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A agricultura contribuiu para o processo de aquecimento global?

Indiscutivelmente um dos motivos para a crescente nos problemas ambientais


no planeta é a expansão demográfica, que exerce, por si mesma, uma pressão
crescente no sentido da ampliação das áreas voltadas para a produção de alimentos.
Por isso, cresce em todo o mundo a irrigação cuja difusão é acompanhada pela
requisição de vastos volumes de água. Paralelamente, se alastraram os
desmatamentos, em larga medida afetando regiões florestadas e abrindo espaço para
o surgimento de campos artificiais voltados para a produção de carne, especialmente
bovina e de culturas comerciais como a soja (WALDMAN, 2003).
Podemos dizer que há dois tipos de efeito estufa: o natural e o antrópico. O
efeito estufa natural ocorre devido às concentrações de gases do efeito estufa na
atmosfera antes do aparecimento do homem. Caso não houvesse esses gases na
atmosfera, a temperatura média da Terra seria 33 °C menor, ou seja -18 °C, o que
inviabilizaria a vida atualmente existente (CERRI; CERRI, 2006).
A concentração de gases na atmosfera tem aumentado significativamente com
o aparecimento das civilizações, notadamente em meados do século XIX quando teve
início a revolução industrial. A utilização dos recursos naturais tais como carvão,
petróleo e áreas florestadas, fez com que a quantidade de gases principalmente o CO2
aumentasse exponencialmente até os dias de hoje (CERRI; CERRI, 2006).
Esse aumento contínuo de gases na atmosfera trouxe como conseqüência,
maior interação com a radiação infravermelha emitida pela Terra, e
consequentemente aumento da temperatura do ar atmosférico. Esse aumento é o que
se denomina de Aquecimento Global, que tem reflexos nas mudanças climáticas, tais
como distribuição irregular das chuvas, aumento ou diminuição de temperaturas da
atmosfera, elevação do nível do mar, entre outros (CERRI; CERRI, 2006).
A necessidade de alimentos para uma população que cresce aceleradamente
está cada vez mais ameaçando os recursos naturais e forçando a abertura de novas
áreas agrícolas. A sustentabilidade de sistemas de produção agrícola depende, entre
outros fatores, da manutenção e da qualidade do ambiente. A situação é sensível e
deve ser ainda mais agravada pelos potenciais impactos do aquecimento global e das
alterações climáticas sobre as condições de crescimento das culturas. Uma
preocupação ambiental recente é o aumento da concentração dos gases dióxido de
carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) na atmosfera, a qual é responsável
pelo aquecimento global (IPCC, 2001).
A agricultura, em especial a agricultura industrializada, dependente de insumos
químicos, contribui significativamente, de maneira direta ou indireta, para a emissão
de vários dos gases indicados como responsáveis pelo efeito estufa, e portanto, pelas
mudanças climáticas/aquecimento global (IPCC, 2005). Um exemplo são os óxidos
nitrosos, o metano, e o dióxido de carbono, todos amplamente produzidos pelas
atividades agrícolas ditas modernas, no uso de fertilizantes químicos, de agrotóxicos, e
mesmo no confinamento de animais e aumento da área de cultivos irrigados por
inundação. Ao mesmo tempo a agricultura dita “moderna” é altamente dependente de
petróleo, seja como fonte de energia, seja como fonte dos insumos químicos (SOGLIO,
2008).
Dentre as diferentes atividades antrópicas o complexo agropecuário são os
responsáveis por grande parte da emissão de gases de efeito estufa no Brasil e no
mundo. Segundo DUXBURY (1994), as atividades agrícolas contribuem com cerca de
25%, 65% e 90% do total das emissões antropogênicas de CO 2, CH4 e N2O,
respectivamente.
No setor agrícola, várias ações devem ser levadas em consideração para a
redução das emissões dos gases do efeito estufa e seqüestro de carbono nos
ecossistemas terrestres. O desenvolvimento de tecnologias aplicadas na produção de
bicombustíveis, na redução de emissões de metano, principalmente nas culturas de
arroz irrigado e pecuária, no reflorestamento e sobretudo na adoção de boas práticas
agrícolas como o plantio direto, são ações mitigadoras que a comunidade científica
deve se preocupar (CERRI; CERRI, 2006).
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.
CERRI, C. C.; CERRI, C. E. P. Agricultura e aquecimento global. 2006

IPCC. Intergovernmental Panel on Climate Change. Climate change 2001: the scientific
basis. United Kingdom: Cambridge University, 2001. 881p.

