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Resumo
O presente trabalho propõe uma reflexão a cerca das similaridades entre o design de
superfícies para vestuário e o design de superfícies para revestimentos cerâmicos, buscando
uma relação entre a moda e a decoração em diferentes épocas e como as tendências
influenciam e alimentam essas áreas do design.
Abstract
This study seeks to establish similarities between the design of surfaces for clothing and
design of surfaces for ceramic tiles, looking for a relationship between the fashion and decor
in different seasons and trends influencing and feeding these areas of the design.
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Introdução
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Segundo Castro (1999) a história do azulejo começou no antigo Egito. Depois passou
pela Mesopotâmia e espalhou-se pelo Sul do Mediterrâneo. A sua introdução na Europa foi
feita pelos povos oriundos do Norte da África.
O desenvolvimento do azulejo, enquanto arte decorativa, conheceu um profunda
evolução na Península Ibérica, onde, durante séculos, se fizeram trocas culturais e guerras
entre povos islâmicos e cristãos.
A azulejaria teria chegado ao Brasil, principalmente pela corte portuguesa, que por sua
vez chegou ao Brasil, em meados do século XIX como relata Maestri (2008):
Athos Bulcão
Os azulejos criados por Athos Bulcão entre as décadas de 60 e 70, sobretudo para
compor a arquitetura moderna de Oscar Niemeyer nas construções de Brasília, demonstram
um vigor no uso das cores e das formas, compondo grandes malhas geométricas no espaço
arquitetônico projetado por Niemeyer (Figura 1). Curiosamente, em homenagem às obras de
Bulcão foram desenvolvidas peças moda praia com as mesmas padronagens criadas por
Bulcão em sua azulejaria (Figura 2).
Nascido no Catete, Rio de Janeiro, em 2 de julho de 1918, Athos passou sua infância
em uma casa ampla em Teresópolis. Perdeu a mãe, Maria Antonieta da Fonseca
Bulcão, de enfisema pulmonar antes dos cinco anos e foi criado com seu pai,
Fortunato Bulcão, entusiasta da siderurgia, amigo e sócio de Monteiro Lobato, com
o irmão Jayme, 11 anos mais velho, e com suas irmãs adolescentes Mariazinha e
Dalila, que substituíram a mãe.
Enquanto crescia, passsava muito tempo dentro de casa e, por ser muito tímido,
misturava fantasia e realidade. Na família havia um interesse pela arte e suas irmãs o
levavam freqüentemente ao teatro, ao Salão de Artes, aos espetáculos das
companhias estrangeiras, à ópera e à Comédia Francesa. Athos aos quatro anos
ouvia Caruso no gramofone, e ensaiava desenhos sem no entanto chamar a atenção
da família; chegou às artes graças a uma série de acidentais e providenciais lances
do acaso.
Athos foi amigo de alguns dos mais importantes artistas brasileiros modernos, os
maiores responsáveis por sua formação. Carlos Scliar, Jorge Amado, Pancetti,
Enrico Bianco – que o apresentou a Burle Marx –, Milton Dacosta, Vinicius de
Moraes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Ceschiatti, Manuel Bandeira
entre outros.
Aos 21 anos, os amigos o apresentaram a Portinari, com quem trabalhou como
assistente no Mural de São Francisco de Assis na Pampulha e aprendeu muitas
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lições importantes sobre desenhos e cores. Antes de pintar, planeja as cores que vai
usar e acredita fervorosamente que o artista tem de saber o que quer fazer. Athos
não acredita em inspiração. Para ele, o que existe é o talento e muito trabalho. "Arte
é cosa mentale", diz, citando Leonardo da Vinci.
A trajetória artística de Athos Bulcão é especialmente consagrada ao público em
geral. Não ao que freqüenta museus e galerias, mas ao que entra acidentalmente em
contato com sua obra, quando passa para ir ao trabalho, à escola ou simplesmente
passeia pela cidade, impregnada pela sua obra, que "realça" o concreto da
arquitetura de Brasília.
Athos Bulcão é o artista de Brasília! As obras que aqui realizou foram feitas para o
convívio com a população e carregam a consideração por esta cidade e seus
habitantes. (Fundação Athos Bulcão)
Uma definição genérica e normalmente aceita sobre estamparia têxtil é que esta
consiste nos procedimentos utilizados para obter um motivo, em uma ou mais cores,
que se repete com regularidade sobre o fundo. Os acabamentos baseados em
estampas representam um meio importantíssimo para agregar valor aos tecidos lisos.
