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A Solidariedade

Primeira reunião da Super Região Brasil após a posse no Colegiado Nacional ocorrida dia 28.08.04 Itaici -SP
Dias 10-11-12 de setembro 2004

“Deus é amor”
(1 JO 4, 16)
INTRODUÇÃO

Esta verdade é o coração da fé cristã. A caridade é o coração do Evangelho, o caminho


mais inteligível e eficaz da evangelização, especialmente hoje, que são mais estimados os
testemunhos do que os mestres, e os mestres serão acreditados se forem testemunhos.E não
podemos ser testemunhas da fé em Deus, em Jesus Cristo se não buscamos viver uma
relação fraterna com todos, especialmente com os mais excluídos.(As citações bíblicas são
muitas). A fraternidade é a marca do cristianismo. “Vejam como eles se amam”, diziam os
que viam as primeiras comunidades cristãs.

Tentativa de definição de Solidariedade.

O primeiro passo para falar de solidariedade, penso que seja definir, ou tentar descrever, o
que é solidariedade. Parece ser um dos sinais dos nossos tempos, este fenômeno
maravilhoso, chamado solidariedade, e acontece nos mais diferentes níveis da vida e das
necessidades humanas. O Vat II, no Decreto “Apostolicam actuositatem”, sobre o
apostolado dos leigos, número 14, diz assim: “Entre os sinais mais alvissareiros de nosso
tempo, pode-se enumerar o crescente e decisivo sentimento de solidariedade entre todos os
povos”.
Diante de necessidades materiais o nosso povo é muito sensível. É um fenômeno
maravilhoso, ver pessoas das mais diferentes nacionalidades, raças e níveis sociais, se
unirem para um mesmo objetivo: olhar para a pessoa humana em necessidade.

O conceito, “solidariedade” tem uma história bastante longa e que foi tendo um
crescimento e um enriquecimento progressivo ao longo do tempo. Contribuíram muito
neste sentido os meios de comunicação social (MCS), mostrando ao mundo as mais
diferentes necessidades e situações concretas do ser humano e colocando as pessoas em
contato imediato, permitindo compreender melhor que somos e formamos uma só família
humana.
Podemos quase dizer, que, a solidariedade se tornou como que, o lado visível do amor
invisível, ou como diz Bocos Merino, A., a solidariedade se tornou “uma categoria
secularizada da caridade”. Se me permitem, eu diria que a solidariedade é o amor divino
mostrando seu rosto, encarnando-se na pessoa humana, tanto para quem a recebe como para
quem a pratica; é o amor de Deus que se encarna para se encontrar com a pessoa humana.

Toda pessoa humana, mas especialmente o pobre e necessitado é uma oportunidade que
Deus me oferece para que Ele, Deus, possa se revelar e possa agir através de mim.

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O Evangelho nos ensina que a glória do homem não consiste nem nas riquezas e nem no
poder, mas sim na capacidade de oferecer e de servir, como fez Jesus, que veio para servir e
dar a sua vida.
O Sínodo dos Bispos da América afirmava que a solidariedade é um requisito da caridade e
que nasce de um verdadeiro encontro com Cristo. Onde encontraremos este Cristo e
Senhor? Jesus Cristo enviou o Espírito Santo para fazer novas todas as coisas, segundo as
palavras da Escritura, para renovar a face da terra. Sua presença em nosso caminho nos
enche de esperança e de coragem. O Papa repete sempre:”Não tenham medo” , o Senhor
está conosco, ide ao seu encontro.

Onde encontraremos esse Cristo? Basta abrir o coração ao desafio do amor deste mesmo
Jesus e veremos que o encontramos de tantas maneiras. Em primeiro lugar, dentro de nós
mesmos(cf. JO 14, 23), no nosso próximo(cf. Mt 25, 40), sempre que nos reunimos em
seu nome(cf. Mt 18, 20), na sua palavra (cf. JO 1, 1) e nas maravilhas da criação( cf.
Rm 1, 20), no Sacramento da Reconciliação(cf. Jo 20, 21-23) e de um modo mais
perfeito, na Eucaristia( cf. Jo 6, 51ss).

