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A Sociologia de Talcott Parsons

Introdução

No início do século XX, entre uma crise internacional do capitalismo e entre as


duas guerras mundiais, surgiu na sociologia americana um autor que se definia a si
mesmo como sendo um teórico extremo.

Talcott Parsons foi um dos responsáveis por dotar a sociologia de uma posição
de destaque na comunidade académica norte-americana. Trabalhando num período
histórico muito conturbado, Parsons contrariou a tendência seguida pelos seus
conterrâneos e passou a dedicar todo o seu esforço na fundação de uma base teórica
consistente que pudesse conferir um status verdadeiramente científico à sociologia do
seu país, que até então marcada pelo empiricismo, dispersão e por uma certa
superficialidade.

Talcott Parsons é possui uma vasta e controversa produção científica e, embora


actualmente não haja uma aceitação geral da sua sociologia, a sua análise é de grande
importância, mesmo que apenas revele alguns aspectos importantes muitas vezes
ignorados pelos sociólogos, nomeadamente a necessidade de teorização.

A sociologia da Parsons surgiu com a preocupação de responder à crise


internacional dando ênfase à ordem social como o fundamento para a estabilidade dos
sistemas de interacção entre os actores sociais.

Aqui encontramos uma influência de Durkheim, pois este autor foi também
motivado pelo ideal de superação da crise moral e política que se vivia na Europa no
final do século XIX.

Parsons acreditava ser possível um aperfeiçoamento gradual do capitalismo


mundial, o qual reconhecia ser imperfeito. Para isso, constrói uma teoria que enfatiza o
esforço individual e a acção activa dos actores sociais. Em vez da coesão social ser o
resultado da existência colectiva durkheimiana, Parsons entende que os homens,
devidamente organizados nas sociedades, poderiam estabelecer compromissos sociais
conscientes e construir consensos que tornariam viável a composição de uma sociedade
estável e produtiva.
Funcionalismo e Estrutural-Funcionalismo

O estrutural-funcionalismo "pode ser interpretado como uma corrente teórica


sociológica que compreende o social pela ideia da instituição de sistemas, que podem
ser entendidos pelo funcionamento das suas partes, mas de forma interactiva e com vista
à integração do conjunto, ou seja, procura-se explicar o funcionamento sistemático do
social, por uma visão institucionalista, tomando-se analiticamente semelhança a um
corpo orgânico"1.

Esta relação do todo e das partes que o compõem, certamente encontra uma
referência no pensamento de Durkheim, quando este define que os fenómenos sociais
encontram uma receptividade na própria constituição orgânico-psíquica do indivíduo.

Tanto no Funcionalismo como no Estrutural-Funcionalismo verifica-se uma


existência de uma compreensão da sociedade como sendo um conjunto complexo de
acções individuais unificadas por uma cultura comum.

A teoria sistémica desenvolvida por Parsons acabou por configurar o estrutural-


funcionalismo, que juntamente com o positivismo e o funcionalismo clássico compõem
um conjunto de teorias sociais enfatizadoras da ordem e da estabilidade. Mas Parsons
distanciou-se das teorias precedentes nalguns alguns aspectos, sobretudo na importância
que deu à acção voluntária e não condicionada dos actores.

O contributo dos clássicos

O contributo dos clássicos foi muito importante para a formulação da teoria da


acção em Parsons. A sua obra The Structure of Social Action reúne várias ideias de
pensadores importantes - Alfred Marshall, Émile Durkheim, Vilfredo Pareto e Max
Weber. Também possui influências de Freud.

Parsons afirmava que nas obras destes autores (à excepção de Freud) havia uma
certa convergência. As obras destes autores têm uma relação efectiva com a teoria da
acção e, de certa forma, existe nelas um sistema teórico comum - o voluntarismo. Esta
convergência de pensamento fez com que Parsons reinterpretasse as obras daqueles
autores, o que levou a um novo pensamento - a Teoria Geral da Acção.

Desta forma, o livro The Structure of Social Action centra-se sobretudo no


desenvolvimento de um sistema teórico coerente a que Parsons chamou Teoria
1
Cordova, Maria Julieta Weber, Talcott Parsons e o Esquema Conceptual da Acção, Revista
Emancipação Vol.6(1), Departamento de Serviço Social e Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2007, pp. 257-276.
Voluntarista da Acção. Esta teoria representa uma síntese dos conhecimentos e dos
conceitos das escolas utilitarista, positivista e idealista.