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As estampas podem ser analisadas sob a óptica da história da indumentária, revelando
tendências e especificidades das épocas. As estampas podem ser aplicadas sobre a superfície
dos tecidos ou trabalhadas na própria estrutura do mesmo, durante a tecelagem.
Dos vários e diferentes métodos de estamparia a técnica de uso de blocos de madeira é a
mais antiga. YAMANE (2008) afirma que as primeiras estampas sugiram antes da era cristã
na Índia e Indonésia, por meio de uma combinação de reservas de pintura e estampagem com
moedas, que eram blocos de madeira com motivos gravados.
Estampas usando técnica de serigrafia sobre linho foram escavadas pelos arqueólogos
em tumbas egípcias de 8.000 anos. Como mostra a figura 4.
Foi partir do ano 1000, quando Veneza estabeleceu sua posição como porto de difusão
de mercadorias entre o Leste e o Oeste que os tecidos estampados começaram a ganhar força
na moda. Por volta do ano 1200 aconteceram várias mudanças importantes, entre elas o fato
das cores deixarem de possuir um significado simbólico, deixando de serem usado com o
propósito específico de indicar as diferenças de classes, papel este que passou a ser exercido
pelo tecido, no caso a seda devido ao seu alto valor de mercado. Desta forma, surgiu então
uma imensa variedade de padrões de estamparia como listras, xadrez e figuras.
Na Itália, durante o século XIV este fenômeno pôde ser observado com o florescimento
das estampas de flores estilizadas. A moda dos tecidos de estampas florais tornou-se
generalizada. No século XV os padrões florais assumiram dimensões exageradas, com
grandes romãs ou cardos estampados entre linhas sinuosas.
Durante o século XVIII, as padronagens dos tecidos passaram a sofrer a influência das
grandes descobertas e viagens de exploração. Encontrava-se exemplos da flora exótica em
padronagem que exibiam flores e frutos desconhecidos na Europa até então. Esta tendência
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manteve-se até o final do século, quando a moda voltou as suas origens ocidentais, com
padronagens mais simples.
Tecidos estampados com flores miúdas, surgiram por volta de 1800, nos Estados
Unidos, com a adoção das primeiras máquinas de estampar. A empresa Thorp, Siddel and
Company, instalava em Philadelphia a primeira dessas máquinas em 1810. Dentro de poucos
anos passava a existir uma grande quantidade de empresas de estamparia.
Desde o final do século XX as empresas de estamparia iniciaram uma grande evolução
nas técnicas, processos e maquinários para inserir desenhos nos tecidos. Os computadores
tornaram os desenhos mais precisos e possibilitaram novas formas, cores e imagens.
A partir dos anos 1990 os elementos visuais compostos e combinados, na forma de
texto, imagens, texturas e cores no vestuário tornam-se alem da função de adorno das peças
um dinâmico canal de comunicação. Como mostra a figura 5. Cândido (2008, p. 5) afirma
que “a partir do momento em que a estampa da camiseta é descoberta, como nova mídia,
jamais deixará de ser utilizada com esse intuito”.
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No entanto é possível pontuarmos algumas coincidências em determinadas épocas entre as
duas áreas do design de superfícies. A figura 4 mostra exatamente como essas duas áreas
sofreram as mesmas influências em determinado recorte do tempo.
Figura 4 – À esquerda, foto ilustrativa de uma revista de decoração da década de 70, e à direita
exemplo de revestimento de parede da coleção da Cerâmica Eliane de meados da mesma década.
Cores
As cores para a moda e para a decoração podem ser trabalhadas de formas diversas e para
diferentes fins, mas algumas coincidências recorrentes são bastante interessantes. Como os
exemplos apresentados na figura 5, onde cores formas e contrastes são bastante similares.
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Retrô
A moda e a decoração sempre buscam influências de tempos passados para releituras próprias
nesse sentido o conceito “retro” é bastante revisto.
“Do francês rétro, palavra usada para descrever roupas de épocas anteriores, no
mínimo de vinte anos passados. Muitos estilistas apresentam trajes retro em suas
coleções. Essas roupas, embora tenham uma proposta reformista, são revividas para
funcionar como o visual do momento.” (Enciclopédia da moda, Georgina O’Hara
Callan pg. 267)
Figura 7 – Coleção de revestimentos para pisos apresentada na edição de 2004 da Revestir inspirada nos
ladrilhos hidráulicos do início do século XX.
