins bélicos, pode-se afirmar nitivas. rigosos, pois trazem conteúdos

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EDUCAÇÃO · LINUX NAS ESCOLAS

ligados à violência, associando Exemplos como este mos- ser usado para criar apresenta-
o poder de destruição com a vi- tram que nem todo programa ções sobre temas diversos co-
tória no jogo, banalizando a vio- de computador, embora tenha mo História Antiga ou álbuns
lência e/ou promovendo a sido idealizado para este fim, é digitais no mesmo estilo do
agressividade de forma contu- de fato educativo. A visão mais Picasa dentre outras funções.
dente ou disfarçada. consensual na comunidade aca- Já o Writer, versão livre do
Daí a necessidade de um dêmica é a de que todo softwa- Word, pode ser usado para fa-
olhar mais crítico acerca de al- re que apresenta uma zer cruzadinhas, caça-pala-
guns softwares que se dizem metodologia que contextualize vras, estudo de texto e
educativos, pois nem sempre o o processo ensino-aprendiza- gramática, produção textual,
que está no rótulo representa gem, pode ser considerado edu- confecção de jornal escolar, en-
de fato o seu conteúdo. Para cativo. Portanto, a fim, as possibilidades educati-
efeito de exemplificação, um de- classificação software educati- vas são quase infinitas.
terminado software nacional vo deve ter como critério a finali- Portanto, estes softwares origi-
de língua portuguesa, proprietá- dade educativa para qual o nalmente não foram criados
rio, um dos mais aclamados e programa é utilizado. com fins educativos, mas po-
vendidos do país, tem como ce- Desta forma, existem dem ser considerados educati-
nário (pasmem!) um cabaré si- softwares educativos criados vos, se dentro da proposta
deral com extraterrestres em para fins educacionais e tam- pedagógica da escola, tiverem
trajes sumários e no melhor esti- bém aqueles criados para ou- como fim, auxiliar o processo
lo francês, com dançarinas de tros fins mas que acabam de ensino-aprendizagem no
Can-Can que a cada acerto do servindo a este propósito, de- contexto da informática educati-
jogador fazem demonstração vendo ser conceituados em re- va.
de seu “balé” como recompen- ferência à sua função, e não à A Informática Educativa
sa. Já a cada erro, a persona- sua natureza. privilegia a utilização do com-
gem que representa a criança Assim, o software educaci- putador como a ferramenta pe-
que interage com o computa- onal é todo aquele que é utiliza- dagógica que auxilia no
dor, recebe um tiro na face, pa- do de forma a contribuir com a processo de construção do co-
rodiando o clássico Patolino. aprendizagem. Por exemplo, o nhecimento. Neste momento,
(Quem não lembra, na infân- Calc, aplicativo da OppenOffi- o computador é um meio e não
cia, do azarado Patolino, o pa- ce, que foi idealizado para ser um fim, devendo ser usado
to que passava o episódio uma planilha eletrônica, para considerando o desenvolvimen-
inteiro a fugir das balas de Hor- uso em escritórios, em ativida- to dos componentes curricula-
telino, mas sempre levava o pi- des que requeiram cálculos e res. Nesse sentido, o
or contra o coelho mais afins, contudo, torna-se um computador transforma-se em
esperto do cinema, perdendo software educativo, se no labo- um poderoso recurso de supor-
sempre seu bico ao final.) Co- ratório de Informática Educati- te à aprendizagem, com inúme-
mo diria Patolino: “você é um va (LIE), a professora utilizar ras possibilidades
ser desprezível”. É inaceitável esse programa para ensinar ci- pedagógicas, desde que haja
que em pleno século XXI, edu- ências, criar gráficos, tabelas e uma reformulação no currículo,
cadores estimulem seus alu- planilhas nas aulas de matemá- que se crie novos modelos me-
nos a utilizar softwares tica, criar exercícios com o auxí- todológicos e didáticos, e prin-
proprietários, tendo opções li- lio deste software. cipalmente que se repense
vres, gratuitas e de qualidade qual o verdadeiro significado
indubitavelmente superior. Da mesma forma, o Im- da aprendizagem, para que o
press, editor de slides, pode