Sendo a acção social um dos conceitos mais importantes na teoria de Parsons,


sociologicamente, foi Pareto o primeiro a tratar este assunto com profundidade,
dividindo as acções sociais em lógicas (se existe coincidência entre o objectivo e o
subjectivo) e não lógicas (se essa coincidência não acontece).

Para Weber, "a acção é social na medida em que, em função da significação


subjectiva que o indivíduo ou os indivíduos que agem lhes atribuem, toma em
consideração o comportamento dos outros e é por ele afectada no seu curso"2.

Embora com algumas diferenças, a Teoria da Acção Social de Parsons partilha


algumas premissas com o modelo de acção social de Weber. Parsons tentou criar um
conceito unificado de acção social na teoria sociológica e propões-se a analisar este
assunto de uma forma analítica.

Ainda em Weber, Parsons interessou-se pela tese que ele escreveu sobre as
origens do capitalismo e pela relação que estabeleceu sobre a religião, entre valores,
práticas e crenças.

Em Durkheim também estuda a sua tese sobre a consciência colectiva, as


sanções e a interiorização das normas, como forma de assegurar a solidariedade
orgânica.3

Com o contributo dos clássicos, Parsons pretendeu chegar a um conceito


unificado de acção social, ou seja, pretendeu a unificação conceptual no seio da
Sociologia.

O elemento voluntarista na sociologia de Talcott Parsons

Na sua formulação inicial, Parsons define o voluntarismo como sendo o


processo subjectivo da tomada de decisões dos actores individuais, observando

2
Rocher, Guy, Sociologia Geral, p.42
3
Segundo Durkheim, a Solidariedade Orgânica é uma característica das sociedades capitalistas, onde,
através da divisão do trabalho social, os indivíduos tornam-se interdependentes, garantindo, assim, a
união social, mas não pelos costumes, tradições etc. Os indivíduos não se assemelham, são diferentes e
necessários, como os órgãos de um ser vivo. Assim, o efeito mais importante da divisão do trabalho não é
o aumento da produtividade, mas a solidariedade que se gera entre os homens.
essas decisões como o efeito parcial de certos tipos de constrangimentos normativos
e situacionais.

Parsons, ainda que insista na ideia de uma necessidade de ordem e seja


reconhecidamente um conservador, inclui um elemento voluntarista no funcionalismo,
sendo a acção humana uma variável importante para a complexidade de interacções que
constituem o sistema social. De acordo com ele, os homens agiriam de forma orientada
e tendo sempre em vista determinados fins.

Essas acções não seriam totalmente pré-definidas e os actores sociais, nas suas
interecções diárias, desempenhariam um papel activo na formação dos valores comuns
que os unificam e tornam-se possível a organização social.

Ao contrário do que os funcionalistas clássicos diziam, no estrutural-


funcionalismo norte americano as normas sociais ou morais aparecem apenas como um
dos elementos básicos de uma estrutura complexa que compõe o sistema de acção
social.

Sistema de acção, sistema social e sociedade

Para Parsons, "a acção social é todo o comportamento humano motivado e


guiado pelas significações que o actor descobre no mundo exterior, significações
que tem em conta e a que responde. Os traços essenciais da acção social residem
portanto na sensibilidade do acor à significação das coisas e dos seres ambientais, à
tomada de consciência dessas significações e à reacção às mensagens que estas
últimas transmitem"4

A acção social implica sempre: um actor; um fim para o qual se orienta; um


ambiente ou uma situação. A acção social situa-se em quatro contextos: o biológico, o
psíquico, o social e o cultural.

Numa tentativa de tornar a sociologia como uma ciência rigorosa, Parsons


estabelece como base de seu modelo teórico o conceito de sistema social (que difere do
conceito de sociedade). Quando Parsons fala de sociedade, é a uma realidade concreta,
circunscrita e localizada, que se está a referir.

Para ele o sistema social consiste "numa pluralidade de actores individuais


interactuando uns com os outros numa situação que contém pelo menos um
aspecto físico ou um meio ambiente, actores motivados por uma tendência para
obter um óptimo de gratificação e cujas relações com as suas situações - incluindo

4
O sistema das sociedades modernas p.15
os outros actores - estão mediadas e definidas por um sistema de símbolos
culturalmente estruturados e compartilhados"5.