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Minimalismo
O minimalismo, uma forte corrente estética que ganha força nos anos 60 com influência de
vários outros movimentos como o construtivismo e o modernismo, perdurou (e talvez ainda
perdure) durante muito tempo como principal tendência na maioria das revistas de decoração
das últimas duas décadas e os revestimentos acompanharam essa tendência com o
desenvolvimento focado nos grandes formatos que infeririam o menos possível no ambiente,
com rejuntamentos cada vez menos aparentes, cores sóbrias que se adequariam nos poucos
móveis da casa, quando muito, revestimentos em pretos e brancos formandos monótonos
xadrezes quase tecnológicos (figura 8). No vestuário, depois da profusão de cores e formas
das décadas de 60 e 70, a partir da década de 80, apesar dos volumes e cores, havia uma
geometrização dos padrões, cores bem definidas, modularidades que ganham força na década
de 90, agora com menos volumes e uma cartela de cores mais restritiva.
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Art Nouveau
O Art nouveau surgiu nas primeiras décadas do século XX, em contraponto às artes vitorianas
com motivos históricos. Tem em seus traços características verdadeiramente modernas;
valoriza linhas sinuosas e reproduzem elementos da natureza (figura 9).
Atualmente, o estilo “Art Nouveau” aparece fortemente como uma linguagem gráfica
aplicada (às vezes a exaustão) em diversos projetos de design gráfico e superfícies. Na
decoração o estilo minimalista divide as atenções com papéis de parede florais, estofados,
estampas e todo o tipo de grafismo que remeta a esse estilo. E mais uma vez o design de
superfície tanto do vestuário quanto do revestimento cerâmico acompanham, por coincidência
ou influência esse estilo “novo” e reinventado (figuras 10 e 11).
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Figura 10 – À esquerda, vestido da marca Prada para coleção outono/inverno 2003 e à direita
conjunto da marca Prada para coleção primavera/verão 2008
Figura 11 – À esquerda, coleção apresentada pela cerâmica Porto Ferreira na Revestir 2009 e à direita
coleção apresentada pelo Studio Vetromani no mesmo evento
ERA DA TECNOLOGIA
Já na década de 80 a moda buscava demonstrar através da roupa uma ligação com o mundo
tecnológico, metalizados, geometrias, cibernização da roupa. Mas a alta tecnologia empregada
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em produtos de moda e de revestimento cerâmico só foram largamente empregados nos
últimos 15 anos, é quando a engenharia tecnológica está a favor do desenvolvimento de novos
padrões e inovação de produtos. Como é o caso do vestido conceitual Piezing, da designer
Amanda Parkes, que foi projetado para as mulheres acumularem energia enquanto dançam,
correm ou andam, possibilitando a recarga de aparelhos portáteis (figura 12). Já no
revestimento cerâmico a alta tecnologia é empregada nos padrões gráficos como as peças
iridiscentes - esmalte cerâmico especial aplicado sobre a placa cerâmica que modifica a cor
em função da luminosidade (figura 13) ou materiais cada vez mais resistentes e versáteis do
ponto de vista da aplicação no ambiente.
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Conclusão
Após as comparações apontadas nesse trabalho é possível afirmar que as áreas aqui
investigadas dentro do design de superfícies – vestuário e revestimentos cerâmicos – possuem
grandes congruências nos estilos e nas linguagens gráficas utilizadas no desenvolvimento de
seus produtos, o que torna as áreas com muitas afinidades para estudos de tendências, estilo e
comportamento, o que amplia o leque de possibilidades para ambas as áreas na busca de
referências e linguagens visuais.
Bibliografia
BAUDOT, François. Moda do século. São Paulo: Cosac & Naify, 2000.
CASTRO, Francisco. Azulejos Cinco Séculos de história pintada. REVISTA Lisboa Step
by step – Lisboa, 1999.
MAESTRI, Mario. Há 200 anos a corte portuguesa fugia para o Brasil. 2008. Disponível
em: <http://www.servidorpublico.net/noticias/2007/12/10/ha-200-anos-a-corte-portuguesa-
fugia-para-o-brasil>. Acesso em 10 de agosto de 2009.
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PACCE, Lilian. Conheça as Estampas de William Morris. 2009. Disponível em:
<http://msn.lilianpacce.com.br/fashionteca/william-morris-estampas/>. Acesso em: 21 Julho
2009.
PUCCI. Coleções. São Paulo: 2009. Disponível em: <http://www.pucci.com.br>. Acesso em:
02 julho 2009.
YAMANE, Laura Ayako. Estamparia Têxtil. São Paulo: USP, 2008. Dissertação de
mestrado – Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação e Artes. Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27159/tde-20052009-132356/>. Acesso em: 17
julho 2009.
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