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16/02/2011
“Ter peninha da pobre criança que não tem vontade de estudar é trocar o
conforto emocional de hoje pelo futuro do filho”
Na década de 50, os Estados Unidos estavam mergulhados na Guerra Fria.
Diante da ameaça russa, os homens construíam abrigos nucleares e as velhinhas
procuravam comunistas embaixo da cama. De repente, desaba o seu mundo. Sobe
um foguetaço russo levando o Sputnik. O primeiro satélite artificial desintegra a
supremacia científica americana. Mas daquele país sempre vieram respostas
decididas, como prêmios Nobel reescrevendo os livros de ciência (aliás, por aqui,
ainda há quem não acredite em livros de qualidade). Logo foram à Lua.
Passam-se os tempos, a Rússia afunda. Mas surge uma nova assombração:
a China. Faz um século, no país desmoralizado pelo ópio e pelo imperialismo,
exércitos das grandes potências zanzavam em seu território, sem que houvessem
sido convidados. Canhoneiras americanas patrulhavam o Rio Yangtzé. Vêm o
comunismo, a Revolução Cultural e fomes medonhas. Nas últimas décadas, porém,
o país se recompõe e, poupando 40% do PIB, cresce a taxas espantosas. Nos
Estados Unidos, políticas financeiras levianas tornam o país dependente dos
dinheiros chineses e a indústria americana está se mudando para lá.
Mas é ainda pior. O teste do Pisa tornou-se a olimpíada da educação
mundial. Enquanto estava a Finlândia em primeiro lugar, vá lá, quem teme um
minipaís que faz celulares? Mas decola um novo Sputnik: o campeão absoluto no
último Pisa é a cidade de Xangai! Enquanto isso, os americanos amargam posições
entre a 15ª e a 31ª (para registro: este ensaio estava pronto quando Obama falou de
Sputnik).
Na cacofonia das perplexidades, vira best-seller um livro de Amy Chua
(Battle Hymn of a Tiger Mother). Nele, tim-tim por tim-tim, essa professora sino-
americana de direito (em Yale) conta como educou suas filhas, ao estilo chinês.
Entre outras coisas, eram proibidas de participar de teatro, de atividades
extracurriculares, de ver TV ou jogar no computador, de tirar qualquer nota que
não fosse A, de obter qualquer colocação que não fosse o primeiro lugar e de tocar
qualquer coisa que não fosse piano ou violino (e por duas ou três horas de prática
diária). Filhos estressados? Enquanto 70% das mães ocidentais temem as pressões
sobre os filhos, 0% das chinesas se preocupa com isso. Se os filhos não se saem
bem, é vergonha para os pais. Para evitarem a desonra, gastam dez vezes mais
tempo ajudando os filhos nos deveres - em comparação com as mães ocidentais.
Para os orientais, nada é divertido ou agradável, até que seja totalmente
dominado. Portanto, não se pergunta à criança se quer estudar, praticar ou se gosta
do que está fazendo. É crença deles, gosto se adquire na prática obsessiva e do
sucesso que vem dela. Se malandrava ou tirava notas ruins, Chua era chamada pela
mãe de "lixo". A vergonha foi um santo remédio e não deixou cicatrizes na
personalidade. Se a nota foi menos que A, só pode ser por vadiagem, pois se toma
como certo que o filho pode obter os resultados esperados. Daí as inevitáveis
Prof. Marcelo Maciel de Almeida – mmacieldealmeida@yahoo.com; macieldealmeida@hotmail.com;
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