Assim entendido, o sistema social é um instrumento de análise, uma forma de


compreender o real mas não é o equivalente conceitual de uma realidade concreta.

O objectivo de Parsons não é analisar a manifestação externa das acções dos


indivíduos em sociedade, mas sim a sua padronização, os seus produtos padronizados e
significativos, desde instrumentos até obras de arte, bem como os mecanismos e
processos que controlam essa padronização.

Segundo a formulação parsoniana, os actores agiriam a partir de uma orientação


prévia correspondentes a situações específicas. Estas orientações seriam sempre
dirigidas a objectos, que ele divide em três classes.

A primeira classe seria a dos objectos sociais, composta pelos actores, que
poderiam ser qualquer outro actor individual (alter), o actor em si mesmo quando o seu
ponto de referência é ele mesmo (ego), ou a colectividade.

A segunda classe seria constituída pelos objectos físicos, que não interagem, são
incapazes de responder ao ego, mas que são alvos das suas orientações, ou seja, esses
objectos seriam os meios e condições necessárias à acção.

A terceira classe seria composta pelos objectos culturais, i. e., elementos


simbólicos, ideias e crenças tratadas como objecto pelo ego e não interiorizados como
elemento constitutivo da sua personalidade.

Assim sendo, identificamos que a unidade elementar dos sistemas sociais são as
acções orientadas dos indivíduos em relação a objectos específicos numa dada situação.

De acordo com o conceito de sistema social, uma cultura comum seria um


requisito fundamental para o estabelecimento de um sistema de acção estável, mas essa
unidade cultural não pode ser entendida como sinónimo de uma consciência colectiva.

Guy Rocher no seu livro Talcott Parsons et la Sociologie Américaine diz que
podemos distinguir três níveis de análise no uso do termo sistema. O primeiro é o do
esquema conceitual da teoria geral da acção, composto por quatro subsistemas:
adaptação (adaptation) prossecução de objectivos (goal attainment), integração
(integration) e latência (part maintenance/latency) Este é o nível de análise mais
abstracto, mais geral.

O segundo nível de abstracção é aquele em que Parsons distingue no sistema de


acção quatro subsistemas: o sistema do organismo comportamental (ou orgânico), o
sistema da personalidade, o sistema social e o sistema cultural.

Por fim, o terceiro nível de análise é o dos conceitos que correspondem a


realidades concretas. É o caso da noção de sociedade.
5
Social System
Os subsistemas da sociedade

No sistema geral de acção, a sociedade é considerada como um subsistema


integrador, que responde a uma das quatro funções primárias de todo o sistema. A
sociedade desdobra-se em quatro subsistemas: comunidade societária, manutenção do
padrão (ou estabilidade normativa), governo e economia6.

A cada um dos subsistemas referidos corresponde uma função: à economia,


enquanto conjunto de actividades que assegura a produção e circulação de bens de
consumo, corresponde a adaptação; ao governo, entendido como o conjunto complexo
de processos e meios de tomada de decisão, organização e mobilização de recursos do
sistema sociedade, cabe a função de prossecução de objectivos (goal attainment); o
subsistema da manutenção de padrão, enquanto transmissor de cultura, assegura, através
da socialização, a persistência dos modelos de agir e de pensar da sociedade; por fim, a
função de integração é assegurada por meio do subsistema que Parsons denomina
comunidade societária, pois através de instituições como o direito e o aparelho
judiciário, leva os membros a solidarizarem-se na interacção.

Entre os diversos subsistemas há um fluxo constante de trocas. Cada subsistema


recebe dos três restantes elementos (inputs) que são necessários à persistência activa e,
por sua vez, cede-lhe outros elementos (outputs) que são o resultado do seu próprio
funcionamento.

Os subsistemas intercomunicam por meio de símbolos (meios de troca) - a


moeda no subsistema económico; o poder no subsistema político; a influência no
subsistema comunidade societária; os compromissos (commitements) no subsistema de
manutenção do padrão ou de estabilidade normativa.

Componentes estruturais do sistema social sociedade

Parsons distingue quatro categorias de componentes estruturais: os valores, as


normas, as colectividades e os papéis.