Este requisito da caridade, a solidariedade, hoje é praticada em todas as relações humanas.


Em sua totalidade, a solidariedade, podemos dizer, consiste em “saber compartilhar o que
somos, o que acreditamos e o que temos”.
O Papa João Paulo II “define” a solidariedade, não como um sentimento de terna
compaixão pelos males de tantos, mas define a solidariedade como “uma firme e
perseverante determinação de se empenhar pelo bem comum, isto é, pelo bem de cada um,
porque todos somos responsáveis por todos”. (Sollicitudo rei socialis, 38).

A solidariedade podemos considerá-la segundo os diferentes pontos de vista. O Direito


Romano dá à solidariedade um sentido de obrigatoriedade moral. Vários indivíduos com
um compromisso moral diante de um objetivo único e idêntico que os comprometia na
responsabilidade coletiva.

Deste enfoque jurídico se foi passando para outros enfoques, como filosófico, sociológico
antropológico, social e teológico.

Nestes diferentes enfoques foram se destacando alguns aspectos do homem, onde o


consideramos como indivíduo, aberto às relações com os outros. Numa palavra, o conceito
de solidariedade depende basicamente da idéia que se tem da pessoa humana. E a pessoa
humana é um ser de relações. O homem existe para se relacionar: com Deus, com o mundo
e com os outros seres humanos. “Cada pessoa e cada grupo humano desenvolve sua
identidade no encontro com os outros” (SD 279).

Diante de Deus, sinto-me filho; diante do mundo material, sinto-me senhor e diante dos
outros, sinto-me irmão. Um relacionamento sadio acontece assim. É a partir deste encontro
que surge o compromisso. Eu entro em comunhão com o outro se vejo nele um semelhante
a mim, um ser humano, com os mesmos direitos e a mesma dignidade.

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O ponto de partida para uma autêntica solidariedade entre as pessoas é a consciência da
origem comum, do destino comum. A origem e o destino comum chama à caridade e à
solidariedade com aqueles com quem eu compartilho a origem e o destino.”Existe uma
solidariedade entre todas as criaturas pelo fato de terem todas o mesmo Criador, e de todas
estarem ordenadas à sua glória” (CIC 344) Vejam o Cântico de São Francisco: Louvado
sejas, meu Senhor, com todas as criaturas (CIC 344).
Eu não cresço independentemente dos outros e sem os outros; e, nem meu crescimento
pode ser desligado do crescimento dos outros. Deus não criou o homem para viver
isoladamente, mas para formar comunidade.

“Não é bom que o homem fique só” (Gen 1,27). A exigência da solidariedade é bíblica,
evangélica. (GS 32). “Desde o início da história da salvação, Deus encara os seres
humanos como membros de uma comunidade e não apenas individualmente. Chamou” seu
povo “(Ex 3,7-12)” e com ele fez a aliança no Sinai para manifestar esse seu desígnio.
Deus quer salvar o seu povo, não individualmente, mas em comunidade (cf. LG 9). Deus
sempre fala do “seu povo” e nunca de pessoas em particular, por melhores que fossem
aos seus olhos. Deus conduziu o seu povo, guiado por Moisés, à terra prometida. A terra
prometida é para o seu povo.

O caráter comunitário e solidário da história da salvação se aperfeiçoa em Jesus Cristo, com


sua Encarnação, sua obra e sua doutrina. A Igreja, continuadora da obra de Cristo, é nele
“um sacramento ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo
gênero humano” (cf. LG 1) até que Deus seja tudo em todos (cf. 1 Cor 15,28).

Cristo ao assumir a natureza humana, uniu todos os homens em profunda solidariedade,


tornando-os irmãos (cf. Mt 23, 8) comunicando o Espírito Santo que os torna capazes de
amar a Deus e aos irmãos (cf. Rm 5, 5).

