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SCHWEITZER PG 1 RECENTE DISCUSSAO EM ESCATOLOGIA PAULINA A. J. Bandstra Para podermos entender o que se tem discutido sobre escatologia paulina hoje, € preciso conhecer alguma coisa a respeito de trés estudiosos do Novo Testamento que influen- ciaram tremendamente, com suas idéias, o estado atual das discussdes. Sdo eles: Albert Schweitzer, C. H. Dodd e Rudolf Bultmann. I. Albert Schweitzer e a "Escatologia Coerente:” A. Seus Escrito © pensamento de Schweitzer € reflexo dos estudos ao NT em sua época; porém, ele foi o unico que manteve-se coe~ Fente quanto & sua perspectiva escatoidgica. seu livro Yon Reimatua 2u Wrede foi lancado em 1906, ¢ recebeu en inglés o titulo The Quest of tbe Historical Jesus (trad. Montgomery, Macmilland, 1964). Genmee-equeles que ee sentia que. eatavan tentendor'modernizear™ Sesus, Schweitzer insistiu, em enqua- dra-lo no contexto do pensamento apocaliptico 3udaico seus estudos sobre Paulo foram sendo produzidos du- rante um perfodo de vinte anos Geschichte der Paulinen Forschung saiu em 1911, ¢ foi traduzido em inglés com o titu- lo de Paul and His Interpreters: A Critical History (New York: Schocken, 1964). Este deveria ser 0 capitulo introdu= tério de seu mais importante trabalho sobre Paulo: Die vatik des Anontela Paulua, que teve sua primeira edicio en 1931 (em inglés: The Mysticism of Paul The Apostle, trad. W Montgomery, London: Black, 1931). Na introdugao de taticism, Schweitzer afirma que o prineiro esboco Go livro. 34 estava pronto em 1906; © isto ¢ bem provavel, pois Interpreters contém os cri~ térios que Schweitzer usa para criticar outros estudiosos bi- blicos e €, na realidade, uma introducéo implfcita a quase tudo o que aparece em Mysticism. 0 fate de eata trill ter sido traduziga para o inglés sigifica que sua inffueneia fol muito alem das fronteiras nacionais da Alemanha Neato 9 0 B. Sua Terminologia: Schweitzer inventou para definir o seu ponto de vista @ expresséo "Konsequente Eachaiologie”(*), que seré tra~ duzido aqui por "escatologia cosrenie”. Nao hd duvida de que a "Escatologia realizada” de Dodd foi cunhada com este termo de Schweitzer em mente, para indicar contraste. Na realidade, este contraste nado esté nos termos em si, pois o de Schweitzer descreve um método de abordagem & interpreta¢So do Pensamento do NT, enquanto gue o de Dodd descreve a sua opi- nigo sobre 0 tipo de pensamento escatolégico do NT. Mas por detr4s dos rétulos estao duas interpretacSes escatolégicas do NT em clara oposic&o. Contradizendo frontalmente Dodd, a es- catologia que Schweitzer encontra no NT é futurista, apoca— lfptica, uma escatologia de negacéo do mundo. Se fOssemos dar nomes compativeis aos dois sistemas, 0 de Schweitzer seria "escatologia futurista”, em oposicdo & "escatologia realiza- ga” de Dodd. Cc. A *Escatologia Coerente” de Schweitzer Como Chave Para o NT: Para entender o termo "Escatologia Coerente”, € pre~ ciso entender a posisdo de Schweitzer em relacio aos estudos do Novo Testamento. Ele critica divérsos estudiosos. do NT porgue eles "ndo procuram compreender e expor 0 desenvolvi- mento desta doutrina a partir de um Unico pensamento funda- mental”. Esta Geclaracdo mostra que Schweitzer busca alguma idéia basica, da qual brote todo o resto. Uma descricdo par- tida, desconjuntada, nao lhe satisfaz. Para Schweitzer, este pensamento fundamental, esta idéia basica, esta chave, € a escatologia, tanto no caso de Jesus como no de Paulo. £ a chave da vida de Jesus, pois "era uma época saturada de escatologia” (Quest, p. 350). "Precisamos.sembre.fazer um esforso especial para nos conven- conmes.