Sendo a unidade do sistema social o actor, a estrutura social é um sistema


modelado das interrelações sociais dos actores. Na maior parte das relações o actor não
participa como entidade total. Participa unicamente como sector diferenciado da sua

6
sistema das sociedades modernas, p.22
acção total. A esse sector de um sistema de interrelação, chama-se papel. É através da
actuação dos seus diferentes papéis que cada indivíduo se transforma em actor.

As colectividades podem ser entendidas como teias de papéis que se tecem umas
às outras à volta de certos valores ou ideias.

As normas ou modelos de comportamento são maneiras de pensar e de agir


apreciadas, difundidas e penalizadoras dentro de um universo social particular. São elas
que orientam os comportamentos concretos de acordo com os valores aceites na
colectividade.

São os valores que precisam as orientações desejáveis para o sistema como um


todo, enquanto que as normas especificam o comportamento desejável em cada papel,
ou nas colectividades componentes de um sistema mais complexo (famílias, igrejas,
empresas, universidades, etc).

Teoria Geral da Acção

Parsons considera toda a acção como uma totalidade do "unit-act", não sendo
nem simples nem isolada. Para os fins da teoria da acção, o acto-unidade (unit-act) é a
unidade concreta mais reduzida que se pode conceber. O acto é um conjunto
diferenciado de factores interrelacionados que compreende um actor, um objectivo e
uma situação.

Esta situação, onde se inicia e se dá o acto, é composta por sua vez por dois
elementos interrelacionados: as condições, sobre as quais o actor não tem qualquer tipo
de controle, e pelos meios, que o actor pode controlar.

Assim sendo, a acção pressupõe um actor numa determinada situação em parte


controlada por ele e uma combinação de fins submetidos à escolha do actor através de
um conjunto de critérios normativos.

Parsons distingue ainda uma dupla perspectiva na acção: a estrutura normativa


da acção, que remete para os conjuntos sociais ao nível macrossociológico, e a
orientação normativa da acção que corresponde às condutas ao nível microssociológico.

Para Parsons, a acção humana está situada entre duas realidades de "não acção"
que a condicionam: o meio ambiente físico e o meio ambiente simbólico ou cultural,
sendo este último aquilo que dá à acção humana um significado específico na medida
em que ela se reveste de um carácter simbólico e normativo.
Os sistemas de acção estruturam-se em volta de três focos integrativos que são o
actor individual ou sujeito-actor, o sistema interactivo e o sistema de pautas culturais.
Estes sistemas de acção requerem, por sua vez, uma condição de estrutura (composta
pelos modelos normativos ou pelas variáveis estruturais que têm esse papel), por uma
noção de função7, ou seja, pelos pré-requisitos funcionais e também pelos processos do
próprio sistema.

As variáveis estruturais, sendo o eixo central da teoria geral da acção de Parsons,


sobretudo na obra Social System, são constituídas pelos modelos culturais e servem para
estruturar o sistema de acção. Parsons divide-as em: variáveis estruturais da modalidade
do objecto (que são o universo e o particularismo), a performance e a qualidade;
variáveis estruturais de orientação para o objecto (que são a neutralidade afectiva e a
afectividade, a especificidade e a difusão).

Parsons diz ainda que existem quatro funções em todo o sistema de acção, cada
uma existindo especificamente para responder a uma necessidade do sistema. Estas
funções só poderão ser satisfeitas se existirem funções correspondentes, a que Parsons
chama pré-requisitos funcionais. Estes pré-requisitos funcionais do sistema social são
cumpridos por meio dos papéis.

Os papéis no sistema social são como os órgãos no organismo humano e de um


ponto de vista de um funcionamento social estas funções do sistema geral de acção são
a adaptação ao ambietne físico, a prossecução dos objectivos (goal-attainment), a
integração interna do sistema e a estabilidade dos padrões ou função de latência (part-
maintenance).

No que se refere aos processos, Parsons afirma que o sistema de acção não é
estático, estando sim em movimento precisamente por causa destes processos. Daqui
surge-nos a noção de equilíbrio. Em teoria, o conceito de equilíbrio tem uma referência
normativa. Desde que a estrutura do sistema social consista numa cultura normativa
institucionalizada (como é o que Parsons pretende) a manutenção destes padrões
normativos constitui uma referência básica para analisar o equilíbrio do sistema, o seu
desequilíbrio, mudança estrutural, etc.

Por outro lado, Parsons afirma que o sistema social está em constante actividade
- a dinâmica do equilíbrio social - querendo com isto dizer que o movimento faz parte
da própria natureza do sistema social.