A solidariedade se apresenta, assim, como uma expressão da Koinonia cristã: comunhão


com Deus e com o próximo. O objetivo último da vida humana é a solidariedade perfeita
na eternidade e desta solidariedade fazemos um ensaio neste mundo. É a meta final que
gera dinamismo e que lança a pessoa humana para a ação.

A fonte da solidariedade.

É olhando para o Cristo servidor que descobrimos o seu amor à humanidade. Ninguém
pode se aproximar de Deus sem se sentir levado ao encontro com os irmãos.
A solidariedade cristã nasce do mesmo Deus e tem sua raiz no grande projeto que Deus tem
sobre a pessoa humana. Deus quer que o homem viva em comunhão com ele e com tudo o
que é dele. “Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus”.
Este projeto começa se realizar quando o homem diante de Deus se sente filho; quando
diante do mundo se sente senhor e não escravo e quando diante dos outros se sente irmão e
não um competidor(cf. P 322).

Na revelação bíblica Deus se revela como alguém que quer nos fazer filhos seus e quer que
nossas relações com Ele sejam de filhos. Como filhos, a marca é a confiança e como
irmãos, a marca é a responsabilidade de uns com os outros e não o fatalismo.

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Sem Jesus Cristo, a situação dos homens era a separação, o ódio. Foi Jesus Cristo quem nos
salvou com um gesto da solidariedade para que nós vivamos também a solidariedade.

Sem a solidariedade de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que se despojou a si mesmo e


assumiu a condição de servo (cf. Fl 2, 7; Hb 4, 15) não teríamos recuperado a nossa
dignidade de filhos de Deus. É nossa condição de filhos de Deus e de irmãos que nos
permite, possibilita e facilita a vida solidária entre todos, onde não mais existem as
distinções de raças, línguas, nacionalidades e nem classes sociais (cf. Gal 3,26-28; 5,13; Ef
2,14).

As relações do homem com o mundo também estão presentes no projeto de Deus. O


homem deve passar do uso daquilo que o aliena, o escraviza e, às vezes leva a oprimir os
outros para o uso da liberdade que o faz compartilhar as coisas com os irmãos, num gesto
de solidariedade para fazer brotar uma sociedade justa e humana.

Segundo o plano de Deus, “os bens”, dons de Deus, que cada um recebeu neste mundo são
como que “o lugar” de encontro com o mesmo Deus e com os irmãos. “O egoísmo
escraviza, o amor liberta”, dizíamos no ano 1973, no décimo ano da Campanha da
Fraternidade.
O Papa Paulo VI, em sua mensagem de abertura da CF de 1973, dizia a todos os brasileiros:
Nesta quaresma busquem a conversão com um maior empenho: na oração e na penitência; e
esta conversão desabroche em generosa solidariedade. Este mundo criado por Deus,
conduzido pelo egoísmo dos homens, que causa de tantas divisões, anseia ser libertado
para ser colocado ao serviço da comunhão, no amor solidário (cf. Rm 8, 19-22; cf. GS 40-
43).

Por estas e muitas outras razões, o amor de Deus que nos transforma, torna-se
necessariamente comunhão de amor com os outros, pela participação e fraterna
solidariedade. Sem solidariedade, especialmente nos bens materiais, nunca haverá
comunhão perfeita, hoje as barreiras mais fortes de separação (cf. P 327). As guerras, os
conflitos e a corrida ao armamento, são os grandes sinais reveladores de uma fraternidade
ferida e uma solidariedade ainda distante e pouco ou mal compreendida.
Paulo VI, em 31.12.75, dizia: “Os ideais, se são autênticos, se são humanos, não são
sonhos, mas deveres”. E, sendo deveres, devem nos inquietar e comprometer.