Revista Espírito Livre | Abril 2009 | http://revista.espiritolivre.org |50


EDUCAÇÃO · LINUX NAS ESCOLAS

computador não se torne mais a partir das próximas edições, perdedores. Todos os setores
um adereço travestido de mo- será destacar alguns destes da sociedade se beneficiam.
dernidade. projetos e softwares livres, dis- Enfim, o grande desafio da atu-
O Software Livre oferece cutindo-os com mais profundi- alidade consiste em trazer es-
uma gama de alternativas que dade dentro do contexto sa nova realidade para dentro
podem ser utilizados na educa- educativo nacional. da sala de aula, o que implica
ção. Na verdade, é cada vez As ferramentas computaci- em mudar, de maneira signifi-
mais crescente o número de onais, especialmente o softwa- cativa, o processo educacional
tecnologias livres que são cria- re livre, podem ser um recurso como um todo.
das e/ou podem ser adaptadas rico em possibilidades que con-
para educação. Em âmbito naci- tribuam com a melhoria do ní- Maiores informações:
onal cresce o interesse de estu- vel de aprendizagem, desde
dos acerca dos benefícios do que haja uma reformulação no Projeto Software Livre
software livre na educação, des- currículo, que se crie novos mo- Educacional:
tacando-se o LATES – Labora- delos metodológicos, que se re- http://sleducacional.org
tório de Tecnologia pense qual o significado da
Educacional e Software Livre aprendizagem. Uma aprendiza- Blog Software Livre na Educação:
mantido pela Universidade Esta- gem onde haja espaço para http://softwarelivrenaeducacao.wordpr
dual do Ceará. que se promova a construção ess.com

Da mesma forma, o Minis- do conhecimento. Conhecimen-


tério da Educação, tem investi- to, não como algo que se rece- Linux Educacional:

do em softwares livres, be, mas concebido como http://www.linuxeducacional.com

acreditando no seu potencial relação, ou produto da relação


educativo, a exemplo da distri- entre o sujeito e seu conheci-
buição nacional Linux Educacio- mento. No qual esse sujeito
SINARA
nal, sistema operacional descobre, constrói e modifica, DUARTE é
de forma criativa seu próprio co- professora da
sugerido para laboratórios de in- rede municipal de
formática educativas das esco- nhecimento. Essa é a filosofia Fortaleza,
las públicas nacionais. do software livre! pedagoga,
especialista em
De fato, têm crescido o in- A única forma de produzir Informática
Educativa e
teresse das comunidades de uma mudança efetiva na educa- Mídias em
mantenedores em trazer o ção é através da revolução soci- Educação, com
al e acreditar que o esforço ênfase no
pingüim para sala de aula. Um Software livre.
exemplo disso são os projetos coletivo ou individual de um pro- Colaboradora do
fessor pode sim fazer uma gran- Projeto Software
Edubuntu, Kelix, Pandorga, Livre Educacional
Debian-Edu, Kde-edu, versões de diferença. Construir de e mantenedora
customizadas da GNU/Linux forma colaborativa o conheci- do Blog Software
Livre na
de cunho eminentemente edu- mento é uma revolução silencio- Educação.
cativo. Assim, nosso objetivo, sa, no qual não existem

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HUMOR · QUADRINHOS

QUADRINHOS
Por Rodrigo Leão e Karlisson de Macêdo Bezerra

LINO E WINO

NERDSON NÃO VAI À ESCOLA

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EVENTOS · DOCUMENT FREEDOM DAY

DFD'09: 25 de Março
Document Freedom Day
Por João Fernando e Lázaro Reinã

O Dia da O Dia da Liberdade dos


Documentos (DFD) é um dia
pa, OSL, IMatix, Red Hat,
Opentia, Sun Microsystems,
global para Libertação dos Do- IBM, Esoma, The Open
Liberdade dos cumentos. É um dia de ativida- Learning Centre, Estandares
des de base ao redor do Abiertos.
Documentos mundo com o objetivo de pro- No estado do Espírito
mover e desenvolver a consci-
(DFD) é um ência da relevância dos
Santo, a Iniciativa Espírito Li-
vre e o Grupo de Usuários
Formatos de Documento Li- BrOffice.org estiveram envolvi-
dia global vres em particular e dos Pa- dos na organização de duas
drões Abertos em geral. atividades para comemorar es-
para O Document Freedom te dia.
Day - DFD - é apoiado por um
Libertação grande grupo de organizações
e indivíduos, incluindo, mas 25/03 - Escola Estadual
dos não limitado a Ars Aperta, Irmã Maria Horta
COSS, Fundações Software Li- Na quarta-feira, 25/03/09,
Documentos. vre Europa e América Latina, ocorreu o Documents Freedom
ODF Alliance, OpenForum Euro- Day, evento de dimensões