IPCC. Intergovernmental Panel on Climate Change. Carbon dioxide capture and


storage. METZ, B.; DAVIDSON, O.; CONINCK, H.; LOOS, M.; MEYER, L. (Eds). Cambridge
University press, New York, 2005. 431 p.

DUXBURY, J. M. The significance of agricultural sources of greenhouse gases. Fertilizer


Research, Dordrecht, v. 38, n. 2, p. 151-163. 1994.

SOGLIO, F. D. A crise ambiental planetária, a Agricultura e o Desenvolvimento. 2008.

WALDMAN, M. Recursos Hídricos: os impactos na produção de alimentos e dos


resíduos sólidos. 1° Seminário de Pesquisa em Geografia (SEPERGE). Programa de Pós
Graduação em Geografia Humana da FFLCH – USP. São Paulo. 2003.
As mudanças climáticas são uma ameaça para a produção das culturas e a
segurança alimentar?
Já existem provas cientificas mais do que suficientes para constatar que nosso
planeta passa por um rápido processo de aquecimento como resultado direto da ação
antropogênica [efeito ambiental de causa humana] (CORTEZ, 2004).
A práticas agropecuárias tanto afetam o aquecimento global, contribuindo para
o aumento da concentração de gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera, como
também são afetadas pelas mudanças globais que, num possível cenário de
aquecimento intensificado (EMBRAPA, 2008).
Desde 1970 inúmeros estudos demonstraram que o planeta passa por um
rápido processo de aquecimento, decorrente da crescente concentração dos gases
estufa e, por conseqüência, iniciamos um acelerado processo de mudanças climáticas
(IPCC, 2001).
Com a crescente ameaça das mudanças climáticas a Água começa ganhar um
papel mais central, visto que é essencial para todo tipo de produção agrícola e
desenvolvimento rural, além de melhorar a segurança alimentar e erradicar a pobreza.
Ela deve servir continuamente a uma variedade de finalidades, incluindo produção de
alimentos, crescimento econômico e sustentabilidade ambiental. Nós estamos
preocupados com a pressão crescente sobre os recursos limitados de água doce e
sobre o meio ambiente. Considerando que uma diversa gama de práticas e economias
agrícolas evoluíram no mundo, nós devemos fazer todo esforço para reduzir a gestão
insustentável da água e melhorar a eficiência do uso agrícola da água (CORTEZ, 2004).
A utilização excessiva da terra causada pela criação de gado resultou na
contínua perda da camada fértil da terra. Por todo o globo, a terra, que é a própria
base da produção de alimentos, está sendo rapidamente erodida. Pressões da
competição muitas vezes forçam os fazendeiros a optar por métodos de produção de
baixo custo que deixam o solo exposto ou a submeter terras fracas à produção
intensiva, resultando em sua ruína (CORTEZ, 2004).
O impacto das alterações climáticas globais no comportamento dos cultivos
agrícolas pode ser visto nos relatórios da IPCC, com base nisso, o relatório referencia à
adaptação das plantas nas “latitudes médias” e o reflexo na produtividade, o relatório
afirma que a mudança climática levará a “respostas gerais positivas para variações
menores do que alguns graus Celsius e respostas gerais negativas para mais do que alguns
graus Celsius” (PINTO; ASSAD; JUNIOR, 2004).
Considerando o cenário de aumento das temperaturas pode-se admitir que,
nas regiões climaticamente limítrofes àquelas de delimitação de cultivo adequado de
plantas agrícolas, a anomalia positiva que venha a ocorrer será desfavorável ao
desenvolvimento vegetal. Quanto maior a anomalia, menos apta se tornará a região,
até o limite máximo de tolerância biológica ao calor. Por outro lado, outras culturas
mais resistentes a altas temperaturas, provavelmente, serão beneficiadas até o seu
limite próprio de tolerância ao estresse térmico. No caso de baixas temperaturas,
regiões que atualmente sejam limitantes ao desenvolvimento de culturas susceptíveis
a geadas passarão a exibir condições favoráveis ao desenvolvimento das plantas, com
o aumento do nível térmico devido ao aquecimento global. Um caso típico seria o da
cultura cafeeira que poderá ser deslocada futuramente do Sudeste para o Sul do país
(PINTO; ASSAD; JUNIOR, 2004).
ASSAD E LUCHIARI JR. (1989), utilizando modelos fisiológicos simplificados,
mostraram que essas variações são significativas nos cerrados brasileiros. Por exemplo,
a temperatura média durante a estação chuvosa nessas regiões - de outubro a abril - é
de 22 °C, tendo um máximo de 26,7 °C e um mínimo de 17,6 °C. Supondo que um
aumento da concentração de CO2 provocasse um aumento de 5 °C na temperatura, as
plantas do tipo C4, como o milho e o sorgo, aumentariam a produtividade potencial
em pelo menos 10 kg/ha/dia de grãos secos. Para as plantas tipo C3 - soja, feijão e
trigo - esse aumento seria menor, da ordem de 2 a 3 kg/ha/dia de grãos secos.
No Brasil, poucos estudos foram feitos sobre o reflexo das mudanças climáticas
e seus impactos na agricultura. ASSAD E LUCHIARI JR. (1989) avaliaram as possíveis
alterações de produtividade para as culturas de soja e milho em função de cenários de
aumento e de redução de temperatura.
Estudo recente da Embrapa (EMBRAPA, 2008), avaliou os impactos que o
aquecimento global poderá causar às principais culturas agrícolas do país nas próximas
décadas. Segundo esse estudo, “o aquecimento global pode provocar perdas nas
safras de grãos de R$ 7,4 bilhões já em 2020 – número que pode subir para R$ 14
bilhões em 2070 – e alterar profundamente a geografia da produção agrícola no
Brasil”. Além disso, a ausência de medidas de mitigação dos efeitos das mudanças
climáticas e de adaptação de cultivos pode ocasionar o deslocamento de plantações
para áreas nas quais, atualmente, não se verifica sua ocorrência, como forma de
aproveitar as condições climáticas mais adequadas.
Os impactos diretos do clima sobre a produção e a distribuição da produção
agrícola no país são apenas alguns dos efeitos econômicos causados por esse
fenômeno. A atividade agrícola, afetada diretamente pela mudança climática,
repercute sobre diversos setores econômicos. Por exemplo, aumenta o custo de
produção agrícola e da pecuária, eleva o custo dos insumos para o setor de alimentos e
para o consumo das famílias. Assim, gera queda de atividade econômica em vários
setores, que acabam espalhando seu impacto no sistema econômico. Algumas regiões,
beneficiadas pela introdução ou ampliação de cultivos, podem atrair fatores
produtivos (capital e trabalho) e serviços, deslocando a atividade econômica de outras
regiões (DOMINGUES; MAGALHÃES; RUIZ, 2008).
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.
ASSAD, E.D.; LUCHIARI JR., 1989. A future scenario and agricultural strategies against
climatic changes: the case of tropical savannas. In: Mudanças Climáticas e Estratégias
Futuras. USP. Outubro de 1989. São Paulo. SP