II. A Koinonia: Utopia cristã.

A solidariedade cristã tem seu fundamento na koinonia ou comunhão que temos com Deus
e com os irmãos que Jesus Cristo nos comunica e que nós devemos testemunhar (cf. 1 Jo 1,
1-4).
Existe um texto chave sobre a vida de comunhão com Deus e com a comunidade humana e
cristã, criada à sua imagem: “Como Tu, Pai, em mim e eu em Ti, que eles sejam um em
Nós” (Jo 17, 11-21; cf. 10, 30). O evangelista João, procurando umas fundamentações
bíblicas da comunhão, a que se propõem viver os discípulos de Jesus, volta à Família e
Comunidade originais: A Ssma Trindade. A união entre os filhos de Deus “deve ser uma
unidade como a que existe entre o Pai e seu Filho Jesus. Afirma Dodd Ch. Que as relações
entre o Pai e o Filho “são como que o arquétipo das relações entre Cristo e os cristãos”.

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Neste texto, João tenta realçar a absoluta originalidade da vida de comunhão entre os
cristãos, que nada mais é do que a mesma vida de comunhão que o Pai e o Filho vivem no
Espírito Santo de amor. A comunhão entre as pessoas divinas é o único caminho a ser
seguido pelos filhos de Deus e irmãos em Jesus Cristo. Essa comunhão não é um alvo
inatingível; deve ser uma realidade já presente, ainda que a plenitude seja no reino
definitivo. Toda revelação divina, AT e NT, apontam para esta meta e coloca as exigências,
que na verdade são exigências do amor cujo objeto é Deus e o próximo.

II. Koinonia com Deus na Koinonia com os irmãos.

AT e NT, mostram a experiência de fé como experiência que compromete com a vida. É


um compromisso na relação com o próximo. O amor aos irmãos sempre se apresenta na
Escritura como o caminho para a experiência de Deus e como a expressão de sua
autenticidade. Jesus começa sua missão na Galiléia despertando o interesse dos seus
ouvintes sobre a paternidade de Deus em relação aos homens (Mt 5, 7), mostrando que
pertencemos a uma única família em que todos temos Deus como Pai e que todos, portanto
somos irmãos, com o indiscutível dever da solidariedade.

Os profetas expressam de muitas maneiras a experiência de Deus no amor eficaz e concreto


ao próximo. Encontramos vários conceitos nos livros proféticos, partindo da vida concreta e
que se constituem como critérios para discernir a autenticidade da experiência de comunhão
com Deus.

* Entre estes conceitos destaca-se o conceito “Conhecer Iahweh”, com o significado de


“julgar a causa do humilhado e do pobre” (Jr 22,16; Mq 6,8).

* Outra idéia, “a religião autêntica ou religião interior”. Os vínculos que unem os


seguidores de Jesus, os que praticam uma religião autêntica, são constituídos pela filiação
divina e conseqüentemente pela fraternidade. O amor a Deus aparece como fruto e
expressão do amor ao próximo.

* No Deuteronômio, aparece como principal obra de amor a Deus, a observância dos seus
mandamentos, os quais se referem, em grande parte, às relações com o próximo (cf. Dt 5,
2-21).

No NT, temos a mesma doutrina. João escreve seu Evangelho e suas Cartas a partir de uma
experiência de fé do que é a comunhão com Deus, na experiência da vida fraterna. Para
João, a fé e o amor, são os critérios que possibilitam ver se existe ou não, uma real
comunhão com Deus, ou se é apenas experiência imaginária e vazia de conteúdo real (cf. 1
Jo 1, 1-4; 3 10-18). À luz da fé, o evangelista contempla as manifestações de Deus, sua
maneira de agir na história, e reflete, especialmente sobre o grande dom que o Pai nos fez
de seu Filho (Jo 3, 16) e chega à feliz conclusão que “Deus é amor”.

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Este amor de Deus aos homens tem conseqüências para a vida: é preciso imitá-lo nas
relações com o próximo. É nele que encontramos Deus com segurança (cf. 1 Jo 4, 11-20).
“Tive fome e me destes de comer...”.
O amor ao próximo é a resposta do homem ao amor de Deus e de Cristo. Deve ser um amor
efetivo, feito de obras. (cf. 1 JO 3, 18). A fonte e o modelo é o amor de Cristo e o modelo
de unidade é a que existe entre o Pai e o Filho (cf JO 17, 20-23.26). No dia do juízo final o
que nos deixa confiantes é o amor para com os irmãos. Quem pratica o amor, vive no amor
do Pai como Cristo vive no amor do Pai.