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EVENTOS · DOCUMENT FREEDOM DAY

Ao fim das atividades na


escola Irmã Maria Horta, os
alunos pediram vários CD's,
tanto do BrOffice.org quanto
do Ubuntu GNU/Linux, mos-
trando assim que o objetivo do
evento foi atingido ali.

28/03 - IFES Unidade Vi-


tória
Já no dia 28 de março, a
Iniciativa Espírito Livre e o Gru-
po de Usuários BrOffice.org do
Espírito Santo estiveram pre-
sentes organizando o DFD'09
[Dia da Liberdade dos Docu-
mentos] no auditório do IFES -
Unidade Vitória (anteriormente
João Fernando (GUBrO-ES / Iniciativa Espírito Livre) na Escola Irmã Maria Horta chamado de CEFET-Vitória). O
evento foi aberto ao público
mundiais que tem como objeti- vantagens de se utilizar o em geral e contou com a pre-
vo divulgar e conscientizar a so- BrOffice.org e fazendo um para- sença de alunos de cursos téc-
ciedade quanto ao uso de lelo entre os padrões abertos e nicos da Grande Vitória,
documentos abertos. os modelos proprietários. De universidades, prefeitura, entre
maneira bem descontraída os outros.
Este ano o evento realiza-
alunos puderam absorver a
do em Vitória-ES teve duas ver- Os trabalhos começaram
apresentação de todas essas
tentes, uma delas no dia 25/03 às 08 da manhã, com a
vantagens e benefícios. A pa-
onde as atividades foram reali- chegada dos participantes e o
lestra teve uma repercussão
zadas na Escola Estadual de recebimento dos alimentos
grande entre os alunos que per-
Ensino Fundamental e Médio Ir- referente a inscrição. Em segui-
maneceram compenetrados no
mã Maria Horta. Neste dia fo- da, João Fernando, da Iniciati-
assunto até o fim da segunda
ram apresentadas duas va Espírito Livre/GUBrO-ES,
palestra.
palestras direcionadas aos alu- abriu oficialmente o DFD'09
nos da escola, cujos temas fo- A segunda palestra foi neste dia, sugerindo discus-
ram voltados para a apresentada por Romulo Sam- sões e propostas a partir do
conscientização da importân- paio Pires, estudante do curso próprio evento em relação aos
cia do uso de padrões abertos. de Sistemas de Informação, formatos abertos de documen-
que palestrou sobre "Documen- to. Hélio Ferreira, em seguida,
A primeira palestra foi
tos Abertos" completando a pa- inicia o ciclo de palestras às 09
apresentada por João Fernan-
lestra anterior, ele falou da da manhã com a palestra "A
do Costa Junior, líder do GU-
importância do uso de docu- Importância Social dos Pa-
BrO-ES (Grupo de Usuários de
mentos abertos além de dar al- drões Abertos, que como o pró-
BrOffice.org no ES), que pales-
gumas informações sobre prio título sugere, mostrou a
trou sobre "Conhecendo o
Software Livre em geral. importância na sociedade dos
BrOffice.org", apresentando as
padrões e formatos abertos,