éerque.Jesuse seus seguidores mais préximos vivian, navépesey"en-umrestado de intensa expectacio escatoldgica” (Quest, p. 386). "0 enmino de Jesus nunca gai do mundo judai-~ co de idéias para projetar-se em um mundo néo-judaico, mas representa uma versao aperfeicoda e profundamente ética da Apocalfptica de seu tempo. (Interpreters, p. IX). Além disto, © que € verdade no caso de Jesus aplica-se também a Paulo, "pois Paulo compartilha com Jesus da mesma visdo do mundo e a mesma escatologia, com todas as suas implicacdes” (Mysticism. p. 113). Apesar de haver aloumas @iferencas entre Jesus e Paulo, como veremos mais adiante, essencialmente eles compar- tilham da mesma expectativa escatolégica e a chave para o en- tendimento de ambos séo as suas perspectivas escatoldgicas. Assim, "Escatologia Coerente” € 0 termo gue descreve o.padréo Maisseado. aus torna.possivel uma abordgem abrangente ao Novo Testamento. * N. do A.: Em inglés, isto costuma traduzir-se por “Consistent eschatology”, mas aparece como "Thoroughgoing es~ chatology” na versio de W. Montgomery do "Quest". SCHWEITZER PG 3 D. © Problema Bésico Abordado por Schweitzer: © problema da histéria do dogma €, na opinido de Schweitzer, de importancia suprema. Talvez a idéia - que esta no coragao do pensamento de, Schweitzer - tenha vindo da "Historia do Dogma” [History of Doma) de Harnack (embora este 36 trate satisfatoriamente do perfodo grego)- "A grande tare fa ainda nado realizada que se apresenta a quem estuda o cris- tianismo primitivo € explicar como o ensino de Cristo desen- volveu-se na teologia grega primitiva em que ele € apresenta~ do nas obras de Indcio, Justino, Tertuliano e tIreneu. Como pOde o sistema doutrindrio de Paulo surgir da vida e obra de Jesus e a crenca da comunidade primitiva? e como foi que a teologia orega antiga surgiu do paulinismo?” (Interpreters, p. vd. Mas se aceitarmos a idéia de Schweitzer de que o en- sino de Jesus € basicamente-de cardter judaico e apocal{pti- co, a interpretacao correta de Paulo torna-se crucial. "0 sistema criado pelo Apéstolo dos Gentios destaca-se contra 0 + "7° ensino de Jesus como algo de cardter inteiramente diferente, %¢’» € n&o a4 a impressdo de ter brotado dele. Mas como pode uma + 5 tal criasdo de novas idéias cristas - e isto em no mdximo-al- deo oumas, décadas’ apds a morte de Jesus ~ ser possfyel? Cniereceters, p. UII). £ que dizer do relacionamento de Paulo com a teologia orega antiga? "Mais uma vez, nao hd ca~ minhos visiveis que pudessen ter levado 2 teolooia oresa, partindo Go paulinisno. Indeio e Justine no incorporam as i Geias de Paulo, mas sin criam, por sua vez, algo de novo.” (Interpreters, p. VII)- D idéia bésica de Schveitzer € que Paulo nio foi, e le mesmo, o helenizador do cristianismo. 0 ensino de Jesus e J ©. ensind de Paulo estavam basicamente de acordo, sendo ambos ge fundamental e completamente judaicos e escatoldégicos . As di- ferengas entre eles, que tinham iludido tantos exegetas, po- Giam ser facilmente explicados a partir de sua posicdo comun. Tudo-comesou-a mudarcon "Indcio e sua turma": foram eles “os helenizadores. Alias, a Unica contribuicao de Paulo para isto foi ter desenvolvido, raciocinando a partir da escatologia, o conceito de *Estar-en-cristo". 0s tedlogos oregos "{ncorporaran isto, substituindo a base escatolégica (aue 38 nao fazia mais sentido para eles) por uma base helenistica. Assim, a evolucdo de Jesus a Indcio através de Paulo fica ex plicada de uma forma que € perfeitamente natural. Paulo nSo. “ foi o helenizador do cristianisno; mas, em seu misticismo es- Caoléoico do Estar-en-cristo, ele deu ao cristianismo uma) forma em que poderia ser helenizado.” (Mysticism, p. IX) ° Gabe agi a observacso que Schueizer era” compiéta- mente hostil & explicacdo do pensamento de Paulo pela Historia Ga Religido (Beligiongeschichte) que ers tao popular en sua epoca. De acordo com este sistema de pensamento, espe- Chaimente nas obras de Reitzenstein e Beusset, Paulo pode ser explicade principalmnte através das religifes de misterio he~ lenisticas ¢ dos cultos helenfsticos. Por outro lado, entre- tanto, Schweitzer também pode. ser considerado membro. da ‘religionseeschichtliche Schule’, porque seoue radicalmente ~o ciitarse de interpretar o ensino de Jesus © 0 Ge Paulo. en termos do pensamento apocaliptico judaico da época- 2 Entine cere ode 4 oid Seah co

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