Viver no amor, para São Paulo é manifestá-lo até chegar aos inimigos. Como o amor de
Deus, o amor do cristão deve ser generoso, gratuito, eficaz. O amor é o primeiro fruto do
Espírito (cf. Gal 5, 22), é o vínculo da perfeição, que une e sustenta todas as atitudes cristãs
(cf. Col 3, 12-14), é superior a todos os carismas (cf. 1 cor 12, 31) porque nele está a
plenitude da lei. A fé que é poderosa e capaz de fazer milagres, seria uma força acorrentada
sem o amor. (cf. Gal 5, 6). A esperança não falha porque o amor de Deus foi derramado em
nossos corações (cf. Rm 5, 5-11).

O amor fraterno é a manifestação do amor que o Pai nos mostrou no dom de seu Filho, é
imitação do amor de Cristo. Em Jesus Cristo encontramos a resposta que devemos dar
através do amor aos irmãos. “Vivei no amor como Cristo viveu no amor do Pai e se
entregou por vós” (Ef 5, 2). Sem o amor, todos os carismas perderiam sua força e seu
sentido. Santa Teresinha encontrou no amor todas as vocações. O amor resume a lei e os
profetas (cf. Mt 22, 37-40).

A solidariedade cristã e a Igreja como Povo de Deus e Corpo de Cristo.

Encontramos a solidariedade já no AT, quando Deus escolhe um Povo e com ele faz uma
aliança que reforça a solidariedade entre os que formam este povo. Uma Nova Aliança é
anunciada pelos profetas e realizada por Cristo, fundando o Novo Povo em seu sangue,
sendo ele mesmo a Cabeça deste Novo Povo (At 20, 28; Ef 4, 15).

No Credo confessamos que cremos na Igreja e depois acrescentamos, cremos na comunhão


dos santos. O CIC 946 diz que este artigo “creio na comunhão dos santos” é uma
explicitação do anterior “creio na Igreja” e acrescenta: “Que é a Igreja senão a assembléia
de todos os santos?”. “A comunhão dos santos é precisamente a Igreja”.

O Apóstolo Paulo insiste na unidade que deve haver, pois, esta unidade decorre do plano de
Deus. “Há um só Senhor” (Ef 4, 5-6) e nela há lugar para todos (Gl 3,28). “Uma vez que
todos formamos um só corpo, o bem de uns é comunicado aos outros. Assim é necessário
pensar que há uma comunhão de bens na Igreja onde o mais importante membro é o mesmo
Jesus Cristo, por ser a Cabeça. Assim o bem de Cristo é comunicado a todos os membros.
Esta comunicação na Igreja se faz através dos Sacramentos (CIC 946-947)”.

A comunidade de Jesus surgiu da Páscoa mediante a ação do Espírito do Ressuscitado.


Esta comunidade nos é narrada por Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos e nos faz três
relatos: a) 2, 42-46; b) 4,32-35; c) 5, 11-16.

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Nestes relatos vemos a vida que surpreendia e desconcertava a quantos observavam. Esta
comunidade fundada por Jesus, depois da Páscoa se reunia para expressar sua fé em Jesus e
mostrar o caminho que Ele seguiu.
A comunidade de Jerusalém, modelo de verdadeira Igreja, vivia uma vida de verdadeira
koinonia, verdadeira comunhão de vida, uma intensa comunhão com Cristo, morto e
ressuscitado, e, por Ele, com o Pai e com os irmãos, mediante a ação do Espírito Santo.(cf.
At 2, 42).
A verdadeira koinonia supõe, em primeiro lugar, autêntica comunhão de vida e de bens (At
2,44) e “ninguém considerava como seus os bens que possuíam”, mas tinham tudo “em
comum” (At 4,32). Nestes textos se constata uma atitude peculiar, vivida pelos irmãos que
surgiram da Páscoa: tudo o que cada um possui, é colocado ao serviço de todos, de modo
que os bens “pessoais” se tornam “comuns” por livre disposição da pessoa, que se sente
motivada pela entrega que Jesus fez de todo o seu ser, até o sacrifício da própria vida na
cruz. “Entre eles não havia necessitados” (cf. 4, 34-35). Esta partilha ou solidariedade não
se funda sobre uma amizade natural, mas se funda no comportamento de Deus Pai para com
todos, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por nós (Rm 8,32). A
solidariedade, expressão de comunhão, tem seu fundamento na consciência de
pertencermos à mesma família, a família de Jesus. “Subo ao meu Pai e vosso Pai.”