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EVENTOS · DOCUMENT FREEDOM DAY

amplamente difundidos por fer-


ramentas livres.
A seguir, Gustavo Pache-
co, da ONG BrOffice.org, que
reside em Porto Alegre/RS, e
que estava de passagem pelo
estado do Espírito Santo, enri-
queceu ainda mais o evento
com a palestra BrOffice.org e
Padrões Abertos, demonstran-
do aos presentes as diversas
vantagens do software e do for-
mato ODF.
Gustavo, apresentou ain-
da casos de sucesso do passa-
do e presente, mostrando mais
uma vez que é crescente o
uso de tal ferramenta e a ado-
ção dos padrões abertos de do- Gustavo Pacheco (BrOffice.org / ASL) no IFES Vitória
cumento. Rubens Júnior fecha
foi novamente mencionado
o ciclo de palestras com a pa- JOÃO FERNANDO
assim como no LinuXmas COSTA JÚNIOR é o
lestra "Java e o padrão aber-
2008. Em breve haverá novida- líder do GUBrO-ES e
to", apresentando a linguagem responsável pela
des a respeito. Iniciativa Espírito
e as vantagens de seu uso.
Livre / Revista
Em todas as palestras, Espírito Livre.

houve uma boa participação Doação de alimentos


dos presentes, em sua grande A entrega dos alimentos
maioria estudantes e jovens, fa- arrecadados durante o evento LÁZARO REINÃ é
usuário Linux,
zendo perguntas e mostrando está prevista para acontecer estudante C/C++,
interesse no assunto ali apre- entre a segunda e a terceira se- Lua, CSS, PHP.
mana de abril, no Projeto Soci- Integrante do EESL,
sentado. ministra palestras e
al Amor e Vida, localizado no mini-cursos em
O término do evento con- diversos eventos de
Bairro Jardim América, em
tou com o sorteio de brindes, Software Livre.
Cariacica/ES.
entre eles mídias de Linux, cha-
veiros e bolsas de estudo em
cursos de Linux e Java na
Point Treinamentos. O sorteio
aconteceu de forma bem des-
contraída e animada, contando
com a participação de todos
nas brincadeiras e piadas habil-
mente preparadas pelo comedi-
ante-desenvolvedor Rubens
Jr. O projeto iNDEX também

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AGENDA · O QUE TÁ ROLANDO NO MUNDO DE TI

AGENDA
ABRIL Evento: Tchelinux 2009 MAIO
Santo Ângelo
Evento: 2° CONSOLIP - Data: 25/04/2009 Evento: I FreeFESP
Congresso de Software Livre Local: Santo Ângelo/RS Data: 04 a 06/05/2009
do Interior Paulista Local: Curitiba/PR
Data: 08 a 11/04/2009 Evento: 14º EDTED -
Local: Araras/SP Encontro de Design e Evento: Brazilian Road Show
Tecnologia Digital 2009 - Java EE Open Source
Evento: 9ª Rio Wireless - Data: 25/04/2009 Data: 05/05/2009
Internet Móvel: A Nova Local: São Paulo/SP Local: Cuiabá/MT
Fronteira
Data: 15/04/2009 Evento: 1º Encontro do PHP Evento: II EeBrO
Local: Rio de Janeiro/RJ MG Data: 07 e 08/05/2009
Data: 25/04/2009 Local: Osasco/SP
Evento: Workshop Futuro da Local: Belo Horizonte/MG
Internet Evento: Brazilian Road Show
Data: 15/04 e 16/04/09 Evento: FLISOL - Festival 2009 - Java EE Open Source
Local: Campinas/SP Latino-Americano de Data: 20/05/2009
Instalação de Software Livre Local: Porto Alegre/RS
Evento: Palestra Data: 25/04/2009
Desenvolvimento de Local: Diversas cidades da Evento: Brazilian Road Show
aplicativos com Adobe Flex América Latina 2009 - Java EE Open Source
Data: 15/04/09 Data: 27/05/2009
Local: Porto Alegre/RS Evento: Palestra Local: Rio de Janeiro/RJ
Virtualização de Infra-
Evento: Palestra Carreira e estrutura com Linux Evento: Free Software Bahia
Certificações em Banco de Data: 28/04/2009 2009
Dados Oracle Local: Piracicaba/SP Data: 28 e 29/05/2009
Data: 15/04/09 Local: Salvador/BA
Local: São Carlos/SP Evento: Brazilian Road Show
2009 - Java EE Open Source Evento: III ENSL e IV Festival
Evento: C&Tec - Mostra de Data: 29/04/2009 Data: 29 e 30/05/2009
Ciência e Tecnologia Local: Uberlândia/MG Local: Salvador/BA
Data: 22/04 a 28/04/2009
Local: Campinas/SP

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