CORTEZ, H. Aquecimento global e água. Série: Consciência e Meio Ambiente. 2004.

DOMINGUES, E. P.; MAGALHÃES, A. S.; RUIZ, R. M. Cenários de mudanças climáticas e


agricultura no Brasil: impactos econômicos na região nordeste. Belo Horizonte:
UFMG/Cedeplar, 2008. 25p.

EMBRAPA Agropecuária Oeste. O que a Agricultura tem a ver com o aquecimento


global? Como a agricultura contribui para o aquecimento global. 2008.

EMBRAPA. Aquecimento Global e a nova Geografia da Produção agrícola no Brasil.


São Paulo, 2008. Disponível em: <www.embrapa.br/publicacoes/tecnico/aquecimento
global.pdf>.

IPCC. Intergovernmental Panel on Climate Change. Climate change 2001: the scientific
basis. United Kingdom: Cambridge University, 2001. 881p.

PINTO, H. S.; ASSAD, E. D.; JUNIOR, J. Z. O aquecimento global e a agricultura: estudos


avaliam o impacto da elevação da temperatura e das chuvas para os cultivos
agrícolas. No caso da cultura cafeeira, poderá ser futuramente deslocada do Sudeste
para o Sul do país, além de uma drástica redução nas áreas com aptidão
agroclimática. Saneas. 2004.
ERASTO FERREIRA DE ASSIS NETO
KÊNIA GRILO COSMO

FATORES DA PRODUÇAO AGROPECUARIA - AGRICULTURA

Trabalho apresentado como exigência da


Disciplina Fatores da produção agropecuária
– Agricultura, do Curso de Bacharelado em
Agroindústria da Universidade Federal da
Paraíba.

Bananeiras - PB
Novembro/2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS SOCIAIS E AGRÁRIAS
BACHARELADO EM AGROINDUSTRIA

FATORES DA PRODUÇAO AGROPECUARIA - AGRICULTURA

ERASTO FERREIRA DE ASSIS NETO


KÊNIA GRILO COSMO

Bananeiras - PB
Novembro/2010

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