A verdadeira koinonia supõe também comunhão de almas e corações.

Com a expressão “uma só alma e um só coração”, Lucas coloca em relevo o que seria
impossível com base na pura sociologia apesar de se tratar do Povo de Deus. Tratava-se do
fato concreto da comunidade de Jesus, composta de diferentes raças.
Apesar de todas as diferenças vivem um amor tão profundo que todos se sentem um só,
unidos em comunhão de vida com Deus Pai de quem todos são filhos, com Deus Filho
humanado, de quem são irmãos e com o Espírito Santo, que é o Espírito da união. A
comunidade de bens é simples conseqüência da profunda comunhão no Espírito.

O CIC, números 949-953, fala da comunhão de fé. “Solidariedade é também compartilhar o


que cremos”.A fé de cada um é a fé da Igreja que se enriquece quando se partilha. O CIC
fala da comunhão dos Sacramentos. Todos os Sacramentos nos unem a Deus. Comunhão
dos carismas. Cada carisma é para a utilidade de todos. O cristão é um administrador dos
bens do Senhor. Comunhão da caridade. “Ninguém vive para si e ninguém morre para si
mesmo. Se vivemos é para o Senhor que vivemos e se morremos é para o Senhor que
morremos (Rm 14,7). A caridade não procura seu próprio interesse (1 Cor 13,5; cf. 10,24)”.
O princípio da solidariedade, chamada também de caridade social, é uma exigência da
fraternidade humana e cristã (cf. CIC 1939). É uma virtude que não olha somente os bens
materiais (cf. CIC 1942).

A passagem, do egoísmo e injustiça para a justiça e a partilha, aparece no episódio do


encontro de Cristo com Zaqueu. A comunhão com o Senhor o levou a uma transformação
de sua mente e foi quando ele e sentiu a necessidade da justiça, em primeiro lugar, e, em
seguida, da solidariedade (cf. Lc 19). A verdadeira riqueza cristã está na capacidade de
compartilhar, abrir-se ao próximo, convencidos de que tudo é nosso, mas nós somos de
Cristo e Cristo é de Deus (cf. 1 Cor 3, 22-23).

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III. A solidariedade cristã no mundo atual.

A koinonia cristã sempre procurou ser vivida de acordo com as circunstâncias de cada
época. Desde o início do cristianismos os cristãos não se contentavam em anunciar o
Evangelho do amor, mas se esforçavam por vivê-lo na fraternidade. Foram surgindo as
mais diversas iniciativas como manifestação concreta de solidariedade. Afinal, foi
crescendo a consciência que a fé tem que encontrar expressões concretas, as obras.

O documento de Puebla fez um grande levantamento, mostrando as grandes necessidades


em que se encontra a pessoa humana, especialmente na América Latina, sem pensar em
outros lugares.

Desafios da solidariedade eficaz.


Hoje os meios de solidariedade são cada vez mais escassos se olharmos individualmente e
por isso torna-se necessário unir-se, institucionalizar-se, unindo forças, pequenas parcelas
de cada um.

Caminhos concretos de uma ação solidária.