7
Parsons diz que a noção de função diz respeito a um conjunto de actividades destinadas a responder a
uma necessidade do sistema, enquanto sistema.
Para Parsons, a noção de equilíbrio permite observar melhor os desequilíbrios
permanentes na relação actor-situação, tal como possibilita analisar de forma mais
correcta os processos que acarretam estes desequilíbrios.

No livro Social System o autor fala de uma hierarquia cibernética do sistema


geral de acção que constitui um importante princípio de integração e de mudança. Esta
hierarquia cibernética diz que existe no sistema de acção uma circulação de energia e de
informação que provoca a acção do sistema.

Observamos que "os elementos fundamentais de todo o sistema de acção são


o actor e a sua situação, sendo esta composta por objectos físicos e objectos sociais,
existindo assim uma relação de acção e uma relação de interacção. A existência de
certas relações supõe a existência de factores que as estruturem, lhes confiram uma
certa estabilidade e lhes permitam uma certa duração"8. Nesta medida, para Parsons
a acção humana é cultural, pois para ele os sentidos e as intenções referentes aos actos
são formados através de sistemas simbólicos.

A teoria da acção social na sociologia Parsoniana

Na sociologia parsoniana existe uma tendência para fazer coincidir o conteúdo


normativo com o conteúdo subjectivo da acção. Apesar de reconhecer os aspectos
biológicos e hereditários dos elementos constituintes de toda a acção social (actor,
situação, símbolos, normas e valores), Parsons atribui uma importância especial aos
símbolos, normas e valores, pelo que é possível afirmar que ele tem uma visão
hipersocializada da acção.

A socialização é, para Parsons, um mecanismo para imprimir valores, ou seja, é


através dela que os homens transmitem e recebem valores. Ele olha para os valores
como sendo o elemento fundamental de ligação entre os sistema cultural e o social,
sendo as normas essencialmente sociais, integrativas, e reguladores dos processos que
contribuem para a execução de práticas padronizadas de valor.

Parsons define valor como "um elemento de um sistema simbólico


compartido que serve de critério para a selecção entre as alternativas de
orientação que se apresentam intrinsecamente abertas numa situação"9.

Assim podemos concluir que, para Parsons, a sociedade mais não seria que um
sistema de valores e que este sistema de valores seria totalmente integrado, na medida
em que considera a integração como a função social por excelência e os valores comuns
como sendo a condição da integração.
8
Maria Stock, TAS
9
PARSONS, Talcott, The Social System, El Sistema Social (trad. castelhana), Revista de Occidente,
Madrid, 1979, p.22.
Isto seria basicamente o essencial da Sociologia de Parsons, que o autor define
como sendo "a ciência que procura desenvolver uma teoria analítica dos sistemas
de acção social (que implica uma pluralidade de actores mutuamente orientados
para a acção recíproca), na medida em que estes sistemas podem ser entendidos
em termos de propriedade da integração de valores comuns"10.

Como já foi referido, Parsons identifica a existência de um sistema geral de


acção que divide em quatro subsistemas: social, cultural, de personalidade e organismo
comportamental.

O sistema social, que já foi definido anteriormente, aparece como o componente


principal deste sistema maior. O sistema cultural é composto pelos padrões de valores
comuns aos actores que orientam os seus comportamentos. O sistema de personalidades
diz respeito aos elementos individuais que definem os objectivos das acções dos actores.
Este nível do sistema é o responsável por integrar a tomada de decisões por parte dos
indivíduos como uma variável importante na explicação geral. Por fim o organismo
comportamental está relacionado com as disposições e habilidades necessárias à acção.

Para além de serem constituídos por elementos distintos, os níveis do sistema de


acção desempenham funções específicas no complexo social.

O sistema social é responsável pela integração (integration), uma vez que é


composto pela interacção entre os agentees. Isto não é algo simples, pois estes agentes
são ao mesmo tempo actores e objectos de orientação. Além disso a integração torna-se
ainda mais complexa devido ao facto de cada um desses indivíduos serem também
organismos que possuem desejos e disposições que influenciam directamente os seus
hábitos.