O amor cristão está intimamente ligado à ação (cf. 1 JO 3, 18), denunciando as injustiças,
defender e promover a pessoa humana com todos os seus direitos. Uma nova ordem
internacional deve nascer diz o Vat II e Paulo VI, em 1967 criou a Pontifícia Comissão de
Justiça e Paz, cuja finalidade é levar os cristãos ao conhecimento do significado hoje de sua
missão no mundo.

Linhas da espiritualidade da solidariedade.

O trabalho no sentido de se conseguir mais solidariedade humana e cristã nos permite


perceber a ação de Deus na história. Ele aparece guiando-a internamente, no seu interior.
Na luta para uma sociedade mais justa, Deus aparece conduzindo para metas novas e por
caminhos nem suspeitados anteriormente.

Jesus Cristo, como o inspirador das mudanças sociais. A experiência de Deus como Senhor
da história faz surgir a esperança. A esperança orienta e sustenta os esforços feitos para
viver como família de Deus que manifesta a koinonia, que será plena no fim dos tempos.
Uma experiência de fraternidade universal vai adquirindo dimensões cada vez maiores e
necessariamente se transforma em comunhão de amor com todos e em participação
fraterna.
A solidariedade que o amor cristão exige não se encerra nos estreitos limites de
nacionalismos exagerados ou de regionalismos mal entendidos. Somos convidados a viver
como família de Deus. Somos convidado a fazer experiência de conversão por meio de um
despojamento que gere compromisso. As mudanças rápidas que ocorrem no mundo trazem
uma carga de insegurança muito grande.

A nova face da solidariedade cristã estimula a busca constante de novas formas. Em


primeiro lugar torna-se necessário o desprendimento de modos de pensar e de ser. É preciso
estar disponíveis para viver novos estilos de organização e de convivência social que

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favoreçam maior justiça e respeito à dignidade humana e isto supõe renúncias a situações
de privilégios pessoais ou de grupos. Ao despojamento se deve unir o compromisso. Não é
suficiente experimentar as alegrias e esperanças, as tristezas e as angustias dos homens; é
preciso aceitar os questionamentos e que todos se empenhem em trabalho solidário para a
transformação das estruturas injustas e desumanas.

No Movimento das ENS

Nós formamos uma grande comunidade cristã. Somos a grande família, presente em todo o
mundo (73 países). É uma única família. Nos encontros fora do nosso país e até mesmo no
nosso país, sentimos o gosto desta realidade. A solidariedade é uma prática que acontece
com a nossa contribuição mensal, onde tudo é colocado em comum e dividido para todas as
necessidades. Essa prática já nos é familiar. Talvez poderíamos nos questionar se somos
fiéis e coerentes. Mas, existem momentos extraordinários. Entre eles está o nosso próximo
encontro de Lurdes em 2006, setembro. Não é um encontro para os que podem. É o
encontro internacional do Movimento. Existem muitas formas de eu estar presente. Todos
estaremos presentes através daqueles que lá estarão. Não devemos apenas nos sentir
representados porque somo do Movimento, mas queremos que todos estejam representado
por uma forma de participação que é a solidariedade. No Brasil, somos uns 30.000 pessoas.

Imaginemos se cada um desse um real de solidariedade. Quantas pessoas poderiam fazer


sua inscrição? Imaginemos fazer isso alguns meses! Precisamos nos mentalizar e
converter para a solidariedade. Há casais que podem fazer e fazem muito pelo
Movimento e que se não for pela solidariedade, não poderão. De quem esperamos retorno,
devemos investir. Não é cristão pensar que se eu não vou também não vou ajudar aos
outros. A verdadeira caridade me torna feliz pensando que alguém está lá também com a
minha gotinha de suor ou melhor dizendo com minha gotinha de amor feito solidariedade.
È bom termos em consideração que o tema da CF de 2005 é justamente “Educar para a
Solidariedade e a Paz”. Também, em 2005 acontecerá o 18º_ curso ecumênico promovido
pelo Centro Ecumênico de Serviço à Evangelização e Educação Popular(CESEP),
abordando o tema: “Educar para a justiça, a solidariedade e a paz” em S.Paulo no Cesep,
dias 10-22 de janeiro de 2005

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