O sistema cultural possui a função de manutenção do padrão através do


estabelecimento de modelos de orientações em relação ao sistema de acção, o mundo
físico, os organismos, as personalidades e os sistemas sociais. O sistema cultural é
responsável pela imposição dos direitos e proibições, determinando o que é correcto e
incorrecto numa sociedade. Apesar de fornecer estas orientações, o sistema cultural não
determina a acção, pois os actores agem de acordo com as determinações originadas nos
outros três subsistemas (social, de personalidade e organismo comportamental).

A terceira função é a da prossecução dos objectivos (goal attainment), que se


refere à relação entre o sistema social e o sistema de personalidades individuais. Esta
função pressupõe aprendizagem e manutenção por parte dos actores e de motivações
adequadas ao padrão de acções existentes no sistema social. Isto implica um
procedimento contínuo de valorização e controle sobre as acções individuais. Quando
um indivíduo age de forma positva a sua actuação é valorizada por um sistema de
10
PARSONS, Talcott, The Structure of Social Action, La Estructura de la Acción Social (trad. castelhana),
Ed. Guadarrama, Madrid, 1977, p.930.
recompensas que o incentiva a continuar a ter essa conduta. Pelo contrário, quando as
motivações e acções não são adequadas para a estabilidade do sistema social, deve ser
exercido controle sobre a personalidade.

Este processo de aprendidazem ocorre durante toda a vida do indivíduo por meio
de um complexo processo de socialização que resulta na construção dos indivíduos
como membros da sociedade.

A última função é a de adaptação (adaptation) e diz respeito às condições


necessárias ao exercício das acções sociais por parte dos indivíduos. Aqui, entram em
cena os elementos básicos que possibilitam a vida e as condições de interacção, como a
alimentação e outras condições físicas.

Em suma, é no sistema social que ocorre a integração entre todos os outros


subsistemas da acção. Parsons realça que cada subsistema deve ser analisado
independentemente, ainda que todos se integrem na composição do sistema de acção
social. Esta independência é importante para a estabilidade do sistema geral, pois é
necessário que haja um equilíbrio entre a liberdade das personalidades, os desejos e
aptidões dos organismos e a padronização cultural.

As quatro funções desempenhadas pelo conjunto dos subsistemas configuram a


complexidade de determinações que actuam sobre a acção social, que são a unidade
básica das sociedades.

Os críticos de Parsons

Muitos teóricos afirmam que grande parte da produção científica de Parsons


reduz-se à esquematização arbitrária do óbvio, enquanto que outros, mais moderados,
assinalam o valor descritivo do esquema AGIL, levantando, no entanto, sérias dúvidas
quanto à sua capacidade de explicação e previsão. Há ainda quem o apelide de
conservador, porque Parsons privilegia o equilíbrio, a ordem social e a estabilidade.

As principais objecções ao sistema de Parsons dizem respeito à solução do


problema da ordem e da mudança social. Existem três categorias de objecções: a
primeira não nega a validade do esquema de Parsons mas considera-o incompleto; a
segunda nega no todo ou em parte essa validade; a terceira evidencia as consequências
sociais da análise sistémica.

A primeira categoria diz que Parsons, ao concentrar a atenção sobre as estruturas


normativas, que mantêm e garantem a ordem social, foi levado a conceber o conflito
como factor sobretudo de consequências destrutivas e disfuncionais. Coser (The
Functions of Social Conflict, 1956) procurou demonstrar como o conflito pode ter
consequências positivas de integração e dinamização.
A segunda categoria dos contestadores é constituída por Dahrendorf, Lockwood
e Wright Mills. Estes diminuem a importância do elemento normativo e sugerem a
oportunidade de construir um outro modelo.

A terceira categoria de críticos vê na análise sistémica uma defesa dos interesses


sócio-políticos do conservadorismo.

Conclusão

Em síntese, podemos afirmar que a sociologia de Parsons caracteriza-se por um


certo psicologismo e culturalismo, na medida em que, por um lado reduz as relações
sociais às motivações dos actores e, por outro lado, confere ao facto social um puro
simbolismo, ou seja, à cultura, composta pelos tais valores partilhados pelos actores.

Parsons é um funcionalista, na medida em que procura estabelecer uma relação


entre o actor e a sua situação, defendendo que as expectativas dos actores e a realização
das suas acções dependem dos condicionamentos que a interacção lhes impõe.

O funcionalismo de Parsons é assim sistémico, evolucionista e estrutural-


funcional. A sua sociologia, possuidora de um idealismo subjectivista, é
fundamentalmente uma sociologia do consenso.

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